REÚSO DE ÁGUAS NA INDÚSTRIA Prof. César Pereira Processos Inorgânicos – FAT / UERJ TERMINOLOGIA (Resolução nº 54 do CNRH, de 28/11/2005) “Estabelece modalidades e critérios gerais para a prática de reúso direto não potável de água” Reúso → utilização de água residuária. Água residuária → esgoto, água descartada, efluentes líquidos de edificações, indústrias, agroindústrias e agropecuária, tratados ou não. Água de reúso → água residuária que se encontra dentro dos padrões exigidos para sua utilização nas modalidades pretendidas. Reúso direto de água → uso planejado de água de reúso, conduzida ao local de utilização, sem lançamento ou diluição prévia em corpos hídricos superficiais ou subterrâneos. PRODUÇÃO MAIS LIMPA Princípio Básico → redução da poluição ambiental, atuando no processo produtivo (“in plant technologies”) e não em seu final (“end of pipe technologies”), minimizando a necessidade de tratamento (Química Verde → eliminação da necessidade de tratamento). Aplicação da P+L ao gerenciamento de águas (dispersões aquosas diluídas) → Técnica dos três R’s. Redução do consumo de água Reúso de água Reciclagem de água Técnica dos três R’s • REDUÇÃO → diminuição do consumo. • REÚSO → utilização de água residuária (com ou sem tratamento), segundo o CNRH. • RECICLAGEM → reutilização de água (com ou sem tratamento (?)) (para a mesma unidade ou para o mesmo processo produtivo (?)). Classificação do Reúso de Águas (Proposta apresentada ao Núcleo Integrado para Reúso de Águas e Efluentes (NIRAE / EQUFRJ) REÚSO INDIRETO → a água residuária é lançada (com ou sem tratamento prévio) em um corpo receptor (ocorrendo diluição), sendo reutilizada posteriormente. COM TRATAMENTO PRÉVIO → reúso indireto planejado. SEM TRATAMENTO PRÉVIO → reúso indireto não planejado. REÚSO DIRETO → a água residuária não é lançada em um corpo receptor, sendo recuperada internamente. COM TRATAMENTO PRÉVIO → reúso direto com regeneração. SEM TRATAMENTO → reúso direto bruto. Classificação do Reúso de Águas Resumo Reúso indireto (não planejado ou planejado) Reúso direto (bruto ou com regeneração) Reciclagem → caso particular de reúso direto, onde a água residuária é reaproveitada no mesmo processo ou unidade que a gerou. REDUÇÃO Técnica a ser analisada prioritariamente Revisão das condições operacionais Estabelecimento de modificações a partir da troca de informações com empresas similares Eventuais modificações nos projetos dos processos Criação de programas de conscientização REÚSO DIRETO BRUTO Reúso sem alteração da qualidade da água residuária Levantamentos de vazão e concentração para cada fonte geradora de água residuária (efluente) Levantamentos de vazão e concentração para cada consumidor Emprego (eventual) de técnicas de programação linear (Diagrama de Fontes de Águas) para obtenção de uma solução otimizada, a partir dos levantamentos realizados REÚSO DIRETO BRUTO Exemplo: Operações concentradoras de contaminantes Conc. limite Conc. limite (entrada) (saída) (ppm) (ppm) Vazão limite (t/h) Operação Carga (kg/h) 1 3,75 0 75 50 2 1,00 50 100 20 3 1,00 75 125 20 REÚSO DIRETO BRUTO Exemplo: Consumo mínimo de água sem reúso Operação Vazão mínima (t/h) Concentração de saída (ppm) 1 50,0 75,0 2 10,0 100,0 3 8,0 125,0 Total 68,0 84,6 