ambiente da inovação brasileira Julho 2007 no 49 • Ano XIII Corrida pela inovação O mercado esportivo demanda por centenas de inovações, nos mais diversos setores. Vale tudo para melhorar a performance de atletas e tornar mais confiáveis os resultados de competições como o Pan 2007 Meio ambiente Fármacos Empreendedores descobrem que sustentabilidade gera lucro Laboratórios brasileiros investem em P&D para conquistar mercados Índice ambiente da inovação brasileira Julho 2007 • n o 49 • Ano XIII ISSN 1980-3842 A revista Locus é uma publicação da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores Conselho editorial Maurício Guedes – presidente Carlos Américo Pacheco Gina Paladino Helena Lastres Josealdo Tonholo Coordenação editorial Débora Horn Colaboração Adriane Alice Pereira, Amanda Miranda, Anderson Carvalho, Bruno Moreschi, Carla Cabral, Emília Chagas, Francis França, Isabel Colucci, Márcio Caetano, Michelle Araujo, Maurício Frighetto e Rodrigo Lóssio. Jornalista responsável Débora Horn – MTb/SC 02714 JP Direção de arte Luiz Acácio de Souza Edição de arte Marcelo Prado Revisão Sérgio Ribeiro e Lu Coelho capa Corrida pela inovação Os Jogos Pan-americanos 2007 demonstram que esporte e inovação andam lado a lado. Conheça empresas de diversos setores que oferecem soluções a esse mercado em constante expansão. 6 O ex-empresário e sempre bibliófilo José Mindlin conta sua trajetória no mundo E n t r ev i s t a dos negócios e garante que a leitura é essencial ao sucesso de qualquer empreendedor. 10Aumintegração das incubadoras potiguares, o trabalho de mulheres cooperativadas, edital de apoio a associadas de todo o Brasil, o novo indicador de inovação E m m ov i m e n t o e a homenagem a um guerreiro que partiu. As novidades do movimento estão aqui. 16Empresas repensam processos e produtos para minimizar as conseqüências do efeito estufa. A ordem agora é resfriar o planeta! 23Após anos de dependência externa, o Brasil avança na estratégica área de fármacos. n e g ó c i os opor t u n i dade Descubra como os laboratórios do país ganham competitividade. 26 Muitas empresas sonham em atrair capital de risco. Depois que conseguem, se deparam com um problema maior: como manter a relação com os novos sócios? I n ves t i m e n t o 36 Veja como o pesquisador Augusto Guimarães superou o fracasso do primeiro produto lançado pela Nuteral e levou a empresa ao topo da inovação brasileira. s u cesso Presidente José Eduardo Azevedo Fiates Vice-presidente Guilherme Ary Plonski Diretoria José Alberto Sampaio Aranha Christiano Becker Paulo Roberto de Castro Gonzalez Josealdo Tonholo Superintendência Sheila Oliveira Pires Paulo César G. Miranda Endereço SCN, quadra 1, bloco C, Ed. Brasília Trade Center, salas 209/211 Brasília / DF – CEP: 70711-902 Contatos (61) 3202-1555 E-mail: [email protected] Website: www.anprotec.org.br Portal: www.redeincubar.org.br Anúncios: (61) 3202-1555 [email protected] Produção Apoio 38 Pesquisa divulgada pelo GEM oferece um panorama do empreendedorismo mundial. Países de renda média precisam gerar mais negócios por oportunidade. I n t er n ac i o n al 41 Gerenciar o processo de exportação significa muito mais que planejar rótulos bilíngües. g es t ã o Para conhecer o país-alvo, internet pode ser decisiva. 44 Tudo sobre o reality experience. Acompanhe o resultado da primeira missão, aprenda com os erros e descubra como ser um campeão nos negócios. E m pree n der é s h ow 46 Sem investir no ensino de ciências, vai ser difícil o Brasil subir no ranking de países inovadores. Conheça iniciativas que buscam reverter essa situação. ed u ca ç ã o 48 Um dos maiores consultores do Brasil explica por que a sobrevivência de um negócio depende do estímulo à criatividade dos funcionários. cr i a t i v i dade 49 Filmes, livros, discos e exposições. Dicas para você refletir sobre o mundo corporativo enquanto se diverte. C u l t u ra 50 José Dornelas: empreendedores precisam implementar uma nova visão de negócios que possibilite crescimento rápido e desenvolvimento op i n i ã o Impressão Gráfica Van Moorsel Tiragem 5.000 exemplares das pessoas que formam a empresa. Carta ao leitor É com satisfação que fazemos chegar até você a segunda edição da nova Locus . Desde o número 48 nossa publicação apresenta mudanças significativas, tanto no projeto gráfico quanto no conteúdo. Agora, a edição 49 vem para consolidar a nova versão, trazendo temas de interesse aos envolvidos com empreendedorismo inovador, mas sem esquecer daqueles que observam de fora o nosso movimento. Entre as principais funções da Locus está apontar setores que merecem a atenção tanto de quem quer empreender quanto daqueles que buscam investir. A reportagem de capa desta edição revela um mercado que deve se tornar ainda mais visível durante este ano: o esportivo. Embalados pelos Jogos Pan-americanos 2007, os negócios nessa área tendem a crescer e a inspirar a migração de empresas que atuam em outros nichos para esse mercado tão lucrativo. Abrangente, o setor esportivo precisa de soluções que vão desde tecnologia da informação até biotecnologia para atingir objetivos também distintos – como garantir lisura nos resultados de competições e melhorar a performance de atletas. As empresas citadas na matéria, das nascentes às gigantes, mostram que acompanhar o mundo esportivo exige dinamismo e, claro, muita inovação. Inovar também é a palavra de ordem no setor de fármacos, tema da seção Oportunidade. Laboratórios brasileiros têm conquistado grandes avanços em um mercado ainda dominado por estrangeiros, graças ao investimento em pesquisa e desenvolvimento. Empresas incubadas e graduadas estão inseridas nesse cenário em mutação, destacando-se entre as mais inovadoras do país. Algumas delas revelam que recebe- ram apoio de fundos de investimento, um sonho de muitos empreendedores. Mas a conquista de investidoresanjos pode se tornar um pesadelo, dependendo do tipo de relação que se estabelece entre empresários e investidores. Por isso, Locus buscou especialistas para desven dar os mistérios que envolvem essa relação e indicar caminhos que tragam benefícios para ambas as partes. As dicas estão na seção Investimento. No mundo corporativo, muitas vezes benefício pode ser compreendido apenas como sinônimo de lucro. A seção Negócios desta edição foi pensada para mostrar que também vale a pena apostar em benefícios sociais, que cheguem a toda comunidade. A reportagem apresenta o trabalho de empresas que oferecem soluções para minimizar o aquecimento global. Até pouco tempo atrás esses negócios poderiam ser apontados como utópicos. Mas as conseqüências do efeito estufa se mostram tão danosas ao planeta e ao próprio homem que as empresas envolvidas com a sustentabilidade acabaram saindo na frente e hoje apontam tendências, as quais, mais cedo ou mais tarde, serão seguidas pelo mundo todo. Esses são alguns destaques desta edição da Locus , que ainda “cheira a novidade”. Agradecemos o apoio recebido de nossos leitores à nova versão da revista e também as críticas e sugestões de pautas, temas e fontes que não param de chegar. Nosso grande desafio é corresponder às expectativas, tornando a Locus cada vez melhor. Conselho Editorial Locus • Julho 2007 Entrevista O leitor empreendedor O maior bibliófilo do Brasil relata a experiência como empresário e afirma que cultura é fator decisivo para o sucesso Repórter: Bruno Moreschi – Fotos: Raquel do Espírito Santo C om 92 anos e, inevitavelmente, ao lado de livros, José Mindlin não cansa de repetir um discurso que hoje parece óbvio, mas custa a se transformar em ações: a educação é a salvação do Brasil. Dono da maior coleção de livros do país, um acervo que tem a primeira edição de Os Lusíadas e os originais de Grande Sertão: Veredas, ele falou à revista Locus sobre um assunto pouco explorado em sua biografia. Mindlin já foi um empresário de sucesso, um dos sócios da empresa de autopeças Metal Leve. Seu negócio começou pungente na época desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek e foi sufocado pela abertura do mercado brasileiro durante o governo de Fernando Collor. Muita gente pode achar que seu lado empresarial destoa dos livros, mas Mindlin faz questão de não separar as duas áreas. “A cultura ajuda a dar uma visão de vida mais ampla ao empreendedor, a alargar seus horizontes”, afirma. Locus – Como foi seu início profissional? Mindlin – Começou em maio de 1930 na redação do jornal O Estado de S. Paulo, pouco antes de completar 16 anos. Locus • Julho 2007 Estávamos em plena conspiração da revolução de Getúlio Vargas, que em grande parte era feita na redação do Estadão. Como havia censura telefônica, Julio Mesquita Filho me chamava para sua sala para que eu transmitisse em inglês as mensagens ao chefe da redação no Rio de Janeiro. Era a forma encontrada para driblar a censura, pois na época os censores não falavam inglês. Fui beneficiado pelo fato de só eu falar o idioma naquele local. Nesse período fiquei em uma posição hilária: o menino da redação era um dos mais informados sobre a conspiração em curso. Locus – O senhor virou empresário por acaso? Mindlin – Um grupo de pessoas tinha idéia de montar uma fábrica de autopeças e houve dificuldade para conseguir financiamento para o projeto. Como era amigo do diretor do Banco de Crédito Real de Minas Gerais, acabei me tornando fiador dessas pessoas e, quando vi, fazia parte da empresa. Era a década de 1950 e o negócio aproveitou bem o estímulo que o presidente Juscelino Kubitschek deu ao setor automobilístico e cresceu muito. Foi um momento político importante: quando o Brasil encontrou um líder político com a obsessão do crescimento. nando Henrique Cardoso. FHC poderia ter criado uma aura de grande homem na nação se não tivesse cometido o erro de ter apostado no segundo mandato. Locus – E como foi o momento em que sua empresa fechou? Mindlin – Sofremos muito durante a abertura para as importações no período do presidente Fernando Collor. Seu governo manteve as tarifas para o carro importado, mas diminuiu as tarifas de A globalização não é uma luta entre o bom, visto como algo local, e o mau, o produto mundial. Não se trata de uma conspiração, mas sim de uma circunstância de um determinado período histórico entrada das autopeças para apenas 2%. Então, a concorrência internacional foi gigantesca. Nós – nem ninguém – não estávamos preparados. O grande problema foi de escala, o que impediu de nos tornarmos fornecedores mundiais. Locus – O presidente Lula adora se comparar a JK... Mindlin – (Silêncio e, depois, risos) Eu nem preciso responder, certo? Locus – O segredo de ter se tornado um empresário de sucesso foi a percepção de que aquele era o momento certo? Mindlin – Exato. Quem quer se tornar empreendedor precisa ter informações suficientes para conhecer o cenário em que atua. Naquela época, o Brasil estava em um período de grande crise cambial, pois a maioria das reservas acumuladas durante a Segunda Guerra Mundial foi gasta com importações supérfluas. A crise pediu uma política de substituição desses produtos estrangeiros. Eu confesso que só votei duas vezes em presidentes que ganharam as eleições: JK e Fer- Defino esse momento da minha vida como angustiante. Tanto que tivemos que vender a empresa. Foi uma decisão difícil do ponto de vista emocional, mas racional sob a questão empresarial. Locus • Julho 2007 Entrevista Locus – Após ter passado por uma experiência como essa, ficou alguma lição para quem quer vencer neste mundo tão globalizado? Mindlin – É preciso deixar claro que a globalização não é uma luta entre o bom, visto como algo local, e o mau, o produto mundial. Não se trata de uma conspiração, mas sim de uma circunstância de um determinado período histórico. Para as pequenas e médias empresas brasileiras esse cenário é bastante positivo, pois o mercado é cada vez maior e há brechas Os sonhos de ontem são a realidade de hoje. Isso vale para a literatura e para o setor produtivo BIOGRAFIA em que elas podem investir e lucrar muito. Já a grande empresa brasileira, na realidade, é pequena em relação à multinacional. Tudo é muito nebuloso para essa fatia de empresários nacionais. Eles precisam lidar com uma concorrente que se não estiver satisfeita com o governo local toma uma decisão rápida: vai para qualquer outro canto mais favorável do mundo. Mas eu ratifico: o mundo não vai acabar por causa disso. Locus – Alguns ambientalistas não concordam com isso... Mindlin – Eu sou um otimista perene. Acredito piamente que o homem e a sua ciência vão resolver os atuais dilemas da nossa civilização. F ilho de imigrantes russos, José Ephim Mindlin nasceu no dia 8 de setembro de 1914, em São Paulo. Dois anos depois de participar da Revolução de 1930, deixou o jornalismo para ingressar na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Formado, advogou pelos 15 anos seguintes, até juntar-se a outros quatro empreendedores e fundar a Metal Leve, empresa que se especializou na produção de pistões – peças cilíndricas feitas de alumínio, essenciais ao funcionamento do motor de automóveis. Em pouco tempo, a Metal Leve se tornou referência no setor de autopeças, exportando produtos e abrindo filiais no exterior. O crescimento da empresa permitiu que ela empregasse 6 mil pessoas. Mas com a abertura econômica no início dos anos 1990, a Metal Leve começou a colecionar prejuízos, obrigando Mindlin a se desfazer de suas ações em 1996. Em paralelo à vida executiva, o empresário levou adiante uma paixão despertada ainda na adolescência: a leitura. Considerado o maior bibliófilo do Brasil, construiu um acervo com mais de 40 mil títulos, repleto de raridades. A coleção, que começou a se formar em 1927, foi doada em 1999 para a Universidade de São Paulo (USP) “para garantir que a biblioteca continue viva e preservada”, segundo ele. A trajetória de sucesso no mundo corporativo, a passagem pela administração pública – ele foi secretário estadual de Cultura, Ciência e Tecnologia do governo Paulo Egydio Martins, no final dos anos 70 – e o elevado nível cultural fazem de Mindlin uma figura respeitada em diversos segmentos. Entre 1997 e 1999, ele integrou a comissão julgadora do Prêmio Anprotec para Empresa do Ano e Incubada do Ano, quando pôde conhecer melhor a realidade do movimento. Locus • Julho 2007 Locus – O senhor tem saudades daquela época em que era empresário? Mindlin – Tenho, pois minha vida empresarial durou 45 anos. Muita gente pensa que eu tenho receio em falar dela, que eu só quero falar de livros, como se as duas coisas fossem opostas. Não há impedimento para que uma pessoa seja um amante de livros e um empresário de sucesso. Há somente um preconceito que dá a falsa impressão de que, para ser empresário, é preciso focar apenas na sua área de conhecimento e deixar a cultura mais ampla marginalizada. É um absurdo pensar desta maneira. da educação: estreitar a relação da população com o governo. A educação precisa dar, já na infância, uma noção de cidadania. Hoje, os ensinos primário e médio ainda são precários demais. As estatísticas mostram que alunos que estão há quatro anos na escola não sabem ler, distinguir o certo do errado. É uma situação bizarra a nossa: aumentou-se o ensino em quantidade, mas não em qualidade. Como se não bastasse, a profissão do professor está degradada. Ele é mal remunerado e com isso acaba sendo mal preparado para o exercício, para a sua missão de formar gerações. Locus – Mas como a cultura pode influenciar o empreendedor? Mindlin – Ela ajuda a dar uma visão de vida mais ampla, alargar os horizontes. Hoje isso pode não parecer novidade, já que a maioria dos empresários tem formação universitária e eles fazem parte de uma geração com boa formação cultural e acadêmica. Um mundo que nasce nas incubadoras. Mas no início do século passado as coisas não eram bem assim. Os empresários eram imigrantes que tiveram sucesso em suas atividades específicas. Locus – Estamos no início da batalha? Mindlin – Infelizmente sim. E começamos mal ao dar mais prioridade ao ensino superior. O bom ensino superior deve ser conseqüência de um ensino básico de qualidade. Locus – É possível então supor que a inovação está intimamente ligada à educação? Mindlin – Definitivamente. Precisamos investir mais na educação para sermos tão inovadores quanto o primeiro mundo. O Brasil tem muitos problemas, muitas prioridades. Dá para afirmar que quase tudo aqui é prioritário. Entretanto, eu creio que a educação é a maior prioridade para o nosso desenvolvimento. Locus – O que falta para a teoria virar a prática? Mindlin – Falta uma geração consciente. O Brasil só vai conseguir crescer, corrigir seus erros, quando tiver um eleitorado preparado para reivindicar as medidas necessárias. E esse é o papel O Brasil só vai conseguir crescer, corrigir seus erros, quando tiver um eleitorado preparado para reivindicar as medidas necessárias. E esse é o papel da educação: estreitar a relação da população com o governo Locus – O que o senhor acha dessa febre de livros de auto-ajuda voltados ao mundo dos negócios? Mindlin – Não acredito na eficácia desse tipo de literatura. Quando a pessoa recebe uma educação adequada, não precisa disso. A pessoa precisa pensar por conta própria. Locus – Então, qual livro é essencial ao empreendedor? Mindlin – Muita ficção. Ela desenvolve a imaginação, o sonho e amplia a possibilidade de realizações. Julio Verne, quando escreveu seus livros, viu um futuro que hoje é o presente. Os sonhos de ontem são a realidade de hoje. Isso vale para a literatura e para o setor produtivo. Locus • Julho 2007 Em MoViMEnto I ntegrantes da R epin Nova rede de integração Consórcio de Comércio Justo e Inserção busca da viabilização do alcance Social Catalão Potiguar (BraCat) dos objetivos comuns e específi– Núcleo de Estudos Brasileiros (NEB) cos de cada integrante da Rede”, Incubadora de Bordados afirma. Ele ressalta ainda que as do Seridó (Inbordados) principais ações da Repin estão Incubadora de Cooperativas Populares do Rio Grande do Norte (Incoop) ligadas à captação de recursos, intercâmbio comercial, acesso à Incubadora do Agronegócio da Caprinovinocultura do Sertão tecnologia, ingresso no mercado do Cabugi (Ineagro-Cabugi) e inovação em negócios, proces Incubadora do Agronegócio de Mossoró sos, produtos e serviços. (Iagram) – Universidade Federal As incubadoras potiguares Regional do Semi-Árido – Ufersa atuam em diversos segmentos da Núcleo de Incubação Tecnológica economia (tradicionais e de ino(NIT) – Centro Federal de Educação vação), que incluem associação Tecnológica – Cefet/CE de quilombolas, cooperativas, Serviço Brasileiro de Apoio grupos de teatro e emàs Micro e Pequenas Empresas do preendedores dos ArranRio Grande do Norte (Sebrae/RN) jos Produtivos Locais das áreas de apicultura, caprinovinocultura e bordado. “A heterogeneidade da Repin é a cara do Rio Grande do Norte”, destaca o gestor. Divulgação A necessidade de interação entre as incubadoras do Rio Grande do Norte deu origem à Rede Potiguar de Incubadoras e Parques Tecnológicos (Repin), lançada em março deste ano. Agora, as ações dos integrantes da rede estão voltadas para sua consolidação, criando condições para prestação dos primeiros serviços às associadas. De acordo com o gestor de incubadoras do Rio Grande do Norte, Walter Leite, a Repin proporciona a troca de informações e de conhecimento entre as incubadoras, o que favorece o crescimento do movimento no estado. “Os principais benefícios serão os resultados de uma atuação conjunta, em Equipe da Repin trabalha para colocar planos em ação Fênix gradua primeira empresa incubada na UEMS A incubadora de empresas da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS) graduou, no dia 27 de abril, a sua primeira empresa incubada: a Exclaim. Sediada em Dourados, no Sul do estado, a graduada presta serviços de consultoria, desenvolvimento e implementação de projetos na área tecnológica para ambiente corporativo (softwares personalizados). A prova de que a Exclaim está pronta para se desenvolver sem o auxílio da incubadora está em sua carteira de clientes, que conta com mais de 50 empresas. Incubada na Fênix em outubro de 2002, a Exclaim desenvolveu diversos softwares, dentre os quais se destacam o Ana, voltado para gestão financeira; o Amanda, para gerenciamento de empresas de varejo; o Alice, para controle de ponto, e o Aline, para administração escolar. 