FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA - UNIFOR VICE-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO - VRPPG CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS MESTRADO EM PSICOLOGIA O SIGNIFICADO DA VIVÊNCIA DO PACIENTE EM TRATAMENTO DE CÂNCER DE PRÓSTATA SANDRA REBOUÇAS MACÊDO ORIENTADOR: GEORGES D. J. BLOC BORIS Fortaleza - CE 2008 2 SANDRA REBOUÇAS MACÊDO O SIGNIFICADO DA VIVÊNCIA DO PACIENTE EM TRATAMENTO DE CÂNCER DE PRÓSTATA Dissertação apresentada ao Mestrado de Psicologia como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Psicologia pela Universidade de Fortaleza - UNIFOR Linha de Pesquisa: Produção e Expressão Sociocultural da Subjetividade Orientação do Professor Georges D. J. Bloc Boris. Fortaleza - CE 2008 Doutor 3 _________________________________________________________________________ _ M141s Macêdo, Sandra Rebouças. O significado da vivência do paciente em tratamento de câncer de próstata / Sandra Rebouças Macêdo. - 2008. 123 f. Cópia de computador. Dissertação (mestrado) – Universidade de Fortaleza, 2008. “Orientação : Prof. Dr. Georges D. J. Bloc Boris.” 1. Câncer de próstata. 2. Incontinência urinária. 3. Subjetividade. 4. Fenomenologia. I. Título. CDU 616.65-006 _________________________________________________________________________ 4 SANDRA REBOUÇAS MACÊDO O SIGNIFICADO DA VIVÊNCIA DO PACIENTE EM TRATAMENTO DE CÂNCER DE PRÓSTATA BANCA EXAMINADORA ________________________________________________________ Professor Doutor Georges D. J. Bloc Boris UNIFOR ________________________________________________________ Professor Doutor Luiz Gonzaga Porto Pinheiro UFC ________________________________________________________ Professora Doutora Maria Celina Peixoto Lima UNIFOR _______________________________________________________ Professor Doutor Henrique Figueiredo Carneiro Coordenador do Mestrado em Psicologia UNIFOR 5 Certeza De tudo, ficaram três coisas: A certeza de que estamos sempre começando... A certeza de que precisamos continuar... A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar... Portanto, devemos: Fazer da interrupção um caminho novo... Da queda, um passo de dança... Do medo, uma escada... Do sonho, uma ponte... Da procura, um encontro... Fernando Sabino 6 AGRADECIMENTOS Primeiramente, a Deus, por estar sempre comigo, pois sinto Sua presença constante em minha vida e Sua mão sempre a me guiar; À minha mãe, sempre atenciosa, exemplo de amor e paciência, não só com seus filhos, mas com todos aqueles que dela se aproximam. Não há palavras para agradecer sua presença e seu amor incondicional em minha vida; Ao meu pai (in memoriam), pelas boas lembranças deixadas de seu afeto, com muita saudade, mas com a certeza de que nossos laços serão eternos; Aos meus irmãos Alexandro e Jeová, que, à sua maneira, torcem pelo meu sucesso e pela minha felicidade; Às minhas cunhadas Aline e Viviane, pelo incentivo e pelo apoio, quando mais precisei; Ao meu sobrinho Artur, por me mostrar que a felicidade está nos momentos mais simples dessa vida e, principalmente, quando vejo o seu sorriso dirigido a mim; À minha madrinha Alda, pelas horas de orações que, com certeza, me fortaleceram bastante. Minha gratidão por fazer parte da minha história, sempre com o coração disposto a ajudar; Aos meus amigos, simplesmente por serem como são, pelas horas que recorri aos seus ombros e pela compreensão pelas horas nas quais precisei me ausentar; Aos amigos que fiz na turma IX do Mestrado em Psicologia, em especial à minha amiga-irmã Ilana, “presente de Deus”, como a chamo carinhosamente; 7 Ao meu orientador professor Georges Boris, por sua paciência, atenção e solicitude, sempre. Hoje, para mim, um modelo de mestre que me inspirará pelos próximos anos de minha carreira docente; Ao Lucas Bloc, pela colaboração e pelo olhar cuidadoso, mesmo ainda acadêmico, mas, desde já, com ares de um grande profissional; Aos meus alunos, pelo incentivo e carinho. Este estudo, também, teve em vocês uma fonte de estímulo, pois a responsabilidade de fazer parte de suas formações me motiva, sempre e cada vez mais; Aos meus pacientes que me narraram suas histórias, com tanta minúcia e clareza, no intuito de valorizar este estudo, e pelo incentivo de diversas formas: palavras, olhares, abraços e, inclusive, livros presenteados e outros pequenos grandes gestos; Aos médicos urologistas, que, direta ou indiretamente, colaboraram para o enriquecimento desta pesquisa; Aos professores doutores Luiz Gonzaga Porto Pinheiro, Maria Celina Peixoto Lima e Leônia Cavalcante Teixeira pela participação tão significativa em minha banca. A cada um, o meu muito obrigada pelo carinho com que leram e “cuidaram” deste estudo. 8 RESUMO O número estimado de casos novos de câncer de próstata no Brasil, em 2008, é de 49.530. Tal valor corresponde a 52 casos novos a cada 100 mil homens. O aumento, nas últimas décadas, das taxas de incidência de câncer de próstata pode ser justificado pela modernização dos métodos diagnósticos, pela melhoria na qualidade dos sistemas de informação do País e pelo aumento da expectativa de vida do brasileiro. A taxa de incidência de câncer de próstata é cerca de seis vezes maior nos países desenvolvidos, se comparada à dos países em desenvolvimento. Em valores absolutos, o câncer de próstata é o sexto tipo de câncer mais comum no mundo e o mais prevalente em homens, representando cerca de 10% do total de casos de câncer. Ele é considerado o câncer da terceira idade, uma vez que cerca de três quartos dos casos, no mundo, ocorrem a partir dos 65 anos. Este tema tem sido bastante discutido, mas pouco se conhece a respeito da subjetividade do paciente de câncer de próstata. Portanto, esta pesquisa discutiu o significado da vivência do paciente em tratamento de câncer de próstata. Para tanto, utilizei o método fenomenológico, com a aplicação de entrevistas, através da pergunta disparadora “quais os eventos mais significativos de sua vida?”, ouvindo pacientes que realizaram a cirurgia de retirada da próstata, a prostatectomia radical, sobre sua própria experiência. Esta pesquisa pretendeu trazer novos conhecimentos sobre o câncer de próstata no que diz respeito às suas repercussões psicológicas, que poderão desmistificar as complicações do tratamento, como, por exemplo, a incontinência urinária e as disfunções sexuais, discutindo o sofrimento psíquico do paciente em tratamento, bem como estimulando novas investigações sobre o tema. O local da coleta de dados foi meu consultório particular de fisioterapia do assoalho pélvico. A amostra foi de 4 sujeitos do sexo masculino, na faixa etária entre 55 e 77 anos, pois é nesta faixa etária que, mais comumente, ocorre o câncer de próstata. Após a realização das entrevistas, surgiram as seguintes categorias ou unidades de sentido: o momento do diagnóstico; a relação paciente-família-doença; a relação médico-paciente; o enfrentamento da doença; e o papel de macho como fica?; a sexualidade pósprostatectomia radical; e a infantilização e a feminilização do uso de fraldas e de protetores íntimos. Após discussão de tais categorias, pude compreender que, além de acompanhamento médico, eles precisam de suporte psicológico para um melhor enfrentamento da doença. Palavras-chave: câncer de próstata, fenomenologia, subjetividade do doente, incontinência urinária masculina, disfunção sexual. 9 ABSTRACT The estimated number of new cases of prostate cancer, in Brazil, in 2008, is 49.530. Such value corresponds to 52 new cases for each 100 thousand men. The increase, in the last decades, the incidence rate of prostate cancer can be justified by the modernization of the diagnosis methods, by the improvement of the quality of the Country’s Information systems and by the increase of life expectation of Brazilian people. The incidence rate of prostate cancer is about six times higher in developed countries compared to that of developing countries. In absolute values, the prostate cancer is the sixth most common type of cancer in the world and it is the type which mostly prevails in men, acting in about 10% of the total of cases of cancer. It is considered the cancer of the third age, once that about three forth of the cases in world reach men of 65 years old and above. This theme has been enough discussed, but little is known regarding the patient’s subjectivity of prostate cancer. Therefore, this research discusses the meaning of the patient's experience while in cancer prostate treatment. For that, I used the phenomenologic method, with the application of interviews, through a question-shot like “which is the most significant events of your life?”, hearing patients who accomplished the surgery of the prostate removal, the radical prostatectomy, about their own experience. This research intended to bring new knowledge on the prostate cancer, in what it concerns their psychological repercussions, so that it can demystify the complications of the treatment, as, for instance, the urinary incontinence and the sexual dysfunctions, discussing the patient's psychic suffering while in treatment, as well as stimulating new investigations on the theme. The place of data collection was my physiotherapy clinic for the pelvic floor. The sample was collected from 4 subject males, in the age group between 55 and 77 years, because it is in this age group that the prostate cancer most commonly occurs. After the accomplishment of the interviews, the following categories or sense units were so classified: the moment of the diagnosis; the patient-family-disease relationship; the doctor-patient relationship; facing the disease; and the “male”'s role where it stands?; the postprostatectomia radical sexuality ; and the infantilization and the feminization by the use of diapers and of intimate protectors. After the discussion of such categories, I could understand that, besides medical attendance, they need psychological support for better facing the disease. Key- words: prostate cancer, phenomenology, the patient’s subjectivity, masculine urinary incontinence, sexual dysfunction. 10 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figuras Figura 1 - Anatomia Pélvica Masculina - Localização da Próstata e da Bexiga.......9 Figura 2 - Anatomia Pélvica Masculina: Localização da Próstata e dos Músculos do Assoalho Pélvico...............................................................20 Figura 3 - Anatomia Pélvica Masculina - Músculos do Assoalho Pélvico...............26 Figura 4 - Modelo de Qualidade de Vida na Velhice de Lawton.............................37 Quadros Quadro 1 - Critérios Diagnósticos de Depressão Importante.................................47 11 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS DE - disfunção erétil DS - disfunção sexual Hz - hertz ICS - Sociedade Internacional de Continência IPSS - escore internacional de sintomas prostáticos MAP’s - músculos do assoalho pélvico ms - milisegundos PSA - antígeno prostático específico RM - ressonância magnética SBU - Sociedade Brasileira de Urologia sEMG - eletreomiografia de superfície TC - tomografia computadorizada TR - toque retal US - ultra-som USTR - ultra-som transretal 12 SUMÁRIO INTRODUÇÃO..........................................................................................................1 Capítulo 1- ABORDANDO A PRÓSTATA...............................................................7 1.1 O Câncer de Próstata e Suas Implicações.................................................7 1. 2 Anatomia da Próstata..............................................................................8 1. 3 Epidemiologia e Etiologia do Câncer de Próstata......................................9 1. 4 O Diagnóstico do Câncer de Próstata.....................................................12 Capítulo 2 - O TRATAMENTO DO CÂNCER DE PRÓSTATA E SUAS CONSEQUÊNCIAS..........................................................................16 2.1 Opções de Tratamento do Câncer de Próstata........................................16 2.2 Complicações da Prostatectomia Radical................................................18 2.2.1 Disfunção erétil...................................................................................18 2.2.2 Estenose uretral..................................................................................19 2.2.3 Incontinência urinária..........................................................................20 2.3 A Fisioterapia do Assoalho Pélvico Pós-Prostatectomia Radical.............22 2.3.1 Objetivos da fisioterapia do assoalho pélvico.....................................22 2.3.2 A terapêutica fisioterápica da incontinência urinária pós- prostatectomia radical.........................................................................24 2.3.2.1 Biofeedback...........................................................................25 2.3.2.2 Eletroestimulação..................................................................27 2.3.2.3 Cinesioterapia........................................................................29 2.3.2.4 Terapia comportamental........................................................30 Capítulo 3 - O SUJEITO QUE ADOECE...............................................................31 3.1 A Subjetividade do Doente.......................................................................31 13 3.1.1 O Adoecer e o envelhecimento...........................................................33 3.2 A Sexualidade Masculina..........................................................................39 3.2.1 A sexualidade masculina na terceira idade.........................................39 3.2.2 A sexualidade pós prostatectomia radical...........................................41 . 3.3 A Psico-Oncologia no Tratamento do câncer de próstata........................43 3.3.1 A reabilitação psicossocial do paciente com câncer de próstata...............................................................................................44 3.3.2 Psico-oncologia: uma abordagem psicossocial..................................46 Capítulo 4 - A PESQUISA QUALITATIVA E A FENOMENOLOGIA......................50 4.1 Tipo de Estudo.........................................................................................50 4.1.1 Pesquisa qualitativa............................................................................50 4.1.2 A fenomenologia.................................................................................51 4.2 Procedimentos Metodológicos..................................................................53 4.2.1 Sujeitos participantes........................................................................53 4.2.2 Instrumento de coleta de dados.........................................................54 4.2.3 Aspectos éticos..................................................................................55 4.2.4 Local e período ..................................................................................56 Capítulo 5 - EXPRESSANDO OS SENTIDOS DA EXPERIÊNCIA VIVIDA DO TRATAMENTO DE CÂNCER DE PRÓSTATA...........................57 5.1 Análise e Discussão das Entrevistas........................................................57 5.2 Categorias ou Unidades de Sentido.........................................................61 5.2.1 O momento do diagnóstico.................................................................61 5.2.2 A relação paciente-família-doença..................................................... 65 5.2.3 A relação médico-paciente..................................................................67 5.2.4 O enfrentamento da doença................................................................72 5.2.5 E o papel de macho como fica?..........................................................79 5.2.6 A sexualidade pós-prostatectomia radical...........................................82 14 5.2.7 A infantilização e a feminilização do uso de fraldas e de protetores íntimos................................................................................87 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................90 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................94 ANEXOS...............................................................................................................107 Anexo 1 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido...........................107 Anexo 2 - Pergunta disparadora................................................................109 Anexo 3 - Parecer do Comitê de Ética.......................................................110 15 INTRODUÇÃO O aumento da expectativa de vida tem exigido um novo comportamento dos profissionais da saúde, da psicologia e da sociologia, pois o número de idosos vem aumentando de forma significativa. Neste sentido, a relação entre a saúde e a doença tem sido alvo de muitas pesquisas. Por exemplo, o câncer de próstata é a neoplasia mais freqüentemente diagnosticada nos homens e a sua segunda causa de morte por doença maligna, depois do câncer de pulmão. O câncer de próstata é um tumor que, após os 50 anos de idade, tem sua incidência aumentada em dobro, a cada década de vida (Ferreira & Nardi, 1999). Segundo Gomes (2006), corresponde à terceira causa de morte entre homens no Estado de São Paulo. Portanto, é salutar pensar em mudanças imediatas preventivas e terapêuticas. Estima-se que surjam 49.530 casos novos de câncer de próstata, no Brasil, em 2008, correspondendo a um risco estimado de 52 casos novos a cada 100 mil homens. Quando se observa esta estimativa por região, encontra-se o número de 38 casos novos por 100 mil habitantes, na região Nordeste (Inca, 2008). Diante da situação alarmante dos casos de câncer de próstata, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) decidiu instituir o Dia Nacional de Combate ao Câncer de Próstata, que vem sendo divulgado desde 2004 (SBU, 2007). Calcula-se que, aproximadamente, 400.000 pessoas acima de 45 anos tenham a doença, mas, anualmente, apenas 35.000 casos são diagnosticados, e, destes casos, 8.000 chegam a óbito. Campanhas são realizadas, anualmente, para destacar, entre a população masculina, a importância dos exames preventivos e de detectar, o mais precocemente possível, o câncer, pois se trata de uma doença curável, no seu estágio inicial. Os homens devem realizar exames preventivos, anualmente, a partir dos 45 anos de idade. Da prevenção ao diagnóstico do câncer, os procedimentos passam por diversas etapas: os exames de sangue para dosagem do antígeno prostático específico (PSA); o toque retal; a ultra-sonografia (US) retal, utilizada para biópsia, e, então, pode-se chegar à necessidade de uma 16 prostatectomia radical, que é a retirada total da próstata. Algumas complicações podem ocorrer por conta dos procedimentos cirúrgicos, principalmente quando se opta pela prostatectomia radical: os pacientes podem apresentar problemas geniturinários e sexuais (Gerber & Vargo, 2002). Pouco se sabe, entretanto, sobre a subjetividade do paciente sob tratamento do câncer de próstata, daí o interesse desta pesquisa voltada ao significado da vivência do paciente, a partir de uma perspectiva fenomenológica: como o paciente significa as vivências do seu tratamento, como elabora a complexidade dos fenômenos psicológicos que acompanha o adoecimento do homem com câncer de próstata e quais as implicações psicossociais da doença são questões discutidas neste estudo. A literatura (Srougi, 1998, 2003, 2008; Gerber & Vargo, 2002; Mariano, 2002; Sharkey, 2002; Lopes, 2005) acerca do tratamento do câncer de próstata oferece, prioritariamente, uma abordagem médica. Creio que os motivos da escassez de literatura em tal área são diversos, mas, certamente, incluem, dentre eles, a difícil abordagem, por parte dos profissionais da saúde, bem como por parte dos pacientes, da subjetividade do paciente vítima de câncer. Para desfazer os mitos acerca dos métodos diagnósticos e do tratamento, busquei compreender e discutir as falas dos pacientes que se submeteram a tratamento do câncer de próstata, revelando muitas de suas vivências e favorecendo a modificação de estereótipos, como, por exemplo, a crença de que, após a cirurgia de próstata, o paciente sofre, necessariamente, de disfunção urinária e sexual definitivas. Na verdade, apenas em 3 a 8 % dos casos, a prostatectomia radical é seguida de incontinência urinária (Srougi, 2003). Tais pacientes, geralmente, perdem urina quando mudam de posição (de sentados para de pé ou de deitados para sentados, por exemplo), em caminhadas e por conta de tosse ou de espirro. Quando estão continentes, no final do tratamento fisioterápico, podem deixar de usar qualquer tipo de protetor, pois não mais perdem urina involuntariamente como antes, tornando o uso de absorventes desnecessário. A fisioterapia atua não 17 apenas sobre o mal estar físico dos pacientes, mas, também, sobre seu sofrimento psicológico, pois, por exemplo, preciso convencê-los de que sua incontinência urinária é temporária, auxiliando-os a reconstruir sua auto-estima. Assim, a fisioterapia é, ao meu ver, um serviço de apoio, funcionando, neste momento, como um tratamento eficaz para o paciente amenizar seu sofrimento psíquico. Atuo na área de fisioterapia das disfunções do assoalho pélvico, desde 1998. O assoalho pélvico é a região situada entre a uretra e o ânus, contendo estruturas de sustentação dos órgãos pélvicos, bem como os esfíncteres urinários e fecais, formados de musculatura lisa e estriada. As principais disfunções do assoalho pélvico são: a incontinência urinária; a incontinência anal e fecal; as disfunções sexuais; a constipação e as algias (dores) pélvicas. Tais disfunções são causadoras de problemas de ordem social, física e psicológica, pois modificam o estilo de vida do paciente. Em minha caminhada profissional, aprendi a escutar meus pacientes, acolhendo suas angústias, seus medos e seu desejo de cura. Os homens procuram o serviço de fisioterapia, geralmente, encaminhados por seus urologistas, após a prostatectomia radical, em média, depois de 30 a 180 dias do pós-operatório. Percebo, ao avaliar tais pacientes, uma grande vontade de cura e de recuperar o estilo de vida anterior à cirurgia. Modificações ocorrem em suas rotinas por conta da necessidade de usar protetores higiênicos, que podem ser, desde uma fralda geriátrica, até metade de um absorvente geriátrico ou feminino (cortado ao meio por eles mesmos e adaptado) para absorver a perda de urina. No tratamento fisioterápico para reabilitar as funções pélvicas comprometidas após a cirurgia de retirada da próstata, são utilizadas técnicas computadorizadas para reeducar a musculatura do assoalho pélvico e a atividade vesical. A abordagem terapêutica não se resume apenas ao tratamento físico, fazendo-se necessária uma especial atenção às implicações emocionais do paciente de câncer de próstata. Seus aspectos emocionais devem ser levados em 18 consideração, pois, segundo Néri (1993), as doenças são o primeiro aspecto a ser considerado como agente estressor, principalmente entre as pessoas da terceira idade. Considerando o sofrimento psíquico causado pelo câncer de próstata, e mesmo por seu tratamento, optei pela utilização do método fenomenológico nesta pesquisa, pois ele permite investigar o significado atribuído pelos próprios pacientes prostatectomizados à vivência da doença e de seu tratamento (Boris, 2002; Gomes, 2007). Para tanto, parti de uma pergunta acerca de sua história de vida, que, certamente, os remetia a seu adoecimento e a seu tratamento. Os dados foram categorizados a partir das falas mais significativas dos participantes da pesquisa. Tais categorias receberam destaque por abordarem assuntos significativos sendo merecedores de maior aprofundamento, pois tratam da subjetividade do paciente sob tratamento de câncer de próstata. Os pacientes entrevistados puderam entrar em contato com suas experiências de vida, com seus sentimentos e, inclusive, com algumas vivências ocultadas aos seus familiares e aos profissionais envolvidos no tratamento. A entrevista representou um momento de revelação, no qual eles puderam retirar algumas de suas “máscaras”, usadas para enfrentar as