REÚSO DIRETO BRUTO Exemplo: Diagrama de intervalo de concentrações (CID) Concentraç Concentração (ppm) Operaç Operação 1 (50 t/h) Operaç Operação 2 (20 t/h) Operaç Operação 3 (20 t/h) Carga (g/h) 0 Carga acumulada (g/h) Vazão (t/h) 0 0 2500 50,0 4250 56,7 5250 52,5 5750 46,0 2500 50 1750 75 1000 100 500 125 REÚSO DIRETO BRUTO 50,0 t/h 50,0 ppm 50,0 t/h 0 ppm Operação 1 50,0 t/h 75,0 ppm 16,7 t/h 75,0 ppm Operação 1 56,7 t/h 0 ppm 33,3 t/h 75 ppm 6,7 t/h 75,0 ppm 56,7 t/h 101 ppm Operação 2 Operação 2 20,0 t/h 75,0 ppm 6,7 t/h 0 ppm 20,0 t/h 100 ppm Operação 3 20,0 t/h 75,0 ppm Operação 3 20,0 t/h 100 ppm 20,0 t/h 125 ppm REÚSO DIRETO COM REGENERAÇÃO Técnica a ser considerada após as de Redução e Reúso Direto Bruto. Estudo de viabilidade (técnica, econômica e ambiental) do tratamento (processo de regeneração) a ser executado e das condições de possível aproveitamento da água residuária (efluente) regenerada. Investimento: Redução < Reúso Bruto < Reúso com Regeneração CONSUMO DE ÁGUA NA INDÚSTRIA Processos e Atividades Afins (%) Resfriamento e Refrigeração (%) Produtos Químicos Orgânicos 10 87 Produtos Químicos Inorgânicos 16 81 Refinarias de Petróleo 52 43 Ferro e Aço 50 45 Automobilística 69 28 Papel e Polpa de Celulose 80 18 Pneus 16 81 Cimento 17 82 Indústria CONSUMO DE ÁGUA NA INDÚSTRIA Os sistemas de utilidades respondem, em média, por mais de 50% do consumo de água nas indústrias A maior parte do consumo de água industrial é destinada à reposição das torres de resfriamento e caldeiras Torres de resfriamento e caldeiras são sistemas geradores de vapor (respectivamente, por evaporação e por ebulição) e concentradores de água A redução de consumo de água de reposição nas torres de resfriamento e caldeiras está diretamente relacionada ao balanço material a ser estabelecido nesses sistemas TRATAMENTO DE ÁGUA PARA FINS INDUSTRIAIS Água Bruta → Água Industrial (ETAPAS CLÁSSICAS) Gradeamento (Decantação (sedimentação) espontânea) Aeração (Pré-cloração) Clarificação convencional (coagulação, floculação, sedimentação) Filtração (leito granulado) TRATAMENTO DE ÁGUAS PARA FINS INDUSTRIAIS OBJETIVOS Gradeamento, Sedimentação Espontânea, Clarificação Convencional e Filtração → Remoção de material grosseiro, sólidos em suspensão grosseiros e de alguns coloidais. Aeração → Incorporação de oxigênio (O2) à água e diminuição da concentração de outros gases dissolvidos (NH3, SO2, H2S etc.). Cloração → Redução dos teores de matéria inorgânica (ferro (II), manganês (II), gases redutores) e orgânica, com diminuição ou eliminação da população microbiana. TRATAMENTO DE ÁGUAS PARA FINS INDUSTRIAIS Após o tratamento em uma Estação de Tratamento de Águas (ETA), a água industrial obtida poderá passar ou não por tratamentos específicos (pré-tratamentos e/ou tratamentos internos) para as seguintes finalidades: Processo(s) Utilidades I (resfriamento, refrigeração, circuitos de água quente) Utilidades II (geração de vapor) Potável Serviços I (incêndio) Serviços II (limpezas em geral) TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS (EFLUENTES) INDUSTRIAIS TRATAMENTO CONVENCIONAL (ETAPAS) Pré-tratamentos Tratamento Primário Tratamento Secundário Tratamento Terciário TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS PRÉ-TRATAMENTOS Objetivo: Eliminação de poluentes críticos e compatibilização das diversas correntes para que sejam misturadas no Equalizador e/ou não prejudiquem outras etapas posteriores. Eliminação de cianeto Eliminação de cromato e dicromato Eliminação de cátions de metais pesados (Hg2+, Cd2+, Pb2+, Cu2+, Ni2+ etc.) Eliminação de ânions críticos (S2-, F- etc.) Eliminação de gorduras, óleos e graxas TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS TRATAMENTO PRIMÁRIO (FÍSICO-QUÍMICO) Objetivo: Diminuição da concentração de material insolúvel (sólidos em suspensão) e preparação do efluente para o tratamento biológico. Equalização Neutralização ( → 6,5 < pH < 8,0) Decantação Primária TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS TRATAMENTO SECUNDÁRIO (BIOLÓGICO) Objetivo: Diminuição da concentração de matéria orgânica solúvel e biodegradável. Recomendável: (DBO / DQO) > 0,6 Possível: 0,2 <(DBO / DQO) < 0,6 Difícil: (DBO / DQO) < 0,2 Biodegradação (aeróbia ou anaeróbia) Decantação Secundária TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS TRATAMENTO TERCIÁRIO Objetivos: Diminuiç Diminuição da concentraç concentração de maté matéria orgânica solú solúvel não biodegradá biodegradável (recalcitrante) e da concentraç concentração de outras espé espécies solú solúveis para lanç lançamento do efluente no corpo receptor ou para reú reúso. Oxidações clássicas (exemplo: cloração) Adsorção (exemplo: filtração em carvão ativado) Processos de Oxidação Avançados (geradores de radical livre OH) Troca Iônica (exemplos: abrandamento e desmineralização) Processos de Membranas (microfiltração, ultrafiltração, nanofiltração, osmose reversa ou inversa) CALDEIRAS Caldeira Fogotubular CALDEIRAS Caldeira Fogotubular CALDEIRAS Caldeira Aquatubular CALDEIRAS Caldeira Aquatubular BALANÇOS MATERIAIS EM CALDEIRAS F – vazão de água de alimentação V – vazão (produção) de vapor D – vazão de descargas (nível + fundo) R – vazão de reposição C – vazão de retorno de condensado P – vazão de perdas F = V + D F = R + C C CALDEIRA F R D V P BALANÇOS MATERIAIS EM CALDEIRAS Balanço para um soluto não-volátil (exemplo: cloreto) CD → concentração do soluto nas descargas (na água de caldeira) CV → concentração do soluto no vapor (CV = 0) CF → concentração do soluto na alimentação CF . F = CV . V + CD . D CF . F = CD . D (CD / CF) = (F / D) (CD / CF) = x → ciclo de concentração (com base na alimentação) BALANÇOS MATERIAIS EM CALDEIRAS Balanço para um soluto não volátil x = (V + D) / D D = V / (x – 1) O ciclo de concentração é controlado pela execução das descargas de nível e de fundo BALANÇOS MATERIAIS EM CALDEIRAS Balanço para um soluto não volátil F = V + D R + C = V . [x / (x – 1)] F = V + [V / (x – 1)] R + V . (C / V) = V . [x / (x – 1] (C / V) → taxa de retorno de condensado (com base na produção de vapor) R = V . { [x / (x – 1)] – (C / V) } R = V . (a – b) O aumento do ciclo de concentração e o aumento da taxa de retorno de condensado produzem diminuição do consumo de água de reposição BALANÇOS MATERIAIS EM CALDEIRAS Variação da vazão de água de reposição com o ciclo de concentração V = 20,0 t / h X R (t / h) 10 6,2 20 5,1 30 4,7 50 4,4 80 4,3 (C / V) = 80,0% A diminuição de vazão é sentida mais intensamente