Substâncias Psicotrópicas Silas Varella Fraiz Junior
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Sala de Leitura Substâncias Psicotrópicas Substâncias Psicotrópicas
Generalidades
Substâncias psicotrópicas, ou agentes psicotrópicos, também conhecidos como psicofármacos, são
substâncias que atuam no sistema nervoso central (SNC) e que são usadas no tratamento de distúrbios
psíquicos. Tendo largo emprego na medicina clínica, a farmacoterapia dos transtornos mentais é uma
das áreas de mais rápida evolução.
A farmacoterapia, enquanto tratamento medicamentoso destes transtornos, pode ser definida como a
tentativa de modificar ou corrigir comportamentos, pensamentos ou humores patológicos por meios
químicos. Como ainda não se determinou de modo inequívoco a etiologia, ou seja, a origem ou a causa
dos diversos distúrbios mentais, os agentes psicotrópicos não são curativos, apenas aliviam os sintomas
através de mecanismos ainda não completamente elucidados. O comportamento normal ou anormal
do ser humano, que está regulado por parâmetros, tais como o afeto, a percepção e a cognição, é
profundamente afetado por mudanças físicas que ocorrem no SNC, que podem ser provocadas pela
utilização destas substâncias, seja de forma lícita, durante o tratamento de distúrbios mentais, ou de
forma ilícita, quando estas substâncias são usadas como o que popularmente se chama de “droga”
(termo também empregado para definir substância biologicamente ativa, capaz de alterar determinada
função física ou fisiológica no corpo humano).
Com exceção dos sais de lítio e estrôncio, como os respectivos carbonatos, por exemplo, que são
substâncias inorgânicas, a grande maioria das substâncias psicotrópicas são compostos orgânicos, que
apresentam uma grande diversidade em sua estrutura molecular, tanto em relação às suas cadeias
carbônicas, como também em seus grupamentos funcionais, e, por conseguinte, em suas funções
orgânicas. Por isso mesmo, dentre outras razões, uma classificação adequada destas substâncias baseiase em sua ação farmacológica (ação sobre o organismo vivo de um modo geral) e em sua ação
terapêutica (ação específica indicada para o tratamento de determinada enfermidade). Neste sentido,
as substâncias psicotrópicas podem ser convenientemente classificadas em:
A) ANSIOLÍTICOS
B) ANTIDEPRESSIVOS
C) ANTIPSICÓTICOS
D) ALUCINÓGENOS
. 1 . Sala de Leitura Substâncias Psicotrópicas Ansiolíticos
Os agentes ansiolíticos, que antigamente eram conhecidos como tranqüilizantes menores, são
substâncias empregadas, principalmente, no tratamento da ansiedade, como também em
determinadas neuroses e tensões. As principais formas de ansiedade são: fobias (por exemplo:
agorafobia, que se caracteriza pelo medo de sair de casa para espaços amplos e abertos; fobia social, de
desempenho e de falar em público), ataques de pânico, pensamentos obsessivos, ímpetos compulsivos
para executar atos específicos ou ansiedade generalizada (intensa e persistente).
Muitas são as substâncias empregadas como ansiolíticos, mas aquelas consideradas mais eficazes no
tratamento da ansiedade são os compostos benzodiazepínicos. As benzodiazepinas, como são
comumente chamadas, foram introduzidas na clínica médica a partir de 1964 e o clordiazepóxido foi o
primeiro membro desta classe. De lá para cá, foram desenvolvidas várias substâncias deste mesmo
grupo (Figura 1).
H3C
CH3
NH
N
O
O
H
N
N
OH
+
Cl
Cl
N
O
Cl
N
-
N
Cl
clordiazepóxido (Librium
R
)
diazepam ( Valium
R
lorazepam (Lorax R)
)
N
H
O
H
N
N
Br
N
O 2N
H3C
O
N
N
N
Cl
N
alprazolam ( Frontal
R
Cl
N
bromazepam ( Lexotan R )
clonazepam (Rivotril R )
)
Figura 1: Benzodiazepínicos amplamente empregados na clínica médica
. 2 . Sala de Leitura Substâncias Psicotrópicas Relacionando a estrutura química à atividade biológica, observa-se que todos apresentam uma
estrutura molecular básica, que apresenta um anel benzênico fundido a um anel heterocíclico
(diazepínico), podendo ter as seguintes características estruturais, para apresentar uma maior atividade
ansiolítica:
9
8
H
N
2
1
3
7
6
5
N
4
Figura 2: Anel benzodiazepínico
(a) grupo metila ligado ao átomo de nitrogênio na posição 1;
(b) grupo “retirador de elétrons” (efeito eletrônico causado por átomo ou grupo de átomos
ligado à cadeia carbônica, que provoca diminuição da densidade eletrônica em
determinada região da estrutura molecular) na posição 7 (ex.: -Cl, -Br , -NO2 )
(c) grupo fenila (ou grupo fenila com um substituinte eletronegativo, como o
–Cl na posição orto) na posição 5 .