dores geradas pela doença e pelo tratamento. Estruturei esta dissertação da seguinte forma: no capítulo 1, “Abordando a Próstata”, faço uma abordagem sucinta da anatomia da próstata, para melhor compreensão dos capítulos seguintes. Foram, também, abordados, neste capítulo, a epidemiologia, a etiologia e o diagnóstico do câncer de próstata, bem como suas implicações. No capítulo 2, “O Tratamento do Câncer de Próstata e Suas Conseqüências”, discuto o tratamento do câncer de próstata, fazendo uma breve explicação das suas diferentes modalidades e detendo-me mais acerca da prostatectomia radical, seu principal recurso contra o câncer de próstata. Neste mesmo capítulo, trato das complicações da prostatectomia radical, destacando a incontinência urinária, a estenose uretral e a disfunção sexual. Em seguida, 19 descrevo as peculiaridades da fisioterapia do assoalho pélvico pós-prostatectomia radical. No capítulo 3, “O Sujeito que Adoece”, discuto a subjetividade do doente e sua experiência de adoecimento. Abordo a sexualidade masculina, para, então, tratar da sexualidade do paciente pós-prostatectomia radical. Explicito a importância da psico-oncologia no tratamento do câncer de próstata, destacando a sua contribuição na reabilitação psicossocial do paciente. No capítulo 4, “A Pesquisa: Um Estudo Fenomenológico”, descrevo passo a passo a pesquisa, explicando seu método, a fenomenologia, como um rico instrumento de pesquisa qualitativa. No item sobre os procedimentos metodológicos, descrevo os sujeitos e o instrumento de coleta de dados: para melhor compreender os significados das vivências de meus pacientes, fiz uso da entrevista como instrumento, na qual utilizei a seguinte pergunta disparadora: quais os eventos mais significativos de sua vida? (anexo 2). No mesmo capítulo, demonstro como tratei os aspectos éticos, a escolha do local e o período da pesquisa, e como cheguei à análise e à discussão dos dados, que foram elaboradas simultaneamente. No quinto e último capítulo, “Expressando os Sentidos da Experiência Vivida do Tratamento de Câncer de Próstata”, fiz a análise e a discussão das entrevistas. Para tanto, separei as falas em categorias ou unidades de sentido, que foram destacadas por mim, pois expressavam a subjetividade do paciente sob tratamento do câncer de próstata, sendo divididas em sete categorias: • O Momento do Diagnóstico; • A Relação Paciente-Família-Doença; • A Relação Médico-Paciente; • O Enfrentamento da doença; • E o Papel de Macho como Fica?; • A Sexualidade Pós-Prostatectomia Radical; 20 • A Infantilização e a Feminilização do Uso de Fraldas e de Protetores Íntimos. Foram discutidos temas, como a sexualidade do paciente, com destaque para a disfunção sexual pós-prostatectomia radical, sendo investigado como é vivenciada a sexualidade masculina após a cirurgia, assunto gerador de muita polêmica em torno do tratamento do paciente com câncer de próstata. Destaco que, durante a discussão do impacto causado pelo tratamento do câncer de próstata, foram considerados não apenas seus aspectos físicos, mas, também, psicoemocionais, relacionais e sócioeconômicos, dando-se ênfase à sua subjetividade. Tal discussão me permitiu compreender que, além de acompanhamento médico, eles precisam de suporte psicológico para um melhor enfrentamento da doença. Tal suporte pode advir da família, dos amigos, do seu próprio médico e/ou de um profissional especializado. As experiências vividas do momento do diagnóstico, da escolha do médico e da modalidade de tratamento, das complicações cirúrgicas e do papel de “macho” na família e na sociedade são algumas das categorias que emergiram e que foram discutidas. Por último, encerro esta pesquisa com minhas considerações finais, que nada mais são do que um “fechamento” de tudo que foi discutido nesta dissertação. É certo que não são, literalmente, finais, pois a subjetividade do paciente vítima de câncer de próstata é um tema que vem sendo muito recentemente explorado e, portanto, é, ainda, carente de maior aprofundamento. Dessa forma, espero que novas compreensões possam surgir a partir deste estudo, não apenas aos profissionais da saúde, mas, também, aos pacientes de câncer de próstata. 21 CAPÍTULO 1: ABORDANDO A PRÓSTATA Faz-se necessário compreender a etiologia, a incidência, o diagnóstico e o tratamento do câncer de próstata para facilitar a discussão do sofrimento psíquico vivido pelo paciente prostatectomizado. A necessidade de ir além do modelo biomédico e de adotar uma perspectiva mais abrangente da saúde e da doença fez-me elaborar um estudo que esclarecesse não apenas os seus aspectos físicos, mas, principalmente, as conseqüências psicológicas desencadeadas pela doença, bem como pelo seu tratamento. O câncer de próstata assume especial significado por gerar impactos físicos e psíquicos, particularmente no homem da terceira idade, já que sua incidência aumenta, significativamente, após os 65 anos. Neste capítulo, os aspectos físicos serão abordados, para, em seguida, discutir os aspectos psicológicos do paciente com câncer de próstata, numa perspectiva sociocultural e de gênero. 1.1 O Câncer de Próstata e Suas Implicações O câncer é uma doença que se origina nos genes de uma única célula, tornando-a capaz de se proliferar até o ponto de formar massa tumoral no local e à distância. Várias mutações têm que ocorrer na mesma célula para que ela adquira este fenômeno de malignidade e a biologia molecular vem estudando com acuracidade estes detalhe Yamaguchi (1994) Câncer é um termo genérico, usado para descrever mais de duzentas doenças, e se caracteriza por uma proliferação anormal e desordenada de um determinado tecido (Denis et al., 2006). O câncer é uma doença com a qual muitas pessoas temem se deparar, sendo o medo um dos principais motivos para o descuido com os métodos preventivos ou com o diagnóstico precoce. Figueiredo 22 e Manfrin (2007) afirmam que a maioria dos cânceres surge na terceira idade, em um percentual de 55% do total de casos, sendo a idade apontada como o mais importante fator de risco isolado. Malzyner e Caponero (2004) consideram que, “sob condições normais, a idade está intrinsecamente inter-relacionada com a duração e o tempo de exposição, susceptibilidade do hospedeiro, envelhecimento celular e fatores ambientais” (p. 345). Portanto, se tais dados forem somados ao aumento da expectativa de vida, há uma probabilidade maior de pessoas idosas desenvolverem câncer. A situação não é diferente com o câncer de próstata, que é considerado um grande problema de saúde, apresentando morbidade, mortalidade e perda de qualidade de vida significativas (Denis et al., 2006). 1. 2 Anatomia da Próstata A próstata é uma glândula que tem tamanho equivalente a uma noz, em um adulto jovem. Sua localização é considerada muito delicada (figura 1), pois, anatomicamente, ela se situa, imediatamente, abaixo da bexiga e ao redor da uretra, e, quando da sua retirada cirúrgica, parte dos esfíncteres de musculatura lisa é removida, juntamente com os nervos, gerando incontinência urinária e disfunção sexual pós-operatória, em alguns casos. Portanto, sua anatomia explica alguns dos sintomas urinários que ocorrem com seu crescimento alterado, bem como, no período pós-prostatectomia radical. Sua localização, também, justifica o motivo de exames diagnósticos serem realizados, em sua maioria, através do acesso retal. A próstata tem importante papel na fase reprodutiva do homem, por produzir parte do líquido seminal, responsável pelo auxílio ao transporte dos espermatozóides (Srougi, 2003). Na figura a seguir, na qual temos a próstata em destaque, percebe-se a sua proximidade com a bexiga: 23 Próstata Bexiga Figura 1 Anatomia Pélvica Masculina: Localização da Próstata e da Bexiga (Netter, 2008, p. 361). Durante a retirada da próstata, é, também, retirada uma porção da uretra, denominada de uretra prostática. Alguns fatores, como a habilidade do cirurgião, a idade e a anatomia do paciente, o tamanho da sua próstata e a situação da sua continência no pré-operatório, podem influenciar no surgimento da incontinência, após a prostatectomia, assunto que será discutido mais adiante. 1.3 Epidemiologia e Etiologia do Câncer de Próstata A incidência de todos os tipos de câncer geniturinário está aumentando, podendo ser justificada pelo aumento da população idosa em todo o mundo e pela modernização dos métodos diagnósticos. O câncer de próstata pode variar de acordo com a situação geográfica: por exemplo, em São Paulo, são diagnosticados 22 casos novos por 100 mil habitantes por ano (Ferreira & Nardi, 1999); nos Estados Unidos, a doença é identificada em 100 por 100 mil habitantes (Srougi, 1998). Pode-se associar o alto percentual nos países desenvolvidos à eficácia nos métodos de rastreamento, ou seja, à modernidade dos métodos 24 diagnósticos utilizados, à maior conscientização da população no que se refere à prevenção (Gomes, 2006), e, também, aos fatores ambientais e alimentares (Srougi, 2003). Denis et al. (2006) alertam para a alta incidência da doença em todo o mundo: estima-se que haja aproximadamente 1,6 milhão de pacientes vivos com câncer de próstata no mundo todo, e isso representa 16% de todos os casos prevalentes de câncer em 5 anos em homens. Desses casos, cerca de 900 mil tiveram origem nos países desenvolvidos do mundo, e o restante nos países em desenvolvimento (p. 586). A incidência do câncer de próstata é considerada a segunda maior em relação aos outros tipos de câncer no homem, apenas perdendo para o de pulmão: “o câncer de próstata é o segundo maior causador de mortes em homens e superará o câncer de pulmão quando os hábitos tabagistas dos homens se modificarem” (Keane; Kelly & McAleer, 2003, p. 189). Além da sua elevada incidência, o câncer de próstata é uma doença comum nos idosos, com pico de incidência e de mortalidade por volta dos 70 anos (Denis et al., 2006): “a doença responde por 1030% dos tumores clínicos registrados em homens, e por 60% de todas as mortes masculinas por câncer” (p. 586). Tais índices chamam a atenção para o tema e para a importância de esclarecer a população, especialmente, a masculina, para a necessidade de maiores cuidados na saúde. A etiologia do câncer de próstata é desconhecida, mas alguns fatores de risco se destacam: a idade; a história familiar; a raça; a dieta; a presença de cádmio1 no organismo; os hormônios e a vasectomia. Quanto aos fatores genéticos, a probabilidade da doença ocorrer em homens que tenham um familiar direto (pai ou irmão) com a doença é duas vezes maior do que nos que não o tenham. Com relação aos fatores hormonais, especificamente, os andrógenos 1 Metal presente em todos os alimentos e bebidas, mas encontra-se mais concentrado em mariscos, ostras e peixes de água salgada, alguns tipos de chá e na fumaça do cigarro. 25 circulantes (hormônios masculinos) aceleram o avanço da doença, quando ela já está instalada. No que diz respeito aos fatores ambientais, são desencadeadores do câncer de próstata a poluição do ar, as dietas ricas em cádmio, em zinco e em gorduras, o déficit de vitamina A e o fumo. Por último, quanto aos fatores infecciosos, os estudos não comprovaram ainda a relação das doenças sexualmente transmissíveis com o câncer de próstata (Srougi, 1998; Ferreira & Nardi, 1999). Tais fatores de risco podem ser divididos em reconhecidos e suspeitos. Os reconhecidos são o envelhecimento, a raça, os fatores genéticos e os andrógenos. Os suspeitos podem ser considerados a dieta ocidental, o ambiente e a vasectomia (Keane et al., 2003). A suscetibilidade genética parece responder por 13% dos cânceres de próstata registrados (Denis et al., 2006). Johnston e McDermott (2003) afirmam que 80-90% dos cânceres podem ser causados por fatores ambientais ou pelo estilo de vida. Harkin (2003) aponta que os tumores surgem pelo acúmulo de várias alterações genéticas que afetam o controle do crescimento celular. Mello Filho (2004) destaca a possibilidade dos fatores psicossociais serem mais importantes para a promoção e a progressão do que para o início do câncer. Gomes (2006) destaca a alta incidência do câncer de próstata, fazendo uma comparação entre os dados americanos e brasileiros, a partir de estudos da American Cancer Society, que calcularam a estimativa de que 209.000 americanos desenvolveram a doença, atingindo a mortalidade em 14% dos casos. Gomes estimou, transpondo tais dados para o Brasil, que 144.000 brasileiros seriam afetados pela doença em 2006 e que 20.000 dos casos chegariam a óbito. A partir disto, faz considerações importantes com relação aos sintomas: o fato de que a maioria desses cânceres é assintomática, correspondendo, pois, a achados anatomopatológicos de necropsias por mortes de causas várias ou material prostático biopsiado, na vigência de hiperplasia prostática benigna e/ou prostatites, estima-se que 13% desses tumores têm caráter indolente, assintomático, não configurando causa de óbito nos seus portadores (p. 706). 26 Diante de tais informações, os métodos diagnósticos têm sua importância aumentada, bem como as campanhas de prevenção, além do esforço da comunidade médica e científica de divulgar a necessidade da consulta anual ao especialista. 1. 4 O Diagnóstico do Câncer de Próstata É importante destacar o papel da detecção precoce do câncer na cura do paciente. Entretanto, para que ela ocorra, não somente os recursos tecnológicos avançados são de suma importância, mas, também, a atitude do indivíduo, que deve buscar precocemente a detecção da doença (Gimenes, 1994). O paciente precisa ter interesse em realizar as consultas de prevenção, e, para tanto, deve marcar consultas anuais com o especialista, o urologista. Apesar das diversas campanhas, muitos homens continuam adiando as consultas preventivas do câncer de próstata. Medidas preventivas devem ser tomadas para a detecção precoce do câncer de próstata. Dentre elas, podemos destacar o exame do toque retal, a medição do antígeno prostático específico (PSA) e o ultra-som transretal (USTR): “cada um desses métodos, utilizado isoladamente, identifica entre 29 e 40% das neoplasias prostáticas e, realizados conjuntamente, diagnosticam 80% dos casos” (Srougi, 1998, p. 364). Abaixo, descrevo sucintamente suas características: • Toque Retal (TR): este exame auxilia na detecção de alterações ou de assimetria na forma, na consistência ou no enrijecimento da próstata, através do toque retal manual, realizado pelo urologista. Porém, aproximadamente, 20% dos cânceres de próstata se desenvolvem nas porções mais centrais da glândula, o que dificulta o diagnóstico através deste exame, já que, nestes casos, sua palpação é mais difícil (Srougi, 1998; Ferreira & Nardi, 1999; Kennedy, 2003; Denis et al., 2006); 27 • Antígeno Prostático Específico (PSA): trata-se da detecção de uma glicoproteína presente no epitélio prostático e que ajuda na liquefação do sêmen. Os valores normais de PSA são considerados de 0 ng/ml a 4 ng/ml. O exame detecta a possível progressão da doença (Srougi, 1998; Ferreira & Nardi, 1999; Kennedy, 2003; Denis et al., 2006; Gomes, 2006). “O PSA também pode ser usado como marcador para monitorar pacientes com câncer, tanto antes quanto depois do tratamento” (Keane et al., 2003, p. 197). Este exame revolucionou o tratamento do câncer de próstata, pois, através dele, pode-se acompanhar o comportamento prostático sem intervenções invasivas, até que sejam realmente necessárias; • Ultra-som Transretal (USTR): geralmente, é realizado após o exame do toque retal e do PSA. É importante para conduzir a realização da biópsia. A biópsia transretal da próstata deve ser indicada, quando o toque retal apresentou resultado suspeito e o PSA foi maior do que 10 ng/ml, quando o PSA apresentouse entre 4 e 10 ng/ml, ou quando a relação da fração PSA livre/ fração PSA total2 for menor do que 0,20 ng/ml (Srougi, 1998; Ferreira & Nardi, 1999; Kennedy, 2003; Denis et al., 2006; Gomes, 2006); • Tomografia Computadorizada (TC): pode ser usada para identificar doença metastática3, envolvendo linfonodos4 e sendo mais indicada quando o PSA for maior do que 10 ng/ml. (Keane et al., 2003). A tomografia computadorizada utiliza um aparelho de raios X que gira à sua volta, fazendo radiografias transversais do corpo do paciente (Siemens, 2008b). • Ressonância Magnética (RM): também chamada de ressonância nuclear magnética, é um método de diagnóstico por imagem que não utiliza radiação e que permite retratar imagens de alta definição dos órgãos do corpo, através de pulsos de energia das ondas de rádio. O aparelho de ressonância magnética 2 A relação PSA livre/PSA total é menor nos pacientes com câncer. Ocorre quando há células do tumor primário em outras regiões do corpo. 4 Anteriormente denominados de gânglios linfáticos, são órgãos linfóides, ou seja, partes integrantes do sistema imunológico. 3 28 percorre cada ponto do corpo do paciente, construindo um mapa em 2 ou 3 dimensões (2-D ou 3-D) dos tecidos para melhor analisar cada parte do segmento estudado (Gould, 2008; Siemens, 2008a). Os métodos de diagnóstico são utilizados pelos médicos para detectar o mais precocemente possível o câncer da próstata, considerando que, o quanto antes for diagnosticada a doença, maiores chances de cura e menores possibilidades de complicações terá o paciente: “o grau de diferenciação, ou grau do tumor, é reconhecido como fator prognóstico dominante, que prediz a doença, tanto localizada como metastásica, independente da terapia aplicada” (Denis et al., 2006, p. 588-589). O sistema de graduação de Gleason é uma avaliação histológica da diferenciação do câncer de próstata. Por meio dele, é analisada a localização das lesões. Cerca de 70% dos cânceres originam-se na zona periférica, 15-20% na zona de transição e 15-20% na zona central da próstata. “O risco de desenvolver câncer de próstata durante a vida é de 30%, mas apenas 10% dos cânceres serão clinicamente significativos” (Keane et al., 2003, p. 196). Conhecer a localização do câncer de próstata tem significativa importância no que diz respeito à evolução da doença e a seu prognóstico. Quanto mais o câncer for localizado próximo da cápsula, melhor será o prognóstico da doença, ou seja maiores as chances de cura. As complicações da doença da próstata podem acarretar importantes alterações na qualidade de vida do homem. Pensando em quantificá-las, foi criado um questionário para avaliar a importância dos sintomas, bem como seu impacto na qualidade de vida dos pacientes. No final da aplicação do questionário, obtémse uma soma de escore que pode variar de 0 a 35 pontos. Este escore é conhecido como Escore Internacional de Sintomas Prostáticos (International Prostate Symptom Score, ou IPSS) e contém perguntas tais como: “no último mês, quantas vezes você observou que o jato de urina estava fraco? No último mês, quantas vezes, em média, teve que levantar à noite para urinar?” (Zerbib & Perez, 2003, p. 61). Tal questionário pode dar ao profissional uma noção do estágio e do 29 impacto da doença, pois, de acordo com as mudanças físicas e fisiológicas, ou seja, com os comprometimentos causados pelas alterações da próstata, o paciente expressa maiores queixas, conseqüentemente, somando um maior número de escores. Três parâmetros clínicos são utilizados para determinar a gravidade da doença: o escore de Gleason5, a extensão da doença e os níveis de PSA. O escore de Gleason é expresso por uma escala que vai de 2 a 10, refletindo a agressividade das células que compõem o tumor. O grau do câncer, avaliado pelo escore de Gleason, deve estar entre 4 e 6 para obter os melhores resultados, ou seja, a cura. A doença localizada tem vantagens no prognóstico, pois seu tratamento é facilitado, principalmente, no que diz respeito à retirada total da próstata, a prostatectomia radical, conseguindo, na maioria dos casos, a remoção total do câncer (Sharkey, 2002; Srougi, 2003). 5 Através de uma peça de tecido prostático, obtida por meio de biópsia, o especialista, através de análise microscópica, determina a agressividade da doença. 30 CAPÍTULO 2: O TRATAMENTO DO CÂNCER DE PRÓSTATA E SUAS CONSEQUÊNCIAS 2.1 Opções de Tratamento do Câncer de Próstata O tratamento do câncer de próstata pode ser curativo ou paliativo. O tratamento paliativo abrange técnicas para evitar a proliferação do câncer, como o bloqueio androgênico, enquanto o tratamento curativo envolve a prostatectomia radical e a radioterapia. Em ambas as opções de tratamento, o médico precisa usar o bom senso para considerar qual abordagem se adequará melhor ao seu paciente (Ferreira & Nardi, 1999). No momento de eleger qual o tratamento do câncer de próstata, o paciente tem forte tendência a consultar mais de um especialista, o que é considerado aceitável e, inclusive, estimulado pelos profissionais de saúde. Descrevo, abaixo, as principais opções de tratamento do câncer de próstata para que, na discussão das entrevistas, as falas dos participantes da pesquisa possam ser mais bem compreendidas: • Radioterapia: geralmente, é indicada nos casos de tumores localizados e nos avançados. A radioterapia é uma terapêutica local, de aplicação delimitada e específica. “Porém, os tecidos vizinhos podem ser comprometidos e os pacientes podem apresentar sintomas colaterais devido ao comprometimento de órgãos situados no trajeto da radiação” (Yamaguchi, 1994, p. 26). Estudos mostram que o tratamento apenas com radioterapia apresenta uma alta recidiva da doença (Ferreira & Nardi, 1999). Entretanto, Denis et al. (2006) consideram que a radioterapia por feixe externo (uma das formas de aplicação), assim como a braquiterapia (sementes radioativas são implantadas na próstata), são alternativas válidas à cirurgia. As sessões são subdivididas de acordo com a dose total desejada; 31 • Bloqueio Androgênico: é o tratamento padrão para o câncer de próstata metastático. Tem como finalidade bloquear os andrógenos (hormônios masculinos) provenientes dos testículos e das glândulas adrenais, suprimindo as células tumorais prostáticas hormônio-sensíveis. Geralmente, é feito através de vacinas aplicadas periodicamente. Há dois tipos diferentes de antiandrogênicos: esteroidais e não-esteroidais. Apenas os antiandrogênicos não-esteroidais estão aprovados para uso no tratamento do câncer de próstata, nos EUA, neste momento (Damião et al., 2006; Oncoguia, 2008); • Prostatectomia Radical: é a ablação, ou seja, a retirada total da próstata, das vesículas seminais e dos linfonodos peri-prostáticos. O tratamento é indicado quando o câncer não saiu dos limites da glândula (Mariano, 2002). Pode provocar algumas complicações, como a disfunção erétil6, a estenose uretral7 e a incontinência urinária. Pode ser feita por via abdominal (retropúbica) através de uma incisão abaixo do umbigo, perineal ou laparoscópica (Ferreira & Nardi, 1999; Zerbib & Perez, 2003; Blum & Picus, 2004). Para Blum e Picus (2004), a prostatectomia radical laparoscópica “é a técnica de ressecção mais comum atualmente e possibilita o emprego de técnicas de preservação dos nervos, o que aumenta a probabilidade de preservar a potência, bem como a continência total” (p. 447-448). Neste caso, a disfunção sexual e a incontinência urinária ocorrem em menor incidência. Após o procedimento cirúrgico, deve-se realizar o acompanhamento periódico, que inclui a dosagem do nível de PSA e o TR, a cada 3 meses, no primeiro ano; a cada 6 meses, no segundo ano, e, anualmente, a partir do terceiro ano. O resultado do PSA pós prostatectomia radical é importante indicativo da necessidade, ou não, de tratamentos complementares, quando ainda persistem células prostáticas no organismo. 6 7 Dificuldade de produzir ou de manter ereção. Retração da sutura entre a bexiga e a uretra. 32 2.2 Complicações da Prostatectomia Radical Como a prostatectomia radical é a opção mais eleita de tratamento do câncer de próstata e devido ao paciente prostatectomizado chegar ao meu consultório com maior freqüência para tratar da disfunção urinária, pretendo discutir, principalmente, as complicações que mais comumente ocorrem após o tratamento cirúrgico, não deixando de discutir as outras, tais como a disfunção erétil e a estenose uretral. 