ambiente da inovação brasileira
Julho 2007
no 49 • Ano XIII
Corrida pela
inovação
O mercado esportivo demanda por centenas
de inovações, nos mais diversos setores.
Vale tudo para melhorar a performance
de atletas e tornar mais confiáveis os
resultados de competições como o Pan 2007
Meio ambiente
Fármacos
Empreendedores descobrem
que sustentabilidade gera lucro
Laboratórios brasileiros investem
em P&D para conquistar mercados
Índice
ambiente da inovação brasileira
Julho 2007 • n o 49 • Ano XIII
ISSN 1980-3842
A revista Locus é uma publicação
da Associação Nacional de
Entidades Promotoras de
Empreendimentos Inovadores
Conselho editorial
Maurício Guedes – presidente
Carlos Américo Pacheco
Gina Paladino
Helena Lastres
Josealdo Tonholo
Coordenação editorial
Débora Horn
Colaboração
Adriane Alice Pereira, Amanda
Miranda, Anderson Carvalho,
Bruno Moreschi, Carla Cabral,
Emília Chagas, Francis França,
Isabel Colucci, Márcio Caetano,
Michelle Araujo, Maurício
Frighetto e Rodrigo Lóssio.
Jornalista responsável
Débora Horn – MTb/SC 02714 JP
Direção de arte
Luiz Acácio de Souza
Edição de arte
Marcelo Prado
Revisão
Sérgio Ribeiro e Lu Coelho
capa
Corrida pela inovação
Os Jogos Pan-americanos 2007
demonstram que esporte e inovação
andam lado a lado. Conheça empresas
de diversos setores que oferecem soluções
a esse mercado em constante expansão.
6 O ex-empresário e sempre bibliófilo José Mindlin conta sua trajetória no mundo
E n t r ev i s t a
dos negócios e garante que a leitura é essencial ao sucesso de qualquer empreendedor.
10Aumintegração
das incubadoras potiguares, o trabalho de mulheres cooperativadas,
edital de apoio a associadas de todo o Brasil, o novo indicador de inovação
E m
m ov i m e n t o
e a homenagem a um guerreiro que partiu. As novidades do movimento estão aqui.
16Empresas
repensam processos e produtos para minimizar as conseqüências
do efeito estufa. A ordem agora é resfriar o planeta!
23Após anos de dependência externa, o Brasil avança na estratégica área de fármacos.
n e g ó c i os
opor t u n i dade
Descubra como os laboratórios do país ganham competitividade.
26 Muitas
empresas sonham em atrair capital de risco. Depois que conseguem,
se deparam com um problema maior: como manter a relação com os novos sócios?
I n ves t i m e n t o
36 Veja
como o pesquisador Augusto Guimarães superou o fracasso do primeiro
produto lançado pela Nuteral e levou a empresa ao topo da inovação brasileira.
s u cesso
Presidente
José Eduardo Azevedo Fiates
Vice-presidente
Guilherme Ary Plonski
Diretoria
José Alberto Sampaio Aranha
Christiano Becker
Paulo Roberto de Castro Gonzalez
Josealdo Tonholo
Superintendência
Sheila Oliveira Pires
Paulo César G. Miranda
Endereço
SCN, quadra 1, bloco C,
Ed. Brasília Trade Center, salas 209/211
Brasília / DF – CEP: 70711-902
Contatos
(61) 3202-1555
E-mail: [email protected]
Website: www.anprotec.org.br
Portal: www.redeincubar.org.br
Anúncios: (61) 3202-1555
[email protected]
Produção
Apoio
38 Pesquisa
divulgada pelo GEM oferece um panorama do empreendedorismo mundial.
Países de renda média precisam gerar mais negócios por oportunidade.
I n t er n ac i o n al
41 Gerenciar o processo de exportação significa muito mais que planejar rótulos bilíngües.
g es t ã o
Para conhecer o país-alvo, internet pode ser decisiva.
44 Tudo
sobre o reality experience. Acompanhe o resultado da primeira missão,
aprenda com os erros e descubra como ser um campeão nos negócios.
E m pree n der
é
s h ow
46 Sem
investir no ensino de ciências, vai ser difícil o Brasil subir no ranking
de países inovadores. Conheça iniciativas que buscam reverter essa situação.
ed u ca ç ã o
48 Um
dos maiores consultores do Brasil explica por que a sobrevivência
de um negócio depende do estímulo à criatividade dos funcionários.
cr i a t i v i dade
49 Filmes,
livros, discos e exposições. Dicas para você refletir sobre
o mundo corporativo enquanto se diverte.
C u l t u ra
50 José
Dornelas: empreendedores precisam implementar uma nova
visão de negócios que possibilite crescimento rápido e desenvolvimento
op i n i ã o
Impressão
Gráfica Van Moorsel
Tiragem
5.000 exemplares
das pessoas que formam a empresa.
Carta ao leitor
É
com satisfação que fazemos chegar
até você a segunda edição da nova
Locus . Desde o número 48 nossa
publicação apresenta mudanças significativas, tanto no projeto gráfico quanto
no conteúdo. Agora, a edição 49 vem
para consolidar a nova versão, trazendo
temas de interesse aos envolvidos com
empreendedorismo inovador, mas sem
esquecer daqueles que observam de fora
o nosso movimento.
Entre as principais funções da Locus
está apontar setores que merecem a atenção tanto de quem quer empreender quanto daqueles que buscam investir. A reportagem de capa desta edição revela um
mercado que deve se tornar ainda mais visível durante este ano: o esportivo. Embalados pelos Jogos Pan-americanos 2007, os
negócios nessa área tendem a crescer e a
inspirar a migração de empresas que atuam em outros nichos para esse mercado
tão lucrativo. Abrangente, o setor esportivo precisa de soluções que vão desde tecnologia da informação até biotecnologia
para atingir objetivos também distintos –
como garantir lisura nos resultados de
competições e melhorar a performance de
atletas. As empresas citadas na matéria,
das nascentes às gigantes, mostram que
acompanhar o mun­do esportivo exige dinamismo e, claro, muita inovação.
Inovar também é a palavra de ordem no
setor de fármacos, tema da seção Oportunidade. Laboratórios brasileiros têm conquistado grandes avanços em um mercado
ainda dominado por estrangeiros, graças
ao investimento em pesquisa e desenvolvimento. Empresas incubadas e graduadas
estão inseridas nesse cenário em mutação,
destacando-se entre as mais inovadoras do
país. Algumas delas revelam que recebe-
ram apoio de fundos de investimento, um sonho de
muitos empreendedores. Mas
a conquista de investidoresanjos pode se tornar um pesadelo, dependendo do tipo
de relação que se estabelece
entre empresários e investidores. Por isso, Locus buscou especialistas para desven­
dar os mistérios que envolvem
essa relação e indicar caminhos que tragam benefícios
para ambas as partes. As dicas estão na seção Investimento.
No mundo corporativo, muitas vezes
benefício pode ser compreendido apenas
como sinônimo de lucro. A seção Negócios desta edição foi pensada para mostrar
que também vale a pena apostar em benefícios sociais, que cheguem a toda comunidade. A reportagem apresenta o trabalho de empresas que oferecem soluções
para minimizar o aquecimento global. Até
pouco tempo atrás esses negócios poderiam ser apontados como utópicos. Mas
as conseqüências do efeito estufa se mostram tão danosas ao planeta e ao próprio
homem que as empresas envolvidas com a
sustentabilidade acabaram saindo na
frente e hoje apontam tendências, as
quais, mais cedo ou mais tarde, serão seguidas pelo mundo todo.
Esses são alguns destaques desta edição da Locus , que ainda “cheira a novidade”. Agradecemos o apoio recebido de
nossos leitores à nova versão da revista e
também as críticas e sugestões de pautas,
temas e fontes que não param de chegar.
Nosso grande desafio é corresponder às
expectativas, tornando a Locus cada
vez melhor. Conselho Editorial
Locus • Julho 2007
Entrevista
O leitor empreendedor
O maior bibliófilo do Brasil relata a experiência como empresário
e afirma que cultura é fator decisivo para o sucesso
Repórter: Bruno Moreschi – Fotos: Raquel do Espírito Santo
C
om 92 anos e, inevitavelmente, ao lado de livros, José Mindlin não cansa
de repetir um discurso que hoje parece óbvio, mas custa a se transformar
em ações: a educação é a salvação do Brasil. Dono da maior coleção de livros
do país, um acervo que tem a primeira edição de Os Lusíadas e os originais
de Grande Sertão: Veredas, ele falou à revista Locus sobre um assunto
pouco explorado em sua biografia.
Mindlin já foi um empresário de sucesso, um dos sócios da empresa de
autopeças Metal Leve. Seu negócio começou pungente na época
desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek e foi sufocado pela abertura do
mercado brasileiro durante o governo de Fernando Collor. Muita gente pode
achar que seu lado empresarial destoa dos livros, mas Mindlin faz questão de
não separar as duas áreas. “A cultura ajuda a dar uma visão de vida mais
ampla ao empreendedor, a alargar seus horizontes”, afirma.
Locus – Como foi seu início
profissional?
Mindlin – Começou em maio de 1930
na redação do jornal O Estado de S. Paulo, pouco antes de completar 16 anos.
Locus • Julho 2007
Estávamos em plena conspiração da
revolução de Getúlio Vargas, que em
grande parte era feita na redação do Estadão. Como havia censura telefônica,
Julio Mesquita Filho me chamava para
sua sala para que eu transmitisse em inglês as mensagens ao chefe da redação
no Rio de Janeiro. Era a forma encontrada para driblar a censura, pois na
época os censores não falavam inglês.
Fui beneficiado pelo fato de só eu falar
o idioma naquele local. Nesse período
fiquei em uma posição hilária: o menino da redação era um dos mais informados sobre a conspiração em curso.
Locus – O senhor virou empresário
por acaso?
Mindlin – Um grupo de pessoas tinha
idéia de montar uma fábrica de autopeças e houve dificuldade para conseguir
financiamento para o projeto. Como
era amigo do diretor do Banco de Crédito Real de Minas Gerais, acabei me
tornando fiador dessas pessoas e, quando vi, fazia parte da empresa. Era a década de 1950 e o negócio aproveitou
bem o estímulo que o presidente Juscelino Kubitschek deu ao setor automobilístico e cresceu muito. Foi um momento político importante: quando o Brasil
encontrou um líder político com a obsessão do crescimento.
nando Henrique Cardoso. FHC poderia
ter criado uma aura de grande homem
na nação se não tivesse cometido o erro
de ter apostado no segundo mandato.
Locus – E como foi o momento em
que sua empresa fechou?
Mindlin – Sofremos muito durante a
abertura para as importações no período do presidente Fernando Collor. Seu
governo manteve as tarifas para o carro
importado, mas diminuiu as tarifas de
A globalização não é uma luta entre
o bom, visto como algo local, e o mau,
o produto mundial. Não se trata de uma
conspiração, mas sim de uma circunstância
de um determinado período histórico entrada das autopeças para apenas 2%.
Então, a concorrência internacional foi
gigantesca. Nós – nem ninguém – não
estávamos preparados. O grande problema foi de escala, o que impediu de
nos tornarmos fornecedores mundiais.
Locus – O presidente Lula adora se
comparar a JK...
Mindlin – (Silêncio e, depois, risos) Eu
nem preciso responder, certo?
Locus – O segredo de ter se tornado
um empresário de sucesso foi a
percepção de que aquele era o
momento certo?
Mindlin – Exato. Quem quer se tornar
empreendedor precisa ter informações
suficientes para conhecer o cenário em
que atua. Naquela época, o Brasil estava
em um período de grande crise cambial,
pois a maioria das reservas acumuladas
durante a Segunda Guerra Mundial foi
gasta com importações supérfluas. A
crise pediu uma política de substituição
desses produtos estrangeiros. Eu confesso que só votei duas vezes em presidentes que ganharam as eleições: JK e Fer-
Defino esse momento da minha vida
como angustiante. Tanto que tivemos
que vender a empresa. Foi uma decisão
difícil do ponto de vista emocional, mas
racional sob a questão empresarial.
Locus • Julho 2007
Entrevista
Locus – Após ter passado por uma
experiência como essa, ficou alguma
lição para quem quer vencer neste
mundo tão globalizado?
Mindlin – É preciso deixar claro que a
globalização não é uma luta entre o bom,
visto como algo local, e o mau, o produto mundial. Não se trata de uma conspiração, mas sim de uma circunstância de
um determinado período histórico. Para
as pequenas e médias empresas brasileiras esse cenário é bas­tante positivo, pois
o mercado é cada vez maior e há brechas
Os sonhos de ontem são a realidade
de hoje. Isso vale para a literatura
e para o setor produtivo
BIOGRAFIA
em que elas podem investir e lucrar muito. Já a grande empresa brasileira, na
realidade, é pequena em relação à multinacional. Tudo é muito nebuloso para
essa fatia de empresários nacionais. Eles
precisam lidar com uma concorrente
que se não estiver satisfeita com o governo local toma uma decisão rápida: vai
para qualquer outro canto mais favorável do mundo. Mas eu ratifico: o mundo
não vai acabar por causa disso.
Locus – Alguns ambientalistas não
concordam com isso...
Mindlin – Eu sou um otimista perene.
Acredito piamente que o homem e a sua
ciência vão resolver os atuais dilemas
da nossa civilização.
F
ilho de imigrantes russos, José Ephim Mindlin nasceu no
dia 8 de setembro de 1914, em São Paulo. Dois anos depois
de participar da Revolução de 1930, deixou o jornalismo para
ingressar na Faculdade de Direito do Largo São Francisco.
Formado, advogou pelos 15 anos seguintes, até juntar-se a outros
quatro empreendedores e fundar a Metal Leve, empresa que se
especializou na produção de pistões – peças cilíndricas feitas de
alumínio, essenciais ao funcionamento do motor de automóveis.
Em pouco tempo, a Metal Leve se tornou referência no setor de
autopeças, exportando produtos e abrindo filiais no exterior.
O crescimento da empresa permitiu que ela empregasse 6 mil
pessoas. Mas com a abertura econômica no início dos anos 1990,
a Metal Leve começou a colecionar prejuízos, obrigando Mindlin
a se desfazer de suas ações em 1996.
Em paralelo à vida executiva, o empresário levou adiante uma
paixão despertada ainda na adolescência: a leitura. Considerado
o maior bibliófilo do Brasil, construiu um acervo com mais de 40
mil títulos, repleto de raridades. A coleção, que começou a se
formar em 1927, foi doada em 1999 para a Universidade de São Paulo (USP)
“para garantir que a biblioteca continue viva e preservada”, segundo ele. A
trajetória de sucesso no mundo corporativo, a passagem pela administração
pública – ele foi secretário estadual de Cultura, Ciência e Tecnologia do
governo Paulo Egydio Martins, no final dos anos 70 – e o elevado nível
cultural fazem de Mindlin uma figura respeitada em diversos segmentos.
Entre 1997 e 1999, ele integrou a comissão julgadora do Prêmio Anprotec
para Empresa do Ano e Incubada do Ano, quando pôde conhecer melhor a
realidade do movimento.
Locus • Julho 2007
Locus – O senhor tem saudades
daquela época em que era empresário?
Mindlin – Tenho, pois minha vida empresarial durou 45 anos. Muita gente
pensa que eu tenho receio em falar dela,
que eu só quero falar de livros, como se
as duas coisas fossem opostas. Não há
impedimento para que uma pessoa seja
um amante de livros e um empresário
de sucesso. Há somente um preconceito
que dá a falsa impressão de que, para
ser empresário, é preciso focar apenas
na sua área de conhecimento e deixar a
cultura mais ampla marginalizada. É
um absurdo pensar desta maneira.
da educação: estreitar a relação da população com o governo. A educação
precisa dar, já na infância, uma noção
de cidadania. Hoje, os ensinos primário
e médio ainda são precários demais. As
estatísticas mostram que alunos que estão há quatro anos na escola não sabem
ler, distinguir o certo do errado. É uma
situação bizarra a nossa: aumentou-se o
ensino em quantidade, mas não em
qualidade. Como se não bastasse, a profissão do professor está degradada. Ele
é mal remunerado e com isso acaba
sendo mal preparado para o exercício,
para a sua missão de formar gerações.
Locus – Mas como a cultura pode
influenciar o empreendedor?
Mindlin – Ela ajuda a dar uma visão de
vida mais ampla, alargar os horizontes.
Hoje isso pode não parecer novidade, já
que a maioria dos empresários tem formação universitária e eles fazem parte
de uma geração com boa formação cultural e acadêmica. Um mundo que nasce nas incubadoras. Mas no início do
século passado as coisas não eram bem
assim. Os empresários eram imigrantes que tiveram sucesso em suas atividades específicas.
Locus – Estamos no início
da batalha?
Mindlin – Infelizmente sim. E começamos mal ao dar mais prioridade ao
ensino superior. O bom ensino superior
deve ser conseqüência de um ensino
básico de qualidade.
Locus – É possível então supor que a
inovação está intimamente ligada à
educação?
Mindlin – Definitivamente. Precisamos
investir mais na educação para sermos
tão inovadores quanto o primeiro mundo. O Brasil tem muitos problemas, muitas prioridades. Dá para afirmar que quase tudo aqui é prioritário. Entretanto, eu
creio que a educação é a maior prioridade
para o nosso desenvolvimento.
Locus – O que falta para a teoria
virar a prática?
Mindlin – Falta uma geração consciente. O Brasil só vai conseguir crescer,
corrigir seus erros, quando tiver um
eleitorado preparado para reivindicar
as medidas necessárias. E esse é o papel
O Brasil só vai conseguir crescer,
corrigir seus erros, quando tiver um
eleitorado preparado para reivindicar as medidas
necessárias. E esse é o papel da educação: estreitar
a relação da população com o governo
Locus – O que o senhor acha dessa
febre de livros de auto-ajuda voltados
ao mundo dos negócios?
Mindlin – Não acredito na eficácia
desse tipo de literatura. Quando a pessoa recebe uma educação adequada,
não precisa disso. A pessoa precisa pensar por conta própria.
Locus – Então, qual livro é essencial
ao empreendedor?
