Câncer de Próstata André Miotto 4º ano médico – UNIFESP-EPM Liga Urológica Acadêmica (LUA) O câncer de próstata é hoje o câncer mais comum no sexo masculino e ainda uma importante causa de morte no mundo. A mortalidade pelo câncer de próstata vem caindo, mas para que o tratamento tenha maior sucesso, algumas medidas são necessárias, entre elas a detecção precoce da doença. Este texto explicita dúvidas e dados sobre neoplasia de próstata e cita métodos diagnósticos e formas de tratamento para tal. A Próstata A próstata (ou glândula prostática) está presente apenas nos indivíduos do sexo masculino, tendo como funções a produção do fluido prostático, que representa grande quantidade em volume do sêmen ejaculado; e auxiliar na expulsão do sêmen na ejaculação, através da contração de sua musculatura. A próstata está localizada na região pélvica, entre o reto (parte final do intestino) e a bexiga. A uretra, canal único por onde passam urina e sêmen, passa por dentro da próstata; o que, como veremos, tem muita importância no diagnóstico de doenças da próstata. Uma próstata normal tem tamanho menor que uma maçã pequena e um peso de 20g. É esperado que a partir dos 40 anos de idade a próstata apresente um crescimento benignol, o que chamamos de hiperplasia benigna de próstata. E exatamente nessa faixa etária podem começar a se desenvolver as neoplasias prostáticas. O Câncer Acredita-se que todo homem nasce programado para ter câncer da próstata, pois todos carregam em seu código genético os chamados "proto-oncogenes", que dão a ordem para uma célula normal se transformar em outra maligna. Isto só não ocorre indiscriminadamente porque a função dos proto-oncogenes é antagonizada por outro grupo de genes protetores, chamados de "supressores". A sua incidência aumenta com a idade, atingindo quase 50% dos indivíduos com 80 anos; este tumor, provavelmente, não poupará nenhum homem que viver até 100 anos. Além disso, este câncer pode se desenvolver de maneira silenciosa, ou seja, sem causar nenhum sintoma ao paciente até chegar a um estágio muito avançado. Como os tumores de próstata crescem muito lentamente, até serem detectados podem já estar num processo chamado metástase, no qual o câncer se espalha pelo corpo e se instala em alguns locais preferidos, como os gânglios linfáticos e os ossos; e, mais tardiamente, fígado, pulmões e adrenal. Por este motivo, a detecção precoce dos tumores, mesmo que não estejam causando nenhum incômodo ao paciente é fundamental para um tratamento de maior eficácia. Existem alguns tipos de câncer de próstata, porém o mais comum é denominado adenocarcinoma, representando 95% de todas as neoplasias da próstata. Homens com antecedentes familiares de câncer da próstata têm maior chance de desenvolver a doença. Os riscos aumentam de 2,2 vezes quando um parente de 1° grau (pai ou irmão) é acometido pelo problema, de 4,9 vezes quando dois parentes de 1° grau são portadores do tumor e de 10,9 vezes quando três parentes de 1° grau têm a doença. Nos casos hereditários, o câncer se manifesta mais precocemente, muitas vezes antes dos 50 anos. Além da herança familiar, outros fatores de risco a serem considerados são os fatores alimentares e ambientais, que explicam porque há grande diferença de incidência entre países e culturas diferentes; e a raça, onde a raça negra mostra-se mais acometida por este câncer. Sintomas A maioria dos cânceres de próstata é detectada em homens sem sintomas, nos quais foram detectados nódulos, ou áreas endurecidas na próstata, quando feito o exame de toque retal. Mais raramente os pacientes podem apresentar sinais de retenção urinária (bexiga palpável), ou sintomas neurológicos, decorrentes de metástases em coluna vertebral, com compressão da medula espinhal. Sintomas vagos de obstrução urinária são geralmente devido à hiperplasia benigna da próstata, que ocorre na mesma faixa etária. No entanto, cânceres com tamanho grande podem causar também sintomas obstrutivos, como diminuição do jato urinário, diminuição do volume urinário, acordar para urinar durante a noite e sensação de esvaziamento incompleto da bexiga. Diagnóstico Os homens sabem que o toque digital é importante para o diagnóstico do câncer da próstata. Nestes casos, a glândula torna-se irregular e de consistência endurecida. Um alegado preconceito cultural tenta explicar porque a maioria dos latinos resiste