DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE RECURSOS HÍDRICOS
SNIRH - Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos
Modelação de Cheias apoiada em Sistemas de
Informação Geográfica
Joaquim Pinto da Costa ([email protected]); Rui Rodrigues ([email protected]); Claudia Brandão
([email protected])
Documento elaborado para o Mês da informação sobre a água
Sessão "Fenómenos extremos (Cheias, Secas e Desertificação)" - 1 de Março 2000
Resumo
Este documento descreve o trabalho que a Direcção de Serviços de Recursos Hídricos do INAG
tem desenvolvido nos últimos dois anos relativo à modelação cheias apoiada em Sistemas de
Informação Geográfica (SIG).
Descreve os dados necessários, seu processamento e as várias etapas da modelação de cheias
apoiada em SIG.
Apresenta o modelo de precipitação escoamento usado "Hydrologic Engineering Center Hydrologic Modeling System" (HEC-HMS).
Mostra alguns dos resultados já obtidos para sistemas hidrológicos considerados prioritários:

Gamitinha (Sado);

Sorraia;

Águeda;

Zêzere.
Modelação de cheias apoiada em SIG
Perante a necessidade de modelar um determinado sistema hidrológico, teremos antes de mais de o
"conhecer". Qualquer que seja a metodologia usada no processo, será necessário:

Delimitar a região a modelar para que posteriormente a possamos caracterizar fisicamente;

Obter a cartografia e as séries de dados necessárias à caracterização da zona e da cheia a
modelar.
Tradicionalmente, a recolha dos dados necessários à aplicação de modelos hidrológicos ou
hidráulicos, como o HEC-1 ou o HEC-RAS, implicava num moroso trabalho manual de préprocessamento a partir de fontes variadas desde mapas analógicos, a séries temporais de
precipitação e caudal.
A popularização dos SIG e o aumento da quantidade e qualidade da cartografia digital disponível
permitiu a vários autores a integração de modelos hidrológicos em SIG.
O grau de integração varia desde a utilização do SIG como uma mera ferramenta de gestão de
dados até relação verdadeiramente sinergética em que o SIG fornece serviços ao modelo
hidrológico e vice-versa.
Este tipo de aproximação permite, ao contrário das técnicas tradicionais, gerar inputs consistentes,
acelerar o processo de modelação e melhorar a precisão do mesmo.
Admitindo que a topografia determina a direcção do escoamento superficial e o princípio da
conservação da massa num curso de água (não aplicável a regiões cársicas)., poderemos usar um
modelo digital de terreno (MDT) como ponto de partida para a construção de um modelo
hidrológico.
Jensen e Domingue (1988) e Jensen (1991) desenvolveram uma metodologia que permite a partir de
um MDT delimitar automaticamente bacias e cursos de água.
Outros autores basearam-se nesta metodologia usando SIG para efectuar o pré-processamento e
recolha dos dados necessários à parametrização de modelos hidrológicos. É assim possível a partir
de um MDT:
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
Delimitar automaticamente bacias hidrográficas e cursos de água;

Classificar linhas de água;

Cálcular parâmetros de entrada de modelos hidrológicos tais como, área e perímetro,
declive, comprimento e tempo de concentração e de resposta (lag) de cada bacia.
Existem várias aplicações comerciais que permitem aplicar este tipo de processamento a um MDT.
No presente trabalho utilizou-se o "ArcView" (www.esri.com) com a extensão "Spatial Analyst",
adaptando ou desenvolvendo vários algoritmos de cálculo de forma a poder gerar automaticamente
os ficheiros de entrada do modelo. A geração destes ficheiros de entrada foi feita adaptando a
metodologia proposta por Olivera et. al.
(1998, http://www.ce.utexas.edu/prof/olivera/esri98/p400.htm).
Dados base
Cartografia digital
A escala da cartografia influencia a precisão com que se podem delimitar as bacias hidrográficas e
respectiva rede de drenagem. Deverá assim escolher-se uma escala adequada aos objectivos da
modelação. A Tabela 1. apresenta cartografia base utilizada.
Tabela 1 – Cartografia digital usada pelo INAG na modelação hidrológica de cheias
Temas Base
Produtor
Modelos Digitais Instituto Geográfico do Exército (www.igeoe.pt)
de Terreno
processadas pelo INAG a partir dos pontos cotados,
rede
hidrográfica
e
curvas
de
nível
(www.inag/snirh/download/fernandes98.zip).
Rede
Linhas de Água produzidas pelo IgeoE processadas pelo
Hidrográfica
INAG
Números
de Produzido pelo INAG a partir das cartas:
Escoamento para
 tipo
geológico
do
solo
1:1000000
Portugal
(www.dga.min-amb.pt)
Continental
 uso do solo 1:100000 (www.cnig.pt)
Tabela de relação elaborada por Lobo-Ferreira (LNEC,
1993)
Escala
1:25 000
Tipo
Raster
1:25 000
Vectorial
1:500 000 Raster
Séries de tempo
Para além da cartografia acima enumerada, utilizada na parametrização do modelo, é ainda
necessário obter as séries de precipitação do evento a simular e, se pretendermos calibrar o modelo
obtido, dispor das séries de caudal para esse mesmo evento em tantas secções da rede hidrográfica
quantas as disponíveis.
A partir da análise preliminar da área a modelar, feita através do SIG, podemos identificar os
potenciais postos da rede hidrométrica e climatológica a usar, temos duas alternativas para obter as
respectivas séries de tempo (ver Figura 1).