para variações em ciclos mais baixos REÚSO DE ÁGUAS EM CALDEIRAS Um maior retorno de condensado (reciclagem) é a forma mais eficiente para a economia de água de reposição. O retorno de condensado pode ser baixo nos casos de utilização de vapor diretamente no processo. Cuidado especial deve ser tomado com condensados provenientes de outros processos (exemplo: “vapor vegetal” dos evaporadores de caldo clarificado para obtenção de xarope na indústria do açúcar). REÚSO DE ÁGUAS EM CALDEIRAS O condensado deve ser o mais próximo possível de uma água deionizada ou desmineralizada. A água de reposição deve possuir qualidade capaz de gerar uma água de alimentação compatível com os limites usualmente adotados e fixados por instituições de notório reconhecimento (ASME, ABMA) para uma água de caldeira (de acordo com a respectiva classe de pressão), proporcionando viabilidade operacional (por meio da utilização do ciclo de concentração adequado). REÚSO DE ÁGUAS EM CALDEIRAS O emprego de reúso direto bruto como reposição é, geralmente, inviável. A utilização de reúso com regeneração (com pré-tratamento) deve ser analisada de forma técnica e econômica bastante criteriosa. LIMITES MÁXIMOS PARA PARÂMETROS CRÍTICOS EM ÁGUA DE CALDEIRA Pressão (psi) Sílica (ppm SiO2) STD (ppm) SS (ppm) Alcalinidade (ppm CaCO3) < 300 150 3500 300 700 300 - 450 150 - 90 3500 - 3000 300 - 250 700 - 600 450 – 600 90 - 40 3000 - 2500 250 - 150 600 - 500 600 – 750 40 - 30 2500 - 2000 150 - 100 500 - 400 750 – 900 30 - 20 2000 - 1500 100 - 60 400 - 300 900 - 1000 20 - 8 1500 - 1250 60 - 40 300 - 250 DETERMINAÇÃO DO CICLO DE CONCENTRAÇÃO Uma caldeira aquatubular opera com pressão operacional igual a 300 psi (aproximadamente 21 kgf / cm2), utiliza água de reposição abrandada (isenta de dureza) e sua água de alimentação apresenta a seguinte composição: Sílica ... 1,50 ppm SiO2 ; Alcalinidade total ... 14,0 ppm CaCO3; Sólidos dissolvidos ... 50,0 ppm ; Sólidos em suspensão ... Zero Determine o ciclo máximo de concentração com que a caldeira deve operar. BALANÇOS MATERIAIS EM CALDEIRAS Considere que a caldeira do caso anterior tenha uma produção de vapor igual a 24,5 toneladas / hora e uma taxa de retorno de condensado igual a 90,0% (em relação à produção de vapor). Determine a vazão de reposição. TORRE DE RESFRIAMENTO TORRE DE RESFRIAMENTO TORRE DE RESFRIAMENTO BALANÇOS MATERIAIS EM TORRES DE RESFRIAMENTO Q – vazão de circulação E – vazão de perda por evaporação A – vazão de perda por arraste D – vazão de descarga P – vazão de outras perdas de fase líquida L – vazão total de perdas de fase líquida R – vazão de reposição E A Q Torre L=A+D+P R R=E+L P P D BALANÇOS MATERIAIS EM TORRES DE RESFRIAMENTO Balanço para um soluto não-volátil (exemplo: cloreto) CL → concentração do soluto na fase líquida (na água de circulação) CE → concentração do soluto na fase evaporada (CE = 0) CR → concentração do soluto na água de reposição CR . R = CE . E + CL . L CE = 0 CR . R = CL . L (CL / CR) = (R / L) (CL / CR) = x → ciclo de concentração BALANÇOS MATERIAIS EM TORRES DE RESFRIAMENTO • Balanço para um soluto não-volátil x = (E + L) / L L = E / (x – 1) D = [E / (x – 1)] – A – P O ciclo de concentração é controlado (até certo ponto) pela execução das descargas