Mindlin – Muita ficção. Ela desenvolve a
imaginação, o sonho e amplia a possibilidade de realizações. Julio Verne, quando
escreveu seus livros, viu um futuro que
hoje é o presente. Os sonhos de ontem
são a realidade de hoje. Isso vale para a
literatura e para o setor produtivo. Locus • Julho 2007
Em MoViMEnto
I ntegrantes da R epin
Nova rede de integração
Consórcio de Comércio Justo e Inserção
busca da viabilização do alcance
Social Catalão Potiguar (BraCat)
dos objetivos comuns e específi– Núcleo de Estudos Brasileiros (NEB)
cos de cada integrante da Rede”,
Incubadora de Bordados
afirma. Ele ressalta ainda que as
do Seridó (Inbordados)
principais ações da Repin estão
Incubadora de Cooperativas Populares
do Rio Grande do Norte (Incoop)
ligadas à captação de recursos,
intercâmbio comercial, acesso à
Incubadora do Agronegócio da
Caprinovinocultura do Sertão
tecnologia, ingresso no mercado
do Cabugi (Ineagro-Cabugi)
e inovação em negócios, proces Incubadora do Agronegócio de Mossoró
sos, produtos e serviços.
(Iagram) – Universidade Federal
As incubadoras potiguares
Regional do Semi-Árido – Ufersa
atuam em diversos segmentos da
Núcleo de Incubação Tecnológica
economia (tradicionais e de ino(NIT) – Centro Federal de Educação
vação), que incluem associação
Tecnológica – Cefet/CE
de quilombolas, cooperativas,
Serviço Brasileiro de Apoio
grupos de teatro e emàs Micro e Pequenas Empresas do
preendedores dos ArranRio Grande do Norte (Sebrae/RN)
jos Produtivos Locais das
áreas de apicultura, caprinovinocultura e bordado. “A heterogeneidade
da Repin é a cara do Rio Grande do
Norte”, destaca o gestor.
Divulgação
A necessidade de interação entre as incubadoras do Rio Grande do Norte deu origem à Rede Potiguar de Incubadoras e Parques Tecnológicos (Repin), lançada em
março deste ano. Agora, as ações dos integrantes da rede estão voltadas para sua consolidação, criando condições para prestação
dos primeiros serviços às associadas.
De acordo com o gestor de incubadoras
do Rio Grande do Norte, Walter Leite, a Repin proporciona a troca de informações e de
conhecimento entre as incubadoras, o que
favorece o crescimento do movimento no
estado. “Os principais benefícios serão os
resultados de uma atuação conjunta, em
Equipe da Repin trabalha
para colocar planos em ação
Fênix gradua primeira
empresa incubada na UEMS
A incubadora de empresas da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul
(UEMS) graduou, no dia 27 de abril, a sua
primeira empresa incubada: a Exclaim. Sediada em Dourados, no Sul do estado, a
graduada presta serviços de consultoria,
desenvolvimento e implementação de projetos na área tecnológica para ambiente
corporativo (softwares personalizados).
A prova de que a Exclaim está pronta
para se desenvolver sem o auxílio da incubadora está em sua carteira de clientes,
que conta com mais de 50 empresas. Incubada na Fênix em outubro de 2002, a Exclaim desenvolveu diversos softwares,
dentre os quais se destacam o Ana, voltado para gestão financeira; o Amanda, para
gerenciamento de empresas de varejo; o
Alice, para controle de ponto, e o Aline,
para administração escolar.
10
Locus • Julho 2007
Costurando cidadania
Quem não sabia costurar, apren­
deu rápido. Mulheres desempregadas de Macaé (RJ) enxergaram em
um curso de corte e costura a oportunidade de vencer a exclusão soCooperativadas aprendem a
cial. Oferecido pela incubadora de costurar e a gerenciar negócios
Cooperativas do município, o curso
desenvolvido em parceria com o do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), deu origem à Cooperativa de Costureiras de
Macaé – CoopCom.
As cooperativadas aprendem a enfrentar a falta de capital e as dificuldades de trabalhar em grupo. Todas são sócias do negócio e juntas decidem questões relacionadas ao processo produtivo e aos investimentos. A falta de experiência em gestão é sanada com auxílio
da incubadora, que oferece consultoria técnica em contabilidade,
economia e direito, por exemplo.
De acordo com a gerente da incubadora de cooperativas, Aline
Azeredo Barbosa, com a formação de novos profissionais, o curso
proporciona o aperfeiçoamento das técnicas de costura industrial.
“O investimento nesse curso tem o objetivo de trazer mais qualidade
ao setor, atraindo novos clientes e gerando trabalho e renda para esses profissionais. É uma grande oportunidade para essas pessoas.”
Divulgação
Uma parceria entre o Sebrae e a Anprotec resultou
em um edital de apoio às incubadoras brasileiras, que distribuirá R$ 5,4 milhões
entre entidades que
proponham projetos de prestação de
serviços a pequenas
e microempresas criadas fora do ambiente de incubação. Para receber os recursos, as candidatas devem, além de serem associadas
à Anprotec, ter, no mínimo, quatro anos de operação, 10 empresas
incubadas e duas graduadas. Ao todo, serão aprovadas até 30 propostas, sendo que 50% dos recursos são destinados a incubadoras
das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. As inscrições foram
recebidas até o dia 20 de junho. O resultado final será divulgado a
partir de 24 de setembro, no site www.sebrae.com.br
Brasil tem novo indicador de inovação
As empresas brasileiras contam com um novo método para
mensurar seus esforços e resultados na área de pesquisa e desenvolvimento. O Índice Brasil de Inovação (IBI) foi lançado em 24
de maio, com a premiação das 12 empresas apontadas, segundo o
próprio IBI, como as mais inovadoras do país. Entre essas empresas está uma ex-incubada: a Silvestre Labs, do Pólo Bio-Rio (veja
matéria na pág. 23). No total, 60 empresas participaram da primeira edição do IBI, que é uma iniciativa do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) e do Instituto de Geociências (IGE), ambos da Unicamp, em parceria com a revista Inovação
Uniemp e com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo (Fapesp). As empresas são avaliadas a partir do Indicador
Agregado de Resultado (IAR), que representa
os impactos da inovação e as patentes depositadas, e do Indicador Agregado de Esforço (IAE),
que reflete os gastos com máquinas, equipamentos, produtos e processos inovadores. São
consideradas mais inovadoras as que apresentarem maior equilíbrio entre os indicadores de
resultados e de esforços.
PAC para C&T
A versão final do Plano
de Ações para Ciência e Tec­
no­logia para o qua­driênio
2007-2010 deve ser conhe­
cida em 9 de julho, na 59ª
Reunião Anual da SBPC,
em Belém (PA). Desde o
final de maio, o ministro
da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende (acima),
vem apresentando as propostas a entidades
ligadas à área. De acordo com o MCT, o plano
apresenta quatro linhas de ação principais:
1Expansão e consolidação do sistema
nacional de C&T, que inclui a consolidação
institucional do sistema, a formação de
recursos humanos, infra-estrutura e
fomento à pesquisa científica e tecnológica.
Promoção
e inovação tecnológica nas
2
empresas, com apoio especial para: serviços
tecnológicos, tecnologias de informação e
comunicação (TICs), biotecnologia,
fármacos e medicamentos, nanotecnologia,
biocombustíveis e energias do futuro.
Pesquisa
e desenvolvimento em áreas
3
estratégicas, entre elas: programa espacial,
programa nuclear, segurança pública e
defesa nacional, biodiversidade e recursos
naturais, mar e Antártida, desenvolvimento
sustentável da Amazônia, desenvolvimento
sustentável do Semi-árido, meteorologia e
mudanças climáticas.
C&T
4 para o desenvolvimento social, que
inclui a popularização da C&T e a melhoria
do ensino de ciências e tecnologias para o
desenvolvimento social.
Divulgação /MCT
R$ 5,4 milhões para incubadoras
Em MoViMEnto
As mais inovadoras
Setores de alta tecnologia
1. Delphi (automobilística)
2. Embraer (outros equipamentos de transporte)
3. Marcopolo (automobilística)
Setores de média-baixa intensidade tecnológica
1. Brasilata (produtos de metal)
2. Faber Castell (móveis e diversos)
3. Usiminas (metalurgia básica)
Setores de média-alta intensidade tecnológica
1. Silvestre Labs (química)
2. Vallée (química)
3. Natura (química)
Setores de baixa intensidade tecnológica
1. Santista Têxtil (têxtil)
2. Grendene (calçados)
3. Rigesa (papel e celulose)
Locus • Julho 2007
11
Em MoViMEnto
Novo modelo para incubação
Gestores de incubadoras de todo o país reuniram-se
em Florianópolis (SC) entre os dias 28 de maio e 1º de
junho para discutir um novo conceito de incubação
de empresas: o Centro de Referência para Apoio a Novos Empreendimentos (Cerne). Baseado em programas de apoio a pequenas e microempresas que obtiveram sucesso nos Estados Unidos e na Europa, o novo
modelo tem como objetivo capacitar as incubadoras
para o oferecimento de serviços diferenciados que
promovam o crescimento dos empreendimentos. “As
incubadoras qualificadas no âmbito do conceito do
Cerne deverão promover a potencialização, padronização e inovação de infra-estrutura, equipe, serviços,
networking e marca”, afirma José Eduardo Fiates, presidente da Anprotec.
Em Florianópolis, durante o Workshop de Metadesign do Programa Cerne, 21 incubadoras apresentaram processos internos, dificuldades enfrentadas e
avaliações de resultados. Somadas às propostas desenvolvidas por grupos de trabalho no evento, essas experiências servirão para balizar a estruturação de um
novo modelo para empreendimentos inovadores. O
workshop foi promovido pela Anprotec, em parceria
com o Sebrae.
Isenção fiscal para
financiamento de pesquisas
A lei que concede isenção fiscal para empresas que
atuarem em parcerias com instituições científicas tecnológicas (ICTs) já foi publicada no Diário Oficial da
União (DOU). O texto cria o artigo 19-A na lei nº
11.487 – Lei do Bem – e prevê que toda pessoa jurídica poderá excluir do lucro líquido, para efeito de apuração do lucro real e da base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), os dispêndios
efetivados em projeto de pesquisa científica e tecnológica e de inovação tecnológica a ser executado por
ICT. Isso significa que todo investimento em P&D feito nas instituições poderá ter isenção fiscal. Nesse
caso, não há limite para os investimentos.
A única restrição se refere ao direito à propriedade,
que dependerá do valor investido pelas empresas. A
lei prevê que a participação da pessoa jurídica na
titularidade dos direitos
sobre a criação e a propriedade industrial e intelectual gerada por um
projeto cor­­responderá à
razão entre a diferença
do valor despendido pela
pessoa jurídica e do valor do efetivo benefício
fiscal utilizado, de um lado, e o valor total do projeto,
de outro, cabendo à ICT a parte remanescente. Na
prática, a empresa terá direito a no máximo 50% do
produto. Se a empresa tiver isenção de 70% do que foi
investido em ICTs, ela só terá direito à propriedade
em 30% do produto. Se tiver isenção de 50%, terá direito de propriedade em relação à metade. Os financiamentos que tiverem uma dedução de 100% estarão
isentos de direito à propriedade.
Incubatep divulga resultado
A Incubadora de Empresas de Base Tecnológica do Estado
de Pernambuco (Incubatep) acaba de selecionar nove projetos
para serem desenvolvidos no Instituto de Tecnologia de Pernambuco (ITEP). As empresas escolhidas foram: Beraca,
Ideia, Ecoenergia, Lavanderia, Mobilit, Qualihouse, Ros Robótica e Sky Protector, além do projeto Software Educacional,
voltado para portadores de síndrome de Down.
12
Locus • Julho 2007
Em MoViMEnto
Câmera
inteligente
e
n
d
a
Planejamento Financeiro
Chega
de cloro!
A Brasil Ozônio, empresa
Divulgação
Saiba mais: www.inventvision.com.br
incubada no Cietec (SP), fabrica
sistemas para purificação à base
de ozônio. Chamado de BRO3-3,
o equipamento substitui produtos
químicos, como o cloro, no
tratamento da água de piscinas,
poços artesianos, caixas d’água e
efluentes industriais. “O ozônio é
20 vezes mais forte que o cloro em
sua ação, além de agir cerca de 3 mil
vezes mais rápido e não poluir o meio ambiente”, explica
o diretor da empresa Samy Menasce.
Saiba mais: www.brazilozonio.com.br
Adesivo Cirúrgico
Na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da
Universidade do Estado da Bahia (Incubatec/Uneb), está
em desenvolvimento um adesivo destinado à realização de
sutura da pele em homens e animais que dispensa o uso de
anestésicos e de equipamentos cirúrgicos, como bisturi e
agulhas. Idealizado para o atendimento emergencial a
vítimas de acidentes em locais afastados de centros
urbanos, a inovação promete
solução definitiva ou provisória – até a remoção do
paciente. A idéia foi patenteada
em 2003 e o produto deve
chegar ao mercado até 2008.
Na foto ao lado, um protótipo
artesanal do adesivo.
Saiba mais pelo
telefone (71) 3247-3787
Curso promovido pela Empreende Consultoria voltado ao
desenvolvimento e análise da seção financeira de um plano
de negócios. Ensinará como adequar pequenas empresas aos
requisitos exigidos por fundos de
investimento
e agências de fomento.
Data: 18 de julho
Local: São Paulo (SP)
Informações e inscrições:
www.planodenegocios.com.br
Inscrições para Prêmio
Professor Samuel Benchimol
agosto
o
gaçã
Divul
Produzidas pela Invent Vision, graduada da Inova
UFMG, as smart cameras têm como principal aplicação
a inspeção do processo produtivo industrial. Além de
adquirir imagens com qualidade, o equipamento dispensa
o uso de computador para processar as fotos, pois tem
uma CPU embutida. Em um mercado ainda dominado por
importados, o produto da Invent Vision, 100% brasileiro,
apresenta preços competitivos.
Divulgação
g
julho
a
Destinado a identificar projetos que
promovam o desenvolvimento sustentável
da região Amazônica, o prêmio é dividido em
três categorias: econômica e tecnológica, social e ambiental.
Instituições públicas e privadas podem concorrer à premiação
de R$ 65 mil – para cada categoria.
Data final para inscrição: 31 de agosto
Informações: www.amazonia.desenvolvimento.gov.br
17º Seminário Nacional de Parques
Tecnológicos e Incubadoras de Empresas
De 17 a 21 de setembro, a Anprotec e o Sebrae promovem o
maior evento latino-americano do setor de incubação. Durante
uma semana, o 17º Seminário Nacional de Parques
Tecnológicos e Incubadoras de Empresas reunirá em Belo
Horizonte (MG) representantes de diversas entidades
governamentais e de apoio ao empreendedorismo, gestores de
incubadoras, empreendedores e pesquisadores da área. Além
de discutir diretrizes, estratégias e ações para o movimento no
Brasil, o evento oferecerá oportunidades de capacitação,
atualização, debates de tendências, apresentação de
resultados e produção
técnico-científica. Ao todo,
serão realizados nove
minicursos, abordando temas
que vão desde rotinas de
gestão até captação de
recursos, exportação e
avaliação de micro e
pequenas empresas. Nos dias
17 e 18 ocorrerá o Workshop Anprotec, que proporciona aos
participantes informações atuais sobre temas essenciais ao
movimento, como oportunidades e tendências da Política
Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE).
Os participantes que se inscreverem até o dia
31 de julho recebem desconto na taxa de inscrição.
A programação completa do evento pode ser conferida
em www.seminarionacional.com.br
Data: 17 a 21 de setembro de 2007
Local: Belo Horizonte (MG)
Informações: www.seminarionacional.com.br
setembro
h i - t e c h
Locus • Julho 2007
13
h o m e n ag e m
O legado de um guerreiro
E
Pionieirismo nas
relações com a China.
14
Locus • Julho 2007
ngenheiro, pesquisador, gestor, homem
público, empreendedor. Cinco definições para alguém de múltiplas atividades,
de múltiplas lutas. Telmo Silva de Araújo
nasceu pernambucano, mas adotou a Paraíba como segunda terra natal. Formado
em Engenharia Elétrica pela Universidade
Federal de Pernambuco, em 1965, construiu uma carreira repleta de êxitos e contribuiu para o desenvolvimento científico,
tecnológico e industrial do país. Entusiasta do empreendedorismo inovador,
foi um dos principais mentores da Anprotec. A vida de Telmo teve fim no último dia 24 de maio, mas sua história deixa lições perenes.
No final da década de 1960, pediu demissão do emprego na Companhia Energética de Pernambuco (Celpe) ao aceitar
um convite que mudaria sua trajetória:
tornar-se professor do recém-implantado
curso de Engenharia Elétrica da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), na cidade de Campina Grande. Apostou na carreira acadêmica e, em 1975, concluiu o
doutorado na Universidade Paul Sabatier,
em Toulouse, França. “Naquela época, ele
já tinha a compreensão de que o conhecimento gerado na academia deveria ser
Fotos: arq. pessoal
O movimento de incubadoras e parques
tecnológicos perdeu no mês de maio um de seus
principais defensores. Telmo Silva de Araújo
deixa lições de liderança e dignidade
voltado para o desenvolvimento regional”,
afirma a esposa de Telmo, Francilene Garcia, também professora da UFPB.
A entrada no movimento
Em 1984, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), presidido por Linaldo Cavalcanti, criou cinco fundações que dariam origem a parques tecnológicos. Uma delas
foi implantada em Campina Grande, onde
Telmo teve atuação decisiva. “Na Fundação Parque Tecnológico da Paraíba, ele foi
um dos maiores batalhadores, sendo o segundo diretor-geral e o principal protagonista do esforço para consolidar o Pólo
Tecnológico de Campina Grande”, afirma
Cavalcanti.
A liderança e o trabalho de Telmo estenderam-se também à gestão pública.
Em 1988, Cássio Cunha Lima, hoje governador do estado, foi eleito prefeito de
Campina Grande e instituiu a Secretaria
Municipal de Ciência e Tecnologia – iniciativa pioneira no Brasil. Telmo foi o responsável pela nova pasta, implantando na
prefeitura seu jeito especial de gerenciar,
que investia no relacionamento entre instituições e pessoas. Com esse modelo de
gestão, ele tornou-se, anos depois, secretário de Planejamento de Campina Grande,
diretor-presidente da Agência Municipal
de Desenvolvimento (AMDE) e presidente
do Centro de Apoio aos Pequenos Empreendimentos da Paraíba (Ceape).
Em meados dos anos 1980, o movimento em prol do empreendedorismo inova-
Telmo silva de araújo
dor começava a se consolidar no Brasil,
atingindo o ápice com a fundação da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), em 1987. Telmo integrou o grupo
dos 12 sócios-fundadores da associação,
da qual foi vice-presidente entre 1991 e
1993 e presidente de 1993 a 1995. “Sua
gestão marca um ponto de inflexão na
trajetória do empreendedorismo inovador
no Brasil. Um índice relevante do que
aconteceu a partir de sua gestão é o crescimento médio de 30% ao ano no número
de incubadoras, desde 1994 até hoje”, afirma o atual vice-presidente da Anprotec,
Guilherme Ary Plonski.
