ID: 62254111
12-12-2015
Tiragem: 33074
Pág: 12
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 25,70 x 30,46 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 1 de 2
Mais de 600 partos por ano em casa
preocupam autoridades da saúde
Director-geral da Saúde quer travar esta realidade com consequências “dramáticas” tanto para as mães
como para os bebés e defende a importância do acompanhamento hospitalar
SÉRGIO AZENHA
Saúde
Romana Borja-Santos
Em Portugal, a tendência para realizar os partos em casa ainda “não
é muito expressiva”, mas, dadas as
consequências para as mães e os
bebés, o director-geral da Saúde
considera que é preciso “combatêla desde já”. Francisco George reiterou ontem que nenhum bebé deve
nascer sem assistência hospitalar e
frisou que a equipa deverá ser sempre multidisciplinar, contando com
médicos e enfermeiros, entre outros profissionais. “Não temos este
problema, mas começamos a ter
sinais de crianças que chegam aos
hospitais em situação dramática.
É preciso combater essa tendência
dos partos em casa logo de início”,
afirmou o responsável.
Francisco George, que falava durante a apresentação do Programa
Nacional para a Vigilância da Gravidez de Baixo Risco, que decorreu
no Centro de Saúde de Sete Rios, em
Lisboa, começou por alertar que a
tendência dos partos em casa começa a tentar implantar-se no terreno.
Apesar de o número ainda ser reduzido, o dirigente da Direcção-Geral
da Saúde (DGS) sublinhou que as
consequências para os bebés que
são posteriormente recebidos nos
hospitais são “dramáticas”.
O número de partos realizados
em casa quase duplicou em Portugal nos últimos anos. Em 2000,
nasciam 480 crianças fora dos hospitais e, em 2008, o número chegou
quase aos 900, de acordo com uma
análise da natalidade e mortalidade infantil da Fundação Francisco
Manuel dos Santos, publicada em
2013. Desde essa altura que o valor
acabou por recuar, mas, mesmo assim, os últimos dados do Instituto
Nacional de Estatística indicam que
em 2013 ainda houve 602 mulheres
a terem os filhos em casa.
A Organização Mundial de Saúde,
num guia sobre um parto normal
e sem complicações que sejam expectáveis, considera que a mulher
deve escolher para sítio do parto
o local onde se sente melhor. Contudo, Francisco George contrapõe
que Portugal é um exemplo internacional no caminho que fez de redução da mortalidade infantil precisamente pelo acompanhamento
Os nascimentos em casa ainda representam menos de 1% do total dos partos no país
que é feito durante a gravidez e o
parto — em serviços hospitalares
especializados.
Ainda a propósito dos partos,
na mesma conferência, Francisco
George afirmou ser contra os nascimentos que são apenas acompanhados pelos enfermeiros de forma
autónoma. “Não posso apoiar que
o enfermeiro possa fazer de forma
autónoma o parto. Não podemos
sequer arriscar e voltar ao passado.
[As grávidas] devem ser assistidas
por equipas de várias especialidades. A Ordem dos Enfermeiros não
conta com o director-geral da SaúNUNO FERREIRA SANTOS
de em termos de simpatia para a
promoção de partos só assistidos
autonomamente por enfermeiros”,
acrescentou.
Também presente na plateia, o
director do Serviço de Obstetrícia
do Centro Hospitalar Lisboa Norte
(Hospital de Santa Maria) corroborou a opinião da DGS e insistiu que
“o parto hospitalar é o parto seguro
e onde as coisas podem correr bem”.
“De cada três bebés que morrem no
parto domiciliário, dois seriam salvos no hospital. Dos bebés que morrem no parto hospitalar, nenhum
teria sido salvo se fosse em casa. Isto é incontestável”, defendeu Luís
Graça, citando dados de um estudo
norte-americano sobre o tema.
Já Vítor Varela, da Ordem dos
Enfermeiros, pediu para intervir
e citou trabalhos que contrariam a
ideia de que a intervenção autónoma dos enfermeiros prejudica os indicadores da mortalidade materna
e da mortalidade infantil.
Planear a gravidez
George quer aproveitar para mudar maus hábitos durante gravidez
Na mesma sessão, a DGS apresentou o novo Programa Nacional para
a Vigilância da Gravidez de Baixo
Risco. O documento, sob a forma de
livro, sintetiza e organiza muito do
que já é feito no terreno, explicou
Lisa Vicente, da Divisão de Saúde
Sexual, Reprodutiva, Infantil e Juvenil da DGS, que coordenou o trabalho. Segundo a responsável, a ideia
é “trabalhar mais o planeamento da
gravidez, para modificar situações
que não estão bem” e incutir a noção nos profissionais de saúde que
“o ciclo não acaba no parto”.
Lisa Vicente adiantou que a ideia é
incluir mais os parceiros das mulheres no processo de gravidez e “aproveitar a oportunidade de mudança”
que a gravidez gera para melhorar
alguns comportamentos da mulher
e da família no que diz respeito, por
exemplo, à alimentação e ao tabagismo.
A propósito do tabaco, a directora do Programa Nacional para a
Prevenção e Controlo do Tabagismo
alertou que só 11% das mulheres param de fumar mal sabem que estão
grávida e que 17% fumam até ao fim
da gravidez. Sobre a alimentação,
o director do Programa da Alimentação Saudável destacou a importância de evitar o sal, o açúcar e as
gorduras em excesso.
Contudo, como explicou Lisa Vicente, a ideia é ir mais longe nos
temas a abordar e aproveitar o momento para não deixar de lado assuntos em que as mulheres podem
sentir-se mais inibidas de tomar a
iniciativa de falar. Abordar o tema
da violência doméstica e da saúde
mental, mas também as dificuldades
após o parto, como as relações sexuais ou a incontinência são outras das
situações previstas no plano.
A DGS assegura que o manual de
mais de 100 páginas é de “fácil consulta” e que inclui recomendações
para todas as fases: pré-concepção,
gravidez e puerpério. “Os cuidados
centram-se nas necessidades de cada mulher, par, família, que devem
ser considerados parceiros nas decisões e intervenções necessárias
para a vigilância da gravidez. Da
mesma forma, o conceito de vigilância pré-natal é alargado de modo
a que seja inclusivo, abrangendo
(quando for esse o caso) o pai, ou
outras pessoas significativas, bem
como a diversidade sociocultural e
as pessoas com necessidades especiais”, sintetiza a DGS.
ID: 62254111
12-12-2015
Tiragem: 33074
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Cores: Cor
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Área: 5,00 x 3,50 cm²
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preocupam DGS
Director-geral da Saúde quer
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