ACTAS DEL V ENCUENTRO DE PROFESORES DE LENGUA ESPAÑOLA DEL ESTADO DE PARANÁ La Enseñanza del Español como Lengua Extranjera en Paraná 27 y 28 de mayo de 2011 1 ACTAS DEL V ENCUENTRO DE PROFESORES DE LENGUA ESPAÑOLA DEL ESTADO DE PARANÁ La Enseñanza del Español como Lengua Extranjera en Paraná 27 y 28 de mayo de 2011 Londrina – PR 2 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA REITORA Drª Nádina Aparecida Moreno VICE-REITORA Drª Berenice Quinzani Jordão PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS Dr. Hideaki Wilson Takahashi PRÓ-REITOR DE GRADUAÇÃO Dr. Ludoviko Carnasciali dos Santos PRÓ-REITOR DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO Dr. Mário Sérgio Mantovani PRÓ-REITORA DE EXTENSÃO Drª Cristianne Cordeiro Nascimento DIRETORA DO CLCH – CENTRO DE LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS Drª Mirian Donat CHEFE DO DEPARTAMENTO DE LETRAS ESTRANGEIRAS MODERNAS Drª Telma Nunes Gimenez COORDENADORA DO COLEGIADO DE LETRAS ESTRANGEIRAS MODERNAS Me. Arelis Felipe Ortigoza 3 ASSOCIAÇÃO DE PROFESSORES DE ESPANHOL DO ESTADO DO PARANÁ (Biênio 2009-2011) PRESIDENTE Greice da Silva Castela VICE-PRESIDENTE Luciana Mendes Vieira SECRETÁRIA Terezinha Stedile TESOUREIRA Sonia Cristina Z. Carlotto PRIMEIRA TESOUREIRA Ercilia Victoria Pedraza DIRETORA DE EVENTOS Mariana Girata Francis DIRETORA DE IMPRENSA E INTERCÂMBIO Juliana de Sá França DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO E FORMAÇÃO Alessandro José Andujar 4 ASSOCIAÇÃO DE PROFESSORES DE ESPANHOL DO ESTADO DO PARANÁ (Biênio 2011-2012) PRESIDENTE Valdirene F. Zorzo-Veloso SECRETÁRIA Débora Luise Souza Xavier SEGUNDA SECRETÁRIA Cláudia Cristina Ferreira TESOUREIRA Zulmira A. Herrera SEGUNDA TESOUREIRA Arelis Felipe Ortigoza DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO E FORMAÇÃO Alessandro José Andujar 5 ACTAS DEL V EnPLEE-PR V ENCUENTRO DE PROFESORES DE LENGUA ESPAÑOLA DEL ESTADO DE PARANÁ COMISSÃO ORGANIZADORA Drª Valdirene Zorzo Veloso - Coordenação Drª Greice da Silva Castela – Vice-coordenação Me. Arelis Felipe Ortigoza - Secretária Drª Cláudia Cristina Ferreira - 1ª Tesoureira Luciana Mendes Vieira/ NRE - Cascavel - 2ª Tesoureira COMISSÃO DE DIVULGAÇÃO Alessandro José Andujar COMISSÃO DE INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA Drª Loredana Límoli Drª Simone Rinaldi Drª Tatiana Helena de Carvalho Rios Me. Ana Paula Ferreira de Mendonça Me. Silvana Salino Ramos Lopes Débora Luise Xavier Zulmira Aparecida Herrera Sheila Mara Adoni CERIMONIAL Dr. Otávio Goes de Andrade Denise da Silva Ribeiro COMISSÃO CIENTÍFICA Drª Cláudia Cristina Ferreira – UEL Drª Simone Rinaldi – UEL Drª Valdirene Zorzo-Veloso – UEL Drª Tatiana Helena de Carvalho Rios – UEL Drª Terumi Koto Bonnet Villalba – UFPR Drª Fátima A. T. Cabral Bruno – USP Dr. Ivan R. Martin – UNIFESP ORGANIZAÇÃO Área de Língua Espanhola do Depto. LEM/UEL APEEPR APEEPR – Subseção de Londrina 6 APRESENTAÇÃO A Associação de Professores de Espanhol do Estado do Paraná (APEEPR), ao longo dos seus 26 anos de fundação, sempre teve como objetivo promover a interação entre os profissionais que atuam com a língua espanhola no Estado. Dentre uma de suas ações, está a realização de um encontro anual que possibilita a troca de experiências nas mais diversas áreas de atuação. O V Encontro de Professores de Língua Espanhola do Estado do Paraná (V EnPLEE-PR) ocorreu nos dias 27 e 28 de maio de 2011, na Universidade Estadual de Londrina (UEL), Centro de Letras e Ciências Humanas. Organizado pela Subseção de Londrina da APEEPR, a partir do tema La Enseñanza del Español como Lengua Extranjera en Paraná, o evento abordou as seguintes áreas temáticas: língua espanhola, metodologia do ensino de espanhol, estudos literários, culturais e históricos do espanhol. Salientamos que, muito embora o evento seja de abrangência estadual, esta edição contou com a participação de professores de outros estados brasileiros e da Argentina. Desse modo, adotamos o português e o espanhol como idiomas oficiais. Nesta edição, evidenciamos a consolidação do evento em prol do aprimoramento das pesquisas e do labor dos docentes de língua espanhola, visto que como resultado contamos com 03 palestras, 03 mesas-redondas, 06 minicursos, 04 oficinas e 57 comunicações, totalizando 180 participantes. Indubitavelmente, todos esses números são reflexo do envolvimento e da credibilidade dos participantes. É relevante mencionar que o EnPLEE-PR, desde sua primeira edição, tem por meta reunir professores de língua espanhola das redes pública e privada de ensino, bem como acadêmicos dos cursos de Letras do Paraná. O objetivo do evento é propiciar o intercâmbio de experiências, reflexões e atualização de conhecimentos dos profissionais do ensino de espanhol como língua estrangeira, assim como a divulgação destes conhecimentos mediante a publicação de seus anais. Observamos que a Comissão Organizadora do evento e a Diretoria da APEEPR não se responsabilizam pelos trabalhos publicados nestes anais. Valdirene, Cláudia e Arelis 7 ÍNDICE CULTURA Y LITERATURA HISPÁNICAS AZORÍN TRÊS DIMENSÕES. DOIS PONTOS DE VISTA ......................................... 12 Andréa RIBEIRO (G – UEL) Cristiane da SILVA (G – UEL) Gustavo Javier FIGLIOLO (UEL – Orientador) ACERCÁNDOSE A LA LITERATURA CON EL CARTERO DE NERUDA ………… 20 Gisele Rodrigues da SILVA (UTFPR) ASPECTOS DE LA CREACIÓN LITERARIA EN EL MARTÍN FIERRO……….….. 29 Gustavo Javier FIGLIOLO O CONTEXTO SOCIO-POLÍTICO E LITERÁRIO LATINO-AMERICANO PELA PERSPECTIVA DE EDUARDO GALEANO .................................................................. 37 Jenifer Lopes de BRITO (G – UEL) Cláudia Cristina FERREIRA (UEL) UNAMUNO Y LA GENERACIÓN DEL 98 ……………………….……………………. 45 Liliana Maria TREVISAN (G – UEL) Gustavo Javier FIGLIOLO (UEL – Orientador) CONTOS E FÁBULAS: LITERATURA COMO MÉTODO DE ENSINO DE LÍNGUA ESPANHOLA ................................................................................................................... 52 Liria Maria Unser de CARVALHO (Rede Estadual) Luciana Aparecida FIDENCIO (G – UNIOESTE) EL USO DE TEXTOS LITERARIOS PARA LA ENSEÑANZA DEL ESPAÑOL COMO LENGUA EXTRANJERA ………………………………………….…………… 56 Marcelo RODRIGUES (PG – UEL) Simone RINALDI (UEL – Orientadora) VIDA Y OBRA DE MIGUEL DE UNAMUNO, SU FIGURA EN EL CONTEXTO DE LA GENERACIÓN DEL 98 UN MARCO EN LA LITERATURA ESPAÑOLA ………………………………………………………………………………….……………. 65 Maurício Rodrigo Pinilla EDUARDO (G – UEL) Gustavo Javier FIGLIOLO (UEL – Orientador) O DESASTRE DE 98 E A POESIA DE ANTONIO MACHADO .................................. 71 Raíssa Karini VELASCO (UEL) Gustavo Javier FIGLIOLO (UEL – Orientador) AGUAFUERTES ASTURIANAS (1935): O ESCRITOR ARGENTINO ROBERTO ARLT DISCUTE A POLÍTICA ESPANHOLA DE SEU TEMPO ................................ 76 Thaís Nascimento do VALE (UNESP – Assis) 8 COMO TRABALHAR TEXTOS LITERÁRIOS NA SALA DE AULA? ..................... 85 Zulmira Aparecida HERRERA (PG – UEL) Gustavo Javier FIGLIOLO (UEL – Orientador) ENSEÑANZA Y APRENDIZAJE DE ESPAÑOL LENGUA EXTRANJERA CARTA: UM GÊNERO RETRÔ .................................................................................. 94 Amábile Piacentine DROGUI A MOTIVAÇÃO NAS ATIVIDADES ESCOLARES DE LÍNGUA ESPANHOLA ... 105 Ana Raquel Abelha CAVENAGHI (UEM) ENSINO DE ESPANHOL NA SEGUNDA INFÂNCIA PROJETO BRINCAESPANHOL ........................................................................................................ 114 Andréa CESCO (UFSC) Evelise GROPPI FRANCO (G – UFSC) Thaynara Cristina NUNES (G – UFSC) DA TEORÍA À PRÁTICA: A LEI 11.161 E SUA IMPLANTAÇÃO NA REGIÃO DE LONDRINA ....................................................................................................................... 119 Gabriela Rodrigues BOTELHO (G – UEL) Amanda Pérez Montañés (UEL – Orientadora) LA DIDACTIZACIÓN DEL GÉNERO TEXTUAL “LETRA DE MÚSICA” EN LA ADQUISICIÓN DEL ESPAÑOL COMO LENGUA EXTRANJERA A PARTIR DE LA CONCEPCIÓN DEL INTERACCIONISMO SOCIODISCURSIVO ………………... 127 Gilson Rodrigo WOGINSKI (CELEM/CELI/CEP – UNICS – PUCPR) RELATOS DE ENSINO/APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESPANHOLA: IDENTIFICANDO CRENÇAS ......................................................................................... 139 Graciele LUKASAK (UFPR) Ana Josefina FERRARI (UFPR) RELATOS DE EXPERIÊNCIA OFICINAS PIBID 2010 – PROCESSO DE LEITURA ............................................................................................................................................ 147 Marielly LAUTERT (G – UNIOESTE) Ercilia Victoria PEDRAZA (G – UNIOESTE) Greice CASTELA (UNIOESTE – Orientadora) O COMPUTADOR E A INTERNET COMO FERRAMENTAS DIDÁTICAS NO ENSINO DE LEM-ESPANHOL ...................................................................................... 153 Priscila do Carmo MOREIRA (Rede Estadual) APRESENTAÇÃO DE UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA O 2º PERÍODO DO CURSO DE ESPANHOL- BÁSICO NO CELEM .......................................................... 163 Viviani Aline Alves GALVÃO (CELEM) 9 DESCRIPCIÓN Y ANÁLISIS LINGUÍSTICO UNIDADES FRASEOLÓGICAS DA ESTRUTURA CONCEITUAL “MORRER” NOS DICIONÁRIOS BILÍNGUES PORTUGUÊS-ESPANHOL/ESPANHOL-PORTUGUÊS ............................................................................................................................................ 176 Fidel PASCUA VÍLCHEZ (UEL) Mariana DARÉ VARGAS (PG – UEL) LEXICOLOGIA E TERMINOLOGIA: CONTRIBUIÇÕES PARA ELABORAÇÃO DE OBRAS TERMINOLÓGICAS .................................................................................. 183 Isael SIMÃO (PG – UEM) Manoel M. A. da SILVA (UEM – Orientador) OS MATERIAIS AUTÊNTICOS COMO AUXILIADORES NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DOS PRONOMES ÁTONOS EM LÍNGUA ESPANHOLA ................................................................................................................................................ 190 Natália Araújo da FONSECA (G – UEL) Valdirene F. ZORZO-VELOSO (UEL – Orientadora) EL TRATAMIENTO DE LOS PRONOMBRES COMPLEMENTO EN EL MATERIAL DIDÁCTICO ELABORADO PARA EL VIII MINICURSO DE ESPAÑOL BÁSICO – UEL ……………….………………………………………..…… 200 Paola Rodrigues da SILVA (PG – UEL) Valdirene ZORZO-VELOSO (UEL – Orientadora) 10 CULTURA Y LITERATURA HISPÁNICAS 11 AZORÍN TRÊS DIMENSÕES, DOIS PONTOS DE VISTA Andréa RIBEIRO1 (G – UEL) Cristiane da SILVA2 (G – UEL) Gustavo Javier FIGLIOLO3 (UEL – Orientador) Resumo Este trabalho faz parte do projeto de pesquisa Literatura Española: La Generación del 98 do Departamento de Línguas Estrangeiras Modernas da Universidade Estadual de Londrina e tem como objetivo estudar e promover reflexões acerca do assim chamado grupo da Geração de 98 e cinco de seus componentes: Pio Baroja, Miguel de Unamuno, Antonio Machado, Ramón del Valle Inclán e Jose Martínez Ruiz "Azorín". Situado no início do período Modernista na Espanha, o grupo teve grande influencia em escritores hispano-americanos de todo o século XX. Para melhor conhece a importância da Geração de 98, escolhemos para análise a obra Las confesiones de un pequeño filósofo de José Martínez Ruiz, conhecido pelo pseudônimo de "Azorín". Foram selecionados do livro três capítulos: Camino del colegio, El colegio, La vida en el colégio. As autoras exporão seu ponto de vista pessoal sobre esta trilogia de fragmentos. Palavras-chave: Geração de 98. Azorín. Estética da Recepção. Resumen Este trabajo forma parte del proyecto de investigación Literatura Española: La Generación del 98, Departamento de Lenguas Extranjeras Modernas de la Universidad Estatal de Londrina y tiene como objetivo promover el estudio y la reflexión sobre el llamado grupo Generación 98 y cinco de sus componentes: Pío Baroja, Miguel de Unamuno, Antonio Machado, Ramón del Valle Inclán y José Martínez Ruiz Azorín. Ambientada en la Edad Moderna en España, el grupo tuvo gran influencia en los escritores españoles de América del siglo XX. Para conocer mejor la importancia de la Geração de 98, se optó por analizar la obra de Las Confesiones De Un Pequeño Filósofo José Martínez Ruiz, conocido por el seudónimo de "Azorín". Hemos seleccionado tres capítulos del libro: Camino del colegio, El colegio, La vida en el colegio. Las autoras expondrán su punto de vista personal en esta trilogía de fragmentos. Palabras clave: Generación del 98. Azorín. Estética de la Recepción. 1. Introdução A fim de obtermos um contato maior com a Generación del 98 por meio da obra de J. M. R. Azorín em Las confesiones de un pequeño filósofo percorremos três dimensões (Camino del colegio, El colegio, La vida en el colegio) e sob o ponto de vista de cada uma de nós conseguimos entender um pouco mais sobre os escritores de 1898 ao mesmo tempo em que descobrimos novas possibilidades de leituras surgidas em meio aos fragmentos de Azorín. Ao pensar sobre os escritores de 98 descobrimos que o Regeneracionismo (movimento intelectual espanhol entre os séculos XIX e XX) meditava objetivamente as causas da decadência da Espanha como nação. Diferente da Generación de 98 que apesar também de expressar visão pessimista sobre a Espanha, expunha seus pensamentos de uma maneira 1 Graduanda de Letras, Habilitação em língua espanhola, pela Universidade Estadual de Londrina. E-mail: [email protected] 2 Graduanda de Letras, Habilitação em língua espanhola, pela Universidade Estadual de Londrina. E-mail: [email protected] 3 Professor da Universidade Estadual de Londrina e coordenador do Grupo de Estudo intitulado Generación del 98. E-mail: [email protected] 12 literária, subjetiva e artística, enquanto os regeneracionistas sempre o faziam de uma forma objetiva, documentada e científica. A obra escolhida para análise, “Las confesiones de un pequeño filósofo”, compõe-se de 45 capítulos situando a infância e a adolescência do protagonista Azorín constituindo uma autobiografia do escritor José Martínez Ruiz. Na obra é possível sentir a evocação do tempo para os primeiros dias no colégio interno até seu coração apaixonado pela jovem María Rosário no capítulo 47. Assim, com a Generación del 98 e a obra Las confesiones de un pequeño filósofo situaremos alguns episódios que contribuíram para entender a formação desse grupo de escritores que influenciaram boa parte da literatura hispano-americana. 2. José Martínez Ruiz "Azorín" José Augusto Trinidad Martinez Ruiz (1873-1967) nasceu em Monóvar (Alicante) estudando bacharelado em Yecla. Boa parte de sua vida viveu em Madrid, onde se dedicou a literatura e ao jornalismo. Por volta de 1904, adotou em suas primeiras novelas o pseudônimo de Azorín; foi escritor, novelista, ensaísta, crítico literário, romancista. Seu pai era natural de Yecla, e militante do partido conservador. Chegou a tornar-se prefeito, deputado, e exerceu advocacia em Monóvar. Nos primeiros jornais, usou os pseudônimos de Fray José en La Educación Católica de Petre, Juan de Lis como Frei Jose. Escreveu para os jornais El Defensor de Yecla e também em El Eco de Monóvar, Mercantil Valenciano, incluindo El Pueblo, jornal de Vicente Blasco Mercantil Valenciano. Em 25 de novembro de 1896, foi para Madrid seguir seus estudos em meio a grandes dificuldades trabalhou no jornal republicano El País e El Progreso. Com o tempo, seu nome apareceu nas revistas e jornais mais importantes como: Revista Nueva Juventud (firmando com Baroja y Maeztu como Grupo de los Tres), Arte Joven, O Globo, Alma Española, España, El Imparcial, ABC. Nesta época, escreveu sua trilogia autobiográfica Voluntad, depois Antonio Azorín y por último Las confesiones de un pequeño filósofo. Começa a colaborar para o ABC onde participa ativamente da vida política. Entre 1907 e 1919, foi eleito cinco vezes deputado e teve duas breves temporadas entre 1917 a 1919 sendo também subsecretário de Instrução Pública. No ano de 1924 é eleito membro da Real Academia Española. Quando ocorreu a guerra civil ele e sua esposa Julia Cherry Urzanqui fugiram para a França. Após a guerra, regressaram a Espanha com ajuda do ministro do Interior Ramón Serrano Suñer, a quem mais tarde dedicou a obra com “El Pasado” (1955) com grande gratidão 2.1 Suas obras literárias Azorín possuía um particular estilo de escrever, caracterizado pelo impressionismo descritivo com uso de frases curtas e sintaxe simples, um léxico castiço e uma série de adjetivos unidos por uma vírgula. Utilizava a técnica de Virgínia Woolf de viver personagens ao mesmo tempo, em várias épocas da história, como em Don Juan ou Inés, no qual se fundem o mito de fusão várias vezes na história sempre num retorno eterno. Seus ensaios eram dedicados à situação espanhola que marcou toda a geração de 98, sobretudo os aspectos econômicos e políticos. Em Castilla (1912), por exemplo, seu objetivo é aprofundar na tradição cultural espanhola as reflexões que surgem a partir de pequenas observações da paisagem, bem como incorporar o sentido do tempo cíclico, inspirado em Nietzsche. 