A atuação de Telmo frente à entidade
ocorreu em um momento de transição do
movimento. “Juntamente com sua equipe,
Telmo iniciou um bem-sucedido processo
de reforço institucional da associação, com
o estabelecimento da sede em Brasília, o
fortalecimento da participação em conselhos de órgãos parceiros, a formalização do
Seminário Nacional de Incubadoras e Parques, a criação do Informativo Locus e a
reforma do estatuto”, afirma o presidente
da Anprotec, José Eduardo Fiates.
Pioneirismo no Oriente
Quando deixou a presidência da Anprotec, em 1996, Telmo foi convidado
pelo CNPq para um novo desafio: implantar na China um escritório de cooperação
do projeto Softex 2000 – Programa Nacional de Software para Exportação, que buscava estimular o surgimento de uma indústria brasileira de software voltada à
exportação. “No início, fomos para passar
apenas um ano, mas as coisas deram tão
certo que acabamos ficando até 1999”, conta a esposa Francilene. Um dos resultados
da cooperação com a China foi a implantação, em 2004, do projeto TecOut Center,
desenvolvido no Parque Tecnológico da
Paraíba sob coordenação de Telmo.
Apesar de ter deixado de dar aulas em
1991, o pesquisador continuava a produzir artigos acadêmicos – apresentou mais
de 60 trabalhos em congressos e periódi-
1942 V 2007
D e p o i m e n t o
Creio que era final de 1978. Estávamos na Paraíba, em um seminário sobre “Tecnologias Apropriadas”, tema que vivia sua onda de
glória naqueles tempos pré-globalização. De repente surge uma voz
grave do fundo do auditório: “Olhe, esse negócio de quebrar estrada usando marreta é muito bom pra gaúcho, que teve uma boa alimentação. Aqui no Nordeste, o nosso negócio é eletrônica”. Naquele
dia conheci Telmo – pernambucano, filho de gaúcho – com sua
enorme capacidade de dizer as coisas de forma clara e inteligente.
Com precisão e sensibilidade. Esse era um dos traços mais marcantes da personalidade de Telmo – uma invejável capacidade de nos
fazer pensar.
Pude conviver intensamente com Telmo no período de 93 a 95,
quando tive a honra e a satisfação de ser o seu vice-presidente na
Anprotec e seu suplente no Conselho Deliberativo Nacional do Sebrae. Trabalhamos juntos, sonhamos e caminhamos juntos, num
momento em que as incubadoras de empresas no Brasil e o próprio
Sebrae (com S) davam os seus primeiros passos. Telmo foi um
exemplo de espírito público, retidão e empreendedorismo, combinação tão valiosa e infelizmente rara em nossos dias. Telmo vai fazer falta. Que a sua ausência nos faça pensar.
Maurício Guedes
Presidente do Conselho
Editorial de Locus
cos nacionais e internacionais – e a orientar dissertações de mestrado e teses de
doutorado na UFPB. A descoberta de um
câncer na pelve renal, em 2005, não abalou suas atividades de trabalho. “Ele nunca escondeu a doença, apostou no tratamento e manteve a esperança da cura até
o fim”, afirma Francilene.
Para aqueles que conheceram Telmo, ficaram inúmeras lições. “Era um líder acessível e parceiro, que não se apegava a cargos, não inventava dificuldades e não
criava barreiras para o crescimento das
pessoas. Pelo contrário, era um visionário
que buscava sempre novos desafios, novas
experiências e novas formas de utilizar seu
conhecimento e capacidade de construir
em benefício da sociedade”, ressalta Fiates.
Plonski afirma que a principal marca
de Telmo era a capacidade de combinar
características aparentemente contraditórias: “Empreendedorismo e solidez; ousadia e tranqüilidade; promoção do capita­
lismo empreendedor e defesa do interesse
público; cosmopolitismo e valorização do
local”. Para a esposa, fica como lição uma
das frases mais repetidas por ele: “Meu
maior prazer é trabalhar com gente”. Com a filha
mais nova, Tainá
Locus • Julho 2007
15
N e g
c i o s
Me r c a d o
aquecido
A tentativa de minimizar
o aquecimento global abre
um novo nicho de atuação:
o da sustentabilidade. Além
de reduzir o impacto que causam
ao meio ambiente, empresas
lucram ao oferecer soluções
para amenizar o efeito estufa
Francis França
Sistemas alternativos
para a geração de
energia podem frear
o impacto ambiental
16
Locus • Julho 2007
Q
uando os cientistas anunciaram que o mundo precisaria se
mobilizar para combater o aquecimento global, os empresários não imaginavam que colaborar com o meio ambiente fizesse tão bem ao bolso. Neutralizar o efeito estufa, na maioria dos casos, significa adotar processos que reduzem custos de
operação para empresas de todos os portes. Gastar menos com
energia elétrica, aumentar a produtividade em setores agrícolas e
evitar desperdício de tempo, matéria-prima e dinheiro fazem
parte do pacote de sustentabilidade que empresas e governos precisam adotar.
A preocupação global com o desenvolvimento sustentável atingiu o ápice neste ano,
quando os relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) comprovaram que o aquecimento do planeta é decorrente da ação humana.
Entre os principais fatores que contribuem
para esse processo estão a devastação das florestas e a queima de combustíveis fósseis como
petróleo, carvão e gás, que emitem gases do
efeito estufa, como o gás carbônico (CO2).
O principal desafio dos países é substituir
a matriz energética por fontes limpas e reno-
A queima de
combustíveis fósseis
contribui para o efeito estufa
váveis de geração de energia. Por isso,
cientistas do mundo inteiro desenvolvem
tecnologias que possam substituir fontes
de energia térmica, baseada em queima
de combustíveis. No Brasil, empresas incubadas em diversos centros de pesquisa
já apresentam resultados animadores
para resolver problemas ambientais.
Energia limpa
Apesar de a matriz energética brasileira
ter uma das maiores proporções de fontes
renováveis (44,4%), apenas 32% provêm de
energias limpas, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE/MME).
Nesse montante, estão incluídas as hidrelétricas (14,6%) – que enfrentam barreiras
de licenciamento ambiental por conta dos
impactos nas áreas alagadas – e a energia
derivada da cana-de-açúcar – que apresenta problemas sociais para os trabalhadores
nos canaviais. Restam menos de 3% de
energia limpa e sustentável, representada
pelas matrizes solar e eólica.
O principal obstáculo à disseminação
da energia solar até hoje era o elevado
custo de instalação. A ONG Sociedade
do Sol (SoSol), incubada desde 1999 no
Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec/USP), resolveu enfrentar o
desafio e provou que é possível fornecer
energia solar com custo acessível à população. O Aquecedor Solar de Baixo Custo
(ASBC) pode ser construído por qualquer pessoa, com equipamentos disponíveis em lojas de materiais elétricos e
aquece água a 55°C – o suficiente para
substituir a energia elétrica dos chuvei-
Reciclytherm acoplado
a um condicionador
de ar e à câmara
fria de um frigorífico
Os irmãos Carlos e João Galvanini desenvolveram uma solução inteligente para substituir a
energia elétrica no aquecimento de água e evitar
o desperdício. O equipamento é um reciclador de
energia, chamado de Reciclytherm. O conceito é
simples: para resfriar uma sala, um condicionador de ar retira o calor do interior do ambiente e
descarta do lado de fora. O que os irmãos Galvanini fizeram foi aproveitar o calor desperdiçado e canalizálo para aquecer a água de chuveiros e torneiras.
O resultado é a economia de 70% no consumo de energia elétrica, com tecnologia não-poluente, custo operacional zero e um prazo para retorno do investimento entre 18
e 24 meses. “Com os equipamentos tradicionais jogamos
uma grande quantidade de calor fora e ainda usamos energia para esquentar a água. É um prejuízo duplo”, diz Carlos
Galvanini. A tecnologia foi desenvolvida na Incubadora
Tecnológica da Universidade para o Desenvolvimento do
Estado e da Região do Pantanal (Interp/Uniderp).
Além de economizar energia, o Reciclytherm contribui
de forma expressiva para reduzir o aquecimento global
causado pelo desmatamento. A constatação foi feita ao estimar o desempenho do equipamento em um frigorífico.
O abate de gado exige grandes quantidades de energia nas
caldeiras, obtida pela queima de lenha. Depois da combustão, gasta-se mais energia para dissipar o calor. A estimativa é de que para abater mil cabeças de gado por dia
seja necessário queimar dois caminhões de lenha. Com o
Reciclytherm, um frigorífico deixaria de emitir 70% do
carbono gerado pela combustão. Considerando o tama-
Fotos: Divulgação
Desperdício zero
nho do rebanho bovino brasileiro, estimado pelo IBGE
em 200 milhões de cabeças de gado, seria possível evitar a
queima de 4 mil caminhões de lenha todos os dias.
O Reciclytherm também oferece vantagens para empresas de pequeno porte. Em um restaurante com dois
balcões, com pratos quentes e frios, por exemplo, em vez
de gastar energia aquecendo de um lado e resfriando do
outro, transfere-se o calor de um ponto a outro. Nesse
caso, a economia com eletricidade é de aproximadamente
R$ 1.300,00 por mês. “É uma economia para o usuário e
para o país, porque o que vemos hoje é uma cadeia de desperdícios”, afirma Carlos Galvanini.
O objetivo da empresa é firmar parcerias com grandes
fabricantes para desenvolver os eletrodomésticos juntamente com o Reciclytherm. Segundo Galvanini, mesmo
que a empresa montasse uma indústria para fabricar os
equipamentos, não teria condições de atender toda a demanda. O próximo passo é estabelecer acordos com fabricantes que têm condições de manter a produção em série e
receber os royalties pela tecnologia. “Não queremos monopolizar, queremos parcerias e, logicamente, ser remunerados por isso”, diz.
Locus • Julho 2007
17
c i o s
Instalação de
painéis solares
fotovoltaicos ainda
tem custo elevado
18
Locus • Julho 2007
ros. O desempenho é mais do que suficiente, já que a temperatura necessária
para um banho quente é de 42°C.
A tecnologia começou a ser desenvolvida em 1992, mas só chegou ao mercado
em 2001. Atualmente há cerca de 7 mil
ASBCs instalados no país. A SoSol busca
investidores para fabricar os kits de instalação do equipamento. Existem hoje no
Brasil cerca de 31 milhões de residências
com chuveiro elétrico – mercado potencial para a instalação do aquecedor solar.
Os produtos finais são duas famílias de
aquecedores: uma de alta eficiência, para
ser manufaturada pelo usuário ou por pequenas empresas, com custo estimado em
R$ 150,00 por família; e outra de média
eficiência, 100% industrializada, com custo final de R$ 15,00 por família.
“Nosso sonho é que cada família saiba
que isso existe”, diz Augustin T. Woelz, coordenador de pesquisa e desenvolvimento
da Sociedade do Sol. Segundo ele, a competitividade das energias alternativas não
se baseia apenas em vantagens econômicas. “Não podemos pensar só no lado financeiro e optar pelo carvão por ser 5%
mais barato do que a energia limpa. Precisamos refazer esses cálculos e colocar na
balança os custos reais em longo prazo,
que não são apenas financeiros”, afirma.
A matemática do ASBC resulta em saldo positivo para o meio ambiente. A implantação do aquecimento solar em todos
os chuveiros do país significaria reduzir
em 18 milhões de toneladas por ano as
emissões de CO 2 na atmosfera. O Brasil
emite hoje um bilhão de toneladas de CO 2
anualmente. Por essa perspectiva, a contribuição do gerador solar parece pequena. Mas é preciso levar em consideração
que 75% desse montante vem de emissões
ilegais, isto é, da devastação das florestas.
Se computadas as emissões “legais” com a
queima de combustíveis, o gerador solar
representaria uma redução de 7,2% no
potencial poluidor do país.
“Precisamos parar com as emissões de
gases do efeito estufa imediatamente. Se
não fizermos nada, em 30 anos teremos
um ambiente absolutamente hostil. Eu tenho um neto. Sei que quando ele estiver
com 60 anos vai sofrer as conseqüências
do que fazemos hoje”, diz Woelz.
Gás menos poluente
Segundo dados do Worldwatch Institute, a concentração de CO 2 na atmosfera
hoje é de cerca de 400 partes por milhão
(ppm). De acordo com o relatório do
IPCC, se o número ultrapassar 500 ppm,
o planeta enfrentará um quadro perigoso
Divulgação sosol
N e g
Augustin mostra produto
desenvolvido pela Sociedade do Sol
Fotos: Divulgação eletrocell
Ett confia na eficiência
do Ecogem 50
Apesar de 95% dos
componentes serem produzidos
no Brasil, a tecnologia ainda é cara por
não ter escala de produção. Em uma residência, o custo para instalação é de US$ 6
mil e o prazo para retorno do investimento é de cinco anos.
Mesmo considerada ainda um gerador
de luxo, a célula combustível oferece soluDivulgação eletrovento
de aquecimento. Atualmente, a concentração de CO 2 na atmosfera cresce a uma
taxa superior a 2 ppm por ano.
Não é por falta de conhecimento que o
efeito estufa se agrava. A humanidade já
possui tecnologia disponível para substituir fontes poluidoras – o desafio é viabilizar as novas fontes, que ainda são mais
caras do que as tradicionais. É o caso da
célula combustível: energia não-poluente,
sem ruído ou odor e que tem apenas água
pura como resíduo.
A tecnologia é desenvolvida no Brasil
pela Eletrocell, empresa do Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec/SP),
responsável pela primeira célula combustível com tecnologia nacional. O sistema
transforma energia química em eletricidade obtida pela oxidação do hidrogênio, gás
não-poluente e abundante na natureza.
Bons ventos
Os altos custos de instalação e distribuição também
são a justificativa para a modesta participação da energia eólica na matriz energética brasileira. A empresa Eletrovento, graduada na Incubadora de Empresas de Base
Tecnológica da Unicamp (Incamp), investiu em geradores de pequeno porte para transpor essa barreira. Com
potência de 5 kW, o equipamento possui um conjunto de
baterias que ajuda a suprir o abastecimento quando o
vento pára, tornando-o independente da rede. Sem a necessidade de linhas de transmissão, os custos são mais
baixos e indicados para residências e empresas de pequeno e de médio porte.
Os geradores eólicos são competitivos principalmente em locais onde não existe
fornecimento de energia elétrica, como fazendas. No Brasil, existem dois milhões de
residências nessa situação, por estarem em regiões onde o custo para levar a rede é
muito elevado. “Abastecemos dois sítios em Santo Antônio do Pinhal (interior de
SP). Os proprietários solicitaram o abastecimento elétrico e a concessionária disse
que custaria R$ 240 mil para levar a rede. Nosso gerador custou R$ 20 mil”, diz Arnaldo Costa, diretor da Eletrovento.
A energia eólica no Brasil ainda é cara por causa dos componentes de segurança
que exige. O equipamento precisa ser robusto para garantir que a torre não seja
danificada em dias de vento forte. Segundo Costa, o aumento na demanda baratearia os custos. “A conta depende das comparações que você faz. Em algumas fazendas
em Uberlândia (MG), por exemplo, quando ocorre algum problema na rede e falta
energia elétrica, a concessionária leva pelo menos 24 horas para restaurar o abastecimento e os fazendeiros perdem todo o leite estocado. O prejuízo com três quedas
de energia já compensaria o custo do nosso gerador”, diz.
Gerador de energia
eólica instalado pela
Eletrovento em uma
propriedade rural
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N e g
c i o s
Construção reciclada
ção para hospitais, redes de telecomunicações e empresas que precisem de energia contínua. O sistema é capaz de suprir
o consumo em caso de faltar energia elétrica na rede. A célula tem maior aproveitamento do que uma bateria comum, com
a vantagem de acumular energia na forma
de hidrogênio, que pode ser armazenado
em reservatórios de qualquer tamanho.
De acordo com Gerhard Ett, diretor da
Eletrocell, a tecnologia deve se tornar viável em poucos anos e, dependendo da necessidade, o custo compensa. “O prejuízo
da falta de eletricidade em um hospital é
muito maior do que o custo de geração de
energia”, diz. Além de fornecer energia
limpa, a tecnologia é mais eficiente do
que os combustíveis disponíveis no mercado. Um quilo de hidrogênio detém a
mesma quantidade de energia que 3,5 litros de petróleo, quatro litros de gasolina
ou 3,7 metros cúbicos de gás natural. Enquanto um motor de combustão aproveita
17% da energia consumida, a eficiência da
célula combustível chega a 60%.
20
Locus • Julho 2007
Construção civil é
responsável pela maior
parte dos resíduos
sólidos gerados no país
Atividade agrícola
precisa reduzir
danos causados
ao meio ambiente
Eficiência energética e corte de desperdícios não dependem apenas de tecnologia sofisticada. A empresa Ediplan, incubada na Interp do Pantanal, escolheu o
segmento da construção civil para mostrar que, em alguns casos, a reavaliação de
processos basta para obter resultados surpreendentes.
A construção civil é responsável pela
maior parte dos resíduos sólidos gerados
no país. Para cada três casas que se constrói, uma quarta é jogada no lixo em forma de entulho. Além do desperdício, a
atividade possui um agravante ambiental:
cada metro quadrado de construção consome 30 m² de florestas. A Ediplan reduziu essa devastação a zero.
“Percebemos que a construção civil ainda é uma atividade basicamente artesanal.
Nosso objetivo foi simplificar as coisas.
Pensamos em desenvolver um método
mais barato, rápido e com benefícios ao
meio ambiente”, explica o engenheiro responsável pelo projeto, Geraldo Rolim Júnior. Deu certo. Com um sistema de construção baseado em formas metálicas
articuladas, a empresa conseguiu reduzir
em 30% o tempo da construção e gerou
uma economia de 20% em relação às construções tradicionais.
Agricultura renovada
Apesar de o efeito estufa ser causado
principalmente por atividades industriais
em ambientes urbanos, é no campo que as
conseqüências são mais drásticas. Segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a agricultura é o setor mais vulnerável aos impactos
do aquecimento global. Estimativas mostram que, em 50 anos, algumas culturas
como café, arroz, feijão, milho e soja podem ter suas áreas de cultivo reduzidas
pela metade caso se concretizem as previsões do IPCC.
Para neutralizar os efeitos do aquecimento, a empresa VacuoFlex, graduada na
Incamp, desenvolveu um material capaz
de refletir a radiação solar, reduzir a temperatura e ainda possibilitar o cultivo de
culturas antes inviáveis no Brasil por causa do clima. A base da tecnologia utilizada foi desenvolvida pela NASA na década
de 1960 para o controle térmico de satélites e das roupas dos astronautas, mas só
chegou a domínio público no início dos
anos 1990. Trata-se de um filme metalizado chamado RCF (Filmes de Controle de
Energia Radiante, do inglês Radiant Energy Control Films). Aplicado a uma lona, o
material é capaz de reduzir a radiação solar em até 90%.