2.2.1 Disfunção erétil A disfunção erétil (DE), definida como a “incapacidade do homem de conseguir e manter a ereção do pênis de modo suficiente a permitir uma relação sexual satisfatória” (Kaiser, 1998, p. 44), passou a ser assim denominada, pois, anteriormente, era conhecida como impotência sexual, tendo em vista que o termo “impotência” pode levar à diminuição da auto-estima masculina, fazendo o homem crer que não é capaz de realizar atividades da sua rotina diária ao estender tal sentimento a outras atividades e funções. Assim, seu uso passou a ser evitado. A ocorrência da disfunção erétil é considerada significativa após a prostatectomia radical, como afirmam Blum e Picus (2004): a impotência ainda é um problema importante, e a taxa de impotência total aumenta com a doença e a idade avançada. Estima-se que 50% dos homens que são completamente potentes antes da cirurgia reterão a potência após o procedimento, mas as ereções podem não apresentar a mesma qualidade (p. 454). Para obter uma ereção adequada, deve haver integridade do funcionamento de nervos, artérias e veias (Ellsworth et al., 2003). A disfunção erétil atinge, geralmente, homens com idade acima de 65 anos. Portanto, a idade é um fator 33 determinante desta complicação. Conforme Zerbib e Perez (2003), pode ocorrer das seguintes formas: • disfunção sexual total, com ausência de ereção até um ano após a intervenção (atinge cerca de 1/3 dos casos); • intumescência do pênis, mas sem rigidez suficiente para permitir uma relação sexual com penetração (atinge outros 1/3 dos casos); • ereção insuficiente para manter relações sexuais com penetração (os 1/3 restante dos casos). A incidência da DE após a prostatectomia radical varia de 16% a 82% (Ellsworth et al., 2003). Srougi (2003) afirma que a DE ocorre em 50% dos pacientes operados, entre 55 e 65 anos. A DE pode ser revertida com medidas clínicas ou cirúrgicas. Os médicos urologistas, na maioria das vezes, recomendam ao paciente prostatectomizado o retorno espontâneo às atividades sexuais após cirurgia, podendo, em alguns casos, fazer uso de medicação oral ou de injeções penianas intracavernosas, para, em seguida, retornar às ereções espontâneas. Outras opções de tratamento são os aparelhos a vácuo e as próteses penianas. Estas últimas, normalmente, são evitadas pelos pacientes por exigir um novo procedimento cirúrgico e, também, por implicar em um alto investimento financeiro. 2.2.2 Estenose uretral É a retração da sutura entre a bexiga e a uretra, levando a uma redução da força do jato da micção, o que dificulta o esvaziamento da bexiga. Por apresentar tal característica, é de fundamental importância observar a qualidade do jato urinário e, em caso de alteração, relatar ao urologista. Ocorre em 5% dos casos. 34 Seu tratamento requer uma nova intervenção, por via endoscópica, para desobstruir a passagem da urina pela uretra (Zerbib & Perez, 2003). Em alguns casos, estas novas intervenções podem agravar a recuperação da musculatura lisa, que está em fase de cicatrização pós-operatória. 2.2.3 Incontinência urinária Para a Sociedade Internacional de Continência (ICS) (1992), “a incontinência urinária é uma condição na qual a perda involuntária de urina constitui um problema social ou de higiene, e pode ser objetivamente demonstrada” (Grosse & Sengler, 2002, p. 1). Porém, como afirmam Pereira et al. (2006), tal problema é sub-reportado. Tal complicação é a que mais ocorre após a prostatectomia radical. Durante o procedimento, pode ocorrer a remoção parcial dos esfíncteres de musculatura lisa, localizada em volta da uretra (figura 2), situada, exatamente, na área de incisão cirúrgica. Bexiga Músculos do Assoalho Pélvico Figura 2 Anatomia Pélvica Masculina: Localização da Próstata e dos Músculos do Assoalho Pélvico (Netter, 2008, p. 361). 35 A incontinência urinária é a complicação principal da prostatectomia radical. Considerando a modernização dos procedimentos cirúrgicos, tal complicação foi reduzida para 2% a 4% dos casos de incontinência ortostática8 grave que persistem por mais de seis meses após a cirurgia (Zerbib & Perez, 2003). Entretanto, outras taxas foram encontradas por Blum e Picus (2004): “estimou-se que 8% dos homens terão incontinência urinária de estresse (ou aos esforços) após a cirurgia (...). Mas, infelizmente, outros estudos, mostram taxas de complicações maiores” (p. 454). Grosse e Sengler (2002) apontam taxas de 3 a 26% de incontinência urinária após a prostatectomia radical. Após um ano, a taxa é de 3,6 a 6% para as incontinências importantes, e de 10% para as incontinências ocasionais. Percebe-se, portanto, uma variação de resultados muito grande, fazendo-se necessários, ainda, estudos mais aprofundados sobre a incidência deste sintoma como conseqüência da retirada total da próstata. A queixa principal de incontinência urinária nos homens prostatectomizados ocorre, mais freqüentemente, em relação aos esforços, como, por exemplo, nas mudanças de posição, passar da posição sentada para em pé. Outra queixa comum de perda urinária se refere a outros tipos de esforços, como a tosse, o espirro e ao pegar objetos pesados. Tal incontinência é classificada como incontinência urinária de esforço (IUE) (Grosse & Sengler, 2002, Zerbib & Perez, 2003). Diante das queixas dos pacientes, algumas estratégias são adotadas, visando à diminuição da perda de urina durante os pequenos e os médios esforços, já que os grandes esforços são evitados durante o período de convalescência da cirurgia. Em alguns casos de incontinência urinária pósprostatectomia, é indicado o tratamento conservador, como é chamada a fisioterapia, já que não realiza recursos invasivos como os cirúrgicos, e o qual é realizado com o intuito de fortalecer os esfíncteres urinários de musculatura estriada (esfíncteres inferiores) e sua atuação junto aos esfíncteres de 8 Ocorre perda de urina, principalmente, quando o paciente se encontra em pé. 36 musculatura lisa (esfíncteres superiores), que foram parcialmente comprometidos durante a cirurgia de retirada da próstata, já que têm sua localização na conexão entre a bexiga e a uretra, ou seja, bem próxima à próstata (Grosse & Sengler, 2002). Desde 1948, Arnold Kegel, o primeiro a se dedicar e a desenvolver pesquisas sobre o tema, deu o primeiro passo para o futuro reconhecimento de tal especialidade. Sendo assim, a seguir, descreverei, de forma sucinta, os recursos técnicos utilizados na fisioterapia do assoalho pélvico. 2.3 A Fisioterapia do Assoalho Pélvico Pós-Prostatectomia Radical 2.3.1 Objetivos da fisioterapia do assoalho pélvico Na fisioterapia do assoalho pélvico, algumas técnicas são utilizadas com a finalidade de reeducar o controle urinário. Cada paciente tem uma maneira própria de lidar com sua doença e, conseqüentemente, com seu tratamento. É neste sentido que os pacientes que desenvolvem processos depressivos por conta da doença se mostram desestimulados com relação às suas atividades diárias. Em contrapartida, a criação de novos significados para suas vidas faz parte dos aspectos psicológicos que colaboram para o envelhecimento com bem-estar e satisfação (Goldenstein & Neri, 1993; Néri, 1993). Os pacientes, mais desestimulados com a possibilidade de cura usam as complicações cirúrgicas como pretexto para se assumir como vítimas, mesmo sendo esclarecidos de que as suas disfunções urinárias e sexuais são temporárias. O resultado da fisioterapia depende muito da dedicação e da motivação do paciente, pois ele deve realizar os exercícios no consultório, junto ao profissional, e, também, em casa, diariamente. Em alguns casos, principalmente quando se encontra com sintomas depressivos, faz-se necessário o seu encaminhamento 37 psiquiátrico ou psicológico. Alguns conseguem suprir suas angústias e medos com a família e outros com o trabalho. Mas por que o médico especialista, ainda, não adota, em sua rotina, a preocupação com a subjetvidade masculina durante o enfrentamento do câncer de próstata? Esta é uma questão que merece especial atenção, pois, há, ainda, grande dificuldade de abordar assuntos relativos à subjetividade do paciente, por parte dos médicos. Segundo Ellsworth et al. (2003), a incontinência urinária “pode levar à ansiedade, ao desespero e à perda do autocontrole e da auto-estima (...) Pode limitar as atividades sociais e a participação no sexo” (p. 163). Portanto, os objetivos da fisioterapia no tratamento da incontinência urinária, segundo Tata, (2000) e Moreno (2004a) são: conscientização da contração e isolamento dos músculos agonistas e antagonistas (músculos do assoalho pélvico e abdominais e glúteos e adutores de quadril, respectivamente); melhora da coordenação, da força e da capacidade de manutenção da contração dos músculos do assoalho pélvico (MAPs); aumento da superfície de corte transversal dos MAPs, promovendo hipertrofia muscular; aumento da capacidade de contrair os MAPs, principalmente nas mudanças súbitas de pressão intra-abdominal (tosse, espirro e esforços em geral); facilitação da inibição do músculo detrusor, em casos de bexiga hiperativa (pacientes com aumento da freqüência urinária). Os exercícios do assoalho pélvico são capazes de melhorar ou, até mesmo, de curar a incontinência urinária. Ao praticar exercícios localizados em um grupo muscular específico, são realizados treinos de conscientização de cada fibra componente desse grupo. No caso do assoalho pélvico, é promovida a hipertrofia muscular, ou seja, o aumento do volume das fibras musculares, exercitando as 38 fibras tônicas, que representam 70% da musculatura do assoalho pélvico. Conforme o paciente melhora seu controle voluntário de urina, ele passa a recuperar, também, sua auto-estima, passando, inclusive, a se relacionar socialmente melhor com os outros (Tata, 2000). A fisioterapia do assoalho pélvico do paciente idoso deve ser considerada um desafio, como argumenta Cott (2000): é tarefa desafiadora ter de definir as metas da fisioterapia para as pessoas da terceira idade. O fisioterapeuta precisa dispor de uma ampla base de conhecimentos acerca dos efeitos que a velhice, a doença e o ambiente exercem sobre a capacidade motora das pessoas idosas. Ele precisa desenvolver sua capacidade para resolver os problemas de forma criativa, a fim de poder enfrentar os problemas complicados que encontra, sobretudo nas pessoas debilitadas da terceira idade (p. 195). Apesar de a pessoa da terceira idade apresentar o mesmo potencial de resposta de controle voluntário dos músculos do assoalho pélvico, sua resposta é mais lenta do que a de um indivíduo jovem. Assim, embora ocorra mudança na quantidade e na qualidade das fibras musculares que formam os esfíncteres urinários, a reabilitação das suas funções ocorre de forma lenta, porém gradativa. 2.3.2 A terapêutica fisioterápica da incontinência urinária pós- prostatectomia radical A fisioterapia do assoalho pélvico passou a ser mais uma opção terapêutica conservadora para tratar as disfunções pélvicas, como a incontinência urinária. Ela recebe a denominação de conservadora por adotar procedimentos considerados não invasivos (comparados à cirurgia, por exemplo), que são indicados como primeira opção do tratamento, quando não há indicação cirúrgica para a doença. As suas técnicas são, cada vez mais, modernizadas, contando, inclusive, com equipamentos computadorizados, que auxiliam a reabilitar ou a prevenir as 39 disfunções do assoalho pélvico, ajudando o paciente a conhecer melhor seu corpo, bem como reeducando seu controle sobre ele (Moreno, 2004b). Pretendo, a seguir, descrever as técnicas mais utilizadas na reabilitação da disfunção urinária após a prostatectomia radical. Tais técnicas são utilizadas pelo fisioterapeuta com a intenção de minimizar ou de curar os sintomas de perda urinária, bem como de acelerar o processo de recuperação da continência urinária após a retirada total da próstata. 2.3.2.1 “Biofeedback” A técnica surgiu quando o Dr. Arnold Kegel, médico ginecologista, em 1948, montou um equipamento, fazendo uso de um manômetro e de uma sonda inflável, que denominou de perineômetro: “biofeedback é um equipamento usado para mensurar efeitos fisiológicos internos ou condições físicas das quais o indivíduo não tem conhecimento” (Moreno, 2004b, p. 133). Os equipamentos existentes, hoje, no mercado, são de duas modalidades: o “biofeedback” de pressão, que quantifica a contração muscular em milímetros de mercúrio (mmHg), e o “biofeedback” eletromiográfico de superfície (sEMG), que mede a atividade elétrica gerada pela contração muscular, levando a um potencial de ação das fibras musculares e gerando um registro visual e/ou auditivo. Ambos têm a finalidade de guiar os exercícios dos músculos do assoalho pélvico, bem como de maximizar a contração muscular (Grosse & Sengler, 1998; Moreno, 2004a; Stephenson & O’Connor, 2004). O grande diferencial entre as modalidades é que, no “biofeedback” eletomiográfico, pode-se monitorar a musculatura abdominal, que, neste caso, é considerada musculatura sinérgica ou acessória. Como o principal objetivo da técnica é monitorar os músculos do assoalho pélvico (figura 3) para promover contrações localizadas e para que tais músculos 40 possam melhor exercer sua função no controle urinário, busca-se orientar o paciente sobre a importância de se dissociar tais músculos. Ao observar a resposta muscular de suas contrações, visualizada nos gráficos, o paciente passa a ter melhor controle sobre as contrações dos músculos do assoalho pélvico e do abdome, com a prática repetida dos exercícios monitorados. Uretra Músculos do Assoalho Pélvico Ânus Figura 3. Anatomia Pélvica Masculina: Músculos do Assoalho Pélvico (Netter, 2008, p. 359). Alguns cuidados quanto ao uso do “biofeedback” devem ser considerados, como por exemplo: durante a avaliação, deve-se dar especial atenção ao tempo de contração, bem como ao tempo de repouso muscular, e os exercícios devem ser realizados em diferentes posturas (deitado, sentado e em pé) (Moreno, 2004a). O próprio paciente introduz um eletrodo anal, que é responsável pelo monitoramento dos músculos estriados do assoalho pélvico, durante os exercícios realizados por ele, e observa a formação dos gráficos através do monitor do computador, cuja leitura é quantificada em microvolts. São feitos exercícios para as fibras de contração rápida (fásicas) e as fibras de contração lenta (tônicas), ou seja, respectivamente, exercícios de contração rápida, com sustentação de 1 a 2 segundos, e contrações sustentadas e repousos de 10 segundos, com a finalidade 41 de reforçar o mecanismo esfincteriano, promovendo uma hipertrofia, um aumento do volume das fibras tônicas, bem como da velocidade e da força de contração das fibras fásicas, ambas com a finalidade de proporcionar maior controle urinário. 2.3.2.2 Eletroestimulação Moreno, Rotta e Castro (2004) afirmam que a eletroestimulação do assoalho pélvico é capaz de aumentar a pressão intra-uretral, pois estimula, diretamente, os nervos eferentes da musculatura peri-uretral e aumenta o fluxo sanguíneo, restabelecendo as conexões neuromusculares, intensificando as funções das fibras musculares e gerando hipertrofia e aumento de fibras fásicas (rápidas). O estudo urodinâmico, exame realizado por urologistas com a finalidade de investigar o comportamento da bexiga, em sua fase de enchimento e de esvaziamento, permitiu que a eletroestimulação se transformasse numa técnica eficaz, pois o exame consegue objetivar e quantificar a sua ação, realizando comparações de antes e de após a fisioterapia (Grosse & Sengler, 2002). Geralmente, os parâmetros para a aplicação da eletroestimulação são a freqüência de 10 Hz e uma largura de pulso de 0,2 a 0,5 ms, nos casos de inibição do músculo detrusor (em casos de bexiga hiperativa), e de 50 Hz e uma largura de pulso de 0,2 a 0,5 ms, nos casos de fortalecimento dos músculos do assoalho pélvico (figura 3). É importante destacar que a eletroestimulação, ou estimulação elétrica funcional, realiza a estimulação do nervo responsável pela inervação da região perineal, denominada de nervo pudendo, e, em resposta a tal estimulação elétrica, ocorre a contração muscular dos músculos periuretrais e perianais (Grosse & Sengler, 1998; Moreno et al., 2004). Nesta técnica, por meio da emissão de impulsos elétricos através do eletrodo anal, é aplicado um programa de fortalecimento das fibras musculares do assoalho pélvico. A freqüência de 50 Hz é a mais utilizada com os pacientes que apresentam perda de urina involuntária, principalmente nos esforços, como nas tosses, nos espirros e nas mudanças de decúbito. Outro programa utilizado é o de inibição do músculo 42 detrusor, com freqüência de 10 Hz, nos casos de pacientes que apresentam sintomas de hiperatividade vesical (síndrome que apresenta aumento do número de micções) (Grosse & Sengler, 2002). Orientações à prática de exercícios domiciliares são realizadas com o intuito de melhorar o desempenho da atividade muscular, a ser efetivada nos dias nos quais o paciente não faz tratamento fisioterápico no consultório. Portanto, o fortalecimento dessa musculatura está diretamente relacionado ao controle urinário, pois ela se localiza ao redor da uretra e do ânus. É durante a aplicação da eletroestimulação, na qual os pacientes permanecem passivos, que muitos deles aproveitam para esclarecer dúvidas sobre o tratamento e para falar um pouco de si mesmos. Nestes momentos, conversas costumam ocorrer espontaneamente, em meu consultório, sobre diversos assuntos, desde cultura, política e família até suas conquistas e derrotas, bem como seus anseios e, especialmente, suas aflições sobre a fase da vida em que estão e o enfrentamento da doença. A partir dos primeiros sinais de melhora da incontinência urinária, o paciente passa a se preocupar, mais intensamente, com outro “fantasma”: a disfunção erétil. Muitos pacientes já apresentavam dificuldade de manter a ereção antes da cirurgia e, é claro, sua dificuldade pode se agravar, após a cirurgia. Os pacientes sempre são orientados para que tenham paciência, pois, para voltar a ter relações sexuais satisfatórias com suas parceiras, é importante, primeiramente, recuperar o controle urinário, pois sua auto-estima fica muito abalada com a perda involuntária de urina, o que pode comprometer ainda mais a função sexual. Nesta fase, será preciso utilizar alguns recursos para o retorno às práticas sexuais. Geralmente, nas disfunções sexuais, é indicado o uso de medicamentos que facilitem a ereção, prescritos pelo médico urologista, não descartando o acompanhamento de um psicólogo ou de um sexólogo, pois o urologista trata das complicações físicas da disfunção erétil, enquanto o psicólogo ou o sexólogo trata das complicações psicológicas, como a insegurança e a baixa auto-estima. 43 As sessões de fisioterapia duram, aproximadamente, uma hora, e são realizadas duas a três vezes por semana, em dias alternados, durante um período de dois meses, em média. Após o tratamento, o paciente continua a prática dos exercícios em casa e retorna para uma reavaliação fisioterápica, depois de três meses. Porém, na maioria dos casos, os pacientes se referem ao desaparecimento completo do sintoma de perda urinária nesse período, permanecendo apenas com o retorno periódico ao urologista. Destaco que a fisioterapia não apenas leva em consideração a limitação física, mas, também, oferece apoio emocional aos pacientes, durante o tratamento pós-prostatectomia, pois o fisioterapeuta mantém contato de longa duração com o paciente. Eu, por exemplo, realizo 20 sessões de fisioterapia no paciente prostatectomizado, com queixas urinárias, o que representa, aproximadamente, 20 horas de convívio. Portanto, enfatizo a relevância do papel do fisioterapeuta como suporte emocional dos seus pacientes, nesta fase do tratamento. 2.3.2.3 Cinesioterapia Como afirma Moreno (2004a), os exercícios do assoalho pélvico ficaram conhecidos como “exercícios de Kegel”, pois tal ginecologista deu-lhe um grande incentivo científico. Entretanto, somente em 1992, a Sociedade Internacional de Continência (ICS) validou as técnicas de reabilitação do assoalho pélvico (Moreno, 2004a). A cinesioterapia não tem contra-indicações e pode ser realizada pelo paciente, em domicílio, após ter adquirido conscientização da contração da musculatura pélvica, o que, geralmente, é conseguido, no consultório ou no ambulatório de fisioterapia, durante sessões iniciais, que variam de uma a três vezes por semana. É importante ressaltar que, gradativamente, a posição dos exercícios é modificada, iniciando-se na posição deitada, tendo como objetivo finalizar as sessões com o treino na posição de pé. Para Pereira et al. (2006), 44 os exercícios terapêuticos para a melhora da coordenação, força e resistência (endurance)9 da musculatura do assoalho pélvico, os exercícios de Kegel, bem como a eletroestimulação elétrica e o uso do biofeedback, têm apresentado resultados significativos (p. 1208). Os exercícios associados a outros recursos fisioterápicos aceleram o fortalecimento da musculatura pélvica, modificando os sintomas com maior brevidade. 2.3.2.4 Terapia comportamental O tratamento comportamental é uma associação de técnicas cuja base é a idéia de que pacientes com incontinência urinária podem ser educados sobre sua patologia e desenvolver estratégias para minimizá-la ou eliminá-la (Moreno & Souza, 2004). Para adotar medidas comportamentais, faz-se imprescindível conhecer a rotina do paciente, investigando, minuciosamente, seus hábitos alimentares e suas atividades físicas, inclusive seus hábitos de micção e defecação, para, em seguida, poder utilizar a terapia comportamental adequadamente. Para tanto, utiliza-se o diário miccional, ou seja, anotações de suas micções em um período de um a três dias. Tal registro inclui o horário de cada micção diurna e noturna e a sua magnitude, bem como as ocorrências de perda de urina (Grosse & Sengler, 1998). As orientações comportamentais dependem dos sintomas apresentados, mas, geralmente, são sugeridos: o esvaziamento pontual, em horários pré-determinados para cada micção e a diminuição de alimentos irritativos da bexiga, como a cafeína e os condimentos (por exemplo, a pimenta), em especial quando o paciente apresenta sintomas de hiperatividade, na qual o paciente apresenta a capacidade de armazenamento reduzida, com intervalos de uma micção para outra bastante diminuídos. 9 Capacidade da musculatura para manter uma contração prolongada, em média por 10 segundos. 