AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS DE GARANTIA DA QUALIDADE PARA ENSAIOS QUALITATIVOS APLICÁVEIS A AMOSTRA DE LEITE in natura Juliana de Araujo 1 Ruthineia da Luz 2 Resumo: Este artigo apresenta a avaliação de parâmetros para garantir a qualidade de amostra de leite in natura contaminada com as fraudes de cloro e hipoclorito, peróxido de hidrogênio e amido. Baseando-se não só na produção de leite que aumenta gradativamente, como também nas utilidades e importância desta matéria-prima no Brasil. Realizou-se os ensaios com leite in natura conservado sob refrigeração, congelado por 5 dias, 9 dias e 15 dias, pois conforme a demanda de amostras que o laboratório está recebendo, verificou-se a necessidade de armazená-las desta forma para posteriormente serem analisadas, e poder detectar as possíveis fraudes. Avaliouse a relação do tempo de estabilidade das fraudes na amostra, mantendo-a sob congelamento à estes períodos, e desta forma, também analisar a robustez destes ensaios. Analisando-se os resultados dos ensaios analíticos, podese concluir que as fraudes da presença de cloro e hipoclorito e amido, foram detectadas em todos os períodos, exceto quando utilizou-se apenas uma gota de lugol em quatro ensaios da presença de amido, e a presença de peróxido de hidrogênio apenas foi detectada na amostra refrigerada, sendo esta uma fraude difícil de ser detectada. Palavras-chave: Leite in natura. Fraude. Conservação. Robustez. Abstract: This article presents the evaluation of parameters to ensure a quality of sample of raw milk contaminated with the frauds of chlorine and hypochlorite, hydrogen peroxide and starch. Relying not only on milk production increases gradually, but also in utility and importance of this raw material in Brazil. Conducted tests with raw milk refrigerated, frozen for 5 days, 9 days and 15 days, because of the demand of samples that has been received for the lab, it was checked the need of storing in this way for afterward to be analyzed and detect possible frauds. Is was evaluated the time relations of stability of the frauds in sample, keeping it frozen to these periods and in this way also examine the robustness of these tests. Analyzing the analytical results of tests, concluded that the frauds of presence chlorine and hypochlorite and starch were detected in all periods, except when using only a drop of lugol in four tests for the presence of starch and the presence of hydrogen peroxide, it was detected only in refrigerated sample, this is a difficult fraud to be detected. Keywords: Raw milk. Fraud. Conservation. Robustness. ___________________________ 1 Acadêmica do Curso Técnico em Química, Centro Universitário UNIVATES, [email protected] 2 Química Industrial, Professora Centro Universitário UNIVATES, Lajeado/RS. [email protected] Lajeado/RS. 1 INTRODUÇÃO A partir da secreção das glândulas mamárias de fêmeas leiteiras, obtém-se o leite que tem por finalidade ser um alimento indispensável dos recém-nascidos. Do ponto de vista físico-químico, este é uma mistura homogênea, de grande número de substâncias como lactose, glicerídeos, proteínas, sais, vitaminas, enzimas, entre outros, das quais algumas estão em emulsão como a gordura, algumas em suspensão como os sais minerais e outras em dissolução como a lactose (ORDÓÑEZ, 2005). Sendo este um líquido opaco, branco, um pouco amarelado segundo quantidade de gordura presente, apresenta um cheiro característico, mas pouco acentuado, e seu gosto é agradável e adocicado, podendo haver variações conforme as espécies de animais (LUQUET, 1985). O leite é um dos alimentos mais nutritivos, contribuindo de maneira significativa com as necessidades de cálcio, selênio, magnésio, vitamina B12 e ácido pantotênico (vitamina B5), porém, este não contém as quantidades de ferro suficientes que uma criança necessita em sua fase de crescimento (MUEHLHOFF et al., 2014). Segundo a Instrução Normativa nº 62, de 29 de Dezembro de 2011 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o leite é um produto de origem