VARIAÇÃO DE COMPONENTES DO LEITE EM FUNÇÃO DE NÍVEIS DE CÉLULAS SOMÁTICAS Loreno Egidio Taffarel1, Patricia Barcellos Costa2, Claudio Tsutsumi2, Gilberto Costa Braga2, Wilson João Zonin2, Eduardo Fonseca Portugal3, Antonio Carlos Lins4 1 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Zootecnia da UNIOESTE, PR,2Professores do Centro de Ciências Agrárias da UNIOESTE, 3Médico Veterinário Frimesa, 4Responsável pelo controle de qualidade da matéria-prima Frimesa. e-mail: [email protected] INTRODUÇÃO MAZAL et al. (2007) observaram que o leite com contagem de células somáticas (CCS) superior a 800 mil céls/mL continha maior conteúdo de proteína total, porém com menor percentual de proteína verdadeira e, conseqüentemente, maior percentual de nitrogênio não protéico, quando comparado ao leite com menos de 200 mil céls/mL. O processo de produção de queijo prato feito de leite com mais de 800 mil céls/mL resultou em maior tempo de coagulação, conteúdo de umidade e proteólise durante o amadurecimento e isto se traduz em maior custo e menor rentabilidade para a indústria, além de afetar negativamente a qualidade sensorial deste produto. COELHO & MESQUITA (2007) relataram que o queijo mussarela elaborado com leite com CCS superior a 750 mil céls./mL, apresentou menor teor de proteína, maior umidade e menor rendimento industrial, além de menor crescimento das bactérias ácido láticas durante o período de armazenamento. Nos queijos elaborados com CCS superior a 400 mil céls./mL, foi observado aumento na profundidade e extensão da proteólise. A conclusão deste trabalho foi que para se obter queijo mussarela com qualidade satisfatória é necessário controlar a matéria prima e utilizar leite com CCS inferior a 400 mil céls./mL e que a elevada CCS está relacionada à perda de proteína e gordura para o soro. O objetivo do presente estudo foi avaliar o impacto de cinco intervalos de CCS sobre a composição de gordura, proteína, lactose e sólidos totais do leite oriundo de propriedades do Oeste do Paraná MATERIAL E MÉTODOS Este estudo foi realizado no Centro de Ciências Agrárias da UNIOESTE, Campus de Marechal Cândido Rondon, PR, com a parceria do Laticínio FRIMESA e Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (APCBRH). As informações mensais, de janeiro a outubro de 2006, relativas a composição do leite das amostras coletadas pelo laticínio, foram obtidas junto ao Laboratório da Análise de Leite da APCBRH, em Curitiba, com autorização do laticínio. Os tratamentos utilizados foram cinco intervalos de CCS: ≤ 200 mil céls./mL, 201 – 400 mil céls./mL, 401 – 750 mil céls./mL, 751 – 1000 mil céls./mL, ≥ 1000 mil céls./mL. Para cada nível de CCS foram considerados os resultados médios de gordura, proteína, lactose e sólidos totais de acordo com os parâmetros de variação da composição do leite segundo WALSTRA & JENNES (1984) e adaptados por SILVA (1997) e assim, totalizaram 12.335 amostras. Informações como volume mensal de leite, tipo de ordenhadeira e sistema de resfriamento não foram consideradas. As coletas das amostras para componentes do leite e CCS foram realizadas pelos transportadores de leite do laticínio, em frascos identificados e com o produto bronopol (2-bromo-2-nitro-propano-1,3-diol) para conservação das amostras até o momento da análise laboratorial. Após a coleta, as amostras foram acondicionadas em caixas especiais e enviadas ao laboratório da APCBRH onde foram realizadas as análises de gordura, proteína, lactose, sólidos totais e CCS. Os dados obtidos foram submetidos à análise de viariância pelo programa SAS Institute (1999) e os valores médios comparados pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os percentuais médios de gordura, proteína, lactose e sólidos totais, de acordo com os intervalos da CCS, bem como os coeficientes de variação observados em cada componente, encontram-se na Tabela 1. Pode-se observar que houve diferença significativa para o teor de gordura entre os intervalos de CCS ≤ 200 mil céls./mL, CCS entre 201 mil a 400 mil céls/mL e CCS entre 401 mil a 750 mil céls/mL; não houve diferença para os intervalos de gordura entre 401 mil a 750 mil céls./mL e 751 mil a 1 milhão céls/mL; também não houve diferença dos intervalos de gordura entre 751 mil a 1 milhão céls./mL e acima de 1 milhão de céls./mL; houve diferença significativa para gordura acima de 1 milhão de céls/mL para os intervalos abaixo de 750 mil céls./mL. Estes resultados diferem daqueles encontrados por BUENO et al. (2005), que relataram diferença significativa apenas entre o intervalo de CCS ≤ 200 mil céls./mL e 201 mil a 400 mil céls./mL, sendo que entre os demais intervalos não encontraram diferenças. Para proteína, observa-se diferença significativa de CCS abaixo de 750 mil céls./mL e acima de 1 milhão de céls./mL; entretanto, não observou-se diferença significativa para proteína no intervalo da CCS de 750 mil a 1 