45 CAPÍTULO 3 - O SUJEITO QUE ADOECE 3.1 A Subjetividade do Doente Para melhor compreender o sujeito que adoece, é preciso discutir como ele significa sua saúde e sua doença. Segundo González-Rey (2004), a subjetividade representa um sistema aberto, pluridimensional, complexo e em constante desenvolvimento, que define sua qualidade por meio de uma multiplicidade diferenciada de configurações, as quais não se repetem em cada sujeito ou instância social concreta que a constitui (p. 119). Hoje, a concepção biopsicossocial predomina no estudo do ser humano, não sendo mais possível separar corpo e mente. Para Gonzalez-Rey (2005) “a questão do corpo está estreitamente relacionada à recuperação da emoção como tema essencial na construção da subjetividade...” (p. 26). A partir de tal concepção que integra corpo e mente, surgiu a psicossomática, que é considerada filosofia e ciência, pois define o ser humano como seu objeto de estudo, investigando “os mecanismos de interação entre as dimensões mental e corporal da pessoa” (Riechelmann, 2002). De que forma o individuo significa a sua doença? Como o sintoma surge com manifestações físicas e psíquicas? São estas algumas das indagações da psicossomática (Ávila, 2002). Desta forma, fatores relacionados ao corpo-mente não podem ser pensados separadamente; ao contrário, deve ser enfatizada a íntima relação do corpo, da mente, do ambiente e, conseqüentemente, da sociedade, que articula todos esses elementos da investigação psicossomática. É por basear-se na relação corpo-mente que surgiu a perspectiva da interdisciplinaridade, na qual profissionais de diferentes especialidades passaram a atuar no tratamento do câncer, como os da medicina, da psicologia, da enfermagem e da fisioterapia, todos buscando fazer o paciente retornar, o mais rápido possível, às atividades desenvolvidas anteriormente à 46 doença, tais como as suas atividades profissionais, físicas e intelectuais. O mais significativo desta nova concepção interdisciplinar ou transdisciplinar é a integração entre as áreas da saúde, ou melhor, entre os profissionais, tendo o paciente como foco de suas condutas. Quando se trabalha de forma multidisciplinar, cada profissional exerce de forma integral, seu papel como especialista da oncologia, enquanto, na interdisciplinaridade, se faz necessário que, não apenas tais profissionais se envolvam com os pacientes, mas que desenvolvam uma relação com os demais profissionais, com a finalidade de somar forças e de alcançar a excelência em seus serviços, e, conseqüentemente, na evolução do paciente. González-Rey (2004) considera que as relações do homem com o meio social se expressam no psiquismo através das suas emoções e concepções. O contexto social age, constantemente, sobre o paciente, quer seja na sua saúde, quer seja na sua doença. Afirma que “a qualidade das emoções e sua significação, para o desenvolvimento humano, são um grande desafio para a construção do conhecimento psicológico” (p. 85). Baseio-me nesta concepção para buscar compreender o significado que os homens investigados atribuem ao seu adoecimento, bem como qual a percepção que têm de seus sentimentos, durante tal fase de suas vidas. Compreender a subjetividade do sujeito que adoece é compreender o que ele fala, pois sua fala pode dizer muito do que ele sente. Amatuzzi (2008) afirma que “o homem não é um ‘bicho’ que fala, mas ele é a própria palavra” (p. 9). Para tratar do ser humano, “a consideração do sentido é fundamental” (p. 10). Assim, “fazemos de nossa ignorância nossa virtude e nos lançamos à procura de um deciframento do universo que é a própria procura de nossa significação” (Ávila, 2002, p. 16). Entendo que compreender o ser humano representa entendê-lo, na saúde e na doença. Portanto, a questão que investigo é a percepção que o homem prostatectomizado tem da sua doença e de seu tratamento, discutindo como ele atribui significados diversos à sua própria experiência vivida. 47 3.1.1 O adoecer e o envelhecimento Adoecer é um evento complexo e com variáveis implicações, que podem ir desde a relação do paciente com o próprio corpo, bem como, também, às suas mudanças comportamentais (Lopes, 2005). Como considera Neri (1993), as doenças podem gerar diferentes graus de ansiedade, dependendo da história pessoal, do suporte afetivo, do nível social e dos valores individuais do doente. No câncer, tais reações, também, podem ocorrer, pois, segundo Deshields (2004), “à medida que o tratamento do câncer avançou, as taxas de sobrevida elevaramse, levando a uma maior atenção sobre a qualidade de vida, que engloba um conjunto de questões que são maciçamente influenciadas por fatores psicossociais” (p. 594). Sendo assim, a interação entre corpo e mente deve ser considerada no tratamento do câncer, independentemente de sua localização. Conseqüentemente, as terapias psicológicas devem ser uma opção de tratamento para auxiliar o paciente na superação da doença e no seu respectivo tratamento. Ávila (2002) afirma que “o sujeito tem o seu corpo, e, mais que isso, ele é o seu corpo” (p. 10). Ao adoecer, seu corpo não pode ser separado de sua mente, ou seja, seu psiquismo está envolvido no processo do adoecimento, já que o homem engloba diversas dimensões: física, social, mental e emocional. A doença, na concepção psicossomática: trata-se de processos e mecanismos que afetam o corpo, perturbando suas funções e acarretando transformações que colocam em risco seja uma área ou função localizada do organismo, seja ele todo, quando pode estar comprometida sua sobrevivência (p. 23). Desta forma, Ávila propõe que “o homem é um ser total, corpo e mente indissolúveis” (p. 36), mas, para ser integral ou pleno, é preciso que sua mente esteja em exercício. Quando se trata de um paciente com câncer de próstata, as decisões acerca do tratamento, geralmente, são tomadas em um breve espaço de tempo, não tendo ele muita opção de escolha diante do seu quadro, o que não o 48 impede de tentar negar que seu corpo adoeceu e que, agora, seu corpo-mente reage a tal evento. Sobre este momento, alguns investigadores remetem ao estresse de adaptação, por meio do qual o organismo inicia uma resposta de defesa, reagindo ao processo da doença (Angerami - Camon, 2002; Ávila, 2002). Cada doente reage de forma individual ao adoecimento, pois fatores internos e externos contribuem para sua resposta adaptativa. Papaléo Netto (2006) afirma que, para compreender a saúde, deve-se considerar “a complexa inter-relação entre aspectos físicos, funcionais e psicológicos da saúde e da doença, além das considerações sócio-econômicas e fatores ambientais” (p. 11). Conforme Néri (1993), os próprios idosos diferenciam os principais agentes estressores em quatro categorias: 1. problemas de saúde; 2. questões sociais; 3. problemas familiares; 4. problemas de amigos e de vizinhos e a necessidade de ajudá-los. Endosso tal percepção, pois tenho ouvido o mesmo registro de meus pacientes com relação aos agentes estressores. Tais problemas geram sofrimento psíquico, e, conseqüentemente, grande estresse. Os idosos saudáveis conseguem se adaptar com mais facilidade às situações de estresse, mas, quando são acometidos de doenças, elas passam a desencadear problemas que afetam todas as dimensões do indivíduo. Como mostra a classificação de agentes estressores referida acima, primeiro, são citadas as doenças; em seguida, as questões sociais, que são muito valorizadas pelas pessoas da terceira idade, sendo uma das principais formas de ocupação de seu tempo nessa fase da vida, quer ocorram em sua comunidade, por meio de atividades voluntárias, quer em outras atividades em grupo; outros fatores desencadeadores de estresse nos idosos são os problemas familiares, que podem atingi-los de diversas maneiras, gerando angústia por não poderem solucionar o problema ou por perceber um ente querido enfrentando 49 alguma dificuldade; por último, são citados como agentes estressores os problemas dos amigos e dos vizinhos, pessoas do seu convívio diário, às vezes, bem mais freqüente do que com seus filhos, genros, noras e netos. Em seu estudo, Néri pôde observar que os problemas de saúde superam os demais. Contudo, é relevante destacar que, mesmo sob a influência de agentes estressores importantes, o idoso ainda se envolve com problemas sociais dos grupos mais próximos de sua convivência diária, como os amigos e os vizinhos. Seguindo a mesma linha de pensamento, Goldfarb (1998) afirma que as limitações corporais e a consciência da ação do tempo são temas essenciais, quando se trata do enfrentamento da dor e das emoções no envelhecimento: quando um acontecimento ligado à dor ou emoção irrompe em uma história singular, a construção que o sujeito fará dessa ocorrência dependerá não só da conexão particular entre seu corpo e sua psique, mas também da resposta que sua dor ou emoção gere no outro. Emoção e dor vão formando sucessivas representações do corpo, que se articularão com as motivações inconscientes, e juntas decidirão sobre a eleição da causa à qual o sujeito vai atribuir o sentido histórico dos acontecimentos de sua vida. A identidade de um sujeito será então esta história que ele mesmo escreve, na qual fala de seu corpo. A história do sujeito é a história das marcas relacionais de dor e emoção em seu corpo; esta é sua identidade (p. 44-45). Portanto, na terceira idade, são necessários diversos processos adaptativos para podermos considerá-la bem sucedida. Néri (1993) e Freire (2000) destacam que o processo de adaptação é multidimensional: é emocional por promover habilidades de auto-regulação para lidar com os agentes estressores; é cognitivo por gerar soluções de problemas; e é comportamental por sugerir ações efetivas e competência social. O envelhecimento e a velhice nos remetem à variabilidade e à plasticidade, que são mais solicitadas nesse período da vida que, geralmente, sofre um aumento dos agentes estressores. É na velhice que a capacidade de adaptação às mudanças da vida é mais exigida, como destaca Zimerman (2000): “é preciso 50 ter coragem para enfrentar a terceira idade, para superar as perdas, continuar amando e tendo prazeres na vida” (p. 32). Cada indivíduo reage à velhice de forma diferente, pois a sua plasticidade é extremamente variável:conforme sua história de vida e sua personalidade, cada sujeito pode ter diferentes respostas ao mesmo agente estressor. Entretanto, não podemos deduzir que, por serem pessoas experientes e com uma “bagagem” importante de experiências, elas não possam se mostrar frágeis em determinadas situações, como no caso de uma doença. Como afirma Néri (1993), “a plasticidade comportamental ou adaptatividade é o critério para avaliar o potencial e o grau de preparação do indivíduo para lidar com vários tipos de demandas” (p. 28). Compartilhando da mesma concepção, Freire (2000) afirma que “há evidências de que as pessoas mais velhas tornam-se mais eficazes nos usos de processos adaptativos” (p. 27). Carvalho (1994) considera que os pacientes acompanhados por ela demonstraram que, após o tratamento do câncer, reformularam suas vidas. Pondera que a doença pode ser um importante determinante para uma maior integração do indivíduo e afirma que “o sistema imunológico é fortemente afetado pelos sentimentos e que determinados tipos de atitude psicológica podem influenciar positivamente nosso sistema de defesa” (p. 279). Compreende, desta forma, o equilíbrio psicológico do paciente em tratamento de câncer como um referencial de cura, dependendo do acompanhamento que ele recebe, tanto por parte da família quanto dos amigos ou dos profissionais. Destaco a condição psicológica do paciente como um instrumento de fundamental importância na sua recuperação e no tratamento das suas funções comprometidas, pelo processo de envelhecimento ou por patologias a ele associadas. Néri (2006) considera que diversas condições estão relacionadas à qualidade de vida na velhice. No modelo de qualidade de vida de Lawton (figura 3), percebe-se claramente a integração entre o bem-estar psicológico da pessoa idosa com os demais aspectos envolvidos na sua percepção da qualidade de vida, na sua competência comportamental e nas condições ambientais. O modelo de Lawton explica objetivamente tal integração entre os diversos aspectos envolvidos 51 na construção da qualidade de vida na terceira idade: Bem-estar psicológico Qualidade de Vida percebida Competência comportamental Condições ambientais Figura 4. Modelo de qualidade de vida na velhice, de Lawton (Néri, 2006, p. 60). O bem-estar psicológico na velhice está relacionado, por exemplo, aos sentimentos positivos que os idosos desenvolvem acerca da sua vida, ao seu interesse em aprender habilidades novas, à sua capacidade de concentração e, até mesmo, à sua imagem corporal. As condições ambientais estão relacionadas ao conforto do lar, à sua segurança, aos recursos financeiros e ao tipo de transporte utilizado. Para a obtenção da qualidade de vida ou um envelhecimento bem sucedido, o bem-estar psicológico deve ser construído pelo próprio indivíduo, em conjunto com tais aspectos anteriormente citados. O bem-estar psicológico está intimamente ligado à qualidade de vida percebida pelo próprio indivíduo, como ele percebe suas metas significativas de vida, sua auto-realização, bem como sua competência comportamental, ou seja, a capacidade de se adaptar às diversas situações, em busca de satisfação e de auto-realização, domínios que estão, também, relacionados às condições ambientais, que envolvem os âmbitos familiar, profissional e pessoal. Zimerman (2003) aponta que aprender a conviver com as limitações é o segredo do bem-viver: “as pessoas mais saudáveis e otimistas têm mais 52 condições de se adaptarem às transformações trazidas pelo envelhecimento” (p. 25). Considerando que o processo de envelhecimento envolve mudanças funcionais, emocionais, socioeconômicas e cognitivas, faz-se necessário avaliar a situação multidimensional dos idosos. Ao conhecer como o idoso realiza suas atividades diárias, por exemplo, seus hábitos de vida, podemos saber os cuidados que tem com relação à sua saúde, e, conseqüentemente, à sua vida. Tais cuidados podem ser considerados, inclusive, preventivos. Segundo Elias et al. (2003), viver a velhice constitui-se em atitude complexa, uma vez que inclui um duplo desafio: enfrentar as transformações do processo de envelhecimento, utilizando recursos pessoais e do meio, e buscar e lutar por uma vida com qualidade (p. 69). Sabendo das principais alterações da saúde na terceira idade, práticas preventivas podem ser a melhor opção para favorecer a longevidade. Papaléo Netto (2006) considera que na maioria das pessoas, tais manifestações somáticas e psicossociais começam a se tornar mais evidentes a partir do fim do fim da terceira década de vida (...) muito antes da idade cronológica que demarca socialmente a velhice (p. 10). Aspectos físicos e psicológicos estão prejudicados na senescência, sendo necessária uma nova postura de enfrentamento do processo de envelhecimento, inclusive, com novas condutas de adaptação para saber lidar com seus sinais e sintomas do envelhecimento. Tais alterações, já esperadas, como, por exemplo, as mudanças na sexualidade do idoso, requerem algumas estratégias para seu enfrentamento no intuito de prolongar, por mais alguns anos, a sua atividade sexual, como será discutido a seguir. 53 3.2 A Sexualidade Masculina 3.2.1 A sexualidade masculina na terceira idade Sobre a velhice, Rosita Santos (2006) afirma que “muitas expectativas sobre essa fase da vida são mitos que passam a ser aceitos pelas pessoas e determinam o modo como elas envelhecem (p. 71). Muitas pessoas consideram a terceira idade uma fase da vida na qual não deve haver qualquer atividade sexual, pois não associam o idoso ao prazer. Muitos idosos acreditam que as alterações sexuais que surgem com o passar dos anos devem ser aceitas e se acomodam a elas. Ribeiro Filho (2006) considera que ocorre uma diminuição da atividade sexual com o envelhecimento, o que não significa que haja desinteresse pelo sexo. Zimerman (2000) afirma que a atividade sexual na velhice é desestimulada pela família e pela sociedade: “velho não tem vida sexual - esse mito é mais um desrespeito com que a sociedade trata o velho, e com o qual ele próprio compactua” (p. 43). São muitos os motivos para o idoso se afastar de uma vida sexual ativa: aspectos sociais, físicos e emocionais podem, de forma isolada ou associada, interferir na qualidade de sua vida sexual, mas, quando a pessoa, mesmo de idade avançada, valoriza tal atividade, busca estratégias para minimizar os seus obstáculos. No caso dos homens de terceira idade, o comprometimento sexual mais comum é a disfunção sexual (DS). A DS pode ser definida como “a persistente incapacidade de manter ereção suficiente para uma relação sexual satisfatória” (Ribeiro Filho, 2006, p. 746). Uma outra definição de DS pode ser “a diminuição persistente dos padrões normais de interesse ou resposta sexual” (Hawton, 1997, p. 529) Hoje, a causa mais comum da DS é vascular, mas as interferências neurológicas, hormonais ou medicamentosas podem contribuir para seu surgimento. Um outro fator causador de DS na terceira idade é a cirurgia de 54 retirada da próstata, a prostatectomia radical(Kaiser, 1998). Destaco que a função sexual masculina normal não envolve apenas a capacidade de manter ereção, mas depende da harmônica interação de fatores culturais, sociais e psicológicos. Na terceira idade, é possível manter a vida sexual e considerar o amor e a sexualidade de outras formas, valorizando mais o toque e o olhar, por exemplo (Sueli Santos, 2006). Portanto, a sexualidade pode assumir, na terceira idade, outras formas de expressão, que podem ser vivenciadas com os respectivos parceiros, ou, até mesmo, com a família e os amigos, como declara Ribeiro Filho (2006): “o velho não deixa de amar, mas reinventa formas amorosas” (p. 1303), podendo manifestar sua sexualidade na forma em que se veste ou, até mesmo, como se cuida. Sueli Santos (2006) concorda com tal concepção, afirmando que o sexo e o amor na velhice mudam o caráter explosivo e exuberante da juventude, tomando a forma da ternura, do carinho, do toque sutil, da valorização da sensibilidade dos pequenos gestos, respeitando as diferenças de suas manifestações no homem e na mulher (p. 1303). Portanto, é comum que, na velhice, seja necessária uma reconstrução da sexualidade, já que o sexo adquire outras formas de expressão e a imagem corporal, as relações com os parceiros, bem como o corpo e a mente se modificam, mas não impedindo de vivê-la. Como considera Rosita Santos (2006), “a sexualidade é uma dimensão humana que nos acompanha até a última fase da vida. Portanto, sua vivência é benéfica e saudável em todas as idades, uma vez que propicia prazer e bem-estar” (p. 75). Nesta fase da vida do homem de terceira idade, objeto da atenção deste estudo, as experiências sexuais acumuladas em sua história de vida podem auxiliá-lo nas estratégias de adaptação para driblar a DE. Outro fator que pode ser considerado positivo é o relacionamento com sua parceira, que, em geral, é sua companheira há bastante tempo e com a qual mantém fortes vínculos emocionais. As alterações na função sexual podem se apresentar de diversas maneiras. Cairoli (2003) considera comum um homem idoso apresentar, na esfera sexual: 55 • diminuição gradual do desejo, da resposta erétil e da sensibilidade peniana; • maior tempo para conseguir uma ereção, precisando de maior estímulo físico direto, e com declínio gradual da rigidez; • ereções menos responsivas aos estímulos visuais, psicológicos ou não genitais; • redução da duração do orgasmo, com diminuição da força de contração da musculatura pélvica; • redução da força de emissão e ejaculação, a última com menor período de inevitabilidade; • rápida detumescência pós-orgasmo; • período refratário prolongado. Tais limites podem ser enfrentados com auxílio de um médico especialista, em conjunto com um terapeuta sexual. Muitas são as estratégias existentes, atualmente, como, por exemplo, os medicamentos orais e as próteses penianas insufláveis, e as possibilidades de superar as modificações próprias da idade avançada e de buscar uma vida sexual ativa e prazerosa. 3.2.2 A sexualidade pós-prostatectomia radical Não há muita informação, na literatura especializada, sobre a sexualidade do paciente prostatectomizado, talvez por ser um assunto de difícil abordagem, já que, para muitos, não é fácil expor sua intimidade. Uma das complicações cirúrgicas da prostatectomia radical é a disfunção erétil. Na terceira idade, quando são mais comuns os problemas da próstata, a função erétil pode já se encontrar com alterações. Portanto, nesta fase, faz-se necessário que o homem, dependendo da sua história de vida, ressignifique sua sexualidade, independentemente das suas condições físicas, pois, como considera Sueli 56 Santos (2006), “a sexualidade não está determinada apenas pela constituição biológica, mas é uma construção psicossexual” (p. 1302). Segundo Gianini (2007), a DE pode atingir a essência da masculinidade, o orgulho e o prazer de viver de muitos homens. Os conflitos gerados pela DE, comumente, desencadeiam perda da auto-estima. Além da relação com a(o) parceira(o), há outros aspectos a serem considerados no que se refere à sexualidade do portador de câncer: muitas vezes, a sexualidade humana é considerada apenas uma função sexual, quando, na verdade, se trata de um complexo processo, no qual aspectos biológicos, sociais, culturais e ético-valorativos interatuam e se integram (p. 25). Entretanto, não se pode afirmar que todo paciente prostatectomizado desenvolva disfunção sexual (DS), pois apenas um percentual apresenta queixa importante após a cirurgia, mas, caso ela venha a ocorrer, ele precisa adotar estratégias para enfrentá-la. A DS pode alterar a percepção de sua qualidade de vida, podendo comprometer não apenas sua vida sexual, mas, também, a relacional, inclusive causando repercussão nos demais aspectos de sua vida, como a social. Para o diagnóstico da DS, podem ser realizados alguns exames para identificar a sua causa, tais como o “doppler” peniano, que verifica o estado vascular do pênis através da medição da sua pressão e dos níveis hormonais (testosterona, testosterona biodisponível e hormônio luteinizante), que devem ser dosados. Outro exame é o teste de tumescência peniana noturna, que verifica a função peniana durante o sono, indicado para homens com menos de 50 anos, já que, após essa idade, é mais comum apresentarem comprometimento dessa função (Kaiser, 1998). Lopes (2005) afirma: “os efeitos colaterais do tratamento do câncer afetam não só a auto-imagem, mas também a própria identidade sexual” (p. 35). Por estas razões, é imprescindível, que o paciente converse com seu médico, antes de tomar qualquer decisão de tratar a DS, pois a escolha do tratamento deve ser levada em consideração por ambos. 57 3.3 A Psico-Oncologia no Tratamento do Câncer de Próstata A psico-oncologia investiga o impacto do câncer na subjetividade do paciente, na sua família e nos profissionais que lidam, diariamente com ele, bem como a influência das variáveis psicológicas e comportamentais relacionadas ao seu surgimento e evolução sobre eles (Gimenes et al., 2002). É recente o interesse pelos aspectos psicossociais do câncer. Uma abordagem mais recente ainda é a preocupação com a qualidade de vida do paciente com câncer. A psicooncologia destaca o papel dos aspectos psicossociais tanto na etiologia quanto no desenvolvimento, bem como na prevenção e na reabilitação da doença, perpassando, também, o suporte familiar e da equipe multidisciplinar (Gimenes, 1994). Portanto, a psico-oncologia é uma abordagem multidimensional e pode ser definida, segundo Carvalho (1994), como o “ramo da medicina que se ocupa da assistência ao paciente com câncer, do seu contexto (familiar e social) e dos aspectos médico-administrativos presentes no contexto desse paciente” (p. 45). A psico-oncologia assume o papel de “auxiliar o paciente e sua família a lidar com os efeitos colaterais dos tratamentos e seus impactos no dia-a-dia” (p. 44). A partir da portaria nº 3.535 do Ministério da Saúde, publicada no Diário Oficial da União, em 14/10/1998, a presença do psicólogo nos serviços de suporte, nos centros de atendimento em oncologia, junto ao SUS tornou-se obrigatória (Carvalho, 2002). Esta realidade, também, deveria ser exigida dos serviços particulares, pois entendo que o paciente oncológico precisa de acompanhamento psicoterápico, não importando de qual tipo de serviço, público ou privado, ele faça uso. A psico-oncologia transcende diversos saberes científicos, na busca de uma maior compreensão da doença e um suporte transdisciplinar para o paciente com câncer. Temas como a percepção do estigma que envolve a doença, o significado da experiência pessoal com o câncer e a percepção da especificidade do câncer e do paciente com câncer dizem respeito à psico-oncologia. Não apenas o paciente com câncer é alvo de seus estudos, mas, também, o 58 profissional que lida com a doença, adotando alguns objetos de pesquisa, como, por exemplo, os limites da atuação do profissional, a necessidade de que ele desenvolva uma percepção e uma compreensão do mundo interno do paciente, bem como uma habilidade de comunicação e de lidar com a dor, o sofrimento e a morte, mantendo sua disponibilidade de atendê-lo (Gimenes et al., 2002). 