ZATARIM, M.; CARDOSO, A. I. I.; FURTADO, E. L. Controle de oídio em abóbora com leite de vaca. Horticultura Brasileira,v. 20, n.2, julho,2002. Suplemento2. Controle de oídio em abóbora com leite de vaca. Mariana Zatarim1; Antonio Ismael I. Cardoso1; Edson Luiz Furtado1 1 Unesp-FCA, Departamento de Produção Vegetal, C. Postal 237, 18.603-970 Botucatu/SP [email protected]. RESUMO O trabalho foi desenvolvido na Fazenda Experimental São Manuel, pertencente à UNESP-FCA, com objetivo de avaliar a eficiência de diversos tipos de leite de vaca: cru, pasteurizado do tipo C, integral do tipo longa vida e a associação dos dois últimos ao Yakult, no controle do oídio da abóbora, cultivar Pira Moita, causado por Sphaerotheca fuliginea. Utilizou-se o delineamento de blocos ao acaso com 6 tratamentos e 5 repetições. Observou-se que o leite de vaca cru apresentou melhor resultado no controle da doença, concluindo ser uma alternativa eficiente e viável para produtores. Palavras-chave: Cucurbita moschata L., Sphaerotheca fuliginea, produto lácteo fermentado ABSTRACT Control of Powdery mildew in pumpkin with cow milk. This trial was set up at Sao Manuel Experimental Farm, FCA/UNESP, with the purpose to verify the efficiency of several types of cow milk: raw, pasteurized type C, integral type long life and the association of the last two with Yakult, in the control of the powdery mildew of the pumpkin, cv. Pira Moita, caused by Sphaerotheca fuliginea.The experimented desing was with a randomized block with six treatments and five replications. It was observed that the raw cow milk presented better result in the control of the disease, concluding to be on viable alternative for producers. Keywords: Cucurbita moschata L., Sphaerotheca fuliginea, lacteous fermented product A doença fúngica conhecida por oídio é de ocorrência universal, comum as cucurbitáceas cultivadas e selvagens, causada por Sphaerotheca fuliginea. Todas as espécies são suscetíveis, embora com patogenicidade diferentes, entre elas. A infecção inicia com o crescimento branco pulvurulento, do fungo, na superfície abaxial da folha que atinge gradualmente a adaxial. Os primeiros sinais são mais evidentes com o surgimento de manchas amareladas nas folhas, evoluindo para marron até secarem completamente, causando a necrose foliar, pode também atingir hastes e pecíolos. É considerada a mais séria doença das cucurbitáceas (Kurozawa & Pavan, 1997). O fungo se desenvolve numa amplitude de temperaturas moderadas, entre 15 e 18ºC, umidade relativa de 20 até 100%. É favorecido por plantios adensados, baixa luminosidade e até mesmo com presença de orvalho (Bernhardt et al., 1988). O controle biológico, utilizando diversos produtos alimentares e aditivos de alimentos, vem sendo pesquisado como alternativa viável para essa importante doença, por não apresentar toxidade ao homem, à cultura e ao meio ambiente (Bettiol, & Astiarraga 1999). Esses autores avaliaram a eficiência do leite de vaca e do produto lácteo obtido da fermentação do leite com Lactobacillus (Yakult) em diferentes concentrações, no controle do míldio pulvurulento em abobrinha (C. pepo), em condições controladas. Os resultados mostraram ser uma alternativa eficiente no controle da doença. O objetivo do trabalho foi avaliar, à campo, o efeito de diferentes tipos de leite de vaca e sua associação ao leite fermentado por Lactobacillus vivos (Yakult), no controle do oídio em abóbora, cultivar Pira Moita. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi desenvolvido na Fazenda Experimental São Manuel, pertencente à Faculdade de Ciências Agronômicas (UNESP/FCA) de Botucatu-SP, município de São Manuel-SP. Utilizou-se o delineamento experimental de blocos ao acaso com 5 repetições, 5 plantas por parcela e 6 tratamentos: 1) Água, como controle, 2) leite de vaca cru, 3) leite de vaca pasteurizado do tipo C, 4) leite de vaca integral do tipo longa vida (UHT), 5) leite de vaca pasteurizado do tipo C associado ao leite fermentado por Lactobacilus vivos (Yakult) e 6) leite integral do tipo longa vida (UHT) associado ao leite fermentado por Lactobacillus vivos (Yakult). Todo leite e o Yakult foram utilizados nas concentrações de 20 % e 2 %, respectivamente e aplicados duas vezes por semana. A semeadura foi feita em bandejas de poliestireno expandido com 128 células e o transplante