Aula 16 Nesta aula, iniciaremos o capítulo 6 do livro texto, onde vamos estudar a estabilidade e o equilíbrio do plasma como um fluido. 6.1 Equilíbrio e Estabilidade Do “ponto de vista” das partículas individuais, num plasma confinado por campos magnéticos, o problema da manutenção do “estado de equilíbrio” é solucionado mediante o “arranjo” da geometria das linhas de campo magnético que podem eliminar as velocidades de deriva que produzem o “vazamento” de partículas do plasma para as paredes de um recipiente. No entanto, como o plasma é na verdade um fluido ionizado onde seu movimento gera campos E e B internos que podem gerar “empacotamento”, isto é, formação de aglomerados de cargas que por sua vez, podem causar derivas do tipo campos cruzados E e B. Também pode ocorrer derivas do tipo gradiente de B, devido aos campos internos “autogerados” pelo plasma. O grande interesse no estudo do equilíbrio e estabilidade do plasma, é motivado pelo problema do confinamento magnético de plasmas para fusão termonuclear controlada. As figuras abaixo, mostram diversos análogos mecânicos para diversos tipos de equilíbrio. Vários Tipos de Equilíbrio para Sistemas Mecânicos. 6.2 Equilíbrio Hidromagnético Para uma coluna de plasma quente e confinado magneticamente, a equação de movimento para os elementos de fluido do plasma, é dada por r r r r r r dV = neE + neV × B − ∇p − nmvV 6.2.1 nm dt Vamos assumir as seguintes hipóteses, para tal coluna de plasma quente: a) dV/dt = 0 (plasma estável); b) nmvV ≅ 0 (regime de baixas colisões); c) E = 0 (ausência de campo elétrico externo). Levando tais hipóteses na expressão 6.2.1, temos r =J }r r r neV × B − ∇p = 0 6.2.2 A expressão 6.2.2 nos diz que só haverá equilíbrio na coluna de plasma, se e somente se, a força devido ao gradiente de pressão for “contrabalanciada” pela força de Lorentz. A densidade de corrente J e o campo magnético B, na expressão 6.2.3 estão relacionados, segundo a equação de Ampère – Maxwell, isto é r r r ∇ × B = µ0 J 6.2.3 A partir da expressão 6.2.2, podemos encontrar a densidade de corrente J perpendicular ao campo magnético B, necessária para que ocorra o equilíbrio da coluna de plasma, para isso, devemos realizar o produto vetorial de 6.2.2 com B e em seguida, isolar J⊥ r r v r r B × ( J × B ) − B × ∇p = 0 =0 6 7 8 r r r r r r 2 ∴ B J − B( J .B) − B × ( KTe + KTi )∇n = 0 r r r ∴ J ⊥ = B × ( KTe + KTi )∇n / B 2 6.2.4 Note que a expressão 6.2.4 é exatamente igual á densidade de corrente diamagnética que encontramos quando estudamos o movimento individual de partículas em campos E e B, ou seja, assumindo o plasma como constituído de partículas individuais ou como um fluido, encontraremos os mesmos resultados. No contexto de fluido, J surge devido ao fato do gradiente de pressão ser perpendicular a B, sendo J também responsável pelo equilíbrio na coluna de plasma. A figura abaixo, mostra o “balanço” entre as forças de Lorentz e devido ao gradiente de pressão. Balanço entre as Forças numa Coluna de Plasma. Também a partir da expressão 6.2.4, temos que o J e o campo magnético estão cruzados entre si, assim como com relação a gradiente de pressão, além de aqueles estarem localizados em superfícies cilíndricas de pressão constante. A figura abaixo, mostra uma situação real numa coluna de plasma com J gradiente de densidade, onde as linhas de campo magnético e a densidade de corrente são localizados em superfícies cilíndricas, sendo os mesmos “ligeiramente” deslocados sobre tal superfície, porém permanecerão perpendiculares ao gradiente de pressão. Vetores J e B numa Superfície de Pressão Constante. 6.3 O conceito de β A partir das expressões 6.2.2 e 6.2.3, temos o seguinte r r r r −1 ∇p = µ 0 (∇ × B) × B =0 6 4 8r r 2 r r 7r4 ∇B ]µ 0−1 ∴ ∇p = [ ( B ⋅ ∇ ) B − 2 r B2 )=0 ∴ ∇( p + 2µ 0 6.3.1 A partir da expressão 6.3.1, podemos concluir que quanto maior for a densidade, maior também será a pressão cinética, em conseqüência menor deve ser a pressão magnética, ou ainda, menor deve ser o campo magnético para que 6.3.1 permaneça constante. A figura abaixo, mostra regiões com diferentes pressões cinética e magnética numa coluna de plasma quente. Regiões de Pressões Cinética e Magnética diferentes, numa Coluna de Plasma Quente, com B fixo. Na expressão 6.3.1, a razão entre a pressão cinética e a pressão magnética, denotada por β, indica a “dimensão” do efeito da densidade de corrente diamagnética, responsável pelo equilíbrio na coluna de plasma, isto é β= ∑ nKT j j B 2 2µ 0 6.3.2 Teoricamente, o máximo valor numérico para β que pode ser atingido num plasma confinado magneticamente e em equilíbrio, é 1. Observação: Os números típicos experimentos de fusão, são os seguintes: em a) 10-6 < β < 10-3, para baixos valores de β; b) 10-2 < β < 10-1, para altos valores de β; c) O efeito diamagnético só é considerável para valores de β > 10-2; d) Num reator de fusão, para que este seja economicamente viável, devemos ter valores de β > 0, uma vez que a energia produzida no confinamento e proporcional a n2 e o custo para produção do campo magnético é proporcional a Bγ, onde γ > 1.