COMUNICARTE ─ Nº 4 Jornal Mural do Instituto Arte e Vida
Ano I – Edição IV – Veiculação Quinzenal - 17 a 31 de outubro de 2009
“Estranha Loucura” em Fortaleza
Grupo teatral de Franca é classificado para a Mostra Brasileira de Teatro Transcendental e se
apresenta pela primeira vez no nordeste do país
Ana Carolina Diniz Costa
Foi de tirar o fôlego, uma experiência e tanto. Apesar de já ter se apresentado em diversas cidades dos Estados de São Paulo, Goiás e
Paraná, viajar para uma das principais capitais nordestinas nos deixou bastante ansiosos. Era a segunda vez que tentávamos participar da
Mostra Brasileira de Teatro Transcendental, a maior mostra de teatro do nordeste e uma das maiores do país. A apresentação da peça
Estranha Loucura, uma produção do Núcleo Arte e Cultura do Instituto Arte e Vida, estava marcada para o dia 21 de agosto em um dos teatros
mais antigos e belos do Brasil: o José de Alencar.
Viajamos em 13 pessoas entre atores, diretor e equipe técnica. Até Guarulhos fomos de carro. Foi divertido, mas esperávamos mesmo era
pela decolagem. Andar de avião, novidade para a maioria do grupo, foi um show a parte. Foram quase três horas de viagem a uma altitude de
aproximadamente 1,5 mil metros e 850 quilômetros por horas de velocidade média.
Sexta-feira foi o grande dia. Chegamos no teatro de manhã. Todos já tinham dado uma espiadinha naquela beleza, mas a luz do sol
atravessando os vidros e vitrais chamou ainda mais nossa atenção. Mas não dava tempo de admirar demais. Até a noite tínhamos que
preparar figurino, cenário, testar som, luz e voz. Serviço puxado, mas bem mais fácil do que estávamos acostumados, afinal, o evento garantia
ao grupo ainda mais regalias além da hospedagem, transporte e alimentação.
Foram duas sessões. A primeira começou às 19 horas com a casa cheia. Apresentação valiosa, mas tensa. A voz dos atores estava se
dispersando na imensidão do teatro. Foram necessárias adaptações. As coxias (panos que ocupam a lateral do palco) tiveram que voltar para
seus lugares de origem e os atores falaram ainda mais alto. Valeu a pena. A sessão das nove terminou sem erros. A mais de dois mil
quilômetros longe de casa, mostramos o teatro francano para mais de mil pessoas. Isso em nosso primeiro dia de apresentação.
Estar entre as oito peças da sétima edição da Mostra Transcendental foi simplesmente fantástico. Promovido pela ONG Estação da Luz o
evento tem fins solidários e por isso não cobra ingressos. Uma iniciativa pioneira no Brasil que proporcionou ao público sete dias de muita arte
e responsabilidade social. Até hoje já foram mais de 40 toneladas de alimentos doados a instituições como creches, hospitais, asilos e
escolas.
Representamos o nosso Estado ao lado de "o Amor jamais te esquece", uma produção da capital. Outras quatro montagens de diferentes
cidades do país também foram escolhidas. Estiveram representados os estados da Bahia com a peça “Quem tem medo da Morte?”, “Valores:
a cotação da vida”, de Brasília, “Inquieto Coração”, do Rio de Janeiro, “2 de Novembro”, montagem profissional de um grupo de Belo
Horizonte, Minas Gerais. O Ceará foi representado pelo grupo de teatro de bonecos Riso de Deus, com as peças “Entre Deus e Mamom” e
“Histórias de aprender a sonhar”.
No sábado partimos para Quixeramobim. Localizada a umas três horas de Fortaleza, a terra de Antônio Conselheiro, foi uma das cidades
da região que recebeu a Mostra itinerante, também organizada pelo evento.
A apresentação aconteceu no Teatro Memorial Antonio Conselheiro. Modificações também precisaram ser feitas. O espaço era bem
pequeno e os recursos de som e luz bem mais tímidos. O atraso foi inevitável. Não por parte do elenco, que já estava em palco cozinhando
dentro dos figurinos, mas do público, que às 20 horas ainda saia da missa com destino ao teatro. Gostei de ver. Platéia cheia de jovens e
crianças, todos muito educados e interessados. Ao fim do espetáculo os sorrisos denunciavam a satisfação. O coração acelerou várias vezes.
Muitas de medo de errar. E acabei errando mesmo. Adiantei um das músicas da peça. Perdoável, abaixei o volume e segui. Foi o único da
viagem toda.
Domingo viajamos de novo. Uma das últimas paradas do Arte e Vida. Quixadá, onde viveu a escritora Rachel de Queiroz. Para despedir
esquecemos por um tempo o calendário e relógio. Visitamos o Açude do Cedro, onde fica um dos pontos turísticos mais conhecidos da
cidade, a pedra da galinha choca. E pedras é o que não falta por lá. Até no restaurante onde almoçamos a parede dividia espaço com elas. A
propósito. Foram muitas refeições deliciosas, camarão, peixes de toda espécie e muito suco de cajá.
Em Quixadá a apresentação foi no Centro Cultural Rachel de Queiroz. Estrutura que exigiu ainda mais alterações no espetáculo. Ótima
apresentação.
No mesmo dia voltamos para Fortaleza, a terra da luz. Comemoramos nossa participação na Mostra itinerante ao som do ‘putz-putz’ da
boate Órbita. Rock and Roll puro.
Segunda foi o derradeiro dia. Curtimos a beça. Fizemos um tour de buggy pelas praias de Beberibe, município a 80 quilômetros de
Fortaleza. Passamos por Morro Branco, Praia das Fontes e Lagoa do Uruaú com direito a esquibunda, muita emoção e chuva... À noite
voltamos para o aeroporto. Ainda enfrentamos cerca de 500 quilômetros de rodovias.
Na terça de manhãzinha estávamos da porta da Fundação Espírita Judas Iscariotes, sede do grupo. Depois de ter vivido tanta coisa,
terminamos nosso encontro como todos os sábados e finais de apresentação. Descarregando o cenário e nos despedindo. Agora, é claro,
com muito mais história para contar. Missão cumprida!
O Espaço é seu!
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