A VacuoFlex aplicou a tecnologia a lonas
para a agricultura. Nos países frios, agricultores colocam lonas de plástico sobre as
Divulgação ediplan
O sistema não utiliza tijolos e permite
que as paredes sejam construídas com materiais alternativos como garrafas pet, lascas de pneu ou isopor. Outra possibilidade
é utilizar o solo-cimento, mistura de cimento com o solo da região onde será cons­
truída a edificação, o que permite reduzir
custos e economizar no combustível que
seria queimado para transportar materiais
de locais distantes. As placas variam no
comprimento e podem ser adaptadas desde em casas populares até em agroindústrias ou prédios. Outra vantagem do sistema é o isolamento térmico e acústico
su­perior ao das construções tradicionais.
plantações para aquecer o solo e viabilizar
o cultivo. A prática é utilizada em cerca de
15 milhões de hectares (aproximadamente
o tamanho do Reino Unido). Em países
quentes, como o Brasil, a tecnologia RCF
tem efeito contrário, por refletir a radiação, e resfria o solo até 14°C. Segundo estimativas da VacuoFlex, se o material fosse
usado em uma área que refletisse a radiação solar do planeta em 2%, seria possível
neutralizar o efeito estufa.
Paredes projetadas
pela Ediplan são
construídas com
materiais alternativos
No Brasil,
energia eólica
ainda é cara
devido aos
componentes
de segurança
que exige
Locus • Julho 2007
21
N e g
c i o s
Matéria-prima abundante
consumo de eletricidade. Comparada ao
aquecimento elétrico, a economia chega
a 80%. Em relação ao
diesel, a redução é de
50%, e em relação ao
gás natural é de 30%. O investimento para substituir
o aquecimento elétrico pela bomba de calor é recuperado em seis meses.
De acordo com o diretor da empresa, apesar da
gama de energias alternativas disponíveis hoje no
mundo, ainda faltam políticas públicas para disseminar seu consumo. A Thompson assinou parceria
com o Ministério de Minas e Energia e aguarda a
liberação de verba e incentivo do governo federal
para a adoção de soluções sustentáveis.
Segundo ele, com a utilização de soluções simples
para o consumo, é possível afastar o risco de apagão
no país. “O horário de pico é crítico e seu maior
agravante são os chuveiros elétricos. Grande parte
da expansão das hidrelétricas ocorre para suprir a
demanda nesse horário, porque na maior parte do
dia temos energia de sobra. Se conseguirmos substituir a energia dos chuveiros, o benefício seria imenso, pois não precisaríamos construir hidrelétricas
na Amazônia, por exemplo”, afirma.
“Existem estudos internacionais para
refletir a radiação por meio de lançamento de discos metalizados em órbita, ou
bombardeio da atmosfera com enxofre,
ambos com enormes custos econômicos e
produção de chuva ácida. A solução que
propomos é muito mais simples, com a
vantagem de que o custo é zero, já que a
aplicação do produto e sua manutenção
ficariam a cargo dos agricultores”, explica
Sérgio Tavares, diretor da VacuoFlex.
A tecnologia também pode ser aproveitada na produção industrial. Aplicado em
cortinas para janelas, o RCF proporciona
redução de custos com energia de aproximadamente R$ 8,00 por metro quadrado, o
22
Locus • Julho 2007
Divulgação Vacuoflex
Enquanto a VacuoFlex busca impedir a entrada de calor na atmosfera, a Thompson, incubada na Incamp, desenvolveu um equipamento
que retira o calor do ar e o transforma em energia para aquecer a água.
A Bomba de Calor, como é conhecida, gera energia sem queima de combustíveis e com alta eficiência. O
equipamento utiliza energia elétrica
para mover um fluido especial que retira calor do ar
e gera água quente com aproveitamento seis vezes
maior que o do chuveiro elétrico. Em piscinas, a
temperatura chega a 32°C e nos chuveiros a 55°C.
“O Brasil tem um problema muito grande de
desperdício. Se pouparmos, não precisaremos expandir a geração. Queimar algo para crescer é um
retrocesso à época em que vivíamos nas cavernas.
É inadmissível”, diz Rodrigo A. Jordan, diretor da
Thompson. O desempenho da Bomba de Calor é
pro­por­cional à temperatura ambiente. Isto é: quanto
mais quente for o ambiente, maior a eficiência da
bomba. Entretanto, Jordan garante que o equipamento também funciona em regiões frias.
A energia que move o equipamento não vem necessariamente da rede elétrica – pode ser abastecida
por um gerador eólico ou solar. “Até uma bicicleta,
se você ficar pedalando, fornece energia para o gerador”, diz Jordan, que trabalha com a tecnologia
desde a década de 1980, com o objetivo de reduzir o
Bombas de calor
instaladas pela
Thompson em
um posto de
combustíveis
que corresponde a uma economia de 60%
no consumo de ar-condicionado. Segundo
Tavares, o custo de aplicação industrial do
produto nas cortinas é pago pela economia
obtida em três meses de verão.
A lona plástica com o filme isolante está
sendo testada para cobrir caminhões
abertos que transportam bebidas e hortifrutigranjeiros. “Com a aplicação do isolante na lona, a parcela de calor irradiada
para a carga é praticamente eliminada, reduzindo significativamente as perdas
ocorridas no transporte de produtos”, diz
Tavares. Reduções significativas de danos
são mesmo tudo que o planeta precisa
neste momento. oportunidade
Pde inovação
lu l as
Considerado estratégico pela política industrial,
o setor de fármacos brasileiro tenta avançar após anos
de dependência externa. Laboratórios de todos os portes
garantem competitividade com investimento em P&D
Amanda Miranda
­D
Divulgação
Medicamento
da Aché foi o
primeiro totalmente
fabricado no Brasil
esenvolver um medicamento 100%
nacional. Este é o grande objetivo das
empresas especializadas em fármacos. A
meta, que pode parecer bem distante
para um país que há pouco tempo se limitava a importar produtos, já está sendo alcançada por alguns laboratórios,
que além de ganharem o mercado interno têm incrementado, ano após ano, o
volume de exportações.
É o caso da Aché, empresa nacional que apostou na parceria
com universidades para desenvolver o primeiro
medicamento totalmente fabrica-
do no Brasil. O Acheflan, antiinflamatório
tópico, foi produzido a partir da Cordia
verbenacea (erva baleeira) e já é o líder do
segmento no país. O sucesso é resultado de
diversos fatores, que aliam desde alto investimento em pesquisa até a competência
téc­nica de uma equipe formada por pesquisadores de quatro instituições brasileiras – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp), Pontifícia Universidade
Católica de Campinas (PUC-Campinas) e
Universidade de Campinas (Unicamp).
O pioneirismo deixou clara uma tendência: é necessário inovar para conquistar
mercado na área, conhecida pela intensa
concorrência. Para se ter uma idéia, as
grandes multinacionais do setor investem
de 10% a 20% de seu faturamento nas atividades de P&D. “O governo e a universidade já entenderam que não basta publicar
artigos em revistas acadêmicas. Para o país
crescer, temos que apostar na inovação”,
afirma o pesquisador da UFSC João Batista
Calixto, um dos principais envolvidos na
elaboração do Acheflan. Inovação, neste
caso, significa desde apostar na biodiversidade brasileira para encontrar novos produtos até descobrir novas formulações
para um fármaco já existente.
Momento positivo
A mudança de cenário pode ser constatada pelo volume de exportação dos laboratórios brasileiros em 2006, que chegou a
US$ 755 milhões – crescimento de 23%
em relação ao ano anterior. Uma das empresas exportadoras que compõe esse índice é a Silvestre Labs, integrante do Pólo
de Biotecnologia do Rio de Janeiro (BioRio). Incubada entre 1998 e 2001, passou
Locus • Julho 2007
23
Fotos: Divulgação silvestre labs
Empresas brasileiras
estão ganhando
competitividade no setor
Executivo da
Silvestre Labs
aposta na
pesquisa para
se consolidar
no mercado
de farmácia de manipulação a empresa de
base tecnológica e vem investindo em
pesquisas para se consolidar estrategicamente no mercado. O segredo, nesse caso,
é dominar a síntese farmoquímica de todos os princípios ativos utilizados nos pro­
dutos que desenvolve.
Segundo o executivo da empresa, Eduar­
do Cruz, o marco para que o laboratório
atingisse esse patamar foi o lançamento
do Dermazine, em 1990. O medicamento
cicatrizante apresentava um princípio ativo totalmente sintetizado dentro dos laboratórios da Silvestre Labs. A partir daí,
diversos produtos foram criados. Um dos
mais recentes, o Extra Graft XG-13, utilizado para preenchimento e substituição
óssea, rendeu à empresa o primeiro lugar
no ranking do Índice Brasil de Inovação
(IBI), na categoria Média-Alta Intensidade Tecnológica.
A grande inovação do produto está em
sua capacidade de induzir a proliferação
de células-tronco no tecido ósseo. E o melhor: a tecnologia utilizada é 100% brasileira. A pesquisa que originou o Extra
Graft XG-13 foi desenvolvida em parceria
com a Unicamp. “Procuramos manter um
canal de comunicação sempre aberto e
ativo com centros de pesquisa nacionais e
internacionais”, explica Cruz. Segundo ele,
alguns produtos da empresa também estão
sendo registrados nos Estados Unidos e na
Europa. “É uma estratégia que alia boas
práticas de pesquisa a boas práticas de promoção, marketing e gestão”, completa.
e xportações
1. 0 0 0
500
Farmoquímicos,
adjuvantes farmotécnicos
e medicamentos
24
Locus • Julho 2007
0
2002
2003
2004
2005
2006
I pesquisa básica
II Desenvolvimento
O ciclo do
medicamento
inovador
(desde as fases de pesquisa
toxicológica até a pesquisa clínica)
III Produção
(desenvolvimento em
escalas piloto e industrial)
(antes da liberação do
medicamento para o consumo)
V marketing e Dois outros laboratórios nacionais – a
Eurofarma e a Biolab – também decidiram investir na pesquisa e no desenvolvimento de novos fármacos. Criaram, então,
a Incrementha PD&I, empresa residente
no Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec), em São Paulo. Com pouco mais de um ano, o empreendimento
recebeu cerca de R$ 4 milhões em investimentos no ano passado e deve receber outros R$ 12 milhões este ano.
Atualmente, a empresa conta com três
depósitos de patentes em seu nome: duas
combinações de fármacos e um anestésico
desenvolvido a partir de nanopartículas.
A Incrementha é responsável pela elaboração total do produto, desde a fase de
pesquisas até a etapa de testes e de patenteamento. De acordo com o diretor técnico da empresa, Henry Suzuki, a Incrementha está na primeira das três etapas
que culminarão no seu objetivo principal:
o desenvolvimento de novos medicamentos. “As empresas nacionais que querem
fazer lançamentos devem criar produtos
inovadores, que cheguem ao mercado
com uma expectativa maior do que a gerada pela simples fabricação de genéricos
ou similares”, aponta.
Desafio brasileiro Se por um lado as indústrias vêm apostando em P&D, por outro ainda existe
uma série de restrições para quem atua na
área. Para o executivo da Silvestre Labs,
comercialização
Eduardo Cruz, são três os principais desafios da indústria de fármacos no Brasil: o
ambiente extremamente competitivo, as
questões regulatórias e a capacidade de
financiamento e investimento do setor.
Os recursos para pesquisa vêm basicamente das agências federais e estaduais de
fomento. Em alguns casos, como o da
Aché, por exemplo, os próprios laboratórios decidem fazer parcerias com as universidades. Para o pesquisador da UFSC
João Batista Calixto, esse seria outro grande desafio para o setor: fortalecer cada
vez mais as relações entre universidade e
empresa. “Existem ainda questões delicadas nessa relação e a forma mais fácil
para as indústrias atingirem a inovação é
através das pesquisas
realizadas nas universidades”, argumenta.
O fato de o Brasil
estar entre os 10 grandes mercados consumidores de medicamentos do mundo o
torna cada vez mais
atrativo para os investidores. Mas os investimentos, segundo o pesquisador, devem ser pensados em longo prazo. Isso
porque o lançamento de uma nova droga
no mercado pode custar cerca de US$ 500
milhões – um investimento alto que pode
gerar excelentes resultados após um longo
período de pesquisas e testes.
Divulgação
IV Fase regulatória
Produto da
Silvestre Labs
classificou a empresa
entre as mais
inovadoras do Brasil
Locus • Julho 2007
25
Investimento
Mantenha os anjos por perto
Conhecidos como investidores-anjos, os fundos de capital
de risco são cada vez mais numerosos e se aproximam das
incubadoras. Mas será que as empresas sabem lidar com a
chegada de um novo sócio?
Adriane Alice Pereira
O
s investimentos realizados em empresas brasileiras por fundos de private
equity e capital de risco deverão dobrar
em 2007 e atingir a soma de US$ 2 bilhões, segundo estimativa da Associação
Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP). O momento é favorável
para o crescimento desse tipo de aporte
no país, principalmente devido à queda
da taxa de juros. Com a economia brasileira mais competitiva, os investidores de
capital de risco se voltam para aplicações
com alto potencial de inovação e desenvolvimento tecnológico. E o ambiente
perfeito para encontrar empresas com essas características são as incubadoras.
Diante desse cenário, os investimentosanjos em empresas incubadas tendem a
crescer, potencializando as possibilidades
de captação de recursos e de desenvolvimento de novos negócios. As incubadoras
ampliaram seus programas de capacitação
e de aproximação com fundos de capital de
risco, incluindo o assunto na gama de assessorias ou serviços oferecidos. Com as
portas abertas a novos recursos e com as
incubadas cada vez mais habilitadas, a
preocupação principal passa a ser o relacionamento entre o investidor e a empresa,
na busca da satisfação de ambos os lados.
Uma boa relação é ainda mais importante no caso de um aporte de capital de
risco feito em empresas incubadas. “São
três os riscos principais avaliados por um
investidor. O primeiro é o risco tecnológico – o produto pode não funcionar. O
segundo é o risco de mercado – o cliente
pode não se interessar. E o terceiro é o ris26
Locus • Julho 2007
co de gestão – a empresa
pode não dar certo. No
caso de incubadas esses riscos são magnificados”, aponta a economista Cláudia Pavani, autora do livro O Capital de Risco no
Brasil. E é justamente na avaliação desses
riscos que os problemas de relacionamento podem começar. “Normalmente o empreendedor tem dificuldades de enxergar
o nível de risco que o investidor vê – o
que é amplificado no caso de incubadas,
que normalmente são empresas que ainda
não foram ao mercado, estão em um ambiente muito protegido e são administradas por profissionais recém-saídos da
universidade”, completa Cláudia.
Essa dificuldade é sentida pela gerente
do Centro de Empreendimentos do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CEI), Leoci
Tassinari Sciortino. “As empresas têm receio em receber esse investimento, pois
acreditam que podem perder o poder de
decisão no negócio. Geralmente os sócios
são muito jovens e desconfiados com a
idéia de abrir as suas informações para
um investidor”, afirma.
Enxergar o investidor como sócio e não
como intruso é um dos primeiros obstáculos que deve ser contornado. “A primeira coisa que deve ser estabelecida na relação investidor-empresa é a confiança. Se a
empresa aceitou o investidor, tem que
passar a vê-lo como um sócio, com objetivos em comum”, afirma Cláudia Pavani.
“Os objetivos conjuntos devem estar alinhados por ambas as partes, que esperam
Dicas para manter um bom relacionamento entre investidores e empresas
Por Cláudia Pavani
Para as empresas
Para os investidores
• Estabeleça uma relação de confiança e transparência
• Implante um fluxo constante de informações
• Mantenha o investidor participante
• Formalize qualquer mudança no Plano de Negócios
• Entenda a empresa
• Assuma a função de professor – apresente as
melhores práticas e divida a sua rede de relacionamentos
• Seja um investidor estratégico
• Prepare a empresa para a abertura de capital
uma valoração considerável do negócio
como fruto de sua parceria. Não deve
existir a ilusão que o investidor já espera e
tem uma estratégia de saída do investimento, buscando o melhor lucro possível.
Acima de tudo o investidor aposta em
pessoas e não só na idéia e seu potencial”,
acrescenta Maurício Schneck, gerente de
incubação do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R).
Para Amilton de Almeida, diretor executivo do Centro de Incubação e Desenvolvimento Empresarial (CIDE), em Manaus (AM), os problemas já podem surgir
na captação dos recursos. “De maneira
geral, falta um plano completo para estimular o investidor a enxergar onde ele
está colocando seu dinheiro e o que ele
espera ganhar com isto”, aponta.
Boa parte dos casos de insucesso acontece também por desentendimentos com
origem na diferença de opiniões. “Em alguns casos a opinião estratégica na visão
do investidor não é aceita pelo empreendedor, ou vice-versa”, exemplifica Schneck.
Nessas situações, a negociação passa a fazer parte da rotina da empresa. “A empresa não pode assumir ou mudar de rumo
sozinha, ela não está mais sozinha”, reforça Cláudia Pavani.
Outra grande armadilha está nos problemas de relacionamento que são levados
para o lado pessoal na discordância de
opiniões. “É necessário que o empreendedor conheça bem o negócio e seu mercado, mas também é necessário que seus
ouvidos estejam abertos a opiniões e a
aceitar que nem sempre é o dono da verdade”, completa Maurício Schneck.
Graduada em abril deste ano no Núcleo
Softex de Campinas (SP), a Digital Assets,
que desenvolve soluções para o reuso de
softwares, recebeu um aporte no final de
2006, poucos meses após a criação da empresa. Desde a elaboração do plano de negócios ficou claro aos empreendedores
que a empresa precisava de um investimento para crescer com sucesso. Com o
apoio da incubadora, a Digital Assets participou de programas de capacitação que
aceleraram o amadurecimento da empresa. Também foi a incubadora que fez a
aproximação com o investidor.
Desde então, a relação entre a Digital e o
investidor tem sido pautada pela transparência, o que garante o sucesso do relacionamento. “Além de uma gestão
estruturada, que já era prática da
empresa, estipulamos um Conselho de Administração e reuniões
quinzenais para garantir um acompanhamento periódico ao investidor”,
destaca Kleber Bacili,
diretor de tecnologia
da Digital Assets. O
acordo com o Fundo
prevê recursos de aproximadamente R$ 4 milhões, que serão investidos em pesquisa e
desenvolvimento, consolidação da marca e
expansão internacional.