10 Locus • Julho 2007 Costurando cidadania Quem não sabia costurar, apren deu rápido. Mulheres desempregadas de Macaé (RJ) enxergaram em um curso de corte e costura a oportunidade de vencer a exclusão soCooperativadas aprendem a cial. Oferecido pela incubadora de costurar e a gerenciar negócios Cooperativas do município, o curso desenvolvido em parceria com o do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), deu origem à Cooperativa de Costureiras de Macaé – CoopCom. As cooperativadas aprendem a enfrentar a falta de capital e as dificuldades de trabalhar em grupo. Todas são sócias do negócio e juntas decidem questões relacionadas ao processo produtivo e aos investimentos. A falta de experiência em gestão é sanada com auxílio da incubadora, que oferece consultoria técnica em contabilidade, economia e direito, por exemplo. De acordo com a gerente da incubadora de cooperativas, Aline Azeredo Barbosa, com a formação de novos profissionais, o curso proporciona o aperfeiçoamento das técnicas de costura industrial. “O investimento nesse curso tem o objetivo de trazer mais qualidade ao setor, atraindo novos clientes e gerando trabalho e renda para esses profissionais. É uma grande oportunidade para essas pessoas.” Divulgação Uma parceria entre o Sebrae e a Anprotec resultou em um edital de apoio às incubadoras brasileiras, que distribuirá R$ 5,4 milhões entre entidades que proponham projetos de prestação de serviços a pequenas e microempresas criadas fora do ambiente de incubação. Para receber os recursos, as candidatas devem, além de serem associadas à Anprotec, ter, no mínimo, quatro anos de operação, 10 empresas incubadas e duas graduadas. Ao todo, serão aprovadas até 30 propostas, sendo que 50% dos recursos são destinados a incubadoras das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. As inscrições foram recebidas até o dia 20 de junho. O resultado final será divulgado a partir de 24 de setembro, no site www.sebrae.com.br Brasil tem novo indicador de inovação As empresas brasileiras contam com um novo método para mensurar seus esforços e resultados na área de pesquisa e desenvolvimento. O Índice Brasil de Inovação (IBI) foi lançado em 24 de maio, com a premiação das 12 empresas apontadas, segundo o próprio IBI, como as mais inovadoras do país. Entre essas empresas está uma ex-incubada: a Silvestre Labs, do Pólo Bio-Rio (veja matéria na pág. 23). No total, 60 empresas participaram da primeira edição do IBI, que é uma iniciativa do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) e do Instituto de Geociências (IGE), ambos da Unicamp, em parceria com a revista Inovação Uniemp e com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). As empresas são avaliadas a partir do Indicador Agregado de Resultado (IAR), que representa os impactos da inovação e as patentes depositadas, e do Indicador Agregado de Esforço (IAE), que reflete os gastos com máquinas, equipamentos, produtos e processos inovadores. São consideradas mais inovadoras as que apresentarem maior equilíbrio entre os indicadores de resultados e de esforços. PAC para C&T A versão final do Plano de Ações para Ciência e Tec nologia para o quadriênio 2007-2010 deve ser conhe cida em 9 de julho, na 59ª Reunião Anual da SBPC, em Belém (PA). Desde o final de maio, o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende (acima), vem apresentando as propostas a entidades ligadas à área. De acordo com o MCT, o plano apresenta quatro linhas de ação principais: 1Expansão e consolidação do sistema nacional de C&T, que inclui a consolidação institucional do sistema, a formação de recursos humanos, infra-estrutura e fomento à pesquisa científica e tecnológica. Promoção e inovação tecnológica nas 2 empresas, com apoio especial para: serviços tecnológicos, tecnologias de informação e comunicação (TICs), biotecnologia, fármacos e medicamentos, nanotecnologia, biocombustíveis e energias do futuro. Pesquisa e desenvolvimento em áreas 3 estratégicas, entre elas: programa espacial, programa nuclear, segurança pública e defesa nacional, biodiversidade e recursos naturais, mar e Antártida, desenvolvimento sustentável da Amazônia, desenvolvimento sustentável do Semi-árido, meteorologia e mudanças climáticas. C&T 4 para o desenvolvimento social, que inclui a popularização da C&T e a melhoria do ensino de ciências e tecnologias para o desenvolvimento social. Divulgação /MCT R$ 5,4 milhões para incubadoras Em MoViMEnto As mais inovadoras Setores de alta tecnologia 1. Delphi (automobilística) 2. Embraer (outros equipamentos de transporte) 3. Marcopolo (automobilística) Setores de média-baixa intensidade tecnológica 1. Brasilata (produtos de metal) 2. Faber Castell (móveis e diversos) 3. Usiminas (metalurgia básica) Setores de média-alta intensidade tecnológica 1. Silvestre Labs (química) 2. Vallée (química) 3. Natura (química) Setores de baixa intensidade tecnológica 1. Santista Têxtil (têxtil) 2. Grendene (calçados) 3. Rigesa (papel e celulose) Locus • Julho 2007 11 Em MoViMEnto Novo modelo para incubação Gestores de incubadoras de todo o país reuniram-se em Florianópolis (SC) entre os dias 28 de maio e 1º de junho para discutir um novo conceito de incubação de empresas: o Centro de Referência para Apoio a Novos Empreendimentos (Cerne). Baseado em programas de apoio a pequenas e microempresas que obtiveram sucesso nos Estados Unidos e na Europa, o novo modelo tem como objetivo capacitar as incubadoras para o oferecimento de serviços diferenciados que promovam o crescimento dos empreendimentos. “As incubadoras qualificadas no âmbito do conceito do Cerne deverão promover a potencialização, padronização e inovação de infra-estrutura, equipe, serviços, networking e marca”, afirma José Eduardo Fiates, presidente da Anprotec. Em Florianópolis, durante o Workshop de Metadesign do Programa Cerne, 21 incubadoras apresentaram processos internos, dificuldades enfrentadas e avaliações de resultados. Somadas às propostas desenvolvidas por grupos de trabalho no evento, essas experiências servirão para balizar a estruturação de um novo modelo para empreendimentos inovadores. O workshop foi promovido pela Anprotec, em parceria com o Sebrae. Isenção fiscal para financiamento de pesquisas A lei que concede isenção fiscal para empresas que atuarem em parcerias com instituições científicas tecnológicas (ICTs) já foi publicada no Diário Oficial da União (DOU). O texto cria o artigo 19-A na lei nº 11.487 – Lei do Bem – e prevê que toda pessoa jurídica poderá excluir do lucro líquido, para efeito de apuração do lucro real e da base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), os dispêndios efetivados em projeto de pesquisa científica e tecnológica e de inovação tecnológica a ser executado por ICT. Isso significa que todo investimento em P&D feito nas instituições poderá ter isenção fiscal. Nesse caso, não há limite para os investimentos. A única restrição se refere ao direito à propriedade, que dependerá do valor investido pelas empresas. A lei prevê que a participação da pessoa jurídica na titularidade dos direitos sobre a criação e a propriedade industrial e intelectual gerada por um projeto corresponderá à razão entre a diferença do valor despendido pela pessoa jurídica e do valor do efetivo benefício fiscal utilizado, de um lado, e o valor total do projeto, de outro, cabendo à ICT a parte remanescente. Na prática, a empresa terá direito a no máximo 50% do produto. Se a empresa tiver isenção de 70% do que foi investido em ICTs, ela só terá direito à propriedade em 30% do produto. Se tiver isenção de 50%, terá direito de propriedade em relação à metade. Os financiamentos que tiverem uma dedução de 100% estarão isentos de direito à propriedade. Incubatep divulga resultado A Incubadora de Empresas de Base Tecnológica do Estado de Pernambuco (Incubatep) acaba de selecionar nove projetos para serem desenvolvidos no Instituto de Tecnologia de Pernambuco (ITEP). As empresas escolhidas foram: Beraca, Ideia, Ecoenergia, Lavanderia, Mobilit, Qualihouse, Ros Robótica e Sky Protector, além do projeto Software Educacional, voltado para portadores de síndrome de Down. 12 Locus • Julho 2007 Em MoViMEnto Câmera inteligente e n d a Planejamento Financeiro Chega de cloro! A Brasil Ozônio, empresa Divulgação Saiba mais: www.inventvision.com.br incubada no Cietec (SP), fabrica sistemas para purificação à base de ozônio. Chamado de BRO3-3, o equipamento substitui produtos químicos, como o cloro, no tratamento da água de piscinas, poços artesianos, caixas d’água e efluentes industriais. “O ozônio é 20 vezes mais forte que o cloro em sua ação, além de agir cerca de 3 mil vezes mais rápido e não poluir o meio ambiente”, explica o diretor da empresa Samy Menasce. Saiba mais: www.brazilozonio.com.br Adesivo Cirúrgico Na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Universidade do Estado da Bahia (Incubatec/Uneb), está em desenvolvimento um adesivo destinado à realização de sutura da pele em homens e animais que dispensa o uso de anestésicos e de equipamentos cirúrgicos, como bisturi e agulhas. Idealizado para o atendimento emergencial a vítimas de acidentes em locais afastados de centros urbanos, a inovação promete solução definitiva ou provisória – até a remoção do paciente. A idéia foi patenteada em 2003 e o produto deve chegar ao mercado até 2008. Na foto ao lado, um protótipo artesanal do adesivo. Saiba mais pelo telefone (71) 3247-3787 Curso promovido pela Empreende Consultoria voltado ao desenvolvimento e análise da seção financeira de um plano de negócios. Ensinará como adequar pequenas empresas aos requisitos exigidos por fundos de investimento e agências de fomento. Data: 18 de julho Local: São Paulo (SP) Informações e inscrições: www.planodenegocios.com.br Inscrições para Prêmio Professor Samuel Benchimol agosto o gaçã Divul Produzidas pela Invent Vision, graduada da Inova UFMG, as smart cameras têm como principal aplicação a inspeção do processo produtivo industrial. Além de adquirir imagens com qualidade, o equipamento dispensa o uso de computador para processar as fotos, pois tem uma CPU embutida. Em um mercado ainda dominado por importados, o produto da Invent Vision, 100% brasileiro, apresenta preços competitivos. Divulgação g julho a Destinado a identificar projetos que promovam o desenvolvimento sustentável da região Amazônica, o prêmio é dividido em três categorias: econômica e tecnológica, social e ambiental. Instituições públicas e privadas podem concorrer à premiação de R$ 65 mil – para cada categoria. Data final para inscrição: 31 de agosto Informações: www.amazonia.desenvolvimento.gov.br 17º Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas De 17 a 21 de setembro, a Anprotec e o Sebrae promovem o maior evento latino-americano do setor de incubação. Durante uma semana, o 17º Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas reunirá em Belo Horizonte (MG) representantes de diversas entidades governamentais e de apoio ao empreendedorismo, gestores de incubadoras, empreendedores e pesquisadores da área. Além de discutir diretrizes, estratégias e ações para o movimento no Brasil, o evento oferecerá oportunidades de capacitação, atualização, debates de tendências, apresentação de resultados e produção técnico-científica. Ao todo, serão realizados nove minicursos, abordando temas que vão desde rotinas de gestão até captação de recursos, exportação e avaliação de micro e pequenas empresas. Nos dias 17 e 18 ocorrerá o Workshop Anprotec, que proporciona aos participantes informações atuais sobre temas essenciais ao movimento, como oportunidades e tendências da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE). Os participantes que se inscreverem até o dia 31 de julho recebem desconto na taxa de inscrição. A programação completa do evento pode ser conferida em www.seminarionacional.com.br Data: 17 a 21 de setembro de 2007 Local: Belo Horizonte (MG) Informações: www.seminarionacional.com.br setembro h i - t e c h Locus • Julho 2007 13 h o m e n ag e m O legado de um guerreiro E Pionieirismo nas relações com a China. 14 Locus • Julho 2007 ngenheiro, pesquisador, gestor, homem público, empreendedor. Cinco definições para alguém de múltiplas atividades, de múltiplas lutas. Telmo Silva de Araújo nasceu pernambucano, mas adotou a Paraíba como segunda terra natal. Formado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1965, construiu uma carreira repleta de êxitos e contribuiu para o desenvolvimento científico, tecnológico e industrial do país. Entusiasta do empreendedorismo inovador, foi um dos principais mentores da Anprotec. A vida de Telmo teve fim no último dia 24 de maio, mas sua história deixa lições perenes. No final da década de 1960, pediu demissão do emprego na Companhia Energética de Pernambuco (Celpe) ao aceitar um convite que mudaria sua trajetória: tornar-se professor do recém-implantado curso de Engenharia Elétrica da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), na cidade de Campina Grande. Apostou na carreira acadêmica e, em 1975, concluiu o doutorado na Universidade Paul Sabatier, em Toulouse, França. “Naquela época, ele já tinha a compreensão de que o conhecimento gerado na academia deveria ser Fotos: arq. pessoal O movimento de incubadoras e parques tecnológicos perdeu no mês de maio um de seus principais defensores. Telmo Silva de Araújo deixa lições de liderança e dignidade voltado para o desenvolvimento regional”, afirma a esposa de Telmo, Francilene Garcia, também professora da UFPB. A entrada no movimento Em 1984, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), presidido por Linaldo Cavalcanti, criou cinco fundações que dariam origem a parques tecnológicos. Uma delas foi implantada em Campina Grande, onde Telmo teve atuação decisiva. “Na Fundação Parque Tecnológico da Paraíba, ele foi um dos maiores batalhadores, sendo o segundo diretor-geral e o principal protagonista do esforço para consolidar o Pólo Tecnológico de Campina Grande”, afirma Cavalcanti. A liderança e o trabalho de Telmo estenderam-se também à gestão pública. Em 1988, Cássio Cunha Lima, hoje governador do estado, foi eleito prefeito de Campina Grande e instituiu a Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia – iniciativa pioneira no Brasil. Telmo foi o responsável pela nova pasta, implantando na prefeitura seu jeito especial de gerenciar, que investia no relacionamento entre instituições e pessoas. Com esse modelo de gestão, ele tornou-se, anos depois, secretário de Planejamento de Campina Grande, diretor-presidente da Agência Municipal de Desenvolvimento (AMDE) e presidente do Centro de Apoio aos Pequenos Empreendimentos da Paraíba (Ceape). Em meados dos anos 1980, o movimento em prol do empreendedorismo inova- Telmo silva de araújo dor começava a se consolidar no Brasil, atingindo o ápice com a fundação da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), em 1987. Telmo integrou o grupo dos 12 sócios-fundadores da associação, da qual foi vice-presidente entre 1991 e 1993 e presidente de 1993 a 1995. “Sua gestão marca um ponto de inflexão na trajetória do empreendedorismo inovador no Brasil. Um índice relevante do que aconteceu a partir de sua gestão é o crescimento médio de 30% ao ano no número de incubadoras, desde 1994 até hoje”, afirma o atual vice-presidente da Anprotec, Guilherme Ary Plonski. A atuação de Telmo frente à entidade ocorreu em um momento de transição do movimento. “Juntamente com sua equipe, Telmo iniciou um bem-sucedido processo de reforço institucional da associação, com o estabelecimento da sede em Brasília, o fortalecimento da participação em conselhos de órgãos parceiros, a formalização do Seminário Nacional de Incubadoras e Parques, a criação do Informativo Locus e a reforma do estatuto”, afirma o presidente da Anprotec, José Eduardo Fiates. Pioneirismo no Oriente Quando deixou a presidência da Anprotec, em 1996, Telmo foi convidado pelo CNPq para um novo desafio: implantar na China um escritório de cooperação do projeto Softex 2000 – Programa Nacional de Software para