Antidepressivos
A depressão - tida como uma das manifestações clínicas mais comuns nos transtornos mentais –
caracteriza-se por alteração severa do humor, com lentificação mental e motora, desânimo,
desinteresse, inquietação emocional, sentimentos de culpa, apreensão, que são, em geral, recorrentes e
que podem conduzir a idéias suicidas.
Encontra-se um grande número de compostos estruturalmente diversos, que já foram ou ainda são
utilizados para conduzir à melhora dos transtornos depressivos, conduzindo pacientes mentalmente
deprimidos a um estado mental melhorado. Destacam-se, entre estes, empregando-se uma
classificação que considera tanto a estrutura química (primeiro, segundo e terceiro grupo), como o seu
. 3 . Sala de Leitura Substâncias Psicotrópicas mecanismo de ação (quarto e quinto grupo) – assunto que será abordado mais adiante –, os seguintes
grupos de substâncias:
(a) sais de lítio;
(b) anfetamina e derivados, agindo principalmente como estimulantes do SNC;
(c) compostos tricíclicos;
(d) inibidores da enzima monoamino-oxidase (MAO), comumente identificados
como IMAOs;
(e) inibidores seletivos da recaptação da serotonina (5-HT), identificados como ISRSs.
Atualmente, entretanto, este último grupo reúne os antidepressivos mais comumente empregados. Os
inibidores seletivos de recaptação de serotonina tornaram-se a classe dominante de antidepressivos
por sua facilidade de uso, versatilidade e segurança, utilizados tanto na clínica psiquiátrica como na
prática clínica em geral. Abaixo, são apresentados alguns exemplos de antidepressivos destes diversos
grupos (Figura 3).
. 4 . Sala de Leitura Substâncias Psicotrópicas NH2
Li2CO3
NH
CH3
CH3
Carbonato de Lítio
CH3
(grupo b)
anfetamina
(grupo a)
metanfetamina
N
CH3
N
imipramina (Tofranil R)
(grupo c)
CH3
N
Amitriptilina (Tryptanol R)
CH3
CH3
NH2
NH
NH2
tranilcipromina (Parnate R )
fenelzina (Nardil
R
CH3
HN
(grupo d)
)
(grupo e)
O
Cl
fluoxetina (Prozac R )
NH
Cl
CH3
sertralina (Zoloft R )
Figura 3: Antidepressivos diversos Antipsicóticos
As substâncias psicotrópicas enquadradas nesta classe, anteriormente conhecidas como tranqüilizantes
maiores, são empregadas como principal tratamento para alguns dos pacientes mais perturbados,
estando em condições mais graves do que as observadas anteriormente, e que são acompanhados em
psiquiatria: tratamento de episódios esquizofrênicos agudos, prevenção da recorrência de sintomas
psicóticos em pacientes esquizofrênicos (psicoses agudas), bem como outras condições psiquiátricas
como mania e transtornos psicóticos. São sintomas característicos nestes casos: alucinações, delírios,
falta de cooperação, embotamento afetivo, apatia e retraimento social, dentre outros. Entretanto, os
agentes antipsicóticos não curam a esquizofrenia, apenas controlam as manifestações psicóticas,
acelerando a remissão dos sintomas. Não são curativos, sendo sua ação primariamente paliativa.
. 5 . Sala de Leitura Substâncias Psicotrópicas Semelhantemente ao observado em relação aos antidepressivos, os antipsicóticos comumente
empregados não apresentam um padrão estrutural determinado, mostrando significativas diferenças
em suas estruturas químicas. O primeiro antipsicótico empregado com relativo sucesso foi a
clorpromazina, na década de 50, do século XX. Desde então, muitos outros agentes com ação
antipsicótica foram empregados na clínica psiquiátrica –com destaque para alguns –, que podem ser
classificados de acordo com sua estrutura química, como se segue:
a) derivados fenotiazínicos, onde se inclui a clorpromazina;
b) derivados tioxantênicos;
c) butirofenonas ;
d) derivados dibenzodiazepínicos;
e) derivados benzioxazólicos.