de fundo BALANÇOS MATERIAIS EM TORRES DE RESFRIAMENTO Balanço para um soluto não-volátil R = E+L R = E + [E / (x – 1)] R = E . [x / (x – 1)] A vazão de água de reposição diminui com o aumento do ciclo de concentração A diminuição da vazão (R) é sentida mais intensamente para variações em ciclos mais baixos BALANÇOS MATERIAIS EM TORRES DE RESFRIAMENTO x R (m3 / h) Variação da vazão de reposição com o ciclo de concentração 2 24,0 E = 12,0 m3 / h 3 18,0 4 16,0 5 15,0 6 14,4 BALANÇOS MATERIAIS EM TORRES DE RESFRIAMENTO Dosagem contínua de produto de tratamento não-volátil (inibidores de corrosão, inibidores de formação de depósitos, dispersantes e microbicidas) d → dosagem de produto de tratamento C → concentração do produto de tratamento na água de circulação Produto não-volátil d = C . L d = C . [E / (x – 1)] O consumo de produto(s) de tratamento diminui drasticamente com o aumento do ciclo de concentração BALANÇOS MATERIAIS EM TORRES DE RESFRIAMENTO Um sistema de resfriamento aberto com recirculação de água apresenta vazão igual a 2000 m3/h e o trocador de calor evaporativo é uma torre de tiragem induzida onde a queda de temperatura é igual a 10ºC, a perda por arraste de gotículas é igual a 0,15% da vazão e a perda por evaporação é igual a 0,16% da vazão por grau Celsius de queda de temperatura. Dados referentes à qualidade da água de reposição e às características do equipamento indicam que o sistema operaria idealmente com ciclo de concentração igual a 9,0. a) Determine as vazões de descarga de fundo, considerando as demais perdas de fase líquida iguais a zero e a 2,0 m3/h. b) Determine as vazões de reposição para o ciclo de concentração ideal e para um ciclo de concentração a 3,0. c) Calcule o custo mensal do tratamento com um inibidor de corrosão X, cujo preço unitário é de R$ 12,00 / kg, sendo sua concentração recomendada igual a 80 ppm (g/m3) na água de circulação, considerando o regime operacional do sistema igual a 600 horas por mês e as possibilidades de ciclo de concentração mencionadas no item anterior. REGRAS PARA DETERMINAÇÃO DO CICLO DE CONCENTRAÇÃO CICLOS LIMITANTES CICLO OPERACIONAL xmáximo = (E + A + P) / (A + P) CICLO DE SÍLICA Xmáximo = 180 / C(SiO2)R REGRAS PARA DETERMINAÇÃO DO CICLO DE CONCENTRAÇÃO CICLOS LIMITANTES CICLO DE SULFATO DE CÁLCIO Xmáximo = 480 / [C(Ca)R . C(SO4)R]1/2 C(Ca)R → concentração (dureza) de cálcio na reposição, em ppm CaCO3 C(SO4)R → concentração de sulfato na reposição, em ppm SO4 REGRAS PARA DETERMINAÇÃO DO CICLO DE CONCENTRAÇÃO OUTROS LIMITANTES DE CONCENTRAÇÃO A concentração de sólidos em suspensão (SS) na água de um sistema de resfriamento aberto com recirculação é uma importante limitação de ordem operacional pelo risco da formação de depósitos sedimentares. O emprego de modernos agentes dispersantes e a utilização de filtração lateral são medidas importantes, porém limitadas em relação a esse problema. A concentração de cloreto na água de circulação deve ser levada em conta, sobretudo no caso da presença de materiais como o aço inox 304 no sistema (exemplo: trocadores de placas) ou da pré-existência de pites. REGRAS PARA DETERMINAÇÃO DO CICLO DE CONCENTRAÇÃO CICLO IDEAL Consiste na busca de um ciclo de concentração para que a água de circulação