13 As novelas de Azorín se dividem em quatro etapas: a primeira com o predomínio dos elementos autobiográficos e impressões criadas pela paisagem. O protagonista é Antonio Azorín, personagem de ficção que se torna a consciência do seu criador advinda das experiências de vida e culturais do autor. As novelas pertencem à “La voluntad” (1902), “Antonio Azorín” (1903), “Las confesiones de un pequeño filósofo” (1904), Na segunda etapa das novelas, Azorín abandona os elementos autobiográficos, mas continua refletindo suas próprias inquietudes em seus personagens, como a fatalidade e a obsessão pelo tempo e o destino. Suas obras neste período, “Doña Inés” (1925), “Don Juan” (1922), são baseadas no mito da conversão cristã. A terceira etapa pertence a “Félix Vargas” (1928), fase surrealista do autor, e “Pueblo” (1939) marcada pelo vanguardismo e pelo drama cosmológico pessoal e inspirado no grande poeta austro-alemão Rainer Maria Rilke. A quarta etapa é um dos períodos de silêncio profundo marcado por conflitos civis; retorna Azorin ao escritor com a novela “Rosa María Fontán” (1941), e “La isla Sin Aurora” (1944). Azorín sentiu um grande amor pelo teatro, sua intenção era libertar o teatro espanhol, provinciano, mas a mentalidade espanhola aparentemente não estava pronta para assumir novas propostas dramáticas. 2.2 Confesiones de un pequeño filósofo Azorín situa um pequeno filósofo em São Sebastião, entre a Concha e o Cassino, descrevendo um homem racional, reflexivo, pedagógico, sem perceber que estava criando um personagem marcante. Um ano depois, publica um romance com o mesmo titulo: “Las confesiones de un pequeño filósofo”, em que narra uma autobiografia de sua infância de forma ordenada por fragmentos onde o personagem é quase palpável. Com esta obra, Azorín encerra a trilogia autobiográfica que começou com La voluntad (1902) cujo protagonista apresentava a sua formação intelectual como sua luta contra o meio ambiente (decadência da Espanha) e o conflito entre a ação e a contemplação. O corte autobiográfico está mais ligado à estética de "livros de imagens", porque aparentemente a ideia é que o leitor de suas obras "dê" o seu final para as histórias fragmentadas. Já em Los Pueblos (1905), España (1909), Castilla (1912) surge uma nova sensibilidade, menos reflexiva, mais sexual, que permeia páginas até chegar à própria sensibilidade como protagonista destas histórias. A estrutura da obra “Las confesiones de un pequeño filósofo” resulta num hibrido de novela e poesia. O autor por meio de suas lembranças regressa ao colégio onde concluiu seus primeiros estudos. Na primeira parte do prólogo, situa claramente o homem no presente, o adulto recordando e escrevendo suas páginas de "vida". É uma reflexão sobre si mesmo que se abre e se fecha ao folhear suas histórias. Os fragmentos se assemelham a poemas de capítulos curtos, independentes e tão sugestivos como A luna, El colégio, Es ya tarde, entre outros, como Baudelaire, Azorín se vale também da moda dos poemas clássicos como o romano, cujo o principal é a identidade do protagonista, ou seja, a sensibilidade do autor. Nos primeiros 25 capítulos, apesar do fragmentarismo e autonomia, percebe-se uma passagem linear do tempo, de menino a adolescente. Com isso, sua reflexão provoca o sentir. O seu trabalho flutua em temas essências como o tempo, a morte, e a experiência vital que são sentimentos que remetem à melancolia, à ternura e à beleza que invade o livro. A brevidade dos fragmentos que se compõem em cada capítulo é trabalhada como se estivesse em verso. Azorín se serve de uma rica adjetivação que gera riqueza dos quadros impressionistas das imagens sobrepostas em sua obra. Uma linguagem extremamente estética, simples, familiar, autêntica que marca dentro da corrente modernista por sua renovação. 14 3. Dois pontos de vista Entre tantos fragmentos importantes da obra de Azorín em Las confesiones de un pequeño filósofo encontramos uma das chaves para se aproximar da alma azoriana. Eu e Cristiane determinamos que estaríamos com Azorín em três dimensões (Camino del colegio, El colégio, La vida en el colegio) e cada uma revelaria ao leitor tudo o que sentiu, ouviu, viu, presenciou em sua companhia pela sequência desta tríade escolhida. 3.1 A amiga oculta Ao colocar minhas mãos no livro Las confesiones de un pequeño filósofo não percebi que folheava um universo em fragmentos. Como quis chegar ao todo da obra, não me dei conta dos dias já passados, e certa noite já não estava aqui, mas em Monóvar, onde acordei no outono com os pampas se amarelando. Com isso, caminhei pelo campo florido até avistar uma casa por causa do cheiro do café não me era desconhecido. Quando me aproximei do local, não deu para pedir um pouco daquela bebida, porque a casa estava toda em gritos. Ao fundo daquela confusão, ouvi um menino gritar enquanto um homem o empurrava para o carro, mas ele não queria ir para Yecla. Deduzi que fosse seu pai, pois havia uma expressão carinhosa apesar da raiva. Como me aproximei da entrada da residência, consegui ver quem era o garoto de olhar angustiado que chorava: era Antonio Azorín com 8 anos, percebi logo, porque na obra havia a descrição daquela briga entre pai e filho. Ele me sorriu e quando todos pensavam que seguiriam para Yecla, Azorín escapou do automóvel para o campo, e corri atrás dele pedindo ao pequeno filósofo para se esconder atrás de uma árvore. Quis ter a certeza até aonde chegaria aquela história. Não seria apenas um sonho? Enquanto isso, Azorín me olhava com camaradagem. De repente, um empregado da casa já idoso chegou ao nosso encontro. E convenceu o pequeno, que não levariam mais a tal cidade. Mas, intimamente, eu sabia que iriam. Aceno para ele um adeus, mas me chamou "amiga oculta" para ir junto aquele carro. Entramos na parte traseira do veículo e baixinho me contou que sua angustia era abandonar a infância para viver outros sentimentos como a aflição pelo desconhecido e a tristeza de deixar sua cidade natal. No meio do trajeto, o pequeno filósofo disse ainda que considerava Yecla horrenda, que sairíamos do paraíso para o sofrimento. Espirituoso e bem-humorado dizia-me o tempo todo: "eu tenho uma teoria"; foram alguns poucos momentos em que rimos da vida à-toa. Mas, antes de chegarmos à cidade, como nas fases da lua, senti que Azorín estava melancólico pela perda da infância que se aproximava e pela falta de entusiasmo pelo colégio interno, nosso próximo destino. Quando o carro parou em frente ao edifício, ele já não chorava, e nos instantes que o acompanhei, nunca mais vi lágrimas em seus olhos. Nisso, rodopiei no ar e, ainda tonta, vi o autor na passagem para uma segunda dimensão falando alto para eu não esquecer de que ele não sentia "nostalgia" em relação aos tempos de colégio, mas profundo distanciamento, porque não tivera tempo de "vivenciá-la". Não teve tempo para brincar como qualquer outro moleque e nem se divertir com "outras crianças". Fiquei triste, sem forças, mas já estava na entrada do colégio em Yecla. Senti que deveria estar com Azorín, afinal, me convidara para estar ali com ele. Será que teria convidado outras pessoas antes para estar nesse lugar? Entramos no pátio do colégio de mãos dadas. O lugar era escuro, sombrio, triste e solitário. O colégio era de franciscanos funcionava num grande edifício. O pátio tinha um espaço médio com uma larga fachada e havia muitos bancos espalhados pelo lugar. Azorín apertou minhas mãos e disse que sentia a tristeza de perder a infância, mas agora tinha de encarar a realidade ainda que não quisesse. Enquanto caminhávamos, o pequeno filósofo brincava comentando em meu ouvido: 15 "estamos enclausurados", e revelara para mim que teríamos que rezar muito para suportar todas as ideias que nos enfiaram em nossas mentes. Sorrimos um para o outro como no primeiro instante em que nos vimos, confortando assim um ao outro. Nisso, um franciscano nos chamou e fomos para o quarto que estava situado num piso abaixo. Quando abri as janelas, Azorín viu a horta e pulou para encontro dela, o que lhe fez relembrar a sua vida no campo deixando a tristeza de lado, e enquanto apreciávamos as hortaliças me disse que aquele local dali por diante era o seu ponto de refugio para não enlouquecer. No decorrer dos dias, o pequeno filósofo começou a se sentir vazio, sem amigos, exceto a mim, a sua amiga oculta. Não observava nas lições se aprendia algo novo. Para Azorín tudo não passava de repetição dos conceitos já existentes para filhos de pessoas importantes. Novamente, um mal-estar, e subi ao ar rodopiando, entrei na terceira dimensão com o autor dizendo para mim "seu tempo acaba", "não se esqueça que minha frustração era que estava numa idade em que aprendia a discernir o certo do errado". "Que queria um amigo, mas não me adaptava ao meio desse colégio". "Racionalizava meus pensamentos e crenças tentando encontrar razões e explicações do porquê de estar aqui e com tanta análise fiquei aqui preso entre os fragmentos de minha memória", eu quis voltar, mas ele disse: "não corra, te chamam". Em meio a palmadas nos levantaram às cinco horas da manhã. Azorín gritou como eram "odiosas" a forma de acordá-los. Fomos para o banho de água muito fria que nos deu a sensação de total desagrado combinado à frieza do lugar. Ninguém conseguia ver-me. Somente Azorín, e para não deixá-lo tão triste certa manhã, pedi que abrisse uma das janelas que era de frente a praça e logo que a abriu ele observou a certa distância uma diligência barulhenta que voltava para a estação, talvez, Monóvar, e somente neste momento, o pequeno filósofo se emocionou, e até digamos, ficou nostálgico comentando para mim sobre sua cidade natal e o que mais gostava: correr pelos pampas. Olhei para ele imaginando como seria sua infância como uma criança qualquer e abracei o como uma mãe abraça seu filho. Alguns dias depois, fomos a missa, e senti Azorín ansioso por terminar a celebração, como também por terminar aquela obsessão de que tudo não se passava de engano para com ele. Foram oito anos de sua vida, pensando assim, mas não podia interferir. Em seguida, após a celebração religiosa, depois de comer o lanche da tarde, eu e o pequeno filosofo fomos para a sala de aula estudar. Cada aula durava três horas. O que irritava Azorín era a sala de estudos, porque se liam algumas páginas de Júlio Verne, Dom Quixote e outros autores sem muitas explicações. Depois de dois em dois descíamos. Quer dizer, no caso do Azorín descíamos em três, porque eu estava junto dele. Não sei se o companheiro de quarto do pequeno filósofo também teria um amigo oculto. E esta rotina se seguiu por todos os anos em que permanecemos no colégio de Yecla. Tinha momentos em que Azorín me dizia que deveria desistir, pois seu cérebro não aguentava mais aquela rotina de estudos, aqueles professores indignados por ele não corresponder ao que queriam. Porém, seus olhos brilhavam a cada momento, e, sorrindo, me dizia que o importante era resistir mesmo que fosse repreendido, pois ele lutava para não obedecer "as hipocrisias da desumanidade", e que não obedeceria nem no futuro. Entre dimensões e realidades, percebo que estou aqui escrevendo sobre algumas coisas que presenciei enquanto estive com Azorín, o autor me diz agora antes de fechar o livro que posso visitar outras dimensões de sua vida, porque estará sempre aguardando uma nova oportunidade agora neste meu tempo ser meu amigo oculto. 16 3.2 Caminho do Colégio, o Colégio e a Vida no Colégio Azórin descreve o caminho percorrido por Antonito desde Monóvar até Yecla informando aos leitores que a trajetória era percorrida com auxilio de uma carroça. O caminho era composto por barrancos e colinas e como sustento durante a viagem ele levava consigo alguns alimentos como bolinhos, lingüiça frita e costela de boi. Para se alimentar e descansar porque caminhava de seis a oito horas utilizava a sombra de uma árvore. O Colégio onde Antonito passara boa parte da sua vida ficava em Yecla e era um velho convento de franciscanos. Seu edifício em meio pátio e com uma grande fachada. O pequeno pátio era silencioso. Para Antonito o lugar lhe parecia misterioso. Ao centro daquele lugar havia uma cisterna trabalhada com pedras brancas e negras e algumas plantas silvestres que cresciam por todo o piso. No segundo piso ficavam os dormitórios com fileiras de camas em cada sala. Havia lavabos com dez ou doze torneiras. Existia um pequeno jardim em direção a varanda que ficava na frente do colégio, no piso abaixo estava a sala de estudo, a capela e outras salas com pavimento de madeira por onde o andar emitia um ruído sonoro sobre toda noite. No piso principal do edifício ficava a igreja que era próxima ao colégio. O refeitório estava no piso abaixo e junto dele tinha uma maravilhosa horta. O escritor comenta que a vida de Antonito não era fácil, pois possuía uma rotina cansativa e monótona dividida da seguinte forma: juntamente com os outros alunos do colégio levantava as cinco da madrugada, fazia a higiene pessoal e após se vestir se colocavam de joelhos em uma das salas para breves orações. Após ouvir a missa diária partia para o salão de estudo onde permanecia por trinta minutos, com o som da companhia descia ao refeitório e retornava mais trinta minutos para a sala de estudo. Antonito também estudava durante três horas sem intervalo onde cada hora era respectiva a uma matéria. Em seguida voltavam para a sala de estudos e depois ao refeitório. Durante o tempo em que se alimentavam os alunos faziam leituras de alguns livros, como Julio Verne e Dom Quixote. Com o término das refeições todos se dirigiam para o pátio para descansarem por uma hora e terminando o tempo pré-estabelecido voltavam para a sala de estudo onde ficavam uma hora e trinta imóveis com os cotovelos apoiados na mesa e o livro entre as mãos. À tarde também tinha um tempo reservado para duas horas de aulas, merenda, uma hora de pátio, novamente sala de estudos por uma hora e trinta minutos e depois jantar. Após todas estas atividades todos os alunos tinham que rezar e dormir. Com a leitura dos três capítulos intitulados: Caminho do colégio; O colégio e a vida no colégio, nota-se que a vida Antonito enquanto estudante não foi nada prazerosa e fácil. Quando ele iniciou sua carreira estudantil tinha apenas oito anos, uma idade em que dificilmente uma criança em tempos atuais conseguiria manter rigorosamente uma rotina como a dele. Antonito por várias vezes menciona que alguns departamentos do colégio lhe pareciam algo misterioso, que o lugar era feio e que deixar a sua casa e ir para Yecla era como sair de um paraíso delicioso para ser sepultado em uma caverna tenebrosa. No decorrer da história o menino comenta que assistia as missas durante horas em pé quando se tratava da semana santa ao ponto de apoiar uma perna na outra para não cair e que toda esta liturgia havia lhe deixado certa ansiedade pelo o porquê e o fim das coisas. Com base nas palavras desta criança que descreve seu tempo escolar se percebe que as condições lhe foram favoráveis para se tornar um adulto ansioso e um grande questionador. É possível que até mesmo pelo sentimento de ansiedade e angústia trazidos com ele desde a infância faça que se pergunte na vida adulta o porquê e para quê e com que objetivo deve se fazer algo. Visto que ele passava horas estudando na sala de estudo, porque passava lendo todo este tempo? Que tipo de livro ele lia? Quem tirava suas dúvidas no momento em que se 17 deparava com algo desconhecido? Por que levantava tão cedo e se ocupava a maior parte do tempo com os livros sem um tempo equivalente para o lazer? Em nenhum momento foi possível ler as brincadeiras feitas pelas crianças no colégio, pois se dedicavam aos estudos e as práticas religiosas com grande frequência, ao ponto de não sobrar tempo para a diversão. Todo este cenário narrado pelo escritor é terrível e angustiante por que se torna quase impossível observar o relato de uma criança de oito anos presa a uma cadeira e a livros durante horas, ou melhor, durante uma boa parte da sua vida sem o direito de ser criança e de agir como tal. Em algumas ocasiões é possível observar a Antonito descrevendo plantas, paisagens observadas pela janela, a horta e até mesmo o trem quando retorna a estação de origem. Com auxilio de alguns fragmentos do texto onde ele relata estas imagens se vê que ele era uma criança que buscava a liberdade mediante aspectos da natureza ou da vida. […] A esta huerta yo no he entrado sino en rarísimas ocasiones: para mí era la suprema delicia caminar bajo la bóveda del emparrado, entre los pilares de piedra blanca, y discurrir por los cuadros de las hortalizas lujuriantes. (AZORÍN, 1976, p. 59) Com a leitura do livro, é possível repensar a prática educacional em dia atuais, lembrando que a educação já passou por várias fases ou tendências onde os alunos não tinham o direito de questionar seus professores, onde o autoritarismo e o medo faziam parte da vida educacional de muitos alunos. A aprendizagem não deve sinônimo de escravidão, é necessário ser livre para dividir o tempo para os estudos para o lazer e para arte. Visando que o colégio ou a escola tem que ser o melhor lugar para que a criança se sinta bem e motivada a aprender. Azorín faz uso das palavras de Antonito para descrever a sala de estudo: [...] en esta sala fría y destartalada, con los codos apoyados sobre la tabla y la cabeza entre las manos, fija la vista en las páginas antipáticas, mientras rumiábamos mentalmente frases abstractas y áridas (AZORÍN, 1976, p.61) Ao contemplar as palavras acima citada pelo autor do livro surge um sentimento de tristeza, pois nos faz perguntar se o ambiente tratado é propicio e estimulante ao conhecimento ou mais uma maneira de manter as crianças ocupadas e quietas. Que as autoridades, famílias e crianças da atualidade venham ver nos espaços educacionais uma mudança de hábito e métodos prazerosos e favoráveis ao conhecimento, desta forma estes permaneceram na memória deixando uma lembrança de um espaço que valoriza o individuo enquanto cidadão lhe fornecendo subsídios para o pleno exercício do que venha ser cidadania e um sentimento de saudade e de vontade de querer sempre retornar aos estudos. 