integral da ordenha total e ininterrupta de fêmeas leiteiras sadias, bem alimentadas e descansadas. Desta forma, baseando-se na produção de leite, que aumenta à medida em que os produtores incorporam vacas e alimentos para melhorar a produtividade, considerando que os custos de alimentação estão mais baixos, incentivando o aumento da produção (SINDILAT, 2014), baseando-se também nas utilidades e importância do leite no Brasil, observou-se a necessidade de fazer um estudo sobre as fraudes de cloro e hipoclorito, peróxido de hidrogênio e amido, que são fraudes empregadas para mascarar a má qualidade do leite, sendo que em outros casos, também ocorrem fraudes para aumentar o volume desta matéria-prima. Permitiu-se avaliar a amostra de leite in natura, considerando o seu curto prazo de validade, sendo esta muito perecível, e sabendo-se que existem equipamentos modernos com os quais pode-se identificar a presença das fraudes intencionais. Através das pesquisas realizadas, não encontrou-se estudos que demonstrassem a validade dos resultados analíticos sobre fraudes, obtidos de amostra de leite in natura conservada sob congelamento, e por consequência, pela demanda de amostras que o laboratório está recebendo, verificou-se a necessidade de realizar este estudo sobre as análises de fraudes em leites, que poderiam ser conservados sob congelamento, para posteriormente serem analisados, e poder detectar as possíveis fraudes. O objetivo deste estudo foi avaliar as fraudes em leite in natura, pela presença de cloro e hipoclorito, peróxido de hidrogênio e amido, avaliando a relação do tempo de estabilidade na amostra, mantendo-a sob congelamento à um determinado período e desta forma também analisar a robustez destes ensaios. 2 A QUALIDADE DO LEITE in natura A qualidade do leite é importante para as indústrias na produção de derivados como iogurte, creme de leite e doce de leite, bem como para os produtores rurais e para o consumo da população que exigem receber produtos adequados para o consumo, frente às necessidades inclusive das empresas em obter matéria-prima de qualidade, garantindo ao consumidor o direito de estar consumindo um alimento seguro (VIEIRA, 2005). Um dos principais fatores que influenciam na qualidade do leite, está relacionado a contagem bacteriana, desde o úbere do animal até o ambiente externo ocorrido no ato da ordenha (VIEIRA, 2005). Como as bactérias estão em todos os lugares (água, ar e solo), o produtor deve adotar medidas de prevenção para que o leite não seja contaminado microbiologicamente (PASCHOAL, 2010). Há diversos fatores, como a higienização, o controle de qualidade e as características microbiológicas que são analisados para garantir a qualidade do leite, desde as instalações do habitat dos rebanhos até a obtenção de seus derivados, sendo o primeiro um dos principais problemas da qualidade e saúde do animal (LASKOSKI; ALFIERI, 2013). A ausência de agentes contaminantes como antibióticos, pesticidas e sujidades, também são analisados para garantir a qualidade desta matéria-prima (PASCHOAL, 2010). Entretanto, é necessário dispor de um ambiente adequado, levando sempre em consideração o número de animais neste ambiente, pois é importante que estes animais possam realizar com êxito a ingestão do alimento, (LASKOSKI; ALFIERI, 2013), sendo que esta alimentação deve ser rica em carboidratos, aminoácidos essenciais e proteína de alta qualidade, pois havendo uma alimentação sadia, auxilia no bom funcionamento da glândula mamária e na síntese das substâncias que vão ajudar na formação do leite (VIEIRA, 2005). A composição físico-química do leite é constituída pela parte úmida, a água, (cerca de 88%) e a parte sólida que é representada por dois grupos de componentes, o Extrato Seco Total (EST) (mínimo de 11,5%) e o Extrato Seco Desengordurado (ESD) (mínimo de 8,5%), onde o EST é representado pela gordura (mínimo de 3,0%), lactose (mínimo de 4,3%), proteína (mínimo de 2,9%) e matéria mineral (entre 0,60% - 0,80%), sendo que o ESD, são todos os componentes anteriores, menos a gordura (VIEIRA, 2005; MAPA, 1952; MAPA, 2011; TRONCO, 2003). A natureza genética do animal, como a idade e as diferenças entre as raças também podem afetar a composição e a qualidade do leite, pois influenciam no volume produzido e a riqueza em gordura, sendo que a frequência de ordenha e a maneira de ordenhar também podem influenciar (BASTOS; BEZERRA, 2010). 