alcance um índice de estabilidade favorável, não sendo corrosiva (em relação ao aço carbono), nem incrustante (em relação ao carbonato de cálcio). Entretanto, deve ser considerado que o índice de estabilidade varia com a temperatura ao longo do sistema. A tendência mais atual é a de se operar com um índice de estabilidade levemente incrustante, em relação ao carbonato de cálcio (reduzindo a taxa de corrosão), empregando agentes dispersantes e inibidores da formação de depósitos eficazes. REGRAS PARA DETERMINAÇÃO DO CICLO DE CONCENTRAÇÃO CÁLCULO DO CICLO DE CONCENTRAÇÃO IDEAL (x) log x = [12,1 – 3,5 log (CALC)R – 2,0 log (CCa)R] / 5,5 (CALC)R e (Cca)R são, respectivamente, a alcalinidade e a concentração de cálcio na água de reposição, expressas em ppm CaCO3. Exemplos: 1) (CALC)R = (CCa)R = 20 ppm CaCO3 → x = 8,0 2) (CALC)R = 200 ppm CaCO3 ; (CCa)R = 150 ppm CaCO3 → x = 1,0 REÚSO DE ÁGUAS EM TORRES DE RESFRIAMENTO A operação com ciclo de concentração máximo, observados os limites citados, minimiza o consumo de água de reposição. A operação em ciclo mais alto pode ser conseguida com auxílio de acidificação controlada. O emprego de reúso direto bruto deve ser analisado com o devido cuidado, principalmente quando a água residuária provém de tratamento secundário de uma Estação de Tratamento de Efluentes (ETE). Podem ocorrer sérios danos de ordem operacional e ambiental, além da necessidade de maior consumo de produtos de tratamento. REÚSO DE ÁGUAS EM TORRES DE RESFRIAMENTO A utilização de reúso com regeneração dependerá fundamentalmente da disponibilidade e qualidade da(s) água(s) residuária(s) escolhida(s) para que o tratamento não se torne economicamente pouco viável. A água de descarga de caldeiras de alta pressão pode ser uma opção para aproveitamento na reposição de torres de resfriamento. Uma alternativa interessante, é a do armazenamento e utilização de águas das chuvas, após pré-tratamento, como reforço da reposição, em regiões com elevado índice de precipitação pluviométrica. REÚSO DE ÁGUAS EM TORRES DE RESFRIAMENTO A fixação de limites para determinação do ciclo de concentração, nos moldes dos adotados para água de caldeira (ASME, ABMA), seria um passo importante no sentido da obtenção de um melhor balizamento quanto ao reúso de água nas torres de resfriamento. FRAÇÃO DE REÚSO (F) 40 50 Torres 10 100 60 50 50 Outros F = 60/100 = 60% REÚSO DE ÁGUA NA INDÚSTRIA CONCLUSÕES É muito pouco provável que uma indústria alcance uma fração de reúso direto igual a 100%. As correntes a serem empregadas para reúso direto devem ser criteriosamente avaliadas para que não ocorram prejuízos técnicos, econômicos e/ou ambientais como consequência de reaproveitamentos inadequados. REÚSO DE ÁGUA NA INDÚSTRIA ESTUDO DE CASO Os sistemas de resfriamento abertos com recirculação (SRAR’s) de água, cujos trocadores de calor evaporativos são torres de resfriamento, operam com ciclo de concentração igual a 6,0 e uma vazão total de reposição igual a 30,0 m3 / h, utilizando água industrial, proveniente de uma Estação de Tratamento de Água (ETA), como fonte de reposição para esses sistemas. Deseja-se estudar a possibilidade de reúso nos SRAR’s do efluente proveniente do tratamento secundário de