4. A modo de conclusão Nas três dimensões Camino del colegio, El colégio, La vida en el colegio do livro de Azorín Las confesiones de un pequeño filósofo concluímos que Azorín não era nostálgico, mas melancólico por não ter vivido a infância como qualquer outra criança. A nostalgia não está presente porque em nenhum momento Ruiz comenta por meio de Azorín que tivesse saudade de sua "infância querida" como fez, por exemplo, o escritor brasileiro Casemiro de Abreu em Meus Oito Anos. O que há é um pessimismo advindo do "crescer sem brincar" como também por não se fazer compreendido e não conseguir compreender aquela realidade hipócrita imposta pelo 18 colégio interno representante dos valores da classe dominante. Aliás, quando mencionaram a Ruiz que deveria fazer um livro, como aparece na introdução de “Las confesiones de un pequeño filósofo”, aparentemente muitos políticos e amigos queriam apenas dar a ele a possibilidade do que sabia fazer de melhor, escrever. Remetendo a ideia de que Azorín não "entendesse" de política; mas depois de completar sua trilogia autobiográfica decide trabalhar em Los Pueblos (1914), revelando o grande engajamento político-social que somente deixou pelo conservadorismo aparentemente após seu envelhecimento. Seus fragmentos de memórias em “Las confesiones de un pequeño filósofo”, fazem pensar que ele, Ruiz (Azorín), ficou "ali" naquele tempo (infância e adolescência) para sempre, e as suas anedotas foram uma forma de exteriorizar tudo o que sentia em relação a este período, o que enriquece e enriqueceu nossas vidas fazendo com que cada leitor em relação à obra seja também um coautor. Referências AZORÍN, J. M. R. Las Confesiones de Un Pequeño Filósofo. Madrid: Espasa Calpe, 1976. SITE JUNTA DE ANDALUCIA. Confesiones de un pequeño filósofo. Disponível em: <http://www.juntadeandalucia.es/cultura/opencms/export/download/bibhuelva/Confesionesde-un-pequeno-filosofo-Azorin.pdf> Acesso em 30 mar 2011. ZILBERMAN, R. Estética da Recepção e História da Literatura. Série Fundamentos. São Paulo: Ática, s/d. 19 ACERCÁNDOSE A LA LITERATURA CON EL CARTERO DE NERUDA Gisele RODRIGUES DA SILVA (UTFPR)4 Resumen El objetivo principal de esta propuesta es que los alumnos movilicen su competencia pragmático-discursiva a través de las obras de los autores chilenos Pablo Neruda y Antonio Skármeta y de las actividades que proponemos relacionadas a los textos de dichos autores. Asimismo, tenemos en cuenta la práctica de aspectos linguísticos formales y socioculturales de un nivel A2 y B1. Presentaremos una secuencia didáctica diseñada a partir de una novela de Skármeta, que puede ser llevada a clase en forma de película o de novela, y también de poemas de Neruda, llevados a clase en forma impresa o musicada. Con las actividades esperamos despertar, además, la curiosidad de los alumnos por la literatura hispanoamericana y beneficiarnos de los aspectos afectivos y creativos que nos pueden proporcionar estos textos. Palabras clave: Literatura hispanoamericana. Pablo Neruda y Antonio Skármeta. Asociación entre películas y literatura. Resumo O objetivo principal desta proposta é que os alunos mobilizem sua competência pragmática discursiva através das obras dos autores chilenos Pablo Neruda e Antonio Skármeta e das atividades que propomos relacionadas aos textos destes autores. Além disso, consideraremos a prática de aspectos lingüísticos formais e socioculturais de um nível A2 e B1. Apresentaremos uma seqüência didática desenhada a partir de um romance de Skármeta, que pode ser levado à sala de aula tanto em filme como em narrativa escrita, e também de poemas de Neruda, levados à sala de maneira impressa ou musicada. Com as atividades esperamos despertar também a curiosidade dos alunos pela literatura hispano-americana e nos beneficiarmos dos aspectos afetivos e criativos que estes textos podem nos proporcionar. Palavras chave: Literatura hispano-americana. Pablo Neruda e Antonio Skármeta. Associação entre filme e literatura. 1. Introducción Esta presentación es el resultado de un trabajo desarrollado durante el curso 20082009 del máster del Centro de Formación de Profesores del Instituto Cervantes y UIMP para la asignatura “El texto literario en el aula de E/LE”, ministrada por la profesora Rosana Acquaroni Muñoz. El objetivo inicial era diseñar una secuencia didáctica a partir del uso de textos literarios de autores hispanohablantes. Deberíamos seleccionar un autor que de alguna manera nos tocara, sea despertándonos la curiosidad o nuestro afecto. Decidimos entonces trabajar con textos de Pablo Neruda y por qué no, también con la trayectoria del poeta en sí. Al ingresar en nuestra jornada por su obra, nos hemos acordado de la novela Ardiente Paciencia, del también escritor chileno Antonio Skármeta, que tiene como uno de sus protagonistas el propio poeta. El relato-ficción presente en el libro, publicado por primera vez 4 Máster en Enseñanza del Español como Lengua Extranjera por el Instituto Cervantes (IC) y la Universidad Internacional Menéndez Pelayo (UIMP). Especialista en “Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas” por la UTFPR. E-mail: [email protected] 20 en 1985, había dado origen en 1994 a la película titulada, en castellano, “El cartero de Neruda”. Surgió, así, la idea de llevar la película a la clase de E/LE. Eso nos permitiría, además de utilizar el texto literario de forma lúdica y dinámica, beneficiarnos de los aspectos positivos que nos proporciona el uso de material audiovisual en el aula. Asimismo, los hechos reales nombrados y contextualizados a lo largo de la historia –la elección de Salvador Allende a la presidencia de la república en 1970, el premio nobel de literatura otorgado a Neruda en 1971, el golpe de estado en Chile que afecta a los personajes– nos posibilitaría desarrollar otros aspectos de la dimensión cultural en la clase de E/LE, específicamente de las competencias socio e interculturales. Entretanto, nos topamos con una posible dificultad al averiguar que la versión original de la película venía en el idioma italiano, no en el español. Pensamos, incluso, en desistir de emplearla y trabajar solamente con la novela de Skármeta, sin embargo, creemos que es posible lanzar mano de algún material en otro idioma en la clase de E/LE, dependiendo del enfoque dado o de lo que quiera trabajar el profesor. Aunque es cierto que se puede encontrar una versión de la película doblada al español, no hemos podido encontrarla y hemos utilizado la versión original subtitulada al español. Podemos afirmar que esto no ha generado problemas en cuanto a la realización de la propuesta didáctica y que incluso, es una manera de trabajar la comprensión lectora de los alumnos asociada a la interpretación audiovisual, lo que permite la realización de las actividades también con aprendices de niveles más iniciales. Es esta una propuesta de sensibilización de los estudiantes hacia un tema que normalmente desconocen o que suelen creer que les disgusta. Objetiva que los aprendices movilicen su conocimiento sociocultural respecto a la literatura, integrándolo con las destrezas de la lengua y que, a partir de ahí desarrollen su escritura creativa. Con su puesta en marcha percibimos que los resultados van mucho más allá de lo que habíamos planeado, aunque es cierto que el resultado estará relacionado al grupo de alumnos y su motivación al realizar las tareas. Lo que les presentamos a seguir es el resultado de este trabajo, con las adaptaciones pertinentes tras su aplicación en nuestro contexto de enseñanza, es decir, con alumnos del Departamento Académico de Lenguas Extranjeras Modernas (DALEM) de la Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Esperamos que lo disfruten y que les sea útil para sus futuras clases de E/LE. 2. Desarrollo de las actividades Las actividades pensadas tienden a tener en cuenta el aspecto afectivo de la lengua, incentivando la interacción entre los aprendices y fortaleciendo, a su manera, su autoestima en dos diferentes frentes: en cuanto individuos pertenecientes a un grupo y a la medida en que se permite echar por tierra algunos de los tabúes que envuelven el gusto por la poesía y la creación de poemas, haciéndoles más seguros tanto para opinar como para escribir en la lengua extranjera. Con todo esto, esperamos despertar, además, la curiosidad de los alumnos por la literatura en español. 2.1 Primera sesión Etapa de contextualización. Se trata de la presentación de los autores a partir de breves biografías5. La actividad permite, además de trabajar contenidos culturales y de comprensión de lectura, reforzar el uso del pretérito indefinido. Tiempo estimado 10 minutos. Fase de consolidación e interpretación personal de lo que han leído. Se propone una discusión6 en pareja cerrada al final de la actividad para integrar la mediación oral y escrita y 5 Anexo 1 21 trabajar la interacción. El tiempo estimado queda entre 15 y 30 minutos, variable si tras la actividad en parejas se decide por hacer una puesta en común en grupo clase. Discusión7 en grupo clase: calentamiento para la película que verán en la siguiente actividad. Tiempo estimado: entre 10 y 30 minutos, variable según el grado de participación de los estudiantes. Visualización de la primera parte de la película8, exhibir aproximadamente 60 minutos9. El profesor explica a los alumnos que deben traer las respuestas de esta actividad para la siguiente clase. Tiempo estimado: 65 minutos. 2.2 Segunda sesión Antes de proyectar la película: puesta en común con las respuestas que han traído a clase (tarea de casa). Se puede hacer primeramente en pequeños grupos de tres o cuatro alumnos y después en grupo-clase, si el profesor le ve pertinencia. Proyección de la parte final de la película10. Tiempo estimado: 50 minutos. 2.3 Tercera sesión “La poesía no es de quien la escribe, sino de quien la necesita”. Escribir esta frase en la pizarra o leerla en voz alta. Se hace una discusión11 en grupo clase para la práctica de la destreza oral, el desarrollo de competencias comunicativas y habilidades lingüísticas. Tiempo estimado: 10 minutos. Ejercicio de asociación libre12. Los alumnos asocian palabras con imágenes proyectadas y/o de su memoria. Se hace sobre el conocimiento ya adquirido aunque el léxico desconocido puede ser presentado por el profesor. Tiempo estimado: 10 minutos. Se pide que lean, individualmente, el poema13 de Neruda. Enseguida en voz alta y para toda la clase, el profesor lee el poema. Es importante que se cuide la elocución del poema y que se haga una lectura pausada y con cierta intencionalidad expresiva. En grupo clase se verifica si hay problemas de vocabulario y les motivamos a comentar el poema. Por fin, se pregunta a la clase si “¿Hay alguna palabra, de las que has apuntado anteriormente, presente en el poema?”. Tiempo estimado: 10 minutos. Se expone otro poema14 de Neruda. Se hace esta elección con el intuito de dar a los alumnos otra muestra de poesía, de esta vez, presentándola en forma musicada, deseando incentivar otra de las destrezas lingüísticas, en este caso la oral, y asimismo, trabajar con el aspecto afectivo que este medio puede presentar. El profesor pone la audición del poema y queda a su elección que los alumnos acompañen su lectura o que primero solamente lo escuchen, para que después se compruebe el poema en forma escrita. Tras aclarar las posibles dudas de vocabulario se hace una puesta en común en grupo clase en donde los alumnos comentan qué sensación les genera el poema. Tiempo estimado: 15 minutos. 6 Anexo 2 7 Anexo 3 8 Opciones de adaptación: la lectura de la novela de Skármeta, Ardiente Paciencia, en vez de la exhibición de la película. Fragmentos de la película encontrados en youtube, importante utilizar la parte que se recita el poema que será trabajado. 9 El momento de la interrupción de la transmisión del video no es exacta, ya que esto puede ser cambiable sobre la marcha. Lo importante es que no vean el final, la conclusión de la trama, porque tienen que imaginarlo para la próxima clase. 10 Duración total de la película 108 minutos. 11 Anexo 5. 12 Anexo 6. 13 Anexo 7. 14 Anexo 8. 22 Esta actividad busca jugar con las palabras de los ejercicios anteriores. Cada alumno, individualmente, elige algunas de las palabras que ha apuntado y reescribe tres o cuatro versos del poema de Neruda. Es importante darles un ejemplo15 para que se motiven a arriesgarse e incentivarles a que seguramente serán capaces de desarrollar dicha actividad. Tiempo estimado: 20 minutos. A continuación, cada estudiante buscará una pareja. Entre los dos, unirán los versos que han escrito para formar dos estrofas. Empezarán así la creación de un poema. Y otra vez, se repite este procedimiento, de esta vez juntándose dos parejas para que entre los cuatro, unan sus estrofas de la manera que quieran y produzcan un poema. Tiempo estimado: 40 minutos. 3. Resultados Con la puesta en marcha de esta actividad percibimos que los resultados van más allá de lo que habíamos planeado, aunque es cierto que el resultado que otros profesores podrán obtener estará relacionado al grupo de alumnos y su motivación al realizar las tareas. Los estudiantes se han mostrado muy receptivos a las tareas, han investigado y traído informaciones a la clase más allá de lo que se les había propuesto. Han aportado comentarios y levantado discusiones, como por ejemplo sobre la vida de uno de los protagonistas del Cartero de Neruda, Massimo Troisi, que murió un día después de finalizado el rodaje de dicha película. Este hecho les ha llamado mucho la atención lo que ha dado mucho juego a la hora de las interacciones. Asimismo, fueron muy participativos en las actividades especialmente de interacción oral y pudimos notar que algunos se emocionaron con la visualización de la película y las coyunturas alrededor de ella. Aunque inicialmente planteamos dicha actividad pensando en aplicarlas a partir de un nivel B1 percibimos que en niveles anteriores también la podemos utilizar sin problemas. Fue el caso de uno de los grupos del Dalem, un grupo de nivel A1 que está en su segundo semestre de aprendizaje del español. Debido al afán de los aprendices por aprender formas de pasado, los textos con las biografías de los autores fue incluso un incentivo para estos estudiantes, que curiosearon sobre este tiempo verbal, aunque decidimos no adelantarles explicaciones gramaticales formales. A seguir transcribimos, para ejemplificar un poco de nuestro resultado, dos de los poemas creados en clase por los estudiantes. Desnuda eres azul como la noche en la playa, tienes fuerza del mar y te comunicas con «el todo». Desnuda eres un animal bello que echa de menos a su naturaleza. Me gusta cuando me falta aire, por sus besos calurosos, llena de alma tuya. Tienes el calor y el olor de las fresas Me gusta tu ternura como el cielo azul de la Tierra. Me gustas cuando hablas porque estás presente Deja que te mire, quédate en silencio Distante y tan callado, no tengo aceptación Dime una palabra dulce, hazme un cariño, 15 Ej.: desnuda eres tan transparente como el amanecer… 23 abre una sonrisa, yo quiero guardarla como recuerdo tuyo. Déjame que te calle y hable con tus ojos Claro como un sol, simple como un anillo Acepto cuando te callas porque estás como ausente Una palabra entonces, y permanezco un loco sin solución. Alumnos: Allan, Marianne, Mayara Café con mariposas (Me gusta) Me gustas cuando vienes en tarde de lluvia y estoy alegre, alegre de que vengas. Así, me pareces tan simple como la taza de café que tomamos abrazados. Déjame que me calle con el abrazo tuyo Eres como el universo, callado y constelado Me gustas cuando callas porque para mí esto es complicidad. Desnuda eres eterna y todo mi mundo tienes luz y esperanza en tus ojos ven a mí de vuelta Cerca y grande como si fueras la única. Quédate distante pero no lejos mariposa de la vida, te pareces a mi amor, nuestro amor y estoy alegre, alegre de que sea cierto como la mariposa que vuela Alumnos: Carla, Luciana, Patricia, Wilson Referencias ACQUARONI MUÑOZ, R. Las palabras que no se lleva el viento: literatura y enseñanza de español como LE/L2. Santillana. Madrid: 2007. ARNOLD, J. La dimensión afectiva en el aprendizaje de idiomas. Cambridge University Press. Madrid: 2000. Consejo de Europa, Marco Común Europeo de Referencia para las lenguas: aprendizaje, enseñanza, evaluación, 2001. Disponible en: ttp://cvc.cervantes.es/obref/marco/cvc_mer.pdf NERUDA, P. 100 sonetos de amor. Contemporánea Debolsillo. Barcelona: 2003 SKÁRMETA, A. Ardiente Paciencia. Editorial Sudamericana, col. Joven Novela. Buenos Aires: 1996. 