3.3.1 A reabilitação psicossocial do paciente com câncer de próstata As informações anatômicas, fisiológicas, diagnósticas e terapêuticas são explicadas ao paciente para uma melhor compreensão de sua vivência, bem como de seu comportamento diante do adoecimento. Reconhecer e considerar o desconforto gerado pelo câncer de próstata e pelo seu tratamento deve ser atitude expressiva do profissional e dos demais interessados no paciente. Portanto, ponderar o adoecimento, bem como o sofrimento psíquico por ele gerado é de fundamental importância para o acompanhamento e a reabilitação do paciente. O câncer de próstata não é muito diferente de outros cânceres, pois, também, gera alguns comprometimentos temporários e permanentes para o paciente. No caso do câncer de próstata, ocorrem alterações das funções urinária e sexual, que podem ser temporárias ou permanentes. A doença causa, portanto, impactos que podem comprometer várias funções e que devem ser considerados, como destaca Gillis (2006): a Organização Mundial de Saúde estipulou um modelo para descrever o impacto da doença ou lesão em um indivíduo. Comprometimento é a perda ou anormalidade de estrutura fisiológica ou função psicológica ou anatômica. Deficiência representa qualquer restrição ou falta, resultante da diminuição na capacidade de um indivíduo agir de maneira considerada normal para um ser humano. Desvantagem é o prejuízo para o indivíduo, resultante do comprometimento ou deficiência, que limita ou impede o desempenho normal ou habitual para aquele indivíduo (p. 823). 59 Quando ocorre uma disfunção decorrente do câncer, as terapias de reabilitação têm o objetivo de revertê-la ou de evitar a incapacidade. O tratamento pode exigir a participação de profissionais de diferentes especialidades. Médicos, psicólogos, enfermeiros, nutricionistas, assistentes sociais e fisioterapeutas são alguns dos profissionais que estão, diretamente ou indiretamente, ligados ao paciente em tratamento de câncer. A reabilitação pode ser definida como “o processo de restauração ou maximização da qualidade de vida de um indivíduo por meio da atenção às suas funções física, psicológica, vocacional e aos papéis sociais desempenhados por ele” (p. 819). O paciente recebe apoio técnico e emocional da equipe transdisciplinar que o acompanha. Tal suporte pode incentivar o paciente a enfrentar a doença de maneira mais positiva, ou, até mesmo, o tratamento com melhores expectativas de cura e, conseqüentemente, com possibilidade de dar continuidade às suas funções pessoais e profissionais em condições desejadas. A família, também, se destaca com importante papel nesse contexto. Sua importância na recuperação do paciente é fundamental, pois, diante do sofrimento psíquico vivenciado por ele, ela é considerada um apoio que passa a ter sentido de encorajamento, estimulando o indivíduo a lutar pela vida, pois a torna significativa. A família pode incentivar o paciente na realização do tratamento, preocupar-se com seu progresso e a alcançar a cura para conviver, muitos anos, ao seu lado. Alguns estudos mostram a importância da família no tratamento do câncer. Mello Filho (2004), por exemplo, acompanhou pacientes com vários tipos de câncer, e constatou a influência das posturas familiares na evolução de cada caso. Os casos que não tiveram bom prognóstico tinham más relações familiares. Podemos, portanto, perceber que a família pode interferir de forma positiva ou negativa no tratamento do câncer. A mulher e os filhos podem participar, ativamente, do processo de recuperação do paciente, pois é neles que o paciente se apóia para encontrar motivação para lutar conta o câncer e continuar vivendo ao lado de seus entes queridos. Portanto, a família é considerada o principal ponto de apoio para o doente. Para Campos (2004), a família extensa, ou seja, os parentes envolvidos por consangüinidade, casamento ou adoção, tem funções 60 afetiva, socializadora e cuidadora, “à medida que determinadas normas e valores são exercidos e sustentados pelos membros da família, e à medida que os laços afetivos são mantidos, gerando a preocupação de se cuidarem uns aos outros” (p.143). Desta forma, a integração familiar influencia na subjetividade do paciente e vice-versa, pois naqueles em que existem fortes vínculos familiares percebe-se uma melhor postura de enfrentamento da doença. 3.3.2 Psico-oncologia: uma abordagem psicossocial Durante muito tempo o diagnóstico de câncer era considerado uma sentença de morte. Contudo, tal realidade se modificou, incorporando, inclusive, novas concepções acerca da doença. Segundo Gimenes et al. (2002), “a palavra câncer é utilizada para descrever um grupo de doenças que se caracterizam pela anormalidade das células e pela sua divisão excessiva” (p. 49). Entretanto, o diagnóstico do câncer, freqüentemente, ainda é acompanhado de depressão (Moraes, 1994), pois pode gerar sofrimento psíquico no paciente. Portanto, na apresentação do diagnóstico, ou seja, no momento em que o médico confirma a doença ao paciente, deve ter toda cautela com relação à maneira como a informação é transmitida, pois pode ser significativa no decorrer do tratamento. Yamaguchi (1994) considera que uma doença que traz consigo o discutível estigma da morte incorporado à nossa cultura traduz-se necessariamente numa relação médico-paciente com características diferentes de situações menos contundentes (...) Mas, quando esse diagnóstico chega ao indivíduo, a primeira reação costuma ser o medo de que, no seu caso, além de não ser curado, o câncer vá trazer consigo muito sofrimento, humilhação física e dor (p. 30). Lopes (2005) concorda com tal perspectiva, pois afirma que muitos pacientes com câncer se tornam deprimidos pelo estigma da doença, como a possibilidade de morte e pelas limitações a ela associadas. Segundo Kubler-Ross (1989), durante 61 a possível aceitação da morte, o paciente desenvolve um processo de luto que se divide em 5 fases: a primeira fase é a de negação e de isolamento, que, comumente, ocorre no momento do diagnóstico; a raiva, na segunda fase, o fazendo se sentir revoltado por estar doente; a terceira fase é a de barganha, na qual o paciente negocia com seus médicos e amigos a possibilidade de cura; na quarta fase, de depressão, ele não mais nega a doença, mas, ao contrário, percebe sua gravidade e receia suas conseqüências; e, por último, a quinta fase, da aceitação, em que reconhece sua condição de finitude, como ser humano. Cada paciente enfrenta o câncer de uma maneira, desenvolvendo mecanismos de defesa peculiares a cada indivíduo. Alguns pacientes podem apresentar quadros depressivos durante o tratamento, expressando sentimentos de desamparo ou de desespero. As depressões, na velhice, são, geralmente, associadas a perdas, a doenças, a carências e a aspectos sociais (Zimerman, 2000). Quando todos esses aspectos encontram-se reunidos em um mesmo momento, torna-se mais difícil seu enfrentamento e não apenas o paciente, mas, também, os profissionais envolvidos devem estar atentos aos primeiros sintomas de depressão. Quando as pessoas estão deprimidas, apresentam tendência a sentimentos de culpa e acham que estão decepcionando ou dando trabalho à sua família. Podem se tornar mais irritadas e ansiosas, com alterações no seu comportamento de rotina, como, por exemplo, desinteresse na higiene pessoal, na leitura ou em ver televisão. Critérios são utilizados para identificar os sintomas depressivos, como mostra o quadro a seguir: - O conjunto de sintomas deve estar presente por ≥ 2 semanas - É necessário um destes sintomas: - Depressão do humor - Diminuição no interesse das atividades da vida diária - São necessários pelo menos quatro desses sintomas: - Alteração do apetite ou no peso - Insônia ou hipersonia - Agitação ou retardo psicomotor - Fadiga - Sentimento de inutilidade ou culpa - Déficit na capacidade de concentração - Idéias, planos ou tentativas de suicídio Quadro 1. Critérios Diagnósticos para Depressão Importante (Deshields, 2004, p. 595). 62 Tais sintomas devem ser observados, pois, quanto antes diagnosticada a depressão, mais precocemente será realizada sua abordagem terapêutica. O câncer é uma doença que gera diversos sentimentos, o que pode ser muito complexo para quem acompanha seu desenvolvimento. Por exemplo, a raiva e a depressão tendem a desaparecer quando expressas de maneira completa (Mattheus-Simonton, 1990). Os profissionais da saúde devem buscar uma conduta mais empática e sensível, ao abordar um paciente com câncer. Segundo Fernandes (2005): “cuidar em uma visão integral é uma escuta acolhedora das múltiplas dimensões do humano em uma ética de respeito ao homem e à sua natureza, numa prática integradora dos saberes da saúde e do bem-estar” (p. 84). Afirma que o profissional deve exercitar a “arte de cuidar” buscando interagir não apenas com o paciente, mas também, com sua família e com os demais profissionais da equipe de saúde. Segundo Lopes (2005) a ciência já não delimita, como antes, a doença em seus aspectos somático e psíquico, corporal e emocional, fazendo uma nova proposta, na qual “corpo e mente devem ser tratados conjuntamente” (p. 83). Portanto, as implicações psíquicas do câncer sobre as pessoas devem ser constante foco de atenção dos profissionais da saúde que lidam com elas. Assim, os profissionais de saúde envolvidos diretamente no diagnóstico e no tratamento da doença devem traçar estratégias para não fragilizar, ainda mais, o paciente e sua família. Os profissionais devem utilizar alguns princípios básicos de aconselhamento durante a informação do diagnóstico: atenção positiva incondicional: preocupar-se, de fato, e aceitar o paciente como pessoa; empatia: capacidade e disposição de perceber o mundo pelos olhos do paciente; congruência: coerência entre os sentimentos, as idéias e o comportamento do profissional de saúde. 63 As atitudes citadas acima, defendidas por Rogers (1977; 1992), se assemelham a algumas condutas médicas relatadas pelos meus pacientes, que têm compartilhado comigo as diferentes atitudes dos especialistas ao lhes transmitir o diagnóstico do câncer de próstata, bem como as etapas a serem percorridas durante o tratamento da doença. Porém, outras são totalmente distantes do modelo proposto. Tais posturas, tão divergentes, podem gerar diferentes comprometimentos, pois, quando o paciente busca um profissional para um tratamento no qual sua vida é o mais importante, deseja que tal profissional o trate segundo princípios éticos e humanos, necessários para um bom relacionamento médico-paciente, e, conseqüentemente, para um bom resultado no tratamento e na sua recuperação. A postura do profissional da saúde diante do paciente com câncer de próstata foi um dos temas discutidos nesta dissertação. Os pacientes com câncer de próstata traçam um perfil do profissional que desejam ter ao seu lado, para melhor acompanhar o enfrentamento da doença e do tratamento. 64 CAPÍTULO 4 - A PESQUISA: UM ESTUDO FENOMENOLÓGICO 4.1 Tipo de Estudo 4.1.1 Pesquisa qualitativa Numa pesquisa qualitativa, princípios norteadores do seu planejamento são utilizados com a finalidade de definir claramente o objeto, de operacionalizar corretamente as relações teóricas, de discutir os fenômenos investigados e de criar estratégias para formular considerações gerais. Muitos são os investigadores que adotam a pesquisa qualitativa, que tem prestado grandes contribuições às ciências humanas, sociais e da saúde. Como afirmam Denzin e Lincoln (2006), a pesquisa qualitativa é infinitamente criativa e interpretativa. A tarefa do pesquisador não se resume a deixar o campo levando pilhas de materiais empíricos e então redigir facilmente suas descobertas. As interpretações qualitativas são construídas (p. 37). Pode-se afirmar que “a pesquisa qualitativa é orientada para a análise de casos concretos em sua particularidade temporal e local, partindo das expressões e atividades das pessoas em seus contextos locais” (Flick, 2004, p. 28). É através da pesquisa qualitativa que se pode investigar a subjetividade, adentrando na dimensão de sentidos da psique humana (González-Rey, 2005). Conforme Angerami-Camon (2001), "a subjetividade é a condição primeira da filosofia que tenta reduzir a existência humana à existência da singularidade do sujeito (...), é o conjunto de princípios onde a realidade da condição humana é a objetividade” (p. 28). Considero, então, que a pesquisa qualitativa investiga a subjetividade nas experiências vividas do sujeito. 65 4.1.2 A fenomenologia Como meu objetivo é compreender o significado da vivência do paciente em tratamento de câncer de próstata, optei por utilizar o método fenomenológico para melhor compreender sua subjetividade. Moreira (2007) considera que “a fenomenologia não é uma escola ou uma doutrina, mas somente um movimento que engloba distintas escolas cujo denominador comum é o método fenomenológico” (p. 99). Neste sentido, optei pela utilização do método fenomenológico, acreditando que seus instrumentos facilitariam meu contato com as questões íntimas vividas pelos sujeitos investigados, na intenção de melhor conhecer a vivência dos pacientes em tratamento do câncer de próstata. A fenomenologia, etimologicamente, é “o estudo ou a ciência do fenômeno, sendo que, por fenômeno, em seu sentido mais genérico, entende-se tudo o que aparece, que se manifesta ou se revela por si mesmo” (p. 63). Desta forma Merleau- Ponty (1994) considera que a fenomenologia é o estudo das essências e tem como objetivo principal compreender as experiências vividas de forma particular, a partir da sua realidade, mas sem nenhuma intenção de análise ou de explicação de sua causa. Para Merleau-Ponty, corpo e mente estão intimamente relacionados, ou seja, os eventos corporais sempre têm uma significação para a consciência, evidenciando a interação íntima entre tais instâncias: “o corpo, para a fenomenologia, não é o corpo objetivo, que nega o espírito” (Capalbo, 2003, p. 13). Portanto, é na relação do corpo-mente com o mundo que ocorre a experiência humana, o que nos remete à sua existência (Merleau-Ponty,1994). Capalbo (2003) destaca que, “como categoria da filosofia existencial, o termo existência significa a maneira de ser do homem” (p. 17). Sua existência é discutida por diversos pensadores, dentre eles, Merleau-Ponty, um dos principais representantes da fenomenologia existencial, que considera o homem como ser-no-mundo e como ser-no-mundo-com-os-outros, ou seja, como sujeito integrante do mundo, se 66 mostrando tal qual é, não distinguindo o sujeito do seu corpo no universo. Desta forma, Merleau-Ponty afirma que tudo aquilo que sei do mundo, mesmo por ciência, eu o sei a partir de uma visão minha ou de uma experiência do mundo sem a qual os símbolos da ciência não poderiam dizer nada. Todo o universo da ciência é construído sobre o mundo vivido... (p. 3). Para tanto, só é possível conhecer a subjetividade do paciente em tratamento de câncer de próstata compreendendo como ele significa sua vivência da doença e do tratamento. Para Trindade e Bruns (2003), “o homem tem a responsabilidade por sua existência, a qual se manifesta temporal, espacial e historicamente” (p. 227). Temos, portanto, responsabilidade pelas nossas escolhas e pelo nosso modo de ser no mundo. Para tanto, os fenômenos vividos devem ser considerados significativos, mesmo que haja uma tendência em reduzi-los (Rovaletti, 2003). Baseada nestas considerações, o que realmente me interessou, nesta pesquisa, foi a experiência vivida, do sujeito investigado no seu dia-a-dia, isto é, como ele atribui significados ao tratamento de câncer de próstata, pois tal fenômeno poderia manter-se encoberto se não fosse desvendado pela investigação fenomenológica. Neste sentido, Moreira (2002) acrescenta que “a fenomenologia é uma ciência cujo propósito é descrever fenômenos particulares, ou a aparência das coisas, como experiência vivida. A experiência vivida do mundo da vida de todo dia é o foco central da investigação fenomenológica” (p. 67). Em uma investigação fenomenológica, o pesquisador deve desfazer-se de suas idéias preconcebidas sobre o fenômeno em estudo. Tal postura, denominada de epoqué, significa que o pesquisador deve pôr “entre parênteses” os seus valores, preconceitos e conhecimentos acerca do fenômeno investigado (Boris, 2002; Moreira, 2002, Moreira, 2007). É importante ressaltar que o pesquisador não nega o mundo em um estudo fenomenológico, mas apenas o coloca “entre parênteses”. Portanto, coloquei “de lado”, provisoriamente, principalmente na primeira fase da pesquisa, minha experiência de 10 anos de consultório, 67 reabilitando pacientes com disfunções urinárias, e todas minhas idéias preconcebidas, como profissional, sobre os meus pacientes prostatectomizados. O principal aspecto considerado, numa pesquisa fenomenológica, é a percepção que o sujeito pesquisado tem de sua própria experiência, para, posteriormente, receber a interpretação que o pesquisador fará dela, elaborando unidades de sentido. Portanto, os fenômenos são percebidos a partir dos sentidos, mas são, por sua vez, dotados de sentidos (Merleau-Ponty, 1994). Neste aspecto, a análise intencional do objeto em estudo, as vivências dos pacientes em tratamento de câncer de próstata, teve como intenção alcançar os significados atribuídos aos seus fenômenos de consciência. 4.2 Procedimentos Metodológicos Os procedimentos metodológicos se referem às etapas que orientam a organização e a exposição dos resultados obtidos (Gomes, 2007). Assim, descrevo, abaixo, os passos desta pesquisa, ou seja, como foi realizada a escolha da amostra; os instrumentos utilizados na coleta dos dados, isto é, as entrevistas, meio de captar a expressão dos significados da vivência dos homens prostatectomizados; os critérios éticos; o local e a data da realização das entrevistas; e, para finalizar, como analisei os dados e os discuti. 4.2.1 Sujeitos participantes Os sujeitos entrevistados tinham entre 55 e 77 anos, é nesta faixa etária que mais comumente, os homens são acometidos de câncer de próstata e realizam a prostatectomia radical. A amostra investigada foi de 4 sujeitos do sexo masculino. Os sujeitos participantes foram pacientes meus, que estavam se 68 submetendo a tratamento de câncer de próstata ou que já o tinham realizado. Considero que o vínculo pré-existente à pesquisa facilitou, significativamente, a aplicação das entrevistas. Remeto às contribuições de González-Rey (2005), que enfatiza a importância do vínculo interativo entre pesquisador e sujeitos participantes no processo de produção das informações. Acredito que o número de sujeitos pesquisados foi suficiente para proporcionar contribuições significativas sobre o fenômeno investigado nesta pesquisa, pois não é o número de participantes que gera informações relevantes, mas a essência de suas vivências, descritas durante as entrevistas, bem como minha percepção, como pesquisadora do fenômeno investigado. 4.2.2 Instrumentos de coleta de dados Como se trata de uma pesquisa qualitativa, sigo as referências de Minayo (1994), que afirma que, neste tipo de estudo, se trabalha “com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis” (p. 21-22). Para tanto, fiz uso de entrevistas, que foram gravadas com o intuito de compreender os sentidos da experiência vivida dos pacientes em seu tratamento de câncer de próstata, ou seja, indaguei como eles significaram o impacto do diagnóstico de câncer, bem como o enfrentamento da doença e do seu tratamento. Uma pergunta disparadora (anexo 2) foi utilizada no início das entrevistas, convidando o sujeito entrevistado a falar dos eventos mais significativos de sua vida, no intuito de que abordasse o evento da doença de forma a não gerar nele mal-estar com uma pergunta direta. Nestas entrevistas, explorei a história de vida dos pacientes para chegar às suas elaborações acerca de sua experiência vivida, pois simbolizam a sua compreensão do outro, de sua doença, de seu corpo e de seu tratamento. Neste sentido, remeto a Riechelmann (2002), que afirma que 69 o corpo deixa de ser simples máquina e se torna uma pessoa quando visto em conjunto com a história de vida. E história de vida é basicamente construída como conseqüência da interação do indivíduo com seu contexto social. Tal interação se dá inicialmente na vida privada, com a microssociedade familiar, e depois na vida pública, num contexto social mais amplo (p. 177). Desta forma, considero que para investigar a subjetividade do paciente em tratamento de câncer de próstata foi preciso explorar o seu contexto sóciocultural, bem como sua percepção dele. Baseada em Gomes (1998), considero que é neste contexto que se introduz a entrevista como um convite à comunicação com meus sujeitos de pesquisa, não cabendo, portanto, qualquer análise quantitativa nem, tampouco, o julgamento de seu comportamento. Nas entrevistas, emergiram temas específicos, tais como a vivência do momento do diagnóstico de câncer de próstata, a decisão da cirurgia, as fases pré e pós-operatória, bem como a sexualidade do paciente pós-prostatectomia radical. González-Rey (2005) acredita que, “na subjetividade, qualquer momento da história do sujeito pode aparecer como um elemento de sentido da configuração subjetiva atual de sua experiência” (p. 220). Busquei dar ênfase aos sentidos atribuídos pelos pacientes, durante suas entrevistas, às suas experiências vividas. Posteriormente, pude fazer a sua redução a algumas unidades de sentido, ou categorias, agrupando as expressões subjetivas mais significativas dos entrevistados. Finalmente, tais categorias foram interpretadas à luz das considerações de meus aliados teóricos, conforme discutidas na primeira parte desta dissertação. 4.2.3 Aspectos éticos As entrevistas foram realizadas individualmente, após os sujeitos pesquisados concordarem e assinarem um termo de consentimento livre e esclarecido (anexo 1), obedecendo à resolução 196/96. Ocorreram em horário estabelecido entre eles e eu, com duração média de 50 minutos. Para evitar a 70 identificação dos participantes deste estudo, foram usados nomes fictícios, como recurso ético. 4.2.4 Local e período Realizei as entrevistas no período de julho a outubro de 2008. O local de realização da coleta de dados foi meu consultório particular, pois os participantes desta pesquisa foram pacientes que realizaram tratamento fisioterápico, sob meus cuidados profissionais. Por entender que se trata de um assunto de difícil abordagem, percebi que o vínculo profissional já existente facilitou a expressão da experiência vivida dos pacientes e, principalmente, acerca da sua doença. 