Algumas substâncias de cada uma destas classes são apresentadas abaixo (Figura 4). . 6 . Sala de Leitura Substâncias Psicotrópicas S
S
N
Cl
N
S
N
CF3
Cl
CH3
N
N
CH3
N
CH3
CH3
clorpromazina (Amplictil
R
trifluoperazina (Stelazine R )
)
CH3
clorprotixeno (Taractan R )
b)derivado tioxantênico
a)derivados fenotiazínicos
CH3
N
F
Cl
N
OH
Cl
N
N
O
haloperidol (Haldol
R
N
H
clozapina (Leponex
)
c) uma butirofenona
N
)
d) um dibenzodiazepínico
CH3
N
R
N
O
N
O
risperidona (Risperdal
R
)
e)derivado benzisoxazólico
F
Figura 4: Alguns antipsicóticos mais comumente empregados
As substâncias antipsicóticas produzem uma larga faixa de efeitos colaterais, que geram reações
adversas muito incômodas, desconfortáveis ou mesmo perigosas. Por essa razão, o conhecimento
detalhado destes efeitos deve ser considerado quando se seleciona determinada substância com fins
terapêuticos.
. 7 . Sala de Leitura Substâncias Psicotrópicas Alucinógenos
Alucinógenos são substâncias psicotrópicas que causam sensibilidade perceptiva aumentada, ilusões
nítidas, fantasias e alucinações visuais. Estas alterações perceptivas associam-se ocasionalmente a uma
franca reação de pânico, designada popularmente como “bad trip” (viagem ruim, em inglês). Os
alucinógenos mais comuns, obtidos de fontes naturais, são: a mescalina, que é obtido do Peiote, uma
planta cactácea (cactus) nativa no México (América Central); o LSD (dietilamida do ácido lisérgico), que
é preparado a partir de uma das substâncias (o ácido lisérgico) encontrado no Ergot, fungo que se
desenvolve no esporão do centeio; a psilocibina e a psilocina, encontrados em cogumelos (fungos
superiores) do gênero Psylocibe, dentre outros, largamente distribuídos na América do Sul e Central e o
DMT (N,N-dimetil-triptamina), que se encontra em espécies de plantas
de vários gêneros e é
componente importante da mistura denominada ayahuasca, o chá sagrado de religiões como o Santo
Daime e de rituais indígenas brasileiros. Estão enquadradas nesta classe, também, substâncias
sintéticas, que são derivadas da anfetamina (vide Figura 3), como a 2,5-dimetoxi-4-metil-anfetamina
(DOM / STP) e a 3,4-metilenodioxi-metanfetamina (MDMA), popularmente conhecida como “Ecstasy”
(Figura 5).
Os agentes alucinogênicos são de escassa aplicação terapêutica e apenas alguns apresentam interesse
prático, pois produzem psicoses, normalmente intensas. É o caso do LSD, da mescalina e da psilocibina,
que podem ser usados, até certo ponto, na medicina, para produzir psicoses-modelo na investigação da
relação entre a mente, o cérebro e os mecanismos bioquímicos, com o objetivo de elucidar a origem e a
causa de doenças mentais, auxiliando na psicoterapia.
Entretanto, a autoadministração dessas drogas é altamente perigosa, pois reações graves são
observadas: pânico agudo, alucinações recorrentes (“flashbacks”, em inglês), estados depressivos e
ansiedade crônica, podendo, até, conduzir à morte acidental ou ao suicídio. Tendo amplo consumo
ilegal, constitui grave problema em vários países, porque o uso ilícito está aumentando. Organismos
governamentais e não-governamentais, nacionais e supranacionais, que atuam na área da saúde e da
segurança pública, estão envidando esforços no sentido de promover campanhas em massa para
restringir esta tendência.