Além do incentivo ao amadurecimento
da gestão da empresa e, obviamente, do
aporte financeiro, o investidor de capital
de risco pode trazer ativos intangíveis,
como a abertura de oportunidades, troca
de experiências, compartilhamento do
conhecimento e contato com uma ampla
rede de relacionamentos. Resta ao empreendedor saber usufruir. Schneck: investidores
apostam em pessoas e
não apenas em idéias
Locus • Julho 2007
27
c
a
p
a
Corrida pela
inovação
A expansão dos negócios na área esportiva revela
que o setor ainda reserva muitas oportunidades
aos empreendedores. Nesse mercado, ganham a
disputa empresas que apostam em idéias inovadoras
J
Divulgação/COB
Débora Horn
28
Locus • Julho 2007
Divulgação/visagio
Leonardo Carvalho,
tiro com arco
Visagio: nos esportes,
alvo deve ser a inovação
ulho de 2007 ficará marcado na história do esporte brasileiro. Durante 16
dias, 5.662 atletas assumem a missão
de representar 42 países, competindo em
44 modalidades esportivas. Tudo isso na
cidade do Rio de Janeiro, sede dos Jogos
Pan-americanos deste ano. Assim como as
delegações esportivas, milhares de empresários esperam ver durante o evento o resultado de muito trabalho. A organização
dos Jogos envolve corporações de vários
portes, desde gigantes como a Atos Origin, franco-holandesa responsável por
todo o sistema de integração tecnológica
do Pan, até as nascentes – caso da Control­
la­to, residente na Incubadora da Coppe
da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), que realizou um estudo para o
consórcio responsável pela reforma no estádio do Maracanã.
O objetivo do trabalho da Controllato
era apurar o impacto causado pelas torcidas na estrutura de concreto do estádio.
Para evitar problemas decorrentes de comemorações vigorosas dos torcedores, a
empresa instalou atenuadores dinâmicos
sincronizados (ADS), equipamentos que
absorvem a energia liberada pelas torci-
Divulgação/COB
empresa receitas anuais de 5,4 bilhões de euros, gerados em 40
países, nos quais, ao todo, emprega 50 mil pessoas.
A Atos Origin venceu a licitação promovida pelo governo federal para a área de tecnologia da
informação. Também foram licitadas as contratações de serviços
de telecomunicações e áudio e vídeo. “As empresas vencedoras têm
know-how em grandes eventos. Alguns
dos profissionais vêm, inclusive, de países
que já sediaram Jogos Olímpicos, mas a
maioria dos funcionários que estão trabalhando diretamente com a tecnologia dos
Jogos é formada por brasileiros, o que é
fundamental para promover no país um
legado em experiência que renova o conhecimento na área esportiva e amplia a
Patrocínio a atletas,
como Daiane dos
Santos, também rende
vantagens às empresas
fotos: Divulgação/atos origin
das na arquibancada. O trabalho da Controllato está entre as centenas de novidades que marcam presença no Pan 2007. “A
cada ciclo olímpico percebemos que as
inovações tecnológicas e o esporte se relacionam com mais intensidade”, afirma o
presidente do Comitê Olímpico Brasileiro
(COB), Carlos Arthur Nuzman.
Prova disso é o Centro de Operações
Tecnológicas dos Jogos. Implementado
pela Atos Origin, é o setor responsável
pela operação e gerenciamento de todas
as aplicações e sistemas de tecnologia dos
jogos. “Trata-se de um centro de controle
em tempo real que integra e ‘enxerga’ as
operações em todos os locais de competição e não-competição durante o evento”,
explica Nuzman. Ao todo, são 30 GMSs
(Sistemas de Gerenciamento dos Jogos),
que além de emitirem informações em
tempo integral sobre os resultados das
provas coordenam operações relacionadas a credenciamento, logística de atletas,
gerenciamento da força de trabalho, boletins médicos e exames antidoping.
Para implantar esse aparato, que custou
nada menos que R$ 141 milhões, a Atos
Origin trabalhou nas obras por 50 dias
ininterruptos, coordenando cerca de 100
operários e 10 empresas no projeto de
construção civil. O prazo de entrega do
serviço foi cumprido rigorosamente pela
empresa européia, especializada em tecnologia da informação. Resultado da experiência de quem já organizou diversos
eventos para o Comitê Olímpico Internacional (COI) – por meio de um contrato
que é considerado o maior, em todo o
mundo, relacionado a esportes. No currículo da empresa estão os Jogos de Salt
Lake City, em 2002; as Olimpíadas de Atenas, de 2004, e três que ainda estão sendo
planejadas: Pequim 2008, Vancouver 2010
e Londres 2012.
Antes e durante os eventos, a Atos Origin integra os serviços de consultoria especializada, gerenciamento de projetos,
integração e gerenciamento de sistemas e
soluções em software. O know-how adquirido ao longo de 15 anos tem rendido à
Tecnologia da informação
tornou-se essencial
na organização de competições.
Abaixo, o Centro de Operações
Tecnológicas do Pan 2007
Locus • Julho 2007
29
p
a
A gigante brasileira
Provas de pentatlo
moderno testaram as
instalações do Pan 2007
capacidade em sediar futuras competições
de nível internacional, como é o caso dos
Jogos Mundiais Militares de 2011, que já
conquistamos”, afirma o secretário executivo do Comitê de Gestão Federal para o
Pan 2007, Ricardo Leyser.
Embora o setor esportivo nem sempre
seja o único nicho de atuação das empresas
envolvidas na organização do Pan, o sucesso de suas atividades comprova que inovação tecnológica é fundamental para o
avanço dessa área. Para o secretário de Esportes e Turismo do Estado do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, a inovação tem um
significado especial para os esportes. “Na
área esportiva, essa importância transcende o simples conceito
de inovação. Representa avanços na metodologia dos procedimentos, na aerodinâmica
dos equipamentos, na
descoberta de materiais
e na criação de equipamentos que aprimoram
a performance dos atletas”, afirma.
30
Divulgação/COB
Atletas contam
com inovações para
melhorar performance
Locus • Julho 2007
Produto da
Tirante A auxilia
praticantes de vôo livre
O presidente do COB, Carlos Nuzman,
explica que as inovações são fundamentais, em especial para esportes de alta performance, pois proporcionam ao atleta
resultados mais positivos, tanto em treinamento quanto em competições. “Os
dispositivos eletrônicos, por exemplo,
tornam cada vez mais práticos os estudos
sobre a preparação física dos atletas e, assim, ajudam a potencializar seu rendimento, apontando alternativas viáveis
para aprimorar seus resultados”, diz.
Em tempos nos quais as competições
são decididas por milésimos de segundo,
qualquer vantagem que o atleta obtenha
sobre os adversários pode ser decisiva.
“Daí a importância de se desenvolver no-
N egócios radicais
Não são apenas as modalidades olímpicas que garantem bons negócios. Os esportes considerados radicais ou de aventura, como skate, pára-quedismo, vôo
livre ou outros mais tradicionais, como o surfe, têm
rendido boas idéias e lucro aos empreendedores. Há
Fotos: Divulgação/tirante a
a
Ismar Ingber/CO-RIO
c
vos materiais esportivos, preparados com
tecnologia avançada que propiciem um
melhor rendimento aos atletas”, explica
Nuzman. É esse caminho inovador que a
Olympikus vem trilhando desde 1994. Ao
patrocinar a equipe brasileira de vôlei,
dois anos após a conquista do ouro nas
Olimpíadas de Barcelona em 1992, a marca esportiva da Calçados Azaléia buscou
se especializar na produção de materiais
de alta qualidade para a prática de atividades físicas. Em três anos, chegou à liderança do mercado no país, posição que
ocupa até hoje, batendo gigantes estrangeiras como Nike, Mizuno e Adidas.
De acordo com o diretor da Calçados
Azaléia, Paulo Santana, a Olympikus vive
um momento histórico. “Após 13 anos de
investimentos contínuos em pesquisa e
divulgação/olympikus
Santana, da Olympikus:
marca atingiu
maturidade em
tecnologia e design
Tênis com duplo
amortecimento é a última
inovação da Olympikus
ção
divulga
três anos o empresário Renato Pisani começou a
voar de parapente e se apaixonou. “O vôo livre é um
esporte fácil de a gente se apaixonar. A interação
com a natureza, o desafio à lei da gravidade e a necessidade de rápidas tomadas de decisão fazem o
praticante sentir uma enorme sensação de liberdade”, afirma. Aliada à antiga vontade de ter um negócio próprio, a nova paixão de Pisani transformou-se
na Tirante A - Adventure Instruments, uma empresa produtora de artigos para esportes de aventura,
residente na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de Itajubá (MG).
O primeiro produto lançado pela Tirante A foi o
TAV-1000, um equipamento de navegação que pode
ser utilizado por praticantes de parapente, paraglider e asa-delta. Primeiro do tipo a ser desenvolvido
e fabricado no Brasil, o TAV-1000 auxilia na identificação de correntes de ar e mostra ao piloto dados
como altitude em relação ao nível do mar e à decolagem, temperatura e tempo de vôo. O sucesso do
produto, que levou três anos para ser desenvolvido,
já faz o empreendedor trabalhar no próximo modelo. “O TAV-2000 terá foco nos pilotos de acrobacia”,
planeja Pisani.
A perspectiva da empresa é expandir a produção. “Agora é o momento de nos consolidarmos
no mercado brasileiro e preparar o terreno para
exportação. Estamos procurando também investidores em forma de angels, capital semente ou venture capital para alavancar os negócios e diminuir
o tempo de desenvolvimento dos produtos”, afirma o empresário.
desenvolvimento, a marca atin­
giu maturidade em tecnologia
e design, refletida nas novas
linhas de tênis e calçados oferecidas ao mercado – no Brasil
e em mais de 25 países no exterior”, diz. Para ele, os expressivos aumentos de vendas registrados desde o início deste
ano mostram que o consumidor está percebendo o avanço
da marca. O maior destaque
entre as tecnologias aplicadas
pela empresa é o sistema de
amortecimento Tube, lançado
em 2004 – após cinco anos de
pesquisas, viagens e troca de
informações entre engenheiros da Olympikus e consultores americanos.
Para desenvolver essa tecnologia, foram
analisados tubos flexíveis utilizados para
garantir a segurança de grandes edificações em caso de terremotos – em Tóquio,
Los Angeles e Cidade do México. Os pesquisadores da empresa chegaram à conclusão de que a tecnologia aplicada nas edificações, capaz de sustentar milhares de
toneladas mesmo em situações adversas,
poderia garantir menor impacto às articulações humanas durante a prática esportiva. “No início deste ano, a Olympikus lançou um modelo que utiliza essa tecnologia
e conta com duplo amortecimento. É o
mais desenvolvido em tecnologia e design
da história da marca, resultado de um in-
Locus • Julho 2007
31
a
p
a
N egócios radicais
Altas ondas
Foi também a paixão pelo esporte
que transformou o surfista Mauricio
Andrade em empresário ao fundar a
Aram. A empresa, incubada desde 2005
na Coppe/UFRJ, desenvolveu uma tecnologia inédita para criar artificialmente ondas ideais à prática do surfe.
O objetivo é solucionar um problema
enfrentado pelos surfistas no litoral
brasileiro: a falta de bancadas (fundos
de mar nas praias) que garantam as ondulações.
Segundo Andrade, no mundo todo
há empresas pesquisando formas de
criar fundos artificiais.
Na Nova Zelândia, por
exemplo, foi desenvolvido um sistema que
utiliza sacos de areia
jogados no fundo do
mar. Incluída no grupo
de inovadoras, a Aram aposta em uma
tecnologia para a construção de arrecifes artificiais móveis, baseada em estruturas de concreto armado. Conforme
Andrade, o sistema tem três diferenciais
importantes em relação aos concorrentes estrangeiros: é reversível, não perde
a forma e permite reaproveitamento, ou
seja, tem vida longa.
A facilidade de montar o sistema é
outra vantagem apontada pelo empresário. Formado por módulos de concreto armado, o sistema Aram tem uma
câmara interna controlada por válvulas
– capazes de encher e esvaziar seu interior. A estrutura vazia flutua e, assim,
pode ser transportada de forma prática. Cheios de água, os módulos fixamse ao fundo com o próprio peso. “O
sistema precisa interagir com as condições do mar. Com os arrecifes, pode-se
garantir que, se houver onda, ela será
de qualidade”, diz Andrade.
32
Locus • Julho 2007
O surfista-empresário Mauricio Andrade
O sistema desenvolvido para animar
surfistas também terá aplicações em
áreas distantes do esporte. Uma delas,
segundo Andrade, é a defesa costeira.
“Os arrecifes artificiais podem dissipar
a energia da onda, fazendo com que ela
perca força e chegue tranqüila à praia.”
A Aram já patenteou a inovação no Brasil, nos Estados Unidos e, claro, na Austrália – a terra do surfe.
um know-how de grande valor e ao país
uma marca nacional com estrutura e qualidade do mesmo porte que qualquer outra marca internacional”, afirma Santa­na.
Embora não revele qual o percentual do
faturamento aplicado em P&D, o diretor
da Calçados Azaléia afirma que a empresa
continuará apostando em design e tecnologia para se manter competitiva. “Também queremos crescer na linha de confecção, que tem um potencial enorme,
pois tudo o que é desenvolvido para os
atletas em tecnologia, pesquisa e design
acaba sendo levado para os produtos de
linha da marca.”
Divulgação /Sogipa
vestimento de US$ 2 milhões em pesquisa
de biomecânica”, destaca Santana.
A associação com o esporte, que começou na parceria com a Confederação Brasileira de Vôlei, deu tão certo que a Olympikus passou a apoiar o COB, tornando-se
fornecedora oficial dos produtos utilizados por atletas brasileiros em diversas
competições. Além das vantagens trazidas
pelo marketing, graças à associação da
marca a imagens de atletas bem-sucedidos, a empresa passou a investir mais no
desenvolvimento de artigos e de tecnologia de ponta para várias modalidades esportivas. “A iniciativa deu à Olympikus
Judô é
esperança de
medalhas e
de lucro às
empresas que
atuam na área
arq. pessoal
c
No caminho da vitória
Superar as estrangeiras, como fez a Olym­
pikus, é a meta de longo prazo da Ori-Gen,
empresa da Incubadora de Lins, do interior de São Paulo, que fabrica os quimonos
Sen-Sei, voltados à prática de diversas artes marciais. “Nosso grande diferencial
está no material com que produzimos nossos quimonos: 100% algodão. A maioria
dos artigos produzidos pelas gran­des marcas traz tecidos sintéticos. O algodão ofe-
Ponto para as pequenas
Quimono
produzido
pela Ori-Gen
Na torcida pelas artes marciais também está a Zeit, empresa graduada pelo
Hotel Tecnológico de Curitiba (PR).
Fundada há seis anos, a empresa especializou-se na produção e instalação de placares eletrônicos, iniciando as operações
com placares para competições de judô.
Depois, passou a atender ginásios e arenas que abrigam vários esportes, do tênis
ao futebol society, desenvolvendo não só
a estrutura do placar mas também o soft­
ware necessário para manuseá-lo. Entre
os principais clientes estão o COB e as
confederações brasileiras de automobilismo e ginástica olímpica.
Depois de se consolidar na área esportiva, a Zeit decidiu ramificar os negócios.
Agora, além dos placares eletrônicos, produz sistemas para automação industrial.
“Na nossa área de atuação, não podemos
focar apenas no esporte, pois, além de a
concorrência ser grande, nosso produto
exige um investimento considerável. Um
Interesse por
taekwondo
vem crescendo
no Brasil. Cada
modalidade
de arte marcial
exige uniforme
específico
Divulgação/cob
rece mais durabilidade e também conforto ao atleta”, diz um dos sócios da
empresa, Jefferson Costa. Ao contrário da maioria de pequenas empresas, a Ori-Gen nasceu de uma
oportunidade: um dos sócios da
empresa era dono de uma loja de
artigos esportivos e percebeu que
havia uma demanda não suprida
por quimonos na região de Lins.
Na incubadora da cidade, a
empresa encontrou a ajuda necessária para implantar a fábrica.
Começou produzindo apenas
quimonos para judô e depois estendeu a produção a outras modalidades
– caratê, jiu-jitsu, kendô e, por fim,
taekwondo. Para cada arte marcial, um
modelo diferente de quimono. “Engana-se
quem pensa que quimono é tudo igual.
Cada modalidade tem suas particularidades e precisa de um corte e material distintos”, afirma Costa. De acordo com o empresário, o desenvolvimento de produtos
se dá depois de uma pesquisa feita internamente, que analisa desde a qualidade do
material utilizado pelas concorrentes até o
feedback dos usuários.
Em junho a empresa lançou uma nova
linha de quimonos para taekwondo, desenvolvida com orientação de Flávio Bang,
um dos introdutores dessa modalidade no
Brasil. A idéia é aproveitar a inclusão recente da modalidade entre os esportes
olímpicos, o que significa visibilidade durante os Jogos Pan-americanos. “O Pan do
Brasil deve trazer um acréscimo nas vendas, pois acaba por despertar o interesse
pelas modalidades”, afirma Costa. De olho
no exemplo de grandes empresas, a OriGen também investe no apoio ao esporte,
patrocinando atletas. Um deles, João Santana, conquistou o vice-campeonato panamericano de judô, na República Dominicana, em abril. Se os atletas de artes
marciais do Brasil conseguirem bons resultados no Pan 2007, podem incrementar a
produção da Ori-Gen, ajudando, de forma
indireta, a empresa de Lins a levar seus
produtos para outras regiões do país.
Locus • Julho 2007
33
a
p
a
Divulgação/cob
c
Em busca da perfeição:
atletas e empresas se
dedicam para garantir
bons resultados
placar eletrônico básico custa aproximadamente R$ 10 mil”, diz o administrador
da empresa, Maurício Augusto Trindade.
O caminho traçado pela Zeit, partindo
do esporte para outras áreas, tem sido percorrido de forma inversa por algumas pequenas e médias empresas. Cada vez mais,
aquelas que atuam em outros segmentos
do mercado descobrem no esporte um nicho com grande potencial de exploração.
Esse foi o caso da Visagio, graduada pela
Incubadora da Coppe/UFRJ no ano passado. Trabalhar com esportes não estava no
plano de negócios da empresa, especializada em consultoria e desenvolvimento
de softwares. Mas os empreendedores não
deixaram escapar a oportunidade de desenvolver o modelo matemático que deu
origem às tabelas de uma das maiores competições de futebol da Europa.
Engenheiros, analistas de sistemas e
cientistas da computação que formam a
equipe da Visagio se debruçaram sobre
números para desenvolver o modelo.