71 CAPÍTULO 5 - EXPRESSANDO OS SENTIDOS DA EXPERIÊNCIA VIVIDA DO TRATAMENTO DE CÂNCER DE PRÓSTATA 5.1 Análise e Discussão das Entrevistas Como afirma Creswell (2007), “o objetivo do pesquisador, então, é dar sentido (ou interpretar) aos significados que outras pessoas têm para o mundo” (p. 26). Seguindo o método proposto por Gomes (1998; 2007), organizei este estudo em três etapas: a descrição, a redução e a interpretação dos dados. A descrição “é uma apropriação da realidade do modo que ela é, ou seja, tomar o que é possível, dada a condição humana de ser um self corporificado com poder de movimento” (Gomes, 2007, p. 230). Nesta etapa, as entrevistas foram transcritas para poderem ser organizadas em categorias. É importante considerar que o primeiro momento da descrição ocorreu ao escutar os entrevistados, pois, naquele instante, suas falas já expressavam significados para mim, como pesquisadora. Na fase de descrição, o pesquisador reconhece que o fenômeno existe, mas não permite, nesse instante, fazer qualquer análise. Durante esta fase, foi necessário ouvir, repetidas vezes, as falas, para transcrevê-las em sua totalidade, não perdendo sequer uma expressão para não correr o risco de modificar os sentidos das falas. Na segunda etapa, de redução, após a leitura de cada entrevista, identifiquei as unidades de sentido, ou categorias, que compreendem percepções, experiências e sentimentos expressos nas falas dos entrevistados e que considerei importante que fossem mais bem discutidos. Portanto, encontrei sete unidades de sentido ou categorias, que serão discutidas a seguir: 1. O momento do diagnóstico; 2. Relação paciente-família-doença; 72 3. A relação médico-paciente; 4. O enfrentamento da doença; 5. E o papel de macho como fica?; 6. A sexualidade pós-prostatectomia radical; 7. A infantilização e a feminilização do uso de fraldas e de protetores íntimos. A terceira etapa, de interpretação, é “o encontro da intencionalidade que o objeto traz com a intencionalidade do sujeito que se apropria do objeto” (Gomes, 2007, p. 230), pois as categorias, que foram criadas segundo a percepção do pesquisador, foram, então, discutidas na tentativa de explorar as falas, ou seja, na busca de melhor compreender o fenômeno estudado. Neste sentido, a interpretação é uma discussão das categorias, articulando minhas percepções da experiência vivida a partir das falas dos entrevistados com as proposições de meus aliados teóricos sobre cada tema destacado. Assim, nesta etapa da pesquisa, os dados foram discutidos com a intenção de compreender os significados das vivências dos pacientes em tratamento de câncer de próstata. Portanto, o objetivo foi articular a fundamentação teórica com a vivência dos sujeitos sobre o fenômeno pesquisado, captada durante as entrevistas. Esta etapa consistiu na composição de um texto que respondesse as perguntas da pesquisa, seguido da indicação de diferentes perspectivas, bem como de sugestões e das considerações finais, acompanhadas de suporte teórico (Gomes, 1998; 2007; Boris, 2002). A realização das entrevistas foi, para mim, uma experiência surpreendente e extremamente emocionante, pois os sujeitos colaboradores desta pesquisa eram pacientes que haviam realizado ou estavam realizando tratamento fisioterápico comigo, após terem se submetido à cirurgia de prostatectomia radical. Acreditava que os conhecia bastante, bem como suas histórias de vida, uma vez que, durante o tratamento fisioterápico, conversávamos em boa parte dos atendimentos, mas fiquei surpresa ao me deparar com depoimentos inéditos e comoventes, o que fez consolidar minhas percepções no que diz respeito ao método fenomenológico, 73 pois, como pesquisadora, pude vivenciar as suas etapas propostas pelo método de Gomes (1998; 2007). As entrevistas foram a forma que escolhi para melhor compreender as vivências desses homens, que, freqüentemente, são ocultadas, no seu dia a dia, dos profissionais de saúde e dos próprios familiares. Assim, nas entrevistas, pude explorar situações, emoções, sentimentos e discursos dos pacientes, enfim, suas vivências, que me deram a oportunidade de ter acesso a um universo ainda tão pouco compreendido: as vivências masculinas, no que se refere ao tratamento do câncer de próstata. O primeiro entrevistado, José, logo concordou em participar da pesquisa, pois disse que se sentia muito satisfeito de poder colaborar com um estudo que poderia ajudar outros que, como ele, iriam enfrentar o câncer. Casado, 66 anos, pai de duas filhas já adultas e aposentado, cursava uma segunda faculdade, demonstrando grande satisfação pessoal por conta disso. O segundo entrevistado, Antônio, 68 anos, casado, bancário aposentado, hesitou em aceitar o convite para participar da pesquisa, pois se considera uma pessoa bastante tímida, com dificuldade de se expressar, mas, em poucos instantes, já estava contando sua história com evidente espontaneidade, como sempre conversávamos, antes. Mesmo assim, foi o participante que falou menos. Inclusive, ao final de sua entrevista, o último assunto abordado ficou, a meu ver, incompleto, pois tratava da disfunção sexual, problema ainda não muito bem enfrentado por ele, como discutirei mais adiante. Ao contrário, o terceiro paciente, Pedro, deteve-se, a maior parte do tempo da entrevista, no assunto que, em sua opinião, mais afeta a qualidade de vida do ser humano: a sexualidade. Em nenhum momento, sentiu-se constrangido, mesmo sendo um homem de 77 anos, casado, pai de quatro filhos e empresário 74 local, de falar de sua intimidade com suas parceiras, bem como da fase de adaptação a novas estratégias para sua satisfação sexual e delas, também. O quarto entrevistado, Moisés, 55 anos, o mais jovem dos entrevistados, funcionário público recém-aposentado, casado pela segunda vez, pai de 4 filhos, dos quais dois menores de idade do segundo casamento, também teve facilidade de se expressar, narrando sua experiência com muita precisão e segurança. Inclusive, mostrou-se um grande estudioso do câncer de próstata, pois disse ter realizado diversas pesquisas na “Internet”, para saber mais sobre a doença. Em sua fala, transmitiu, em cada momento, muita determinação e confiança em seu tratamento. Os quatros entrevistados, cada um com as peculiaridades próprias de sua subjetividade, sua idade e seu estilo de vida, proporcionaram contribuições significativas a esta pesquisa, e, também, à minha experiência como pessoa e, principalmente, como profissional de saúde que trabalha com pacientes que, muitas vezes, buscam em mim um “porto seguro” ou um suporte, num momento de muita fragilidade física e psicológica. É importante destacar que a pergunta disparadora “quais foram os eventos mais significativos de sua vida?” (anexo 2), foi escolhida por ser bastante aberta e abrangente de modo a deixar os entrevistados à vontade para falar, se desejassem, sobre seu câncer de próstata. Assim, os paciente discorreram com muita minúcia sobre suas vivências. As entrevistas foram gravadas e, em seguida, integralmente transcritas. Passaram por uma detalhada identificação de categorias, ou seja, das falas mais significativas dos participantes. Depois, passei a analisar individualmente cada categoria. Em cada categoria, pude encontrar a expressões não apenas das particularidades do participante da pesquisa, mas do gênero masculino, pois os homens passam boa parte de suas vidas acreditando que são fortes e capazes de 75 superar quaisquer dificuldades, mas, ao se confrontarem com o câncer de próstata, se percebem “fragilizados”, termo bastante utilizado por eles para definir as mulheres. Como tal experiência de suas vidas foi significada por cada um deles é o que será discutido adiante. As falas mais significativas foram recortadas e agrupadas de acordo com cada categoria a ser discutida, para facilitar sua compreensão. Tais unidades de sentido, ou categorias, foram organizadas em sete temas. Assim, busquei compreender o significados das suas falas, através não apenas das palavras, mas acrescentando minhas observações como pesquisadora, fundamentada em meus aliados teóricos. Neste sentido, Amatuzzi (2008) considera que “compreender significa ouvir o silêncio que se rompe com a fala” (p. 39). Amatuzzi relaciona o silêncio à fala, bem como a inspiração à obrade-arte, destacando o quanto o silêncio, também, deve ser valorizado, pois, sem ele a fala não teria sentido. Para tanto, precisei considerar os momentos de silêncio durante as entrevistas, no qual os pacientes precisavam de uma pausa para melhor elaborar suas falas. Tive também que identificar determinados temas que não emergiram, naturalmente, por possível dificuldade de enfrentamento do mesmo por parte do paciente, como será discutido a seguir. 5.2 Categorias ou Unidades de Sentido 5.2.1 O Momento do Diagnóstico O momento de maior impacto, para meus entrevistados, foi, exatamente, o dia em que receberam a notícia de que estavam com câncer. Ellsworth, et al. (2003) afirma que “o diagnóstico do câncer de próstata é um choque para a maioria dos homens” (p. 180). Destaca que os pacientes estão, até o momento do diagnóstico, se sentindo bem e, muitas vezes, não apresentam sintomas que interfiram, diretamente, na sua saúde. É comum que, ao realizarem exames de 76 rotina, se deparem com o câncer. O sentimento de fragilidade, somado ao medo e a sinais de ansiedade, afloram com relação ao seu futuro e ao de suas famílias. Segundo Gianini (2007), há uma forte carga de estresse que acompanha o homem quando recebe o diagnóstico da doença, seguida de possíveis lacerações e estigmas, que podem ser causados pelo tratamento. Este momento deve ser acompanhado de muita sensibilidade por parte do médico (Silva, 2001). Segundo Horta et al. (2003), a partir da comunicação do diagnóstico, “o paciente é confrontado com diversos aspectos existenciais, dentre os quais seus valores, convicções, crenças, sentimentos e emoções” (p. 152). Meus entrevistados, também, transmitiram, nas suas falas, sua dor psíquica em relação à descoberta do câncer de próstata: quando me vi com o problema do câncer, eu diria que o impacto maior que eu senti foi, exatamente naquele dia que eu recebi a notícia, que eu estava com um tumor. Foi o que me “desarmou” um bocado e me deixou muito fragilizado: primeiro, em relação ao que poderia me acontecer e, em conseqüência, o que podia vir a acontecer à minha família, caso eu viesse a faltar. Isso foi um impacto muito grande (José). Quando o paciente diz ter se sentido “desarmado”, significa que, até então, ele não esperava que seu mundo, protegido e seguro, fosse ser afetado, mas o diagnóstico do câncer fez com que ele se sentisse desprotegido e fragilizado. É, portanto, neste momento, que o papel do profissional de saúde assume importante função, pois a maneira como o diagnóstico é transmitido pode gerar importantes repercussões psíquicas no paciente. As diferentes culturas prescrevem que os médicos se comportem, quanto ao diagnóstico, de maneiras diversas, pois algumas delas defendem que ele seja omitido, enquanto outras reforçam que ele seja, apenas parcialmente, revelado (Silva, 2001). Em nossa realidade, o que mais comumente ocorre é a franqueza do médico, revelando o diagnóstico e o seu prognóstico ao paciente. Inclusive, é comum que seja o próprio paciente quem recebe o resultado da biópsia. Assim, 77 geralmente, no momento do diagnóstico, os pacientes se encontram sozinhos e se encaminham ao laboratório cheios de dúvidas e de receios. Manifestações de emoção são vividas no momento do recebimento do laudo laboratorial da biópsia da próstata: foi terrível! Eu peguei a biópsia. Abri o envelope, lá, no laboratório. Eu me preparei porque eu estava quase certo do conteúdo da biópsia. Procurei um cantinho pra ficar pra que eu pudesse vivenciar essa emoção intensa e abri o envelope pra saber o que tinha lá dentro (Moisés). Antônio relatou já ter enfrentado outro momento bastante estressante em sua vida, antes de ser surpreendido pelo diagnóstico de câncer de próstata, pois, sete anos antes, foi vítima de um diagnóstico errado de câncer de esôfago, que fez com que ele tomasse medidas radicais e irreversíveis em sua vida, inclusive pedindo demissão do seu emprego e mudando de cidade. Segundo Morais (1997), “o doente recebe o diagnóstico do médico como verdade inquestionável” (p. 92). Quando iniciei a entrevista, tomando como base a pergunta disparadora (anexo 2), Antônio foi bastante detalhista ao narrar a sua primeira história de câncer: quando eu recebi o resultado do exame, “faltou chão nos pés”, sei lá: é uma sensação, assim, ruim demais, que não tem nem como descrever. De lá mesmo, lá da clínica, eu já liguei pra minha mulher e falei pra ela que eu tinha câncer no esôfago e que, a partir dali, a vida da gente ia passar por uma mudança muito grande. Apesar de sua atitude ser uma das formas possíveis de reação diante do diagnóstico, Silva (2001) afirma que “o melhor é não fazer mudanças drásticas imediatamente e, muito menos, adotar uma política de isolamento” (p. 239). Às vezes o paciente decide alterar seus planos de vida por considerar o diagnóstico como uma sentença de morte. Suas decisões, neste momento, devem ser, calmamente, pensadas, inclusive, sendo compartilhadas com sua família, já que a situação envolve a todos, direta ou indiretamente. Antônio, ao enfrentar, pela 78 segunda vez, o impacto do diagnóstico de câncer, agora, de próstata, reagiu com atitudes mais racionais e menos impulsivas: aí, sei lá, foi “o mundo se acabando” de novo! Aquela coisa da cabeça “fervendo” demais. Só que, dessa vez, o baque foi menor: já tinha passado por esse susto antes, até porque eu faço os exames, todo ano. Aí, eu imaginei que tivesse bem no início. Aí, eu fiquei mais tranqüilo. A ansiedade, no momento do diagnóstico, é alta. Por isto, alguns pesquisadores defendem a idéia de que o diagnóstico deve ser dado, cautelosamente, evitando falar diretamente no câncer, mas em tumor ou alteração celular, para, em seguida, usar os termos mais definitivos (Silva, 2001). O recebimento do diagnóstico, para meus entrevistados, foi acompanhado de visível sofrimento, pois sabiam das implicações da doença e de seu tratamento, já que tinham sido abordadas, anteriormente, entre eles e médicos: sem dúvida nenhuma, o diagnóstico do câncer de próstata me machucou bastante porque eu já sabia, por informação do médico que me acompanhava, há muito tempo, porque eu fazia controle de próstata, há muitos anos, que 60%, segundo ele, que era a primeira informação, que aqueles que se submetiam à prostatectomia radical ficavam impotentes (Pedro). ali, pra mim, parecia que o mundo foi um turbilhão na minha cabeça. “Faltou terra nos pés”: parecia que o mundo se abrisse num buraco imenso e eu caísse dentro. Eu fiquei gelado; me deu uma dor de cabeça intensa; ficou tudo, assim, escuro em volta de mim; tive que “me segurar” pra não cair. Depois, eu fiz um esforço pra seguir. Depois, eu dirigi por bastante tempo, bastante tempo (Moisés). Segundo Boris (2002), a imposição de valores e de estereótipos socioculturais que preconizam o que é ser homem faz com ele desempenhe um papel de um ser forte e viril. Talvez, tal condição de macho seja esperada, também, na comunicação do diagnóstico do câncer de próstata, exigindo que o paciente enfrente o momento como tal. 79 O momento do diagnóstico, para todos meus os entrevistados, provocou sofrimento psíquico, pois, neste instante, sentiram que seu “mundo” desabou. De acordo com Osanai (2004), “embora o paciente tenha o direito de saber seu diagnóstico, a forma como essa informação será revelada não pode ser nociva ao estado geral, com possível repercussão em seu possível tratamento” (p. 239-240). Cada entrevistado, ao comentar sobre as emoções vividas neste momento, se referiu a muita ansiedade diante de um problema que desencadeia repercussões em diversas áreas de sua vida. É, portanto, um momento que deve ser considerado de forma individualizada, pois cada paciente tem subjetividade diferente dos demais. 5.2.2 A relação paciente-família-doença Nesta categoria, discuto como o paciente vivencia, junto à sua família, a experiência de estar com câncer. Os amigos têm um papel psicossocial muito importante para o paciente, mas a presença da família, neste momento, é, sem dúvida, fundamental. Segundo Mello Filho (2004), a família é “importante agente na revelação do diagnóstico e no seu papel terapêutico, de apoio...” (p. 53), tendo a importante função de suporte emocional para o paciente, seja como apoio, seja como fonte de motivação para o tratamento. “A família sempre foi e continua sendo o grande cadinho das experiências humanas” (p. 57). Pode, entretanto, também, ser fator desencadeador de sofrimento psíquico, diante da incerteza da cura: pois bem, e o medo de uma recidiva, o medo de não ter mais uma vida mais longeva, uma vez que eu tenho duas crianças pequenas, que eu tenho de protegê-las. São duas meninas (Moisés). Naquele dia em que eu recebi a notícia que eu estava com um tumor, foi o que me “desarmou” um bocado e me deixou muito fragilizado: primeiro, em relação ao que poderia me 80 acontecer e em conseqüência o que podia vir a acontecer à minha família, caso eu viesse a faltar (José). Dar a notícia, principalmente, àqueles que os amam é o problema mais difícil da doença para os pacientes (Servan-Schreiber, 2007). A mulher, freqüentemente, se torna a melhor amiga e a companheira incondicional durante o tratamento do câncer de próstata. Algumas foram referidas, explicitamente, nas falas de meus entrevistados: aí, minha esposa ligou porque eu não tinha dado notícia e eu tinha dado o horário que ia pegar o exame e eu não tinha ligado naquele horário porque não tinha nem condição de falar. Mas foi uma emoção muito forte, realmente... Eu lembro que, realmente, eu me emocionei muito, mas minha mulher me deu muita força: me falou umas palavras de conforto pra eu ter coragem pra resistir, pra lutar (Moisés). Segundo Ellsworth et al. (2003) as mulheres se preocupam com o tempo de sobrevida de seus companheiros. É um momento, também, para elas, de muito estresse, pois algumas precisam assumir os dois papéis: o de esposa e o de organizadora dos compromissos da família, mesmo que por um tempo determinado, podendo gerar descontentamento da parte delas. (Silva, 2001). Quando os filhos são adultos, o que ocorre na maioria dos casos, entre homens de meia-idade, eles, também, se tornam importantes pontos de apoio para o enfrentamento da doença. González-Rey (2004) afirma que “família é o grupo social no qual o homem expressa sua maior intimidade e espontaneidade” (p. 29). No caso de Moisés, ele contou com o filho no momento do diagnóstico, e, depois, no momento da sua recuperação pós-operatória: e, à noite, eu procurei meu filho mais novo, do meu primeiro casamento, de 23 anos: é o filho que eu tenho mais apego. Aí, eu contei pra ele, também, com toda aquela emoção do primeiro dia (Moisés). 81 A participação da família é fundamental para a recuperação do paciente, pois é nela que ele encontra motivação para lutar contra a doença e as implicações do seu tratamento. Portanto, ela é considerada uma forte aliada no tratamento (Lopes, 2005). Como afirma Servan-Schreiber (2007), a atitude da família em relação ao paciente “não reduz o perigo, mas reduz a solidão” (p. 67). Eu tive alta. Então, eu fui para um hotel, aqui, em Fortaleza. Minha esposa estava comigo e minhas duas filhas. Ficaram, aqui, três dias comigo, e o restante, o meu filho ia dormir comigo, lá, no hotel (Moisés). Nesta fala de meu entrevistado destaco a participação ativa da mulher e dos filhos, desde o momento do diagnóstico até o tratamento pós-operatório. Como eles superam as ansiedades relacionadas a tal fase emocionalmente difícil? É, exatamente, por conta do desgaste emocional de tal experiência que sugiro o suporte de um profissional da psicologia para esses casos, o que se coaduna à proposta de Mello Filho (2004) de tratamento psicológico, não apenas para o paciente, mas, também, para o casal e para a família. Porém, tal realidade não ocorre nos procedimentos de saúde de nosso País. 5.2.3 A relação médico-paciente Esta categoria, também, emergiu das falas dos entrevistados, quando eles discutiram comigo o tratamento e suas implicações. É importante que o paciente seja esclarecido quanto às suas dúvidas, desfazendo mitos que foram criados por falta de informação, situação comum no passado, já que o câncer da próstata, hoje, assume nova realidade no contexto social. A facilidade da Internet aproximou o paciente das informações sobre o assunto, bem como vem proporcionando uma maior divulgação do tema nos veículos de comunicação. Assim, faz toda a diferença, nessas circunstâncias, a escolha dos procedimentos que antecedem a 82 cirurgia, bem como a sua detalhada explicação, pois são consideradas informações muito importantes pelo paciente. Conforme Lopes (2005), “há um crescente cuidado na área da saúde, em que o ponto alto se torna a valorização e a humanização do atendimento, e a excelência em lidar com a arte e dignidade frente à temática de saúde, vida e morte” (p. 85). Angerami-Camon (2002) enfatiza que, para que ocorra a humanização dos atendimentos na área da saúde, é necessário que ocorra a humanização do profissional de saúde. Umas das formas de atingir tal humanização é o diálogo franco, que possibilita maior aproximação entre médico e paciente. Assim, os médicos com mais sensibilidade para compreender o valor desse contato, mais provavelmente são escolhidos como cirurgiões dos pacientes que procuram um profissional com tal perfil. Esta particularidade demonstra a tendência dos pacientes, ao buscarem um cirurgião para se submeter à prostatectomia radical, a eleger a empatia dos profissionais como um critério tão importante quanto sua habilidade cirúrgica, como destaca José: se você se encontra nessa situação de fragilidade e encontra alguém que te “dê a mão” e que te dê algum ânimo, acho que é mais fácil de você fazer essa cirurgia, esse tratamento, do que com aquele que já te deixa ciente de que o que te acontecer é culpa, exclusivamente, sua. Então, pra mim, realmente, foi mais tranqüilo de fazer com o terceiro médico. A escolha do médico é de suma importância para o paciente Cada paciente tem sua concepção do profissional ideal para assumir o seu caso: “alguns pacientes sentem-se bem com um médico tradicional - um profissional delicado e carinhoso, que lhes segure a mão. Outros se sentem mais seguros com um médico direto e pouco emotivo, que apenas as informe sobre os fatos” (MattheusSimonton, 1990, p. 71). Há, ainda, os pacientes que preferem o meio termo, aquele profissional que soma as duas características acima citadas. Buscar uma segunda opinião é atitude bastante comum nos casos de diagnóstico de câncer e, conseqüentemente, no tratamento cirúrgico. Foi o que ocorreu no caso de José, 83 pois buscou outra opção, na qual se sentiu protegido e, profissionalmente, em “boas mãos”: porque ele me pareceu mais seguro e não me apavorou. E me deu mais segurança, que eu acho que é isso, exatamente, que o paciente procura quando procura um profissional (...) Eu estava entregando a minha saúde, a minha vida, né, pro médico, que é o bem mais importante que eu tinha (José). Respeitar a decisão do paciente quando ele decide ser acompanhado por dois especialistas, simultaneamente, também, deve ser uma postura do médico que o acompanha, o que não significa que o vínculo entre médico e paciente termine, mesmo nos casos em que um outro profissional participe do tratamento. Segundo Silva (2001), “é relevante que o médico demonstre senso de compromisso com o paciente e que se empenhe em cuidar dele” (p. 31). Tal confiança ocorreu no relacionamento entre Antônio e seu médico: aí, eu disse: “doutor, o seguinte: e se eu for fazer naquele hospital em São Paulo? Eu já conheço, eu já estive lá, anteriormente”. “Então, vamos fazer o seguinte: você vai fazer a cirurgia, lá, e eu vou fazer só o acompanhamento, aqui”. Aí, eu já marquei, lá, a consulta. A postura humanizada do especialista, bem como sua abordagem terapêutica diante das possíveis condutas a serem adotadas no tratamento do câncer, tem caráter decisivo na escolha do cirurgião pelo paciente. O médico deve ser, ao mesmo tempo, tecnicamente competente e humanamente acolhedor (Silva, 2001), pois, nesta situação, inicia-se, também, um forte vínculo entre médico e paciente: ele me disse a mesma coisa que os outros dois disseram. Agora, ele me disse de uma maneira diferente. Ele dizia que poderia acontecer a incontinência e que dependia, primeiro, em que estágio estava o tumor, a localização, né? (José). O médico explicou: “nós temos dois tratamentos pra fazer, aqui. Nós vamos fazer a radioterapia ou a cirurgia, mas, como você tem uma expectativa de vida maior, seria mais 84 recomendável que você faça a cirurgia. Se você fizer a radio ou a cirurgia, daqui a cinco anos, os tratamentos se equivalem, mas, daqui a dez anos, se você fizer a cirurgia, você vai estar bem mais seguro” (Antônio). As conversas com o médico para esclarecer os diversos passos do tratamento são consideradas, pelos pacientes, muito importantes, pois, dependendo da postura do médico, os pacientes podem encontrar segurança suficiente para dar início, o quanto antes, aos procedimentos médicos necessários, na medida em que o tempo pode ser um grande aliado no processo da cura: lá chegando, ele me explicou quais seriam os prós e quais seriam os contra, qual seria o ônus da cirurgia. E disse do problema da incontinência, o que seria a incontinência, a “história” da disfunção sexual e a “história” da ereção, que podia voltar e podia não voltar. Havia tratamento, que seria através de medicamentos: em última análise, uma prótese, mas o mais importante, naquela altura, dizia ele, era curar a vida (José). Portanto, a relação entre médico e paciente deve ser permeada de confiabilidade e de cumplicidade. O profissional que atende um público com tal demanda de sofrimento psíquico deve ter uma escuta cuidadosa e empática, ser congruente com o que pensa e sente por ele e aceitar seu paciente, assim, adotando uma postura ética humanizada (Moreira, 2007). Esta é uma das condições mais