ao exame, mas todos os que já submeteram ao toque aceitam repetí-lo sem restrição. Em outras palavras, o problema talvez não seja cultural ou psicológico mas apenas o medo infundado de possível dor. Além do toque, dois outros exames são utilizados para identificar o câncer: dosagens do antígeno prostático específico no sangue (conhecido como PSA) e o exame de ultra-sonografia. O PSA é uma proteína produzida exclusivamente pela próstata, que se eleva de maneira significativa nos casos de câncer, mas também aumenta em pacientes com infecção ou com crescimento benigno exagerado da glândula. Por isto, elevações do PSA sempre exigem uma atenção médica, mas não indicam necessariamente a presença de câncer na próstata. O exame de ultrassom feito através do ânus permite visualizar as chamadas áreas hipoecóicas dentro da próstata, suspeitas de lesões cancerosas. Este exame, falha em 60% a 70% dos pacientes, deixando de evidenciar tumores que estão presentes ou demonstrando áreas hipoecóicas que não são malignas. Por isto, o ultrassom é utilizado pelos urologistas em alguns casos de dúvida clínica e, principalmente, para orientar a realização de biópsias da próstata. O método de maior custo-benefício e, portanto, o mais utilizado é a combinação entre o toque retal e o PSA. O próximo passo é a biópsia, que consiste na retirada de uma amostra de tecido de várias partes da próstata para confirmar a doença e saber em que estádio ela se encontra. A biópsia confirma ou descarta o diagnóstico de câncer. A seguir, se confirmada a presença de neoplasia, inicia-se o estadiamento, onde deve-se procurar metástases pelo corpo, ou seja, verificar se o câncer se espalhou. Seguidos estes passos, podemos planejar as formas de tratamento. Tratamento Ao planejar o tratamento do câncer da próstata, os médicos levam principalmente em consideração a extensão da doença. Dependendo deste e de outros fatores, um forma de tratamento é indicada. Abaixo listam-se alguns tipos de tratamento e suas indicações. Observação - opção para homens de idade avançada, com câncer confinado na próstata e de crescimento lento. Através de exames periódicos de PSA o médico irá acompanhar a evolução do caso. Cirurgia – a prostatectomia radical (retirada de toda a próstata) é indicada para os tumores malignos iniciais restritos à próstata, que ainda não tenham infiltrado a cápsula prostática (camada externa) ou órgãos adjacentes como: bexiga, uretra, musculatura perineal, reto e vesículas seminais. Radioterapia - expõe áreas cancerosas à pequenas quantidades de radiação, exterminando o câncer. É utilizada mesmo em casos iniciais em que o paciente não tenha condições clínicas mínimas de ser operado ou tenha negado a cirurgia Terapia Hormonal - utiliza medicamentos ou cirurgia para bloquear a produção de hormônios masculinos e desacelerar o crescimento do câncer. No caso de doença metastática, a discussão já é um pouco mais complicada. Embora o prognóstico dos casos de tumor disseminado pelo organismo seja mais reservado, cerca de 35% destes pacientes permanecem vivos e bem após cinco anos, muitos sobrevivendo mais de 10 anos. A existência de focos de tumor ou metástases em outros órgãos torna inútil a tentativa de se erradicar o tumor prostático inicial através de cirurgia ou de radioterapia. Como o crescimento das células malignas da próstata é estimulado pela testosterona (o hormônio masculino produzido pelos testículos), qualquer medida que reduza os níveis desta substância no sangue, faz retroceder o câncer, tanto a lesão inicial da próstata como os focos de metástases. Na prática, recorre-se à castração (extração de ambos os testículos) ou à administração de hormônios chamados anti-androgênicos, que antagonizam a testosterona. A eficiência clínica destas diversas alternativas é mais ou menos parecida, o que as diferenciam são os seus efeitos colaterais. O mais incômodo deles é a impotência sexual, que surge em quase todos os casos e é difícil de ser contornada, já que o paciente perde as ereções e, também, o desejo sexual. Conclusões Apesar de sua alta freqüência, o câncer de próstata pode ser tratado com grande sucesso, desde que seja diagnosticado precocemente. Para tal, é fundamental que todos dos homens acima de 45 anos realizem anualmente o toque retal e o exame de PSA. Desta forma, poderemos controlar de forma eficaz essa doença tão prevalente.