3 AQUISIÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO DO LEITE NO BRASIL Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o Brasil é considerado o quarto maior produtor de leite do mundo, com 32,3 bilhões de litros em 2012, estando atrás apenas dos Estados Unidos, Índia e China. Já em 2013 a produção de leite atingiu 33,4 bilhões de litros, comprovando desta forma, que a atividade leiteira está se fortalecendo cada vez mais (ABREU, 2014), e no primeiro trimestre de 2014, o Rio Grande do Sul foi considerado o segundo colocado no ranking dos maiores produtores de leite do Brasil, atrás apenas de Minas Gerais (IBGE, 2014). Com base em dados do IBGE, em relação à aquisição e industrialização do leite no país, no 1º trimestre de 2014 foram adquiridos cerca de 6,186 bilhões de litros e industrializados cerca de 6,169 bilhões (IBGE, 2014), e entre os meses de janeiro de 2014 à julho de 2014, obteve-se uma produção de 1,6% mais alta em comparação ao ano passado (SINDILAT, 2014). Grande parte da aquisição do leite no Brasil encontra-se na região Sudeste do país, com (40,1%), seguindo pelo Sul com (37,2%) e as regiões Norte e Nordeste, ambas com (5%) (IBGE, 2013). Todos os estabelecimentos produtores de leite têm características de fácil movimentação do seu capital investido, tornando atraente para os pequenos produtores, mesmo assim, mais de dois terços da produção vêm de médias e grandes propriedades (ABREU, 2014). De todo o leite adquirido no 3º trimestre de 2013, a sua grande maioria teve origem de estabelecimentos com inspeção sanitária federal, e os demais em pequena proporção foram estaduais e municipais (IBGE, 2013). 4 FRAUDES: UM ATO DE MÁ-FÉ COM A SOCIEDADE Segundo o Dicionário Prático de Língua Portuguesa, fraude é a astúcia empregada para causar dano, engano, ou seja, um ato de má-fé (RIOS, 1998). A qualidade do leite consumido no Brasil é alvo de cuidados rigorosos dos técnicos e autoridades ligadas à área da saúde e laticínios, pois um dos problemas encontrados no leite é a realização de diversas fraudes que causam prejuízos tanto econômicos como também proporcionam riscos à saúde dos consumidores. A detecção da ocorrência destas fraudes é de grande importância, sendo que este é um alimento consumido por toda a população, de qualquer faixa etária (ROBIM, 2012). Há diversas substâncias que são adicionadas intencionalmente no leite e que são consideradas substâncias fraudulentas, são classificadas como reconstituintes, conservantes e redutores. Os reconstituintes são adicionados ao leite com a intenção de reconstituir sua densidade, pela fraude de água ocorrida anteriormente. Faz parte deste grupo substâncias como a sacarose, cloreto de sódio, amido solúvel, urina e soro de leite. Já os conservantes são adicionados ao leite com o intuito de conservar a qualidade microbiológica, ou seja, manter a acidez do leite dentro dos padrões. O ácido bórico e seus sais, água oxigenada, ácido salicílico e seus sais, bicromato de potássio, cloro, hipocloritos e formol, são as substâncias que fazem parte desta classificação. Por fim, temos os redutores, que são o carbonato de sódio, bicarbonato de sódio, soda e cal virgem, utilizados com a finalidade de reduzir a acidez do leite (TRONCO, 2003). Dentre as diversas fraudes que existem, a contaminação exercida por cloro e hipoclorito, é considerada uma fraude com o objetivo de conservar o leite, e fundamenta-se na formação do iodo livre a partir do iodeto de potássio, pela ação do cloro livre ou hipoclorito. Se houver presença de cloro livre aparecerá a coloração amarela, se não houver mudança de coloração, continua-se o procedimento, e posteriormente, se houver presença de hipocloritos, também aparecerá a coloração amarela. A contaminação por peróxido de hidrogênio é considerada uma fraude que também tem como objetivo a conservação do leite, e pode ser detectada pelo método B, que utiliza-se guaiacol. A reação será através da peroxidase (enzima natural do leite), que age sobre o peróxido de hidrogênio, liberando oxigênio, transformando o guaiacol da forma leuco para sua forma corada. E já a contaminação realizada com a utilização de amido, é considerada uma reconstituição do leite, este juntamente com o iodo forma um composto de adsorção de coloração azul (MAPA, 2006). 