. 8 . Sala de Leitura Substâncias Psicotrópicas CH3
CH3
H3C
H3C
CH3
N
O
NH2
N
P
HO
H
CH3
N
+
O
O
CH3
CH3
O
N
-
H
OH
O
O
CH3
O
CH3
mescalina
dietilamida do ácido
N
H
N
H
N
H
psilocina
psilocibina
lisérgico (LSD)
H3C
CH3
CH3
O
N
NH2
H
H3C
N
O
CH3
O
CH3
N
H
N,N-dimetil-triptamina (DMT)
CH3
O
2,5-dimetoxi-4-metil-anfetamina
3,4-metilenodioxi-metanfetamina
(MDMA / Ecstasy)
(DOM / STP)
Figura 5: Alucinógenos de origem natural e sintética mais conhecidos
Observa-se, quanto à estrutura química, que estão presentes substâncias contendo dois núcleos
básicos, a saber :
a) o anel indólico, presente no LSD, na psilocibina, na psilocina e no DMT;
b) o anel benzênico (fenilalquilamínico ), presente na mescalina e nas anfetaminas sintéticas (
DOM / STP e MDMA / “Ecstasy”).
4
R
2
3
5
3
2
6
7
N
H
R= -CH2-CH2-N(CH3)2
ou cicloalquila (LSD)
R
1
4
6
anel benzênico
(MDMA)
Figura 6
-CH2-CH2(CH3)-NH(CH3)
5
1
anel indólico
R= -CH2-CH2-NH2 ou
. 9 . Sala de Leitura Substâncias Psicotrópicas Modos de Ação
Tudo o que fazemos é controlado por sinais nervosos que percorrem rapidamente o nosso cérebro e as
várias partes de nosso sistema nervoso. O cérebro e a medula espinhal compõem o sistema nervoso
central (SNC). Outras partes do sistema nervoso correspondem ao sistema nervoso periférico (SNP) e
estão distribuídas pelo organismo. O cérebro recebe, processa e age por informação originada no SNC
ou trazida até ele pelo SNP. Ele controla ambas as nossas ações voluntárias (como andar, comer, falar) e
involuntárias, executadas por vários órgãos e sistemas do nosso corpo (como, por exemplo, o controle
do batimento cardíaco, a ação muscular automática dos vasos sanguíneos do sistema circulatório e as
secreções endócrinas das diversas glândulas).
São conhecidas como neurônios as principais células nervosas que compõem os tecidos do sistema
nervoso, exercendo funções de transmissão e processamento dos sinais que levam mensagens para
todo o conjunto do sistema. Estas células nervosas variam muito, tanto na forma como no tamanho, e
apresentam-se com três partes essenciais: o axônio, o corpo celular e os dendritos. O cérebro funciona
através de seus bilhões de neurônios envolvidos em milhões de redes neuronais. Os neurônios se
assemelham a pequenos circuitos que passam impulsos elétricos, como mensagens, ao longo de uma
rede com muitos outros neurônios, resultando em uma ação específica. Este estímulo elétrico está
fundamentado em mudanças nas concentrações de íons positivos, os cátions sódio (Na+) e potássio (K+),
tanto dentro como fora do neurônio.
É importante observar que nestas redes os neurônios não estão fisicamente conectados, não havendo
um caminho contínuo que vai do SNC a determinado órgão e vice-versa. O impulso elétrico é
transmitido em menos de um milionésimo de segundo pelo axônio de um neurônio, através de uma
pequena fenda, denominada sinapse, para um dendrito de um neurônio adjacente. A sinapse consiste
em uma zona de contato entre dois neurônios, sendo capaz não só de transmitir mensagens entre duas
células, mas também de bloqueá-las ou modificá-las. Quando um impulso elétrico que vem do cérebro
alcança a terminação de um axônio, substâncias químicas específicas, conhecidas como
neurotransmissores, são liberadas e, atravessando a sinapse, ligam-se aos dendritos do neurônio
adjacente, desencadeando o fluxo de íons Na+ e K+, o que permite que o impulso elétrico atinja o
próximo neurônio.
Alguns dos neurotransmissores mais conhecidos são apresentados abaixo (Figura 7).