“Precisávamos otimizar as tabelas de for-
O Pan em números
44 modalidades esportivas
42 países participantes
5.662 atletas e 2 mil integrantes
de delegações esportivas
3 mil oficiais (presidentes de federações
e confederações) e árbitros
20 mil voluntários
2.300 empregos diretos e 5.750 indiretos
gerados com a construção da Vila Pan-americana
Cerca de R$ 4 bilhões em investimentos
34
Locus • Julho 2007
ma que no planejamento dos jogos houvesse igualdade entre os times e, ao mesmo
tempo, as partidas programadas pudessem
maximizar a audiência dos jogos em canais
de televisão. Achamos a solução”, explica
Caio Fiuza, um dos sócios da empresa. Segundo ele, partir para a área de esportes
exigiu apenas uma adaptação do que a empresa já fazia. “Esse é um nicho que se pode
explorar, pois ainda há muitas coisas para
aperfeiçoar e a tecnologia pode ajudar. O
único problema é que o próprio mercado
esportivo tem que amadurecer um pouco
para receber essas soluções”, analisa.
O futebol também trouxe lucro a uma
empresa incubada no Centro de Empresas
para Laboração de Tecnologias Avançadas
(Celta), de Florianópolis (SC). A Outplan,
que trabalha com tecnologia da informa-
Ajuda da academia
Em universidades e instituições de pesquisa, há
muito tempo o esporte deixou de ser tema exclusivo
da educação física. A demanda por soluções que auxiliem na melhoria da performance dos atletas passa
pelas mais diversas áreas, indo da Medicina, Farmácia, Psicologia e Nutrição até Engenharia, Física e
Matemática. Entre as ciências que ganharam força no
mundo esportivo nas últimas décadas está a Química, cada vez mais aplicada para estudar o desempenho de novos materiais e, principalmente, do organismo humano.
Nos Jogos Pan-americanos 2007, é um laboratório do Instituto de Química da UFRJ, chamado Labdop, o responsável por analisar os exames antidoping de todos os atletas da competição. Ligado ao
Laboratório de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (Ladetec), o Labdop é o único laboratório credenciado no Brasil pela Agência Mundial Antidopagem (AMA). Durante o Pan, cerca de 130 profissionais,
entre técnicos e pessoal de apoio, devem trabalhar
em três turnos na análise de exames.
De acordo com o coordenador do Labdop, professor Francisco Radler, o trabalho ficará marcado
na história do laboratório. “Serão mais de 180 ações
relacionadas à tarefa de implementar todas as rotinas necessárias às análises e garantir uma infra-estrutura à prova de falhas. Como não acreditamos
em ‘zero falhas’, estamos estabelecendo sistemas de
redundância para várias atividades e back up para
quase tudo”, explica.
Este ano a análise exige maior abrangência que
em jogos anteriores, pois a AMA vem aumentando
os processos a serem cumpridos pelos laboratórios
desde 2004. “Estaremos implantando várias rotinas
antes não realizadas no país”, diz o professor. Para
ele, a participação direta no Pan pode ajudar o laboratório a obter financiamento para implantar toda a
tecnologia de controle de dopagem. “Infelizmente,
os atletas estão sempre buscando novas formas de
burlar o controle. Assim, a necessidade de investimento em P&D&I não se encerra com o Pan.”
Divulgação/cob
Divulgação/Unicamp
Kubota
desenvolve
biossensores
na Unicamp
divulgação/autplan
ção, desenvolveu, em parceria com a Visa,
um serviço que permite o uso de cartão
de crédito como meio de pagamento do
ingresso e passaporte de entrada aos estádios para assistir a jogos de futebol. Chamado de Futebol Card, o projeto começou
a ser desenvolvido em 2002 e resultou em
benefícios para o torcedor.
Quem quer ir ao estádio pode comprar
ingressos via internet, deixando para trás
as longas filas que precedem partidas importantes. No dia do jogo, o torcedor passa por uma catraca exclusiva para usuários de cartão de crédito, o que facilita a
entrada no estádio. Por enquanto, somente os torcedores do Figueirense, de Florianópolis, contam com a facilidade, mas a
expectativa da empresa é firmar parceria
com outros clubes brasileiros e também
do exterior. “Esse sistema é uma inovação
mundial. Ou seja: em nenhum outro país
o torcedor pode adquirir o ingresso e entrar no estádio usando o cartão de crédito”, afirma o diretor da Outplan e criador
do projeto, Robson de Oliveira.
Para o empreendedor, áreas relacionadas
ao esporte representam um mercado cheio
de oportunidades. “Esse é um nicho em expansão no mundo todo e em especial no
Brasil, onde clubes e federações estão profissionalizando a gestão e tratando o torcedor como cliente. Assim, são muitas as
chances de crescimento”, destaca.
Em Campinas, o Instituto de
Química da Unicamp também desenvolve um trabalho voltado à
melhoria da performance dos atletas. Com a coordenação dos professores Lauro Kubota e Denise
Macedo, pesquisadores das áreas
de Educação Física, Bioquímica e
Fisiologia testam a utilização de
biossensores – dispositivos capazes de medir a presença de substâncias específicas no sangue e na
urina. “O objetivo da pesquisa é
desenvolver biossensores para auxiliar na detecção do nível de estresse oxidativo em pessoas que
praticam atividade física, principalmente atletas”, explica Kubota.
O estresse oxidativo é causado
por radicais livres que prejudicam
o organismo, aumentando excessivamente a produção ou diminuição de agentes oxidantes. Os biossensores desenvolvidos na Unicamp
podem se tornar bons indicadores do nível de condicionamento físico de atletas. “A pesquisa está evoluindo e já revelou que não se pode padronizar a
carga de treinamento para pessoas diferentes, ou
seja, cada atleta deve treinar de acordo com suas
condições físicas”, destaca o professor.
Inovação da Outplan
permite que torcedor
use cartão de crédito
para entrar em
estádio de futebol
fotos: Flávio Pinheiro Carneiro
Radler (acima) coordena
laboratório responsável
pela análise de exames
antidoping nos Jogos
Pan-americanos 2007
Locus • Julho 2007
35
s u c e s s o
Negócio
nutrido com
pesquisa
O projeto de um nutricionista
empreendedor deu origem
a uma empresa capaz de gerar
120 toneladas de produtos por
ano, graças ao investimento
pesado em P&D
Maurício Frighetto
Divulgação/Nuteral
O
Guimarães:
pesquisadores
devem transformar
teses em produtos
36
Locus • Julho 2007
primeiro produto lançado pela cearense Nuteral, o Integral Mix – idealizado para combater a desnutrição infantil –, não vendeu nenhuma unidade e foi
retirado do mercado. Augusto Guimarães,
fundador e presidente da empresa de biotecnologia em nutrição humana, nem
pensou em desistir. Quatorze
anos depois, a Nuteral está
consolidada: possui sete patentes ativas, seis em fase de
registro, lançou uma linha de
46 produtos e já venceu o Prêmio Finep de Inovação Tecnológica, em 2006, na categoria
Pequena Empresa.
A história da Nuteral se confunde com a vida de seu fundador e presidente. Em 1992,
Guimarães cursou doutorado
na Universidade de São Paulo
(USP). Na capital paulista, o
nutricionista passava os dias
identificando membranas e
trabalhando com linfócitos e mastócitos.
O objetivo era analisar os ácidos graxos e
estudar a ação do consumo de gorduras
para prevenir e tratar doenças. Em 1993,
depois de fazer pós-doutorado na Universidade de Oxford, o professor voltou a
Fortaleza para ministrar aulas na Universidade Estadual do Ceará (UECE).
Embora nunca tivesse pensado em ser
empresário, Guimarães aceitou o convite
do superintendente do Parque de Desen­
volvimento Tecnológico da Universidade
Federal do Ceará (Padetec), Afrânio Craveiro, para constituir uma empresa incubada. E em um espaço de 50 metros quadrados fundou a Nuteral em 1994. “O
exemplo da Nuteral é um incentivo aos
pesquisadores do Brasil a tirarem suas teses das prateleiras e transformá-las, de
fato, em produto, agregando valor econômico e social ao país”, afirma.
A Nuteral é especializada em produtos
nutricionais, os chamados medical foods.
Nutrição clínica, suplementos nutricionais e ingredientes para indústrias de alimentos são os três ramos da empresa.
Tem capacidade para produzir 120 mil
quilos de produtos por ano, voltados a
pacientes que sofrem com doenças como
Alzheimer, AIDS, cardiopatias, desnutrição e obesidade.
De acordo com Guimarães, uma das linhas mais bem comercializadas pela empresa é o Reabilit. Com patente registrada,
o produto foi lançado em 2000, depois de
seis anos de pesquisa e um investimento de
R$ 2 milhões. Foi a primeira dieta especialmente produzida para pacientes em
recuperação. O empreendedor ressalta que
o produto substitui os tradicionais sucos e
papinhas de pacientes que saem do hospital e não sabem como se alimentar.
Com 26 funcionários, a Nuteral faturou
R$ 9,2 milhões em 2006 e investiu 26,4%
desse total em pesquisa e desenvolvimento. Depois de sair da incubadora, em 1996,
a empresa já passou por duas reformas.
Neste ano, a Nuteral gastou R$ 600 mil em
melhorias no processo industrial, no controle de qualidade e na duplicação do seu
parque. Hoje a empresa está instalada em
12 mil metros quadrados de área.
A Nuteral também inovou no processo
de comercialização. O Nuteral Balance,
produto em pó voltado para o controle de
peso, mas com o objetivo de tratar também doenças como diabetes, hipertensão
e osteoporose, é vendido com exclusividade para nutricionistas por meio do projeto “Nutricionista Certificado Nuteral”. De
acordo com Guimarães, o projeto estimula a atividade empreendedora desses profissionais. Para ter acesso aos produtos, o
nutricionista precisa passar por um processo de certificação. Dos 40 mil profissionais de nutrição brasileiros, cerca de
mil estão cadastrados. “Essa ferramenta
garante que o nosso cliente de ponta,
quando estiver consumindo o nosso produto, tenha de fato a indicação clínica
correta do nutricionista. O Nuteral Balance tem um diferencial importante no nosso negócio”, conta Guimarães.
Isnádia Costa Silva foi uma das primeiras nutricionistas certificadas pelo projeto.
De acordo com a profissional, o Nuteral
Balance pode mudar a história clínica do
paciente, baixando a taxa de colesterol e de
glicose e diminuindo os sintomas de TPM
para as mulheres. “Nós temos a chance de
identificar a necessidade nutricional, prescrever o suplemento certo e não temos
um balconista na outra ponta que vai mudar a prescrição. Desse modo, o suplemento prescrito tem muito mais
chance de ser usado com sucesso pelo paciente, trazendo a melhoria da qualidade
de vida em diversos aspectos”, diz.
Em 2005, foi criado o Instituto de Tecnologia Nuteral, para fazer pesquisa e desenvolvimento para a empresa. Há a interação com pesquisadores do Instituto de
Ciências Biomédicas da USP, da Universidade Federal do Paraná, da Universidade
Federal do Ceará e da Universidade Estadual do Ceará. Também há parcerias com
institutos nos Estados Unidos, na Irlanda
e na Inglaterra.
Divulgação/Nuteral
Crescimento constante
Linha Nuteral
tem 46 produtos
Persistência
Apesar do sucesso alcançado com outros
produtos, Guimarães, que tem 44 anos, não
desistiu do primeiro projeto. O pesquisador-empresário voltou à idéia que surgiu no
doutorado: o Nutty, formulado para recuperar crianças desnutridas, deverá ser lançado
neste ano e será vendido por meio de um
site, a preço de custo. Os interessados poderão fazer doações e então o produto será
entregue às entidades que cuidam de crianças em qualquer lugar do Brasil. “Envolvido
no sonho de ajudar as pessoas mais pobres
do meu estado, no Padetec, investi dois anos
num produto chamado Integral Mix. Depois de dois anos entendi que desnutrição
não se trata com produto nutricional, mas
com políticas”, afirma o empreendedor.
26 funcionários
R$ 9,2 milhões de faturamento em 2006
26,4% investidos em P&D
40% de crescimento no último triênio
7 patentes ativas
6 em fase de registro
46 produtos
10 marcas lançadas entre 2005 e 2006
Prêmios
• (1999) Melhor projeto tecnológico
Raio X
proveniente de universidades brasileiras, concedido por IEL-CNI
• (2002) Empresa do Ano, concedido por Anprotec, CNPq, CNI, Finep e MCT
• (2003) Prêmio Customer Appreciation DMV, concedido por DMV
• (2003) Prêmio TOP 10in, case empresa privada,
concedido pelo Diário do Nordeste
• (2004) Medalha do Conhecimento,
concedida por Ministério do Desenvolvimento, CNI e Sebrae
• (2004) Prêmio Finep de Inovação Tecnológica,
categoria Pequena Empresa, 3º lugar/Nordeste
• (2006) Prêmio Finep de Inovação Tecnológica, categoria Pequena Empresa
Locus • Julho 2007
37
i n t e r n ac i o n a l
uma parábola descendente, na qual a taxa
tende a ser maior nos países de renda média e menor nos países de renda alta.
Quanto à taxa de empreendedores estabelecidos, ocorre algo semelhante. Os oito
melhores colocados também são países de
renda média, com as Filipinas em primeiro lugar. Rússia, França e Emirados Árabes – três países de renda alta – obtiveram
as menores taxas. Essa revelação da pesquisa pode ter explicações que envolvem
o perfil demográfico, as características
institucionais, a cultura e mesmo o padrão de seguridade social de cada país.
Menos renda,
mais empreendedores
Pesquisa confirma que e m países de renda média
há mais empreendedores do que nos de renda alta.
O desafio das nações menos desenvolvidas
ainda é criar negócios por oportunidade
Emília Chagas
O
s países de renda média enfrentam
uma série de dificuldades para desenvolver o empreendedorismo. Faltam
políticas públicas que facilitem a criação
de empresas, que promovam a capacitação dos empresários e que incentivem a
inovação tecnológica. Ainda assim, esses
países surpreendem e lideram os rankings
internacionais de taxas de empreendedores iniciais e estabelecidos. Um sinal de
que os povos de países como Peru, Filipinas, Indonésia e também do Brasil vêem
no empreendedorismo a saída para seu
desenvolvimento. É o que revela a última
edição da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), lançada no Brasil
no mês de abril.
Na classificação por taxa de empreendedores iniciais, os oito primeiros colocados possuem renda média, liderados pelo
Peru. Já os 11 últimos do ranking são países de renda alta, sendo que a Bélgica teve
a pior colocação. Essas variáveis formam
38
Locus • Julho 2007
Diferenças sociais
No caso das Filipinas, por exemplo, a
atividade empreendedora inicial é de
20,4%, sendo que as mulheres estão à fren­
te da maioria dos empreendimentos. O
país ocupa a primeira posição no índice
de empreendedores estabelecidos e a terceira no de empreendedores iniciais. No
entanto, a maioria dos empreendimentos
é de pequena escala e se concentra no setor de serviços.
As atividades empreendedoras ganharam um importante impulso no ano passado, quando o governo filipino institucionalizou a educação para o empreen­
dedorismo naquele país. Além disso, os
filipinos acreditam que empreender é uma
escolha profissional desejável. Cerca de
80% dos entrevistados disseram que empreendedores bem-sucedidos ganham res­
peito e prestígio social.
Na Bélgica, onde o PIB per capita é 6,5
vezes maior que nas Filipinas, o índice de
atividade empreendedora em fase inicial
chega a um décimo do registrado no país
asiático. A taxa era de 3,5% em 2005 e caiu
para 2,7% em 2006. Apenas 47% dos belgas
entrevistados disseram que escolheriam o
empreendedorismo como profissão. Esse
índice caiu 20% entre 2005 e 2006.
Para a coordenadora técnica do projeto
no Brasil, Simara Greco, o eficaz sistema
de seguridade social da Bélgica faz com
que a população desempregada não reaja
à situação montando uma empresa. “Além
disso, o espaço para a cobertura de demandas é reduzido, uma vez que o país
tem população e área geográfica menores”, comenta. Como resultado, somente
27,7% dos entrevistados afirmaram conhecer pessoalmente alguém que iniciou
um negócio nos últimos dois anos.
Segundo o coordenador do Programa
de Estudos Avançados em Pequenas Empresas, Acesso ao Crédito e Meios de Pagamento da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação
Getulio Vargas (Ebape/FGV), Francisco
Barone, a situação da Bélgica se repete em
muitos países desenvolvidos. “Os estudantes atrasam sua entrada no mercado
de trabalho, terminam mestrado, doutorado, antes de começar a trabalhar. E por
mais que o indivíduo não consiga uma colocação no setor privado, com uma rede
de amparo social desenvolvida, empreender torna-se apenas a terceira opção”, afirma. Já nos países de renda média, é maior
o número de pessoas que precisam empreender para se manter.
Necessidade versus oportunidade
A motivação para o empreendedorismo
é outro fator que diferencia os países de
renda média dos países de renda alta.
Aqueles que têm PIB per capita superior a
US$ 20 mil empreendem mais por oportunidade. Já nos países de renda inferior a
essa cota, os indivíduos, em geral, têm
duas opções: ou empreendem ou não têm
colocação no mercado de trabalho. A
principal conseqüência de uma nação ter
grande número de empresas criadas por
necessidade é a continuidade da baixa estrutura de capital do país.
Já os países com renda alta, que possuem
mais empresas criadas por oportunidade,
conferem maior magnitude ao que os economistas chamam de efeito multiplicador
de renda. “O empreendimento criado por
oportunidade é mais estruturado, compreende a inovação tecnológica, favorece a
melhoria da situação de emprego, pode vir
acompanhado de patente e gera mais riqueza para o país”, resume Simara Greco.
Nos países
de renda média
os indivíduos
precisam
empreender
para não ficar
fora do mercado
de trabalho
A pesquisa
O Peru pode ser considerado uma exceção à regra. Tem uma das maiores taxas
de empreendimentos motivados por oportunidade (74%) dentre os países de renda
média. No entanto, o país enfrenta dificuldades administrativas e legais para
constituição e operação de empresas, o
que leva a altos índices de informalidade
na economia. O povo peruano, bastante
criativo, tem a atividade empreendedora
como uma das principais alternativas para
colocação no mercado de trabalho.
Os empreendedores contam com o apoio
de universidades, organizações não-governamentais (ONGs), empresas privadas,
instituições financeiras, instituições públicas e da mídia. “Em países como o Peru,
as ONGs internacionais e a sociedade civil organizada suprem as falhas do governo na promoção do empreendedorismo”,
O Global Entrepreneurship Monitor (GEM), criado em 1999, é
o maior estudo mundial sobre a atividade empreendedora. Na
edição de 2006, os cinco continentes foram representados na pesquisa com a participação de um total de 42 países, 21 deles de
renda média e 21 de renda alta. São considerados de renda média
os países com PIB per capita inferior a US$ 20 mil. As nações que
têm poder de compra individual superior a este valor foram classificadas como de renda alta. Colômbia, Emirados Árabes, Filipinas, Indonésia, Malásia, República Tcheca, Turquia e Uruguai
participaram do ciclo de pesquisa pela primeira vez. O Brasil participa do GEM desde 2000.
