Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas Relato do encontro Conversando sobre a Psicologia e o SUAS na Restinga. 1 – Introdução No dia 24 de maio de 2013, a equipe do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas do Conselho Regional de Psicologia do RS, esteve presente na Reunião de Rede da Região da Restinga para conversar sobre a atuação da Psicologia no SUAS, respeitando as especificidades do território. Estavam presentes profissionais dos seguintes serviços e programas: SMED, CREAS, CRAS, Ação Rua, Território da Paz, Projeto Vida Nova da Restinga, Conselho Tutelar, Escolas Municipais de Ensino Fundamental, Escola Municipal de Ensino Especial e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do RS. A reunião iniciou com a explanação de informes dos trabalhadores e em seguida realizamos a atividade. Apresentamos a metodologia que preparamos para o encontro e sugerimos que os profissionais respondessem um questionário para informar alguns dados e dar inicio ao debate a partir de questões disparadoras. A saber: quais profissionais e atores compõem a rede; qual é o atendimento realizado e idealizado pelos psicólogos dos serviços; como acontece a análise de demandas e construção de intervenções; como ocorrem os fluxos; e quais são os desafios cotidianos. Todos estes pontos serão comentados a seguir com base no que foi respondido nos questionários e nas falas que surgiram no encontro. 2- Composição da rede A rede da Restinga é composta por assistentes sociais, psicólogos, pedagogos, professores, supervisores de escola, educadores sociais, arte educadores, agentes comunitários de saúde, estagiários de Psicologia e da área administrativa, auxiliares administrativos, funcionários de serviços gerais, alunos e pais. Além dos equipamentos e programas citados anteriormente, encontra-se na região: associação de moradores, instituições não governamentais, entidades religiosas, unidades de saúde, comunidade terapêutica, PSF, equipes da política de segurança, movimento escolar e o Movimento Nacional da Luta pela Moradia. 3 – Práticas do psicólogo No que diz respeito às práticas da Psicologia, existe diferentes perspectivas de atuação. Alguns trabalhadores entendem que o psicólogo na assistência social, a partir da identificação de demandas, deve enfocar a garantia de direitos dos usuários e a conquista de autonomia. Para tanto, relata-se a necessidade destes profissionais dialogarem com os atores da rede, objetivando o cuidado integral dos sujeitos. Identifica-se, também, que a atividade do psicólogo é a mesma que a do assistente social, mas com escuta, olhar e técnica distintos. No trabalho com grupos, prioriza-se que a atividade seja coordenada em parceria com outras áreas. Ainda, prevê-se que o psicólogo faça o acompanhamento do cotidiano familiar e insira-se nos espaços da comunidade para realizar intervenções. Outros trabalhadores identificam o psicólogo dos serviços de saúde como o profissional que deve realizar atendimento referente à saúde mental de pessoas em situação de vulnerabilidade social e/ou com questões de sofrimento psíquico. Os professores das escolas da região também compartilham desta visão. Eles enfatizam a falta de psicólogos nas escolas e nos serviços de saúde para a realização de atendimento clínico das crianças e adolescentes. Alguns identificam a terapia comunitária na UBS e os atendimentos em grupo como atividades da Psicologia voltadas aos escolares. Os encaminhamentos acontecem via parecer dos professores. Por fim, existe o entendimento de que os atendimentos realizados por psicólogos devem ser pautados na articulação dos serviços, levando-se em conta as especificidades das áreas de conhecimento e entendendo que o sujeito é constituído a partir dos diferentes lugares que transita e das relações que estabelece. 4 – Análise das demandas e construção de estratégias A maioria dos trabalhadores respondeu que a análise das demandas e a construção de intervenções são definidas em reuniões de equipe a partir da explanação dos casos. Realiza-se atendimento sistemático e visitas domiciliares para o entendimento da situação. Entretanto, alguns responderam que são feitas articulações com outros serviços da rede apenas quando é identificada essa necessidade. Outros trabalhadores entendem que essa construção deve ser realizada em articulação com todos os atores envolvidos (comunidade e serviços). Por isso, outra ferramenta utilizada é a discussão dos casos nas reuniões de rede. Nas escolas a análise das demandas acontece nas reuniões com professores, alunos e responsáveis; nas reuniões entre professores e supervisores educacionais e nos conselhos de classe. Em seguida, se for identificada a necessidade de acompanhamento, os casos são encaminhados via pareceres descritivos ou ficha com indicação da situação problema para os serviços de saúde. 5 – Fluxos da rede A maior parte dos trabalhadores informou que os casos são discutidos em equipe e, a partir disso, realizam-se articulações com os serviços da rede. Alguns profissionais apontam a reunião de rede quinzenal como ferramenta de interlocução para o plano de atendimento. Os profissionais da educação estabelecem articulação com a saúde, CRAS, CREAS e Conselho Tutelar, através de conversas telefônicas ou presenciais, utilizando-se de registros e documentos. Também existem encaminhamentos de alunos para terapia comunitária realizada em UBS. Alguns identificam apenas o encaminhamento aos postos de saúde e à Rede de SM como fluxo. 6 – Desafios do cotidiano O desafio que mais apareceu nos relatos é a comunicação entre os atores da Rede. Relatam a necessidade de melhorar o diálogo intrasetorial, intersetorial e com a comunidade. Outro desafio bastante mencionado é a dificuldade de implementação da política de saúde mental. Há muita demora no primeiro acesso dos usuários, pouca visibilidade de efetivação dos encaminhamentos, a quantidade de profissionais destes serviços é insuficiente e faltam equipamentos desta política. Ainda, existem fragilidades na parceria entre escolas e serviços de SM, e dificuldades de acesso dos alunos e adolescentes das escolas normal e especial. Outros desafios que se colocam referem-se aos entraves para a efetivação de todas as políticas, a descontinuidade dos projetos e programas, e a pouca participação da comunidade nos processos. 7 - Especificidades da Rede Restinga Existe um grupo de profissionais vinculados a Secretaria Municipal de Educação que realizam assessoria para as escolas da região. Esta equipe é composta por uma psicóloga e assistente social que buscam supervisionar as equipes escolares e, a partir da análise dos casos, constrói-se o “Plano Singular de Intervenção”. Segundo relato, o tráfico de drogas da região acaba por cooptar muitos dos jovens, dificultando o fluxo da rede.