24 Anexos (Dossier de actividades) Anexo 1 ¿Conoces a Pablo Neruda? ¿Y a Antonio Skármeta? Lee estas dos biografías e intenta descubrir a quién pertenece cada una, luego tu profesor te dará la respuesta: Escritor chileno, nacido en Antofagasta, que también ha destacado como director de cine. Estudió Filosofía y Letras en el Instituto Pedagógico de la Universidad de Chile, donde se graduó en 1964. Durante esos años era conocido en su país por sus trabajos como actor y director del grupo de teatro estudiantil CADIP. Amplió sus estudios en Estados Unidos y fue profesor en la Universidad de Chile desde 1967 hasta 1973, año en el que, tras la caída de Salvador Allende, se trasladó primero a Buenos Aires y después, en 1975, a Berlín. Desde entonces se dedica a la literatura, el periodismo, el cine y a impartir clases como profesor invitado en diversas universidades estadounidenses y europeas. Su actividad docente abarcó la enseñanza de filosofía contemporánea, dramaturgia y literatura. Su primer libro fue una colección de cuentos, El entusiasmo (1967), al que siguieron Desnudo en el tejado (1969, Premio Casa de las Américas), El ciclista del San Cristóbal (1973) y Novios y solitarios (1975). A partir de esta época se dedicó con gran entusiasmo al cine, como actor, guionista y director. Su novela corta Ardiente paciencia (1985), que previamente había conocido una versión teatral (1984) y antes un guión para la radio (1983), se llevó al cine en 1995 con otro título, película dirigida por Michael Radford e interpretada por Massimo Troisi y Philippe Noiret. Fue esta película la que supuso el reconocimiento y su recuperación como escritor. Su literatura se caracteriza por la amenidad, la fluidez verbal y un agudo sentido del humor. En 2002 recibió el Premio UNESCO de Literatura Infantil y Juvenil en pro de la Tolerancia por su obra La composición. Se ha dedicado a la elaboración de guiones para cine y radio, así como a la dirección de un programa literario en la Televisión Nacional de Chile. Su actividad como guionista de cine incluye las películas Reina la tranquilidad en el país y La insurrección, de Peter Lilienthal, y Desde lejos veo este país, de Christian Ziewer. Muchas de sus obras han sido traducidas a varios idiomas, llevadas al cine y, como en el caso de Ardiente paciencia, al teatro. Adaptado de: http://www.epdlp.com/escritor.php?id=2084 Poeta chileno, considerado uno de los más importantes del siglo XX. Hijo de un ferroviario, y huérfano de madre cuando solo había vivido un mes, escribía poesía desde muy joven (el seudónimo comenzó a usarlo cuando apenas tenía dieciséis años). Gabriela Mistral lo inició en el conocimiento de los novelistas rusos, que el poeta admiró toda su vida. Estudió para convertirse en profesor de francés, sin llegar a lograrlo. Su primer libro, cuyos gastos de publicación sufragó él mismo con la colaboración de amigos, fue Crepusculario (1923). Al año siguiente, su Veinte poemas de amor y una canción desesperada se convirtió en un éxito de ventas (ha superado el millón de ejemplares), y lo situó como uno de los poetas más destacados de Latinoamérica. Entre las numerosas obras que le siguieron destacan Residencia en la tierra (1933), que contiene poemas impregnados de trágica desesperación ante la visión de la existencia del hombre en un mundo que se destruye, y Canto general (1950), un poema épico-social en el que retrata a Latinoamérica desde sus orígenes precolombinos. La obra fue ilustrada por los famosos pintores mexicanos Diego Rivera y David Alfaro Siqueiros. Como obra póstuma se publicaron, en el mismo año de su fallecimiento, sus memorias, con el nombre de Confieso que he vivido. Poeta enormemente imaginativo, fue simbolista en sus comienzos, para unirse posteriormente al surrealismo y derivar, finalmente, hacia el realismo, sustituyendo la estructura tradicional de la poesía por unas formas expresivas más asequibles. Su influencia sobre los poetas de habla hispana ha 25 sido incalculable y su reputación internacional supera los límites de la lengua. En reconocimiento a su valor literario, fue incorporado al cuerpo consular chileno y, entre 1927 y 1944, representó a su país en ciudades de Asia, Latinoamérica y España. De ideas políticas izquierdistas, fue miembro del Partido Comunista chileno y senador entre 1945 y 1948. En el año 1970 fue designado candidato a la presidencia de Chile por su partido y, entre 1970 y 1972, fue embajador en Francia. En 1971 recibió el Premio Nobel de Literatura y el Premio Lenin de la Paz. Antes había obtenido el Premio Nacional de Literatura (1945). Adaptado de: http://www.epdlp.com/escritor.php?id=2595 Anexo 2 Completa los diagramas con las informaciones que más te llamaron la atención sobre ambos escritores: PABLO NERUDA ANTONIO SKÁRMETA Anexo 3 La película El cartero de Neruda, dirigida en 1995 por Michael Radford, está basada en la novela de Antonio Skármeta (Ardiente Paciencia). ¿Has visto alguna película basada en un libro? Comenta con tus compañeros. Anexo 4 Ahora vamos a ver la película. Para la próxima clase, trae las siguientes cuestiones respondidas. a) ¿Quién es el protagonista de la historia para ti? Justifica. b) Caracteriza el personaje que más te haya llamado la atención. c) ¿Por qué crees que se debe o no se debe ver esta película o leer este libro? d) ¿Conseguirías resumir el argumento de la película e imaginar un posible final para esta historia? Hazlo en un máximo de 150 palabras. 26 Anexo 5 En un momento de la película, Mario le dice ésta frase a Neruda para justificar la importancia de su poesía para él: obtener el amor de Beatriz. ¿Estás de acuerdo con esta afirmación? Comenta con tu compañero, luego contad a tu profesor vuestra opinión. Anexo 6 Para describir su pasión por su amada Neruda suele hacer alusión a objetos, a colores, a aromas y claro, también a sentimientos. Algunos ejemplos son el fuego, la tierra, el orgullo… ¿Y tú? ¿Qué palabras utilizarías o piensas que una persona enamorada utilizaría para describir el amor? ¿O a la persona amada? Echa un vistazo a las fotografías proyectadas que pueden sugerirte algunas ideas y piensa en otras cinco palabras o imágenes que asocias con este sentimiento. Anexo 7 Abajo tenemos el poema que Mario le regala a Beatrice, fíjate en él: Soneto XXVII Desnuda eres tan simple como una de tus manos, lisa, terrestre, mínima, redonda, transparente, tienes líneas de luna, caminos de manzana, desnuda eres delgada como el trigo desnudo. Desnuda eres azul como la noche en Cuba, tienes enredaderas y estrellas en el pelo, desnuda eres enorme y amarilla como el verano en una iglesia de oro. 27 Desnuda eres pequeña como una de tus uñas, curva, sutil, rosada hasta que nace el día y te metes en el subterráneo del mundo como en un largo túnel de trajes y trabajos: tu claridad se apaga, se viste, se deshoja y otra vez vuelve a ser una mano desnuda. ¿Hay alguna de las palabras que has apuntado anteriormente, presente en el poema? ¿Cuáles? Anexo 8 Ahora vamos a conocer otro poema de Pablo Neruda. Lo acompañaremos a partir de una versión musicada. Me gustas cuando callas porque estás como ausente, y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca. Parece que los ojos se te hubieran volado y parece que un beso te cerrara la boca. Como todas las cosas están llenas de mi alma emerges de las cosas, llena del alma mía. Mariposa de sueño, te pareces a mi alma, y te pareces a la palabra melancolía. Me gustas cuando callas y estás como distante. Y estás como quejándote, mariposa en arrullo. Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza: Déjame que me calle con el silencio tuyo. Déjame que te hable también con tu silencio claro como una lámpara, simple como un anillo. Eres como la noche, callada y constelada. Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo. Me gustas cuando callas porque estás como ausente. Distante y dolorosa como si hubieras muerto. Una palabra entonces, una sonrisa bastan. Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto. ¿Qué sensación, opinión te genera este poema? Has tenido muestras de poemas en la película “El Cartero de Neruda” y en las actividades anteriores. ¡Llega el momento de practicar tu escritura creativa! 28 ASPECTOS DE LA CREACIÓN LITERARIA EN EL ´’MARTÍN FIERRO” Gustavo Javier FIGLIOLO16 (UEL) Resumen El siguiente trabajo tiene por objetivo trazar, aunque de manera sucinta, algunos aspectos referentes a la creación poética de la obra “Martín Fierro”, de José Hernández. La representación de la figura del gaucho queda vivificada por el valor estético de la obra, cuya composición tropológica la coloca no sólo en el panteón de los clásicos, sino que la hace merecedora de esa distinción. Así, analizaremos la profusión de figuras de lenguaje que el poema contiene, principalmente las imágenes y las comparaciones, y en menor medida las metáforas. Comentaremos también acerca del vasto y riquísimo universo paremiológico que trasunta toda la obra. Finalmente, haremos una referencia a la métrica del poema, cuyas sextillas, invento del propio José Hernández, quiebran los paradigmas estróficos de la literatura gauchesca utilizados hasta entonces e imprimen una nueva cadencia al ritmo del poema. Palabras-clave: Martín Fierro. Poesía. Estilística. Creación Literaria. Resumo O seguinte trabalho tem como objetivo traçar, mesmo de maneira sucinta, alguns aspectos referentes á criação poética da obra “Martín Fierro”, de José Hernández. A representação da figura do gaucho é posta de relevo pelo valor estético da obra, cuja composição tropológica a coloca não só no panteão dos clássicos, mas também a faz merecer essa distinção. Assim, analisaremos a profusão de figuras de linguagem que o poema contém, principalmente as imagens e comparações, e em menor medida as metáforas. Comentaremos também acerca do vasto e riquíssimo universo paremiológico que permeia toda a obra. Finalmente, faremos uma referência à métrica do poema, cujas sextilhas, invento do próprio José Hernández, quebram os paradigmas estróficos da literatura gauchesca utilizados até então e imprimem uma nova cadência ao ritmo do poema. Palavras-chave: Martín Fierro. Poesia. Estilística. Criação Literária. 1. Introducción La literatura gauchesca presenta características particulares ligadas fuertemente al medio rural, hábitat del gaucho, con raíces populares originadas en la circulación oral de leyendas, historias, cuentos, poesía. Esta literatura proviene de un arte que conjugaba en sus orígenes la danza, la música y el canto; su temática gira en torno de la patria, la familia, la libertad, la justicia (y la injusticia), la honradez, la amistad, en definitiva, los principales valores y virtudes de la condición humana, que el gaucho tomo para sí como un modus vivendi que signaba su destino. La literatura gauchesca tiene su origen, probablemente, en la tradición oral. Las historias, la temática y principalmente el vocabulario contienen una especie de marca registrada que la identifican entre otros tipos literarios. Y dentro de ésta, el “Martín Fierro” resulta una culminación, un período que retoma la tradición y la populariza literariamente hasta alcanzar su cenit, con la obra de José Hernández, en la opinión de muchos autores y críticos literarios, como Jorge Luis Borges, Leopoldo Lugones, Beatriz Sarlo, Josefina Ludmer, Ricardo Rojas, entre otros. 16 Professor de Língua e Literatura Hispânicas da Universidade Estadual de Londrina. E-mail: [email protected]. 29 Este particular tipo literario, sin embargo, no fue producido por su personaje principal, el gaucho, sino por gente urbana letrada, periodistas, políticos, escritores. Es bien conocido el ensayo de Borges, “El Martín Fierro”, en el que sustenta esta posición: […] La poesía gauchesca es uno de los acontecimientos más singulares que la historia de la literatura registra. No se trata, como su nombre puede sugerir, de una poesía hecha por gauchos; personas educadas, señores de Buenos Aires o de Montevideo, la compusieron. A pesar de este origen culto, la poesía gauchesca es, ya lo veremos, genuinamente popular, y este paradójico mérito no es el menor de los que descubriremos en ella. (BORGES, 1995, p. 9) Y aclara, en su libro “Discusión” (1964, p.12): “tachar de artificial o de inveraz a la literatura gauchesca porque ésta no es obra de gauchos, sería pedantesco y ridículo” e que “todo gaucho de la literatura (todo personaje de la literatura) es, de alguna manera, el literato que la ideó” (BORGES, 1964, p.12). La literatura gauchesca consiste en uno de los más originales tipos de literaturas, o “sub-géneros” literarios, abarcando toda la cultura de un pueblo que marcó un pasaje y una época, pero no resumiéndose simplemente a la descripción del gaucho, sino tomando todo el contexto histórico que trasuntó la región del Río de la Plata durante los siglos XVI a XX, aproximadamente. Comenta Borges: [...] Derivar la literatura gauchesca de su materia, el gaucho, es una confusión que desfigura la notoria verdad. No menos necesario para la formación de ese género que la pampa y que las cuchillas fue el carácter urbano de Buenos Aires y de Montevideo. Las guerras de la Independencia, la guerra del Brasil, las guerras anárquicas, hicieron que los hombres de cultura civil se compenetrasen con el gauchaje: de la azarosa conjunción de esos dos estilos vitales, el asombro que uno produjo en otro, nació la literatura gauchesca. (BORGES, 1964, p. 12) Más que nativista, más que tradicionalista o regionalista, la literatura gauchesca contiene la representación de un pueblo que generó un tipo de cultura diferente, en su momento , a lo foráneo de la cultura hispánica y a lo autóctono de la tradición indígena. Con respecto a la importancia de ésta dentro de las letras argentinas e hispánicas de un modo más amplio, comenta Ricardo Rojas: [...] (los gauchos) son por su técnica embrionaria y su emoción auténtica, los primitivos de una real y venidera literatura nacional. […] Se equivocan los que piensan que toda esa producción es despreciable porque es rústica. Equivócanse los que buscan entre tales ensayos nuestros clásicos, como si la nuestra fuese una civilización ya realizada y no una civilización por realizarse. Si el arte argentino ha de pintar nuestros paisajes y perpetuar sus tradiciones, revelando el misterio de la vida humana en nuestro ambiente, los futuros poetas, dramaturgos y novelistas de la argentinidad, han de decir en formas superiores lo que dijeron esos primitivos, o han de repetir la propia actitud espiritual de esos humildes predecesores cuando intenten mostrar las nuevas inquietudes del amor, del dolor y de la gloria que la civilización vaya creando en el mismo ambiente de la naturaleza americana (ROJAS, 1948, p.639). Alejandra Laera comenta a respecto de las confrontaciones que se producen entre la literatura „popular‟ y la literatura „culta‟: 30 […] El gaucho es el tipo original, característico de nuestra sociedad. En él se reúne lo que tenemos de nuestro