1. CAPÍTULO 2 A DRENAGEM MINEIRA 2.1 Introdução O problema de Drenagem Mineira Ácida (DMA) resultante de antigas minas de carvão é um dos principais legados ambientais deixados pela indústria económica (Sullivan e Yelton, 1988; Williams et al., 2002, López Pamo et al., 2002; Johnson e Hallberg, 2005). A drenagem mineira foi reconhecida como um problema ambiental a partir dos anos 50 e, por isso, tornou-se objecto de intensivas investigações desde os anos sessenta (Collon, 2003). Embora o termo “Drenagem Mineira Ácida” seja o mais utilizado na literatura, apenas uma pequena parte dos casos de águas contaminadas de mina tem pH inferior a 4,5. Muitas águas representam sérios problemas de contaminação devido a percentagens elevadas de metais tendo, no entanto, um pH entre 4,5 e 8,5 (Banks et al., 1997a e 1997b), o que corresponde a descargas com excesso de alcalinidade relativamente à acidez total. Tais águas são designadas como “net alkaline” (Hedin et al., 1994; Younger, 1995; Kirby e Cravotta III, 2005). Contrariamente, as águas cuja acidez total excede a alcalinidade total são designadas por “net acidic” (Hedin et al., 1994; Younger, 1995; Kirby e Cravotta III, 2005). Segundo Hedin et al. (1994) e Rose e Cravotta III (1998), podem-se distinguir e classificar dois grandes tipos de drenagens mineiras tendo em conta a acidez total dos seus efluentes: • Drenagem Mineira Ácida (DMA) quando a acidez total excede a alcalinidade total; 15 • Drenagem Mineira Neutra (DMN) quando a alcalinidade total iguala ou excede a acidez total. 2.2 Drenagem Mineira Ácida (DMA) Em ambientes naturais de águas subterrâneas, a concentração em minerais passíveis de sofrerem oxidação (i. e., pirite) é tão reduzida ou o acesso a espécies oxidantes (i. e., oxigénio) é tão diminuto que as reacções ácido-base (consumidoras de protões) dominam sobre as reacções de oxidação-redução (que podem gerar protões) (Banks, 2004; Chang, 2005). A abertura de minas subterrâneas permite uma rápida circulação de oxigénio em zonas profundas onde a presença de espécies redutores (sulfuretos) é elevada. Similarmente, a criação de escombreiras (locais onde são depositados os estéreis da mina) colocam os mesmos materiais profundos na presença de oxigénio e água. Assim, quer na mina, quer na escombreira, as reacções de oxidação-redução podem dominar sobre as reacções de ácido-base, resultando no processo de drenagem ácida (Younger et al., 2002; Banks, 2004). Apesar de a percentagem de sulfuretos polimetálicos, no total da massa geológica, ser mínima, aqueles têm um potencial enorme de criar uma significativa degradação ambiental que pode durar décadas ou mesmo séculos. 2.2.1 A origem da DMA A meteorização química dos sulfuretos polimetálicos dá-se através de uma série de reacções químicas interligadas. É ao longo destas reacções que os diferentes contaminantes vão sendo libertados, quer no interior da mina, quer na escombreira, para o ciclo hídrico, tornando-se móveis e, consequentemente, acessíveis como potenciais solutos tóxicos (Younger et al., 2002). A cinética de cada reacção é diferente e depende das condições que prevalecem no meio criando um complexo ciclo de reacções durante a oxidação da pirite. Um caso particular de como podem ocorrer estes processos encontra-se esquematizado na figura 2.1. 16 Figura 2.1 Diagrama simplificado ilustrando diferentes processos que podem ocorrer durante a oxidação da pirite (Banks, 2004 após Stumm e Morgan, 1981) A oxidação da pirite (FeS2) – principal causadora de drenagem mineira ácida é um processo complexo que pode ser descrito, de um modo simplificado, em quatro reacções principais. Na primeira reacção a pirite (FeS2) é oxidada pelo oxigénio (O2) (Eq. 2.1). Esta reacção é lenta; acontece, na presença ou não de bactérias, quando o pH é superior a 4,5 (Collon, 2003) e produz acidez livre (representado pelo protão H+). Por cada mole de pirite geram-se duas moles de protões. FeS 2 ( s ) + 72 O2 ( g ) + H 2 O → Fe 2+ (aq) + 2 SO42− (aq) + 2 H + (aq) (Eq. 2.1) A seguir, se a presença de oxigénio dissolvido é suficiente ou se as soluções podem ser oxigenadas pelo contacto com a atmosfera, o ferro ferroso (Fe2+) dissolvido é oxidado passando a ferro férrico (Fe3+), consumindo 1 mole de protões (H+) no processo (Eq. 2.2). Certas bactérias aumentam a velocidade de oxidação do Fe2+ a Fe3+. Esta reacção é dependente do pH uma