Exportação, que buscava estimular o surgimento de uma indústria brasileira de software voltada à exportação. “No início, fomos para passar apenas um ano, mas as coisas deram tão certo que acabamos ficando até 1999”, conta a esposa Francilene. Um dos resultados da cooperação com a China foi a implantação, em 2004, do projeto TecOut Center, desenvolvido no Parque Tecnológico da Paraíba sob coordenação de Telmo. Apesar de ter deixado de dar aulas em 1991, o pesquisador continuava a produzir artigos acadêmicos – apresentou mais de 60 trabalhos em congressos e periódi- 1942 V 2007 D e p o i m e n t o Creio que era final de 1978. Estávamos na Paraíba, em um seminário sobre “Tecnologias Apropriadas”, tema que vivia sua onda de glória naqueles tempos pré-globalização. De repente surge uma voz grave do fundo do auditório: “Olhe, esse negócio de quebrar estrada usando marreta é muito bom pra gaúcho, que teve uma boa alimentação. Aqui no Nordeste, o nosso negócio é eletrônica”. Naquele dia conheci Telmo – pernambucano, filho de gaúcho – com sua enorme capacidade de dizer as coisas de forma clara e inteligente. Com precisão e sensibilidade. Esse era um dos traços mais marcantes da personalidade de Telmo – uma invejável capacidade de nos fazer pensar. Pude conviver intensamente com Telmo no período de 93 a 95, quando tive a honra e a satisfação de ser o seu vice-presidente na Anprotec e seu suplente no Conselho Deliberativo Nacional do Sebrae. Trabalhamos juntos, sonhamos e caminhamos juntos, num momento em que as incubadoras de empresas no Brasil e o próprio Sebrae (com S) davam os seus primeiros passos. Telmo foi um exemplo de espírito público, retidão e empreendedorismo, combinação tão valiosa e infelizmente rara em nossos dias. Telmo vai fazer falta. Que a sua ausência nos faça pensar. Maurício Guedes Presidente do Conselho Editorial de Locus cos nacionais e internacionais – e a orientar dissertações de mestrado e teses de doutorado na UFPB. A descoberta de um câncer na pelve renal, em 2005, não abalou suas atividades de trabalho. “Ele nunca escondeu a doença, apostou no tratamento e manteve a esperança da cura até o fim”, afirma Francilene. Para aqueles que conheceram Telmo, ficaram inúmeras lições. “Era um líder acessível e parceiro, que não se apegava a cargos, não inventava dificuldades e não criava barreiras para o crescimento das pessoas. Pelo contrário, era um visionário que buscava sempre novos desafios, novas experiências e novas formas de utilizar seu conhecimento e capacidade de construir em benefício da sociedade”, ressalta Fiates. Plonski afirma que a principal marca de Telmo era a capacidade de combinar características aparentemente contraditórias: “Empreendedorismo e solidez; ousadia e tranqüilidade; promoção do capita lismo empreendedor e defesa do interesse público; cosmopolitismo e valorização do local”. Para a esposa, fica como lição uma das frases mais repetidas por ele: “Meu maior prazer é trabalhar com gente”. Com a filha mais nova, Tainá Locus • Julho 2007 15 N e g c i o s Me r c a d o aquecido A tentativa de minimizar o aquecimento global abre um novo nicho de atuação: o da sustentabilidade. Além de reduzir o impacto que causam ao meio ambiente, empresas lucram ao oferecer soluções para amenizar o efeito estufa Francis França Sistemas alternativos para a geração de energia podem frear o impacto ambiental 16 Locus • Julho 2007 Q uando os cientistas anunciaram que o mundo precisaria se mobilizar para combater o aquecimento global, os empresários não imaginavam que colaborar com o meio ambiente fizesse tão bem ao bolso. Neutralizar o efeito estufa, na maioria dos casos, significa adotar processos que reduzem custos de operação para empresas de todos os portes. Gastar menos com energia elétrica, aumentar a produtividade em setores agrícolas e evitar desperdício de tempo, matéria-prima e dinheiro fazem parte do pacote de sustentabilidade que empresas e governos precisam adotar. A preocupação global com o desenvolvimento sustentável atingiu o ápice neste ano, quando os relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) comprovaram que o aquecimento do planeta é decorrente da ação humana. Entre os principais fatores que contribuem para esse processo estão a devastação das florestas e a queima de combustíveis fósseis como petróleo, carvão e gás, que emitem gases do efeito estufa, como o gás carbônico (CO2). O principal desafio dos países é substituir a matriz energética por fontes limpas e reno- A queima de combustíveis fósseis contribui para o efeito estufa váveis de geração de energia. Por isso, cientistas do mundo inteiro desenvolvem tecnologias que possam substituir fontes de energia térmica, baseada em queima de combustíveis. No Brasil, empresas incubadas em diversos centros de pesquisa já apresentam resultados animadores para resolver problemas ambientais. Energia limpa Apesar de a matriz energética brasileira ter uma das maiores proporções de fontes renováveis (44,4%), apenas 32% provêm de energias limpas, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE/MME). Nesse montante, estão incluídas as hidrelétricas (14,6%) – que enfrentam barreiras de licenciamento ambiental por conta dos impactos nas áreas alagadas – e a energia derivada da cana-de-açúcar – que apresenta problemas sociais para os trabalhadores nos canaviais. Restam menos de 3% de energia limpa e sustentável, representada pelas matrizes solar e eólica. O principal obstáculo à disseminação da energia solar até hoje era o elevado custo de instalação. A ONG Sociedade do Sol (SoSol), incubada desde 1999 no Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec/USP), resolveu enfrentar o desafio e provou que é possível fornecer energia solar com custo acessível à população. O Aquecedor Solar de Baixo Custo (ASBC) pode ser construído por qualquer pessoa, com equipamentos disponíveis em lojas de materiais elétricos e aquece água a 55°C – o suficiente para substituir a energia elétrica dos chuvei- Reciclytherm acoplado a um condicionador de ar e à câmara fria de um frigorífico Os irmãos Carlos e João Galvanini desenvolveram uma solução inteligente para substituir a energia elétrica no aquecimento de água e evitar o desperdício. O equipamento é um reciclador de energia, chamado de Reciclytherm. O conceito é simples: para resfriar uma sala, um condicionador de ar retira o calor do interior do ambiente e descarta do lado de fora. O que os irmãos Galvanini fizeram foi aproveitar o calor desperdiçado e canalizálo para aquecer a água de chuveiros e torneiras. O resultado é a economia de 70% no consumo de energia elétrica, com tecnologia não-poluente, custo operacional zero e um prazo para retorno do investimento entre 18 e 24 meses. “Com os equipamentos tradicionais jogamos uma grande quantidade de calor fora e ainda usamos energia para esquentar a água. É um prejuízo duplo”, diz Carlos Galvanini. A tecnologia foi desenvolvida na Incubadora Tecnológica da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Interp/Uniderp). Além de economizar energia, o Reciclytherm contribui de forma expressiva para reduzir o aquecimento global causado pelo desmatamento. A constatação foi feita ao estimar o desempenho do equipamento em um frigorífico. O abate de gado exige grandes quantidades de energia nas caldeiras, obtida pela queima de lenha. Depois da combustão, gasta-se mais energia para dissipar o calor. A estimativa é de que para abater mil cabeças de gado por dia seja necessário queimar dois caminhões de lenha. Com o Reciclytherm, um frigorífico deixaria de emitir 70% do carbono gerado pela combustão. Considerando o tama- Fotos: Divulgação Desperdício zero nho do rebanho bovino brasileiro, estimado pelo IBGE em 200 milhões de cabeças de gado, seria possível evitar a queima de 4 mil caminhões de lenha todos os dias. O Reciclytherm também oferece vantagens para empresas de pequeno porte. Em um restaurante com dois balcões, com pratos quentes e frios, por exemplo, em vez de gastar energia aquecendo de um lado e resfriando do outro, transfere-se o calor de um ponto a outro. Nesse caso, a economia com eletricidade é de aproximadamente R$ 1.300,00 por mês. “É uma economia para o usuário e para o país, porque o que vemos hoje é uma cadeia de desperdícios”, afirma Carlos Galvanini. O objetivo da empresa é firmar parcerias com grandes fabricantes para desenvolver os eletrodomésticos juntamente com o Reciclytherm. Segundo Galvanini, mesmo que a empresa montasse uma indústria para fabricar os equipamentos, não teria condições de atender toda a demanda. O próximo passo é estabelecer acordos com fabricantes que têm condições de manter a produção em série e receber os royalties pela tecnologia. “Não queremos monopolizar, queremos parcerias e, logicamente, ser remunerados por isso”, diz. Locus • Julho 2007 17 c i o s Instalação de painéis solares fotovoltaicos ainda tem custo elevado 18 Locus • Julho 2007 ros. O desempenho é mais do que suficiente, já que a temperatura necessária para um banho quente é de 42°C. A tecnologia começou a ser desenvolvida em 1992, mas só chegou ao mercado em 2001. Atualmente há cerca de 7 mil ASBCs instalados no país. A SoSol busca investidores para fabricar os kits de instalação do equipamento. Existem hoje no Brasil cerca de 31 milhões de residências com chuveiro elétrico – mercado potencial para a instalação do aquecedor solar. Os produtos finais são duas famílias de aquecedores: uma de alta eficiência, para ser manufaturada pelo usuário ou por pequenas empresas, com custo estimado em R$ 150,00 por família; e outra de média eficiência, 100% industrializada, com custo final de R$ 15,00 por família. “Nosso sonho é que cada família saiba que isso existe”, diz Augustin T. Woelz, coordenador de pesquisa e desenvolvimento da Sociedade do Sol. Segundo ele, a competitividade das energias alternativas não se baseia apenas em vantagens econômicas. “Não podemos pensar só no lado financeiro e optar pelo carvão por ser 5% mais barato do que a energia limpa. Precisamos refazer esses cálculos e colocar na balança os custos reais em longo prazo, que não são apenas financeiros”, afirma. A matemática do ASBC resulta em saldo positivo para o meio ambiente. A implantação do aquecimento solar em todos os chuveiros do país significaria reduzir em 18 milhões de toneladas por ano as emissões de CO 2 na atmosfera. O Brasil emite hoje um bilhão de toneladas de CO 2 anualmente. Por essa perspectiva, a contribuição do gerador solar parece pequena. Mas é preciso levar em consideração que 75% desse montante vem de emissões ilegais, isto é, da devastação das florestas. Se computadas as emissões “legais” com a queima de combustíveis, o gerador solar representaria uma redução de 7,2% no potencial poluidor do país. “Precisamos parar com as emissões de gases do efeito estufa imediatamente. Se não fizermos nada, em 30 anos teremos um ambiente absolutamente hostil. Eu tenho um neto. Sei que quando ele estiver com 60 anos vai sofrer as conseqüências do que fazemos hoje”, diz Woelz. Gás menos poluente Segundo dados do Worldwatch Institute, a concentração de CO 2 na atmosfera hoje é de cerca de 400 partes por milhão (ppm). De acordo com o relatório do IPCC, se o número ultrapassar 500 ppm, o planeta enfrentará um quadro perigoso Divulgação sosol N e g Augustin mostra produto desenvolvido pela Sociedade do Sol Fotos: Divulgação eletrocell Ett confia na eficiência do Ecogem 50 Apesar de 95% dos componentes serem produzidos no Brasil, a tecnologia ainda é cara por não ter escala de produção. Em uma residência, o custo para instalação é de US$ 6 mil e o prazo para retorno do investimento é de cinco anos. Mesmo considerada ainda um gerador de luxo, a célula combustível oferece soluDivulgação eletrovento de aquecimento. Atualmente, a concentração de CO 2 na atmosfera cresce a uma taxa superior a 2 ppm por ano. Não é por falta de conhecimento que o efeito estufa se agrava. A humanidade já possui tecnologia disponível para substituir fontes poluidoras – o desafio é viabilizar as novas fontes, que ainda são mais caras do que as tradicionais. É o caso da célula combustível: energia não-poluente, sem ruído ou odor e que tem apenas água pura como resíduo. A tecnologia é desenvolvida no Brasil pela Eletrocell, empresa do Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec/SP), responsável pela primeira célula combustível com tecnologia nacional. O sistema transforma energia química em eletricidade obtida pela oxidação do hidrogênio, gás não-poluente e abundante na natureza. Bons ventos Os altos custos de instalação e distribuição também são a justificativa para a modesta participação da energia eólica na matriz energética brasileira. A empresa Eletrovento, graduada na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp (Incamp), investiu em geradores de pequeno porte para transpor essa barreira. Com potência de 5 kW, o equipamento possui um conjunto de baterias que ajuda a suprir o abastecimento quando o vento pára, tornando-o independente da rede. Sem a necessidade de linhas de transmissão, os custos são mais baixos e indicados para residências e empresas de pequeno e de médio porte. Os geradores eólicos são competitivos principalmente em locais onde não existe fornecimento de energia elétrica, como fazendas. No Brasil, existem dois milhões de residências nessa situação, por estarem em regiões onde o custo para levar a rede é muito elevado. “Abastecemos dois sítios em Santo Antônio do Pinhal (interior de SP). Os proprietários solicitaram o abastecimento elétrico e a concessionária disse que custaria R$ 240 mil para levar a rede. Nosso gerador custou R$ 20 mil”, diz Arnaldo Costa, diretor da Eletrovento. A energia eólica no Brasil ainda é cara por causa dos componentes de segurança que exige. O equipamento precisa ser robusto para garantir que a torre não seja danificada em dias de vento forte. Segundo Costa, o aumento na demanda baratearia os custos. “A conta depende das comparações que você faz. Em algumas fazendas em Uberlândia (MG), por exemplo, quando ocorre algum problema na rede e falta energia elétrica, a concessionária leva pelo menos 24 horas para restaurar o abastecimento e os fazendeiros perdem todo o leite estocado. O prejuízo com três quedas de energia já compensaria o custo do nosso gerador”, diz. Gerador de energia eólica instalado pela Eletrovento em uma propriedade rural Locus • Julho 2007 19 N e g c i o s Construção reciclada ção para hospitais, redes de telecomunicações e empresas que precisem de energia contínua. O sistema é capaz de suprir o consumo em caso de faltar energia elétrica na rede. A célula tem maior aproveitamento do que uma bateria comum, com a vantagem de acumular energia na forma de hidrogênio, que pode ser armazenado em reservatórios de qualquer tamanho. De acordo com Gerhard Ett, diretor da Eletrocell, a tecnologia deve se tornar viável em poucos anos e, dependendo da necessidade, o custo compensa. “O prejuízo da falta de eletricidade em um hospital é muito maior do que o custo de geração de energia”, diz. Além de fornecer energia limpa, a tecnologia é mais eficiente do que os combustíveis disponíveis no mercado. Um quilo de hidrogênio detém a mesma quantidade de energia que 3,5 litros de petróleo, quatro litros de gasolina ou 3,7 metros cúbicos de gás natural. Enquanto um motor de combustão aproveita 17% da energia consumida, a eficiência da célula combustível chega a 60%. 20 Locus • Julho 2007 Construção civil é responsável pela maior parte dos resíduos sólidos gerados no país Atividade agrícola precisa reduzir danos causados ao meio ambiente Eficiência energética e corte de desperdícios não dependem apenas de tecnologia sofisticada. A empresa Ediplan, incubada na Interp do Pantanal, escolheu o segmento da construção civil para mostrar que, em alguns casos, a reavaliação de processos basta para obter resultados surpreendentes. A construção civil é responsável pela maior parte dos resíduos sólidos gerados no país. Para cada três casas que se constrói, uma quarta é jogada no lixo em forma de entulho. Além do desperdício, a atividade possui um agravante ambiental: cada metro quadrado de construção consome 30 m² de florestas. A Ediplan reduziu essa devastação a zero. “Percebemos que a construção civil ainda é uma atividade basicamente artesanal. Nosso objetivo foi simplificar as coisas. Pensamos em desenvolver um método mais barato, rápido e com benefícios ao meio ambiente”, explica o engenheiro responsável pelo projeto, Geraldo Rolim Júnior. Deu certo. Com um sistema de construção baseado em formas metálicas articuladas, a empresa conseguiu reduzir em 30% o tempo da construção e gerou uma economia de 20% em relação às construções tradicionais. Agricultura renovada Apesar de o efeito estufa ser causado principalmente por atividades industriais em ambientes urbanos, é no campo que as conseqüências são mais drásticas. Segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a agricultura é o setor mais vulnerável aos impactos do aquecimento global. Estimativas mostram que, em 50 anos, algumas culturas como café, arroz, feijão, milho e soja podem ter suas áreas de cultivo reduzidas pela metade caso se concretizem as previsões do IPCC. Para neutralizar os efeitos do aquecimento, a empresa VacuoFlex, graduada na Incamp, desenvolveu um material capaz de refletir a radiação solar, reduzir a temperatura e ainda possibilitar o cultivo de culturas antes inviáveis no Brasil por causa do clima. A base da tecnologia utilizada foi desenvolvida pela NASA na década de 1960 para o controle térmico de satélites e das roupas dos astronautas, mas só chegou a domínio público no início dos anos 1990. Trata-se de um filme metalizado chamado RCF (Filmes de Controle de Energia Radiante, do inglês Radiant Energy Control Films). Aplicado a uma lona, o material é capaz de reduzir a radiação solar em até 90%. A VacuoFlex aplicou a tecnologia a lonas para a agricultura. Nos países frios, agricultores colocam lonas de plástico sobre as Divulgação ediplan O sistema não utiliza tijolos e permite que as paredes sejam construídas com materiais alternativos como garrafas pet, lascas de pneu ou isopor. Outra possibilidade é utilizar o solo-cimento, mistura