importantes do tratamento do câncer de próstata, como José comentou: de todos os pontos que nós abordamos, pra mim, o mais importante foi a abordagem do médico. Acho que, nesse instante, o médico é muito importante para o paciente. Às vezes, a postura de distanciamento do médico, considerada positiva pelo paciente por parecer objetividade, pode ser uma forma de o profissional se manter emocionalmente afastado do seu paciente (Mattheus-Simonton, 1990): eu confiei muito no médico. Foi meu genro que me indicou esse médico: ele é professor da Universidade, é preceptor 85 dos alunos da cadeira de urologia. Então, por esses referenciais, eu confiei nele, embora ele não seja homem de muita conversa: é bem objetivo, mas eu parti para confiar nele, e eu acredito que ele fez o melhor pra mim (Moisés). Destaco que o profissional da saúde é muito cobrado nestes casos, ou seja, tem que lidar com um paciente que enfrenta uma doença que requer tratamento cirúrgico, muitas vezes, com a incerteza de cura e a possibilidade de algumas complicações pós-operatórias. Tal situação faz com que o paciente passe a exigir muito dele, buscando confiança, clareza das informações e objetividade nos procedimentos, além de um tratamento humanizado: então, o médico que me acompanhava disse o seguinte: “rapaz, tu não vai morrer disso, não! Tu vai morrer de outra coisa. Cuida do coração, de outra coisa, porque, à medida que você envelhece, a virulência do câncer se torna menor; porque, à medida que a testosterona vai sumindo, vai sumindo, também, a possibilidade de desenvolvimento do câncer, mas, de qualquer forma, o pessoal continua morrendo disso (Pedro). Questionamentos dos pacientes sobre as possíveis complicações cirúrgicas sempre têm lugar especial nas consultas, sejam pré-operatórias, sejam pósoperatórias. São conversas, principalmente, sobre a disfunção sexual, pois as informações prévias sempre assustam os homens que precisam realizar a retirada total da próstata, mas nem sempre ocorrem de forma adequada, desencadeando ansiedade e insegurança no paciente. Neste sentido, Morais (1997) afirma que a existência de um diálogo aberto em tal espaço, ou seja, um diálogo sem fronteiras, sem omissões entre os atores, não se torna possível em decorrência de vários fatores mencionados - falta de tempo dos profissionais, diferenças de linguagem entre médicos e pacientes (p. 137-138). Tal diálogo é difícil, em alguns casos, devido à inexperiência ou à inabilidade do médico de tratar de problemas que têm forte relação com a subjetividade do paciente. José descreveu assim sua conversa com o médico: 86 perguntou se eu conhecia quais seriam as conseqüências e começou a dizer que, em 80% dos casos, acontecia a impotência e a incontinência, e que ele dizia aquilo para mim para que ele, depois, não fosse cobrado de alguma coisa, mas eu achei, realmente, não sei, se um excesso de sinceridade ou uma falta de cuidado com o paciente. O que me pareceu, naquele momento, é que o médico estava me dizendo é que a função dele, ele cumpriria, que seria fazer a cirurgia, mas que, pelo resultado, ele não se responsabilizava. A apreensão da subjetividade do paciente com câncer de próstata não é fácil, pois exige do profissional de saúde uma capacidade de observação, repleta de sensibilidade e de empatia: até que, quando eu fui mostrar (o exame) ao médico, e o médico, de maneira muito objetiva, muito clara, disse que eu estava com um problema, um “problemão” e que tínhamos que cuidar do problema, agora, ou seja, tratar da cirurgia (Moisés). Assim, como afirma Silva (2001) “o médico é o guia, a bússola do paciente” (p. 15). Sua postura pode influenciar, diretamente, a esperança e a capacidade de auto-ajuda do paciente. A confiança depositada pelo paciente no médico assume proporções significativas no tratamento do câncer de próstata. Portanto, a discussão desta categoria gerou um alerta aos profissionais da saúde no que se refere à forma como são abordados a doença e os procedimentos adotados no tratamento. A formação dos profissionais de saúde deveria proporcionar maiores conhecimentos acerca da psicologia, para suprir sua dificuldade de lidar com a subjetividade do paciente e com seu sofrimento psíquico. 5.2.4 O enfrentamento da doença A postura de enfrentamento, conhecida como coping, diante do diagnóstico de câncer, é considerada um passo importante para o tratamento, pois possibilita 87 maiores condições para a sua cura, já que pode decidir o futuro do paciente. Segundo Servan-Schreiber (2001), é preciso aprender a lutar contra o câncer e, para tanto, é preciso aprender, também, a nutrir a vida dentro de si mesmo. González-Rey (2004) destaca a relação entre a forma de enfrentar um evento com as suas conseqüências sobre a saúde humana. Quando o evento é uma doença, outros sintomas podem se manifestar, associados a ela. Enfrentar a doença e lançar mão dos modernos recursos para debelá-la é a opção mais escolhida de enfrentamento, até porque o objetivo principal dos pacientes é preservar a sua vida: eu acreditava que ia ficar bom (Antônio). Foi o que decidiu José, após receber o diagnóstico de câncer de próstata: com uma perspectiva otimista, resolveu reagir e enfrentar o desafio de seguir sua vida com saúde, ao lado de suas filhas e da mulher: a idéia que eu tive era uma só: eu sabia que estava com uma doença grave e que tinha que partir para definir isso, tentar a cura, se possível. E, em seguida já marquei uma passagem para São Paulo, porque meu médico era em São Paulo. Na direção oposta, uma postura sempre negativa, sem expectativa de cura, foi constantemente adotada por Pedro, paciente que ainda realiza tratamento do câncer de próstata. Mesmo tendo realizado sua cirurgia de retirada total da próstata, há mais de 2 anos, suas taxas de PSA vem se normalizando há apenas 3 meses, ou seja, ele continua enfrentando a doença. González-Rey (2004) afirma que pacientes que assumem atitudes pessimistas apresentam função imune mais baixa, tornando-se mais vulneráveis a doenças. O desespero é marcante na fala de Pedro, expressando, claramente, terem se esgotados todos os seus recursos psicológicos: eu desejei ter morrido na cirurgia (...) O médico tentou minimizar, alegando que a cirurgia tinha evoluído e, hoje, o 88 percentual dos homens impotentes, depois da cirurgia, era bem menor, mas eu não acreditei, como continuo não acreditando porque, praticamente, todas as pessoas que fazem a cirurgia radical de próstata ficam impotentes. Segundo Coelho (2001), do ponto de vista psicológico, “não é a dor que a doença traz que incomoda, é algo mais subjetivo: é a dor de saber-se doente, de perder a condição de sadio” (p. 70). A forma como o paciente lida com sua vida e com sua morte é bastante particular. É em razão de seu comportamento e de sua capacidade de enfrentamento que podemos perceber o impacto e as implicações do câncer na vida das pessoas: Depois, eu comecei a pensar mais positivamente porque acho que é o seguinte: como dizia a estatística que 80% dos casos ou até 90% dos casos era curado, eu me coloquei entre os 90% e não me coloquei entre os 10%. E, como o terceiro médico me disse que há um percentual de ocorrência de impotência e de incontinência, eu me coloquei, exatamente, no sentido oposto (José). Morais (1997) afirma que “o câncer e a morte provocam e extraem do ser humano os mais recônditos sentimentos, desarmonizam e/ou paralisam os movimentos e funções, transformam o estado de humor e possibilitam outras reflexões” (p. 16). É o que a fala de Moisés evidencia: a gente não vê o sonho de uma criança; a gente não vê um alvorecer,; um pôr do sol; a gente não vê, não ouve uma palavra de uma criança; tantas e tantas vezes, eu não ouvi os meus filhos. E, de repente, a gente se apercebe o quanto perdeu tempo na vida, o quanto desperdiçou. Então, eu acho que essa doença me fez morrer um pouco, mas me fez nascer de novo. Deve-se destacar a importância do enfrentamento do câncer para a reabilitação e a ressignificação da vida do paciente. Sua autovalorização, ou seja, sua autoestima pode influenciar no processo de enfrentamento da doença, bem como, também, no significado que fatos externos adquirem para ele (González-Rey, 2004). Assim, Moisés utilizou a doença para reconstruir sua vida, que assumiu significados, até então, não percebidos por ele, antes da doença: 89 eu reconheço isso e essa realidade que se instalou em mim me fez, assim, dar uma guinada totalmente. Aquele homem que foi para mesa de cirurgia, ele morreu, ali, na mesa de cirurgia, e nasceu um novo homem, um novo olhar sobre a vida, uma nova perspectiva da vida, que me permite ver as coisas mais simples que estão ao nosso redor. Portanto, as transformações decorrentes do câncer podem despertar uma nova postura de vida do paciente, a partir de seu enfrentamento, como ServanSchreiber (2007) destaca, em sua biografia: “me dei conta de que a doença me fazia experimentar pela primeira vez uma espécie de nova identidade, não menos desprovida de vantagens” (p. 70). As complicações pós-prostatectomia radical são esperadas, pois os pacientes, temporariamente, se encontram incapazes de controlar sua urina e sua função erétil. A incontinência é uma das complicações da prostatectomia radical que gera consideráveis implicações psíquicas para o paciente, mas cada um reage de forma diferenciada com relação a ela, valendo a pena ressaltar que é temporária: podia ocorrer comigo, como podia ocorrer com outras pessoas, e, na verdade, a questão da incontinência, eu acho que estou superando. Acho que vou superar, não tenho dúvida quanto a isso. E, na verdade, eu não estou preocupado, hoje, com a “história” da incontinência porque eu sei que vou curar. Penso mais na possibilidade de recuperar a impotência (José). Outra importante preocupação do paciente em relação à doença é, na verdade, a sua recidiva. Os procedimentos usados para dar continuidade ao combate ao câncer de próstata são a quimioterapia e a radioterapia, que, normalmente, são consideradas tratamentos complementares ao tratamento cirúrgico, mas, também, podem ser realizadas antes da cirurgia. Sua aplicação significa que as células cancerígenas ainda estão presentes no organismo e seus impactos psíquico e físico podem agravar o caso, como mostram as palavras de 90 José, que foi esclarecido pelo seu médico sobre tais procedimentos, e de Pedro, que realizou mais de um ano de tratamento radioterápico pós-prostatectomia radical: no caso da quimioterapia, ele não aconselhava porque não dava bons resultados. Ele dizia que 70% dos casos em que se usava a quimioterapia, em menos de 10 anos, havia retorno e, nos casos em que era aplicado o procedimento radical, a prostatectomia, o índice de retorno era bem menor, era de 30% (José). Mas a verdade é que a radioterapia é uma “caça sem endereço”: visa localizar, extinguir o foco, qualquer que tenha de células cancerosas, mas você não tem o “endereço”, não sabe onde elas estão. É tanto que eles procuram, sempre, fazer do assoalho pélvico, se é recente (Pedro). Outra consideração significativa acerca desta categoria é a crença na cura como estratégia usada para combater, não apenas a doença, mas, também, o medo de morrer, provando que a postura de otimismo pode fazer parte desse momento tão doloroso: a certeza, eu tirei, primeiro, da confiança que o médico me passou, e, depois, da perspectiva que eu tinha de, ao invés de me colocar do lado negativo, do percentual negativo, eu fui para o lado otimista. Por que podia acontecer com 20% e não podia acontecer comigo? Por que eu vou ter que me incluir entre os 80% que têm incontinência e impotência a vida inteira? E isso me deu muita força, e, a partir daí, eu passei a trabalhar mais esse lado, de esperar pelo melhor e não pelo pior. É muito mais fácil (José). A postura do médico pode ter forte influência na atitude positiva do paciente, gerando maior possibilidade de sucesso no tratamento: isso me faz lembrar uma história que, em uma determinada ocasião, um poeta francês passou em uma praça em Paris, e avistou um mendigo com um chapéu na calçada e uma tábua escrita: “ajude-me! Sou um pobre cego!” Ele passou, de manhã; voltou à tarde, e tava, lá, o moço no mesmo lugar, sem nada no chapéu. Aí, ele pegou a plaqueta, mudou os 91 dizeres e saiu. Duas horas depois, ele retornou. Aí, ele voltou e tava, lá, o mendigo com o chapeuzinho, com várias moedas dentro. Ele não fez nada: só fez mudar a frase, onde estava escrito “ajude-me! Sou um pobre cego”, e colocou “é primavera em Paris e eu não posso ver”! Quer dizer: a simples forma de abordar o assunto modifica a realidade das coisas (José). Assim, ressalto que o paciente busca, no profissional de saúde, alguém com habilidades cirúrgicas e humanas, ou seja, com postura profissional segura e, ao mesmo tempo, empática com o paciente: portanto, eu acho o médico, numa ocasião dessa, muito importante porque, como eu disse pra você, o segundo médico me deixou desamparado, completamente desamparado: só no terceiro que eu senti segurança. E, se o terceiro não tivesse me dado confiança, eu teria, talvez, procurado um quarto, um quinto, um sexto, até eu conseguir alguém em que eu visse mais que um médico, um amigo interessado em me ajudar (José). O paciente, ao submeter-se a tratamento de câncer de próstata, tem a expectativa de que o tratamento oferecido pelo seu médico seja transparente em todos seus aspectos, inclusive com relação aos procedimentos médicos e a seus termos técnicos, discutindo com ele a evolução da doença e do tratamento, tanto em suas implicações físicas e psíquicas, quanto sociais: dependia, também, do organismo do paciente, da idade do paciente, e que, acima de tudo, dependia da experiência do médico porque ele dizia que a incontinência acontecia, normalmente, em função do estágio do tumor, onde ele era dissecado, os tecidos, e daria mais trabalho, mas ele achava que, com a minha idade, tinham outros tratamentos que podiam ser aplicados (...) Há fatores positivos e não só fatores negativos numa circunstância dessa (José). Assim, concordo com Gianini (2007), que afirma que o diagnóstico precoce do câncer de próstata, somado às modificações no estilo de vida do paciente e aos recursos avançados no tratamento do câncer de próstata, pode torná-lo uma doença prevenida ou, pelo menos, mantida sob controle, permitindo que o 92 paciente tenha, ainda, muitos anos com qualidade de vida. É nesta perspectiva que a fala de Moisés, abaixo, se destaca: eu estou esperando, agora, uma evolução natural do póscirúrgico, o organismo, ver se essa incontinência é eliminada de vez. Aí, espero que as outras funções orgânicas, também, voltem e eu possa ter qualidade de vida. E, aí, a vida continua. O câncer de próstata faz os pacientes ressignificarem alguns valores de suas vidas. A doença provoca “ansiedades reais, pois o futuro do paciente pode ser substancialmente alterado em virtude das seqüelas do tratamento” (Silva, 2001, p. 44). Pensando em suas possibilidades futuras, eles modificam suas expectativas em relação aos seus projetos. Moisés adota um comportamento inusitado, em que parece perceber a oportunidade de uma nova vida após a cirurgia, tomando a decisão de reconstruir os laços afetivos com sua família e, principalmente, consigo mesmo: eu estou me reconstruindo. A impressão que eu tenho é que é uma nova dimensão da vida. A gente vive brigando com a vida, vive competindo, lutando com tantas coisas que a gente chama de valores, tantos parâmetros da vida! Na verdade, a gente briga por coisas bobas, que não vale a pena. E, quando a gente se vê diante da morte, a gente faz uma reavaliação de tudo isso e vê que tudo é uma coisa idiota, estúpida (Moisés). Portanto, a maneira como uma doença crônica pode interferir na vida do paciente é influenciada, pelo tipo de doença, pela psicodinâmica familiar, bem como pelas suas condições sociais e financeiras (Angerami-Camon, 2001). O enfrentamento da doença mostrou-se positivo, para a maioria dos entrevistados, como mostra a fala acima. Apenas um deles, Pedro, demonstra, muito desespero e descrença com relação à doença, ao tratamento e à cura, sendo, justamente ele, o único a não incluir a família no seu processo de adoecimento e de tratamento. Destaco que tal paciente ainda não conseguiu debelar o seu câncer, tendo concluído as sessões de radioterapia recentemente. 93 5.2.5 E o papel de macho como fica? Segundo Boris (2002), atualmente vem ocorrendo uma modificação no padrão de comportamento masculino, fazendo com que este homem exponha sua subjetividade com maior espontaneidade, sem medo ou culpa. Contudo tal mudança ainda se apresenta bastante confusa, principalmente, no que diz respeito ao papel de “macho”. Boris aponta a ocorrência de uma “crise da condição e da subjetividade masculinas, que estaria sendo gerada pelas progressivas mudanças socioculturais, forçando o homem de hoje a reavaliar a percepção de sua condição de macho” (p. 60). Entretanto, a sociedade contemporânea, ainda, exige uma postura forte e imbatível do homem, gerando, no momento de enfrentamento de uma doença grave, um grande receio de decepcionar, não apenas a sua parceira, mas a sua família, a si mesmo e a própria sociedade. Nas entrevistas, os pacientes puderam se mostrar tal como são, expressando seus sentimentos a este respeito, em palavras, gestos e mesmo em seus silêncios, quando, por alguns instantes, interrompiam a fala para poder prosseguir seus depoimentos. Destaco o questionamento de José com relação ao seu papel como homem e provedor do seu lar, ou seja, como ele se percebe e é percebido pela sociedade: como seria minha vida a partir daí? Qual seria minha função como ser humano, como homem? E me veio a idéia de que pelo que eu tinha entendido, poderia acontecer comigo, daqui pra frente, um estado de mutilação em termos de reprodução, sexualidade, em razão da incontinência, que eu sabia, também, que podia ocorrer. Conforme Mattheus-Simonton (1990), “o homem que tem um modelo do tipo ‘machão’ ficará com muito medo ao pensar no câncer solapando suas forças e assustado demais para revelar seu medo a outra pessoa” (p. 86). Neste caso, medo, insegurança e ansiedade são emoções que não fluem, e que, muitas vezes, ficam restritas a “quatro paredes”, mas puderam encontrar espaço em nossas 94 entrevistas: o medo de falhar no papel de provedor da família, a insegurança com relação ao seu futuro e ao de sua família foram discutidos por nós. Em alguns casos, trata-se do primeiro contato com morte ou, até mesmo, a primeira doença grave em suas vidas. A preocupação mais evidente, nas entrevistas, é a família. Os pacientes se emocionaram ao falar dela de uma forma, muitas vezes, ainda não permitida por eles mesmos. Foi, sem dúvida, um dos momentos mais emocionantes desta pesquisa esperar que José, extremamente emocionado, após uma breve pausa, pudesse se recuperar para dar continuidade à sua fala. Amatuzzi (2008) afirma que “silêncio pré-verbal que mobiliza e dá vida à fala é identificado como o sentimento” (p. 24). O depoimento deste paciente estampa, com nitidez, o silêncio anterior à fala, envolvida de muita emoção: o sentimento foi, exatamente, esse: o da perda que representaria isso, não pra mim, mas pra minha família, pra minhas filhas, pra minha esposa. Eu confesso à senhora que foi, nesse momento, que eu chorei, pela primeira vez! (José). Assim, considero tal emoção, expressa pelo paciente, uma demonstração do rigor que nossa cultura impõe ao homem, e imitando-o na sua experiência emocional. Porém, creio que tal concepção pode ser transformada. É nesta perspectiva que Boris (2002) considera que alguns homens já reconsideram seus papéis socioculturais, principalmente junto à sua família. A maioria dos pacientes que se submeteu à prostatectomia radical já têm filhos adultos, mas alguns têm filhos ainda pequenos, geralmente, fruto de um segundo casamento, o que faz aumentar a preocupação com relação ao seu papel de provedor do lar e de protetor dos filhos. É, exatamente, o caso de Moisés: eu queria, ao menos, ver minhas filhas ficarem adultas porque, até lá, elas vão estar em condições de se defender da vida, de enfrentar melhor a vida. 95 Segundo Servan-Schreiber (2007), os homens estão mais habituados a proteger os outros do que a receber proteção. Não apenas a preocupação consigo mesmos envolve suas falas, mas, também, a preocupação com a sua dependência e o trabalho que poderão causar à sua família, pois precisam de cuidados especiais, por um determinado período, o que gera sofrimento psíquico: eu sou muito preocupado com a dependência. A dependência física e psíquica é terrível. A dependência física é você não poder andar, não poder correr, não poder fazer exercício, não poder usar seu corpo, normalmente, como poderia usar. Aí, vem a dependência psicológica: você acha que é um “peso”, que vai dar trabalho, vai criar problema para os outros (...) Não tem muita razão para estar vivo, principalmente, porque não há esperança (Pedro). No tratamento preventivo do câncer de próstata, o exame de toque retal é um das circunstâncias incômodas mais lembradas pelos entrevistados, pois agride sua masculinidade, tão cuidadosamente preservada. Outro momento bastante lembrado como gerador de mal-estar é a fisioterapia do assoalho pélvico, que, também, faz uso da via anal para reabilitar a incontinência urinária pós-operatória. Na maioria dos casos, tais métodos de avaliação e de tratamento são motivo de sofrimento psíquico para os pacientes. Porém, tal sofrimento é superado pelos benefícios proporcionados: os aspectos positivos da fisioterapia é que você pode apressar a cura ou adiantar o resultado que você obteria, esperando, sem fazer nenhum tratamento. Ele vai acelerar o resultado que se espera ser alcançado. E o negativo, eu não sei. Poderia abordar, agora, por exemplo, a “história” da masculinidade, mas, já, eu, que venho fazendo o acompanhamento de próstata, há dez anos, seria o toque (José). Assim, destaco que a percepção dos homens acerca de seu papel de “macho” ainda interfere, significativamente, na relação do paciente com a doença e com seu respectivo tratamento, pois é agente geradora de angústia e de muita ansiedade, desde a fase de diagnóstico até o pós-operatório. 