vez que o Fe3+ para permanecer em solução necessita que o pH do meio seja inferior a 3,5 (Collon, 2003), senão precipita sob a forma de hidróxido. Fe 2+ (aq) + 14 O2 ( g ) + H + (aq) → Fe 3+ (aq) + 12 H 2 O (Eq. 2.2) Na etapa seguinte, a geração de protões (H+) pode aumentar bastante porque o ferro férrico produzido na equação 2.2 pode reagir: • com a água e formar precipitados de hidróxidos de ferro (Fe(OH)3), correntemente, chamados “ocre”, se o pH for superior a 3,5 (Fyson et al., 1993) (Eq. 2.3): 17 Fe 3+ (aq ) + 3H 2 O Fe(OH ) 3 ( s ) + 3H + (aq) (Eq. 2.3) Em condições de pH superiores a 3,5 poderá ocorrer ainda a co-precipitação de outros metais. As águas de mina, muitas vezes, atingem o equilíbrio de solubilidade com os minerais formados (Dold, 2002) uma vez que a reacção tipo (representada na equação 2.3 para o Fe3+) é reversível e relativamente rápida quer na precipitação quer na dissolução dos hidróxidos de ferro. • com a pirite (Eq.2.4) ou outros minerais, funcionando o Fe3+ como oxidante, produzindo mais acidez livre e ferro ferroso. Esta reacção processa-se muito mais rapidamente que a representada pela equação 2.1 e, por isso, é a maior responsável pelo aumento quer de protões (H+) quer de sulfato (SO42-). FeS 2 ( s ) + 14 Fe 3+ (aq) + 8 H 2O → 15 Fe 2+ (aq ) + 2 SO42− (aq ) + 16 H + (aq ) (Eq. 2.4) O ferro ferroso produzido, nesta reacção, pode ser re-oxidado se houver oxigénio disponível, perpetuando o ciclo representado pelas equações (Eq. 2.2 e Eq. 2.4). Estas reacções também são relevantes na dissolução da marcassite (FeS2) que tem exactamente a mesma composição da pirite, mas uma estrutura cristalográfica diferente. 2.2.2 Factores que controlam a velocidade de formação de DMA Vários factores influenciam e determinam a velocidade de formação de DMA através da oxidação da pirite, sendo a sua interacção bastante complexa. Está para além dos objectivos deste trabalho a sua descrição exaustiva e existindo publicações de excelente qualidade sobre este tema (Singer e Stumm, 1970; Wiersma e Rimstidt, 1984; McKibben e Barnes, 1986; Wehrli, 1990; Rimstidt e Newcombe, 1993; Strömberg e Banwart, 1994; Nordstrom e Southam, 1997; Rose e Cravotta III, 1998; Peiffer e Stubert, 1999; Holmes e Crundwell, 2000; Younger et al., 2002; Banks, 2004; Gleisner, 2005; etc.), apenas, se expõem os principais factores e algumas das suas características. De notar que, na maioria das vezes, cada factor não actua isolado mas em “conjunto” com os outros factores. 18 • Bactérias Actualmente, uma nova área de investigação, conhecida como Geomicrobiologia, tem vindo a demonstrar que há bactérias que utilizam a energia libertada nas reacções de oxidação-redução, que decorrem durante os processos geológicos, para o seu desenvolvimento (Banfield e Nealson, 1997; entre outros). A actividade microbiana actua como catalizadora na oxidação de ferro ferroso a ferro férrico através da reacção descrita pela equação 2.2. Estas bactérias tem uma acção catalisadora das reacções químicas que se desenrolam quer na superfície dos minerais, quer em solução, estando a ser estudadas há mais de 35 anos (Singer e Stumm, 1970). Os mesmos autores demonstraram que a presença destes microrganismos nas águas ácidas pode aumentar a velocidade de reacção de oxidação da pirite através do ferro férrico (Eq. 2.4) até um factor superior a 106. Nas águas mineiras ácidas, existem vários tipos de bactérias mas as mais comuns são as Chemolitotrophic acidophiles como a Acidithiobacillus ferrooxidans anteriormente chamadas de Thiobacillus Ferrobacillus (oxidantes de ferro e enxofre), Acidithiobacillus thiooxidans e Acidithiobacillus albertensis (oxidantes de enxofre) e a Leptospirillum ferrooxidans (oxidante de ferro) (Gleisner, 2005). • Efeito da área superficial da pirite e cristalografia Estudos de cinética indicam que a velocidade de geração de acidez é influenciada pela superfície específica, pelas características cristalográficas e pelas propriedades químicas da pirite (McKibben e Barnes, 1986). Nicholson (1994) e Rimstidt e Vaughan (2003) demonstraram que há uma relação linear entre a área da superfície mineral e a velocidade de oxidação da pirite que se traduz do seguinte modo: quanto mais pequeno é o grão, maior é a área superficial específica exposta e, por isso, maior é a velocidade de oxidação. Strömberg e Banwart (1999), ao investigarem escombreiras, concluíram que a fracção dos finos (<0,25 mm), presumivelmente, tem uma maior influência na velocidade de oxidação. 