de cimento com o solo da região onde será cons truída a edificação, o que permite reduzir custos e economizar no combustível que seria queimado para transportar materiais de locais distantes. As placas variam no comprimento e podem ser adaptadas desde em casas populares até em agroindústrias ou prédios. Outra vantagem do sistema é o isolamento térmico e acústico superior ao das construções tradicionais. plantações para aquecer o solo e viabilizar o cultivo. A prática é utilizada em cerca de 15 milhões de hectares (aproximadamente o tamanho do Reino Unido). Em países quentes, como o Brasil, a tecnologia RCF tem efeito contrário, por refletir a radiação, e resfria o solo até 14°C. Segundo estimativas da VacuoFlex, se o material fosse usado em uma área que refletisse a radiação solar do planeta em 2%, seria possível neutralizar o efeito estufa. Paredes projetadas pela Ediplan são construídas com materiais alternativos No Brasil, energia eólica ainda é cara devido aos componentes de segurança que exige Locus • Julho 2007 21 N e g c i o s Matéria-prima abundante consumo de eletricidade. Comparada ao aquecimento elétrico, a economia chega a 80%. Em relação ao diesel, a redução é de 50%, e em relação ao gás natural é de 30%. O investimento para substituir o aquecimento elétrico pela bomba de calor é recuperado em seis meses. De acordo com o diretor da empresa, apesar da gama de energias alternativas disponíveis hoje no mundo, ainda faltam políticas públicas para disseminar seu consumo. A Thompson assinou parceria com o Ministério de Minas e Energia e aguarda a liberação de verba e incentivo do governo federal para a adoção de soluções sustentáveis. Segundo ele, com a utilização de soluções simples para o consumo, é possível afastar o risco de apagão no país. “O horário de pico é crítico e seu maior agravante são os chuveiros elétricos. Grande parte da expansão das hidrelétricas ocorre para suprir a demanda nesse horário, porque na maior parte do dia temos energia de sobra. Se conseguirmos substituir a energia dos chuveiros, o benefício seria imenso, pois não precisaríamos construir hidrelétricas na Amazônia, por exemplo”, afirma. “Existem estudos internacionais para refletir a radiação por meio de lançamento de discos metalizados em órbita, ou bombardeio da atmosfera com enxofre, ambos com enormes custos econômicos e produção de chuva ácida. A solução que propomos é muito mais simples, com a vantagem de que o custo é zero, já que a aplicação do produto e sua manutenção ficariam a cargo dos agricultores”, explica Sérgio Tavares, diretor da VacuoFlex. A tecnologia também pode ser aproveitada na produção industrial. Aplicado em cortinas para janelas, o RCF proporciona redução de custos com energia de aproximadamente R$ 8,00 por metro quadrado, o 22 Locus • Julho 2007 Divulgação Vacuoflex Enquanto a VacuoFlex busca impedir a entrada de calor na atmosfera, a Thompson, incubada na Incamp, desenvolveu um equipamento que retira o calor do ar e o transforma em energia para aquecer a água. A Bomba de Calor, como é conhecida, gera energia sem queima de combustíveis e com alta eficiência. O equipamento utiliza energia elétrica para mover um fluido especial que retira calor do ar e gera água quente com aproveitamento seis vezes maior que o do chuveiro elétrico. Em piscinas, a temperatura chega a 32°C e nos chuveiros a 55°C. “O Brasil tem um problema muito grande de desperdício. Se pouparmos, não precisaremos expandir a geração. Queimar algo para crescer é um retrocesso à época em que vivíamos nas cavernas. É inadmissível”, diz Rodrigo A. Jordan, diretor da Thompson. O desempenho da Bomba de Calor é proporcional à temperatura ambiente. Isto é: quanto mais quente for o ambiente, maior a eficiência da bomba. Entretanto, Jordan garante que o equipamento também funciona em regiões frias. A energia que move o equipamento não vem necessariamente da rede elétrica – pode ser abastecida por um gerador eólico ou solar. “Até uma bicicleta, se você ficar pedalando, fornece energia para o gerador”, diz Jordan, que trabalha com a tecnologia desde a década de 1980, com o objetivo de reduzir o Bombas de calor instaladas pela Thompson em um posto de combustíveis que corresponde a uma economia de 60% no consumo de ar-condicionado. Segundo Tavares, o custo de aplicação industrial do produto nas cortinas é pago pela economia obtida em três meses de verão. A lona plástica com o filme isolante está sendo testada para cobrir caminhões abertos que transportam bebidas e hortifrutigranjeiros. “Com a aplicação do isolante na lona, a parcela de calor irradiada para a carga é praticamente eliminada, reduzindo significativamente as perdas ocorridas no transporte de produtos”, diz Tavares. Reduções significativas de danos são mesmo tudo que o planeta precisa neste momento. oportunidade Pde inovação lu l as Considerado estratégico pela política industrial, o setor de fármacos brasileiro tenta avançar após anos de dependência externa. Laboratórios de todos os portes garantem competitividade com investimento em P&D Amanda Miranda D Divulgação Medicamento da Aché foi o primeiro totalmente fabricado no Brasil esenvolver um medicamento 100% nacional. Este é o grande objetivo das empresas especializadas em fármacos. A meta, que pode parecer bem distante para um país que há pouco tempo se limitava a importar produtos, já está sendo alcançada por alguns laboratórios, que além de ganharem o mercado interno têm incrementado, ano após ano, o volume de exportações. É o caso da Aché, empresa nacional que apostou na parceria com universidades para desenvolver o primeiro medicamento totalmente fabrica- do no Brasil. O Acheflan, antiinflamatório tópico, foi produzido a partir da Cordia verbenacea (erva baleeira) e já é o líder do segmento no país. O sucesso é resultado de diversos fatores, que aliam desde alto investimento em pesquisa até a competência técnica de uma equipe formada por pesquisadores de quatro instituições brasileiras – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) e Universidade de Campinas (Unicamp). O pioneirismo deixou clara uma tendência: é necessário inovar para conquistar mercado na área, conhecida pela intensa concorrência. Para se ter uma idéia, as grandes multinacionais do setor investem de 10% a 20% de seu faturamento nas atividades de P&D. “O governo e a universidade já entenderam que não basta publicar artigos em revistas acadêmicas. Para o país crescer, temos que apostar na inovação”, afirma o pesquisador da UFSC João Batista Calixto, um dos principais envolvidos na elaboração do Acheflan. Inovação, neste caso, significa desde apostar na biodiversidade brasileira para encontrar novos produtos até descobrir novas formulações para um fármaco já existente. Momento positivo A mudança de cenário pode ser constatada pelo volume de exportação dos laboratórios brasileiros em 2006, que chegou a US$ 755 milhões – crescimento de 23% em relação ao ano anterior. Uma das empresas exportadoras que compõe esse índice é a Silvestre Labs, integrante do Pólo de Biotecnologia do Rio de Janeiro (BioRio). Incubada entre 1998 e 2001, passou Locus • Julho 2007 23 Fotos: Divulgação silvestre labs Empresas brasileiras estão ganhando competitividade no setor Executivo da Silvestre Labs aposta na pesquisa para se consolidar no mercado de farmácia de manipulação a empresa de base tecnológica e vem investindo em pesquisas para se consolidar estrategicamente no mercado. O segredo, nesse caso, é dominar a síntese farmoquímica de todos os princípios ativos utilizados nos pro dutos que desenvolve. Segundo o executivo da empresa, Eduar do Cruz, o marco para que o laboratório atingisse esse patamar foi o lançamento do Dermazine, em 1990. O medicamento cicatrizante apresentava um princípio ativo totalmente sintetizado dentro dos laboratórios da Silvestre Labs. A partir daí, diversos produtos foram criados. Um dos mais recentes, o Extra Graft XG-13, utilizado para preenchimento e substituição óssea, rendeu à empresa o primeiro lugar no ranking do Índice Brasil de Inovação (IBI), na categoria Média-Alta Intensidade Tecnológica. A grande inovação do produto está em sua capacidade de induzir a proliferação de células-tronco no tecido ósseo. E o melhor: a tecnologia utilizada é 100% brasileira. A pesquisa que originou o Extra Graft XG-13 foi desenvolvida em parceria com a Unicamp. “Procuramos manter um canal de comunicação sempre aberto e ativo com centros de pesquisa nacionais e internacionais”, explica Cruz. Segundo ele, alguns produtos da empresa também estão sendo registrados nos Estados Unidos e na Europa. “É uma estratégia que alia boas práticas de pesquisa a boas práticas de promoção, marketing e gestão”, completa. e xportações 1. 0 0 0 500 Farmoquímicos, adjuvantes farmotécnicos e medicamentos 24 Locus • Julho 2007 0 2002 2003 2004 2005 2006 I pesquisa básica II Desenvolvimento O ciclo do medicamento inovador (desde as fases de pesquisa toxicológica até a pesquisa clínica) III Produção (desenvolvimento em escalas piloto e industrial) (antes da liberação do medicamento para o consumo) V marketing e Dois outros laboratórios nacionais – a Eurofarma e a Biolab – também decidiram investir na pesquisa e no desenvolvimento de novos fármacos. Criaram, então, a Incrementha PD&I, empresa residente no Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec), em São Paulo. Com pouco mais de um ano, o empreendimento recebeu cerca de R$ 4 milhões em investimentos no ano passado e deve receber outros R$ 12 milhões este ano. Atualmente, a empresa conta com três depósitos de patentes em seu nome: duas combinações de fármacos e um anestésico desenvolvido a partir de nanopartículas. A Incrementha é responsável pela elaboração total do produto, desde a fase de pesquisas até a etapa de testes e de patenteamento. De acordo com o diretor técnico da empresa, Henry Suzuki, a Incrementha está na primeira das três etapas que culminarão no seu objetivo principal: o desenvolvimento de novos medicamentos. “As empresas nacionais que querem fazer lançamentos devem criar produtos inovadores, que cheguem ao mercado com uma expectativa maior do que a gerada pela simples fabricação de genéricos ou similares”, aponta. Desafio brasileiro Se por um lado as indústrias vêm apostando em P&D, por outro ainda existe uma série de restrições para quem atua na área. Para o executivo da Silvestre Labs, comercialização Eduardo Cruz, são três os principais desafios da indústria de fármacos no Brasil: o ambiente extremamente competitivo, as questões regulatórias e a capacidade de financiamento e investimento do setor. Os recursos para pesquisa vêm basicamente das agências federais e estaduais de fomento. Em alguns casos, como o da Aché, por exemplo, os próprios laboratórios decidem fazer parcerias com as universidades. Para o pesquisador da UFSC João Batista Calixto, esse seria outro grande desafio para o setor: fortalecer cada vez mais as relações entre universidade e empresa. “Existem ainda questões delicadas nessa relação e a forma mais fácil para as indústrias atingirem a inovação é através das pesquisas realizadas nas universidades”, argumenta. O fato de o Brasil estar entre os 10 grandes mercados consumidores de medicamentos do mundo o torna cada vez mais atrativo para os investidores. Mas os investimentos, segundo o pesquisador, devem ser pensados em longo prazo. Isso porque o lançamento de uma nova droga no mercado pode custar cerca de US$ 500 milhões – um investimento alto que pode gerar excelentes resultados após um longo período de pesquisas e testes. Divulgação IV Fase regulatória Produto da Silvestre Labs classificou a empresa entre as mais inovadoras do Brasil Locus • Julho 2007 25 Investimento Mantenha os anjos por perto Conhecidos como investidores-anjos, os fundos de capital de risco são cada vez mais numerosos e se aproximam das incubadoras. Mas será que as empresas sabem lidar com a chegada de um novo sócio? Adriane Alice Pereira O s investimentos realizados em empresas brasileiras por fundos de private equity e capital de risco deverão dobrar em 2007 e atingir a soma de US$ 2 bilhões, segundo estimativa da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP). O momento é favorável para o crescimento desse tipo de aporte no país, principalmente devido à queda da taxa de juros. Com a economia brasileira mais competitiva, os investidores de capital de risco se voltam para aplicações com alto potencial de inovação e desenvolvimento tecnológico. E o ambiente perfeito para encontrar empresas com essas características são as incubadoras. Diante desse cenário, os investimentosanjos em empresas incubadas tendem a crescer, potencializando as possibilidades de captação de recursos e de desenvolvimento de novos negócios. As incubadoras ampliaram seus programas de capacitação e de aproximação com fundos de capital de risco, incluindo o assunto na gama de assessorias ou serviços oferecidos. Com as portas abertas a novos recursos e com as incubadas cada vez mais habilitadas, a preocupação principal passa a ser o relacionamento entre o investidor e a empresa, na busca da satisfação de ambos os lados. Uma boa relação é ainda mais importante no caso de um aporte de capital de risco feito em empresas incubadas. “São três os riscos principais avaliados por um investidor. O primeiro é o risco tecnológico – o produto pode não funcionar. O segundo é o risco de mercado – o cliente pode não se interessar. E o terceiro é o ris26 Locus • Julho 2007 co de gestão – a empresa pode não dar certo. No caso de incubadas esses riscos são magnificados”, aponta a economista Cláudia Pavani, autora do livro O Capital de Risco no Brasil. E é justamente na avaliação desses riscos que os problemas de relacionamento podem começar. “Normalmente o empreendedor tem dificuldades de enxergar o nível de risco que o investidor vê – o que é amplificado no caso de incubadas, que normalmente são empresas que ainda não foram ao mercado, estão em um ambiente muito protegido e são administradas por profissionais recém-saídos da universidade”, completa Cláudia. Essa dificuldade é sentida pela gerente do Centro de Empreendimentos do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CEI), Leoci Tassinari Sciortino. “As empresas têm receio em receber esse investimento, pois acreditam que podem perder o poder de decisão no negócio. Geralmente os sócios são muito jovens e desconfiados com a idéia de abrir as suas informações para um investidor”, afirma. Enxergar o investidor como sócio e não como intruso é um dos primeiros obstáculos que deve ser contornado. “A primeira coisa que deve ser estabelecida na relação investidor-empresa é a confiança. Se a empresa aceitou o investidor, tem que passar a vê-lo como um sócio, com objetivos em comum”, afirma Cláudia Pavani. “Os objetivos conjuntos devem estar alinhados por ambas as partes, que esperam Dicas para manter um bom relacionamento entre investidores e empresas Por Cláudia Pavani Para as empresas Para os investidores • Estabeleça uma relação de confiança e transparência • Implante um fluxo constante de informações • Mantenha o investidor participante • Formalize qualquer mudança no Plano de Negócios • Entenda a empresa • Assuma a função de professor – apresente as melhores práticas e divida a sua rede de relacionamentos • Seja um investidor estratégico • Prepare a empresa para a abertura de capital uma valoração considerável do negócio como fruto de sua parceria. Não deve existir a ilusão que o investidor já espera e tem uma estratégia de saída do investimento, buscando o melhor lucro possível. Acima de tudo o investidor aposta em pessoas e não só na idéia e seu potencial”, acrescenta Maurício Schneck, gerente de incubação do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R). Para Amilton de Almeida, diretor executivo do Centro de Incubação e Desenvolvimento Empresarial (CIDE), em Manaus (AM), os problemas já podem surgir na captação dos recursos. “De maneira geral, falta um plano completo para estimular o investidor a enxergar onde ele está colocando seu dinheiro e o que ele espera ganhar com isto”, aponta. Boa parte dos casos de insucesso acontece também por desentendimentos com origem na diferença de opiniões. “Em alguns casos a opinião estratégica na visão do investidor não é aceita pelo empreendedor, ou vice-versa”, exemplifica Schneck. Nessas situações, a negociação passa a fazer parte da rotina da empresa. “A empresa não pode assumir ou mudar de rumo sozinha, ela não está mais sozinha”, reforça Cláudia Pavani. Outra grande armadilha está nos problemas de relacionamento que são levados para o lado pessoal na discordância de opiniões. “É necessário que o empreendedor conheça bem o negócio e seu mercado, mas também é necessário que seus ouvidos estejam abertos a opiniões e a aceitar que nem sempre é o dono da verdade”, completa Maurício Schneck. Graduada em abril deste ano no Núcleo Softex de Campinas (SP), a Digital Assets, que desenvolve soluções para o reuso de softwares, recebeu um aporte no final de 2006, poucos meses após a criação da empresa. Desde a elaboração do plano de negócios ficou claro aos empreendedores que a empresa precisava de um investimento para crescer com sucesso. Com o apoio da incubadora, a Digital Assets participou de programas de capacitação que aceleraram o amadurecimento da empresa. Também foi a incubadora que fez a aproximação com o investidor. Desde então, a relação entre a Digital e o investidor tem sido pautada pela transparência, o que garante o sucesso do relacionamento. “Além de uma gestão estruturada, que já era prática da empresa, estipulamos um Conselho de Administração e reuniões quinzenais para garantir um acompanhamento periódico ao investidor”, destaca Kleber Bacili, diretor de tecnologia da Digital Assets. O acordo com o Fundo prevê recursos de aproximadamente R$ 4 milhões, que serão investidos em pesquisa e desenvolvimento, consolidação da marca e expansão internacional. Além do incentivo ao amadurecimento da gestão da empresa e, obviamente, do aporte financeiro, o investidor de capital de risco pode trazer ativos intangíveis, como a abertura de oportunidades, troca de experiências, compartilhamento do conhecimento e