Influência da rega nos parâmetros produtivos e qualitativos da Pêra Cv
‘Rocha’
N. C. Felicioa, D. V. T. A. Costaa e I. Lourençob
a
– Instituto Politécnico de Viseu - Escola Superior Agrária de Viseu Quinta da Alagoa
Estrada de Nelas Ranhados – 3500-606 Viseu
b
– Central Frutas do Painho S.A. - Estrada Nacional 115 km 16 - 2550-417 Painho
Cadaval
Palavras chave: rega, pêra ‘Rocha’, teor em açúcares, produção final, diâmetro do fruto
Resumo
A produção nacional de pêra Cv ‘Rocha’ representa cerca de 97% da
produção total. Esta produção incide predominatemente na região do Oeste. Deste
modo pretende-se com este trabalho estudar o impacto da falta de água nos
parâmetros produtivos e qualitativos deste fruto. À colheita observou-se o diâmetro
dos frutos e quantificou-se a produção, pesou-se cada fruto, realizaram-se os testes
de dureza e de refractometria. Tentou-se também avaliar o efeito dos órgãos de
frutificação no diâmetro dos frutos. Com este ensaio verificou-se que a rega
influenciou o diâmetro, o peso dos frutos, a produção por árvore, sendo que as
árvores regadas apresentaram sempre melhores resultados. O teor de açúcares
também foi influenciado pela rega mas neste caso os frutos da parcela não regada
apresentaram valor mais elevado. Relativamente aos estados fenológicos e à taxa de
vingamento não houve diferenças entre as duas parcelas.
INTRODUÇÃO
É característica varietal a pereira ‘Rocha’ (Pyrus communis) apresentar frutos com
elevada percentagem de calibres entre 55 e 65 mm, por consequência dos escassos
recursos hídricos disponíveis na região Oeste, à tradição da cultura em sequeiro e ainda ao
aproveitamento máximo do vingamento. Calibres entre 65 e 75 mm podem ser atingidos
desde que os pomares sejam devidamente instalados, podados, mondados, fertilizados e
irrigados (Soares, et al., 2001).
Segundo Moreira et al. (1983), a rega é um dos factores mais importantes para o
desenvolvimento das plantas. A resposta das árvores a situações de stress hídrico,
depende da fase de desenvolvimento em que se encontra o fruto (Behboudian e Mills,
1997).
Com este ensaio pretendeu-se observar os efeitos da rega na produção da pereira
‘Rocha’.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi conduzido num pomar de um associado da Central Frutas do Painho
S.A., situado na localidade de Painho, Cadaval. O pomar, com uma área de 20200 m2, foi
plantado em 1990. A condução das árvores é feita em eixo central revestido e o compasso
de plantação é de 4 x 1,2 m. O porta-enxerto é o East Malling A.
As pereiras utilizadas para ensaio foram incluídas em duas modalidades, que
foram delimitadas em três linhas contíguas da parcela. A cultura foi instalada com sistema
de rega do tipo gota-a-gota. Por cada linha existiam dois tubos de rega com gotejadores
188
que debitam 3,5 l/h, espaçados de metro a metro. Foram definidas duas modalidades: a
regada e a não regada. Com vinte e cinco repetições de uma árvore por modalidade. O
delineamento experimental utilizado foi de blocos casualizados.
Durante o ensaio foi feito um acompanhamento dos estados fenológicos através do
registo do estado predominante. Mediu-se também quinzenalmente desde 09 de Junho até
17 de Agosto o diâmetro equatorial dos frutos, através de uma craveira digital.
No dia da colheita foi registado o peso da produção de cada árvore por modalidade
ensaiada. No laboratório da central de frutas determinou-se o peso, o teste de dureza e o
índice refractométrico, tendo-se utilizado para tal, uma balança, um penetrómetro
(Bellevue, “Fruit Pressure Tester”, modelo FT327, equipado com um ponteiro de 8 mm
de diâmetro) e um refractómetro (Atago N-1E), respectivamente. Foram medidos 12
frutos por árvore.