19 • Efeito do pH O pH controla as reacções hidrogeoquímicas associadas à interacção água/mineral influenciando a solubilidade e, consequentemente, a mobilidade dos iões metálicos como, por exemplo, do alumínio, do ferro e do zinco (Appelo e Postma, 1996; Stumm e Morgan, 1996; Younger et al., 2002; Banks, 2004); por conseguinte, o pH é considerado uma variável chave em todo este processo uma vez que a forma como os iões se distribuem em solução aquosa é dependente da especiação química. Quando o valor do pH se situa entre valores de 4 e 7, a velocidade de oxidação da pirite torna-se mais lenta (Rose e Cravotta III, 1998). • Efeito do oxigénio A presença de oxigénio atmosférico é imprescindível para a oxidação directa da pirite (Eq. 2.1) e para a regeneração do Fe3+ (Eq. 2.2) (Rose e Cravotta III, 1998; Younger et al., 2002). Embora a oxidação da pirite seja mais rápida através do Fe3+ (Eq. 2.4) do que pela presença do oxigénio (Eq. 2.1), a ausência deste não permitirá a oxidação do ferro (Eq. 2.2) deixando de existir uma contínua fonte de Fe3+ para reagir com a pirite (Eq. 2.4) (Younger et al., 2002). Assim, se o oxigénio atmosférico e as águas ricas em oxigénio ou em Fe3+ não entrassem em contacto com material piritoso, a oxidação da pirite poderia ser inibida e quase nenhum ácido seria gerado (Rose e Cravotta III, 1998). Contudo, a água saturada em oxigénio está continuamente a infiltrar-se através do solo nos aquíferos tornando-se uma fonte inesgotável de oxigénio, proporcionando a oxidação da pirite nas zonas não saturadas. • Efeito da temperatura No geral, a velocidade de formação de DMA aumenta com o aumento da temperatura (Rose e Cravotta III, 1998). Uma excepção a esta tendência é a taxa de oxidação do ferro por Acidithiobacillus ferrooxidans acima dos 35ºC. A variação da velocidade de uma reacção química com a temperatura segue a equação de Arrhenius (Eq. 2. 5) (Chang, 2005): − Ea k = Ae RT (Eq. 2. 5) 20 onde: k é a constante de velocidade de uma reacção, A é uma constante empírica que depende do sistema reaccional e, em princípio, é independente da temperatura, Ea é a energia de activação da reacção considerada, R é a constante dos gases perfeitos e T a temperatura absoluta. 2.2.3 Reacções secundárias A presença de outros sulfuretos polimetálicos durante o processo de meteorização (Banks et al., 1997a; Younger et al., 2002; Collon, 2003), embora não produza acidez livre (isto é, não liberta H+), pode libertar iões metálicos e sulfato para a solução através de processos de oxidação completa, como é o caso descrito pela equação tipo de libertação de metais (Eq. 2.6): MS ( s ) + O2 (aq ) → M 2+ + SO42− (Eq. 2.6) Entre os sulfuretos polimetálicos, destaca-se a arsenopirite (FeAsS), a pirrotite (Fe1xS), a esfarelite (ZnS), a galena (PbS), a milerite (NiS), a greenockite (CdS), a covelite (CuS) e a calcopirite (CuFeS2). As novas condições físico-químicas geradas pelas reacções de DMA originam circunstâncias favoráveis ao aparecimento de outras reacções, tais como, reacções de oxidação, de dissolução, de hidrólise, de precipitação e de recristalizações sucessivas. Estas irão produzir grande quantidade de minerais secundários (ou não) que, dependendo das condições de equilíbrio do meio, podem ou não produzir acidez livre (Dold, 2002; Collon, 2003). Entre estes minerais secundários, destaca-se a jarosite (KFe3(SO4)2(OH)6), a ramsbeckite ((Cu,Zn)15(SO4)4(OH)22•6(H2O)), a melanterite (FeSO4,7H2O), a schwertmannite (Fe16O16(OH)12(SO4)2), a copiapite (Fe5(SO4)6(OH)2•20H2O), a coquimbite (Fe2(SO4)3•9H2O), a goethite (FeOOH) e a alunite (KAl3(SO4)2(OH)6). Muitas vezes, a quantidade de água presente quando está a ocorrer a inundação da mina ou nos níveis não inundados não é suficientemente abundante para o transporte destes e de outros produtos de meteorização, ocorrendo a precipitação in situ do material particulado. Logo que haja uma subida do nível de água (através, por exemplo, das flutuações sazonais), estes compostos são dissolvidos e sendo os seus constituintes 21 transportados para fora do sistema, leva a um repentino aumento da toxicidade da água de circulação (Collon, 2003; Younger e Sapsford, 2004). 