uma Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) cuja vazão é igual a 50,0 m3 / h. REÚSO DE ÁGUA NA INDÚSTRIA PARÂMETRO ÁGUA (ETA) ÁGUA (ETE) pH 7,0 8,0 Alcalinidade T 40,0 ppm CaCO3 400 ppm CaCO3 Cálcio 20,0 ppm CaCO3 100 ppm CaCO3 Cloreto 15,0 ppm Cl 400 ppm Cl Sulfato 12,8 ppm SO4 64,0 ppm SO4 Sílica 10,0 ppm SiO2 45,0 ppm SiO2 Sólidos dissolvidos 150 ppm 2500 ppm Sólidos em suspensão zero 40,0 ppm DBO zero 40,0 mg (O2) / L DQO zero 200 mg (O2) / L OPERAÇÃO SEM REÚSO CÁLCULO DOS CICLOS DE CONCENTRAÇÃO Sílica xmáx = (180 / 10) = 18 Sulfato de cálcio xmáx = [480 / (20 x 12,8)1/2] = 30 Ciclo ideal log x = [(12,1 – 3,5 log 40 – 2,0 log 20) / 5,5] → log x = 0,71 → x = 5,1 Como x = 6,0, o sistema opera com a água de circulação apresentando tendência levemente incrustante (contornável com emprego de agentes inibidores da formação de depósitos). A vazão de reposição é igual a 30 m3 / h e consumo de produtos de tratamento seria igual a 0,40 kg / h. REÚSO BRUTO TOTAL CÁLCULO DOS CICLOS DE CONCENTRAÇÃO Sílica xmáx = (180 / 45) = 4,0 Sulfato de cálcio xmáx = [(480 / (100 x 64)] = 6,0 Ciclo ideal log x = [(12,1 – 3,5 log 400 – 2,0 log 200) / 5,5] = -0,29 x = 0,51 (resultado incompatível: x < 1) REÚSO BRUTO TOTAL COMENTÁRIOS ADICIONAIS Concentrações de cloreto, sólidos dissolvidos e sólidos em suspensão muito elevadas → risco de corrosão e de formação de depósitos localizados em regiões em que a vazão de água ocorre com baixa velocidade de fluxo. Concentrações elevadas de matéria orgânica (DQO e DBO) → risco de formação de depósitos sedimentares e de desenvolvimento microbiano acentuado. CONCLUSÃO Reúso bruto total impraticável do ponto de vista técnico-operacional. REÚSO BRUTO PARCIAL Mistura das águas da ETA (p) e da ETE (1 – p), onde 0 < p < 1, para formação da corrente de reposição. Determinação da composição da corrente de reposição para os diversos valores de p. Determinação do ciclo ideal de concentração para os diversos valores de p. A tabela seguinte apresenta a composição da corrente de reposição para p = 0,8. REÚSO BRUTO PARCIAL PARÂMETRO ÁGUA DE REPOSIÇÃO (p = 0,8) pH (estimado) 7,6 Alcalinidade T (estimada) 112 ppm CaCO3 Cálcio 36,0 ppm CaCO3 Cloreto 92,0 ppm Cl Sulfato 23,0 ppm SO4 Sílica 17,0 ppm SiO2 Sólidos dissolvidos 620 ppm Sólidos em suspensão 8,0 ppm DBO (estimada) 8,0 mg (O2) / L DQO (estimada) 40,0 mg (O2) / L REÚSO BRUTO PARCIAL Ciclo de concentração ideal para p = 0,8: log x = [(12,1 – 3,5 log 112 – 2,0 log 36) / 5,5] log x = 0,33 → x = 2,1 Vazão de reposição = 50 m3 / h, consumindo mais água de reposição da ETA (0,8 x 50 = 40 m3 / h) do que na hipótese de não emprego de reúso (30 m3 / h). Consumo de produtos de tratamento (estimado): 2,0 kg / h. CONCLUSÃO Reúso bruto parcial inviável do ponto de vista econômico REÚSO COM REGENERAÇÃO PARÂMETRO ÁGUA (ETE) pH 8,0 Alcalinidade T 400 ppm CaCO3 Cálcio 100 ppm CaCO3 Cloreto 400 ppm Cl Sulfato 64,0 ppm SO4 Sílica 45,0 ppm SiO2 Sólidos dissolvidos 2500 ppm Sólidos em suspensão 40,0 ppm DBO 40,0 mg (O2) / L DQO 200 mg (O2) / L REÚSO COM REGENERAÇÃO ETAPAS DO PROCESSO DE REGENERAÇÃO OXIDAÇÃO (TOTAL) O efluente deverá ser oxidado para lançamento no corpo receptor: Carga (DQO) = 0,200 kg / m3 . 50 m3 / h . 24 h / d = 240 kg / d, onde: 240 kg / d > 5,0 kg / d (DZ – 205 R.6) Carga (DBO) = 0,040 kg / m3 . 