Se se tratar de uma cheia histórica acedemos às séries de tempo do SNIRH, via Internet ou
Intranet e descarregamos as séries pertinentes;

Se se tratar de uma cheia para modelar em tempo real acedemos aos dados do Sistema de
Vigilância e Alerta de Recursos Hídricos (SVARH) e descarregamos as séries respectivas.
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SNIRH - Séries históricas
SVARH - Séries em tempo real
Figura 1 – Obtenção de séries de tempo
Processamento
O trabalho de modelação começa pela utilização de um SIG para delimitar, ainda que nesta fase
grosseiramente, a zona em estudo e assim determinar quais as bases cartográficas do SNIRH a usar,
identificar postos relevantes da rede hidrométrica e climatológica, identificar as estruturas
hidráulicas, tais como barragens e canais, etc. A Figura 2 exemplifica esta etapa para a bacia
hidrográfica do Sorraia.
Figura 2 – Selecção das bases cartográficas para a bacia hidrográfica do Sorraia
Após a identificação das bases cartográficas a usar no estudo, acede-se a um dos servidores
cartográficos do SNIRH e transferem-se as cartas digitais necessárias (ver Tabela - 1).
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A estrutura cartográfica do SNIRH adopta uma organização por escalas e temas. Cada escala é
classificada tematicamente usando termos padrão definidos por "thesaurus", a Figura - 3 mostra a
estrutura de directórios do SNIRH cartografia.
Figura 3 – Estrutura do SNIRH para cartografia
Uma vez na posse de toda a cartografia base necessária podemos dar início ao processamento da
mesma.
Existem duas fases distintas do processamento. A primeira, mais morosa para o operador, visa
preparar um MDT "hidrologicamente correcto", a segunda usa esse MDT para efectuar todos os
cálculos necessários para gerar um ficheiro de parametrização do modelo hidrológico, esta fase
requer pouca intervenção humana mas poderá ser computacionalmente "pesada" para bacias
hidrográficas de maior dimensão.
Fase 1 - Produção de um MDT hidrologicamente correcto
A primeira etapa consiste em agrupar as várias cartas respeitantes ao MDT e rede hidrográfica da
zona em estudo num único MDT e numa única rede hidrográfica.
Para facilitar esta e as restantes tarefas de processamento, que a seguir se descrevem, a DSRH tem
vindo a desenvolver uma extensão para "ArcView" que acrescenta à interface standard do programa
uma série de menus e botões que facilitam bastante este processamento, ver Figura 4.
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Figura 4 – Extensão "INAG Hidrologia" e agrupamento do MDT e rede hidrográfica
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Temos então como base de partida para o processamento no SIG dois temas principais, o MDT e a
hidrografia da zona.
A hidrografia em formato digital à escala 25 000, tal como é presentemente fornecida pelo IGeoE,
consiste numa amálgama de linhas. Contudo, graças a dois códigos numéricos existente na tabela
associada, é possível separar este "espaguete" em:

Pântano, arrozal, marinha, lagoa, albufeira [Lv] = 51

Vala normal, larga e estreita [Lv] = 52

Rios de dupla linha de 1a e 2a ordem (([Lv] = 53) e ([Wt] = 4))

Rios de linha simples 1a e 2a ordem (([Lv] = 53) e ([Wt] = 5))

Linhas de água peso 3 ([Lv] = 54) e ([Wt] = 3)

Linhas de água peso 4 ([Lv] = 54) e ([Wt] = 4)

Linhas de água peso 5 ([Lv] = 54) e ([Wt] = 5)
Com a separação, feita automaticamente pela extensão atrás referida, ganha-se bastante em
legibilidade e a figura apresentada retracta isso mesmo, contudo o pior ainda está para vir visto que
para termos uma rede hidrologicamente correcta o trabalho que se segue é principalmente manual e
pode ser extremamente moroso.
Figura 5 – Processamento da rede hidrográfica
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Para além de um ou outro erro que sempre existe em cartografia deste tipo e a esta escala existem
três grandes categorias de problemas que não constituem erros cartográficos mas apenas "erros
hidrográficos":
Por vezes não existe
continuidade e após a
Barragem (Montargil), face ao
tipo de descarregador, a linha
de água reaparece uns metros
mais à frente.
As albufeiras são definidas
como linhas e não como
polígonos o que está
topologicamente incorrecto.
O mesmo se passa para troços
de rio definidos por dupla linha
que deveriam também ser
definidos por polígonos.
Figura 6 – Correcção topológica da rede hidrográfica
Na grande maioria dos casos é possível transformar automaticamente e de uma vez só as linhas que
delimitam albufeiras em polígonos, embora seja quase sempre necessário fechar manualmente o
polígono de uma ou outra albufeira de desenho mais complexo.
Infelizmente nos rios definidos por dupla linha passa-se o inverso e a percentagem de troços que é
possível converter automaticamente em polígonos é ínfima e constitui o grosso da intervenção
humana em todo esta fase de processamento.
Todo este trabalho de correcção topológica é necessário para que possamos obter a rede
hidrográfica sob a forma de uma "GRID" unitária (ver Figura 7), indispensável para que possamos
gerar um MDT hidrologicamente correcto.
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Figura 7 – GRID unitária da rede hidrográfica
Considera-se que um MDT está "hidrologicamente correcto" se qualquer gota de água que caia
dentro da bacia hidrográfica consiga, apenas com base nas cotas do terreno, encontrar o caminho
correcto até á foz, entendendo-se por caminho correcto o caminho que siga os cursos de água da
bacia, ou seja, considera-se que a rede hidrográfica levantada pelo IGeoE como sendo a "verdade
absoluta" e obriga-se o MDT a "concordar" com essa rede hidrográfica.
Para fazermos essa concordância temos duas alternativas: o chamado método "burning" ou um
outro, mais elaborado, mas que acaba por dar resultados semelhantes o chamado "agree".
O "burning" das linhas de água é efectuado elevando a cota do MDT nas zonas exteriores à rede
hidrográfica de um valor semelhante à cota máxima do terreno, mantendo inalterada a cota do
terreno sob a rede hidrográfica.
Isto é um pouco simplista pelo que Hellweger e Maidment desenvolveram um método mais
sofisticado
de
efectuar
esta
concordância,
o
chamado
método
"Agree"
(www.ce.utexas.edu/prof/maidment/GISHYDRO/ferdi/research/agree/agree.html).
Após esta "concordância" teremos ainda que garantir que o MDT se encontra livre de depressões
que impeçam a continuidade do trajecto da nossa gota água. Estas depressões são células ou
conjuntos de células que estão rodeadas por células de altitude superior. Segundo esta metodologia,
estas depressões têm de ser preenchidas para garantir a continuidade do escoamento.
Depressões verdadeiras são raras em MDT com células de dimensão superior a 10 m (Mark, 1988),
excepto em zonas cársicas, e podem geralmente ser consideradas erros.
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Concluída esta etapa estamos agora na posse de um MDT capaz de suportar as mais variadas
análises topográficas e hidrológicas.
Fase 2 - Processamento do MDT
A Direcção de Escoamento é um conceito semelhante ao aspecto - orientação da linha de maior
declive, medida no sentido directo a partir do Norte.
Existem vários algoritmos que permitem calcular a direcção de escoamento. O mais simples e mais
divulgado é o desenvolvido por O'Callaghan e Mark (1984) - uma adaptação do método das 8
direcções desenvolvido por Puecker et. al. (1975), também conhecido pelo D8, que é precisamente
o método que utilizamos.
Existem outros métodos mais sofisticados para determinar a direcção de escoamento que tentam
resolver os problemas resultantes de discretizar a direcção de escoamento em apenas 8 direcções,
separadas por 45°:

FD8, direcções de escoamento múltipals. Todas as células recebem escoamento (Grahamm
Freeman);

Stream tube (Mariza Costa-Cabral);

Dinf (Tarboton)
Figura 8 – Direcção de escoamento e forma como é calculado
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Uma vez determinada a direcção de escoamento é possível calcular a acumulação do escoamento.
Isto é feito contando para cada célula da "GRID" (matriz) o número de células que para ela
contribuem com escoamento, ou seja, o número de células a montante cujo trajecto de escoamento
passa eventualmente por essa célula. O valor de cada célula representa indirectamente a dimensão
da bacia de drenagem para cada ponto.
Células com acumulação de escoamento nula correspondem a linhas de cumeada e são usadas para
delimitar bacias de drenagem.
Células com direcção do escoamento indefinida apenas recebem caudal e não contribuem com
escoamento para jusante.
As células com um valor de acumulação de escoamento superior a um determinado valor (significa
concentração de escoamento) podem ser usadas para identificar linhas de água.
Figura 9 – Acumulação do escoamento
Do ponto de vista de um SIG, um rio é um canal de drenagem do escoamento superficial gerado
por precipitação.
Torna-se assim difícil, a partir de um MDT ou mesmo de levantamentos de campo, determinar qual
é o valor de acumulação de escoamento necessário para iniciar uma linha de água. Isto está bem
patente quando juntamos várias cartas hidrográficas à escala 1:25000, produzidas pelo IGeoE, e se
torna visualmente aparente a diferença de densidades de drenagem entre cartas vizinhas. Tarboton
et al. (1991) apresentam um método analítico para determinar o valor limite mais apropriado.
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Já uma bacia hidrográfica é delimitada muito mais facilmente visto que tem origem num ponto
determinado a partir do qual é fácil determinar todas as células que para ele contribuem com
escoamento.
Temos assim várias alternativas para delimitar cursos de água e bacias de drenagem:

com base em pontos por nós determinados (ex. Estações hidrométricas, barragens);

com base num determinado limite para área de drenagem (ex. Delimitar todas as bacias de
área superior a 10 Km2);

com uma combinação destes dois métodos.
Para se fazer a delimitação com base na área de drenagem, basta definir o número mínimo de
células que consideramos constituírem uma bacia de drenagem. Se, por exemplo, tivermos um
MDT com células de 25x25 m e indicarmos que queremos um limite mínimo 1600 células
estaremos a considerar linhas de água com áreas de drenagem superiores a 1 Km2
(1600*0.025*0.025 Km2), o que na prática se traduz por considerar como um curso de água todas
as células cujo valor de acumulação do escoamento seja superior a 1600.
Figura 10 – Bacias e cursos de água com áreas de drenagem superiores a 100 km2 (Sorraia)
Visto que já temos o nosso sistema hidrológico perfeitamente definido, podemos usar o SIG para
calcular os mais variados parâmetros necessários ao nosso modelo de precipitação-escoamento:
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Alguns dos parâmetros que podem ser calculados para bacias são:

área;

perímetro;

comprimento da bacia;

altitudes; declives;

número médio de escoamento;

percursos de escoamento;

tempos de concentração e de resposta usando vários métodos;
O tempo de concentração de uma bacia é o tempo necessário para que toda a área da bacia
contribua para escoamento superficial na secção de saída, ou o tempo necessário para uma gota de
água que caia no ponto hidraulicamente mais afastado da bacia chegue à secção de saída. Ou seja a
distância do escoamento a dividir pela velocidade média de escoamento.
O tempo de resposta (lag) é o intervalo de tempo definido pelo instante correspondente ao centro
de gravidade da precipitação útil e o instante em que se observa a ponta do hidrograma.
Em bacias de maior dimensão, ou de forma alongada, o escoamento originado nas cabeceiras da
bacia chega à secção de saída quando o escoamento originado nas zonas mais baixas já passou, o
que diminui significativamente o caudal de ponta, em bacias de forma circular verifica-se o oposto e
o caudal de ponta tende a ser maior.
Para linhas de água podem ser calculados parâmetros como:

comprimento;

declive;