Neste ano, foram entrevistadas 2 mil pessoas no país, com idades entre 18 e 64 anos, de 27 cidades, que estão à frente de novos
empreendimentos com até três anos e meio (empreendedores iniciais) ou com mais de 42 meses (empreendedores estabelecidos). A
pesquisa tem margem de erro de 1,47% e conta com a opinião de 37
especialistas brasileiros. “A pesquisa é uma importante ferramenta
para tomada de decisões, na qual todos os gestores públicos deveriam se balizar”, afirma Francisco Barone, da FGV.
O estudo é coordenado pela London Business School (Inglaterra) e Babson College (Estados Unidos) e abrange cerca de 50 países consorciados, que representam 90% do PIB e dois terços da
população mundial. No Brasil, o projeto é coordenado e executado pelo Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP), em
parceria com o Sebrae Nacional, a
Federação das Indústrias do Estado
do Paraná (Sistema FIEP), a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR) e o Centro Universitário Positivo (Unicenp).
39
Locus • Julho 2007
Brasil perde empreendedores nascentes
O número de empreendimentos nascentes no Brasil
caiu quase pela metade, entre os biênios 2003-2004 e
2005-2006, segundo a pesquisa GEM. A taxa média no
primeiro período era de 5,75% e passou para 3,3% no
segundo período. De acordo com a coordenadora do
projeto GEM no Brasil, Simara Greco, faltam, principalmente, linhas de crédito para negócios nascentes ou que
vão iniciar. “Há financiamentos, mas voltados para
quem tem garantias, algo que as empresas nascentes
não têm”, afirma.
Segundo Francisco Barone, da FGV, essa queda devese a conhecidos fatores limitantes ao empreendedorismo, que inibem a criação de novas empresas e abrem
espaço para a informalidade na economia. “A legislação trabalhista no país é obsoleta, a carga tributária é
muito elevada, a burocracia dificulta a abertura e o fechamento das empresas, e o empreendedor encontra
dificuldades para o cumprimento de contratos”, enumera o economista. Para ele, esses fatores contribuem
para que, a cada empresa formal, o país tenha duas informais. “Ninguém quer ter o governo como sócio, pagando 40% do faturamento em impostos”, ressalta.
O economista aponta uma possível saída para a questão: a motivação dos jovens empresários com idade entre 25 e 34 anos. “É o jovem que está dando sangue novo,
é através do jovem que se conseguirá reverter a queda no
número de empresas iniciais no Brasil”, afirma. Mais da
metade dos empreendedores do Brasil está nesta faixa
etária. Embora possam ter menos maturidade profissional, os jovens empreendedores são mais propensos a
correr riscos. “E quanto maiores os riscos,
maiores os lucros”, enfatiza Barone.
Fonte: GEM Brasil
Um modelo a seguir
Barone: rede de
amparo social inibe
empreendedorismo
em países
desenvolvidos
40
Locus • Julho 2007
constata Francisco Barone. No Peru, os
empreendedores de sucesso tornam-se
ícones sociais e a maior parte da atividade
empreendedora é considerada pelo GEM
como desenvolvida.
Outro caso à parte é a Indonésia, onde
86% dos empreendimentos surgem por
oportunidade. Porém, isso não significa
um índice maior de inovação. Mais de
80% dos empreendimentos novos são restaurantes ou barracas de rua, pequenas
mercearias, agronegócios ou lojas de roupas. O empreendedorismo faz parte da
cultura do povo indonésio. Cerca de 40%
da população disse que pretende começar
um novo negócio nos próximos três anos.
No entanto, os empreendedores sentemse desencorajados pela falta de acesso a
financiamento, pela demora para conseguir licenças e pelos custos para montar
novos negócios no país.
Embora os países de renda média tenham surpreendido no resultado da pesquisa, os especialistas concordam que se
tratando de empreendedorismo bem desenvolvido, o melhor exemplo ainda são os
Estados Unidos. A atividade empreendedora inicial caiu de 12,4% em 2005 para
10% no ano passado, mas a situação do
país ainda é bastante promissora. “Lá (nos
Estados Unidos) se abre uma empresa em
menos de uma semana. As facilidades são
combinadas com o espírito empreendedor
do povo norte-americano”, afirma Simara.
A maioria dos 6,8 milhões de empregos criados naquele país entre agosto de
2003 e outubro de 2006 foi por demanda
de pequenas empresas. Entre os empreendedores iniciais americanos, 52% têm
pós-graduação. “O que move a geração
de renda nos EUA é o empreendedorismo por oportunidade”, aponta Barone.
Prova disso é que cerca de 32% dos empreendimentos em fase inicial usarão tec­
nologia de ponta para oferecer produtos
novos aos clientes.
Isso indica que, por melhores que sejam
as colocações dos países de renda média
nos rankings globais, essas nações ainda
têm muito que fazer para conseguir consolidar o empreendedorismo.
g
e
s
t
o
Plugado
no m u n d o
Exportar exige busca incessante
por informações e muito planejamento.
Para fazer negócio no exterior,
internet pode ser decisiva
Anderson Carvalho
O
momento de uma empresa ultrapassar as fronteiras do país pode
chegar tanto por meio de parcerias
quanto a partir de uma iniciativa do próprio empreendedor. Mas para explorar essa
nova fração de mercado é preciso ter cautela, paciência e persistência. Os resultados
das primeiras transações, em geral, não
aparecem de imediato. A receita pode chegar em longo prazo e tanto o gestor quanto
os métodos de produção da empresa precisam se adaptar a uma nova realidade.
Segundo o consultor italiano Nicola
Minervini – diretor da International Mar­
keting Consulting, com sede na Itália, e
autor do livro O Exportador –, o fato de
um produto vender bem no mercado interno não significa que a empresa já está
preparada para exportar. “Muitas vezes é
preciso adquirir mais competitividade
no mercado nacional para depois pensar
na exportação. É importante avaliar co­
mo a empresa está atualmente quanto
aos aspectos estruturais como qualidade,
tempo de entrega, embalagem e fornecedores”, explica.
Além de mudanças operacionais, o foco
na exportação exige uma mudança de
postura na gestão do negócio. “É uma das
grandes vantagens da internacionalização,
pois o gestor precisará estruturar a empresa de maneira a cumprir rigorosamente os novos compromissos e prazos de
entrega, exigências de qualidade e serviços acoplados aos produtos”, explica o
professor Miguel Lima, coordenador acadêmico do MBA em Gestão de Comércio
Exterior e Negócios Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV). “A mudança
de postura começa na ciência de que os resultados conquistados no comércio exterior são vistos em médio-longo prazo e o
gestor precisa se preparar, além de ter bons
conhecimentos de diferentes culturas para
poder negociar”, completa Minervini.
Para o consultor do Sebrae Jaime Akila
Kochi, especialista em comércio exterior,
a principal mudança na rotina do gestor
de uma empresa que pretende exportar
está na necessidade de adquirir conhecimento. “É importante ter o máximo de
informações possíveis sobre o país para o
qual se quer exportar e, se possível, fazer
uma visita para conhecer os hábitos do
novo mercado.” Essa etapa, segundo ele,
pode ser facilitada pelo uso da internet.
Locus • Julho 2007
41
g
e
s
t
o
A internet facilita o
conhecimento de hábitos
de consumo e de normas
técnicas vigentes em cada país
“Hoje é possível ter várias informações
sobre o exterior sem ir até lá. Nos sites do
governo existem diversas informações estatísticas: é possível saber se determinado
país já importa o mesmo tipo de produto,
quem são os principais concorrentes e
onde estão localizados. Informações que
contribuem para a realização de um plano
de exportação.”
A internet também pode funcionar como fonte de informação para os processos regulares
e etapas da exportação. Dentre
os sites que oferecem informações desse tipo estão os do Sebrae, APEX, Secex, Funcex, Banco do Brasil, Correios e o Portal
do Exportador. “O gestor só con­
seguirá diminuir os riscos de
uma exportação malsucedida
informando-se e conhecendo a
mecânica do comércio exterior.
Fotos: divulgação
Minervini:
informação evita
venda malsucedida
no exterior
Equipe Coss Consulting
trabalha para ampliar relações
internacionais da empresa
42
Locus • Julho 2007
A partir daí é importante selecionar bem
os parceiros e já praticar as mudanças estruturais”, afirma Minervini.
As primeiras alterações organizacionais
talvez sejam necessárias ainda na etapa de
produção. Mudanças de rotina que há três
anos são praticadas na Pronatus do Amazonas, instalada no Centro de Incubação e
Desenvolvimento Empresarial (CIDE),
em Manaus. “Para atender o mercado externo é preciso criar diferentes métodos
de produção e por isso a empresa passou
por uma reformulação no layout da fábrica, mudança de embalagens, alterações no
método de expedição e no de controle de
qualidade. Mas a maior dificuldade foi
encontrada na adequação das instruções
dos rótulos dos produtos”, explica Evandro Silva, gestor da empresa exportadora
de fármacos à base de guaraná em pó, mel
de abelha e copaíba.
No caso da exportação de produtos é
fundamental conhecer as exigências técnicas e as normas de cada país referentes
aos rótulos e embalagens, para que os
produtos não sejam devolvidos e o dinheiro desperdiçado. “O parceiro importador poderia ajudar nessa tarefa informando sobre as normas técnicas e sobre
as exigências das etiquetas e embalagens
dos produtos”, afirma Minervini. Mas
nem sempre os empreendedores contam
com esse tipo de suporte. Talvez por isso
a Organização Mundial do Comércio
(OMC) criou o Acordo Sobre Barreiras
Técnicas ao Comércio, determinando que
todo país tenha um órgão considerado o
“ponto focal”, encarregado de receber as
normas técnicas para as exportações de
produtos do mundo todo. Então, se o importador não puder facilitar essa tarefa, o
Para
exportar com sucesso
Visite outras feiras do mesmo
ramo de negócios (primeiro como
visitante e depois como expositor),
pois ali estão concorrentes e clientes
1
Faça uma
avaliação da sua
capacidade competitiva
2
Esteja bem informado
sobre as etapas
da exportação
3
Visite a maior feira do setor
8
4
5
6
Aprimore seus
conhecimentos
gerais sobre a cultura
e os costumes
do país-alvo
gestor pode recorrer ao “ponto focal” brasileiro, o Inmetro – (www.inmetro.gov.br/
barreirastécnicas/pontofocal). “Na internet há muito material, disponibilizado
não apenas pelo governo brasileiro, mas
também pelos governos de outros países.
Para isso o domínio do idioma estrangeiro também ajuda”, diz Kochi, do Sebrae.
Além de fonte de informação, a internet
precisa ser encarada como ferramenta de
acesso ao mercado externo. A Pronatus,
por exemplo, está cadastrada no Balcão
de Comércio Exterior do Banco do Brasil
e foi através da internet que recebeu o primeiro contato para exportação dos produtos da empresa. “A primeira solicitação
de parceria veio pelo e-mail cadastrado
no site do banco”, afirma Silva. Se o portal
da própria empresa na internet estiver
bem estruturado, aumentam as chances
de progressão dos contatos antes das transações internacionais, pois o site representa um link direto para serviços e produtos oferecidos pelo exportador.
Mas os especialistas garantem que não
basta adequar os métodos de atendimento
virtuais sem mudanças na estrutura interna da empresa. “São as barreiras internas
que trazem maiores problemas. É mais difícil vender a idéia da exportação na empresa do que vender o produto no exterior, pois exportar exige uma mudança de
postura de toda a equipe”, ressalta Minervini. Quando o método de atendimento,
em alguns casos, é o “objeto” exportado,
Identifique seus
concorrentes no exterior
7
Crie uma
rede de apoio
formada por
fornecedores
e entidades
Programe sua ação
de promoção
9
Busque selecionar
bem os parceiros: não inicie o
processo com o primeiro que conhecer
10
Busque associar-se
a uma rede
de empresas
11
Veja o mercado
externo como
uma alternativa
e não como substituto às vendas internas
os cuidados devem ser redobrados.
É o caso de empresas de consultoria, que prestam serviços de avaliação das necessidades empresariais, implantação e viabilização de
novos processos produtivos. Para
garantir atuação global, a Coss
Consulting, instalada no ParqTec,
em São Carlos (SP), tem focado
nas estratégias de relacionamento
com clientes, enfatizando os processos de vendas, marketing e serviços. “O que credencia a empresa
a atender clientes em qualquer
parte do globo é uma boa rede de
parceiros e colaboradores de negócios,
com experiência e sólida formação acadêmica, desenvolvida em empresas e instituições de primeira linha. Em geral conhecedores de no mínimo três idiomas”,
afirma o gestor da empresa, Luis Carlos
Colella. Lições da empresa de São Carlos
para qualquer empreendedor que pretenda cruzar fronteiras. Colella: boa rede de
parceiros credencia a
empresa a atender
em todo o mundo
Locus • Julho 2007
43
O ranking do
empreendedorismo
No topo
Conheça as empresas
que lideram o ranking
B2ML Sistemas
Os resultados da primeira tarefa do
programa comprovam que o envolvimento
da equipe faz toda a diferença
Isabel Colucci
O
programa Empreender É
Show conheceu em junho os vencedores de sua
etapa inau­gural. Na tarefa
de número um do primeiro reality experience brasileiro do setor de incubação, os
competidores tinham a missão de projetar
a imagem da empresa e de seus produtos
com a produção de conteúdo para internet.
Saíram na frente a B2ML Sistemas (20
pontos), a BCS Tecnologia (15 pontos), a
Consulti (15 pontos), a Favela Receptiva
(nove pontos) e a TV Bus (nove pontos).
De perfis, tamanhos e ramos de atuação
diferentes, as campeãs têm em comum a
forma como se organizaram para enfrentar o primeiro desafio do programa. A designação de responsáveis, entre a equipe
de colaboradores, que deveriam estar focados no cumprimento da tarefa foi fator
determinante para a chegada dessas empresas às primeiras colocações.
Na B2ML Sistemas, três dos 16 funcionários estavam encarregados de produzir
conteúdo e alimentar o site da empresa no
Empreender É Show. Com cinco colaboradores a menos, a Consulti delegou o tra-
o que é
O Empreender É Show é um reality experience,
criado pela Anprotec, que reúne nove empresas, de diferentes setores, para estimular o empreendedorismo inovador. Até setembro deste ano, as empresas terão que realizar uma tarefa por mês e serão
avaliadas pelo público e por uma comissão julgadora. A vencedora ganhará uma viagem internacional, para prospecção de negócios, e um ano
de anúncio gratuito na revista Locus . O segundo colocado será premiado com um notebook e anúncio gratuito em duas edições da revista.
Acesse www.anprotec.org.br/empreendereshow
e saiba tudo sobre o programa!
44
Locus • Julho 2007
Com um produto no mercado, a empresa residente na Incubadora de Base Tecnológica de Itajubá
(MG) é alavancada pelo dinamismo e vontade de
empreender de seus funcionários. Formada por estudantes e recém-formados, com idade entre 18 e 25
anos, a B2ML Sistemas desenvolve soluções em Tecnologia da Informação para gestão empresarial e
internet. A empresa, fundada em dezembro de 2005,
fatura hoje cerca de R$ 5 mil por mês.
A decisão de participar do Empreender É Show
veio pelo potencial de divulgação que o programa
oferece. As visitas ao site da empresa cresceram 20%
desde a adesão ao programa. Os três funcionários
responsáveis pelo Empreender É Show estão dedicando boa parte de seu tempo ao cumprimento da
próxima tarefa.
balho ao mesmo número de pessoas que a
primeira colocada e, além de ficar em segundo lugar, assistiu ao crescimento de
40% no acesso à sua página virtual. De
menor porte, a BCS só teve Cristiane Uldlich à frente da tarefa. A empresa tem
apenas três colaboradores, mas Cristiane
manteve a participação no reality experience entre suas prioridades e assim garantiu a segunda colocação, empatada
com a Consulti.
O resultado da primeira missão do Empreender É Show é mais uma prova de que
não se pode escapar das conseqüências da
falta de profissionais e de tempo disponíveis para a execução de uma tarefa específica. Na Nutribox, que hoje amarga a última colocação, o executivo Fernando de
BCS Tecnologia
Se a B2ML é movida pelo entusiasmo de seus jovens, a
BCS Tecnologia tem
suas bases na experiência de seus proprietários. Residente desde setembro de 2005 na
Incubadora Tecnológica da Unicamp (SP), a empresa é gerida por três profissionais com pelo menos
14 anos de presença no mercado médico-hospitalar
e atua no desenvolvimento de protótipos para auxílio no planejamento cirúrgico. Para realizar a próxima tarefa, Cristiane conta com o apoio da gerente
da incubadora e está concentrada no plano de lançamento de seu produto.
Souza Campos admite que ser o único
profissional da parte administrativa prejudicou o desempenho da empresa na
competição. A Nutribox fatura R$ 20 mil
por mês e tem 10 colaboradores. Mas, sem
poder dividir suas atribuições, ele não
conseguiu manter o foco na tarefa e acabou por se dedicar ao programa apenas
quando tinha tempo livre. “A empresa vai
recuperar posições no ranking com a segunda missão, mais próxima dos planos
da Nutribox que a primeira”, afirma. Consulti
Incubada desde 2003 no Micro Distrito Industrial
de Base Tecnológica do Sul (Midisul/SC), a empresa
teve crescimento de 260% nos últimos três anos. Está
consolidada no mercado nacional com o desenvolvimento de software de gestão empresarial, prestação
de serviços em Linux e instalação, migração, atualização e administração do banco de dados Oracle.
Em 2006, teve faturamento de R$ 584 mil, e até maio
de 2007 já obteve R$ 282 mil. Na próxima etapa, a
empresa deve manter o mesmo estilo de atuação. Os
três colaboradores responsáveis já estão empenhados no cumprimento da tarefa.
Com a participação
no Empreender é
Show, o número
de acesso aos sites
das empresas
participantes
chegou a
crescer 40 %
Próxima tarefa
Na segunda missão do
Empreender É Show , o desafio
se aproxima da produção das
empresas. Agora, as incubadas
escolhem um de seus produtos
para alavancar no mercado e, para
isso, precisam realizar um estudo
de viabilidade e propor estratégias
de lançamento. O estudo e as
estratégias serão desenvolvidos
com auxílio do Sebrae e os
competidores terão 11 dias para
realizá-los. O plano de ação deverá
ser apresentado em um vídeo de
um minuto e em uma páginarelatório mais detalhada no site
www.anprotec. org.br/
empreendereshow).