5 ANÁLISE DE CONFIABILIDADE: ROBUSTEZ Segundo Leite (2006), a robustez é definida com a verificação do quanto a condição analítica para um certo teor de um determinado ativo se aplica às variações da análise, onde vários procedimentos podem ser propostos para verificar a sensibilidade de um método perante uma metodologia analítica existente. Para isso, temos como exemplo, a alteração da temperatura, do pH e da variação da quantidade de matéria-prima utilizada nos ensaios, obtendo-se estas variações em comparação ao modelo padrão para a validação de um novo método. Todas as causas que dizem respeito em uma análise podem variar, então analisa-se essas variáveis, para que no fim, se determine as influências de cada causa (MERGULHÃO, 2009). Primeiramente deve-se definir um problema, planejando o que vai ser estudado, depois deve-se planejar como será levantado os dados necessários e suas quantidades, então coleta-se os dados para posteriormente serem avaliados, elimina-se os erros, apura-se estes dados, classificando-os e representando-os em tabelas e/ou gráficos (MERGULHÃO, 2009). 6 METODOLOGIA Os métodos analíticos realizados em amostra de leite in natura estão de acordo com a Instrução Normativa nº 68 de 12 de dezembro de 2006 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A amostragem foi realizada por uma única vez, em uma propriedade rural do interior do município de Estrela – Rio Grande do Sul, esta foi homogeneizada e posteriormente coletada do “balde ao pé” e armazenada sob refrigeração. A amostra foi dividida em 12 outras, com aproximadamente 300 mL em cada, sendo que contaminou-se intencionalmente estes 12 frascos, onde 4 destes foram contaminados com 2,4 mL (em cada) de hidróxido de sódio 2,0 à 2,5%, para a análise de presença de cloro e hipoclorito, 4 foram contaminados com 0,45 mL (em cada) de peróxido de hidrogênio 3%, para a análise de presença de peróxido de hidrogênio e 4 foram contaminados com 0,06 g (em cada) de amido solúvel P.A., para a análise de presença de amido, todos com base em seu LD (limite de detecção). Através disto, uma fraude de cada foi analisada logo que refrigerada, com temperatura entre 4 ºC à 7 ºC, uma de cada foi analisada depois de ter sido congelada por 5 dias, uma de cada em 9 dias e uma de cada em 15 dias, com temperatura de aproximadamente -22 ºC, durante o mês de Agosto de 2014, levando-se em consideração está variável perante os resultados de cada fraude, sendo obtidos através das amostras em duplicata, expressando estes resultados em positivo e/ou negativo. Para conhecer a composição físico-química deste leite, realizou-se as análises conforme o Decreto nº 30.691 de 29 de março de 1952 e Instrução Normativa nº 62 de 29 de dezembro de 2011, ambos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e conforme Tronco (2003), e as análises foram de proteína, gordura, lactose, matéria mineral, EST e ESD. Na tabela 1, apresentou-se a variação do ensaio da presença de cloro e hipoclorito na amostra de leite, utilizando-se de duas variações (variação 1 e variação 2). Estas variações foram definidas pelo analista, e uma foi expressa abaixo do valor padrão e outra acima do valor, utilizando-se de letras do alfabeto para diferenciar cada variação. Tabela 1: Parâmetros analíticos e suas variações para avaliação de robustez da presença de cloro e hipoclorito Nominal (Padrão) A – 5 mL amostra B - 0,5 mL iodeto de potássio 7,5% C – 4 mL de HCl 1:2 D – 80 °C em banho-maria E – 10 min. em banho-maria Variação 1 a1 – 4 mL amostra b1 - 0,4 mL iodeto de potássio 7,5% c1 – 3 mL de HCl 1:2 d1 – 75 ºC em banho-maria e1 – 9 min. em banho-maria Variação 2 a2 – 6 mL amostra b2 - 0,6 mL iodeto de potássio 7,5% c2 – 5 mL de HCl 1:2 d2 – 85 ºC em banho-maria e2 – 12 min. em banho-maria Fonte: Do Autor, (2014). Na tabela 2, apresentou-se a combinação fatorial do ensaio da presença de cloro e hipoclorito, que baseia-se na combinação das duas variações (variação 1 e variação 2) e a nominal (padrão), em 15 combinações diferentes, representadas pelas letras do alfabeto (l,m,n,o,p,q,r,s,t,u,v,w,x,y,z). Tabela 2: Combinação fatorial do ensaio da presença de cloro e hipoclorito 1 A B C D E l 2 A b1 C D e1 m 3 A B c1 d1 e1 n 4 A b1 c1 d1 e1 o 5 a1 B C D e1 p 6 a1 B c1 d1 E q 7 a1 b1 c1 d1 e1 r 8 a1 b1 C D E s 9 A b2 C D e2 t 10 A B c2 d2 E u 11 A b2 c2 d2 e2 v 12 a2 B C D e2 w 13 a2 B c2 d2 E x 14 a2 b2 c2 d2 e2 y 15 a2 b2 C D E z Fonte: Do Autor, (2014). Já na tabela 3, apresentou-se a variação do ensaio da presença de peróxido de hidrogênio na amostra de leite, utilizando-se também as duas variações 1 e 2, em relação a sua nominal (padrão). Estas variações foram definidas pelo analista, sendo que uma foi expressa abaixo do valor padrão e outra acima do valor, e utilizou-se letras do alfabeto para diferenciar cada uma delas. Tabela 3: Parâmetros analíticos e suas variações para avaliação de robustez da presença de peróxido de hidrogênio Nominal (Padrão) A – 10 mL amostra B – 35 ºC em banho-maria C – 2 mL de guaiacol 1% D – 2 mL de leite cru Variação 1 a1 – 9 mL amostra b1 – 30 ºC em banho-maria c1 - 1,5 mL de guaiacol 1% d1 – 1 mL de leite cru Variação 2 a2 – 11 mL amostra b2 – 40 ºC em banho-maria c2 - 2,5 mL de guaiacol 1% d2 - 2,5 mL de leite cru Fonte: Do Autor, (2014). A combinação fatorial do ensaio da presença de peróxido de hidrogênio, informada na tabela 4, é baseada na combinação das duas variações (variação 1 e variação 2) e a nominal (padrão), em 15 combinações diferentes, representadas por letras do alfabeto. Tabela 4: Combinação fatorial do ensaio da presença de peróxido de hidrogênio 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 A B C D l A b1 C D m A B c1 d1 n A b1 c1 d1 o a1 B C D p a1 B c1 d1 q a1 b1 c1 d1 r a1 b1 C D s A b2 C D t A B c2 d2 u A b2 c2 d2 v a2 B C D w a2 B c2 d2 x a2 b2 c2 d2 y a2 b2 C D z Fonte: Do Autor, (2014). Na tabela 5, apresentou-se a variação do ensaio da presença de amido na amostra de leite, utilizando-se das variações 1 e 2 em relação a sua nominal (padrão). Estas variações também foram definidas pelo analista, sendo que uma foi expressa abaixo do valor padrão e outra acima do valor, e utilizou-se letras do alfabeto para diferenciar cada variação. Tabela 5: Parâmetros analíticos e suas variações para avaliação de robustez da presença de amido Nominal (Padrão) A – 10 mL amostra B - 5 min. em banho-maria em água fervente C - 2 gotas de lugol Variação 1 a1 - 9,5 mL amostra b1 – 4 min. e meio em banhomaria em água fervente c1 - 1 gota de lugol Variação 2 a2 - 10,5 mL amostra b2 - 6 min. em banho-maria em água fervente c2 - 3 gotas de lugol Fonte: Do Autor, (2014). Na tabela 6, apresentou-se a combinação fatorial do ensaio da presença de amido, que é a combinação das variações 1 e 2 em comparação a nominal (padrão), em 15 combinações diferentes, expressas por letras do alfabeto. Tabela 6: Combinação fatorial do ensaio da presença de amido 1 A B C l 2 a1 b1 c1 m 3 A b1 C n 4 A B c1 o 5 a1 B C p 6 a1 b1 C q 7 a1 B c1 r 8 A b1 c1 s 9 a2 b2 c2 t 10 A b2 C u 11 A B c2 v 12 a2 B C w 13 a2 b2 C x 14 a2 B c2 y 15 A b2 c2 z Fonte: Do Autor, (2014). 