milhão céls./mL e acima de 1 milhão céls./mL. Pode-se observar que houve variação significativa entre todos os intervalos analisados de lactose e que não houve variação significativa para os intervalos analisados de sólidos totais. Os resultados de proteína diferem daqueles encontrados por BUENO et al. (2005), que relataram diferenças significativas para os intervalos até 1 milhão de céls./mL e não encontraram diferenças entre o intervalo de 751 mil a 1 milhão de céls./mL e acima de 1 milhão de céls./mL. Entretanto, constata-se que os resultados de lactose são semelhantes aqueles encontrados por BUENO et al. (2005). Também, os mesmos autores encontraram diferenças significativas para sólidos totais para os intervalos até 1 milhão de céls./mL e, não encontraram diferenças entre o intervalo de 751 mil a 1 milhão de céls./mL e acima de 1 milhão de céls./mL. TABELA 1 - Percentuais médios de gordura, proteína, lactose e sólidos totais do leite, de acordo com o intervalo de células somáticas (CCS) de amostras analisadas no período de janeiro a outubro de 2006. CCS(x1000 céls./mL) Gordura(%) Proteína(%) Lactose(%) Sólidos totais(%) ≤ 200 3,532 D 3,153 B 4,463 A 12,105 A 201 - 400 3,621 C 3,150 B 4,392 B 12,110 A 401 - 750 3,666 B 3,146 B 4,337 C 12,090 A 751 - 1000 3,703 AB 3,164 AB 4,302 D 12,107 A > 1000 3,727 A 3,177 A 4,249 E 12,086 A CV(%) 13,67 7,02 3,57 5,32 * Médias seguidas da mesma letra maiúscula nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5%. Os coeficientes de correlação linear (r) entre a CCS e os valores percentuais de gordura, proteína, lactose e sólidos totais do leite, encontram-se na Tabela 2. Observa-se uma correlação significativa entre CCS e os teores de gordura, proteína e lactose, embora os valores possam ser considerados baixos, principalmente de gordura (9,44%) e proteína (4,88%). Para lactose, constata-se que 35,01% das variações podem ser atribuídas a CCS. Não foi constatado significância para as variações de sólidos totais. Na Tabela 2, observa-se correlações positiva para proteína, e este resultado difere daquele encontrado por BUENO et al. (2005). Já as correlações encontradas entre CCS e gordura foram positivas, e negativas para lactose e sólidos totais e são semelhantes àquelas encontradas por BUENO et al. (2005). TABELA 2 - Correlação linear de Pearson entre CCS e os teores de gordura, proteína, lactose e sólidos totais de 12.335 amostras de leite analisadas. Variável Tipo de correlação r Probabilidade Gordura Positivo 0,0944 <,0001 Proteína Positivo 0,0488 <,0001 Lactose Negativo 0,3501 <,0001 Sólidos Totais Negativo 0,0099 0,2701 r - Coeficiente de correlação linear de Pearson. FERNANDES et al. (2004) encontraram correlação negativa para sólidos totais e lactose somente quando a CCS foi superior a 1 milhão de céls./mL e, correlação positiva para conteúdo de proteína somente quando o leite apresentou CCS inferior a 500.000céls./mL, enquanto que não encontraram nenhuma correlação entre níveis de CCS e gordura. CONCLUSÃO Diante dos resultados obtidos nas condições do presente estudo, pode-se afirmar que a elevação da CCS produziu aumento significativo no percentual de gordura até o limite de 750 mil céls./mL e não resultou em alterações significativas no percentual de proteína até o limite de 1 milhão de céls./mL, entretanto, o aumento da quantidade de CCS reduziu teor de lactose do leite, com uma correlação negativa de 35,01% e não produziu alterações significativas no teor de sólidos totais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BUENO, V. F. F.; MESQUITA, A. J.; NICOLAU, E. S.; OLIVEIRA, A. N.; OLIVEIRA, J. P.; NEVES, R. B. S.; MANSUR, J. R. G.; THOMAZ, L. W. Contagem celular somática: relação com a composição centesimal do leite e período do ano no Estado de Goiás. Ciência Rural, Santa Maria, v. 35, n. 4, p. 848-854, 2005. COELHO, K. O.; MESQUITA, A. J. Efeito da contagem de células somáticas no leite sobre o rendimento e a qualidade do queijo mussarela. Universidade Federal de Goiás – Escola de Veterinária. Tese de Doutorado em Ciência Animal. Goiânia, 2007. Disponível em: <http://bdtd.ufg.br/tedesimplificado/tde_busca/arquivo.php? codArquivo = 807>. Acesso em: 16 jul. 2010. FERNANDES, A. M.; OLIVEIRA, C. A. F.; TAVOLAVORO, P. Relationship between somatic cell count and composition of milk from individual holstein cows. Arq. Inst. Biol., São Paulo, v. 71, n. 2, p. 163-166, 2004. MAZAL, G.; VIANNA, P. C. B.; SANTOS, M. V.; GIGANTE, M. L. Effect of somatic cell count on prato cheese composition. Journal of Dairy Science, v. 90, p. 630-36, 2007. SAS INSTITUTE. Statistical Analysis System: user’s guide: statistics. Version 6.11. Washinton, 1999. 842p. SILVA, P. H. F. Leite: aspectos da composição e propriedades. Química nova na escola, n.6, 1997. Disponível em:<http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc06/quimsoc.pdf>. Acesso em: 03 jul. 2010.