2.3 A Drenagem Mineira Neutra (DMN) Nem todas as águas de minas de carvão e metais são ácidas. Uma drenagem circum- -neutral ou alcalina pode ocorrer devido (Banks et al., 1997a; Rose e Cravotta III, 1998; Banks et al., 2002): • à baixa concentração de sulfuretos; • à presença de monossulfuretos em vez de pirite e marcassite; • ao grande tamanho de grão da pirite, limitando a taxa de oxidação; • à neutralização do ácido por carbonatos ou minerais de silicatos; • aos factores de engenharia: introdução de pó de cal para prevenção de explosões; introdução de grandes quantidades de cimento ou pó rocha durante os trabalhos de construção; • à neutralização do ácido por águas naturais com grande alcalinidade; • à circulação da água que não entra em contacto directo com os minerais de sulfuretos (devido a uma barreira impermeável); • ao facto do oxigénio não entrar em contacto directo com os minerais de sulfuretos ou devido à água que aflui à mina ser bastante redutora; Fala-se em Drenagem Mineira Neutra (DMN), sempre que tal acontece. 2.3.1 A neutralização da acidez livre É evidente, pelas reacções descritas em 2.2.1, que a infiltração de água durante os trabalhos mineiros provoca a meteorização de minerais redutores e a libertação de protões para o meio, originando a descida do pH. Todavia, existem outros minerais que podem consumir protões (H+) e ajudar a subir o pH à medida que são dissolvidos como é o caso dos carbonatos e dos silicatos. Estes podem existir em camadas de calcário ou dolomito, constituir o cimento ou a matriz num arenito ou xisto mas também estarem presentes sob a forma de filões na rocha (Rose e Cravotta III, 1998). A reacção geral de neutralização da acidez livre por carbonatos é representada na equação 2.7, onde a dissolução da calcite consome protões e liberta iões cálcio e hidrogeno22 carbonato. Por norma, esta reacção é suficientemente rápida para manter a descarga de água de mina em equilíbrio de solubilidade com os minerais que estiverem presentes (Younger et al., 2002). CaCO3 ( s ) + H + Ca 2+ + HCO3− (Eq. 2.7) A quantidade de calcite presente para neutralizar uma dada quantidade de efluentes ácidos depende do comportamento do CO2 durante a neutralização e do pH atingido (Rose e Cravotta III, 1998): • Se o pH é superior ou igual a 6,3 (isto é, HCO3- é a espécie principal de carbonato produzida) e o CO2 não poder ser libertado para a fase gasosa, então, a reacção de neutralização será (Eq. 2.8): FeS 2 + 4CaCO3 + 72.5 O2 + 72 H 2 O Fe(OH ) 3 + 2 SO42− + 4Ca 2+ + 4 HCO3− (Eq. 2.8) Nestas condições, são necessárias 4 moles de calcite para neutralizar uma mole de pirite. • Ao contrário, se todo o CO2 passar para a fase gasosa e/ou a DMA é apenas neutralizada perto de um pH igual a 5, a reacção de neutralização será (Eq. 2.9): FeS 2 + 2CaCO3 + 72.5 O2 + 32 H 2 O Fe(OH ) 3 + 2 SO42− + 2Ca 2+ + 2CO2 ( g ) (Eq. 2.9) Nesta reacção, apenas são necessárias 2 moles de calcite para neutralizar uma mole de pirite. Na prática, a quantidade de calcite necessária para a neutralização da DMA é um valor intermédio compreendido entre estes dois valores (Rose e Cravotta III, 1998; Collon, 2003). O hidrogenocarbonato, se estiver presente na água, também contribui para a neutralização de protões (Eq. 2.10) HCO3− + H + H 2 CO3 H 2 O + CO2 (Eq. 2.10) 23 A dissolução de siderite (Eq. 2.11) e de outros minerais carbonatados como a anquerite pode, também, inicialmente, consumir protões (Younger et al., 2002; Banks, 2004). FeCO3 ( s ) + H + Fe 2+ + HCO3− (Eq. 2.11) Contudo, segundo os mesmos autores, uma vez que há libertação de ferro ferroso este irá oxidar a ferro férrico e poderá dar-se uma reacção de hidrólise e haver nova libertação de protões (Eq. 2.12). Estes dados estão de acordo com os apresentados por Rose e Cravotta III (1998). Fe 2+ + 14 O2 + 52 H 2 O → Fe(OH ) 3 ( s ) + 2 H + (soma das reacções Eq 2.2 e Eq 2.3) (Eq. 2.12) A dissolução de aluminossilicatos é outro processo que consome H+ mas como a reacção é mais lenta do que no caso da calcite apenas é consumida uma pequena parte da acidez livre presente em solução. Entre os minerais que podem interactuar neste processo, destaca-se o feldspato potássico, a anortite, a albite, a biotite, a moscovite e a clorite (Appelo e Postma, 1996). A dissolução destes minerais é responsável pela maior parte de potássio, sódio, alumínio, magnésio dissolvido e por parte do cálcio. Embora o H+ seja consumido, o alumínio e o ferro são libertados por dissolução o que pode gerar acidez através de reacções de hidrólise (Rose e Cravotta III, 1998). Haque (1992) enumerou os principais minerais que possuem um poder tampão da acidez livre. Entre eles, destaca-se a calcite (CaCO3), a dolomite (CaMg(CO3)2), a magnesite (MgCO3), a viterite (BaCO3), a gibsite (Al(OH)3), a brucite (Mg(OH)2), a anquerite (Ca(Mg,Fe2+,Mn)(CO3)2) e a goethite (FeOOH), descrevendo para cada um deles um potencial de consumo de acidez livre (H+). 