A RTI GO JANEIRO | 2015 Eletroforese de Proteínas O plasma humano contém mais de ��� proteínas identificáveis. Entre essas, estão presentes proteínas carreadoras, anticorpos, enzimas, inibidores enzimáticos, fatores da coagulação e proteínas com outras funções. A avaliação das concentrações das proteínas séricas e as proporções das diferentes frações destas, têm considerável valor no diagnóstico em desordens agudas e crônicas. A eletroforese de proteínas é um método laboratorial simples para separar as proteínas presentes no plasma humano em frações, de acordo com suas respectivas cargas elétricas. Trata-se do teste de triagem mais utilizado para investigação de anormalidades proteicas presentes no sangue. É de grande importância no diagnóstico diferencial de algumas enfermidades, na avaliação da gravidade de alterações clínicas hematológicas e no diagnóstico de processos inflamatórios, gamopatias e disproteinemias. As diversas imunoglobulinas normais presentes no soro diferem-se pela sua estrutura e carga elétrica. Por esta razão, quando elas são submetidas à eletroforese elas formam uma zona de base larga, difusa, simétrica e sem deformações visíveis na sua forma. A interpretação clínica da eletroforese é baseada nas variações das frações e na detecção de paraproteínas (proteína imunologicamente homogênea). O soro contém uma variedade de proteínas diferentes que são separadas pela eletroforese em cinco ou seis frações (de acordo com o método utilizado pelo laboratório). Essas frações também conhecidas como “zonas” ou “regiões” são chamadas de: albumina, alfa �, alfa �, beta (que pode ser separada em beta � e beta �), e gama. As imunoglobulinas policlonais (padrão normal) são encontradas principalmente na região de gama. As proteínas monoclonais são produzidas por um clone de células plasmáticas e, portanto, todas as moléculas são idênticas e possuem a mesma carga elétrica. É por isso que na eletroforese, uma proteína monoclonal irá migrar como um pico estreito, que aparece mais freqüentemente na região de gama, porém, às vezes, podem estar presentes na beta � ou beta �, ou mesmo na região de alfa �, embora este último seja muito raro. Taxas elevadas de proteínas plasmáticas ocorrem em função da hemoconcentração ou do aumento da produção de globulinas, geralmente associado a processos inflamatórios. A hemoconcentração pode ser fisiológica, em casos de concentração esplênica e policitemia vera. Descreve-se a seguir as principais proteínas (frações) constituintes das bandas eletroforéticas, a interpretação de suas alterações e um gráfico ilustrativo: Albumina Normalmente, é a proteína mais abundante no plasma, sendo sua função principal a manutenção da pressão osmótica coloidal (pressão gerada pelas proteínas no plasma sanguíneo). É sintetizada pelas células do parênquima hepático e apresenta meia vida de �� a �� dias. A hipoalbuminemia (diminuição da concentração da albumina no plasma sanguíneo) é uma condição altamente inespecífica e acompanha inúmeras doenças. Na eletroforese, pode se apresentar com um pico menor, significando queda em sua concentração sérica. Esse fato está relacionado a fatores comuns a diversas situações, como síntese prejudicada (cirrose hepática e hepatite viral), aumento do catabolismo (infecção bacteriana grave, neoplasias malignas, insuficiência cardíaca *Este material tem caráter meramente informativo. Não deve ser utilizado para realizar autodiagnóstico ou automedicação. Em caso de dúvidas, consulte seu médico. www.humbertoabrao.com.br /Laboratório Humberto Abrão A RTI GO JANEIRO | 2015 Eletroforese de Proteínas congestiva, doenças inflamatórias e infecciosas crônicas), ingestão proteica inadequada (desnutrição proteica) e perdas (por meio dos glomérulos renais e intestinais). Os menores níveis de albumina sérica estão presentes na síndrome nefrótica ou acompanhando as enteropatias perdedoras de proteínas. Na gravidez, seus níveis diminuem até a oitava semana e retornam ao normal oito semanas após o parto. Em quadros agudos infecciosos severos e traumas, a diminuição da albumina se inicia com �� a �� horas, apresentando queda máxima em � dias. Aumento de intensidade da inter-zona albumina / alfa �-globulina ocorre em