. 10 . Sala de Leitura Substâncias Psicotrópicas OH
HO
OH
NH2
HO
NH
CH3
HO
HO
Norepinefrina(Noradrenalina)
HO
Epinefrina (Adrenalina)
HO
NH2
NH2
N
H
HO
Dopamina
Serotonina
NH2
HN
CH3
O
H3C
N
Histamina
+
N
O
CH3
CH3
Acetilcolina
O
H2N
H2N
OH
Ácido g-aminobutírico(GABA)
COOH
Glicina
Figura 7: Alguns neurotransmissores mais importantes
Diferentes neurônios empregam neurotransmissores distintos. Cada um tem uma função específica e
liga-se a um sítio receptor definido existente na célula nervosa receptora. Este sítio receptor (ou apenas
receptor) é um componente celular, podendo ser, provavelmente, uma porção limitada de uma
macromolécula, em geral de natureza protéica, que interage com as substâncias químicas endógenas,
ou seja, produzidas no próprio organismo, como são os neurotransmissores. Alguns estimulam o
neurônio receptor a enviar o impulso elétrico enquanto outros interrompem este estímulo.
As substâncias psicotrópicas (psicofármacos), bem como outras drogas que atuam no SNC, o fazem por
interação com os neurotransmissores ou com os locais em que eles atuam diretamente, os seus
. 11 . Sala de Leitura Substâncias Psicotrópicas receptores. Estas substâncias são de dois tipos principais: agonistas e antagonistas. As agonistas agem
“mimetizando” ou aumentando a ação de determinado neurotransmissor. As antagonistas agem
bloqueando o receptor, por exemplo, prevenindo ou impedindo a ação do neurotransmissor sobre ele.
Dessa forma, podem afetar a biossíntese, o armazenamento e a recaptação destas aminas biógenas, os
neurotransmissores.
Estas interações ocorrem, principalmente, porque os psicofármacos, de uma maneira geral, apresentam
uma semelhança estrutural significativa com os neurotransmissores, podendo provocar um estímulo ou
inibição da ação destes, por competição pelo mesmo receptor. São substâncias químicas que contém,
em geral, cadeias carbônicas acíclicas e/ou cíclicas, apresentando anel aromático e/ou heterocíclico
(não raro, fundidos ou condensados), contendo grupamentos funcionais como a hidroxila alcoólica
e/ou fenólica, de funções orgânicas como éter, amida, por exemplo, mas, principalmente, sustentando
átomo de nitrogênio de natureza básica, que caracteriza a função amina, comumente encontrada nos
neurotransmissores. Cabe ressaltar que diversas substâncias psicotrópicas também se apresentam com
um arranjo espacial de seus átomos dispostos na estrutura molecular de maneira análoga àquela
encontrada nas substâncias químicas endógenas, os neurotransmissores.
Os antidepressivos, por exemplo, aumentam a concentração de neurotransmissores, como a
norepinefrina e a serotonina, no cérebro. Os mais bem conhecidos são as anfetaminas e seus derivados.
Observa-se uma semelhança estrutural entre a anfetamina e a metanfetamina com a norepinefrina
(noradrenalina), que quando formada em excesso, provoca entusiasmo e excitação, e, provavelmente
até hiperatividade. Em grandes excessos ela pode conduzir a estados maníacos e sua deficiência pode
causar depressão. Esta semelhança ajuda na compreensão da atividade estimulante (antidepressiva)
das anfetaminas.
Diferentes neurônios empregam neurotransmissores distintos. Cada um tem uma função específica e
liga-se a um sítio receptor definido existente na célula nervosa receptora. Este sítio receptor (ou apenas
receptor) é um componente celular, podendo ser, provavelmente, uma porção limitada de uma
macromolécula, em geral de natureza protéica, que interage com as substâncias químicas endógenas,
ou seja, produzidas no próprio organismo, como são os neurotransmissores. Alguns estimulam o
neurônio receptor a enviar o impulso elétrico enquanto outros interrompem este estímulo.
As substâncias psicotrópicas (psicofármacos), bem como outras drogas que atuam no SNC, o fazem por
interação com os neurotransmissores ou com os locais em que eles atuam diretamente, os seus
receptores. Estas substâncias são de dois tipos principais: agonistas e antagonistas. As agonistas agem
“mimetizando” ou aumentando a ação de determinado neurotransmissor. As antagonistas agem
bloqueando o receptor, por exemplo, prevenindo ou impedindo a ação do neurotransmissor sobre ele.
Dessa forma, podem afetar a biossíntese, o armazenamento e a recaptação destas aminas biógenas, os
neurotransmissores.