7 RESULTADOS E DISCUSSÕES Com os resultados analíticos das amostras de leite in natura, foi possível detectar quais são as variáveis, que podem ou não, influenciar nos resultados dos ensaios, levando em consideração a combinação fatorial de cada um. Na tabela 7, comparou-se os resultados da composição físico-química da amostra, com os parâmetros exigidos pelo Decreto nº 30.691, Instrução Normativa nº 62 e conforme Tronco (2003), para certificar-se de que os valores encontram-se dentro dos padrões. Tabela 7: Composição físico-química da amostra de leite in natura Itens de Composição Gordura (g/100g) Sólidos Não-Gordurosos (g/100g) Sólidos Totais Proteína Total (g/100g) Matéria Mineral Lactose Padrões conforme Decreto nº 30.691, Instrução Normativa nº 62 e Tronco (2003) Mín. 3,0%2 Mín. 8,5%2 Mín. 11,5%2 Mín. 2,9g1 0,6 - 0,8%3 Mín. 4,3%2 Resultados da amostra de Leite in natura 3,2% 8,8% 12,0% 3,0% 0,76% 4,8% Fonte: Do Autor, (2014). Notas: 1 Padrão conforme a Instrução Normativa nº 62 de 29 de dezembro de 2011. 2 Padrões conforme o Decreto nº 30.691 de 29 de março de 1952. 3 Padrão conforme Tronco (2003). Na tabela 8, verifica-se que nos ensaios da fraude de cloro e hipoclorito, representadas por 15 letras do alfabeto, todos os resultados foram positivos para as condições propostas. Tabela 8: Resultados da fraude de cloro e hipoclorito no leite Resultados: Positivo l Positivo m Resultados: Positivo l Positivo m Resultados: Positivo l Positivo m Resultados: Positivo l Positivo m Resultados: Positivo n Positivo o Positivo p Positivo q Positivo r Positivo s Positivo t Positivo u Positivo v Positivo w Positivo x Positivo y Positivo z Leite Refrigerado Resultados: Positivo n Positivo o Positivo p Positivo q Positivo r Positivo s Positivo t Positivo u Positivo v Positivo w Positivo x Positivo y Positivo z Congelado 5 dias Resultados: Positivo n Positivo o Positivo p Positivo q Positivo r Positivo s Positivo t Positivo u Positivo v Positivo w Positivo x Positivo y Positivo z Congelado 9 dias Resultados: Positivo n Positivo o Positivo p Positivo q Positivo r Positivo s Positivo t Positivo u Positivo v Positivo w Positivo x Positivo y Positivo z Congelado 15 dias Fonte: Do Autor, (2014). Porém, segundo Ferreira et al., (2003), em um trabalho de pesquisa da comercialização de “leite informal” em Sobral - Ceará, a análise de fraude da presença de cloro e hipoclorito em amostras de leite in natura refrigerado, foram negativas. Acredita-se que pode ser pelo fato de ter baixa estabilidade desta fraude em presença de matéria orgânica que contém no leite, dificultando a sua presença (CORDS et al., 2001). Na tabela 9, verifica-se que nos ensaios da fraude de peróxido de hidrogênio, representadas por 15 letras do alfabeto, os resultados foram positivo para a amostra de leite refrigerada, e negativo para as demais condições propostas. Tabela 9: Resultados da fraude de peróxido de hidrogênio no leite Resultados: Positivo l Positivo m Positivo n Positivo o Positivo p Positivo q Positivo r Positivo s Positivo t Positivo u Positivo v Positivo w Positivo x Positivo y Positivo z Leite Refrigerado Fonte: Do Autor, (2014). Resultados: Negativo l Negativo m Negativo n Negativo o Negativo p Negativo q Negativo r Negativo s Negativo t Negativo u Negativo v Negativo w Negativo x Negativo y Negativo z Congelado 5 dias Resultados: Negativo l Negativo m Negativo n Negativo o Negativo p Negativo q Negativo r Negativo s Negativo t Negativo u Negativo v Negativo w Negativo x Negativo y Negativo z Congelado 9 dias Resultados: Negativo l Negativo m Negativo n Negativo o Negativo p Negativo q Negativo r Negativo s Negativo t Negativo u Negativo v Negativo w Negativo x Negativo y Negativo z Congelado 15 dias Acredita-se que o peróxido de hidrogênio se decompõe gradativamente liberando moléculas de oxigênio e água, podendo ser detectado somente com a amostra refrigerada, caracterizando-se desta forma, como uma fraude difícil de ser detectada (OLIVAL; SPEXOTO, 2004). Conforme pesquisa realizada na Universidade Estadual de Londrina – Paraná, com a adição intencional de 0,1% de peróxido de hidrogênio com o intuito de adulterar o leite, e sob avaliação analítica, após 24 horas da adição desta substância não foi possível detectá-la (SILVA, 2013). Na tabela 10, verifica-se que nos ensaios da fraude de amido, todos os resultados das amostras (m,o,r,s) foram negativos e positivo para as demais