verdaderamente. Por eso las producciones literarias que pueden, con razón, llamarse argentinas son las que describen el campo en que se desenvuelve y actúa, como La Cautiva, las que describen el gaucho mismo, como el Facundo, las que describen el escenario y el autor, como el Lázaro de Ricardo Gutiérrez (LAERA, 2004, p.126). El arte de la creación literaria que nos presenta la literatura gauchesca se basa, principalmente, en relatos de hechos importantes de la realidad que por alguna razón marcaron época, mezclados con el elemento ficticio propio del relato de ficción, lo que acabó constituyendo la pura creación novelesca; en el caso del “Martín Fierro”, podríamos agregar un cierto elemento épico que sitúa al personaje y a la obra en un lugar casi mítico. Otra característica importante, además del obvio contenido temático que hace referencia a la vida y ambiente gauchescos, se da respecto a su tenor lingüístico. La literatura gauchesca utilizó como vehículo transmisor un lenguaje diferenciado del español puro u original por la utilización casi exhaustiva de refranes y expresiones, así como inflexiones propias del mundo del gaucho. Es probable que los autores de „la gauchesca‟ haya aumentado o atenuado ciertas características del hablar propio de los gauchos, y es cierto también que no hay un registro empírico que pruebe el tipo de lenguaje que éste utilizaba, pero sabemos que la transmisión oral es fuente de los archivos de la memoria y de la tradición, por lo que su carácter fidedigno parece ser válido. El gaucho creó e utilizó, dado su contexto, un habla particularísima cuya influencia se conserva hasta el día de hoy. En su carta-prólogo al Doctor José Zoilo Miguens, comenta el autor del “Martín Fierro”: […] Me he esforzado, sin presumir de haberlo conseguido, en presentar un tipo que personificara el carácter de nuestros gauchos, concentrando el modo de ser, de sentir, de pensar y de expresarse que les es peculiar, dotándolo con todos los juegos de su imaginación llena de imágenes y de colorido, con todos los arranques de su altivez, inmoderados hasta el crimen, y con todos los impulsos y arrebatos, hijos de una naturaleza que la educación no ha pulido y suavizado. (HERNÁNDEZ, 2007, p.105). Finalmente, podemos mencionar otro signo característico que estriba en la increíble profusión de paremias, esto es, sentencias, refranes, dichos, proverbios, etc., que sirven no solamente para realzar la belleza estética del poema, sino también (y principalmente) como elementos articuladores de definiciones filosóficas en los distintos aspectos de la vida a que el gaucho se veía sometido; la significación de estas expresiones, su semántica, funciona como una especia de bisagra que concatena hechos, situaciones y reflexiones de los distintos personajes inmersos en el mundo „gaucho‟. Véase el comentario que Hernández hace en la carta-prólogo a “La Vuelta de Martín Fierro”: […] El gaucho no conoce ni siquiera los elementos de su propio idioma, y sería una impropiedad, cuando menos, y una falta de verdad muy censurable, que quien no ha abierto jamás un libro siga la regla de arte de Blair, Hermosilla o la Academia. […] Qué singular es, y que digno de observación, el oír a nuestros paisanos más incultos expresar en dos versos claros y sencillos máximas y pensamientos morales que las naciones más antiguas, la India y la Persia, conservaban como un tesoro inestimable de su sabiduría proverbial; que los griegos escuchaban con veneración en boca de sus sabios más profundo, de Sócrates, fundador de la moral, de Platón y de Aristóteles, que entre los latinos difundió gloriosamente el afamado Séneca. (HERNÁNDEZ, 2007, p.196). 31 Toda la literatura gauchesca refleja el sentir del gaucho, su principal personaje y en torno del cual la vida acontece; es el “Martín Fierro” su obra cumbre, de la que analizaremos de manera breve algunos aspectos de su creación poética. 2. Algunos comentarios sobre la creación poética del “Martín Fierro” Dividiremos estos comentarios en tres partes, cada una de las cuales versará sobre un aspecto relacionado a la composición estilística de la obra en cuestión. La primera de las partes está centrada en las figuras de lenguaje. El “Martín Fierro”, como extenso poema, las utiliza constantemente. Hay una marcada preferencia por las comparaciones y un constante echar mano de las imágenes; las metáforas, sin embargo, no son muchas. En cuanto a las imágenes, sirven para relacionar elementos diversos, casi siempre del entorno del hábitat del gaucho. Predominan las del tipo A es B, en las que el segundo elemento es un animal, un objeto o cualquier cosa referente al entorno gaucho: Soy un pastel con relleno que parece torta frita (versos1697-98) Donde el gaucho se lamenta de sus posibilidades y de su estado. Suele verse una luz mala como de alma que anda en pena (versos 1258-59) Para ejemplificar el elemento sobrenatural. ¡Ai juna si me estiraron lo mesmo que guasca fresca! (versos 839-40) Imagen que relaciona el castigo con un comestible. Y chamuscao un sargento me contó que las tenían (versos 463-464) „Chamuscao‟, esto es, chamuscado, quemado superficialmente, empleado para las comidas o los objetos, aquí cobra la imagen de un hombre ebrio. Y naides me ha de seguir cuando yo remonto el vuelo (versos 95-6) Visualización del vuelo del ave que simboliza la libertad. Era una delicia el ver cómo pasaba sus días (versos 137-8) La vida feliz aquí se puede paladear. Con respecto a las comparaciones, siguen la línea de las imágenes, siempre alrededor del mundo del gaucho: Me salen coplas de adentro 32 como agua de la vertiente (versos 305-6) Las coplas que surgen de la inspiración del cantor. Nos tenía apuntaos a todos con más cuentas que un rosario (versos 709-10) La contabilidad minuciosa y puntillosa del alcalde. pero el indio es una hormiga que día y noche está despierto (versos 497-8) Para caracterizar al indio. y, eso sí, en los delicaos parecen hijos de rico (versos 905-6) Para describir a los inmigrantes. Y las metáforas también sirven para describir las aventuras y desventuras del gaucho: soy la liebre o soy el galgo asigún los tiempos andan (versos 981-2) Representación de la velocidad del gaucho para huir. A cada alma dolorida le gusta cantar sus penas (versos 935-6) Imagen del dolor. El bruto se asustó al ñudo Y fi el pavo de la boda (versos 857-8) Aquí el gaucho sufre un castigo injusto. Que suele quedarse a pie el gaucho más alvertido (versos 119-120) El gaucho sin caballo es una metáfora de la desorientación y el desamparo. Yo no quise aguardar más, Y me hice humo en un sotreta (versos 989-990) El gaucho que desaparece. Pero las metáforas no indican solamente cosas tangibles o palpables, concretas; el episodio de la payada de Fierro con el Moreno es emblemático de la utilización clásica de la metáfora para expresar las dudas y misterios más antiguos del hombre. Así, cuando Fierro le pregunta al Moreno cuál es el canto del cielo, obtiene como respuesta: Los cielos lloran y cantan 33 hasta en el mayor silencio; lloran al cair el rocío, cantan al silbar los vientos, lloran cuando cain las aguas, cantan cuando brama el trueno. (versos 4079-85) Y delante del cuestionamiento del canto de la tierra, el Moreno responde: Y le daré una respuesta sigún mis pocos alcances; forman un canto en la tierra el dolor de tanta madre, el gemir de los que ,mueren y el llorar de los que nacen. (versos 4109-14) Y para el canto de la noche: Son los secretos misterios que las tinieblas esconden; son los ecos que rresponden a la voz del que da un grito, como un lamento infinito, que viene de no sé dónde. (versos 4157-62) Estas respuestas que el Moreno da a Martín Fierro son bellísimas imágenes metafóricas de lo más inexpugnable que existe de la propia creación divina. El segundo elemento central del poema está contenido en su, como ya comentamos, riquísimo universo paremiológico. En efecto, es notoria la cantidad de refranes y expresiones que José Hernández utilizó en la construcción de la obra. Luis Sáinz de Medrano hace el siguiente comentario: […] Junto a las comparaciones, el poema se caracteriza también, sobre todo, por la abundancia de sentencias y refranes. Esta riqueza paremiológica está principalmente enraizada en la tradición castellana, modificada por las vivencias gauchescas. Es éste uno de los aspectos de la obra que más hacen pensar en su radical entronque con lo hispánico. (MEDRANO, 2007, p.75). Los ejemplos son tantos que sería difícil hacer una enumeración. Bástenos citar los consejos que el “Viejo Viscacha” da al segundo hijo de Martín Fierro: Siempre andaba retobao; con ninguno solía hablar; se divertía en escarbar y hacer marcas con el dedo, y en cuanto se ponía en pedo me empezaba a aconsejar. Me parece que lo veo con su poncho calamaco después de echar un güen taco ansí principiaba a hablar; 34 "jamás llegués a parar ande veas perros flacos”. El primer cuidao del hombre es defender el pellejo. lleváte de mi consejo, fijáte bien em lo que hablo: el diablo sabe por diablo, pero más sabe por viejo. "Hacéte amigo del Juez; no le des de qué quejarse; y cuando quiera enojarse vos te debés encoger, pues siempre es güeno tener palenque ande ir a rascarse." Nunca le llevés la contra, porque él manda la gavilla: allí sentao en su silla, ningún güey le sale bravo; a uno le da con el clavo y a otro con la cantramilla. El hombre, hasta el más soberbio, con más espinas que un tala, aflueja andando en la mala y es blando como manteca: hasta la hacienda baguala cai al jagüel con la seca. No andés cambiando de cueva; hacé las que hace el ratón. conserváte en el rincón en que empezó tu esistencia: vaca que cambia querencia se atrasa en la parición. Y menudiando los tragos aquel viejo, como cerro, no "olvidés", me decia, "Fierro, que el hombre no debe crer en lágrimas de mujer ni en renguera del perro. No te debes afligir aunque el mundo se desplome. lo que más precisa el hombre tener, sigún yo discurro, es la memoria del burro, que nunca olvida ande come. (versos 2301-54). Señalamos en negrita algunas expresiones que tienen la fuerza y la semántica de un refrán; en nueve estrofas y cincuenta y tres versos contamos cinco refranes, además de toda 35 una serie de expresiones y decires propios del ámbito rural de la pampa. Citaremos, para complementar, nuevamente a Medrano: […] Renunciamos a ampliar el número de ejemplos. Baste acercarse a los consejos del viejo Viscacha y a los de Martín Fierro para apreciar su tumultuosa proliferación. Concretamente en las 23 estrofas correspondientes a Viscacha encontramos trece expresiones que pueden ser directamente consideradas como refranes y podemos añadir que en los demás casos sólo la primera sextilla de ese grupo se encuentra desprovista de una expresión sentenciosa. (MEDRANO, 2007, p.76). Por último, una palabra sobre la métrica. La tipología de versos en toda la poesía gauchesca está determinada por el factor del agregado musical que a ésta se le hacía, con la guitarra con la que el gaucho demostraba sus dotes artísticas en las payadas. La métrica es fundamentalmente el octosílabo tradicional del romancero hispánico, óptimo para transmitir un ritmo y una cadencia pegadizas, donde la prosodia juega un papel muy importante. En los poetas contemporáneos o anteriores a Hernández, dentro del género es habitual el uso de cuartetas (abcb), décimas, seguidillas, redondillas, coplas de pie quebrado, pareados y formas estróficas varias (de 12, 8, 7, 6 y 5 versos). El esquema típico de la sextilla hernandiana, abbccb, es prácticamente inédito, con alguna rara aparición anterior. Cada sextilla constituye normalmente una unidad de sentido que no precisa acoplarse con la siguiente para completarlo. De hecho puede decirse que en ocasiones constituyen, individualmente, pequeños poemas. Hernández varía, en algunas partes del poema, las sextillas, con: Octosílabos abcb, canto VII, 1 parte; Romance, canto XI e XX, 2 parte; Redondillas, canto XXIII, 2 parte. Conclusión El “Martín Fierro, de José Hernández, se levanta como un ícono no sólo en la literatura gauchesca, sino en toda la literatura argentina e hispanoamericana. Lindante con la categoría de épico, el poema hace una descripción como pocas han sido hechas del gaucho, su vida y su destino. Hernández logró plasmar en la obra, además del contenido del modus vivendi y el modus operandi del gaucho, el hado a que estuvo sometido, trazando su epopeya desde sus orígenes y a través de toda su evolución, hasta el destino final de desaparición como tipo étnico; de hecho, el dirigirse a los cuatro vientos es una clara metáfora del desperdigar que se pulveriza justamente en el elemento etéreo, en una ida sin vueltas. Y el poema alcanza una belleza mayor con la estilística trabajada y consumada que acompaña a la figura melancólica y nostálgica del gaucho. Referencias BORGES, Jorge Luis. Discusión. 6.ed. Madrid: Alianza, 1995. ______. El Martín Fierro. Buenos Aires: Emecé, 1964. HERNÁNDEZ, José. Martín Fierro. Ed. de Luis Sáinz de Medrano. Madrid: Cátedra, 2007. LAERA, Alejandra. El tiempo vacío de la ficción. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2004. ROJAS, Ricardo. Historia de la literatura argentina: los gauchescos I- II. Buenos Aires: Losada, 1948. 36 O CONTEXTO SOCIO-POLÍTICO E LITERÁRIO LATINO-AMERICANO PELA PERSPECTIVA DE EDUARDO GALEANO Jenifer Lopes de BRITO (G – UEL) Cláudia Cristina FERREIRA (UEL) Resumo O presente trabalho se destina a abordar o panorama histórico-político social do Colonialismo na América Latina no recorte de Eduardo Galeano, jornalista e escritor uruguaio, reconhecido por seu talento literário e seu ativismo político. Galeano correu riscos em defesa dos direitos humanos e contra a exploração de pessoas cometidas pelas sociedades “desenvolvidas”. Com o olhar voltado para o passado, buscamos compreender as relações entre pessoas e sociedades permeadas pela colonização. Pretendemos mostrar o reflexo da despersonificação e a aceitação de ideologias impostas pelo colonizador e que ainda se faz presente na forma de pensar da sociedade atual. Por conseguinte, falaremos da educação como meio de formar cidadãos mais conscientes e críticos e que respeitam as diversidades culturais. Abordaremos também o ensino de língua estrangeira e do uso da literatura, ferramentas importantes para expor o aluno a hábitos e costumes distintos, ampliando assim sua visão de mundo, levandoo a compreender melhor a cultura do outro e à valorização dos contrastes também dentro da sociedade em que vive. Palavras-chave: Colonialismo. Eduardo Galeano. Função político-social. América Latina. Resumen El presente trabajo aborda el panorama histórico, político y social del Colonialismo en América Latina, bajo la perspectiva del escritor, periodista y activista político uruguayo, Eduardo Galeano, de reconocido talento. Éste, a lo largo de su vida, corrió riesgo en defensa de los derechos humanos, luchando contra la explotación ejercida por las sociedades “desarrolladas”. Al volver la mirada hacia el pasado, intentamos comprender las relaciones sociales en el contexto de la colonización. Pretendemos mostrar el reflejo de la alienación y la imposición de ideas del colonizador, aún presente en la mentalidad de la sociedad actual. Por consiguiente, hablamos sobre la educación como medio de formación de ciudadanos más conscientes, críticos y respetuosos con la diversidad cultural. También discutimos sobre la enseñanza de lengua extranjera y el uso de la literatura como herramientas importantes para mostrar al aluno los distintos hábitos y costumbres, para que este amplíe su visión de mundo, comprenda mejor la cultura del otro y valore los contrastes de la sociedad en la que vive. Palabras clave: Colonialismo. Eduardo Galeano. Función político-social. América Latina. 