ordem da linha de água,

parâmetros de “routing”, etc.
O cálculo deste atributos para bacias e linhas de água é efectuado a partir dos vários temas
produzidos sendo os resultados armazenados em formato vectorial nas tabelas associadas.
Esta vectorização tem o efeito (desejável) de gerar bacias e redes de drenagem topologicamente
correctas.
No caso presente, o modelo alvo desta parametrização é o Hydrologic Modeling System do
Hydrologic Engineering Center's (HEC-HMS). O ficheiro de "input" é gerado usando a
metodologia desenvolvida por Maidement, Olivera, Hellweger, et. al. (1997). O ficheiro de
parametrização é exportado do "ArcView" e importado directamente pelo "HMS", restando apenas
importar as séries de precipitação e caudal para que o modelo esteja pronto a "correr".
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Figura 11 – Vectorização, classificação de linhas de água e obtenção de parâmetros hidrológicos
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Modelo HEC-HMS
O modelo HEC-HMS foi desenvolvido pelo Hydrologic Engineering Center do Corps of
Engineers do exército americano como sucessor do modelo HEC-1 e disponibilizado gratuitamente
via Internet:
(http://wrc-hec.usace.army.mil/software/software_distrib/hec-hms/hechmsprogram.html).
Trata-se de um modelo hidrológico determinístico e quasi - estacionário, uma vez que permite uma
simulação contínua através variação dos parâmetros de transformação da precipitação em
escoamento no tempo através de uma opção de "diminuíção da humidade" - mas apenas para
dados matriciais tipo radar.
A versão actualmente disponível trata-se antes de mais de uma actualização ponto de vista
informático, não deixando contudo de incluir novas funcionalidades hidrológicas. Ao contrário do
HEC-1 que corria em DOS, o HMS necessita de sistemas operativos baseados em interfaces
gráficas Windows 3.1, Windows 95, Windows NT e X-Windows. A interface foi escrita em C++
embora algumas das suas bibliotecas ainda contenham rotinas escritas em Fortran e C. O
armazenamento de estruturas de dados (séries temporais, grids, inputs e outputs) recorre ao já
antigo HEC-DSS (HEC Data Storage System, 1994).
Do ponto de vista hidrológico o modelo apresenta várias opções de cálculo sintetizadas na Tabela
2.
Tabela 2 – Opções de Cálculo do modelo HEC-HMS
Perdas
Iniciais/Constantes;Déficit/Constantes;Green e
Escoamento do Soil Conservation Service (SCS).
Ampt;
Número
de
Transformação
Clark modificado; Onda Cinemática; Hidrograma unitário de Clark;
Hidrograma unitário de Snyder; Hidrograma adimensional unitário do SCS;
Input do hidrograma unitário.
Escoamento
base
Recessão exponencial.
Routing
Lag; Muskingum; Modified Puls; Muskingum Cunge.
Precipitação
Com base em grid; Com base em grid média; Importação de hietogramas;
Ponderação específica de postos; Inverse distance weighting (IDW);
Precipitação baseada em frequência de projecto; Precipitação baseada em
frequência de projecto standard para o leste dos Estados Unidos.
O ambiente de simulação com o HEC-HMS baseia-se na representação gráfica de uma bacia
representada através de vários elementos hidrológicos: sub bacia; troço de routing (routing reach);
junção; reservatório não controlado; extracção; fonte e sumidouro (ver Figura 12). A bacia é
simulada combinando os vários elementos numa estrutura em árvore. Sendo as simulações
efectuadas com base num intervalo de tempo e passo de cálculo (constante) especificado pelo
utilizador.
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Figura 12 – Aspecto gráfico do "basin editor" do HEC-HMS
Resultados
A DSRH pretende desenvolver modelos hidrológicos de precipitação escoamento para as principais
bacias hidrográficas do continente, não só para modelação de cheias mas também para apoio a
muitas outras actividades que lhe competem no domínio da gestão dos recursos hídricos. Era
contudo necessário estabelecer prioridades relativamente às várias bacias hidrográficas e sistemas
hidrológicos. Optou-se assim por dar prioridade a:
1. Sistemas a montante de aproveitamentos hidroagrícolas e hidroeléctricos;
2. Sistemas onde não haja controlo das cheias e onde essas cheias causem prejuízos.
Dos resultados que adiante se apresentam, os sistemas Gamitinha e Sorraia pertencem ao primeiro
caso, visto que se tratam de sistemas que incluem importantes aproveitamentos hidroagrícolas. O
Zêzere pertence também a este domínio, com a variante dos aproveitamentos serem essencialmente
hidroeléctricos, tendo ainda a interessante particularidade de incluir uma zona montanhosa.
Já o caso de Águeda pertence ao segundo caso, tratando-se de um sistema onde não existem
albufeiras que permitam exercer um controlo sobre o sistema. O Águeda é assim um exercício
permanente de "Protecção Civil", visto que qualquer precipitação um pouco mais intensa se traduz
quase sempre por alagamento da baixa de Águeda, com os consequentes prejuízos materiais.
Cheia de 5-6 de Novembro de 1997
O território português testemunhou no início do ano hidrológico de 1997/98 a ocorrência de
sucessivos episódios de cheia.
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15
Lisboa (18 de Outubro e 2 de Novembro), Madeira (19 para 20 de Outubro) e S. Miguel nos
Açores foram alguns dos locais que sofreram episódios de cheia neste período.
No Alentejo, as maiores cheias ocorreram na noite de 5 para 6 de Novembro de 1997 com terríveis
consequências a nível de perda de vidas.
A Figura 13 ilustra o deslocamento da depressão na origem deste fenómeno, pelo território
nacional e Espanha, onde também causou grandes estragos.
Figura 13 – Deslocação da perturbação meteorológica de 5 para 6 de Novembro de 1997 ao longo
da Península Ibérica
A Figura 14 foi gerada interpolando os registos udométricos diários do dia 5 de Novembro. Notese em Sobral da Adiça, no Guadiana, já próximo à fronteira espanhola, os valores superiores a 120
mm Registe-se o facto da maior parte desta precipitação ter ocorrido entre as 18:00 e as 21:00 cerca de 100 mm em 3 horas.
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Figura 14 – Precipitação média diária de 5 de Novembro de 1977 nas bacias hidrográficas do
Sorraia e Gamitinha
Para passar de uma mera descrição à quantificação do fenómeno tornava-se necessário efectuar
uma simulação hidrológica que permitisse o cálculo dos hidrogramas de cheia nos locais onde o
acontecimento atingiu proporções mais gravosas.
Foram assim desenvolvidos modelos hidrológicos para a bacia hidrográfica definida pela secção do
Moinho da Gamitinha e para a bacia hidrográfica do Sorraia, os resultados destas simulações são
apresentados na próxima secção, ver Figura 15.
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Figura 14 – Zona de estudo para a cheia de 5 de Novembro de 1997
Gamitinha
Metodologia
Dos locais no Alentejo onde a cheia de 5 de Novembro de 1997 atingiu proporções mais gravosas
(Figura 15), seleccionaram-se três bacias hidrográficas às quais foi aplicado um modelo hidrológico
de precipitação/escoamento:

Garvão-Funcheira (sub-bacia do Sado);

Salvada(sub-bacia do Guadiana);

Sobral da Adiça (sub-bacia do Guadiana).
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Figura 15 – Consequências da cheia de 5 de Novembro de 1997 (Garvão, Funcheira e Salvada)
Dado a perturbação meteorológica, na origem destas cheias, se ter propagado ao longo das
cumeadas da bacia hidrográfica do Sado, foi decidido integrar a calibração da bacia de GarvãoFuncheira num sistema drenante maior, definido na secção do Moinho da Gamitinha. Foram assim
desenvolvidos modelos hidrológicos de precipitação - escoamento para as seguintes secções:

Moinho da Gamitinha (2700 km2);

Sobral da Adiça (15 km2);

Salvada (5.4 Km2).
Em traços gerais a metodologia adoptada incluiu as seguintes fases:
1.
Análise do terreno através do SIG, o que permitiu a delimitação automática das bacias
hidrográficas e respectivas redes de drenagem;
2.
Cálculo, com base na delimitação efectuada, dos parâmetros morfológicos e hidrológicos
necessários ao modelo: áreas, comprimentos, declives, números de escoamento do Soil
Conservation Service (SCS), tempos de concentração, parâmetros de routing, etc.
3.
Geração automática dos ficheiros de entrada do modelo, a partir dos parâmetros
anteriormente calculados;
4.
Análise e selecção ou construção dos hietogramas a aplicar nos modelos;
5.
Calibração do modelo, segundo o SCS, para a secção definida pela estação hidrométrica do
Moinho da Gamitinha para a cheia de 5 de Novembro de 1997, com base nas secções onde
se dispunha de hidrograma;
6.
Validação da calibração efectuada para a secção da Gamitinha, aplicando os parâmetros
obtidos na calibração da cheia de 5 de Novembro de 1997 à cheia de 16 de Fevereiro de
1963, quando as condições de regime hidrológico ainda não tinham sido significativamente
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alteradas e quando se registou a maior cheia da bacia de 2700 km2 que drena as cabeceiras
do Sado;
7.
Determinação dos hidrogramas de cheia através do modelo, a partir dos parâmetros do SCS
obtidos.
Dados base
Dos seis hietogramas disponíveis (Tabela 6), após análise da sua representatividade e validade face
ao evento a simular, foram seleccionados três para o processo de modelação hidrológica: Vale de
Camelos (Figura 16), Relíquias (Figura 17) e Roxo (Figura 18), com uma precipitação diária de 87.0,
104.5 e 85.5 (mm), respectivamente.
Tabela 3 – Hietogramas disponíveis para a cheia de 5 de Novembro de 1997
Código Nome
M
P
Altit.
(m)
Pp5
Pp6
Bacia
Nov. 97 Nov. 97
(mm) (mm)
Pp
anual
(mm)
27G/01 Reliquias
169007
81734
230
13.00
104.5
Sado
688.4
27H/02 B. Monte da 186430
Rocha
84831
140
18.90
113.0
Sado
499.2
25J/02 Beja
223275
116542 246
106.9
Guadiana 562.6
28H/01 Ald.
Palheiros
189302
71169
103.0
Sado
609.9
26I/02 B. Roxo
204402
107509 148
85.5
Sado
514.4
87
Guadiana 478
27J/03 Vale
de 223346
Camelos
92495
210
135
16.7
Vale de Camelos
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
16:00
16:30
17:00
17:30
18:00
18:30
19:00
19:30
20:00
20:30
21:00
21:30
22:00
22:30
23:00
5 Nov 97
Figura 16 – Hietograma de Vale de Camelos (cheia de 5 de Novembro de 1997)
DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE RECURSOS HÍDRICOS
20
Relíquias
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
16:00
16:30
17:00
17:30
18:00
18:30
19:00
19:30
20:00
20:30
21:00
21:30
22:00
22:30
23:00
22:00
22:30
23:00
5 Nov 97
Figura 17 – Hietograma de Relíquias (cheia de 5 de Novembro de 1997)
Roxo
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
16:00
16:30
17:00
17:30
18:00
18:30
19:00
19:30
20:00
20:30
21:00
21:30
5 Nov 97
Figura 18 – Hietograma de Roxo (cheia de 5 de Novembro de 1997)
Para obter hietogramas ponderados para cada uma das bacias a modelar (Gamitinha, Sobral da
Adiça e Salvada), utilizou-se o SIG para, a partir do mapa de isolinhas de precipitação, calcular a
precipitação média diária ponderada para cada sub-bacia considerada. A taxa entre a precipitação
ponderada por sub-bacia e a precipitação diária registada no posto udográfico seleccionado para
DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE RECURSOS HÍDRICOS
21
essa mesma sub-bacia foi aplicada ao respectivo hietograma. Este método permitiu construir
hietogramas ponderados para cada uma das sub-bacias consideradas na modelação.
Tabela 4 – Construção dos hietogramas usados para a cheia de 5 de Novembro de 1997 no
Alentejo
Identificação
bacia/sub-bacia
da Hietograma
Taxa (Precipitação ponderada/
Precipitação diária)
Bacia de saída
f(Relíquias)
71.2/104.5
Fonte Serne
f(Relíquias)
64.3/104.5
Campilhas
f(Relíquias)
78.0/104.5
Bacia 1A
f(Relíquias)
64.9/104.5
Bacia 1B
f(Relíquias)
84.7/104.5
Bacia 1 saída
f(Relíquias)
70.9/104.5
Bacia 2
f(Relíquias)
92.1/104.5
Garvão Funcheira
f(Relíquias)
105.8/104.5
Monte da Rocha
f(Relíquias)
104.8/104.5
Bacia 3
f(Roxo)
76.4/85.5
Bacia 4
f(Roxo)
65.9/85.5
Roxo
f(Roxo)
88.8/85.5
Sobral da Adiça
f(Vale
Camelos)
de 121.7/87 e desfasamento 2 horas
Salvada
f(Vale
Camelos)
de 123.9/87 e desfasamento de 0.5
hora
Para a cheia de 5 de Novembro de 1997 dispunha-se dos hidrogramas em três secções da bacia do
Sado: Moinho da Gamitinha (Figura 19), Barragem do Roxo e Barragem do Monte da Rocha. Foi a
partir destes hidrogramas que o modelo hidrológico da bacia da Gamitinha foi calibrado.
DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE RECURSOS HÍDRICOS
22
Gamitinha
Q
2400.0
2200.0
2000.0
1800.0
1600.0
1400.0
1200.0
1000.0
800.0
600.0
400.0
200.0
0.0
4-11 12:00
5-11 12:00
6-11 12:00
7-11 12:00
8-11 12:00
Figura 19 – Hidrograma observado na secção do Moinho da Gamitinha (5 Nov. 97)
Calibração
Em virtude da perturbação se ter propagado ao longo das cabeceiras do Sado as bacias das
cabeceiras foram modeladas com Números de Escoamento AMCIII, enquanto as restantes foram
modeladas como AMCII, ver Figura 20.
100.0
CN AMC(II) -SIG
CN AMC(III)-SIG
CN-Calibrado
90.0
80.0
70.0
60.0
Roxo
Mte da Rocha
Garvao
Funcheira
Bacia 4
Bacia 3
Bacia 2
Campilhas
Fonte Serne
Bacia 1B
Bacia 1A
Bacia 1saida
Bacia saida
50.0
Figura 20 – Números de escoamento calculados pelo SIG versus números de escoamento
calibrados - Moinho da Gamitinha (5 Nov. 97)
DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE RECURSOS HÍDRICOS
23
Pode observar-se a boa concordância dos números de escoamento, sobretudo para as bacias fora
das cabeceiras entre os valores indicados pelo SIG e os valores ajustados após a calibração. Nas
bacias de cabeceira o ajuste também é razoável e as diferenças em Monte da Rocha e Roxo podem,
em parte, ser atribuídas à qualidade dos dados disponíveis.
14.0
12.0
LAG Calibrado
LAGCALIFORNIA
10.0
LAGKIRPICK
LAGSCS
8.0
6.0
4.0
2.0
Bacia 4
Roxo
Bacia 3
Bacia 2
Bacia 1B
Mte da Rocha
Bacia 1A
Garvao
Funcheira
Bacia saida
Campilhas
Bacia 1saida
horas
Fonte Serne
0.0
Figura 21 – Tempos de Resposta (lags) calculados pelo SIG versus valores calibrados - Moinho da
Gamitinha (5 Nov. 97)
Resultados
Em virtude dos anos secos anteriores, as albufeiras do Roxo, Monte da Rocha, Campilhas e Fonte
Serne encaixaram a cheia, tendo a modelação sido calibrada para a secção do Moinho da Gamitinha
sem a contribuição destas bacias.
Tabela 4 – Resultados da simulação para a bacia do Moinho da Gamitinha sem contribuição das
principais albufeiras
Nó
3 (Gamitinha)
3
Q ponta calculado (m /s)
1336
Data Q ponta calculado
06-11-1997 8:50
Descarga (mm)
43
3
Q ponta observado (m /s)
1322
Data Q ponta observado
06-11-1997 8:00
Descarga observada (mm)
43
DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE RECURSOS HÍDRICOS
24
Figura 22 – Hidrograma na Junção 3 (Gamitinha) sem a contribuição das principais albufeiras