contato com uma ampla rede de relacionamentos. Resta ao empreendedor saber usufruir. Schneck: investidores apostam em pessoas e não apenas em idéias Locus • Julho 2007 27 c a p a Corrida pela inovação A expansão dos negócios na área esportiva revela que o setor ainda reserva muitas oportunidades aos empreendedores. Nesse mercado, ganham a disputa empresas que apostam em idéias inovadoras J Divulgação/COB Débora Horn 28 Locus • Julho 2007 Divulgação/visagio Leonardo Carvalho, tiro com arco Visagio: nos esportes, alvo deve ser a inovação ulho de 2007 ficará marcado na história do esporte brasileiro. Durante 16 dias, 5.662 atletas assumem a missão de representar 42 países, competindo em 44 modalidades esportivas. Tudo isso na cidade do Rio de Janeiro, sede dos Jogos Pan-americanos deste ano. Assim como as delegações esportivas, milhares de empresários esperam ver durante o evento o resultado de muito trabalho. A organização dos Jogos envolve corporações de vários portes, desde gigantes como a Atos Origin, franco-holandesa responsável por todo o sistema de integração tecnológica do Pan, até as nascentes – caso da Control lato, residente na Incubadora da Coppe da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que realizou um estudo para o consórcio responsável pela reforma no estádio do Maracanã. O objetivo do trabalho da Controllato era apurar o impacto causado pelas torcidas na estrutura de concreto do estádio. Para evitar problemas decorrentes de comemorações vigorosas dos torcedores, a empresa instalou atenuadores dinâmicos sincronizados (ADS), equipamentos que absorvem a energia liberada pelas torci- Divulgação/COB empresa receitas anuais de 5,4 bilhões de euros, gerados em 40 países, nos quais, ao todo, emprega 50 mil pessoas. A Atos Origin venceu a licitação promovida pelo governo federal para a área de tecnologia da informação. Também foram licitadas as contratações de serviços de telecomunicações e áudio e vídeo. “As empresas vencedoras têm know-how em grandes eventos. Alguns dos profissionais vêm, inclusive, de países que já sediaram Jogos Olímpicos, mas a maioria dos funcionários que estão trabalhando diretamente com a tecnologia dos Jogos é formada por brasileiros, o que é fundamental para promover no país um legado em experiência que renova o conhecimento na área esportiva e amplia a Patrocínio a atletas, como Daiane dos Santos, também rende vantagens às empresas fotos: Divulgação/atos origin das na arquibancada. O trabalho da Controllato está entre as centenas de novidades que marcam presença no Pan 2007. “A cada ciclo olímpico percebemos que as inovações tecnológicas e o esporte se relacionam com mais intensidade”, afirma o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman. Prova disso é o Centro de Operações Tecnológicas dos Jogos. Implementado pela Atos Origin, é o setor responsável pela operação e gerenciamento de todas as aplicações e sistemas de tecnologia dos jogos. “Trata-se de um centro de controle em tempo real que integra e ‘enxerga’ as operações em todos os locais de competição e não-competição durante o evento”, explica Nuzman. Ao todo, são 30 GMSs (Sistemas de Gerenciamento dos Jogos), que além de emitirem informações em tempo integral sobre os resultados das provas coordenam operações relacionadas a credenciamento, logística de atletas, gerenciamento da força de trabalho, boletins médicos e exames antidoping. Para implantar esse aparato, que custou nada menos que R$ 141 milhões, a Atos Origin trabalhou nas obras por 50 dias ininterruptos, coordenando cerca de 100 operários e 10 empresas no projeto de construção civil. O prazo de entrega do serviço foi cumprido rigorosamente pela empresa européia, especializada em tecnologia da informação. Resultado da experiência de quem já organizou diversos eventos para o Comitê Olímpico Internacional (COI) – por meio de um contrato que é considerado o maior, em todo o mundo, relacionado a esportes. No currículo da empresa estão os Jogos de Salt Lake City, em 2002; as Olimpíadas de Atenas, de 2004, e três que ainda estão sendo planejadas: Pequim 2008, Vancouver 2010 e Londres 2012. Antes e durante os eventos, a Atos Origin integra os serviços de consultoria especializada, gerenciamento de projetos, integração e gerenciamento de sistemas e soluções em software. O know-how adquirido ao longo de 15 anos tem rendido à Tecnologia da informação tornou-se essencial na organização de competições. Abaixo, o Centro de Operações Tecnológicas do Pan 2007 Locus • Julho 2007 29 p a A gigante brasileira Provas de pentatlo moderno testaram as instalações do Pan 2007 capacidade em sediar futuras competições de nível internacional, como é o caso dos Jogos Mundiais Militares de 2011, que já conquistamos”, afirma o secretário executivo do Comitê de Gestão Federal para o Pan 2007, Ricardo Leyser. Embora o setor esportivo nem sempre seja o único nicho de atuação das empresas envolvidas na organização do Pan, o sucesso de suas atividades comprova que inovação tecnológica é fundamental para o avanço dessa área. Para o secretário de Esportes e Turismo do Estado do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, a inovação tem um significado especial para os esportes. “Na área esportiva, essa importância transcende o simples conceito de inovação. Representa avanços na metodologia dos procedimentos, na aerodinâmica dos equipamentos, na descoberta de materiais e na criação de equipamentos que aprimoram a performance dos atletas”, afirma. 30 Divulgação/COB Atletas contam com inovações para melhorar performance Locus • Julho 2007 Produto da Tirante A auxilia praticantes de vôo livre O presidente do COB, Carlos Nuzman, explica que as inovações são fundamentais, em especial para esportes de alta performance, pois proporcionam ao atleta resultados mais positivos, tanto em treinamento quanto em competições. “Os dispositivos eletrônicos, por exemplo, tornam cada vez mais práticos os estudos sobre a preparação física dos atletas e, assim, ajudam a potencializar seu rendimento, apontando alternativas viáveis para aprimorar seus resultados”, diz. Em tempos nos quais as competições são decididas por milésimos de segundo, qualquer vantagem que o atleta obtenha sobre os adversários pode ser decisiva. “Daí a importância de se desenvolver no- N egócios radicais Não são apenas as modalidades olímpicas que garantem bons negócios. Os esportes considerados radicais ou de aventura, como skate, pára-quedismo, vôo livre ou outros mais tradicionais, como o surfe, têm rendido boas idéias e lucro aos empreendedores. Há Fotos: Divulgação/tirante a a Ismar Ingber/CO-RIO c vos materiais esportivos, preparados com tecnologia avançada que propiciem um melhor rendimento aos atletas”, explica Nuzman. É esse caminho inovador que a Olympikus vem trilhando desde 1994. Ao patrocinar a equipe brasileira de vôlei, dois anos após a conquista do ouro nas Olimpíadas de Barcelona em 1992, a marca esportiva da Calçados Azaléia buscou se especializar na produção de materiais de alta qualidade para a prática de atividades físicas. Em três anos, chegou à liderança do mercado no país, posição que ocupa até hoje, batendo gigantes estrangeiras como Nike, Mizuno e Adidas. De acordo com o diretor da Calçados Azaléia, Paulo Santana, a Olympikus vive um momento histórico. “Após 13 anos de investimentos contínuos em pesquisa e divulgação/olympikus Santana, da Olympikus: marca atingiu maturidade em tecnologia e design Tênis com duplo amortecimento é a última inovação da Olympikus ção divulga três anos o empresário Renato Pisani começou a voar de parapente e se apaixonou. “O vôo livre é um esporte fácil de a gente se apaixonar. A interação com a natureza, o desafio à lei da gravidade e a necessidade de rápidas tomadas de decisão fazem o praticante sentir uma enorme sensação de liberdade”, afirma. Aliada à antiga vontade de ter um negócio próprio, a nova paixão de Pisani transformou-se na Tirante A - Adventure Instruments, uma empresa produtora de artigos para esportes de aventura, residente na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de Itajubá (MG). O primeiro produto lançado pela Tirante A foi o TAV-1000, um equipamento de navegação que pode ser utilizado por praticantes de parapente, paraglider e asa-delta. Primeiro do tipo a ser desenvolvido e fabricado no Brasil, o TAV-1000 auxilia na identificação de correntes de ar e mostra ao piloto dados como altitude em relação ao nível do mar e à decolagem, temperatura e tempo de vôo. O sucesso do produto, que levou três anos para ser desenvolvido, já faz o empreendedor trabalhar no próximo modelo. “O TAV-2000 terá foco nos pilotos de acrobacia”, planeja Pisani. A perspectiva da empresa é expandir a produção. “Agora é o momento de nos consolidarmos no mercado brasileiro e preparar o terreno para exportação. Estamos procurando também investidores em forma de angels, capital semente ou venture capital para alavancar os negócios e diminuir o tempo de desenvolvimento dos produtos”, afirma o empresário. desenvolvimento, a marca atin giu maturidade em tecnologia e design, refletida nas novas linhas de tênis e calçados oferecidas ao mercado – no Brasil e em mais de 25 países no exterior”, diz. Para ele, os expressivos aumentos de vendas registrados desde o início deste ano mostram que o consumidor está percebendo o avanço da marca. O maior destaque entre as tecnologias aplicadas pela empresa é o sistema de amortecimento Tube, lançado em 2004 – após cinco anos de pesquisas, viagens e troca de informações entre engenheiros da Olympikus e consultores americanos. Para desenvolver essa tecnologia, foram analisados tubos flexíveis utilizados para garantir a segurança de grandes edificações em caso de terremotos – em Tóquio, Los Angeles e Cidade do México. Os pesquisadores da empresa chegaram à conclusão de que a tecnologia aplicada nas edificações, capaz de sustentar milhares de toneladas mesmo em situações adversas, poderia garantir menor impacto às articulações humanas durante a prática esportiva. “No início deste ano, a Olympikus lançou um modelo que utiliza essa tecnologia e conta com duplo amortecimento. É o mais desenvolvido em tecnologia e design da história da marca, resultado de um in- Locus • Julho 2007 31 a p a N egócios radicais Altas ondas Foi também a paixão pelo esporte que transformou o surfista Mauricio Andrade em empresário ao fundar a Aram. A empresa, incubada desde 2005 na Coppe/UFRJ, desenvolveu uma tecnologia inédita para criar artificialmente ondas ideais à prática do surfe. O objetivo é solucionar um problema enfrentado pelos surfistas no litoral brasileiro: a falta de bancadas (fundos de mar nas praias) que garantam as ondulações. Segundo Andrade, no mundo todo há empresas pesquisando formas de criar fundos artificiais. Na Nova Zelândia, por exemplo, foi desenvolvido um sistema que utiliza sacos de areia jogados no fundo do mar. Incluída no grupo de inovadoras, a Aram aposta em uma tecnologia para a construção de arrecifes artificiais móveis, baseada em estruturas de concreto armado. Conforme Andrade, o sistema tem três diferenciais importantes em relação aos concorrentes estrangeiros: é reversível, não perde a forma e permite reaproveitamento, ou seja, tem vida longa. A facilidade de montar o sistema é outra vantagem apontada pelo empresário. Formado por módulos de concreto armado, o sistema Aram tem uma câmara interna controlada por válvulas – capazes de encher e esvaziar seu interior. A estrutura vazia flutua e, assim, pode ser transportada de forma prática. Cheios de água, os módulos fixamse ao fundo com o próprio peso. “O sistema precisa interagir com as condições do mar. Com os arrecifes, pode-se garantir que, se houver onda, ela será de qualidade”, diz Andrade. 32 Locus • Julho 2007 O surfista-empresário Mauricio Andrade O sistema desenvolvido para animar surfistas também terá aplicações em áreas distantes do esporte. Uma delas, segundo Andrade, é a defesa costeira. “Os arrecifes artificiais podem dissipar a energia da onda, fazendo com que ela perca força e chegue tranqüila à praia.” A Aram já patenteou a inovação no Brasil, nos Estados Unidos e, claro, na Austrália – a terra do surfe. um know-how de grande valor e ao país uma marca nacional com estrutura e qualidade do mesmo porte que qualquer outra marca internacional”, afirma Santana. Embora não revele qual o percentual do faturamento aplicado em P&D, o diretor da Calçados Azaléia afirma que a empresa continuará apostando em design e tecnologia para se manter competitiva. “Também queremos crescer na linha de confecção, que tem um potencial enorme, pois tudo o que é desenvolvido para os atletas em tecnologia, pesquisa e design acaba sendo levado para os produtos de linha da marca.” Divulgação /Sogipa vestimento de US$ 2 milhões em pesquisa de biomecânica”, destaca Santana. A associação com o esporte, que começou na parceria com a Confederação Brasileira de Vôlei, deu tão certo que a Olympikus passou a apoiar o COB, tornando-se fornecedora oficial dos produtos utilizados por atletas brasileiros em diversas competições. Além das vantagens trazidas pelo marketing, graças à associação da marca a imagens de atletas bem-sucedidos, a empresa passou a investir mais no desenvolvimento de artigos e de tecnologia de ponta para várias modalidades esportivas. “A iniciativa deu à Olympikus Judô é esperança de medalhas e de lucro às empresas que atuam na área arq. pessoal c No caminho da vitória Superar as estrangeiras, como fez a Olym pikus, é a meta de longo prazo da Ori-Gen, empresa da Incubadora de Lins, do interior de São Paulo, que fabrica os quimonos Sen-Sei, voltados à prática de diversas artes marciais. “Nosso grande diferencial está no material com que produzimos nossos quimonos: 100% algodão. A maioria dos artigos produzidos pelas grandes marcas traz tecidos sintéticos. O algodão ofe- Ponto para as pequenas Quimono produzido pela Ori-Gen Na torcida pelas artes marciais também está a Zeit, empresa graduada pelo Hotel Tecnológico de Curitiba (PR). Fundada há seis anos, a empresa especializou-se na produção e instalação de placares eletrônicos, iniciando as operações com placares para competições de judô. Depois, passou a atender ginásios e arenas que abrigam vários esportes, do tênis ao futebol society, desenvolvendo não só a estrutura do placar mas também o soft ware necessário para manuseá-lo. Entre os principais clientes estão o COB e as confederações brasileiras de automobilismo e ginástica olímpica. Depois de se consolidar na área esportiva, a Zeit decidiu ramificar os negócios. Agora, além dos placares eletrônicos, produz sistemas para automação industrial. “Na nossa área de atuação, não podemos focar apenas no esporte, pois, além de a concorrência ser grande, nosso produto exige um investimento considerável. Um Interesse por taekwondo vem crescendo no Brasil. Cada modalidade de arte marcial exige uniforme específico Divulgação/cob rece mais durabilidade e também conforto ao atleta”, diz um dos sócios da empresa, Jefferson Costa. Ao contrário da maioria de pequenas empresas, a Ori-Gen nasceu de uma oportunidade: um dos sócios da empresa era dono de uma loja de artigos esportivos e percebeu que havia uma demanda não suprida por quimonos na região de Lins. Na incubadora da cidade, a empresa encontrou a ajuda necessária para implantar a fábrica. Começou produzindo apenas quimonos para judô e depois estendeu a produção a outras modalidades – caratê, jiu-jitsu, kendô e, por fim, taekwondo. Para cada arte marcial, um modelo diferente de quimono. “Engana-se quem pensa que quimono é tudo igual. Cada modalidade tem suas particularidades e precisa de um corte e material distintos”, afirma Costa. De acordo com o empresário, o desenvolvimento de produtos se dá depois de uma pesquisa feita internamente, que analisa desde a qualidade do material utilizado pelas concorrentes até o feedback dos usuários. Em junho a empresa lançou uma nova linha de quimonos para taekwondo, desenvolvida com orientação de Flávio Bang, um dos introdutores dessa modalidade no Brasil. A idéia é aproveitar a inclusão recente da modalidade entre os esportes olímpicos, o que significa visibilidade durante os Jogos Pan-americanos. “O Pan do Brasil deve trazer um acréscimo nas vendas, pois acaba por despertar o interesse pelas modalidades”, afirma Costa. De olho no exemplo de grandes empresas, a OriGen também investe no apoio ao esporte, patrocinando atletas. Um deles, João Santana, conquistou o vice-campeonato panamericano de judô, na República Dominicana, em abril. Se os atletas de artes marciais do Brasil conseguirem bons resultados no Pan 2007, podem incrementar a produção da Ori-Gen, ajudando, de forma indireta, a empresa de Lins a levar seus produtos para outras regiões do país. Locus • Julho 2007 33 a p a Divulgação/cob c Em busca da perfeição: atletas e empresas se dedicam para garantir bons resultados placar eletrônico básico custa aproximadamente R$ 10 mil”, diz o administrador da empresa, Maurício Augusto Trindade. O caminho traçado pela Zeit, partindo do esporte para outras áreas, tem sido percorrido de forma inversa por algumas pequenas e médias empresas. Cada vez mais, aquelas que atuam em outros segmentos do mercado descobrem no esporte um nicho com grande potencial de exploração. Esse foi o caso da Visagio, graduada pela Incubadora da Coppe/UFRJ no ano passado. Trabalhar com esportes não estava no plano de negócios da empresa, especializada em consultoria e desenvolvimento de softwares. Mas os empreendedores não deixaram escapar a oportunidade de desenvolver o modelo matemático que deu origem às tabelas de uma das maiores competições de futebol da Europa. Engenheiros, analistas de sistemas e cientistas da computação que formam a equipe da Visagio se debruçaram sobre números para desenvolver o modelo. “Precisávamos otimizar as tabelas de for- O Pan em números 44 modalidades esportivas 42 países participantes 5.662 atletas e 2 mil integrantes de delegações esportivas 3 mil oficiais (presidentes de federações e confederações) e árbitros 20 mil voluntários 2.300 empregos diretos e 5.750 indiretos gerados com a construção da Vila Pan-americana Cerca de R$ 4 bilhões em investimentos 34 Locus • Julho 2007 ma que no planejamento dos jogos houvesse igualdade entre os times e, ao mesmo tempo, as partidas programadas pudessem maximizar a audiência dos jogos em canais de televisão. Achamos a solução”, explica Caio Fiuza, um dos sócios da empresa. Segundo ele, partir para a área de esportes exigiu apenas uma adaptação do que a empresa já fazia. “Esse é um nicho que se pode explorar, pois ainda há muitas coisas para aperfeiçoar e a tecnologia pode ajudar. O único problema é que o próprio mercado esportivo tem que amadurecer um pouco para receber essas soluções”, analisa. O futebol também trouxe lucro a uma empresa incubada no Centro de Empresas para Laboração de Tecnologias Avançadas (Celta), de Florianópolis (SC). A Outplan, que trabalha com tecnologia da informa- Ajuda da academia Em universidades e instituições de pesquisa, há muito tempo o esporte deixou de ser tema exclusivo da educação física. A demanda por soluções que auxiliem na melhoria da performance dos atletas passa pelas mais diversas áreas, indo da Medicina, Farmácia, Psicologia e Nutrição até Engenharia, Física e Matemática. Entre as ciências que ganharam força no mundo esportivo nas últimas décadas está a Química, cada vez mais aplicada para estudar o desempenho de novos materiais e, principalmente, do organismo humano. Nos Jogos Pan-americanos 2007, é um laboratório do Instituto de Química da UFRJ, chamado Labdop, o responsável por analisar os exames antidoping de todos os atletas da competição. Ligado ao Laboratório de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (Ladetec), o Labdop é o único laboratório credenciado no Brasil pela Agência Mundial Antidopagem (AMA). Durante o Pan, cerca de 130 profissionais, entre técnicos e pessoal de apoio, devem trabalhar em três turnos na análise de exames. De acordo com o coordenador do Labdop, professor Francisco Radler, o trabalho ficará marcado na história do laboratório. “Serão mais de 180 ações relacionadas à tarefa de implementar todas as rotinas necessárias às análises e garantir uma infra-estrutura à prova de falhas. Como não acreditamos em ‘zero falhas’, estamos estabelecendo sistemas de redundância para várias atividades e back up para quase tudo”, explica. Este ano a análise exige maior abrangência que em jogos anteriores, pois a AMA vem aumentando os processos a serem cumpridos pelos laboratórios desde 2004. “Estaremos implantando várias rotinas antes não realizadas no país”, diz o professor. Para ele, a participação direta no Pan pode ajudar o laboratório a obter financiamento para implantar toda a tecnologia de controle de dopagem. “Infelizmente, os atletas estão sempre buscando novas formas de burlar o controle. Assim, a necessidade de investimento em P&D&I não se encerra com o Pan.” Divulgação/cob Divulgação/Unicamp Kubota desenvolve biossensores na Unicamp divulgação/autplan ção, desenvolveu, em parceria com a Visa, um serviço que permite o uso de cartão de crédito como meio de pagamento do ingresso e passaporte de entrada aos estádios para assistir a jogos de futebol. Chamado de Futebol Card, o projeto começou a ser desenvolvido em 2002 e resultou em benefícios para o torcedor. Quem quer ir ao estádio pode comprar ingressos via internet, deixando para trás as longas filas que precedem partidas importantes. No dia do jogo, o torcedor passa por uma catraca exclusiva para usuários de cartão de crédito, o que facilita a entrada no estádio. Por enquanto, somente os torcedores do Figueirense, de Florianópolis, contam com a facilidade, mas a expectativa da empresa é firmar parceria com outros clubes brasileiros e também do exterior. “Esse sistema é uma inovação mundial. Ou seja: em nenhum outro país o torcedor pode adquirir o ingresso e entrar no estádio usando o cartão de crédito”, afirma o diretor da Outplan e criador do projeto, Robson de Oliveira. Para o empreendedor, áreas relacionadas ao esporte representam um mercado cheio de oportunidades. “Esse é um nicho em expansão no mundo todo e em especial no Brasil, onde clubes e federações estão profissionalizando a gestão e tratando o torcedor como cliente. Assim, são muitas as chances de crescimento”, destaca. Em Campinas, o Instituto de Química da Unicamp também desenvolve um trabalho voltado à melhoria da performance dos atletas. Com a coordenação dos professores Lauro Kubota e Denise Macedo, pesquisadores das áreas de Educação Física, Bioquímica e Fisiologia testam a utilização de biossensores – dispositivos capazes de medir a presença de substâncias específicas no sangue e na urina. “O objetivo da pesquisa é desenvolver biossensores para auxiliar na detecção do nível de estresse oxidativo em pessoas que praticam atividade física, principalmente atletas”, explica Kubota. O estresse oxidativo é causado por radicais livres que prejudicam o organismo, aumentando excessivamente a produção ou diminuição de agentes oxidantes. Os biossensores desenvolvidos na Unicamp podem se tornar bons indicadores do nível de condicionamento físico de atletas. “A pesquisa está evoluindo e já revelou que não se pode padronizar a carga de treinamento para pessoas diferentes, ou seja, cada atleta deve treinar de acordo com suas condições físicas”, destaca o professor. Inovação da Outplan permite que torcedor use cartão de crédito para entrar em estádio de futebol fotos: Flávio Pinheiro Carneiro Radler (acima) coordena laboratório responsável pela análise de exames antidoping nos Jogos Pan-americanos 2007 Locus • Julho 2007 35 s u c e s s o Negócio nutrido com pesquisa O projeto de um nutricionista empreendedor deu origem a uma empresa capaz de gerar 120 toneladas de produtos por ano, graças ao investimento pesado em P&D Maurício Frighetto Divulgação/Nuteral O Guimarães: pesquisadores devem transformar teses em produtos 36 Locus • Julho 2007 primeiro produto lançado pela cearense Nuteral, o Integral Mix – idealizado para combater a desnutrição infantil –, não vendeu nenhuma unidade e foi retirado do mercado. Augusto Guimarães, fundador e presidente da empresa de biotecnologia em nutrição humana, nem pensou em desistir. Quatorze anos depois, a Nuteral está consolidada: possui sete patentes ativas, seis em fase de registro, lançou uma linha de 46 produtos e já venceu o Prêmio Finep de Inovação Tecnológica, em 2006, na categoria Pequena Empresa. A história da Nuteral se confunde com a vida de seu fundador e presidente. Em 1992, Guimarães cursou doutorado na Universidade de São Paulo (USP). Na capital paulista, o nutricionista passava os dias identificando membranas e trabalhando com linfócitos e mastócitos. O objetivo era analisar os ácidos graxos e estudar a ação do consumo de gorduras para prevenir e tratar doenças. Em 1993, depois de fazer pós-doutorado na Universidade de Oxford, o professor voltou a Fortaleza para ministrar aulas na Universidade Estadual do Ceará (UECE). Embora nunca tivesse pensado em ser empresário, Guimarães aceitou o convite do superintendente do Parque de Desen volvimento Tecnológico da Universidade Federal do Ceará (Padetec), Afrânio Craveiro, para constituir uma empresa incubada. E em um espaço de 50 metros quadrados fundou a Nuteral em 1994. “O exemplo da Nuteral é um incentivo aos pesquisadores do Brasil a tirarem suas teses das prateleiras e transformá-las, de fato, em produto, agregando valor econômico e social ao país”, afirma. A Nuteral é especializada em produtos nutricionais, os chamados medical foods. Nutrição clínica, suplementos nutricionais e ingredientes para indústrias de alimentos são os três ramos da empresa. Tem capacidade para produzir 120 mil quilos de produtos por ano, voltados a pacientes que sofrem com doenças como Alzheimer, AIDS, cardiopatias, desnutrição e obesidade. De acordo com Guimarães, uma das linhas mais bem comercializadas pela empresa é o Reabilit. Com patente registrada, o produto foi lançado em 2000, depois de seis anos de pesquisa e um investimento de R$ 2 milhões. Foi a primeira dieta especialmente produzida para pacientes em recuperação. O empreendedor ressalta que o produto substitui os tradicionais sucos e papinhas de pacientes que saem do hospital e não sabem como se alimentar. Com 26 funcionários, a Nuteral faturou R$ 9,2 milhões em 2006 e investiu 26,4% desse total em pesquisa e desenvolvimento. Depois de sair da incubadora, em 1996, a empresa já passou por duas reformas. Neste ano, a Nuteral gastou R$ 600 mil em melhorias no processo industrial, no controle de qualidade e na duplicação do seu parque. Hoje a empresa está instalada em 12 mil metros quadrados de área. A Nuteral também inovou no processo de comercialização. O Nuteral Balance, produto em pó voltado para o controle de peso, mas com o objetivo de tratar também doenças como diabetes, hipertensão e osteoporose, é vendido com exclusividade para nutricionistas por meio do projeto “Nutricionista Certificado Nuteral”. De acordo com Guimarães, o projeto estimula a atividade empreendedora desses profissionais. Para ter acesso aos produtos, o nutricionista precisa passar por um processo de certificação. Dos 40 mil profissionais de nutrição brasileiros, cerca de mil estão cadastrados. “Essa ferramenta garante que o nosso cliente de ponta, quando estiver consumindo o nosso produto, tenha de fato a indicação clínica correta do nutricionista. O Nuteral Balance tem um diferencial importante no nosso negócio”, conta Guimarães. Isnádia Costa Silva foi uma das primeiras nutricionistas certificadas pelo projeto. De acordo com a profissional, o Nuteral Balance pode mudar a história clínica do paciente, baixando a taxa de colesterol e de glicose e diminuindo os sintomas de TPM para as mulheres. “Nós temos a chance de identificar a necessidade nutricional, prescrever o suplemento certo e não temos um balconista na outra ponta que vai mudar a prescrição. Desse modo, o suplemento prescrito tem muito mais chance de ser usado com sucesso pelo paciente, trazendo a melhoria da qualidade de vida em diversos aspectos”, diz. Em 2005, foi criado o Instituto de Tecnologia Nuteral, para fazer pesquisa e desenvolvimento para a empresa. Há a interação com pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, da Universidade Federal do Paraná, da Universidade Federal do Ceará e da Universidade Estadual do Ceará. Também há parcerias com institutos nos Estados Unidos, na Irlanda e na Inglaterra. Divulgação/Nuteral Crescimento constante Linha Nuteral tem 46 produtos Persistência Apesar do sucesso alcançado com outros produtos, Guimarães, que tem 44 anos, não desistiu do primeiro projeto. O pesquisador-empresário voltou à idéia que surgiu no doutorado: o Nutty, formulado para recuperar crianças desnutridas, deverá ser lançado neste ano e será vendido por meio de um site, a preço de custo. Os interessados poderão fazer doações e então o produto será entregue às entidades que cuidam de crianças em qualquer lugar do Brasil. “Envolvido no sonho de ajudar as pessoas mais pobres do meu estado, no Padetec, investi dois anos num produto chamado Integral Mix. Depois de dois anos entendi que desnutrição não se trata com produto nutricional, mas com políticas”, afirma o empreendedor. 26 funcionários R$ 9,2 milhões de faturamento em 2006 26,4% investidos em P&D 40% de crescimento no último triênio 7 patentes ativas 6 em fase de registro 46 produtos 10 marcas lançadas entre 2005 e 2006 Prêmios • (1999) Melhor projeto tecnológico Raio X proveniente de universidades brasileiras, concedido por IEL-CNI • (2002) Empresa do Ano, concedido por Anprotec, CNPq, CNI, Finep e MCT • (2003) Prêmio Customer Appreciation DMV, concedido por DMV • (2003) Prêmio TOP 10in, case empresa privada, concedido pelo Diário do Nordeste • (2004) Medalha do Conhecimento, concedida por Ministério do Desenvolvimento, CNI e Sebrae • (2004) Prêmio Finep de Inovação Tecnológica, categoria Pequena Empresa, 3º lugar/Nordeste • (2006) Prêmio Finep de Inovação Tecnológica, categoria Pequena Empresa Locus • Julho 2007 37 i n t e r n ac i o n a l uma parábola descendente, na qual a taxa tende a ser maior nos países de renda média e menor nos países de renda alta. Quanto à taxa de empreendedores estabelecidos, ocorre algo semelhante. Os oito melhores colocados também são países de renda média, com as Filipinas em primeiro lugar. Rússia, França e Emirados Árabes – três países de renda alta – obtiveram as menores taxas. Essa revelação da pesquisa pode ter explicações que envolvem o perfil demográfico, as características institucionais, a cultura e mesmo o padrão de seguridade social de cada país. Menos renda, mais empreendedores Pesquisa confirma que e m países de renda média há mais empreendedores do que nos de renda alta. O desafio das nações menos desenvolvidas ainda é criar negócios por oportunidade Emília Chagas O s países de renda média enfrentam uma série de dificuldades para desenvolver o empreendedorismo. Faltam políticas públicas que facilitem a criação de empresas, que promovam a capacitação dos empresários e que incentivem a inovação tecnológica. Ainda assim, esses países surpreendem e lideram os rankings internacionais de taxas de empreendedores iniciais e estabelecidos. Um sinal de que os povos de países como Peru, Filipinas, Indonésia e também do Brasil vêem no empreendedorismo a saída para seu desenvolvimento. É o que revela a última edição da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), lançada no Brasil no mês de abril. Na classificação por taxa de empreendedores iniciais, os oito primeiros colocados possuem renda média, liderados pelo Peru. Já os 11 últimos do ranking são países de renda alta, sendo que a Bélgica teve a pior colocação. Essas variáveis formam 38 Locus • Julho 2007 Diferenças sociais No caso das Filipinas, por exemplo, a atividade empreendedora inicial é de 20,4%, sendo que as mulheres estão à fren te da maioria dos empreendimentos. O país ocupa a primeira posição no índice de empreendedores estabelecidos e a terceira no de empreendedores iniciais. No entanto, a maioria dos empreendimentos é de pequena escala e se concentra no setor de serviços. As atividades empreendedoras ganharam um importante impulso no ano passado, quando o governo filipino institucionalizou a educação para o empreen dedorismo naquele país. Além disso, os filipinos acreditam que empreender é uma escolha profissional desejável. Cerca de 80% dos entrevistados disseram que empreendedores bem-sucedidos ganham res peito e prestígio social. Na Bélgica, onde o PIB per capita é 6,5 vezes maior que nas Filipinas, o índice de atividade empreendedora em fase inicial chega a um décimo do registrado no país asiático. A taxa era de 3,5% em 2005 e caiu para 2,7% em 2006. Apenas 47% dos belgas entrevistados disseram que escolheriam o empreendedorismo como profissão. Esse índice caiu 20% entre 2005 e 2006. Para a coordenadora técnica do projeto no Brasil, Simara Greco, o eficaz sistema de seguridade social da Bélgica faz com que a população desempregada não reaja à situação montando uma empresa. “Além disso, o espaço para a cobertura de demandas é reduzido, uma vez que o país tem população e área geográfica menores”, comenta. Como resultado, somente 27,7% dos entrevistados afirmaram conhecer pessoalmente alguém que iniciou um negócio nos últimos dois anos. Segundo o coordenador do Programa de Estudos Avançados em Pequenas Empresas, Acesso ao Crédito e Meios de Pagamento da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (Ebape/FGV), Francisco Barone, a situação da Bélgica se repete em muitos países desenvolvidos. “Os estudantes atrasam sua entrada no mercado de trabalho, terminam mestrado, doutorado, antes de começar a trabalhar. E por mais que o indivíduo não consiga uma colocação no setor privado, com uma rede de amparo social desenvolvida, empreender torna-se apenas a terceira opção”, afirma. Já nos países de renda média, é maior o número de pessoas que precisam empreender para se manter. Necessidade versus oportunidade A motivação para o empreendedorismo é outro fator que diferencia os países de renda média dos países de renda alta. Aqueles que têm PIB per capita superior a US$ 20 mil empreendem mais por oportunidade. Já nos países de renda inferior a essa cota, os indivíduos, em geral, têm duas opções: ou empreendem ou não têm colocação no mercado de trabalho. A principal conseqüência de uma nação ter grande número de empresas criadas por necessidade é a continuidade da baixa estrutura de capital do país. Já os países com renda alta, que possuem mais empresas criadas por oportunidade, conferem maior magnitude ao que os economistas chamam de efeito multiplicador de renda. “O empreendimento criado por oportunidade é mais estruturado, compreende a inovação tecnológica, favorece a melhoria da situação de emprego, pode vir acompanhado de patente e gera mais riqueza para o país”, resume Simara Greco. Nos países de renda média os indivíduos precisam empreender para não ficar fora do mercado de trabalho A pesquisa O Peru pode ser considerado uma exceção à regra. Tem uma das maiores taxas de empreendimentos motivados por oportunidade (74%) dentre os países de renda média. No entanto, o país enfrenta dificuldades administrativas e legais para constituição e operação de empresas, o que leva a altos índices de informalidade na economia. O povo peruano, bastante criativo, tem a atividade empreendedora como uma das principais alternativas para colocação no mercado de trabalho. Os empreendedores contam com o apoio de universidades, organizações não-governamentais (ONGs), empresas privadas, instituições financeiras, instituições públicas e da mídia. “Em países como o Peru, as ONGs internacionais e a sociedade civil organizada suprem as falhas do governo na promoção do empreendedorismo”, O Global Entrepreneurship Monitor (GEM), criado em 1999, é o maior estudo mundial sobre a atividade empreendedora. Na edição de 2006, os cinco continentes foram representados na pesquisa com a participação de um total de 42 países, 21 deles de renda média e 21 de renda alta. São considerados de renda média os países com PIB per capita inferior a US$ 20 mil. As nações que têm poder de compra individual superior a este valor foram classificadas como de renda alta. Colômbia, Emirados Árabes, Filipinas, Indonésia, Malásia, República Tcheca, Turquia e Uruguai participaram do ciclo de pesquisa pela primeira vez. O Brasil participa do GEM desde 2000. Neste ano, foram entrevistadas 2 mil pessoas no país, com idades entre 18 e 64 anos, de 27 cidades, que estão à frente de novos empreendimentos com até três anos e meio (empreendedores iniciais) ou com mais de 42 meses (empreendedores estabelecidos). A pesquisa tem margem de erro de 1,47% e conta com a opinião de 37 especialistas brasileiros. “A pesquisa é uma importante ferramenta para tomada de decisões, na qual todos os gestores públicos deveriam se balizar”, afirma Francisco Barone, da FGV. O estudo é coordenado pela London Business School (Inglaterra) e Babson College (Estados Unidos) e abrange cerca de 50 países consorciados, que representam 90% do PIB e dois terços da população mundial. No Brasil, o projeto é coordenado e executado pelo Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP), em parceria com o Sebrae Nacional, a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Sistema FIEP), a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR) e o Centro Universitário Positivo (Unicenp). 