1. Introdução A idéia desta pesquisa surgiu durante a participação no projeto Portal Literário: (Re)construindo significados, proposto em 2010, na Universidade Estadual de Londrina. Durante os encontros semanais, trabalhávamos com textos do renomado escritor uruguaio Eduardo Hughes Galeano, que aborda recorrentemente o contexto histórico-político social da América Latina como pano de fundo para suas obras. Um de seus livros mais importantes, As Veias Abertas da América Latina, narra a história da colonização, o genocídio, o saqueio, a exploração dos recursos naturais e de pessoas que as nações denominadas como “desenvolvidas” praticam desde o descobrimento. O foco de análise do presente artigo se pauta em dois textos nos quais o autor fala das identidades e da cultura de dois povos discriminados durante a colonização. No texto Así se prueba que los índios son inferiores estudaremos as justificativas europeias para a inferiorização do indígena e no texto Así se prueba que los negros son inferiores, a visão preconceituosa que igualava o negro a um ser 37 irracional, desqualificado. O negro e o indígena, condenados à inferioridade por questões biológicas (segundo o europeu) e questões religiosas próprias de suas culturas e que contrastavam com a realidade estrangeira e racista. Eduardo Galeano ganhou vários prêmios, títulos honorários e reconhecimento por seu talento literário e seu ativismo político. Durante onze esteve exilado no período da ditadura, entretanto, não se omitiu nem teve sua voz sufocada diante das injustiças ou das formas de brutalidade e exploração. Engajado e comprometido com causas político sociais, correu riscos em defesa dos direitos humanos e lutou contra as desigualdades sociais (ALLENDE, 1976, p. I). O presente trabalho tem como objetivo analisar os traços atribuídos ao colonizado, o quanto este importa ao colonizador, o reflexo da despersonificação e da aceitação de ideologias impostas durante o período da colonização e que ainda sustentam o preconceito. Contudo, no decorrer deste artigo, citamos textos de importantes autores que versam sobre a temática a ser apresentada, obtendo maior ênfase em nossa história para que possamos mudar a realidade atual por meio da conscientização, contra os preconceitos e a exploração de um indivíduo por outro. O convite que o escritor faz para conhecermos e, por conseguinte, refletirmos sobre nossa história, para não aceitarmos eternamente o desequilíbrio e as desigualdades sociais, incentivou-nos a analisar o passado histórico-político social e pensarmos sobre o futuro que deixaremos para nossos descendentes. Por conseguinte, neste artigo, tratamos o emprego da literatura também como meio de evitar choques culturais. Nela, refletem-se boa parte da cultura de um povo e a oportunidade de entender diversas formas de pensar, de se organizar e de se expressar. Devido à necessidade de relacionamento com diversas culturas em expansão por meio do turismo e de intercâmbios e como consequência da globalização, o professor de língua estrangeira, por exemplo, pode usar a literatura como importante ferramenta para ensinar um idioma e ao mesmo tempo apresentar as diferentes manifestações culturais despertando no aprendiz a necessidade de refletir e compreender os valores do outro. 2. As contribuições da literatura no ensino de língua espanhola No Brasil, a língua espanhola vem crescendo constantemente, o Mercosul composto por quatro países, três deles tem o espanhol como língua oficial, depois do inglês é também a segunda língua mundial. Mais de 332 milhões de pessoas falam o espanhol como primeira língua, em número de falantes nativos perde somente para o chinês (mandarim), cuja projeção não pode ser comparada com uma língua “mundial” como o inglês, o espanhol ou (o) francês. Há mais falantes de espanhol como língua nativa do que de Inglês, que conta apenas com 322 milhões de falantes nativos (SEDYCIAS, 2005, p. 38). Nossas fronteiras são cercadas por este idioma que tem em sua literatura alguns dos melhores escritores que o mundo já produziu, muitos deles ganhadores do prêmio Nobel de literatura, como Pablo Neruda, Gabriel García Márquez e Gabriela Mistral. O que reforça os motivos para termos interesse em aprender a língua em que essas importantes obras foram escritas (SEDYCIAS, 2005, p. 39). La lengua española transmite signos inequívocos de su enorme creatividad y proyección tanto por su expansión demográfica como por su penetración cultural en ámbitos no hispanos por medio de la literatura, la música, el arte, la gastronomía..., así como por su paulatino peso en los foros internacionales. Implica, en fin, afirmar que el idioma español ocupa un lugar de privilegio como sistema de comunicación entre los diferentes pueblos que habitan nuestro planeta (SANCHEZ LOBATO, 2002, p. 32). 38 A necessidade de relacionamento que temos com nossos vizinhos reforça a importância da aprendizagem da língua espanhola, bem como a compreensão dos hábitos e costumes desses povos. Sabendo que língua e cultura estão estreitamente ligadas (BAPTISTA, 2004; BENÍTEZ PÉREZ, DURÃO, 2001; DURÃO, 1999, 2004; DURÃO, FERREIRA, 2004; FERREIRA, 2002, 2003, 2005, 2007; FERREIRA, DURÃO, BENÍTEZ PÉREZ, 2006; SÁNCHEZ LOBATO, 2002) vemos neste processo de aprendizagem o emprego da literatura como principal ferramenta para desenvolver a visão crítica do aluno à medida que ele vai tendo acesso a visão de mundo que o outro possui. O professor tem o importante papel de abordar temas que possam conscientizar os educandos, diminuindo o choque cultural e aproximando a cultura do aluno à cultura do idioma ensinado. Para Sanchez Lobato (2002, p. 10) la lengua es siempre espejo de la cultura y de las formas de vida de la colectividad que la habla. Comentando acerca do uso de textos literários, Ferreira (2001, p. 15) afirma que o papel do professor nada mais é do que tentar formar seres pensantes, cidadãos mais conscientes e críticos, participantes ativos na (trans)formação de sua própria história. Ao proporcionar ao aluno maior conhecimento sobre as raízes da cultura espanhola, por meio da leitura do texto literário, o educador incentiva o pensamento crítico do aluno que passa a conceber as diferenças culturais do outro, visto que são compreensíveis quando analisadas por meio de seus componentes e de sua formação ao longo do tempo. Ao ensino da língua espanhola pode-se acrescentar, por exemplo, as contribuições recebidas dos povos árabes e romanos, que por longo tempo dominaram o território espanhol, deixando traços culturais no vocabulário, na culinária e no modo de vida hispânico; bem como, a difusão da Língua Espanhola mediante a colonização das Américas La lengua es el vehículo de la comunicación social – no lo olvidemos – y cada etapa histórica acomoda la lenguaje el medio en el que se desenvuelve, tanto el lenguaje de la técnica como el del pensamiento, para que la comunicación sea lo mejor posible entre los miembros de la colectividad (SANCHEZ LOBATO, 2002, p. 12) A literatura possui vários estilos, formas distintas de transmitir o conhecimento, mas uma das principais características de um texto literário é a marca que ele traz de sua época, do período em que foi escrito, a emoção do escritor, a riqueza de detalhes que fazem com que compartilhemos o sentimento do autor. Observa Santos (2009, p. 20) que a leitura de textos literários não é apenas um ato de decodificação de palavras, mas também uma forma de reflexão, que conduz o aprendiz a uma competência exercida e praticada de forma autônoma. Dessa forma, a literatura é compreendida como instrumento para conscientização do educador que deve despertar para usá-la como um meio de incentivar os aprendizes da língua em questão. Segundo Nogueira (2008, p. 165) a literatura satisfaz a necessidade de fantasia, de ficção do ser humano, proporcionando certo prazer quando o leitor se deixa envolver pela história, quando vivencia a leitura através da imaginação. Nessa descrição concebe-se que a literatura permite o contato por meio do texto escrito, é uma força humanizadora que com seu conteúdo pode conduzir o leitor a compreender o que não faz parte da sua realidade através do imaginário, dando condições ao leitor de estabelecer semelhanças e diferenças culturais, a percepção e a reflexão sobre o outro e sua história torna crítica sua interpretação e muda sua visão de mundo. 39 3. O eu e o(s) outro(s): em busca da identidade É possível identificar o amadurecimento de uma sociedade pela qualidade que ela desenvolve de entender as demais. Em lugar de fazer com que seus próprios hábitos e valores atuem como empecilho ao conhecimento, ela se lança na fascinante aventura de tentar compreender o diferente, o outro (JUNQUEIRA, 1999, p. 11). O pensamento do colonizador que julgava o indígena como preguiçoso e selvagem ainda está enraizado na sociedade atual que, na maioria das vezes, esquece ou simplesmente não se interessa pelo próprio passado. Aceitamos uma idéia que foi imposta há 500 anos e que ainda continua a sustentar o preconceito. Segundo essa visão eurocêntrica, o indígena é interpretado como merecedor da pobreza e da inferioridade, consequências do modo como se organizam? Ignoran el derecho de propriedad, y compartem todo, y carecen de afán de riqueza? Porque son más parentes del mono que del hombre (GALEANO, 2008, p. 63). Ainda hoje podemos ver que indígenas são discriminados, vítimas daqueles que não se importam com seus valores, tradições, crenças e cultura. Os indígenas não conheciam o ferro, o vidro, os tecidos ou as armas utilizadas pelos colonizadores. Viviam da caça, pesca e agricultura incipiente. Suas armas eram, principalmente, o arco e flecha. A crença indígena era voltada para o culto à natureza, mãe, pois era ela a provedora do sustento de todos. ? Adoran a la naturaleza, a la que tienem por madre, y creen que ella es sagrada? Porque son incapaces de la religión y sólo puden profesar la idolatría (GALEANO, 2008, p. 63) apontando o indígena como pecador o colonizador europeu condenava-os à escravidão por merecimento. Impondo o catolicismo proibiram o culto indígena. Por questões de raça e até mesmo por motivos biológicos acreditavam que os indígenas e também os negros, trazidos da África para trabalharem como escravos, jamais seriam capazes de pensar e agir como os homens brancos, os “civilizados”. O modo de vida nativo em nenhuma de suas áreas era semelhante ao dos europeus recém chegados nestas terras . Os contrastes alimentaram nos colonizadores o sentimento de superioridade ? Andan desnudos, como se todo el cuerpo fuera cara? Porque los selvajes no tienen verguenza (GALEANO, 2008, p. 63) ao fazerem comparações culturais, passaram a julgar o indígena como selvagem, bárbaro e atrasado. Nas palavras de Galeano (2008, p. 52) “Juan Ginés de Sepúlveda, o humanista, sustentava que os índios mereciam o trato que recebiam porque seus pecados e idolatrias constituíam uma ofensa a Deus”. Assim, sempre justificavam as brutalidades cometidas durante a escravização indígena. Ao analisarmos o passado e compará-lo com a atual situação que enfrenta o indígena, podemos ver o contexto em que se encontram. Foram privados de suas terras e vivem isolados, evitando o contato com a sociedade que os discrimina. As diferenças culturais e o desenvolvimento de ambos os mundos explicam como se deu o extermínio das civilizações que habitavam a América Latina. O cacique Tecum, à frente dos herdeiros dos maias, decapitou o cavalo de Pedro Alvarado, convencido de que formava parte do conquistador: Alvarado levantou-se e o matou (GALEANO, 1976, p. 29). Com base neste fragmento, o autor conclui que os índios foram vencidos também pelo medo do desconhecido. Temiam seus cavalos e até os traços distintos da aparência do europeu. Estima-se que mais da metade da população indígena tenha morrido logo no primeiro contato com os homens brancos já que os nativos não tinham um sistema imunológico forte o 40 bastante para combater as novas doenças. De acordo com Galeano (1976, p.14),“Com tiros de arcabuz, golpes de espada e sopros de pestes, avançavam os implacáveis e escassos conquistadores da América.” Eles tinham que destituir-se da sua identidade para adequar-se à nova sociedade. Muitos lutaram contra a escravidão e, preferindo a morte à submissão, enforcavam-se com as próprias mãos? Se suicidan los indios de las islas del mar del Caribe? Porque son holgazanes y se niegan a trabajar (GALEANO, 2008, p. 63). Ao impor seu tipo de economia e sociedade, o colonizador causava também o extermínio do modo de vida nativo. Conflitos interétnicos existiram desde sempre, opondo as tribos indígenas umas às outras. Mas isso se dava sem maiores consequências, porque nenhuma delas tinha a possibilidade de impor sua hegemonia às demais. A situação muda completamente quando entra neste conflito um novo tipo de contendor, de caráter irreconciliável, que é o dominador europeu e os novos grupos humanos que ele vai aglutinando, avassalando e configurando como uma macroetnia expansionista (RIBEIRO, 1995, p. 168). Com a indagação feita pelo antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro, podemos ter noção do impacto da colonização e o que ela representou para os habitantes nativos. Podemos imaginar dezenas de milhares de índios, à procura de refúgio e de liberdade? Podemos nos perguntar se aqui viviam selvagens ou se os que aqui chegaram se dizendo civilizados eram mesmo superiores. Como nós podemos resgatar a dívida contraída com as nações indígenas? Nenhum povo que passasse por isso como sua rotina de vida, através de séculos, sairia dela sem ficar marcado indelevelmente. Todos nós brasileiros, somos carne da carne daqueles índios e negros supliciados. Todos nós brasileiros somos, por igual, a mão possessa que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que também somos (RIBEIRO, 1995, p. 120). Da mesma forma, podemos citar a situação do negro, que é obrigado a abandonar sua terra, é vendido e se torna propriedade, objeto de posse do seu senhor. Condenado à escravidão não pôde praticar sua cultura, falar sua língua, exercer sua religião, de origem africana. Dormiam em galpões úmidos, sem higiene, recebiam alimentação da pior qualidade, eram açoitados frequentemente e acorrentados. Forçados a trabalhar para promover o desenvolvimento europeu por meio da exploração dos recursos naturais, os negros foram coisificados e, como os indígenas, reduzidos a braços e considerados desprovidos de intelecto, visto que Bacon, De Maistre, Montesquieu, Hume e Bodin negaram-se a reconhecer como semelhantes os “homens degredados” do novo mundo (GALEANO, 1976, p. 52). A mulher negra também foi escravizada, sendo submetida a serviços domésticos. Não tinha o direito de criar seus filhos, sofria abuso sexual e psicológico ao enfrentar as separações devido à venda de seus filhos e parentes. Os escravos se chamavam “peças da índia” quando eram medidos, pesados e embarcados em Luanda; os que sobreviviam à travessia do oceano se convertiam, já no Brasil, em “mãos e pés” do amo branco. (GALEANO, 1976, p. 65) Segundo Galeano, mesmo depois da abolição da escravatura estudiosos e preconceituosos buscaram justificar a pobreza do negro como fator biológico, e não como consequência das ações da própria sociedade contra o negro Francis Galton, padre de la eugenesia, método científico para impedir la propagación de los insectos: Un cocodrilo 41 jamás podrá llegar a ser una gacela, ni un negro podrá jamás ser un miembro de la clase media (GALEANO, 2008, p. 63). Nossos antepassados foram esmagados pelo contraste dos padrões de comportamento, e pelos contrastes de valores materiais e espirituais, que são características marcantes da cultura e da identidade latino-americana. De certa forma, também herdamos a falta de tolerância com o outro. Nada mudou após o período colonial, pois aqueles que tem o poder definem os critérios que justificam a exclusão e a exploração daqueles que denunciam sua identidade na cor da pele ou na (re)afirmação de sua cultura. Los medios dominantes de comunicación, que muestran la actualidad del mundo como un espectáculo fugaz, ajeno a la realidad y vacío de memoria, bendicen y ayudan a perpetuar la organización de la desigualdad creciente. Nunca el mundo ha sido tan injusto en el reparto de los panes y los peces, pero el sistema que en el mundo rige, y que ahora se llama, pudorosamente economía de mercado, se sumerge cada día en un baño de impunidad (GALEANO, 2008, p. 32). A educação crítica deve ter o papel de conscientizar-nos em nossas relações sociais. Resgatar a dívida contraída com esses povos requer reflexões sobre o passado desses povos, dos inúmeros abusos que sofreram, ainda restam marcas que carregam e os efeitos dessas impunidades são evidentes. Práticas para a mudança, questionamentos sobre a falta de acesso à educação em determinadas classes sociais, reflexões sobre o que dificulta seu protagonismo social e promove sua inferiorização são caminhos que devemos seguir a fim de mudar nossa realidade e conscientizar-nos acerca das contribuições desses povos para a formação da nossa identidade. 