das mudas foi realizado no espaçamento de 2,0 m x 1,5 m, em 05/9/01, quando as plantas apresentavam 2 a 3 folhas definitivas. Utilizou-se adubação orgânica a base de 5 litros de composto/m2 e química de 150 gramas de 4:14:8/m2. A ocorrência do oídio se deu na forma natural e a primeira aplicação dos tratamentos foi aos 48 dias após o transplante quando se observou distribuição uniforme do patógeno, na face abaxial das folhas, em todas as planta. Para quantificação da doença utilizou-se escala diagramática de severidade conforme Azevedo & Leite (1996): 1-plantas com ausência de sintomas, 2-folhas com 10 % da área foliar com sintomas, 3-folhas com 15 % da área foliar com sintomas, 4-folhas com 25 % da área foliar com sintomas, 5- folhas com 40 % da área foliar com sintomas; 6folhas com mais de 50 % da área foliar com sintomas. Antes da primeira aplicação dos tratamentos foi feita avaliação da severidade da doença em todas as plantas, que se repetiu semanalmente. Comparou-se as médias pelo Teste de Tukey (5%) e os tratamentos pela integralização da doença no tempo, através da Área sob a curva de progresso da doença (ASCPD). A colheita dos frutos foi realizada uma única vez, 90 dias após o transplante, quando os frutos se apresentavam completamente maduros, os quais foram quantificados e pesados para avaliar a produção por planta. RESULTADOS E DISCUSSÃO Entre todos os tratamentos a maior eficiência no controle ao oídio da abóbora, à campo, foi observada no leite cru, tratamento 2, conforme Tabela 1 e Figura 1. Tabela 1. Médias das avaliações semanais feitas para quantificação da doença em abóbora cv. Pira Moita. São Manuel, SP, UNESP /FCA, 2001. Tratamento 1ª 2ª Avaliações 3ª 4ª 5ª Controle Leite cru Leite tipo C Leite longa vida Leite tipo C + Yakult Leite longa vida + Yakult 0,35 a 0,34 a 0,33 a 0,33 a 0,36 a 0,37 a 0,40 a 0,35 b 0,35 b 0,38 ab 0,38 ab 0,39 ab 0,58 a 0,33 b 0,35 b 0,41 b 0,41 b 0,39 b 0,74 a 0,34 d 0,39 c 0,48 b 0,40 c 0,42 c 0,78 a 0,33 d 0,41 c 0,48 b 0,39 c 0,44 bc DMS (5%) Cv(%) 0,049 7,12 0,044 5,81 0,087 10,58 0,045 4,89 0,048 5,14 1 Dados originais transformados em arco seno da %. Médias com a mesma letra não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5%. 2 300 ASCPD 250 200 C o n tr o le 150 L e ite c r u 100 L e ite tip o C L e ite lo n g a v id a 50 L e ite tip o C + Y a ku lt 0 1 2 3 4 L e ite lo n g a v id a + Y a ku lt A v a lia ç õ e s Figura 1. Área Sob a Curva de Progresso da Doença (ASCPD) para cada avaliação e tratamento. Os resultados de avaliação da colheita, dos frutos maduros, são mostrados na tabela 2. Tabela 2. Médias do número de frutos maduros e produtividade por planta de abóbora cv. Pira Moita. São Manuel, SP, UNESP /FCA, 2001. Produtividade por planta(kg/m2) Tratamento Número de frutos por planta1 Testemunha Leite cru Leite tipo C Leite longa vida Leite tipo C + Yakult Leite longa vida + Yakult CV (%) DMS (Tukey 5%) 1,43 a 1,57 a 1,49 a 1,49 a 1,58 a 1,46 a 10,87 0,325 1,440 a 1,617 a 1,511 a 1,468 a 1,575 a 1,476 a 14,56 0,439 1 Dados originais (médias da produção de 5 plantas em 5 repetições). Médias com a mesma letra não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5%. 2 Apesar de não ter ocorrido diferença estatística entre os tratamentos observa-se uma tendência de aumento na produção de frutos nos tratamentos com leite cru, onde foram obtidos os melhores resultados no controle da doença, concordando com o trabalho efetuado por Bettiol et al. (1999), no controle do oídio em abobrinha, em condições controladas, utilizando o leite cru. LITERATURA CITADA AZEVEDO, L. A. S. de; LEITE, O M. C. Manual de Quantificação de doenças de plantas. Ciba Agro. São Paulo, SP, 1996.73p. BERNHARDT, E.; DODSON, J.; WATTERSON, J. Cucurbit diseases. A practical guide for seedsmen, growers & agricultural advisors. Petoseed co. Saticoy, California. 1988. 48p. BETTIOL, W.; ASTIARRAGA, B.D.; LUIZ, A. J.B. Efectiveness of cow’s milk against zucchini squash powdery mildew (Sphaerotheca fuliginea) in greenhouse conditions. Crop Protection, n.18, p.489-492, 1999. KUROZAWA, C.; PAVAN, M.A. Doenças das cucurbitáceas. (abóbora, abobrinha, chuchu, melancia, melão, moranga, pepino). In: KIMATI, H.; AMORIM, L.; BERGAMIN FILHO, O.A.; CAMARGO, L.E.A.; REZENDE, J.A.M. Manual de fitopatologia. São Paulo: Ceres, 1997. v.2. p.325-37.