39 Locus • Julho 2007 Brasil perde empreendedores nascentes O número de empreendimentos nascentes no Brasil caiu quase pela metade, entre os biênios 2003-2004 e 2005-2006, segundo a pesquisa GEM. A taxa média no primeiro período era de 5,75% e passou para 3,3% no segundo período. De acordo com a coordenadora do projeto GEM no Brasil, Simara Greco, faltam, principalmente, linhas de crédito para negócios nascentes ou que vão iniciar. “Há financiamentos, mas voltados para quem tem garantias, algo que as empresas nascentes não têm”, afirma. Segundo Francisco Barone, da FGV, essa queda devese a conhecidos fatores limitantes ao empreendedorismo, que inibem a criação de novas empresas e abrem espaço para a informalidade na economia. “A legislação trabalhista no país é obsoleta, a carga tributária é muito elevada, a burocracia dificulta a abertura e o fechamento das empresas, e o empreendedor encontra dificuldades para o cumprimento de contratos”, enumera o economista. Para ele, esses fatores contribuem para que, a cada empresa formal, o país tenha duas informais. “Ninguém quer ter o governo como sócio, pagando 40% do faturamento em impostos”, ressalta. O economista aponta uma possível saída para a questão: a motivação dos jovens empresários com idade entre 25 e 34 anos. “É o jovem que está dando sangue novo, é através do jovem que se conseguirá reverter a queda no número de empresas iniciais no Brasil”, afirma. Mais da metade dos empreendedores do Brasil está nesta faixa etária. Embora possam ter menos maturidade profissional, os jovens empreendedores são mais propensos a correr riscos. “E quanto maiores os riscos, maiores os lucros”, enfatiza Barone. Fonte: GEM Brasil Um modelo a seguir Barone: rede de amparo social inibe empreendedorismo em países desenvolvidos 40 Locus • Julho 2007 constata Francisco Barone. No Peru, os empreendedores de sucesso tornam-se ícones sociais e a maior parte da atividade empreendedora é considerada pelo GEM como desenvolvida. Outro caso à parte é a Indonésia, onde 86% dos empreendimentos surgem por oportunidade. Porém, isso não significa um índice maior de inovação. Mais de 80% dos empreendimentos novos são restaurantes ou barracas de rua, pequenas mercearias, agronegócios ou lojas de roupas. O empreendedorismo faz parte da cultura do povo indonésio. Cerca de 40% da população disse que pretende começar um novo negócio nos próximos três anos. No entanto, os empreendedores sentemse desencorajados pela falta de acesso a financiamento, pela demora para conseguir licenças e pelos custos para montar novos negócios no país. Embora os países de renda média tenham surpreendido no resultado da pesquisa, os especialistas concordam que se tratando de empreendedorismo bem desenvolvido, o melhor exemplo ainda são os Estados Unidos. A atividade empreendedora inicial caiu de 12,4% em 2005 para 10% no ano passado, mas a situação do país ainda é bastante promissora. “Lá (nos Estados Unidos) se abre uma empresa em menos de uma semana. As facilidades são combinadas com o espírito empreendedor do povo norte-americano”, afirma Simara. A maioria dos 6,8 milhões de empregos criados naquele país entre agosto de 2003 e outubro de 2006 foi por demanda de pequenas empresas. Entre os empreendedores iniciais americanos, 52% têm pós-graduação. “O que move a geração de renda nos EUA é o empreendedorismo por oportunidade”, aponta Barone. Prova disso é que cerca de 32% dos empreendimentos em fase inicial usarão tec nologia de ponta para oferecer produtos novos aos clientes. Isso indica que, por melhores que sejam as colocações dos países de renda média nos rankings globais, essas nações ainda têm muito que fazer para conseguir consolidar o empreendedorismo. g e s t o Plugado no m u n d o Exportar exige busca incessante por informações e muito planejamento. Para fazer negócio no exterior, internet pode ser decisiva Anderson Carvalho O momento de uma empresa ultrapassar as fronteiras do país pode chegar tanto por meio de parcerias quanto a partir de uma iniciativa do próprio empreendedor. Mas para explorar essa nova fração de mercado é preciso ter cautela, paciência e persistência. Os resultados das primeiras transações, em geral, não aparecem de imediato. A receita pode chegar em longo prazo e tanto o gestor quanto os métodos de produção da empresa precisam se adaptar a uma nova realidade. Segundo o consultor italiano Nicola Minervini – diretor da International Mar keting Consulting, com sede na Itália, e autor do livro O Exportador –, o fato de um produto vender bem no mercado interno não significa que a empresa já está preparada para exportar. “Muitas vezes é preciso adquirir mais competitividade no mercado nacional para depois pensar na exportação. É importante avaliar co mo a empresa está atualmente quanto aos aspectos estruturais como qualidade, tempo de entrega, embalagem e fornecedores”, explica. Além de mudanças operacionais, o foco na exportação exige uma mudança de postura na gestão do negócio. “É uma das grandes vantagens da internacionalização, pois o gestor precisará estruturar a empresa de maneira a cumprir rigorosamente os novos compromissos e prazos de entrega, exigências de qualidade e serviços acoplados aos produtos”, explica o professor Miguel Lima, coordenador acadêmico do MBA em Gestão de Comércio Exterior e Negócios Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV). “A mudança de postura começa na ciência de que os resultados conquistados no comércio exterior são vistos em médio-longo prazo e o gestor precisa se preparar, além de ter bons conhecimentos de diferentes culturas para poder negociar”, completa Minervini. Para o consultor do Sebrae Jaime Akila Kochi, especialista em comércio exterior, a principal mudança na rotina do gestor de uma empresa que pretende exportar está na necessidade de adquirir conhecimento. “É importante ter o máximo de informações possíveis sobre o país para o qual se quer exportar e, se possível, fazer uma visita para conhecer os hábitos do novo mercado.” Essa etapa, segundo ele, pode ser facilitada pelo uso da internet. Locus • Julho 2007 41 g e s t o A internet facilita o conhecimento de hábitos de consumo e de normas técnicas vigentes em cada país “Hoje é possível ter várias informações sobre o exterior sem ir até lá. Nos sites do governo existem diversas informações estatísticas: é possível saber se determinado país já importa o mesmo tipo de produto, quem são os principais concorrentes e onde estão localizados. Informações que contribuem para a realização de um plano de exportação.” A internet também pode funcionar como fonte de informação para os processos regulares e etapas da exportação. Dentre os sites que oferecem informações desse tipo estão os do Sebrae, APEX, Secex, Funcex, Banco do Brasil, Correios e o Portal do Exportador. “O gestor só con seguirá diminuir os riscos de uma exportação malsucedida informando-se e conhecendo a mecânica do comércio exterior. Fotos: divulgação Minervini: informação evita venda malsucedida no exterior Equipe Coss Consulting trabalha para ampliar relações internacionais da empresa 42 Locus • Julho 2007 A partir daí é importante selecionar bem os parceiros e já praticar as mudanças estruturais”, afirma Minervini. As primeiras alterações organizacionais talvez sejam necessárias ainda na etapa de produção. Mudanças de rotina que há três anos são praticadas na Pronatus do Amazonas, instalada no Centro de Incubação e Desenvolvimento Empresarial (CIDE), em Manaus. “Para atender o mercado externo é preciso criar diferentes métodos de produção e por isso a empresa passou por uma reformulação no layout da fábrica, mudança de embalagens, alterações no método de expedição e no de controle de qualidade. Mas a maior dificuldade foi encontrada na adequação das instruções dos rótulos dos produtos”, explica Evandro Silva, gestor da empresa exportadora de fármacos à base de guaraná em pó, mel de abelha e copaíba. No caso da exportação de produtos é fundamental conhecer as exigências técnicas e as normas de cada país referentes aos rótulos e embalagens, para que os produtos não sejam devolvidos e o dinheiro desperdiçado. “O parceiro importador poderia ajudar nessa tarefa informando sobre as normas técnicas e sobre as exigências das etiquetas e embalagens dos produtos”, afirma Minervini. Mas nem sempre os empreendedores contam com esse tipo de suporte. Talvez por isso a Organização Mundial do Comércio (OMC) criou o Acordo Sobre Barreiras Técnicas ao Comércio, determinando que todo país tenha um órgão considerado o “ponto focal”, encarregado de receber as normas técnicas para as exportações de produtos do mundo todo. Então, se o importador não puder facilitar essa tarefa, o Para exportar com sucesso Visite outras feiras do mesmo ramo de negócios (primeiro como visitante e depois como expositor), pois ali estão concorrentes e clientes 1 Faça uma avaliação da sua capacidade competitiva 2 Esteja bem informado sobre as etapas da exportação 3 Visite a maior feira do setor 8 4 5 6 Aprimore seus conhecimentos gerais sobre a cultura e os costumes do país-alvo gestor pode recorrer ao “ponto focal” brasileiro, o Inmetro – (www.inmetro.gov.br/ barreirastécnicas/pontofocal). “Na internet há muito material, disponibilizado não apenas pelo governo brasileiro, mas também pelos governos de outros países. Para isso o domínio do idioma estrangeiro também ajuda”, diz Kochi, do Sebrae. Além de fonte de informação, a internet precisa ser encarada como ferramenta de acesso ao mercado externo. A Pronatus, por exemplo, está cadastrada no Balcão de Comércio Exterior do Banco do Brasil e foi através da internet que recebeu o primeiro contato para exportação dos produtos da empresa. “A primeira solicitação de parceria veio pelo e-mail cadastrado no site do banco”, afirma Silva. Se o portal da própria empresa na internet estiver bem estruturado, aumentam as chances de progressão dos contatos antes das transações internacionais, pois o site representa um link direto para serviços e produtos oferecidos pelo exportador. Mas os especialistas garantem que não basta adequar os métodos de atendimento virtuais sem mudanças na estrutura interna da empresa. “São as barreiras internas que trazem maiores problemas. É mais difícil vender a idéia da exportação na empresa do que vender o produto no exterior, pois exportar exige uma mudança de postura de toda a equipe”, ressalta Minervini. Quando o método de atendimento, em alguns casos, é o “objeto” exportado, Identifique seus concorrentes no exterior 7 Crie uma rede de apoio formada por fornecedores e entidades Programe sua ação de promoção 9 Busque selecionar bem os parceiros: não inicie o processo com o primeiro que conhecer 10 Busque associar-se a uma rede de empresas 11 Veja o mercado externo como uma alternativa e não como substituto às vendas internas os cuidados devem ser redobrados. É o caso de empresas de consultoria, que prestam serviços de avaliação das necessidades empresariais, implantação e viabilização de novos processos produtivos. Para garantir atuação global, a Coss Consulting, instalada no ParqTec, em São Carlos (SP), tem focado nas estratégias de relacionamento com clientes, enfatizando os processos de vendas, marketing e serviços. “O que credencia a empresa a atender clientes em qualquer parte do globo é uma boa rede de parceiros e colaboradores de negócios, com experiência e sólida formação acadêmica, desenvolvida em empresas e instituições de primeira linha. Em geral conhecedores de no mínimo três idiomas”, afirma o gestor da empresa, Luis Carlos Colella. Lições da empresa de São Carlos para qualquer empreendedor que pretenda cruzar fronteiras. Colella: boa rede de parceiros credencia a empresa a atender em todo o mundo Locus • Julho 2007 43 O ranking do empreendedorismo No topo Conheça as empresas que lideram o ranking B2ML Sistemas Os resultados da primeira tarefa do programa comprovam que o envolvimento da equipe faz toda a diferença Isabel Colucci O programa Empreender É Show conheceu em junho os vencedores de sua etapa inaugural. Na tarefa de número um do primeiro reality experience brasileiro do setor de incubação, os competidores tinham a missão de projetar a imagem da empresa e de seus produtos com a produção de conteúdo para internet. Saíram na frente a B2ML Sistemas (20 pontos), a BCS Tecnologia (15 pontos), a Consulti (15 pontos), a Favela Receptiva (nove pontos) e a TV Bus (nove pontos). De perfis, tamanhos e ramos de atuação diferentes, as campeãs têm em comum a forma como se organizaram para enfrentar o primeiro desafio do programa. A designação de responsáveis, entre a equipe de colaboradores, que deveriam estar focados no cumprimento da tarefa foi fator determinante para a chegada dessas empresas às primeiras colocações. Na B2ML Sistemas, três dos 16 funcionários estavam encarregados de produzir conteúdo e alimentar o site da empresa no Empreender É Show. Com cinco colaboradores a menos, a Consulti delegou o tra- o que é O Empreender É Show é um reality experience, criado pela Anprotec, que reúne nove empresas, de diferentes setores, para estimular o empreendedorismo inovador. Até setembro deste ano, as empresas terão que realizar uma tarefa por mês e serão avaliadas pelo público e por uma comissão julgadora. A vencedora ganhará uma viagem internacional, para prospecção de negócios, e um ano de anúncio gratuito na revista Locus . O segundo colocado será premiado com um notebook e anúncio gratuito em duas edições da revista. Acesse www.anprotec.org.br/empreendereshow e saiba tudo sobre o programa! 44 Locus • Julho 2007 Com um produto no mercado, a empresa residente na Incubadora de Base Tecnológica de Itajubá (MG) é alavancada pelo dinamismo e vontade de empreender de seus funcionários. Formada por estudantes e recém-formados, com idade entre 18 e 25 anos, a B2ML Sistemas desenvolve soluções em Tecnologia da Informação para gestão empresarial e internet. A empresa, fundada em dezembro de 2005, fatura hoje cerca de R$ 5 mil por mês. A decisão de participar do Empreender É Show veio pelo potencial de divulgação que o programa oferece. As visitas ao site da empresa cresceram 20% desde a adesão ao programa. Os três funcionários responsáveis pelo Empreender É Show estão dedicando boa parte de seu tempo ao cumprimento da próxima tarefa. balho ao mesmo número de pessoas que a primeira colocada e, além de ficar em segundo lugar, assistiu ao crescimento de 40% no acesso à sua página virtual. De menor porte, a BCS só teve Cristiane Uldlich à frente da tarefa. A empresa tem apenas três colaboradores, mas Cristiane manteve a participação no reality experience entre suas prioridades e assim garantiu a segunda colocação, empatada com a Consulti. O resultado da primeira missão do Empreender É Show é mais uma prova de que não se pode escapar das conseqüências da falta de profissionais e de tempo disponíveis para a execução de uma tarefa específica. Na Nutribox, que hoje amarga a última colocação, o executivo Fernando de BCS Tecnologia Se a B2ML é movida pelo entusiasmo de seus jovens, a BCS Tecnologia tem suas bases na experiência de seus proprietários. Residente desde setembro de 2005 na Incubadora Tecnológica da Unicamp (SP), a empresa é gerida por três profissionais com pelo menos 14 anos de presença no mercado médico-hospitalar e atua no desenvolvimento de protótipos para auxílio no planejamento cirúrgico. Para realizar a próxima tarefa, Cristiane conta com o apoio da gerente da incubadora e está concentrada no plano de lançamento de seu produto. Souza Campos admite que ser o único profissional da parte administrativa prejudicou o desempenho da empresa na competição. A Nutribox fatura R$ 20 mil por mês e tem 10 colaboradores. Mas, sem poder dividir suas atribuições, ele não conseguiu manter o foco na tarefa e acabou por se dedicar ao programa apenas quando tinha tempo livre. “A empresa vai recuperar posições no ranking com a segunda missão, mais próxima dos planos da Nutribox que a primeira”, afirma. Consulti Incubada desde 2003 no Micro Distrito Industrial de Base Tecnológica do Sul (Midisul/SC), a empresa teve crescimento de 260% nos últimos três anos. Está consolidada no mercado nacional com o desenvolvimento de software de gestão empresarial, prestação de serviços em Linux e instalação, migração, atualização e administração do banco de dados Oracle. Em 2006, teve faturamento de R$ 584 mil, e até maio de 2007 já obteve R$ 282 mil. Na próxima etapa, a empresa deve manter o mesmo estilo de atuação. Os três colaboradores responsáveis já estão empenhados no cumprimento da tarefa. Com a participação no Empreender é Show, o número de acesso aos sites das empresas participantes chegou a crescer 40 % Próxima tarefa Na segunda missão do Empreender É Show , o desafio se aproxima da produção das empresas. Agora, as incubadas escolhem um de seus produtos para alavancar no mercado e, para isso, precisam realizar um estudo de viabilidade e propor estratégias de lançamento. O estudo e as estratégias serão desenvolvidos com auxílio do Sebrae e os competidores