Posteriormente, para avaliar a ponta de cheia que poderia ter ocorrido na secção da Gamitinha se as
albufeiras referidas se estivessem ao nível de pleno armazenamento, efectuou-se nova simulação
que já incluiu a contribuição destas bacias. A Figura 23 apresenta o hidrograma simulado para este
cenário, destaque-se o valor de cerca de 3300 m3/s calculado pelo modelo para a secção da
Gamitinha.
Figura 23 – Hidrograma na Junção 3 (Gamitinha) com a contribuição das principais albufeiras
DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE RECURSOS HÍDRICOS
25
De modo a validar a calibração efectuada para a cheia de 5 de Novembro de 1997 para a bacia
hidrográfica do Moinho da Gamitinha. Aplicou-se a parametrização obtida (de Novembro de 1997)
a uma situação completamente distinta, escolhendo-se a cheia de 16 de Fevereiro de 1963.
A simulação de 16 de Fevereiro de 1963 considerou a contribuição das bacias de Fonte Serne,
Campilhas, Monte da Rocha e Roxo, visto que nessa data apenas a Albufeira de Campilhas se
encontrava operacional e a sua contribuição para o caudal da secção do Moinho da Gamitinha
poder, para este efeito, ser desprezado.
A simulação abrangeu um período das 12:00 do dia 14 às 21:00 do dia 18 de Fevereiro 1963, com
um passo de cálculo de 10 minutos. A Figura 24 apresenta o hidrograma simulado e observado na
secção do Moinho da Gamitinha, em termos do caudal de ponta a concordância foi excelente,
respectivamente 1758 e 1745 m3/s, embora, à semelhança da simulação de Fevereiro de 1997, o
pico simulado se tenha atrasado relativamente ao observado. Contudo, tendo em consideração os
dados disponíveis para a calibração e as diferenças consideráveis entre os dois episódios, o modelo
reproduziu o hidrograma de cheia de uma forma aceitável.
Figura 24 – Hidrograma na Junção 3 (Gamitinha) para a cheia de 16 de Fevereiro de 1963
Excepcionalidade da cheia
Estando concluída a fase de modelação tornava-se necessário determinar o grau de
excepcionalidade do fenómeno considerando a bacia em estado natural, ou seja usando os
hidrograma no Moinho da Gamitinha resultante do cenário que incluía a contribuição das bacias
hidrográficas a montante das principais albufeiras (Figura 23).
A série de máximos utilizada compreendeu o período de 1934-35 a 1968-69 (ver Figura 25), altura
em que a bacia hidrográfica definida na secção do Moinho da Gamitinha, bacia com cerca de 2700
km2, se encontrava próxima de um regime natural. Dizemos próxima porque em 1954 entrou em
exploração a Barragem de Campilhas, contudo a sua fraca capacidade de armazenamento não lhe
permite ter uma influencia significativa sobre o regime de caudais na Gamitinha.
DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE RECURSOS HÍDRICOS
26
Curva de Duração de Caudais na Gamitinha
1000
34/35-52/52
53/54-66/66
67/68-86/86
Escoamento (hm3)
100
10
1
0.1
0
20
40
60
80
100
tempo (% do ano)
Figura 25 – Curva de duração de caudais Moinho da Gamitinha
Ajustando uma distribuição de Weibull à série de caudais naturais obteve-se um período de retorno
de 125 anos, semelhante ao obtido noutro estudo para a precipitação ocorrida neste mesmo
período no posto de Beja (ver Figura 26).
HISTOGRAMA
60
Observados
50
Estimados por W eibull
40
Q = 3325 m3/s
T = 125 anos
30
20
10
0
24
684.2
1344.4
2004.6
2664.8
More
Figura 26 – Ajustamento de uma função de distribuição de Weibull aos caudais do Moinho da
Gamitinha
DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE RECURSOS HÍDRICOS
27
Sorraia
Resultados Novembro de 1997
As precipitações que originaram a cheia de 5-6 de Novembro de 1997 no Alentejo, foram bastante
localizadas e, apesar das cabeceiras da bacia do Sado terem registado os maiores valores de
precipitação, a bacia do Sorraia também foi atingida por precipitações relativamente intensas
(Figura 27). Assim no seguimento da modelação para a bacia hidrográfica do Moinho da Gamitinha
decidiu modelar-se este evento para a bacia do Sorraia.
Figura 27 – Precipitação média diária de 5 de Novembro de 1977 na bacia hidrográfica do Sorraia
Adoptando uma metodologia semelhante à descrita para a bacia hidrográfica do Moinho da
Gamitinha, desenvolveu-se um modelo semi-distribuído para a bacia do Sorraia (Figura 28).
DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE RECURSOS HÍDRICOS
28
Figura 28 – Modelo HEC-HMS para a bacia hidrográfica do Sorraia
A desagregação do modelo foi feita com base na rede de estações hidrométricas existente na bacia
(clássica e do SVARH) e noutras secções de interesse como sejam as barragens das Albufeiras mais
importantes.
Os resultados da simulação não obtiveram uma concordância tão próxima com os registos de
caudal como no caso do modelo da Gamitinha. Apesar disso o modelo, com ajustes de calibração
mínimos, reproduziu de forma aceitável os valores observados, sobretudo se tivermos em conta
que as curvas de vazão da maioria das estações hidrométricas desta bacia estão já algo
desactualizadas.
Nas Figuras 29, 30 e 31 apresentam-se alguns hidrogramas (simulados versus observados) para
algumas das secções deste modelo.
DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE RECURSOS HÍDRICOS
29
Figura 29 – Hidrograma na secção de Pavia para a cheia de Novembro de 1997
Figura 30 – Hidrograma na secção de Figueira e Barros para a cheia de Novembro de 1997
DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE RECURSOS HÍDRICOS
30
Figura 31 – Hidrograma na secção de Moinho Novo para a cheia de Novembro de 1997
Resultados Novembro de 1983
Uma vez obtida uma primeira calibração para a cheia de Novembro de 1997, aplicou-se o modelo a
outro evento, a cheia de Novembro de 1983 (ver Figura 32).
Ao aplicar-se o modelo a distintos episódios de cheia valida-se o modelo, testa-se a calibração
existente e ganha-se mais conhecimento sobre o sistema hidrológico modelado. Assim simularamse outros eventos para a bacia do Sorraia, nas Figuras 33, 34 e 35 apresentam-se alguns dos
resultados obtidos para a cheia de 19 de Novembro de 1983.
DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE RECURSOS HÍDRICOS
31
Figura 32 – Precipitação média diária de 19 de Novembro de 1983 na bacia hidrográfica do Sorraia
Figura 33 – Hidrograma na secção de Ponte Vila Formosa para a cheia de 19 de Novembro de
1983
DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE RECURSOS HÍDRICOS
32
Figura 34 – Hidrograma na secção de Moinho Novo para a cheia de 19 de Novembro de 1983
Figura 35 – Hidrograma na secção de Pavia para a cheia de 19 de Novembro de 1983
DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE RECURSOS HÍDRICOS
33
Águeda
A bacia hiodrográfica do Águeda, uma sub bacia do Vouga, não dispõe de qualquer tipo de
estruturas hidráulicas que permita controlar os caudais de cheia. Assim qualquer precipitação um
pouco mais intensa traduz-se invariavelmente pelo alagamento da "Baixa de Águeda" com os
consequentes prejuízos materiais.
Observando a Figura 36 facilmente se constata para níveis de água no leito do rio superiores 8.5 m
começam a verificar-se alagamentos:

8.5m - Alaga campos

9m - Alaga adega cooperativa

9.5m - Alaga baixa de Águeda
Se acrescentarmos ao problema o facto dos tempos de atraso (Lags) para a secção de Ponte de
Águeda variam entre as 5 e as 7 horas é fácil perceber que não se dispõe de grande margem de
manobra para minimizar os prejuízos das cheias no Águeda.
Figura 36 – MDT, hidrografia e rede viária da zona de Águeda
O modelo desenvolvido para o Águeda foi distribuído de acordo com os postos de monitorização
automática do SVARH (ver Figura 37), nas estações de:

Ponte Águeda

Ribeiro

Ponte Redonda
DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE RECURSOS HÍDRICOS
34
Figura 37 – Modelo HEC HMS para a bacia hidrográfica do Águeda
Nas Figuras 38 a 40 apresentam-se alguns dos resultados obtidos para várias simulações. Saliente-se
contudo que a simulação da cheia de Novembro de 1997 foi efectuada com base nos postos
udométricos do Instituto de Meteorologia de Viseu e Coimbra, visto o SVARH na altura ainda não
encontrar operacional, razão pela qual a concordância entre os caudais simulados e observados ter
sido menor que nas restantes simulações em que o posto udométrico de Varzielas já se encontrava
operacional.
DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE RECURSOS HÍDRICOS
35
Figura 38 – Hidrograma na secção de Pte. Águeda para a cheia de 22 de Novembro de 1997
Figura 39 – Hidrograma na secção de Pte. Redonda para a cheia de 23 de Outubro de 1999
DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE RECURSOS HÍDRICOS
36
Figura 40 – Hidrograma na secção de Pte. Redonda para a cheia de 14 de Dezembro de 1999
Zêzere
A bacia hidrográfica do Zêzere foi um dos primeiros modêlo hidrológicos desenvolvido em HEC-1
pela DSRH (1997). O modelo desenvolvido simula as zonas mais elevadas da bacia, terminando na
secção da Barragem do Cabril e estação hidrométrica de Ponte de Cabril (2 338 km2 de cabeceira
dos 4 996 km2 totais da bacia) (ver Figura 41).
Este modelo, ao contrário dos anteriores, foi desenvolvido sem recurso a SIG de uma forma
agregada, os objectivos que levaram ao desenvolvimento deste modelo foram os seguintes:

Prever a ocorrência de cheias na cascata de albufeiras do rio Zêzere.