2.3.2 Reacções secundárias Na maior parte dos casos, o ião sulfato gerado pela oxidação da pirite permanece em solução, continuando a ser um bom indicador da quantidade de pirite oxidada (Rose e Cravotta III, 1998). Contudo, quando a calcite ou outros minerais ricos em cálcio são 24 abundantes no meio, o sulfato pode reagir com aqueles iões originando a precipitação de minerais sulfatados como o gesso (CaSO4•2H2O) (Eq. 2.13) (Collon, 2003). Ca 2+ + SO42− + 2 H 2 O → CaSO4 • 2 H 2 O (Eq. 2.13) Quando as soluções apresentam grandes concentrações de Fe, Al, Mg ou Na, pode observa-se igualmente a precipitação de melanterite (FeSO4•7H2O), epsomite (MgSO4•7H2O), jarosite (KFe3(SO4)2(OH)6), alunite (KAl3(SO4)2(OH)6) e de celestite (SrSO4) (Collon, 2003). A redução do ião sulfato também pode acontecer se o sulfato estiver em contacto com matéria orgânica (Rose e Cravotta III, 1998; Banks, 2004). Esta reacção é a responsável pelo cheiro a enxofre que se consegue distinguir em certas localidades. A diluição é outro importante factor que contribui para a diminuição da concentração de sulfato. A precipitação de outros minerais sulfatados pode, também, levar à diminuição da concentração do ião sulfato na água. As trocas iónicas são outro tipo de reacção que pode afectar a composição química de uma DMA (Eq. 2.14). Este tipo de reacção permite retirar algum ferro ferroso e consequentemente a acidez total da solução por adsorção numa fase sólida como, por exemplo, a esmectite (Rose e Cravotta III, 1998; Collon, 2003). Na 0.66 Al 4 Si7.34 Al 0.66 O20 (OH ) 4 + 0.33Fe 2+ ↔ Fe0.33 Al 4 Si7.34 Al 0.66 O20 (OH ) 4 + 0.66 Na + (Eq. 2.14) Uma vez que os minerais argilosos, tais como as esmectites e as vermiculites não são geralmente estáveis em soluções muito ácidas, tais reacções são provavelmente de importância menor até que as condições de pH menos extremas sejam alcançadas. 2.4 Características dos efluentes da drenagem mineira Os tipos de efluentes mineiros e suas características físico-químicas são muito variáveis na Terra pois vários factores influenciam a sua natureza: o local (dimensão, paragénese mineral, morfologia, etc.), as características hidrológicas (dimensão da bacia, taxas de infiltração, acesso e velocidade de circulação da água e oxigénio, etc.), condições climáticas (temperatura, pluviosidade, etc.), tipo de exploração, idade da descarga, etc. 25 Dentro do mesmo Couto Mineiro, verifica-se que as características físico-químicas das descargas mineiras se alteram de acordo com a interligação a: • níveis inundados da mina – a sua inundação serve para limitar o fornecimento de oxigénio e, por consequência, controlar a dissolução da pirite; • níveis não inundados da mina – uma vez que a presença de oxigénio é constante permitindo uma constante oxidação da pirite. Todavia, a oxidação contínua da pirite indica que existe um grande potencial para o seu esgotamento rápido (Lambert et al., 2004). • escombreiras da mina – neste caso, podem ser consideradas as mesma condições que no caso de níveis de mina não inundados. Segundo Rees et al. (2002) podem-se, ainda, distinguir mais dois tipos de descargas: • descargas de fonte desconhecida; • descargas de furos bombeados. A figura 2.2 representa esquematicamente um diagrama de trabalhos mineiros com as suas fontes de contaminação, possíveis receptores, fluxos de transporte e possíveis processos de atenuação. Figura 2. 