terão 11 dias para realizá-los. O plano de ação deverá ser apresentado em um vídeo de um minuto e em uma páginarelatório mais detalhada no site www.anprotec. org.br/ empreendereshow). Ranking Público 10 Pontuação Júri 10 Geral 20 Incubadora Tecnológica da Unicamp – Incamp (SP) 8 7 15 7 8 15 4 5 9 6 3 9 2 6 8 Hollos Micro Distrito Industrial de Base Tecnológica do Sul – Midisul (SC) Incubadora Afrobrasileira (RJ) e Incubadora Social de Comunidades do Instituto Gênesis – PUC/RJ Incubadora da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de Pernambuco – Incubatep (PB) Multincubadora do CDT – UnB (DF) 6 2 8 8º Kognitus Incubadora de Empresas da Coppe/UFRJ - RJ 3 4 7 9º Nutribox Incubadora de Empresas de Barão de Mauá - SP 1 1 2 Colocação 1º 2º 4º Competidor Incubadora B2ML Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de Itajubá (MG) BCS Consulti Favela Receptiva TV Bus 6º Biológicus Retificação: a empresa TV Bus reside na Incubadora da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e não de Mato Grosso, conforme publicado na última edição de Locus. Locus • Julho 2007 45 e d u c a o Um país analfabeto em ciências Com um dos piores desempenhos mundiais no ensino de ciências, o Brasil precisa unificar políticas públicas para fugir do analfabetismo científico e tecnológico Adriane Alice Pereira ciência e a tecnologia estão entre os assuntos que mais despertam o interesse dos brasileiros. Uma pesquisa divulgada neste ano pelo Ministério da Ciência e Tecnologia apontou que 41% dos brasileiros têm muita vontade de saber mais sobre o universo da ciência. No entanto, para os outros 59% o tema atrai pouca ou nenhuma atenção. E o motivo alegado pela maioria para essa falta de interesse é a dificuldade de compreender o assunto. Essa dificuldade pode estar diretamente ligada à qualidade do ensino de ciências do Brasil. O país é o último colocado entre as 41 nações participantes do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) quanto à média dos estudantes na área de ciências. Na mais recente avaliação divulgada, de 2003, o foco dos testes foi a Matemática e quase 5 mil alunos brasileiros participaram da prova. Entre os seis níveis A 46 Locus • Julho 2007 de desempenho analisados (de 1 a 6), 53,3% dos estudantes do país ficaram abaixo do nível 1. O país que teve o melhor desempenho foi Hong Kong, seguido pela Finlândia e pela Coréia do Sul. Números como esses acirram o debate sobre o impacto que a carência no ensino de ciências provoca. “A educação científica de má qualidade cria uma população despreparada para tomar decisões, por exemplo, sobre aspectos pessoais como saúde e qualidade de vida”, afirma Myriam Krasilchik, professora emérita da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Ary Mergulhão, responsável pela área de ciências na Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Tecnologia (Unesco) do Brasil, compartilha a visão da professora. “A educação científica qualifica as pessoas para exercerem a sua cidadania”, acrescenta. Custo elevado O conhecimento científico e tecnológico também é fundamental para a definição de estratégias de crescimento e desenvolvimento do Brasil. “O país paga um alto preço pela deficiência no ensino de ciências. Um exemplo desse impacto é o grande número de vagas disponíveis para tantos desempregados sem qualificação”, aponta Mergulhão. “O atraso no ensino de ciências retarda também o processo de inovação das empresas e a atração de investimentos, gerando mais custos para as organizações que precisam desenvolver iniciativas próprias de qualificação”, diz o especialista. A urgência por mudanças no ensino de ciências e na educação brasileira de forma geral é cada vez mais evidente. O recente Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), conhecido como PAC da Educação, lançado pelo governo federal neste ano, propõe informatização das escolas, formação e piso salarial para professores, ampliação de bibliotecas, além de outras ações. Para o representante da Unesco, a iniciativa é bem-vinda, mas outros fatores precisam ser observados quanto às políticas públicas para o ensino de ciências. “A educação científica tem dois lados. O primeiro é o ensino formal nas salas de aula e o segundo é o aprendizado nãoformal, resultado de todo o aparato fora da escola como museus, competições e premiações”, afirma Mergulhão. “Os dois lados são fundamentais e a relação entre eles é muito importante”, completa. No Brasil, segundo o especialista, ainda existem poucas atividades “não-formais” e, por isso, é muito difícil encaixá-las em políticas públicas. “Atualmente, as políticas para o aparato formal são definidas pelo Ministério da Educação e as do nãoformal são encaminhadas pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. É necessário que essas duas vertentes conversem para convergir e beneficiar os alunos e as escolas”, explica. b o n s e x e m p l o s Iniciativas em todo o país tornam a ciência mais atraente para jovens estudantes Colaboração: Carla Cabral Olimpíada Brasileira de Matemática Criada em 1979, a Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM), organizada pela Sociedade Brasileira de Matemática, tem como objetivo melhorar o ensino da matéria e contribuir para a descoberta de novos talentos em ciências. A competição é aberta a todos os estudantes a partir da 5ª série até o nível universitário. Este ano, 350 mil alunos de 8 mil escolas devem participar do desafio, que começou em 16 de junho. Nicolau Corção Saldanha, hoje professor do Departamento de Matemática da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), foi um dos talentos pioneiros das competições de Matemática no Brasil. Em 1980, aos 16 anos, ele foi medalha de ouro na 2ª OBM, e o primeiro brasileiro a conquistar a premiação máxima numa disputa internacional um ano depois. “A olimpíada tem várias qualidades: tornar a Matemática uma coisa interessante e não rotineira, detectar talentos e contribuir para a inclusão social”, afirma. Prêmio Jovem Cientista Iniciativa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/ MCT), do Grupo Gerdau, da Fundação Roberto Marinho e da Eletrobrás, tem como objetivos estimular a pesquisa, revelar talentos e investir em estudantes e profissionais que procuram alternativas para os problemas brasileiros. O Prêmio está em sua 23ª edição e é um reconhecimento a pesquisas inovadoras realizadas por estudantes dos ensinos médio e superior. Talentos para a indústria O objetivo do programa Talentos para a Indústria, desenvolvido pelo Serviço Social da Indústria (SESI), é estimular jovens de 11 a 16 anos a desenvolverem sua criatividade e competência na área de tecnologia por meio de jornadas de conhecimento que abordam temas diversos. Realidade Virtual A Virgo Realidade Virtual, empresa residente na Incubadora de Empresas e Projetos do Inatel, em Santa Rita do Sapucaí (MG), desenvolve o software educativo Quasar, um ambiente de simulação em realidade virtual. “A ferramenta oferece um curso interativo de Física Mecânica, que complementa as atividades tradicionais de sala de aula”, afirma Mario Lapin, diretor da Virgo. Com o Quasar os alunos são instigados a investigar o comportamento de fenômenos naturais no ambiente virtual, a fim de resolver desafios apresentados na proposta do curso. O estudante pode interagir com simulações físicas que representam situações da realidade cotidiana. Um pacote contendo o Quasar começará a ser avaliado por escolas de todo o Brasil, a partir do último trimestre deste ano. Locus • Julho 2007 47 criatividade Um passo para a inovação Em empresas de qualquer porte, o desenvolvimento da criatividade é essencial ao processo inovador Rodrigo Lóssio N ão é mais possível admitir que, em pleno século XXI, uma empresa que almeja o sucesso não tenha como lema a inovação. Mas, além disso, é preciso ter como princípio o processo criativo. É com a combinação dessas duas ações – criar e inovar – que organizações continuarão a existir nas próximas décadas e, junto a diversas ações estruturantes, manterem-se competitivas. Segundo o professor e consultor Victor Mirshawka Junior, diretor de pós-graduação da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), empresas que não estimulam a criatividade entre seus funcionários tenderão a desaparecer nos próximos anos. “As organizações precisam se imbuir do espírito da criatividade, já que isso faz parte do processo de inovação. Empresas que não estimulam o ato de criar no trabalho individual e em equipe não têm a capacidade de se reciclar, inovar”, indica o professor. Mirshawka Junior é especialista em inovação e criatividade e presta consultoria para companhias, em geral de grande por- As sete leis da criatividade por Victor Mirshawka 1 - Domine a autocrítica Chover no molhado é preciso. Faz parte da natureza o princípio da seleção, quer seja de espécies, quer seja de idéias. A primeira e talvez mais simples providência que você pode empreender para melhorar sua criatividade é entrar em contato com o seu senso de auto-avaliação. 5 - Aumente seu conhecimento 2 - Seja um entusiasta da mudança 6 - “Distribua” sua criatividade A ligação entre criatividade e mudança é óbvia, pois é esse processo que permite a implementação das idéias criativas, às vezes em detrimento do já existente. 3 - Busque o diferente 48 4 - Persista Não fique no usual: leia assuntos diferentes, coma pratos exóticos, percorra caminhos alternativos, fale com pessoas de experiências diversas. Locus • Julho 2007 Fator imprescindível à criatividade: o conhecimento formal e teórico ou o conhecimento tácito e prático de como fazer algo. Faça com que pelo menos uma parte de seus esforços criativos beneficie outras pessoas além de você. 7 - Sonhe com o impossível Imaginar o futuro, por mais impossível, fantástico, ou aparentemente irrealizável que pareça, além de ser sedutor, é a marca registrada dos grandes inventores, e de alguns dos grandes gênios. te. Isso não significa que empresas menores não devam se preocupar com o tema. Para Mirshawka, o empreendedor por oportunidade é geralmente inovador e muito criativo. “Esse profissional perturba a ordem econômica com um novo produto ou serviço, tendo como base o processo criativo”, complementa. Em relação a outros países, o Brasil ainda fica para trás quando o assunto é inovação. Um recente relatório divulgado pela Economist Intelligence Unit, um instituto de pesquisa internacional, compilou um ranking de 82 economias com base em seus níveis de inovação, entre 2002 e 2006. Com base nessas informações, o EIU identificou que de 2007 a 2011 o Brasil deve cair da atual 48ª para 52ª colocação, sendo suplantado por países como Polônia, Barein, Lituânia e Ucrânia. Para Mirshawka Junior, o desenvolvimento da criatividade poderia ajudar a reverter essa queda. “É preciso instituir a criatividade como processo na empresa. No país, mesmo as organizações consideradas referência no assunto estão pouco estruturadas para criar e, acima de tudo, inovar”, avalia o especialista. Nas organizações que atende, o especialista desenvolve uma consultoria em três níveis: instrumental, metodológico e estratégico. No primeiro, Mirshawka apresenta as técnicas para estimular os profissionais e suas equipes a pensarem de forma criativa. No segundo, apresenta as metodologias e organiza essas técnicas de criatividade na empresa. Já no estratégico, a consultoria atua influenciando principalmente os gestores e acionistas com o objetivo de modificar a cultura corporativa, e, assim privilegiar o ato de inovar – o passo final de um longo caminho. c u l t u r a Bru n o More s c h i Pequena M iss Sunshine Cinema (Little Miss Sunshine, EUA, 2006), 1h41. Direção de Jonathan Dayton e Valerie Faris. Roteiro de Michael Arndt. Com Abigail Breslin, Greg Kinnear, Paul Dano e Alan Arkin. Em DVD. leitura História dos Estados Unidos Autores: Leandro Karnal, Luiz Estevam Fernandes e Marcus Vinicius de Morais. Editora Contexto. 288 páginas. Vale a pena Alguns sentem ódio dos Estados Unidos e outros querem também viver o american life, mesmo que de forma ilegal. A obra conta a história da nação mais poderosa do mundo, aquela que já absorveu tantos imigrantes e, hoje, vive baseada em uma política do medo. A novidade: o livro é escrito por pesquisadores brasileiros. ignore Olive, a filha caçula de uma família tipicamente anormal, é convidada a participar de um concurso de beleza infantil. Mas todos sabem: ela não tem a menor chance. Mesmo assim, os familiares a acompanham por uma viagem aos Estados Unidos de três dias em uma Kombi amarela e velha. O road movie mostra que não existe receita pronta para o sucesso. Preste atenção em como um filme simples e despretensioso pode cativar o público, a crítica e o Oscar. Clássico O Pagador de Promessas (Brasil, 1962), 1h41. Drama. Direção e roteiro de Anselmo Duarte. Com Leonardo Villar, Glória Menezes e Dionísio Azevedo. Em DVD. Zé do Burro é um caboclo que só quer pagar a promessa que fez a Santa Bárbara para salvar seu burro: carregar uma cruz até uma igreja em Salvador. Mas o padre Olavo, representando a intolerância, quer impedir sua entrada na “santa casa de Deus”. Preste atenção em como a falta de comunicação e o excesso de humildade podem causar danos irreparáveis nas pessoas. Clarice Lispector – A hora da Estrela Museu da Língua Portuguesa. Praça da Luz, 1. São Paulo (SP). Tel: (11) 3326-0775. Terça a domingo, das 10h às 17h. R$ 4,00. Até 2/09. A escritora morreu há 30 anos, mas é impressionante como os jovens descobrem cada vez mais a sua obra. O Museu da Língua Portuguesa está repleto de gente nova que quer saber mais sobre a ucraniana que escreveu livros como A Hora da Estrela e Laços de Família. Para quem já conhece muito a escritora, a impressão é de que a mostra pouco acrescenta. Para os novos fãs, um bom começo. Abra as gavetas que preenchem as paredes da exposição e se surpreenda com alguns Cinema originais, cartas a amigos e edições estrangeiras dos livros de Clarice. Lei Universal da Atração Autor: Esther Hicks e Jerry Hicks. Editora Sextante. 192 páginas. A nova moda é a “teoria” de que é possível usar a Lei da Atração para atrair dinheiro, fama, sucesso. Enquanto Newton se revira no caixão, tem gente que garante que a crendice funciona. Não perca seu tempo. Mostra de I nverno Cena Hum De Quinta a Domingo. Até 22/07. Teatro Odelair Rodrigues. Curitiba. A Mostra de Inverno Cena Hum apresenta 14 espetáculos de vários estilos: agrada do público adulto ao infantil. Será um mês inteiro de apresentações em Curitiba, capital paranaense. Leia o volume 2 da Antologia do Pasquim, que cobre a produção Imperativo entre 1972 e 1973 deste jornal tão importante para a história brasileira recente. Escute o CD Veneer, do cantor e violonista escandinavo José González. Imagine João Gilberto no país de Bjork. 49 Locus • Julho 2007 O p i n i o Uma nova visão de negócios Q J osé Dornelas * * Consultor de empresas e professor de empreendedorismo www.josedornelas.com.br 50 Locus • Julho 2007 uando discutimos os dilemas que envolvem o empreendedorismo no mundo atual é natural que abordemos a questão da inovação como diferencial para os negócios. As incubadoras de empresas sempre foram um ambiente propício para a transferência de tecnologia dos centros de pesquisa e universidades, onde a maioria das inovações ocorre – principalmente quando estamos falando de países em desenvolvimento como o Brasil. E essa tem sido a principal motivação para a criação de novos negócios com grande potencial de crescimento nas incubadoras brasileiras. Mas essa é apenas a parte inicial do processo empreendedor. Além de criar negócios inovadores, os empreendedores precisam implementar, desde o início, uma nova visão de negócios, que permeia a inovação em todos os níveis, não apenas no que se refere aos produtos e serviços tecnologicamente diferenciados mas, principalmente, em um modelo de gestão que possibilite o rápido crescimento de suas empresas e o desenvolvimento das pessoas que fazem parte do seu time empreendedor. O dilema recorrente é como fazer com que a inovação se torne sistêmica. A resposta é a implementação do empreendedorismo corporativo – na verdade uma proposta de continuidade do processo empreendedor mesmo depois da criação da empresa. Trata-se de uma opção estratégica que deve ser abraçada pelos empreendedores e disseminada por toda a empresa, mesmo quando estamos falando de uma equipe de poucos funcionários. Com isso, estimula-se o surgimento de novos colaboradores empreendedores, que são os responsáveis por identificar as grandes oportunidades no merca- do e preparar a empresa para capitalizar sobre elas. Para isso, é preciso preparar o “pano de fundo”, criando as condições necessárias para que todos empreendam, em todos os níveis. Isso ocorre a partir de uma visão de negócios alicerçada em valores bem definidos e que priorizem o trabalho em equipe e a meritocracia. Há a necessidade de se institucionalizar o reconhecimento das pessoas quando estas contribuem com ações agregadoras. E, ainda, que se recompensem essas pessoas, que haja mais tolerância a falhas e a aceitação do risco. Sem essa nova visão de negócios, sua empresa provavelmente não estará mais aqui para liderar os novos processos de mudança no mercado e talvez cumpra apenas a primeira etapa do processo: o de se graduar da incubadora. E como os empreendedores podem se dedicar a essas atividades logo de início, já que não têm tempo para tantas tarefas? O planejamento adequado dos negócios, via um plano bem estruturado, mostrará como cada ação estratégica pode ser delineada e implementada. Além disso, o empreendedor e sua equipe precisam valorizar os novos colaboradores que farão parte da empresa assim que ela crescer. Participação em resultados, premiações, bônus e a possibilidade de participação no negócio como sócio também devem fazer parte de uma estratégia empreendedora. A inovação só se tornará sistêmica em seu negócio se você investir em pessoas empreendedoras como você. Essa é a essência do empreendedorismo inovador, algo ainda mais importante que a invenção de soluções criativas que, na maioria dos casos, não evoluem por falta de gestão e gente devidamente motivada para fazer acontecer. www.anprotec.org.br