Ranking
Público
10
Pontuação
Júri
10
Geral
20
Incubadora Tecnológica da Unicamp – Incamp (SP)
8
7
15
7
8
15
4
5
9
6
3
9
2
6
8
Hollos
Micro Distrito Industrial de Base Tecnológica do Sul – Midisul (SC)
Incubadora Afrobrasileira (RJ) e Incubadora Social
de Comunidades do Instituto Gênesis – PUC/RJ
Incubadora da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)
Incubadora de Empresas de Base Tecnológica
de Pernambuco – Incubatep (PB)
Multincubadora do CDT – UnB (DF)
6
2
8
8º
Kognitus
Incubadora de Empresas da Coppe/UFRJ - RJ
3
4
7
9º
Nutribox
Incubadora de Empresas de Barão de Mauá - SP
1
1
2
Colocação
1º
2º
4º
Competidor
Incubadora
B2ML Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de Itajubá (MG)
BCS Consulti
Favela Receptiva
TV Bus
6º
Biológicus
Retificação: a empresa TV Bus reside na Incubadora da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)
e não de Mato Grosso, conforme publicado na última edição de Locus.
Locus • Julho 2007
45
e d u c a
o
Um país
analfabeto em
ciências
Com um dos piores desempenhos mundiais no ensino
de ciências, o Brasil precisa unificar políticas públicas
para fugir do analfabetismo científico e tecnológico
Adriane Alice Pereira
ciência e a tecnologia estão entre os
assuntos que mais despertam o interesse dos brasileiros. Uma pesquisa divulgada neste ano pelo Ministério da Ciência
e Tecnologia apontou que 41% dos brasileiros têm muita vontade de saber mais
sobre o universo da ciência. No entanto,
para os outros 59% o tema atrai pouca ou
nenhuma atenção. E o motivo alegado
pela maioria para essa falta de interesse é
a dificuldade de compreender o assunto.
Essa dificuldade pode estar diretamente
ligada à qualidade do ensino de ciências do
Brasil. O país é o último colocado entre as
41 nações participantes do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA)
quanto à média dos estudantes na área de
ciências. Na mais recente avaliação divulgada, de 2003, o foco dos testes foi a Matemática e quase 5 mil alunos brasileiros
participaram da prova. Entre os seis níveis
A
46
Locus • Julho 2007
de desempenho analisados (de 1 a 6),
53,3% dos estudantes do país ficaram abaixo do nível 1. O país que teve o melhor desempenho foi Hong Kong, seguido pela
Finlândia e pela Coréia do Sul.
Números como esses acirram o debate
sobre o impacto que a carência no ensino
de ciências provoca. “A educação científica de má qualidade cria uma população
despreparada para tomar decisões, por
exemplo, sobre aspectos pessoais como
saúde e qualidade de vida”, afirma Myriam
Krasilchik, professora emérita da Faculdade de Educação da Universidade de São
Paulo (USP). Ary Mergulhão, responsável
pela área de ciências na Organização das
Nações Unidas para a Educação, Ciência e
Tecnologia (Unesco) do Brasil, compartilha a visão da professora. “A educação
científica qualifica as pessoas para exercerem a sua cidadania”, acrescenta.
Custo elevado
O conhecimento científico e tecnológico também é fundamental para a definição de estratégias de crescimento e desenvolvimento do Brasil. “O país paga um
alto preço pela deficiência no ensino de
ciências. Um exemplo desse impacto é o
grande número de vagas disponíveis para
tantos desempregados sem qualificação”,
aponta Mergulhão. “O atraso no ensino de
ciências retarda também o processo de
inovação das empresas e a atração de investimentos, gerando mais custos para as
organizações que precisam desenvolver
iniciativas próprias de qualificação”, diz o
especialista.
A urgência por mudanças no ensino de
ciências e na educação brasileira de forma geral é cada vez mais evidente. O recente Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), conhecido como PAC da
Educação, lançado pelo governo federal
neste ano, propõe informatização das escolas, formação e piso salarial para professores, ampliação de bibliotecas, além
de outras ações. Para o representante da
Unesco, a iniciativa é bem-vinda, mas
outros fatores precisam ser observados
quanto às políticas públicas para o ensino de ciências.
“A educação científica tem dois lados.
O primeiro é o ensino formal nas salas
de aula e o segundo é o aprendizado nãoformal, resultado de todo o aparato fora
da escola como museus, competições e
premiações”, afirma Mergulhão. “Os dois
lados são fundamentais e a relação entre
eles é muito importante”, completa. No
Brasil, segundo o especialista, ainda
existem poucas atividades “não-formais”
e, por isso, é muito difícil encaixá-las em
políticas públicas. “Atualmente, as políticas para o aparato formal são definidas
pelo Ministério da Educação e as do nãoformal são encaminhadas pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. É necessário
que essas duas vertentes conversem para
convergir e beneficiar os alunos e as escolas”, explica. b o n s
e x e m p l o s
Iniciativas em todo o país tornam
a ciência mais atraente para jovens estudantes
Colaboração: Carla Cabral
Olimpíada Brasileira de Matemática
Criada em 1979, a Olimpíada Brasileira
de Matemática (OBM), organizada pela
Sociedade Brasileira de Matemática, tem
como objetivo melhorar o ensino da
matéria e contribuir para a descoberta
de novos talentos em ciências. A
competição é aberta a todos os estudantes a partir da 5ª série
até o nível universitário. Este ano, 350 mil alunos de 8 mil escolas
devem participar do desafio, que começou em 16 de junho.
Nicolau Corção Saldanha, hoje professor do Departamento de
Matemática da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC-RJ), foi um dos talentos pioneiros das competições de
Matemática no Brasil. Em 1980, aos 16 anos, ele foi medalha de ouro
na 2ª OBM, e o primeiro brasileiro a conquistar a premiação máxima
numa disputa internacional um ano depois. “A olimpíada tem várias
qualidades: tornar a Matemática uma coisa interessante e não
rotineira, detectar talentos e contribuir para a inclusão social”, afirma.
Prêmio Jovem Cientista
Iniciativa do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/
MCT), do Grupo Gerdau, da Fundação Roberto
Marinho e da Eletrobrás, tem como objetivos
estimular a pesquisa, revelar talentos e investir
em estudantes e profissionais que procuram
alternativas para os problemas brasileiros. O
Prêmio está em sua 23ª edição e é um reconhecimento a pesquisas
inovadoras realizadas por estudantes dos ensinos médio e superior.
Talentos para a indústria
O objetivo do programa Talentos para a
Indústria, desenvolvido pelo Serviço Social da
Indústria (SESI), é estimular jovens de
11 a 16 anos a desenvolverem sua criatividade e
competência na área de tecnologia por meio de
jornadas de conhecimento que abor­dam temas diversos.
Realidade Virtual
A Virgo Realidade Virtual, empresa residente na Incubadora de
Empresas e Projetos do Inatel, em Santa Rita do Sapucaí (MG),
desenvolve o software educativo Quasar, um ambiente de
simulação em realidade virtual. “A ferramenta oferece um curso
interativo de Física Mecânica, que complementa as atividades
tradicionais de sala de aula”, afirma Mario Lapin, diretor da Virgo.
Com o Quasar os alunos são instigados a investigar o comportamento
de fenômenos naturais no ambiente virtual, a fim de resolver desafios
apresentados na proposta do curso. O estudante pode interagir com
simulações físicas que representam situações da realidade cotidiana.
Um pacote contendo o Quasar começará a ser avaliado por escolas
de todo o Brasil, a partir do último trimestre deste ano.
Locus • Julho 2007
47
criatividade
Um passo para a inovação
Em empresas de qualquer porte, o desenvolvimento
da criatividade é essencial ao processo inovador
Rodrigo Lóssio
N
ão é mais possível admitir que, em pleno
século XXI, uma empresa que almeja o
sucesso não tenha como lema a inovação.
Mas, além disso, é preciso ter co­mo princípio
o processo criativo. É com a combinação
dessas duas ações – criar e inovar – que organizações continuarão a existir nas próximas décadas e, junto a diversas ações estruturantes, manterem-se competitivas.
Segundo o professor e consultor Victor
Mirshawka Junior, diretor de pós-graduação da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), empresas que não estimulam a
criatividade entre seus funcionários tenderão a desaparecer nos próximos anos. “As
organizações precisam se imbuir do espírito da criatividade, já que isso faz parte do
processo de inovação. Empresas que não
estimulam o ato de criar no trabalho individual e em equipe não têm a capacidade
de se reciclar, inovar”, indica o professor.
Mirshawka Junior é especialista em inovação e criatividade e presta consultoria
para companhias, em geral de grande por-
As sete leis da
criatividade
por Victor Mirshawka
1 - Domine a autocrítica
Chover no molhado é preciso.
Faz parte da natureza o princípio
da seleção, quer seja de espécies,
quer seja de idéias.
A primeira e talvez mais simples
providência que você pode
empreender para melhorar sua
criatividade é entrar em contato com
o seu senso de auto-avaliação.
5 - Aumente seu conhecimento
2 - Seja um entusiasta da mudança
6 - “Distribua” sua criatividade
A ligação entre criatividade
e mudança é óbvia, pois é
esse processo que permite a
implementação das idéias criativas, às
vezes em detrimento do já existente.
3 - Busque o diferente
48
4 - Persista
Não fique no usual: leia assuntos
diferentes, coma pratos exóticos,
percorra caminhos alternativos, fale
com pessoas de experiências diversas.
Locus • Julho 2007
Fator imprescindível à criatividade:
o conhecimento formal e teórico ou
o conhecimento tácito e prático de
como fazer algo.
Faça com que pelo menos uma parte
de seus esforços criativos beneficie
outras pessoas além de você.
7 - Sonhe com o impossível
Imaginar o futuro, por mais
impossível, fantástico, ou
aparentemente irrealizável que
pareça, além de ser sedutor, é a marca
registrada dos grandes inventores, e
de alguns dos grandes gênios.
te. Isso não significa que empresas menores não devam se preocupar com o tema.
Para Mirshawka, o empreendedor por
oportunidade é geralmente inovador e
muito criativo. “Esse profissional perturba a ordem econômica com um novo produto ou serviço, tendo como base o processo criativo”, complementa.
Em relação a outros países, o Brasil ainda fica para trás quando o assunto é inovação. Um recente relatório divulgado pela
Economist Intelligence Unit, um instituto
de pesquisa internacional, compilou um
ranking de 82 economias com base em seus
níveis de inovação, entre 2002 e 2006. Com
base nessas informações, o EIU identificou
que de 2007 a 2011 o Brasil deve cair da
atual 48ª para 52ª colocação, sendo suplantado por países como Polônia, Barein, Lituânia e Ucrânia.
Para Mirshawka Junior, o desenvolvimento da criatividade poderia ajudar a
reverter essa queda. “É preciso instituir a
criatividade como processo na empresa.
No país, mesmo as organizações consideradas referência no assunto estão pouco
estruturadas para criar e, acima de tudo,
inovar”, avalia o especialista.
Nas organizações que atende, o especialista desenvolve uma consultoria em três
níveis: instrumental, metodológico e estratégico. No primeiro, Mirshawka apresenta as técnicas para estimular os profissionais e suas equipes a pensarem de
forma criativa. No segundo, apresenta as
metodologias e organiza essas técnicas de
criatividade na empresa. Já no estratégico,
a consultoria atua influenciando principalmente os gestores e acionistas com o
objetivo de modificar a cultura corporativa, e, assim privilegiar o ato de inovar – o
passo final de um longo caminho. c
u
l
t
u
r
a
Bru n o More s c h i
Pequena M iss Sunshine
Cinema
(Little Miss Sunshine, EUA, 2006), 1h41.
Direção de Jonathan Dayton e Valerie Faris. Roteiro de Michael Arndt.
Com Abigail Breslin, Greg Kinnear, Paul Dano e Alan Arkin. Em DVD.
leitura
História dos
Estados Unidos
Autores: Leandro
Karnal, Luiz Estevam
Fernandes e Marcus
Vinicius de Morais. Editora Contexto.
288 páginas.
Vale a pena
Alguns sentem ódio dos Estados Unidos e outros
querem também viver o american life, mesmo
que de forma ilegal. A obra conta a história da
nação mais poderosa do mundo, aquela que já
absorveu tantos imigrantes e, hoje, vive
baseada em uma política do medo. A novidade:
o livro é escrito por pesquisadores brasileiros.
ignore
Olive, a filha caçula de uma família tipicamente anormal, é convidada a participar
de um concurso de beleza infantil. Mas todos sabem: ela não tem a menor chance.
Mesmo assim, os familiares a acompanham por uma viagem aos Estados Unidos
de três dias em uma Kombi amarela e velha. O road movie mostra que não existe
receita pronta para o sucesso.
Preste atenção em como um filme simples e despretensioso pode cativar
o público, a crítica e o Oscar.
Clássico
O Pagador de Promessas
(Brasil, 1962), 1h41. Drama. Direção e roteiro de Anselmo Duarte. Com Leonardo Villar,
Glória Menezes e Dionísio Azevedo. Em DVD.
Zé do Burro é um caboclo que só quer pagar a promessa que fez
a Santa Bárbara para salvar seu burro: carregar uma cruz até
uma igreja em Salvador. Mas o padre Olavo, representando a
intolerância, quer impedir sua entrada na “santa casa de Deus”.
Preste atenção em como a falta de comunicação e o excesso de humildade podem
causar danos irreparáveis nas pessoas.
Clarice Lispector – A hora da Estrela
Museu da Língua Portuguesa.
Praça da Luz, 1. São Paulo (SP).
Tel: (11) 3326-0775. Terça a domingo,
das 10h às 17h. R$ 4,00. Até 2/09.
A escritora morreu há 30 anos, mas é impressionante como os
jovens descobrem cada vez mais a sua obra.
O Museu da Língua Portuguesa está repleto de gente nova que
quer saber mais sobre a ucraniana que escreveu livros como A
Hora da Estrela e Laços de Família. Para quem já conhece muito
a escritora, a impressão é de que a mostra pouco acrescenta.
Para os novos fãs, um bom começo.
Abra as gavetas que preenchem as paredes da exposição e se surpreenda com alguns
Cinema
originais, cartas a amigos e edições estrangeiras dos livros de Clarice.
Lei Universal da Atração
Autor: Esther Hicks e Jerry Hicks. Editora
Sextante. 192 páginas.
A nova moda é a “teoria” de que é possível
usar a Lei da Atração para atrair dinheiro, fama,
sucesso. Enquanto Newton se revira no caixão,
tem gente que garante que a crendice funciona.
Não perca seu tempo.
Mostra de I nverno
Cena Hum
De Quinta a Domingo.
Até 22/07.
Teatro Odelair Rodrigues. Curitiba.
A Mostra de Inverno Cena Hum apresenta 14
espetáculos de vários estilos: agrada do público
adulto ao infantil. Será um mês inteiro de
apresentações em Curitiba, capital paranaense.
Leia o volume 2 da
Antologia do Pasquim,
que cobre a produção
Imperativo
entre 1972 e 1973 deste
jornal tão importante para a história
brasileira recente.
Escute o CD Veneer,
do cantor e violonista
escandinavo
José González.
Imagine João
Gilberto no país
de Bjork.
49
Locus • Julho 2007
O
p
i
n
i
o
Uma nova visão de negócios
Q
J osé Dornelas *
* Consultor de
empresas e professor
de empreendedorismo
www.josedornelas.com.br
50
Locus • Julho 2007
uando discutimos os dilemas que
envolvem o empreendedorismo no
mundo atual é natural que abordemos a
questão da inovação como diferencial
para os negócios. As incubadoras de empresas sempre foram um ambiente propício para a transferência de tecnologia
dos centros de pesquisa e universidades,
onde a maioria das inovações ocorre –
principalmente quando estamos falando
de países em desenvolvimento como o
Brasil. E essa tem sido a principal motivação para a criação de novos negócios
com grande potencial de crescimento
nas incubadoras brasileiras.
Mas essa é apenas a parte inicial do
processo empreendedor. Além de criar
negócios inovadores, os empreendedores precisam implementar, desde o início, uma nova visão de negócios, que
permeia a inovação em todos os níveis,
não apenas no que se refere aos produtos e serviços tecnologicamente diferenciados mas, principalmente, em um
modelo de gestão que possibilite o rápido crescimento de suas empresas e o
desenvolvimento das pessoas que fazem
parte do seu time empreendedor.
O dilema recorrente é como fazer com
que a inovação se torne sistêmica. A
resposta é a implementação do empreendedorismo corporativo – na verdade
uma proposta de continuidade do processo empreendedor mesmo depois da
criação da empresa. Trata-se de uma
opção estratégica que deve ser abraçada
pelos empreendedores e disseminada
por toda a empresa, mesmo quando estamos falando de uma equipe de poucos funcionários.
Com isso, estimula-se o surgimento
de novos colaboradores empreendedores, que são os responsáveis por identificar as grandes oportunidades no merca-
do e preparar a empresa para capitalizar
sobre elas. Para isso, é preciso preparar o
“pano de fundo”, criando as condições
necessárias para que todos empreendam,
em todos os níveis. Isso ocorre a partir
de uma visão de negócios alicerçada em
valores bem definidos e que priorizem o
trabalho em equipe e a meritocracia.
Há a necessidade de se institucionalizar o reconhecimento das pessoas quando estas contribuem com ações agregadoras. E, ainda, que se recompensem
essas pessoas, que haja mais tolerância a
falhas e a aceitação do risco. Sem essa
nova visão de negócios, sua empresa
provavelmente não estará mais aqui para
liderar os novos processos de mudança
no mercado e talvez cumpra apenas a
primeira etapa do processo: o de se graduar da incubadora.
E como os empreendedores podem se
dedicar a essas atividades logo de início, já que não têm tempo para tantas
tarefas? O planejamento adequado dos
negócios, via um plano bem estruturado, mostrará como cada ação estratégica pode ser delineada e implementada.
Além disso, o empreendedor e sua equipe precisam valorizar os novos colaboradores que farão parte da empresa assim que ela crescer. Participação em
resultados, premiações, bônus e a possibilidade de participação no negócio
como sócio também devem fazer parte
de uma estratégia empreendedora.
A inovação só se tornará sistêmica
em seu negócio se você investir em pessoas empreendedoras como você. Essa é
a essência do empreendedorismo inovador, algo ainda mais importante que
a invenção de soluções criativas que, na
maioria dos casos, não evoluem por falta de gestão e gente devidamente motivada para fazer acontecer.
www.anprotec.org.br
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