condições propostas. Tabela 10: Resultados da fraude de amido no leite Resultados: Positivo l Negativo m Positivo n Negativo o Positivo p Positivo q Negativo r Negativo s Positivo t Positivo u Positivo v Positivo w Positivo x Positivo y Positivo z Leite Refrigerado Resultados: Positivo l Negativo m Positivo n Negativo o Positivo p Positivo q Negativo r Negativo s Positivo t Positivo u Positivo v Positivo w Positivo x Positivo y Positivo z Congelado 5 dias Resultados: Positivo l Negativo m Positivo n Negativo o Positivo p Positivo q Negativo r Negativo s Positivo t Positivo u Positivo v Positivo w Positivo x Positivo y Positivo z Congelado 9 dias Resultados: Positivo l Negativo m Positivo n Negativo o Positivo p Positivo q Negativo r Negativo s Positivo t Positivo u Positivo v Positivo w Positivo x Positivo y Positivo z Congelado 15 dias Fonte: Do Autor, (2014). Já segundo Mendes et al., (2010), em seus estudos sobre a pesquisa de fraudes no leite in natura refrigerado, em amostras coletadas no comércio informal no município de Mossoró – Rio Grande do Norte, as análises de fraudes da presença de peróxido de hidrogênio e amido, não foram detectadas. Nas amostras (m,o,r,s) como nas demais, também foi adicionado uma quantidade diferente de matéria-prima, bem como tempos diferentes de incubação no banho-maria. Desta forma, esperou-se esfriar as amostras e em seguida adicionou-se apenas uma gota de lugol, possivelmente impossibilitando a sua detecção através do método utilizado, acredita-se que seja pelo fato de que uma gota de lugol é considerada uma quantidade insignificante, já nas demais amostras que apresentaram positividade foram utilizadas de duas à três gotas de lugol. Portanto, acredita-se que seja necessário a adição de no mínimo duas gotas deste reagente. 8 CONCLUSÃO Portanto, após as pesquisas realizadas, conclui-se que: Deve-se ter o máximo de cuidado ao propor alguma variável perante o método analítico oficial, pois o mesmo poderá influenciar no resultado final, resultando em um falsopositivo. Bem como, verifica-se que dependendo da fraude presente no leite, a mesma poderá ser negativada quando sofrer um processo de congelamento. Portanto, faz-se necessário avaliar qual será a fraude a ser realizada, pois em amostras mantidas sob refrigeração, verifica-se que mantém a integridade da positividade, mas já para a condição congelada, o mesmo não ocorre. As variáveis como, o tempo de incubação no banho-maria, diferença nas quantidades de amostras de leite que foram analisadas, não influenciaram nos resultados das três presenças de fraudes, por se tratarem de variáveis insignificantes que não alteram o resultado do ensaio, como por exemplo, na fraude de amido, que ficou claro que a quantidade de reagente foi o que interferiu no resultado e não as demais variáveis envolvidas, pois também a temperatura e o tempo de congelamento foram variáveis iguais para todas as condições propostas para esta análise, portanto, não interferindo nos demais resultados. Através das pesquisas realizadas, não encontrou-se estudos que demonstrassem a validade dos resultados analíticos sobre fraudes, obtidos de amostra de leite in natura conservada sob congelamento, apenas análises realizadas em leite in natura refrigerado, oportunizando desta forma, novos estudos sobre as ocorrências de outras fraudes que são utilizadas para mascarar a má qualidade do leite ou para aumentar o seu volume, podendo ser detectadas ou não depois de serem congeladas, e não apenas enquanto estiverem refrigeradas. REFERÊNCIAS ABREU, K. “O Brasil é o quarto maior produtor de leite do mundo”. Leite, 17 ed. Lajeado: Agros, Ano IV. p. 7-10, mar./abr. 2014. BASTOS, R. G.; BEZERRA J. R. M. V. Introdução à Tecnologia de Leite e Derivados. Universidade Estadual do Centro-Oeste. Paraná: Unicentro, 2010. Disponível em: < http://www2.unicentro.br/editora/files/2012/11/raniere.pdf> Acesso em: 30 out. 2014. CORDS, B. R. et al, Cleaning and Sanitizing in Milk Production and Processing. 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