96 5.2.6 A sexualidade pós-prostatectomia radical A sexualidade, um dos assuntos abordados nas entrevistas, não foi explorado espontaneamente apenas por um dos participantes da pesquisa. Cada um demonstrou valores diferenciados com relação a tal tema, variando de uma postura de aceitação, à de acomodação, não sendo descartada, também, a possibilidade de negação do problema. Para Segal (1994), o homem permanece com o encargo de ter uma excelente performance sexual, confundindo masculinidade com desempenho sexual. O impacto maior do tratamento do câncer de próstata ainda está relacionado à sua sexualidade e ao seu papel de macho em nossa sociedade, interferindo, também, em sua auto-estima, como destacam as falas destes pacientes: olha, é o seguinte: eu acho que, talvez, o maior impacto que causa no homem, nessa “história” do câncer de próstata, é a sensação de impotência (José). Então, isso tudo causa um impacto muito grande. Tira, às vezes, o entusiasmo de viver. Mexe muito com o desejo de viver, principalmente, alguém como eu, que, ao longo da vida, gostou sempre de mulheres, dessa coisa e tal. Mexe muito. Ao longo da vida, eu acho que a força que mais impulsiona o homem a trabalhar é o sexo: inclusive, os animais todos. O sexo tem um peso fortíssimo: você trabalha, luta porque você quer conquistar a “fêmea” (Pedro). Para José, a sexualidade não era considerada o ponto mais importante da sua recuperação, pois estava mais preocupado em recuperar a continência urinária do que a função erétil: se você começa a sentir essa possibilidade, você começa a se sentir meio homem, uma pessoa mutilada, uma pessoa inútil. Esse, talvez, seja o impacto maior para o homem. Mas, por outro lado, se você pensar nessa possibilidade, eu acho que você associa, talvez, até psicologicamente, à possibilidade de uma cura efetiva. Por isso, eu continuo apostando que esse problema será superado, tranqüilamente. E, se eu não superá-lo, volto a dizer, não 97 tenho a menor possibilidade de recorrer a um método artificial, como a prótese. Entretanto, destaco que, mesmo falando, tranqüilamente, sobre a disfunção erétil, o mesmo paciente não usa diretamente, os termos impotência ou disfunção erétil, sempre incluindo a expressão “história da”, antes deles. Muitas vezes, o que é verbalizado pelo paciente não manifesta, claramente, o que ele pretende significar, naquele instante, o que pode ser percebido pelo profissional de saúde (AngeramiCamon, 2001). agora, a “história” da impotência, como disse o médico é mais demorada, ele disse que há casos, por exemplo, que leva dois anos, e que depois de dois anos, dificilmente, você tem ainda recuperação. Há pacientes, por exemplo, que usam a medicação, usam a segunda, não tem efeito, usam o injetável; pára e retorna, normalmente. Quer dizer: porque cada organismo é um organismo (...) E a “história” da impotência, pra mim, é um problema perfeitamente superável (José). Antônio foi o único entrevistado que não abordou a sua sexualidade espontaneamente, porém, quando perguntei se ele mantinha uma vida sexual ativa, respondeu que não, mas que acreditava que ficaria bem. O paciente parece buscar um distanciamento dos seus sentimentos como meio de controle sobre suas experiências positivas e negativas (Segal, 1994), como ocorreu neste caso: o desejo de continuar vivenciando plenamente sua sexualidade foi afastado do seu dia a dia e de sua parceira, pois sequer conversam sobre o assunto. Após o término da entrevista, conversei com ele e lhe perguntei se tinha interesse em procurar um especialista em acompanhamento psicoterapêutico para casais, ao quê ele demonstrou interesse. Vale a pena ressaltar que este paciente completou um ano da prostatectomia radical e sua segunda mulher é muito mais jovem do que ele: esse problema da ereção não normalizou, mas eu acho que, com o tempo, vai voltar ao normal, né? 98 Crenças e mitos exercem efeito profundo na resposta sexual dos pacientes e modelam o seu humor e a sua ansiedade (Naccarato & Perchon, 2004). Assim, é evidente a dificuldade de Antônio de aceitar o problema da disfunção erétil e de falar sobre ela. Aconteceu, exatamente, o oposto com Pedro, pois, ao falar sobre os impactos do tratamento do câncer de próstata sobre sua sexualidade, expressou, minuciosamente, suas queixas e a significação que atribuiu ao momento: eu sempre dei importância muito grande ao sexo: sexo é, talvez, a força mais importante a me mover ao longo da vida. O diagnóstico do câncer de próstata e precisar operar foi, realmente, um choque muito grande (Pedro). Mais uma vez, a fala de Pedro se destaca da dos demais entrevistados, pois ele enfrenta o tratamento do câncer de próstata, fazendo uso de medicamentos que, também, interferem na sua sexualidade, diminuindo o desejo sexual e a capacidade de ereção, o que agrava, mais ainda, seu quadro depressivo: você pode ter algum início de “ressurreição”, depois de uns seis meses, oito meses, mas, se tiver um tratamento complementar, “mata de vez” (se referindo à função erétil). Quando eu falo de tratamento complementar, eu tô falando da quimioterapia, que, normalmente, é feita com o “Casodex”, que é a bicalamida, eu acho, um hormônio feminino que, quimicamente, castra o homem. E a radioterapia complementar, quando é feita, também, prejudica uma possível ressurreição da potência sexual. Então, isso, realmente, tem um impacto muito grande na vida da gente (...) Eu fiquei assexuado, eu não disse à senhora! Fiquei assexuado. Houve um período, entre o tratamento da radioterapia e a cirurgia, em que eu cheguei a ter algumas ereções e alguns contatos plenos (...) É: piorou, a radioterapia complicou, piorou. Depois disso, eu tive um período de desinteresse, de apatia total nessa área. Sentir desejo e não ser capaz de ter ou de manter a ereção faz com que estes homens se sintam ainda mais frustrados com relação à sua masculinidade, pois os tratamentos hormonais, necessários em casos em que o câncer persiste, alteram 99 o desejo e diminuem seu sofrimento psíquico, pelo menos, no que se refere ao desempenho sexual: a “bicalamida” tem uma característica diferente, eu imagino: ela afasta o desejo, ela tira o desejo. E, se você não sente o desejo, se você não sente a necessidade, você sofre menos, né? (Pedro). Ellsworth et al. (2003) consideram necessário, no tratamento do câncer de próstata, que o paciente, juntamente com sua parceira, redirecionem seu relacionamento sexual. Adaptação às perdas, seja de relacionamento, seja da função sexual, se faz necessária, em alguns casos: até mesmo porque você tem pessoas que você quer bem, com quem você sempre se ajustou muito bem, nesta área, e você tem que aceitar e tem que entender que vai ter que perder essas pessoas (Pedro). Segundo Srougi (2003), estratégias para contornar a disfunção sexual são adotadas por alguns pacientes, sempre iniciando pela opção mais simples, que é a medicação via oral, ou seja, comprimidos que podem auxiliar a obtenção da ereção, no período pós-operatório tardio, normalmente quando o paciente já recuperou, totalmente, ou em parcela significativa, a continência urinária. Outra opção de tratamento para a disfunção erétil é a inserção de próteses penianas, mas ela nem sempre é recebida com naturalidade pelos pacientes, já que se trata de uma maneira mecânica de conseguir ter relações sexuais. Entretanto, nem todos os pacientes elegem a sexualidade ou o tratamento para a disfunção erétil como essenciais, como podemos observar nas falas a seguir: eu não sei se eu faria ou não, uma prótese. Não sei porque eu acho o seguinte: eu sei que seria uma fantasia muito grande. Eu conto como a “história” do silicone (de mama). Seria muito artificial, e, fazer, eu não faço. Eu acredito que a medicação resolve. E, além do mais, seria uma questão, até, de vencer a “história” do desejo, né, que é perfeitamente contornável, e do apego (José). 100 Os recursos existem: existe a prótese, que é a solução pra muita gente, mas não é aplicado em todos os casos. Eu lembro de uma consulta que eu fiz e, no meu caso, não seria aplicado: pelo menos, no momento, não seria aplicado. Então, tem que se usar os recursos, que são carícia, aconchego, beijo, essa coisa que, se for feita com muito equilíbrio, que se for feita, eu diria, com sabedoria, leva a satisfação ao parceiro, mas você não pode se satisfazer, pelo menos, se percebe isso, mas a gente se gratifica um pouco. É possível você ter um orgasmo, assim, mas é trabalhoso: não é fácil (Pedro). A recuperação da função sexual pós-prostatectomia radical é um processo lento e gradativo, que ocorre, geralmente, em um período que varia, aproximadamente, de 3 meses a um ano após a cirurgia. A fala de Moisés, que se encontra, há, apenas, 42 dias, no pós-operatório, manifesta uma discreta preocupação com sua vida sexual, mas, ao mesmo tempo, que afirma a possibilidade de usar outras estratégias, como medicamentos, considera, também, sua aceitação para enfrentar possíveis complicações sexuais, ou seja, a DE pósprostatectomia radical: eu estou numa idade relativamente jovem. Opções viáveis, por enquanto, seriam os medicamentos orais ou injetáveis. Prótese, eu acredito que eu não aceitaria, não. Se, realmente, houver uma disfunção permanente, eu aceitarei, com naturalidade. Já falei com minha esposa sobre isso, também (Moisés). Mesmo diante de tantas dificuldades na esfera sexual, Pedro continua com forte vontade de viver sua sexualidade, mantendo momentos de intimidade que não trazem satisfação direta a ele, mas que, ao satisfazer sua parceira, provocam sua satisfação como macho: posteriormente, surgiu uma pessoa com quem a gente se relacionou e tem, mas no sentido de satisfazer a parceira: aí, você usa a mão, usa a língua, usa o que você puder usar, o que permite a realização, pra satisfazer a parceira... E a gente termina ficando satisfeito em conseguir com que a parceira se realize (Pedro). 101 Ao contrário do que eu imaginava, este homem busca reconstruir sua sexualidade, pois sua função erétil já apresentava as alterações próprias da sua idade, 77 anos, mas mantém um relacionamento estável com sua parceira, com a qual desenvolveu cumplicidade e companheirismo (Angerami-Camon, 2001). Assim, a sexualidade tem se mostrado um desafio, não apenas físico, mas, também, emocional e social para tal paciente submetido à prostatectomia radical. Os pacientes que ainda não apresentaram alguma resposta da função erétil demonstram certa resistência a adotar estratégias de enfrentamento às complicações cirúrgicas. Porém, Pedro demonstrou que é possível uma significativa adaptação à disfunção, inclusive, comprovando a possibilidade de sua satisfação sexual e de sua parceira, mesmo não tendo condição de obter ereção. Portanto, é importante destacar que o paciente prostatectomizado pode ter uma vida sexual prazerosa, desde que aceite suas restrições e que se disponha a explorar outras formas de vivenciar sua sexualidade (Rosita Santos, 2006). 5.2.7 A infantilização e a feminilização do uso de fraldas e de protetores íntimos A incontinência urinária obriga o paciente a usar protetores (fraldas geriátricas) nos primeiros dias de pós-operatório. Em seguida, tal recurso pode dar lugar a um protetor de menor volume (absorvente geriátrico), pois, quando ele apresenta perdas insignificantes de urina (gotas), pode fazer uso de um absorvente masculino ou, às vezes, feminino, para, mais adiante, dispensar o uso de qualquer protetor higiênico. Com a utilização da fralda e dos absorventes, uma possível sensação de infantilização e/ou de feminilização pode ocorrer ao paciente, pois, ao retirar a sonda, colocada após a cirurgia e que, em média, permanece durante 10 dias, ele não tem controle voluntário sobre sua micção. Quando abordaram sobre o tema, a expressão “sensação terrível” foi utilizada por dois entrevistados, buscando descrever o impacto psicológico gerado pela 102 utilização de um recurso próprio às crianças, em seus primeiros anos de vida, e às mulheres: é uma sensação terrível, né? (Antônio). Ah, é uma sensação terrível! É a sensação de você estar começando tudo de novo: você volta à infância, completamente desamparado, desamparado completamente, né? E, ao mesmo tempo que tem quem cuide de você, você não quer que cuide: fugindo da proteção dos outros, né? E, ao mesmo tempo, tendo a necessidade de alguma coisa que te ampare e você não sabe o que é. É uma incerteza muito grande (José). Em suas poucas palavras, pude perceber a intensidade da experiência destes pacientes em relação ao uso de protetores íntimos. No caso de José, tal uso gerou os sentimentos de desamparo e de conflito, evitando o cuidado de terceiros e mesmo da família. A expressão “sensação terrível” se repete com Antônio, sendo tudo o que ele conseguiu expressar sobre o tema, pois ele faz uso diário dos protetores, há, aproximadamente, um ano. Considerando sua dificuldade de expressar sentimentos, posso avaliar o impacto psíquico do uso de fraldas sobre ele. Boris (2002) considera que ser homem, hoje, significa lidar com a grande diversidade das manifestações possíveis da masculinidade e das relações sociais de gênero” (p. 402). A dificuldade deste homem de expressar sua subjetividade, considerando tal atitude “coisa de mulher” (p.402) pode ser uma dessas manifestações. Desta forma, ter que usar protetores íntimos gerou nos pacientes uma aproximação simbólica do gênero feminino, tão evitada por eles. Assim, o uso das fraldas e de protetores íntimos gerou falas de intensa sensação de constrangimento e de fragilidade. O fato de precisarem fazer uso de protetores íntimos e de fraldas, associadas às mulheres e às crianças pequenas, fez com que os pacientes prostatectomizados vivenciassem uma sensação de incapacidade física, bem como, também, demonstrem estar emocionalmente abalados: 103 realmente, a sonda, aquela bolsa coletora, forma um quadro um pouco, assim, ligeiramente depressivo, mas eu superei bem essa fase e tirei a sonda com 8 dias, e, depois, passei para o fraldão: aí, já é outra etapa (Moisés). Por outro lado, tal experiência, plena de incertezas e que requer adaptações físicas e emocionais, pode iniciar um novo ciclo na vida desses homens, que lançam mão de diversos recursos para superar os desafios da doença e do tratamento do câncer de próstata: no segundo dia, terceiro dia, você troca uma, duas, três, quatro fraldas. Aí, aos poucos, vai se normalizando. Hoje, por exemplo, no início, eu usava uma fralda maior, mas, aí, já estou usando aquele “dry man” 10 (José). Imagina você: eu, um homem com a idade que eu tenho, tenho uma profissão que não existe muito oportunidade pra poesia, acostumado a lidar com a violência, lidar com bandidos, acostumado a comandar homens e, de repente, eu, usando fraldas, numa situação de total impotência, total fragilidade! Aquilo me abalou também, porque foi um lado frágil ao qual eu não estava acostumado a ter vivência com ele. E, ainda, estou usando (...) O fraldão, em si, é muito pelo estereótipo, pelo estigma que ele traz (Moisés). Ávila (2002) considera que “o universo simbólico que o paciente constrói inclui a totalidade de suas vivências e, neste processo, este universo simbólico constrói, por sua vez, o caráter e a qualidade dessas vivências” (p. 42). A vivência simbólica da infantilização e da feminilização, devido ao uso das fraldas e dos protetores íntimos faz emergir, no paciente, sentimentos de fragilidade e de incapacidade, que podem, inclusive, desencadear um episódio depressivo. O temor da dependência das fraldas ou dos protetores íntimos para a incontinência temporária pós-prostatectomia radical passa a ser, então, um dos fantasmas do enfrentamento do câncer de próstata. 10 Modelo de absorvente masculino. 104 CONSIDERAÇÕES FINAIS Por meio da compreensão das experiências subjetivas dos pacientes submetidos a tratamento de câncer de próstata, pude perceber que eles desenvolvem maior contato com sua condição humana, pois se aproximam, cada vez mais, das suas emoções, até então, evitadas, ou mesmo, reprimidas. Às vezes, o que não é verbalizado pelo paciente expressa mais e melhor o que ele evita reconhecer, o que pode ser percebido pelo profissional da saúde atento à subjetividade de seus pacientes. Na entrevistas, os participantes da pesquisa alternaram momentos em que expressavam desespero, vivido durante algumas fases do tratamento, com momentos de otimismo e de aceitação. Cada um deles demonstrou, de forma peculiar, lançar mão de mecanismos de defesa na busca de equilibrar suas dores emocionais e físicas, durante a vivência das adversidades do câncer de próstata. O momento do diagnóstico foi considerado, por todos os participantes desta pesquisa, o momento mais estressante e significativo da sua vida. A abordagem do médico, a decisão sobre o tratamento, a possibilidade de complicações cirúrgicas e o medo de morrer foram temas expressados nas entrevistas, sendo vividos, sobretudo, como momentos combinados de medo e de esperança. Normalmente, os pacientes recebem o diagnóstico do câncer de próstata através de laudo laboratorial da biópsia, sendo, portanto, um dos recursos a serem revistos pelos profissionais da saúde, pois os pacientes relataram, imediatamente após a leitura do diagnóstico, experimentar sintomas que representavam uma somatização das fortes emoções vividas com o impacto do descobrimento do câncer. Junto ao choque do diagnóstico, algumas angústias foram sentidas e registradas pelos pacientes. A perda do papel de provedor da família é uma das suas principais preocupações, pois se sentem responsáveis, financeira e moralmente, por suas famílias, principalmente quando têm filhos pequenos, percebendo a fragilização do seu papel masculino perante a sociedade. 105 A relação médico-paciente é intensamente permeada de fortes significados, não apenas técnico-científicos, mas, também, humanos, principalmente, no que se refere à confiança, à empatia e à sensibilidade, características que os pacientes esperam encontrar no médico. A fala dos entrevistados demonstrou que a postura humanizada do médico é uma das condições para este ser escolhido como o profissional que irá acompanhar seu tratamento. A habilidade e competência técnica, também, são destacadas por eles como importantes na decisão desta relação. A família assume, durante o tratamento do câncer de próstata, um papel importante de apoio, principalmente, se há abertura e disponibilidade para o diálogo e a solidariedade. A mulher, geralmente, desempenha uma função ímpar ao lado do paciente, oferecendo-lhe apoio incondicional, mesmo diante da possibilidade de mudanças em sua vida sexual, decorrentes dos efeitos colaterais do tratamento do câncer de próstata. Alguns filhos, quando adultos, transformamse nos melhores amigos dos pacientes, não apenas servindo-lhes de companhia, mas, também, de suporte emocional, enquanto os filhos ainda pequenos se tornam forte motivação para a cura. Cada paciente enfrenta o câncer de forma bastante individualizada, o que pode ter diversas implicações, desde a relação com sua família, até o sentido de sua vida. Reações adversas, como raiva, medo e ansiedade, são bastante compreensíveis, tratando-se de uma doença que ameaça sua vida. Tal doença, ainda envolta em estigmas e muitas incertezas, faz com que o paciente passe por um choque, percebendo sua fragilidade como ser humano, mas, muitas vezes, logo em seguida, precisa reagir com determinação para seguir em busca da cura. A sexualidade dos pacientes submetidos à prostatectomia radical costuma ficar fortemente abalada, física e emocionalmente, pois sua auto-estima tem relação íntima com o exercício de sua função sexual, proporcionando prazer e intimidade. No caso particular do tratamento do câncer de próstata, faz-se 106 necessário o uso de algumas estratégias para manter ou para recuperar a atividade sexual com suas parceiras. Dentre as complicações da prostatectomia radical, a disfunção erétil é a principal preocupação do paciente, e, em segundo lugar, a incontinência urinária. Como os pacientes que participaram desta pesquisa já vinham se tratando, da incontinência urinária sob meus cuidados profissionais em fisioterapia do assoalho pélvico, mostraram-se bastante otimistas em relação à recuperação de seu controle urinário, pois se percebiam capazes de certa continência, mesmo ainda fazendo uso de algum tipo de protetor íntimo para conter as discretas perdas de urina. Com relação à disfunção erétil, apenas um dos participantes da pesquisa a considerou a complicação mais grave da prostatectomia radical em relação à sua qualidade de vida. Percebo, portanto, uma grande facilidade de adaptação dos pacientes à reconstrução da sua sexualidade, após o tratamento do câncer de próstata. No que diz respeito às implicações físicas e psíquicas do tratamento do câncer de próstata, percebo-as como um momento de possível ressignificação de suas expectativas e metas de vida desses homens. Muitos passaram a revalorizar a família e seus relacionamentos afetivos-sexuais, segundo a percepção deles mesmos. Considero, ainda, que o persistente estigma do câncer vem assumindo contornos mais suaves, porém continua gerando forte impacto psíquico sobre quem recebe seu diagnóstico. Mesmo muitos sabendo que o câncer de próstata, quando diagnosticado em sua fase inicial, tem, como prognóstico, um risco mínimo de levar tais pacientes a óbito, a perspectiva negativa deles sempre predomina, especialmente, na fase inicial do tratamento ou quando do diagnóstico, embora podendo se modificar, gradativamente, no transcurso do tratamento, pois depende da atitude de enfrentamento dos pacientes. A discussão deste tema está longe de ser esgotada, até mesmo porque envolve muita complexidade, o que não me permite estabelecer um ponto final ou um fechamento definitivo dos questionamentos aqui abordados. Pelo contrário, esta pesquisa teve o objetivo, apenas, de iniciar uma discussão acerca da 107 subjetividade do paciente em tratamento de câncer de próstata, buscando que os profissionais de saúde proporcionem aos seus pacientes a condição de manifestar seu sofrimento psíquico, diante do enfrentamento da doença e do tratamento, oferecendo-lhes adequado suporte, não apenas físico, mas, também, psicológico. Desta forma, as diversas categorias que emergiram deste estudo indicam quão imperativo é trabalhar interdisciplinarmente no tratamento do câncer de próstata, uma vez que, são muitas e necessárias as possibilidades de atuação dos profissionais de saúde nas diferentes áreas envolvidas. Neste sentido, por exemplo, a psicologia vem fazendo uma tentativa de inserir uma nova dimensão de interdisciplinaridade e de investir, com veemência, na humanização dos atendimentos realizados na área da saúde. Assim, espero que este estudo possa favorecer com que os profissionais da saúde compreendam a relevância de desempenhar seu papel, não apenas com habilidade técnica e amplos conhecimentos científicos, mas, adotando, também, um olhar acolhedor, humanizado e solidário diante do sofrimento psíquico dos seus pacientes. 108 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Amatuzzi, Mauro Martins (2008). Por uma psicologia humana. 2 ed. Campinas: Alínea. Angerami-Camon, Valdemar Augusto (2001). O fenômeno da fé: a construção da subjetividade. In: Angerami-Camon, Valdemar Augusto (org.). Pssicossomática e a psicologia da dor. São Paulo: Pioneira Thompson Learning, p. 11-31. Angerami-Camon, Valdemar Augusto (2002). O ressignificado da prática clínica e suas implicações na realidade da saúde. In: Angerami-Camon, V. A. (org.). Psicologia da saúde: um novo significado para a prática clínica. São Paulo: Pioneira Thompson Learning, p. 7-21. Ávila, Lazlo A. (2002). 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JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: O universo do câncer masculino ainda é pouco explorado nos aspectos subjetivos, portanto, o interesse do estudo se deve à necessidade de conhecer mais o significado da vivência do paciente em tratamento do câncer de próstata, buscando colaborar com a melhora da qualidade de vida dos pacientes que realizaram a cirurgia de retirada da próstata, bem como daqueles que ainda irão realizá-la. Esclarecendo as dúvidas mais comuns, não apenas da área médica, mas principalmente da área psicológica. Como por exemplo, os mitos e estereótipos acerca da disfunção sexual e da incontinência após prostatectomia (cirurgia de retirada da próstata). 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: As coletas dos dados serão realizadas através de encontros individuais com horários pré-estabelecidos, nos quais os sujeitos serão convidados a falar dos eventos mais significativos de suas vidas, se utilizando uma pergunta disparadora: “Quais foram os eventos mais significativos de sua vida?”. Estas falas serão gravadas, posteriormente, serão dispostas em categorias, destacando-se as falas mais significativas, relacionadas ao câncer de próstata, para em seguida serem analisadas e discutidas. 4. RISCOS ESPERADOS: a pesquisa não oferece riscos ao sujeito. 5. QUESTÕES ÉTICAS: este termo de consentimento livre e esclarecido foi elaborado de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Os sujeitos terão acesso às informações e liberdade para desistirem a qualquer momento de participar da pesquisa e serão assegurados quanto ao anonimato e ao sigilo das informações coletadas no decorrer do estudo, o qual será utilizado em favor da ciência e do bem estar dos sujeitos envolvidos. 6. DADOS DO PESQUISADOR(A): Nome: Sandra Rebouças Macêdo Rua Antônio Augusto 1271 sala 405 e-mail: [email protected] Telefones: 9987 90 35 122 7. DADOS DO SUJEITO DA PESQUISA Nome: Endereço: telefone e-mail: 8. CONSENTIMENTO PÓS-ESCLARECIDO Eu, ________________________________________________, após entendimento do que foi esclarecido, concordo em participar do presente protocolo de pesquisa. Fortaleza, ____ de __________________de 2008. ________________________________ ______________________________ Sujeito da pesquisa Pesquisador (a) 123 Anexo 2 - Pergunta Disparadora Quais foram os eventos mais significativos de sua vida? 124 Anexo 3- Parecer do Comitê de Ética