4. Considerações finais Podemos concluir que a questão da identidade também é um problema social, posto que menosprezamos ou desprezamos a história e os valores dos nossos antepassados, ocultando todo o seu valor e sua relevância na formação e constituição de cada nação. A forma com que voltamos o olhar para nossa história, negando e desvalorizando as próprias raízes culturais é a principal causa de preconceitos e da incapacidade de conviver com o diferente. A literatura, muitas vezes ocultada ou esquecida por educadores pode ser um meio de formar cidadãos mais conscientes, críticos e engajados, determinados a lutar por uma sociedade mais justa e equânime. A literatura possui funções significantes que são esquecidas ou enfocadas superficialmente, como a mobilização do imaginário, a reflexão crítica sobre temas variados e o ensino sobre panoramas históricos e culturais da época em que o texto foi escrito; mudando, assim, todo um comportamento, uma maneira de pensar, um imaginário coletivo e uma visão de época. (FERREIRA, 2001, p. 60) Alguns textos literários nos revelam pessoas com idéias e atitudes que foram capazes de mudar algo na sociedade em que viviam. O sentimento de orgulho, a valorização e o reconhecimento das contribuições africanas e indígenas na formação da nossa identidade latino-americana é urgente e deve fazer parte do futuro para o qual estamos caminhando. A aprendizagem de línguas estrangeiras também é um meio de expor o educando a hábitos, costumes e crenças diferentes, nos ajuda a conhecer outras culturas e compreender melhor nossas relações sociais. Porém, compreender um idioma é mais do que obter informações sobre hábitos e costumes que se contrastam com os nossos, 42 Não é somente identificar a cultura na língua estrangeira ensinada. Requer que essa língua do Outro nos leve a pensar nossa própria visão de mundo. Permite que vejamos no contraste e na diferença não só o conflito, mas também a tolerância. E talvez tolerância seja a virtude que mais precisamos nos dias de hoje. (GIMENES, 2001, p. 114) Ao refletir sobre a questão da tolerância como virtude necessária para diminuir conflitos, podemos pensar que tolerar é permitir que este outro seja diferente e isso não é o suficiente. As relações precisam ser de igualdade e não de superioridade, onde um grupo concede ao outro o direito de ser diferente. Segundo Goettenauer (2005, p. 66) o professor de língua estrangeira é um educador que contribui para a formação do caráter do aprendiz, para ele, formar dentro dessa área é ir além da gramática ou do vocabulário, é transformar o aluno em um indivíduo capaz de transitar por várias culturas, sem menosprezá-las. É sensibilizá-lo para captar especificidades, não como aspectos “estranhos” ou “engraçados”, mas como traços inerentes do outro. Passar a compreender os diversos tipos de culturas e não excluí-las seria um dos passos para a construção de uma sociedade que não se julga inferior ou desprovida de conhecimento, que respeita e valoriza as diferenças e que se autoquestionando ao olhar o outro, busca minimizar ou expungir as diferenças sociais. Faz-se necessário ressaltar que a educação deve ser um meio de mostrar o lugar que ocupamos na sociedade. Para Ferreira (2001) deve implicar em nossas ações para a construção de uma sociedade mais justa. Deve formar cidadãos conscientes que lutam para o protagonismo social de todos e para a construção de uma sociedade mais igualitária, portanto, contra os preconceitos e a exploração de um indivíduo por outro, pois "Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda." (FREIRE, 2000, p. 67). Acreditamos que a educação tem o poder de mudar a colonialidade do nosso pensamento. Nesse sentido, faz-se necessário haver conscientização, persistência e atitude. Referências BAPTISTA, Lívia Márcia Tiba Rádis. Língua e cultura no ensino de espanhol a brasileiros: contribuições para a formação de professores. 2004. 181 p. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade de São Paulo, São Paulo. BENÍTEZ PÉREZ, Pedro; DURÃO, Adja Balbino de Amorim Barbieri. “Lengua, Cultura y Enseñanza de ELE”. 20 años de APEERJ. El español: un idioma universal. Rio de Janeiro: APEERJ, 2001. p. 43-53. DURÃO, Adja Balbino de Amorim Barbieri. 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O imperativo em gramáticas e em livros didáticos de espanhol como língua estrangeira visto sob a ótica dos modelos de Análise Contrastiva e de Análise de Erros. 2007. 3t. Tese (Doutorado em Estudos da Linguagem) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina. ______; DURÃO, Adja Balbino de Amorim Barbieri; BENÍTEZ PÉREZ, Pedro. ¿Por qué trabajar con la competencia sociocultural en clase de E/LE? Actas del III Simposio Internacional José Carlos Lisboa. 2006. p. 179-187. ______. Relendo Pepetela e Jorge Amado: cenários lusófonos enviesados pelo Realismo Mágico – uma estrutura mítica pautada na vertente culturológica. Dissertação de conclusão do curso de Mestrado em Letras, na área de concentração de estudos literários. UEL, Londrina. 2002. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora UNESP, 2000. GALEANO, Eduardo. As Veias abertas da América Latina. 30.ed. Tradução de Galeno de Freitas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. ______. 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Monografia (Especialização em Ensino de Línguas Estrangeiras) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina. SÁNCHEZ LOBATO, Jesús. “Lengua y cultura. La tradición cultural hispánica”. In: SÁNCHEZ LOBATO, Jesús; SANTOS GARGALLO, Isabel; PINILLA GÓMEZ, Raquel. Asedio a la enseñanza del español como segunda lengua (L2) / lengua extranjera (LE). Madrid: SGEL, 2002. p.7-28. SEDYCIAS, J. O ensino de espanhol no Brasil. São Paulo: Parábola, 2005. 44 UNAMUNO Y LA GENERACIÓN DEL 98 Liliana Maria TREVISAN17 (G – UEL) Gustavo Javier FIGLIOLO18 (UEL – Orientador) Resumo A Generación del 98, movimento intelectual que se destacou por insuflar a identidade do povo espanhol, moralmente humilhado pela perda de suas colônias, promoveu a idéia de reconstrução da nação, por isso, chamados Regeneracionistas. Identificados pelo Desastre de 98, suas ações produziram conseqüências na sociedade desde um ponto de vista político, social e econômico. Seu lema: “despensa y escuela”, revelava o entendimento de uma imediata reforma agrária e a instalação de uma escola universal. Miguel de Unamuno, literato e filósofo, foi uma personalidade destacada tanto no grupo quanto na literatura do século XX. Considerado o pai espiritual da Generación del 98, a temática de seus livros envolvem questões existenciais como a vida e a morte, a fé, Deus e seu país: Espanha. Considerado o primeiro escritor existencialista do século XX, o presente trabalho pretende mostrar um panorama de sua obra. Palavras-chave: Geração de 98. Literatura. Unamuno. Resumen La Generación del 98, movimiento intelectual que se destacó por insuflar la identidad del pueblo español, moralmente humillado por la pérdida de sus colonias, promovió la idea de reconstrucción de la nación, por esto, llamados Regeneracionistas. Identificados por el Desastre del 98, sus acciones produjeron consecuencias en la sociedad desde un punto vista político, social y económico. Su mote: “despensa y escuela”, revelaba el entendimiento de una inmediata reforma agraria y la instalación de una escuela universal. Miguel de Unamuno, literato y filósofo, fue una personalidad destacada tanto en el grupo como en la literatura española del siglo XX. Considerado el padre espiritual de la Generación 98, la temática de sus libros envuelven cuestiones existenciales como la vida y la muerte, la fe, Dios y su país: España. Considerado el primer escritor existencialista del siglo XX, el presente trabajo pretende mostrar un panorama de su obra. Palabras clave: Generación del 98. Literatura. Unamuno. 1. Introdução Este estudo compreende uma análise da chamada “Geração de 98” e as conseqüências que seu ideário trouxe para a Espanha e países a ela ligados por vínculos políticos, sociais e econômicos. O destaque biográfico é para a figura de Unamuno, considerado o pai espiritual dos intelectuais da “Geração”, num momento em que havia a necessidade de insuflar a identidade do povo pela perda de suas colônias. A abordagem nacionalista entre os jovens intelectuais da Geração de 98, intensa e ousada, ao longo do tempo, rendeu varias vertentes; a simpatia ideológica pelo Desastre os leva a um pessimismo existencial e outras direções não defendidas por ocasião do episódio de Cuba. A Geração de 98 denunciou as necessidades básicas do povo, seja, a comida (despensa) e a cidadania (escola) e propôs soluções, diante da situação caótica em que se encontrava a Espanha; estes intelectuais, inspirados nos “Regeneracionistas”, também promoveram a idéia de reconstrução. Unamuno, com abordagem literária de vanguarda, quebrou preceitos da crítica literária e apresentou um novo tipo de gênero narrativo, por ele 17 Aluna do segundo ano da graduação do Curso de Letras/Espanhol da Universidade Estadual de Londrina. Email: [email protected]. 18 Professor de Língua e Literatura Espanholas do Departamento de Línguas Estrangeiras Modernas da Universidade Estadual de Londrina. E-mail: [email protected]. 45 denominado “Nivola”, presente em “Névoa” (1907). Este modo diferente de escrever sob o signo do realismo foi sua forma de ab-rogar normas literárias cristalizadas. Sua grande capacidade intelectual o torna mentor de seus pares e, naturalmente, um grande nome a ser estudado pelos que se interessam pela obra literária e sua função de influenciar pessoas e mudar realidades. A produção literária, aqui, é pedra de toque para a evolução da literatura espanhola do século XX e hispano-americana. Tão certa foi sua influência, que os autores ícones da literatura espanhola e hispano-americanos se convertem em modelos internacionais (ROYANO. 2000, p 8). Eis, de Unamuno, a necessidade de permanecer-se: ”Não quero morrer, não; não quero, nem quero querê-lo; quero viver sempre, [...] e viver eu, este pobre eu que sou e me sinto ser agora e aqui. Por isso, tortura-me o problema da duração de minha alma, da minha própria alma”. (UNAMUNO, 1996, p. 44) 2. 1898: o “desastre” A formação do pensamento “Regeneracionista” e a ”Geração de 98” foi marcada não apenas pelo episódio de Cuba ou a perda do poderio colonial da Espanha, em 1898, mas também, segundo Luis de Lhera (2003, p. 78), por uma nova concepção do que se entendia por intelectual. A imprensa teve papel decisivo neste movimento. É, em 1898, que os povos hispânicos vêm algumas instituições políticas se desmoronarem e outras se levantarem, provocando uma grande mudança na Espanha e América Hispânica. Naquela, um decadente regime colonialista é posto à prova e cai, nesta, povos livres buscam a própria identidade. Os Estados Unidos da América despontam como o grande demolidor dos derradeiros vínculos que ligavam Espanha a Cuba, Porto Rico e também Filipinas. Todo este evento e mais a situação caótica em que se encontrava a Espanha, foi denominado de “Desastre”, com D maiúsculo. Seu principal desdobramento foi a construção do conceito de “hispanidad”. Azorín (1913), um dos intelectuais identificados com a “Geração de 98", escreveu no jornal ABC (1913) que o “Desastre” foi fator estimulador deste grupo, no que tange a busca de soluções aos inúmeros problemas nacionais que eclodiram na época, instalados desde há muito e carentes de solução. Se em 1492 a Espanha descobre e coloniza a América, em 1898 a América se descobre e liberta das amarras do colonialismo espanhol. Na introdução do livro “Fuera del Olvido: los escritores hispano-americanos frente a 1898”, Lourdes Royano (2000, p.14) afirma que 1898 constituiu uma data paradigmática para a cultura espanhola e hispano-americana. O impacto negativo ficou por conta dos políticos espanhóis e camadas conservadoras da sociedade. Porém, este movimento representou um momento conjuntural que deu lugar a um diálogo enriquecedor entre escritores de uma e outra margem do Atlântico. Royano afirma que a literatura produzida nessa época, foi fundamental para a evolução literária do século XX, convertendo os literatos espanhóis e hispanoamericanos em modelos internacionais. Os intelectuais de 98 eram jovens nesse período de desenvolvimento capitalista intenso e de surgimento do socialismo. Maeztu escrevera sobre o capitalismo basco e se declarara socialista. Azorín era simpatizante do anarquismo. Unamuno, em 1891, já dono da cátedra de grego na Universidade de Salamanca, ainda se identificava com o socialismo e continuava escrevendo no jornal “La lucha de clases”, de Bilbao. Mais tarde deixa este ideário, chegando ao espiritualismo. A imprensa tornava-os públicos, acessíveis, disseminando suas idéias e, os conflitos, os estimulavam à produção literária19. Este grupo de intelectuais também chamados “regeneracionistas”, por alguns, usava seu talento para manifestar a própria angústia pelo estado de decadência a que a Espanha 19 Conflitos sociais do País Basco e da Catalunha. 46 estava submetida. Sua abordagem com relação à igreja fustigou o clero e militares, criticando sua presença no governo e sistema educacional. Buscavam causas aos problemas sociais e lhes apresentam soluções cabíveis que produzissem resultados e paralisassem a queda vertiginosa da Espanha. Tais soluções deveriam estar atreladas a ausência de “mordaça” e repressão policial. As mudanças propostas tinham como lema “Despensa y escuela”. A escola aqui, vista do ponto de vista universal, para todos, inclusive com a inclusão do item qualidade no ensino superior e a desvinculação do poder clerical. Ainda, para a agricultura incipiente, precária sem produtividade, nas mãos de grandes proprietários, exigiam a reforma agrária. A rede de problemas que mantinha a Espanha alienada do contexto europeu supunha sua necessária europeização, como saída de seu atraso intransponível. A crítica política recaía sobre o sistema submetido aos chamados “caciques”, posto que o percentual da população votante era apenas entre e 4,5 a 5,5%. Outro aspecto social era a exigência do serviço militar obrigatório para os pobres, os substitutos pagos da classe social alta. A meta era a mudança efetiva e profunda na economia, na sociedade e educação. Tais mudanças receberiam o reflexo da industrialização, urbanização e necessidade de resolução aos conflitos entre burguesia e operariado. Em suma, a “Geração de 98” representava engajamento político e social, fazia o seu papel de influenciar, de formar opiniões, através de sua veia literária. 3. Características e temática da Geração de 98 O Modernismo surge em 1880, portanto, antecede à Geração de 98. Nele, existe a busca da solução para a polêmica sobre o que vem a ser o “nacionalismo”. Na literatura hispânica, o poeta o Nicaragüense Rubén Dario constitui um dos maiores expoentes do modernismo e suas obras têm no erotismo tema marcante. Se a Geração de 98 expressa de forma pessimista a situação econômica e social com no trato literário, os chamados “Regeneracionistas”, o fazem de forma científica, pragmática e objetiva. Este termo é uma metáfora para a expectativa política que desse fim ao caos que se instalara na Espanha. Os ideais destes se confundem com os da Geração de 98, por este motivo, admitidos em um único movimento. Este movimento usava linguagem e estilo sóbrio, direto, com períodos curtos, diferenciando-se do modernismo com relação á retórica. Enquanto estes a tinham em alta conta, aqueles a negavam: eram anti-retóricos. Ainda, os escritores da Geração de 98 tinham uma visão subjetiva (emotiva ou intelectual) e usavam a entonação lírica y sentimental. Outra característica é o fato de seus representantes terem uma formação intelectual semelhante20 e serem contemporâneos. Enquanto o mais velho (Unamuno) era de 1864, o mais novo era de 1875. Este grupo de intelectual cultuava o predomínio da prosa sob a forma de novela, ensaio e teatro. No entanto, a poesia estava presente, principalmente em Antonio Machado, Valle-Inclán e Miguel Unamuno. Nestes gêneros literários, a descrição da paisagem remetia ao estado de espírito da Espanha, em decadência e à Castilla que a representava. O tema que está presente entre as obras desses intelectuais tem a ver com questões existencialistas, como o sentido da vida, o tempo e a morte. Mas também questões religiosas – posturas diversas, sem unanimidade (católicos agnósticos). Havia um franco interesse pelos clássicos21 e pela história do povo, o trabalho, costumes e os “milhões sem história”, na esteira de Unamuno, de “infra-histórias. 20 21 Liberalistas e preocupados pelo Desastre de 98. Gonzalo de Berceo, Jorge Manrique, Fray Luis de León, Cervantes e Góngora. 