2 Diagrama de trabalhos mineiros onde se observam fontes de contaminação, fluxo de transporte e zonas alvo de risco de contaminação em ambientes mineiros (adaptado de Younger et al., 2002) Os processos geoquímicos fundamentais associados às minas e escombreiras são considerados similares (Banks, 1997). Todavia, o pH final e as características químicas associadas à descarga de água vão ser controladas pela interacção entre: 26 • o acesso ao oxigénio e a sua difusão às fases reduzidas; • as taxas da oxidação de sulfuretos e a produção de acidez; • a disponibilidade de fases minerais básicas (carbonatos, silicatos e óxidos/hidróxidos); • a sua mistura com outras águas subterrâneas; A hidrodinâmica do sistema mineiro, também, vai influenciar os processos geoquímicos que, por ventura, ocorram. Assim nas galerias de mina, enquanto os trabalhos mineiros decorrem, predomina a oxidação de sulfuretos, seguindo-se a formação de sais secundários durante a inundação da mina. Após a inundação, deixa de existir oxigénio interrompendo-se estas reacções. Nas escombreiras e nos trabalhos mineiros não inundados, enquanto existirem sulfuretos, existem reacções de oxidação e acumulação de sais secundários que providenciam uma fonte de constituintes solúveis a longo prazo. A evolução temporal (curta, média ou longo prazo) da qualidade da água de drenagem mineira depende da qualidade de água infiltrada e da exposição a que os minerais estão sujeitos nas minas abandonadas (Younger, 1997). Na perspectiva de gestão de efluentes, a identificação do tipo de descarga é vital para a aplicação de um tratamento com sucesso. Nas tabelas 2.1 e 2.2, apresentam-se as características físico-químicas de minas de carvão, de acordo com o seu tipo de água (DMA ou DMN). Na tabela 2.3, apresentam-se as características das descargas de escombreiras de minas de carvão. Os valores constantes das tabelas referidas evidenciam a existência de variações consideráveis mesmo dentro de minas do mesmo tipo. Isto pode ser atribuído a factores como: • acesso ao oxigénio e velocidade de circulação; • potencial de neutralização das rochas e água subterrânea; • morfologia e percentagem de minerais de sulfuretos presentes nas rochas; • idade da descarga da mina. As águas extremamente agressivas (Tabela 2.1 e Tabela 2.3), normalmente, são procedentes de efluentes de escombreiras, minas não inundadas, minas recentemente inundadas e, por vezes, de furos de mina bombeados. Usualmente, no caso de minas de carvão, estes tipos de efluentes apresentam baixo pH, fortes concentrações em sulfato, 27 ferro, alumínio e manganês e, em menor valor, outros metais tóxicos. Contudo, as variações globais encontradas em cada um dos locais podem dar origem a composições hidroquímicas diferentes como é facilmente identificado nas tabelas. A DMN é muito comum e estudada no caso de minas de carvão (Rose e Cravotta III, 1998; Younger, 2001). Denota-se alto pH e uma diminuição da concentração dos metais sensíveis ao pH. A concentração de sulfato é muito variável. Tabela 2.1 Características de efluentes procedentes de DMA (dados em mg/L, excepto nos mencionados) adaptado de Younger (1995), Kim e Chon (2001), Bell et al. (2001), Banks (2004) e do caso em estudo Ynysarwed Crook (a) (b) Data 1994 Caudal (L/s) c. 15-35 T (ºC) 1994 Quaking Youngjin Houses Youngdong (e) (c) (d) 1994 2 7,00 11,8 11,2 pH 4,2 4,8 4,1 Alc (meq/L) 2,76 0 0 Eh (mV) 264 327 EC (µS/cm) 1563 3560 Ca 2+ 222 Mg2+ Na+ 109 K+ Dongduk (f) 1996-97 1996-97 1996-97 3,41 2,93 3,865 Witbank (g) Nível 135 (h) 1998-2004 16,8 1,8-3,0 2,7 0 206,5 535,5 360,5 227 29304710 994,4 185 255 261,25 8 52,1 76-186 12,7 93 103 136,65 8,65 16,9 31-90 41,3 21,5 463,6 65-399 23,1 6,8 57 8 1,5 Cl- 32 65 1012 SO42- 1554 810 1358 3394,95 889,35 289,35 14403250 391,4 Fe 180 79,8 18 677,6 48,2 0,55 128-248 12,7 Al <0,5 4,2 12,9 93,05 72,8 4,9 84-124 9,5 Mn 6,1 6,9 4,8 17,6 0,9 9,3-18 4,1 32,5 Zn 0,061 0,045 0,04 1,2 (a) Ynysarwed, South Wales, GB, Nível (Banks, 2004) (b) e (c) Durham, descargas não controladas desde 1970 (Younger, 1995) (d), (e) e (f) Gangreung Coalfield, Korea, níveis de galeria não inundados, valor médio 2 amostragens (Kim e Chon, 2001) (g) Wintbank mine, “V-notch”,valores máximos e mínimos durante 1 ano (Bell et al., 2001) (h) Germunde, galeria de mina não inundada (caso de estudo) 28 Tabela 2.2 Características de efluentes procedentes de DMN (dados em mg/L, excepto nos mencionados) adaptado de Chen et al. (1999), Banks et al. (2002), Banks (2004) e caso em estudo Izikskii 1 (a) khakasskaya mine (b) Mine 3 Bjorndalen (c) Polkemment (d) Data 6/13/1999 6/13/1999 Jul/96 Nov-95 Caudal (L/s) 594,00 135,00 0,0560 23,20 T (ºC) 8,6 10,1 4,7 pH Alc (meq/L) 8,4 8,2 8,12 - 8,2 6,6 22,1 36,1 EC(µS/cm) Morlais Wales (e) Nível 20 (f) 1998 -2004 100-200 2,9 14,20 20,1 7,2 6,9 6,0 4,66 6,07 1080 Ca2+ 45,2 69,6 15,5 102 Mg2+ 38,9 132 3,5 55,3 Na+ 129 858 925 97 