casos de alcoolismo crônico e gravidez. A diminuição dessa pode ocorrer em quadros de cirrose, hepatites e inflamações. Alfa � - globulinas Esta banda é principalmente composta por alfa �-antitripsina. O restante (��%) se deve à alfa �-glicoproteína ácida, alfa-fetoproteína e certas proteínas carreadoras. Aumentos desta zona são encontrados nas seguintes situações: reações de fase aguda, cirrose, disproteinemia familiar idiopática, doença de Hodgkin, carcinomatose metastática, úlcera péptica, gravidez, enteropatia perdedora de proteína, estresse, colite ulcerativa, uso de estrógenos, corticoides e anti-inflamatórios. A diminuição dessa banda ocorre na hepatite viral aguda, má-absorção, enfisema pulmonar, síndrome nefrótica e no jejum prolongado. A alfa �-antitripsina, sintetizada no fígado, é o mais importante inibidor da elastase leucocitária no processo de fagocitose dos polimorfonucleados. A eletroforese geralmente detecta apenas os indivíduos homozigóticos com deficiência de alfa �-antitripsina, sendo usualmente normal em heterozigóticos. Sua deficiência está associada a quadro de enfisema pulmonar precoce. A alfa �-glicoproteína ácida contém alta percentagem de carboidratos, sendo produzida pelas células do parênquima hepático. Aumenta na reação inflamatória de fase aguda, especialmente nas inflamações gastrointestinais e neoplasias malignas. Alfa � – globulinas A banda alfa � é constituída por um grupo variado de proteínas: haptoglobina, alfa �-macroglobulina e ceruloplasmina. Da mesma forma que as alfa �-globulinas, as proteínas pertencentes a essa banda também se comportam como proteínas de fase aguda, aumentando sua concentração na presença de infecção, em processos inflamatórios e imunes. Esta área eletroforética raramente está suprimida, uma vez que a diminuição de um componente geralmente é mascarada pelos demais. Encontra-se aumentada nas seguintes condições: febre reumática, senilidade, analbuminemia, hipoalbuminemia, glomerulonefrite, cirrose, diabetes, disproteinemia familiar idiopática, doença de Hodgkin, infecção aguda, meningite, carcinomatose metastática, infarto agudo do miocárdio, mixedema, síndrome nefrótica, osteomielite, úlcera péptica, pneumonia, poliarterite nodosa, enteropatia perdedora de proteína, artrite reumatoide, sarcoidose, estresse, colite ulcerativa e uso de corticoides. A haptoglobina é uma glicoproteína de síntese hepática que se liga, irreversivelmente à hemoglobina após sua hemólise, formando um complexo grande o suficiente para reduzir a perda de hemoglobina e a lesão renal. É um reator fraco e tardio da reação de fase aguda. A alfa �-macroglobulina é o principal inibidor das proteinases plasmáticas. A ceruloplasmina contém ��% do cobre sérico, podendo estar aumentada nas reações de fase aguda. Níveis diminuídos ocorrem na doença de Wilson, desnutrição, síndrome nefrótica e enteropatia perdedora de proteínas. Beta - globulinas Conforme exposto anteriormente, esta zona é melhor avaliada de forma separada: beta � (transferrina, hemopexina) e beta � (Complemento C�). A Transferrina é a principal proteína de transporte do ferro. Nos casos de anemia ferropriva seus níveis estão elevados, embora esteja menos saturada. Níveis baixos são encontrados na reação de fase aguda, neoplasias, desnutrição proteico-calórica e na perda de proteínas (síndrome nefrótica, enteropatias perdedoras). O complemento C� é um reator de fase aguda fraco e tardio. Também se eleva na obstrução biliar. Podem ocorrer deficiências genéticas, embora as deficiências adquiridas, secundárias ao seu consumo sejam mais comuns: doenças infecciosas e inflamatórias agudas e crônicas. Diminuição da inter-zona alfa � / beta � pode ocorrer na diabetes, processos inflamatórios e pancreatite. *Este material tem caráter meramente informativo. Não deve ser utilizado para realizar autodiagnóstico ou automedicação. Em caso de dúvidas, consulte seu médico. www.humbertoabrao.com.br /Laboratório Humberto Abrão A RTI GO JANEIRO | 2015 Eletroforese de Proteínas Gamaglobulinas Esta zona é predominantemente composta de imunoglobulinas do tipo IgG. As imunoglobulinas IgA, IgM, IgD e IgE se sobrepõem à junção beta-gama. Diminuição dessa banda ocorre na hipogamaglobulinemia