Os dados foram sujeitos a análise de variância. Os efeitos dos tratamentos foram
estimados com o auxílio do programa de estatística SPSS.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na modalidade regada, obtiveram-se frutos de maior diâmetro (P<0,01) (Fig. 1).
A produção por árvore (Figura 2) e o peso médio por fruto também foram
influenciados pela rega (P<0,05), sendo que a maior produção e peso ocorreu nas árvores
regadas.
Relativamente ao índice refractométrico, verificou-se que foi influenciado
negativamente pela rega (P<0,001) (Figura 3). Deste modo o grau Brix foi
significativamente superior na modalidade não regada, o que pode ser explicado pelo
facto da falta de água ter levado a uma maior concentração de açúcares.
No presente trabalho verificou-se também que a rega não influenciou
significativamente a dureza dos frutos (P>0,05) (Figura 4).
CONCLUSÕES
Com este trabalho verificou-se que a rega influenciou de forma positiva o peso
final por árvore e o peso médio dos frutos. A dureza não foi influenciada pela rega. Tal
como o esperado, o grau Brix foi fortemente influenciado pela rega. Deste modo, os
frutos provenientes da modalidade não regada apresentaram maior grau brix.
Para trabalhos futuros deverão ser realizados ensaios semelhantes a este, para a
confirmação destes dados, sugerindo-se desde já, o possível acompanhamento dos frutos
no armazenamento e deste modo verificar como é que as técnicas culturais poderão
influenciar o armazenamento.
Agradecimentos
À Central Frutas do Painho S.A. por ter aceite e acompanhado este trabalho. Ao Sr
Jaime Ângelo associado da Central de Frutas do Painho S.A. por ter cedido o seu pomar e
por toda a colaboração.
Referências
Behdoudian, M. H. e Mills T. M. 1997. Deficit irrigation in decidous orchards. Hort. Rev.
21:105-131.
Moreira, T. Avelar, M. Matos, M. Duarte, M. Dias, J. Avelar, J. Vasco J. Alexandre, G.
1983. Influência da Rega na Qualidade da Pêra ‘Rocha’. Estação Nacional de
Fruticultura Vieira de Natividade. Alcobaça: 1
189
Soares J.; Silva A.; Alexandre J. 2001. Contributo para uma Produção Integrada. P. 2728; 30; 32-34; 38-39, 85, 86, 103-109. O Livro da Pêra ‘‘Rocha’’. Volume 1.
Associação Nacional de Produtores de Pêra ‘‘Rocha’’. Cadaval.
Sousa A. (2007). Pêra. Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das
Pescas. Gabinete de Planeamento e Políticas. http://www.gpp.min-agricultura.pt/,
consultado a 10/02/2007. Lisboa : 3-9
60
Diâmetro dos frutos (mm)
Regada
50
Não regada
40
30
20
10
0
9 de Junho
26 de Junho
10 de Julho
21 de Julho
6 de Agosto
17 de Agosto
Data de medição
Figura 1 - Efeito dos órgãos de frutificação no diâmetro de frutos na modalidade não
regada. Os dados foram sujeitos a análise de variância, para um nível de significância
de 0,05.
70
Peso por árvore (Kg)
60
50
a
40
b
30
20
10
0
Regada
Não Regada
Figura 2 - Efeito da rega no peso médio final por árvore. Os dados foram sujeitos a
análise de variância, para um nível de significância de 0,05. Valores seguidos da
mesma letra, não são estatisticamente diferentes (P>0,05).
190
20
18
16
a
IR (º brix)
14
12
10
b
8
6
4
2
0
Regada
Não Regada
Figura 3 - Efeito da rega no grau brix. Os dados foram sujeitos a análise de variância, para
um nível de significância de 0,05. Valores seguidos da mesma letra, não são
estatisticamente diferentes (P>0,05).
80
Dureza (Newton)
70
60
50
40
30
20
10
0
Regada
Não Regada
Figura 4 - Efeito da rega na dureza dos frutos. Os dados foram sujeitos a análise de
variância, para um nível de significância de 0,05.
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Rocha - sech