50 m3 / h . 24 h / d = 48 kg / d, onde: 10 < 48 < 100 → remoção de 70% da DBO (DZ – 205 R.6) (DBO / DQO) = 40 / 200 = 0,20 → oxidação química REÚSO COM REGENERAÇÃO ETAPAS DO PROCESSO DE REGENERAÇÃO OXIDAÇÃO QUÍMICA (TOTAL) Provável emprego de processo oxidativo avançado (POA), geradores de radicais livres hidroxila (.OH), dependendo da natureza da matéria orgânica presente. REÚSO COM REGENERAÇÃO ETAPAS DO PROCESSO DE REGENERAÇÃO (TOTAL OU PARCIAL) CLARIFICAÇÃO CONVENCIONAL Remoção de sólidos em suspensão do efluente e dos eventualmente produzidos na etapa de oxidação. FILTRAÇÃO EM LEITO GRANULADO (AREIA) Remoção fina de sólidos em suspensão. MICROFILTRAÇÃO Remoção de partículas dispersas coloidais e microrganismos com faixa de tamanho de 50 a 10000 nm para proteção da membrana de tratamento posterior (exemplo: osmose reversa). REÚSO COM REGENERAÇÃO ETAPAS DO PROCESSO DE REGENERAÇÃO (TOTAL OU PARCIAL) OSMOSE REVERSA Fator de separação: sorção-difusão. Faixa de pressão: 7,0 a 60,0 atm. Consumo de energia: 8,0 kWh / m3. Membrana: poliamida (faixa de pH: 4 – 11). Produto final: água desmineralizada (praticamente sem íons salinos). REÚSO COM REGENERAÇÃO PARCIAL Mistura de águas da ETA (80%) e desmineralizada (20%), proveniente de regeneração parcial do efluente da ETA (oxidação química, clarificação convencional, filtrações e osmose reversa). Determinação da composição da corrente de reposição. Determinação do ciclo de concentração ideal. REÚSO COM REGENERAÇÃO PARCIAL PARÂMETRO ÁGUA (ETA (80%) + DM (20%)) pH (estimado) 6,8 Alcalinidade T (estimada) 32,0 ppm CaCO3 Cálcio 16,0 ppm CaCO3 Cloreto 12,0 ppm Cl Sulfato 10,2 ppm SO4 Sílica 8,0 ppm SiO2 Sólidos dissolvidos 120 ppm Sólidos em suspensão zero DBO zero DQO zero REÚSO COM REGENERAÇÃO PARCIAL Ciclo de concentração ideal: log x = [(12,1 – 3,5 log 32 – 2,0 log 16) / 5,5)] log x = 0,80 → x = 6,4 O sistema poderá operar com x = 7,0 (com água em tendência levemente incrustante, desde que sejam empregados agentes inibidores da formação de depósitos). Vazão de reposição: 29,2 m3 / h (23,3 m3 / h da ETA + 5,9 m3 / h da ETE (regenerada)). Consumo de produtos de tratamento: 0,33 kg / h. REÚSO COM REGENERAÇÃO PARCIAL Economia de água de reposição (2,5%), de água da ETA (22%) e redução do efluente lançado no corpo receptor (12%). Economia no consumo de produtos de tratamento de água (17%). Devem ser bem avaliados os custos de implantação e manutenção do sistema de regeneração, bem como a possibilidade de aumento da vazão de água de reúso. Parâmetro Alcalinidade (ppm CaCO3) Cálcio (ppm CaCO3) Cloreto (ppm Cl-) Sulfato (ppm SO42-) Sílica (ppm SiO2) SD (ppm) SS (ppm) DBO (mg O2 L-1) DQO (mg O2 L-1) pHeq X (teórico) X (SiO2) X (CaSO4) X (Cl-) X (ideal) R (m3 h-1) d (kg h-1) p = 1,0 p = 0,8 p = 0,6 p = 0,4 p = 0,2 40 20 15 13 10 150 0 0 0 6,9 10 > 10 > 10 > 10 5,1 31,1 0,40 32 16 12 10,4 8,0 120 0 0 0 6,8 10 > 10 > 10 > 10 6,6 29,5 0,36 24 12 9,0 7,8 6,0 90 0 0 0 6,6 10 > 10 > 10 > 10 8,9 28,2 0,25 16 8,0 6,0 5,2 4,0 60 0 0 0 6,3 10 > 10 > 10 > 10 > 10 ----- 8,0 4,0 3,0 2,6 2,0 30 0 0 0 5,9 10 > 10 > 10 > 10 > 10 ----- Obrigado, pela audiência e pela paciência! Reúse com moderação ! Cesar Pereira (24) 9998-1416 [email protected]