K+ 2,76 10,8 2,8 19,9 2520,8 91,8 199,2 228,6 155 27,3 10,1 Cl- 93 307 236 15,8 25 32,3 SO42- 115 1135 7,43 252,2 455 1868,7 NO3- 7,2 2,8 1,43 6,7 F- 0,57 0,29 0 1,5 Si 4,99 3,49 2,9 9,8 Fe 0 0,116 0 Al 0 0,00129 0 Mn 0,013 0,0076 0,0043 Zn Ni 0 0 0,0547 0 1,74 1,23 26,6 231,8 <0,01 1,3 0,93 24,2 <0,002 0,467 0,553 Ba 0,025 0,023 3,7 0,015 (a) Abakan Chernogorsk region Sibéria, mina superficial, água retirada da base (Banks et al., 2002). (b) Abakan Chernogorsk region Sibéria, mina subterrânea, poço de mina (Banks et al., 2002). (c) Svalbard. Longyearbyen, Bjørndalen mina activa, furo bombeado (Banks et al., 2002) (d) Polkmment , furo bombeado (Chen et al., 1999) (e) South Wales, descarga (Banks,2004) (f) Mina de Germunde (caso de estudo), níveis inundados. 29 Tabela 2.3 Características dos efluentes procedentes de escombreiras (dados em mg/L, excepto nos mencionados) adaptado de Banks et al. (2002), Younger (2001) e caso em estudo Mine 3 Bjorndalen (a) Spoil leachate, Sverdrupbyen (b) Mine de Baads Bing east (c) Escombreira Serrinha, Germunde (d) Data Jul/96 Jul/96 Caudal (L/s) c. 0,1 c. 0,25 T (ºC) 0 1,9 pH 3,7 2,7 2,8 3,6 Alc (meq/l) 0 0 0 0 Eh (mV) 420 481 EC (µS/cm) 1998-2004 16,8 180,5 3350 5190 407 229,9 Ca2+ 15,6 48,2 Mg2+ 4,5 48,6 32 737,2 Na+ 3,4 18 19 10,3 + <0,5 <0,5 7 21,8 Cl- 4,54 7,04 16 26,5 SO42- 76,6 1077 3077 5827,8 NO3- 0,569 2,43 10,0 F- <0,05 0,063 5,0 K Si 0,974 6,8 Fe 1,6 179 550 16,7 30,9 Al 1,8 27,5 80 361,7 Mn 0,402 3,2 6,3 78,7 Zn 0,487 1,3 0,4 11,2 Ni 0,0374 0,393 Ba 0,0197 0,0039 Cd B <0,005 <0,010 <0,005 0,0467 Cr <0,01 <0,01 0,0 Cu 0,014 0,168 0,3 Sr 0,26 1,1 (a) Svalbard. Mine Bjørndalen 3, Longyearbyen. (Banks et al., 2002) (b)Svalbard., Sverdrupbyen, Longyearbyen. (Banks et al., 2002) (c)Durham, Mine de Baads Bing East (Younger, 2001) (d) Escombreira da Serrinha (valor médio), Mina de Germunde (caso de estudo) 2.5 3,2 0,0 0,4 Os impactos da drenagem mineira nos ecossistemas e na saúde humana Na avaliação do risco ambiental em minas abandonadas, tem de se ter em atenção a eficácia da fonte do contaminante, a intensidade do contaminante (concentração), a duração da fonte do contaminante, os processos de atenuação natural e o trajecto do transporte hidrológico para os receptores sensíveis (águas superficiais e águas subterrâneas). A drenagem de águas da mina leva à degradação da qualidade da água quer superficial, quer subterrânea. Consequentemente, todos os ecossistemas que estejam directa ou indirectamente relacionados com essa água irão ser afectados. 30 A descarga de efluentes ricos em metais e com pH ácido provoca uma deterioração da qualidade da água e dos sedimentos dos rios. A maior parte dos efluentes mineiros contém matérias em suspensão, habitualmente, formadas por uma mistura de silicatos, de óxidos, de carbonatos e de sulfatos que podem causar uma mortalidade importante nos peixes obstruindo as suas brânquias, alterando o seu habitat, contaminando os sedimentos ou reduzindo a penetração da luz nas águas receptoras (Collon, 2003). A maioria das plantas não tolera pH ácido porque este causa a inibição dos sistemas enzimáticos, restringindo a respiração e a absorção de nutrientes e água através da raiz (Bell et al., 2001). A maioria dos organismos aquáticos necessita de um meio com condições neutras de pH para a sua sobrevivência e, muitas vezes, a DMA é um meio extremamente ácido com pH inferior a 4,5. O efeito da DMA sobre estes ecossistemas é analisado através de indicadores como as populações de macro-invertebrados bentónicos cujas características (números de espécies, espécies dominantes, densidade de população) são alteradas pela contaminação. Os peixes, sensíveis a uma grande variedade de factores de stress, são utilizados igualmente como indicadores de poluição. A sua posição cimeira na cadeia alimentar aquática e o facto de serem consumidos pelo homem torna qualquer contaminação preocupante. Os contaminantes mais comuns em água de mina são o sulfato, o manganês, o ferro e o alumínio. O sulfato causa problemas gastro-intestinais quando presente nas águas de consumo humano em concentrações superiores a 250 mg/L (WHO, 2004). O manganês é um elemento persistente uma vez que, apenas precipita quando o pH se torna superior a 10. Pode, por conseguinte, ser transportado para longas distâncias a partir da fonte de poluição. Embora, a sua toxicidade não esteja bem