. 12 . Sala de Leitura Substâncias Psicotrópicas Estas interações ocorrem, principalmente, porque os psicofármacos, de uma maneira geral, apresentam
uma semelhança estrutural significativa com os neurotransmissores, podendo provocar um estímulo ou
inibição da ação destes, por competição pelo mesmo receptor. São substâncias químicas que contém,
em geral, cadeias carbônicas acíclicas e/ou cíclicas, apresentando anel aromático e/ou heterocíclico
(não raro, fundidos ou condensados), contendo grupamentos funcionais como a hidroxila alcoólica
e/ou fenólica, de funções orgânicas como éter, amida, por exemplo, mas, principalmente, sustentando
átomo de nitrogênio de natureza básica, que caracteriza a função amina, comumente encontrada nos
neurotransmissores. Cabe ressaltar que diversas substâncias psicotrópicas também se apresentam com
um arranjo espacial de seus átomos dispostos na estrutura molecular de maneira análoga àquela
encontrada nas substâncias químicas endógenas, os neurotransmissores.
Os antidepressivos, por exemplo, aumentam a concentração de neurotransmissores, como a
norepinefrina e a serotonina, no cérebro. Os mais bem conhecidos são as anfetaminas e seus derivados.
Observa-se uma semelhança estrutural entre a anfetamina e a metanfetamina com a norepinefrina
(noradrenalina), que quando formada em excesso, provoca entusiasmo e excitação, e, provavelmente
até hiperatividade. Em grandes excessos ela pode conduzir a estados maníacos e sua deficiência pode
causar depressão. Esta semelhança ajuda na compreensão da atividade estimulante (antidepressiva)
das anfetaminas.
OH
HO
NH2
NH2
CH3
HO
Anfetamina
Norepinefrina(Noradrenalina)
Figura 8
Já os antipsicóticos, acredita-se, atuam bloqueando especificamente receptores da dopamina, que é um
neurotransmissor com efeito estimulante no cérebro e está envolvida com a ação e a integração do
movimento muscular, bem como no controle da memória e da emoção. É o caso das fenotiazinas, que
atuam como antagonistas da dopamina. A esquizofrenia tem sido relacionada com excesso de
dopamina e os psicofármacos que bloqueiam seu sítio receptor são empregados para o tratamento
desta condição.
. 13 . Sala de Leitura Substâncias Psicotrópicas Os agentes alucinogênicos (alucinógenos) atuam por competição com a serotonina pelos mesmos
receptores. Há semelhanças estruturais entre os alucinógenos mais potentes e a serotonina (análogos
estruturais totais ou parciais).
CH3
N
HO
H3C
CH3
CH3
N
NH2
CH3
N
N
H
OH
H
Serotonina
N
H
N
H
Psilocina
LSD
Figura 9
A serotonina é um neurotransmissor que parece desempenhar um papel importante nos transtornos
mentais. Está envolvida no sono, na percepção sensorial, na regulação da temperatura corporal,
podendo afetar também o humor. O seu exato papel, entretanto, não está totalmente esclarecido.
Para finalizar, é necessário alertar para uma questão importante em relação ao uso de substâncias
psicotrópicas: o fenômeno da dependência. Entende-se por dependência a necessidade psicológica ou
física de continuar consumindo determinada substância química. Ela pode ser psicológica, física ou
ambas. A dependência psicológica, também conhecida como habituação, é caracterizada por uma
avidez contínua ou intermitente pela substância. A dependência física (fisiológica) é caracterizada pela
tolerância, ou seja, a necessidade de consumir a substância para evitar a ocorrência de uma crise de
abstinência. A abstinência é um transtorno composto por vários sintomas que se manifestam quando o
indivíduo deixa ou está impedido de usar a substância a qual está habituado. A abstinência de
anfetaminas, por exemplo, causa instabilidade emocional e de humor, fadiga, distúrbios do sono,
grande agitação e avidez pela droga.
. 14 . Sala de Leitura Substâncias Psicotrópicas Conclusão
Pelo exposto acima, pode-se observar a extrema importância das substâncias psicotrópicas, por conta
do papel que desempenham no tratamento auxiliar da doença mental. A esta enfermidade muito
grave, soma-se, ainda, a marginalização das pessoas que a possuem. A discriminação torna-se maior
quando acomete pessoas de baixo poder aquisitivo que, sem possibilidade de receber tratamento
adequado, são conduzidas ao total abandono.
As substâncias psicotrópicas só devem ser administradas sob prescrição e acompanhamento médico,
prevenindo-se, assim, o uso inadequado e o abuso que podem trazer graves danos para a saúde.
. 15 . 
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