e agamaglobulinemia, que podem ser primárias ou secundárias (uso de corticoides, síndrome nefrótica, infecções, leucemia linfocítica crônica, linfomas, mieloma múltiplo de cadeia leve). O aumento dos níveis de imunoglobulinas pode ocorrer de forma policlonal, monoclonal ou oligoclonal. Picos policlonais decorrem da produção heterogênea de anticorpos que produzem elevação difusa das gamaglobulinas na resposta a quadros infecciosos e inflamatórios crônicos, doenças hepáticas e neoplasias. Bandas oligoclonais (dois ou mais picos monoclonais) estão presentes ocasionalmente na hepatite aguda fulminante, infecções virais crônicas, infecções bacterianas e imunodeficiências. Os picos monoclonais são resultados de uma única classe ou subclasse de imunoglobulinas produzidas por uma única linhagem de plasmócitos ou linfócitos B. O aumento das betaglobulinas representa perturbação do metabolismo dos lipídeos ou dificuldade na excreção biliar, verificados nas colestases. O aumento na taxa da betaglobulina é encontrado, geralmente, nos casos de anemia ferropriva, por aumento da síntese de transferrina, e a queda dessa fração pode ter valor prognóstico nos processos de evolução crônica. A fração gamaglobulina apresenta taxas aumentadas todas as vezes que se verificar reação inflamatória, imune ou infecciosa, lembrando que tal aumento se dá de forma policlonal. Há também o aumento dessa fração de forma monoclonal presente em doenças linfoproliferativas, tais como o mieloma múltiplo. A hipogamaglobulinemia é verificada em anomalias congênitas ou em processos patogênicos que trazem a destruição do setor linfóide. É de grande importância médica conhecer e interpretar corretamente a eletroforese, uma vez que este exame facilita o diagnóstico de diversas doenças, possui baixo custo e é de fácil procedimento técnico. Apesar de sua finalidade não ser identificar proteínas específicas (uma vez que cada fração representa um conjunto de diversas proteínas), a proposta é o fornecimento dos componentes principais de cada fração protéica para facilitar o raciocínio clínico e auxiliar no diagnóstico de doenças que possuem padrões eletroforéticos característicos. Dr. Guilherme Vieira Alves Vaz de Mello Departamento de Bioquímica Referências: BOSSUYT, X. M. G. False-negative results in detection of monoclonal proteins by capillary zone electrophoresis. A prospective study. Clin Chem. ����; ��: ����-�� BOTTINI, P. V. Testes laboratoriais para avaliação do componente monoclonal. Rev. Bras. Hematol. hemoter., v. ��, n.�, p. ��-��, ����. DURIE, B. G. M. Revisão concisa da doença e opções de tratamento: Mieloma múltiplo – câncer de medula óssea. International Myeloma Foundation Latin America. p. �-�, ����. Para se conseguir interpretar bem o resultado de uma eletroforese de proteínas, faz-se necessário conhecer o significado de cada banda das frações proteicas. Assim, a albumina sofre alteração quando há perturbação direta ou indireta na sua síntese, quando há consumo dessa proteína por diminuição da ingestão ou perda através de proteinúria ou via enteral. As frações alfaglobulinas apresentam-se com níveis aumentados em todos os processos inflamatórios, infecciosos e imunes. FALCÃO, R. P. DALMAZZO, L. F. F. O valor da imunofenotipagem para o diagnóstico do mieloma múltiplo e na avaliação da doença residual mínima. Ver. Bras. Hematol. hemoter., v. ��, n. �, p. �-�, ����. FERREIRA A.W.A. Sorologia: importância e parâmetros. In: Ferreira AW, Ávila SLM. Diagnóstico Laboratorial das principais doenças infecciosas e auto-imunes. � ed. ����. ���-��.�� ��. GUIMARAES R.X.G. Clínica e laboratório: interpretação clínica de provas laboratoriais. � ed. São Paulo: Sarvier; ����. p.���-��. MENEZES, F.L. Mieloma Múltiplo: a propósito de um caso raro de gamapatia biclonal IgD/lambda – Abordagem diagnóstica e atitudes terapêuticas. Rev Soc Port Méd Intern. ����; � (�):���-��. LARSON P.H. Serum proteins: diagnostic signifcance of electrophoretic patterns. Hum Pathol. ���� Nov; �(�):���-��. *Este material tem caráter meramente informativo. Não deve ser utilizado para realizar autodiagnóstico ou automedicação. Em caso de dúvidas, consulte seu médico. www.humbertoabrao.com.br /Laboratório Humberto Abrão