estudada, a sua presença em concentrações superiores a 400 mg/L é indesejável uma vez que pode causar problemas neurológicos (WHO, 2004). O ferro é um dos poluentes mais comuns em águas de mina. Apresenta-se sob diversas formas dependendo do pH e da concentração. Forma revestimentos de crostas sólidas no fundo dos leitos dos rios e ribeiras, vulgarmente, chamados “ocres”, não permitindo o desenvolvimento dos organismos aquáticos que ali vivem e que formam a base da cadeia alimentar. Estes sólidos também se podem instalar nas membranas das guelras 31 dos peixes levando à sua morte por asfixia (Jarvis e Younger, 1997; Hedin, 2006). Normalmente, nas águas afectadas por drenagem mineira, o ferro ocorre em concentrações que se situam entre 3 a 200 mg/L. Mas, mesmo quando está presente em modestas concentrações (apenas alguns mg/L), pode tornar as águas impróprias para consumo se não existir um extenso e frequentemente caro tratamento prévio (Younger, 2000a). O alumínio e seus compostos são muito pouco absorvidos pelo corpo humano pois o intestino constitui uma barreira natural ao alumínio ingerido, reduzindo a sua absorção. O alumínio torna-se tóxico para pacientes com insuficiência renal crónica, uma vez que a principal via de excreção do metal é pelos rins e, nesta doença, essa função encontra-se prejudicada. Porém, o risco de neurotoxicidade e outras desordens estão associados à presença do alumínio nos fluídos de diálises e não ao alumínio ingerido por via oral. O alumínio é um metal muito tóxico para os peixes e outros organismos aquáticos, tendo um papel muito importante na destruição dos ecossistemas. Todos os peixes e a maior parte dos macro-invertebrados morrem quando o pH é inferior a 5,5 e a concentração de alumínio dissolvido excede 0,5 mg/L. Quando o pH se situa entre 5 e 9, o alumínio torna-se relativamente imóvel como hidróxido (Al(OH)3), não constituindo qualquer problema. Hidróxidos e hidroxissulfatos de alumínio brancos, chamados de “Alum”, precipitam quando o pH da água de mina ácida aumenta localmente. O “alum” pode ter o mesmo efeito que o ocre, inviabilizando a vida aquática. Todavia, os depósitos de precipitados de ferro (ocres) e alumínio (alum) actuam como poderosos adsorventes de muitos metais ecotóxicos, especialmente, na gama de pH entre 4,5 e 8 (Dzombak e Morel, 1990; Younger et al., 2002), agindo assim como atenuadores naturais. Outros contaminantes menos comuns (mas localmente importantes) nas águas da mina são os metais pesados como o zinco, o cádmio, o níquel, o cobre e outros elementos vestigiais como o mercúrio e o chumbo. Os metais pesados são tóxicos para os peixes e macro-invertebrados bentónicos, mesmo em concentrações muito fracas. Concentram-se nos sedimentos, nas algas marinhas e nas macrófitas a jusante dos sítios mineiros e contaminam progressivamente as populações bentónicas. Estes constituem à sua volta uma via de transferência para os peixes. Estes elementos acumulam-se nos tecidos musculares e hepáticos dos invertebrados bentónicos e dos peixes e podem provocar a morte destes organismos. 32 O arsénio particularmente, é um quando contaminante os jazigos importante contêm em algumas arsenopirite. Uma águas de mina, peculiaridade do comportamento geoquímico deste elemento é a sua tendência de ser mais móvel num pH mais neutro do que sob condições ácidas. Tal deve-se ao facto de o arsénio dissolvido tender a ser móvel como o oxi-anião AsO4-, sendo adsorvido preferencialmente na superfície dos minerais de carga variável quando o pH da solução é inferior ao ponto de carga zero do mineral, mas permanecendo na água quando o pH da solução é superior ao ponto de carga zero do mineral (Younger, 2002). 2.6 Considerações finais Neste capítulo, apenas se fez uma pequena introdução aos problemas das variações das características químicas da água em ambiente mineiro. Vários conceitos químicos estão subjacentes a este problema mas, uma vez que não se trata do assunto primordial deste trabalho (embora tenham sido tomados em conta durante a sua execução), não foram abordados nesta pequena síntese, dado que a tornariam exaustiva demais para o objectivo em questão. Aconselha-se para um maior aprofundamento deste assunto a leitura de alguns trabalhos referenciados como Rose e Cravotta III (1998), Younger (2002), Younger et al. (2002), Heip e Middelburg (2002), Johnson (2003) e Banks (2004). 33