Gestão da exploração da cascata de albufeiras do Zêzere permitindo uma melhor utilização
da capacidade de armazenamento do Cabril e um eficiente amortecimento de onda de cheia,
evitando a ocorrência da concentração dos picos de cheia das sub-bacias.

Determinar as afluências à Barragem do Cabril, visando um primeiro controlo para
atenuação das cheias do Tejo.
DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE RECURSOS HÍDRICOS
37
Figura 41 – Modelo hidrológico para a secção de Ponte Cabril (Zêzere)
Para calibração do modelo utilizaram-se os hidrogramas e os episódios de precipitação referentes às
cheias ocorridas em 1943, 1945 e 1996.
Na modelação utilizaram-se os episódios de precipitação registados nos postos udográficos de
Covilhão e Penhas Douradas e os hidrogramas de cheia registados na estação hidrométrica de
Ponte de Cabril (cheias anteriores à construção da barragem) para as cheias de 1943 e 1945, e na
Barragem de Cabril para a cheia de 1996 (ver Figuras 42, 43 e 44).
DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE RECURSOS HÍDRICOS
38
24 h
36 h
48 h
60 h
72 h
84 h
96 h
Precipitação (mm)
Precipitação (mm)
12 h
0
2
Precipitação útil
4
Perdas
6
8
12 h
0
24 h
36 h
48 h
72 h
84 h
96 h
Precipitação útil
1
Perdas
1.5
2
2.5
CHEIA DE 12 DE JANEIRO 1943
CHEIA DE 20 DE JANEIRO 1943
1400
450
Qp=438 m3/s
400
60 h
0.5
Qp=1239 m3/s
Qp=438 m3/s
1200
350
1000
Qp=1239 m3/s
Caudal (m3/s)
Caudal (m3/s)
300
250
200
800
600
150
400
100
200
50
Calculado
0
12
24
36
48
72
60
Observado
Calculado
0
96
84
12
24
36
48
60
72
Observado
84
96
tempo (h)
tempo (h)
12 h
0
24 h
36 h
48 h
Precipitação (mm)
Precipitação (mm)
Figura 42 – Resultados para as cheias de Janeiro de 1943
0.5
Precipitação útil
1
Perdas
1.5
2
12 h
0
24 h
1
48 h
Precipitação útil
Perdas
2
3
CHEIA DE 19 DE JANEIRO 1945
CHEIA DE 21 DE JANEIRO 1945
600
1000
Qp=593 m3/s
Qp=918 m3/s
900
500
800
Qp=593 m3/s
Qp=918 m3/s
700
Caudal (m3/s)
400
Caudal (m3/s)
36 h
300
200
600
500
400
300
200
100
100
Calculado
0
12
24
36
Observado
48
Calculado
0
tempo (h)
12
24
Observado
36
48
tempo (h)
Figura 43 – Resultados para as cheias de Janeiro de 1945
DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE RECURSOS HÍDRICOS
39
24 h
36 h
48 h
12 h
60 h
Precipitação (mm)
Precipitação (mm)
12 h
0
0.5
1
Precipitação útil
1.5
Perdas
2
2.5
24 h
0
36 h
0.5
Precipitação útil
1
Perdas
1.5
2
CHEIA DE 18 DE DEZEMBRO 1996
CHEIA DE 20 DE DEZEMBRO 1996
800
800
Qp=771 m3/s
Qp=763 m3/s
700
700
600
500
500
Caudal (m3/s)
Caudal (m3/s)
Qp=771 m3/s
600
400
300
200
400
300
200
100
100
Calculado
0
Qp=763 m3/s
12
24
36
48
Observado
Calculado
0
60
12
tempo (h)
24
Observado
36
Tem po (h)
Figura 44 – Resultados para as cheias de Dezembro de 1996
O seguimento da modelação desta bacia passa por desenvolver um modelo semi-distribuído, que
inclua a totalidade da bacia hidrográfica do Zêzere e por modelar outros episódios de cheia,
nomeadamente as cheias de 1978, 1979, 1981, 1989 e 1995.
Na Tabela 5 resumem-se os resultados das simulações efectuadas.
Tabela 5 – Análise dos resultados das simulações do Zêzere
Período
Q ponta
Q ponta
CN
Tempo de
Tempo
Tempo de
STRTQ QRCSN RTIOR STRTL
atraso, Lag para o pico concentração (m3/s)
observado simulado
3
(m3/s)
(mm)
3
(m /s)
(m /s)
(h)
(h)
(h)
12/Jan/43
437,4
438,3
48,40
5,5
17,5
9,2
173,5
415
1,019
54,16
20/Jan/43
1238,9
1238,9
95,85
17,7
39,5
29,5
258,4
1200
1,019
2,20
19/Dez/45
592,7
592,6
61,25
6,3
21,3
10,5
321,6
570
1,019
32,14
21/Dez/45
918,0
918,2
88,02
15,0
23,0
25,0
380,8
472
1,004
6,91
18/Dez/96
771,0
771,2
69,20
15,8
28,8
26,3
150,0
596
1,05
22,61
8,8
303,0
700
1,019
15,62
21/Dez/96 763,0
762,7 76,48
5,3
14,3
STRTQ - Caudal inicial.
QRCSN - Caudal de início de recessão do escoamento de base.
RTIOR - Constante de recessão.
STRTL - Perdas iniciais.
DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE RECURSOS HÍDRICOS
40
Conclusões
A modelação hidrológica destas bacias revelou-se importante para complementar e apoiar as
decisões baseadas no SVARH.
A modelação hidrológica permite identificar erros e colmatar lacunas nos dados de escoamento,
embora falhas de qualidade nos dados de precipitação se traduzam em modelos menos robustos e
difíceis de calibrar.
A utilização de um SIG para efectuar a parametrização dos modelos facilita o processo de
calibração, uma vez que a realidade física do terreno está presente durante todo o processo.
A automatização da parametrização do modelo permite obter uma consistência de resultados difícil
de obter com os métodos tradicionais.
DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE RECURSOS HÍDRICOS
41
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