47 4. Dos autores da Geração de 98 Os autores da geração de 98 promoveram um diálogo entre escritores de uma e outra margem do Atlântico, fato que tornou mais rica a produção literária, que para Royano foi fundamental na evolução literária do século XX. Os autores espanhóis e hispano-americanos tornaram-se modelos internacionais. Daí, a posição da autora supra, de que o ano de 1898 é “uma data paradigmática para a cultura espanhola e hispano-americana”. Se houve impacto negativo, ficou por conta dos políticos espanhóis e camadas conservadoras da sociedade. Embora esteja estabelecido o lugar de cada qual na Geração de 98, Ortega y Gasset 22 distinguem nela duas gerações entre 1857 e 1872. Uma delas é a composta pelos membros mais velhos como Unamuno e Ganivet e a outra pelos mais jovens. Entre outros, destacam-se os autores: Miguel de Unamuno (1864-1936); Angel Ganivet (1865-1898); Pío Baroja (18721956); José Martínez Ruiz “Azorin” (1873-1967); Ramiro de Maeztu (1874-1936); Antonio Machado (1875-1939) e Ramón Del Valle-Inclán (1866-1936) 5. Miguel de Unamuno Miguel de Unamuno, ainda jovem, era anarquista, mas na sua velhice não foi tão radical, tendo sido acusado por seus pares de ter abandonado o socialismo. Grande figura intelectual no primeiro terço do século XX defendeu a República e depois teve uma posição crítica contra esta e o militar General Franco. O intelectual destacou a necessidade de uma aproximação entre os povos de língua castelhana, parentes espirituais que eram. Cultivou todos os gêneros literários e tinha uma vasta cultura, teve em “Paz em La Guerra” (1897) uma das mais importantes obras da Geração de 98. É considerado um exemplo do emprego do idioma. Linguagem sóbria, viva, expressiva e intensa, usando com frequência termos populares. Unamuno é considerado um dos pilares fundamentais da língua espanhola do século XX, um dos pensadores de maior relevância da história da Espanha. Como filosofo é o principal representante do existencialismo filosófico e literário espanhol. Tem uma importante obra como poeta, romancista, autor teatral, ensaísta, crítico literário e filósofo. O autor foi o guia espiritual da Geração 98, para ele não há filosofia sem o homem que filosofe e não há homem sem filosofia. Para o autor a filosofia é um produto humano de cada filósofo, e cada filósofo é um homem de carne e osso que se dirige a outros homens de carne e ossos como ele. Por este motivo Unamuno afirma que faça o que fizer, o filósofo filosofa, não apenas com a razão, mas com a vontade, com o sentimento, com a carne e com os ossos, com toda a alma e todo o corpo: “primeiro viver, depois filosofar”; isto quer dizer que viver e filosofar estão interligados, pois ao viver acaba-se filosofando, buscando o porquê da própria vida. Para o autor, o homem vive em busca da imortalidade e eternidade; entre a vida e o pensamento; entre a existência e a filosofia. Portanto, entre a racionalidade e a irracionalidade: O amor é a eternidade. O anseio do homem pela imortalidade existe porque o homem ama a outrem, e quer ver-se eternizado nele. Tudo que está fora do amor não é real. O amor vence o que é passageiro, logo a pessoa sem amor não tem idéia do que seja eternidade. A vida só pode ser preenchida, ter sentido, a partir do amor, que vence o destino e dá liberdade ao homem. Sua poesia está entremeada das virtudes do amor, da vaidade, da vida e da morte. Não há, segundo Unamuno, a existência da vaidade sem que exista o amor, duas notas musicais que ressoam ao mesmo tempo. E tanto um como outro fazem parte da vida, portanto do desejo de filosofar, do desejo de imortalizar-se. Mais tarde ele diz que melhor é viver que filosofar, posto que a morte, esta ele não a aceita. 22 Grande ensaísta e filósofo espanhol, José Ortega y Gasset. 48 Entre suas obras estão: “Ao redor do casticismo” (1895); “Paz na Guerra” (1897), Amor y Pedagogia” (1902); ”Vida de Dom Quixote e Sancho” (1905); “Do Sentimento Trágico da Vida” (1913); ”A Agonia do Cristianismo” (1925);”Névoa” (1914) 23; Abel Sanches (1917; “O Cristo de Velazquez” (1920); “A tia Tula” (1921); “São Manuel Bueno, Mártir” (1933), e, “Em torno al Casticismo” (1895-1902); Unamuno, em idade mais avançada, sente falar alto o espiritualismo, inspira-se em passagens bíblicas e filosofa: “Eu sou o centro do meu universo [...] Meu eu, estão arrebatando meu eu! De que serve ao homem ganhar o mundo todo, se perde sua alma? “(UNAMUNO, 1996, p. 44) 4.1 LINHA DO TEMPO DE UNAMUNO Miguel de Unamuno nasceu em Bilbao, Euskadia (País Vasco) em 29/09/1864 e morreu em Salamanca dez/1936. Foi catedrático (1890) de língua e literatura grega da Universidade de Salamanca, nomeado seu reitor em 1900 e demitido em 1914. Doutor em 1884 em filosofia e letras, nomeado em 1920, decano da Universidade e em 1921, vice-reitor. É destituído, em 1924, da cátedra, do decanato e da vice-reitoria, sendo enviado para o exílio na ilha de "Fuenteventura". Indultado, exila-se voluntariamente em Paris e em 1931 volta para a Espanha, sendo reconduzido ao cargo de reitor da Universidade. Em 1934 aposenta-se, mas continua com o cargo de reitor, nomeado como “Reitor Vitalício”. Em 1936, é destituído da Reitoria da Universidade e reconduzido no mesmo ano. Finalmente, Franco o destitui, uma última vez e assim é condenado ao arresto familiar. 4.2 A OBRA NARRATIVA DE SUA CRIAÇÃO Para apresentar sua obra narrativa, Unamuno cultivou o gênero novela, escreveu vários ensaios e também contos. Ao criar a “nívola” desejou renovar. Em “Névoa” não segue os cânones da novela realista. Ao fugir do fundamento do romance, Unamuno entende que sua “nívola” é a forma livre de escrever, onde os pensamentos, as palavras, personagens e fatos, simplesmente aparecem. Esta “novela” conta com uma técnica nova: a ênfase no diálogo, foco no receptor (aquele que se quer atuar diretamente no relato), nas ações, nos sentimentos, a possibilidade de criar espiritualmente um personagem, presença de um protagonista individual, estrutura aberta a possibilidades de várias interpretações. Para Unamuno, o caráter da “nívola” é exatamente não ter qualquer um. Suas narrativas tinham como temáticas os relatos dos problemas existenciais, os problemas da Espanha, o problema da existência, o desejo de não morrer. Ainda, o esqueleto de sua narrativa se desnudava entre descrições, apreciações a ambientes não localizados, embora conhecidos, a realidade revelada em sua fantasia e no mais íntimo, problemas de personalidades, método de conhecimento, porque oferece múltiplas perspectivas de interpretações, estruturas abertas com possibilidades de várias leituras, o que leva o leitor a refletir, participar intelectualmente. Em Névoa, o protagonista se rebela contra o autor, seu criador. É como se Unamuno fosse Deus e Augusto, o protagonista, a criatura. Para Unamuno, seus personagens eram considerados seus filhos espirituais. 6. Considerações finais A Geração 98 é um exemplo a ser seguido. Guardando as devidas distâncias culturais e épocas que os separam, o grupo, visando transformar a péssima realidade a que estavam 23 Um de seus maiores romances, correspondente a sua fase existencialista. 49 submetidos seus compatriotas, a partir da educação e de recomposição de sua economia, foi notável. Tenderam a certo realismo, simplicidade e contraposição ao Modernismo e, com Unamuno, anteciparam o movimento existencialista. Unamuno, figura contraditória e polêmica, assim como todo espírito que se adianta ao seu tempo, revela em sua obra a marca da luta, da negação e da dúvida. É importante refletir acerca deste movimento, bem como compreender as ações que promoveram. Homens-filósofos ou filósofos-homens, este grupo modificou a realidade social da Espanha a partir de suas convicções políticas, patrióticas, valores morais e argumentos econômicos. Contextualizando a Europa nos dias atuais, certamente se beneficiaria se outra “Geração 98” renascesse assim como Fênix, das cinzas, na velha mitologia. Não apenas a Espanha enfrenta problemas sócio-econômicos, também Portugal e um pouco mais distante, a Grécia, são vítimas de uma realidade um pouco diferente daquela de 1898. Agora, uma economia globalizada, praticamente ameaça a particularidade das economias nacionais. Aquelas nações e outras, como a Irlanda, são vítimas das instituições desta nova sociedade globalizada, cujas regras são determinadas pelas nações do primeiro mundo. Se Unamuno foi, inicialmente a favor da Europeização da Espanha, por crer que isto lhe proporcionaria paridade com os outros países da Europa, do ponto de vista do desenvolvimento econômico, tornou-se contra mais tarde. Não teria ele razão? O que se vive nos dias atuais é a submissão das nações que tardiamente entraram para a União Européia, às regras do mercado mundial. Se para isto foi preciso abrir mão de suas economias particulares, consideradas deficientes, e estão sofrendo as conseqüências desta inclusão, o sufoco econômico que a estão passando é mais do que prova do erro "a priori"; basta constatar na mídia que, aliás, está a serviço das economias dominadoras. Parecem irreversível os retornos ao modus vivendi deixado para trás, por contas da Europeização. A literatura tem poder de influenciar o receptor e este, de posse do novo conhecimento, o poder de mudar a sua realidade. Se a obra literária da “Geração de 98” efetivamente borbulhou no caos em que se encontrava a sua sociedade espanhola, é preciso crer que não só a leitura da Geração de 98, mas tantas outras inspiradoras distribuam boas sementes que levem mentes brilhantes e ávidas por mudanças, a ações necessárias para a concretização de uma sociedade mais justa e democrática. Referências CAPELATO, M.H.R. Geração 98: data símbolo de 1898: o impacto da independência de Cuba na Espanha e Hisapanoamérica. História: São Paulo, 2003. GUTIÉRREZ, J. L. A filosofia de Unamuno como reação ao mistério da realidade e da vida humana e seu destino. Disponível em: <http://revistapandora.sites.uol.com.br/unamuno/jorge.htm> Acessado Abr 2011. ______. Miguel de Unamuno e filosofia da Religião. Revista Caminhando. Revista da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, v. 7 nº 9. São Bernardo do Campo, São Paulo: Editeo / UNESP, 2002. LHERA, L. Historicidade y Modernismo Literário, apud CAPELATO, M.H.R. Geração 98: data símbolo de 1898: o impacto da independência de Cuba na Espanha e Hisapanoamérica. História: São Paulo, 2003. ORTEGA Y GASSET, J. Ensayos sobre la generación del 98. São Paulo: Alianza Editorial, 1981. ROYANO, L. Fuera del Olvido: los escritores hispanoamericanos frente a 1898. Santander: Universidad de Cantabria, 2000. UNAMUNO, Miguel. Nevoa. Nova Fronteira: Rio de Janeiro, 1989. 50 ANEXO I Poesía, filosofía e eternidad Unamuno (Tradução para o Português) Poesia, filosofia e eternidade Unamuno Con recuerdos de esperanzas y esperanzas de recuerdos vamos matando a vida y dando vida al eterno descuido que del cuidado del morir nos olvidemos. Fue ya otra vez el futuro, será el pasado de nuevo, mañana y ayer mejidos en el hoy se quedan muertos. Com lembranças de esperanças e esperanças de lembranças vamos matando a vida e dando vida ao eterno descuido que do cuidado do morrer nos esqueçamos... Foi já outra vez o futuro, será o passado de novo, amanhã e ontem mexidos no hoje ficam-se mortos. Me he despertado soñando, soñé que estaba despierto, soñé que el sueño era vida, soñé que la vida es sueño. Sentí que estaba pensando, pensé que sentía, y luego vi reducirse a cenizas mis pensamientos de fuego. Acordei e estava sonhando, sonhei que estava desperto, sonhei que o sonho era vida, sonhei que a vida era sonho. Senti que estava pensando, pensei que sentia, e logo vi reduzir-se a cinzas meus pensamentos de fogo. Si hay quien no siente la brasa debajo de estos conceptos, es que en su vida ha pensado con su propio sentimiento; es que en su vida ha sentido dentro de sí al pensamiento. Flores da el amor al hombre, flores entre hojas al viento, mas también le da diamantes duros, cortantes y escuetos. No sólo el vapor calienta; no llaméis frío a lo seco; la carne enfría a menudo y suele quemar los huesos. Se há quem não sente a brasa embaixo destes conceitos, é que em sua vida pensou com seu próprio sentimento; é que em sua vida sentiu dentro de sim ao pensamento . Flores dá o amor ao homem, flores entre folhas ao vento, mas também lhe dá diamantes duros, cortantes e concretos. Não só o vapor esquenta; não chameis frio ao seco; a carne com freqüência esfria e costuma queimar os ossos. 51 CONTOS E FÁBULAS: LITERATURA COMO MÉTODO DE ENSINO DE LÍNGUA ESPANHOLA Liria Maria Unser de CARVALHO 24 (Rede Estadual) Luciana Aparecida FIDENCIO25 (G – UNIOESTE) Resumo Utilizamo-nos dos pressupostos das Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná, que privilegiam o trabalho com os gêneros textuais no ensino de língua estrangeira, para abordar neste artigo a relação literatura e ensino de Língua Espanhola, com o objetivo de apresentar uma proposta de trabalho didático na oralidade, por meio da literatura, mostrando o quanto é profícuo uni-las para aprendizagem mais significativa. Os contos e as fábulas foram utilizados por suas características como: concisão, precisão, densidade, unidade de efeito e a versatilidade do gênero. Busca-se também desmistificar a ideia de que no ensino de língua estrangeira, nesse caso, a Espanhola, deve ser priorizado o estudo de regras e formas gramaticais. No que se refere à oralidade no ensino dessa língua, percebe-se que, em geral, os alunos do CELEM - Centro de Línguas Estrangeiras Modernas apresentam facilidade com a leitura, no entanto, apresentam diversas dificuldades quando se trata da comunicação oral, espontânea, talvez por timidez ou pelo encaminhamento metodológico dos docentes. Palavras-chave: Literatura. Ensino. Aprendizagem. Oralidade. Resumen Nos utilizamos de los presupuestos de las Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná, que privilegian el trabajo con los géneros textuales en la enseñanza de lengua extranjera, para abordar en este artículo la relación literatura y enseñanza de la Lengua Española, con el objetivo de presentar una propuesta de trabajo didáctico en la oralidad, a través de la literatura, mostrando lo cuanto es provechoso unirlas para un aprendizaje más significativo. Los cuentos y fábulas fueron utilizados por sus características tales como: la brevedad, la precisión, la densidad, la unidad de efecto y la versatilidad del género. Asimismo, se pretende desmitificar la idea de que la enseñanza de idiomas extranjeros, en este caso, el español debe darse prioridad al estudio de las reglas y normas gramaticales. En lo que se refiere a la oralidad en la enseñanza de esa lengua, se percibe que en general los alumnos de CELEM - Centro de Línguas Estrangeiras Modernas presentan facilidad con la lectura, sin embargo, presentan varias dificultades cuando se trata de la comunicación oral, espontánea, quizá por timidez o por el encaminamiento metodológico los docentes. Palabras clave: Literatura. Enseñanza. Aprendizaje. Oralidad. 1. Introdução Os objetivos ao trabalharmos com a leitura, em um primeiro momento, eram que os alunos se tornassem leitores críticos, reflexionassem e tivessem uma visão mais crítica do mundo. No entanto, também seria importante levar em consideração as experiências e os conhecimentos dos alunos que estão apenas começando um curso de língua estrangeira, neste caso, a Língua Espanhola. Os contos e as fábulas são gêneros 24 Professora de Língua Espanhola da Rede Estadual de Ensino. Orientadora. Graduada em Letras – Português /Espanhol, UNIPAR – Universidade Paranaense. [email protected] 25 Graduanda do 4º ano do Curso de Letras – Português/Espanhol, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), campus Cascavel. [email protected] 52 que apresentam uma excelente proposta didática por sua versatilidade, concisão e que, além destes fatores, têm uma boa recepção por parte dos discentes. Quando trabalhamos com um gênero literário, neste caso, os contos e as fábulas, devemos instigar o aluno a todas as possibilidades de leitura. O professor será o mediador, ou seja, o professor desempenha um papel importante na leitura, já que, pela forma como encaminha o trabalho em sala de aula, os significados poderão ser mais ou menos problematizados, ou as possibilidades de construção de sentidos percebidas como mais ou menos significativas, como espaços para que exercícios de ação no mundo social ou submissão aos sentidos do outro.(PARANÁ, 2008, p.64). 2. Justificativa Aprender uma LEM abrange configurações específicas de afetividade, que serão atendidas ou frustradas ao longo do processo ensino/aprendizagem, tais desencontros podem ser fontes de problemas, fracassos e desânimos nesse processo de E/A. No curso de Língua Espanhola ofertado pelo CELEM, percebemos que a leitura em língua estrangeira não é um grande problema para os alunos, salvo algumas exceções, a maior dificuldade que enfrentam nossos discentes é no momento da oralidade espontânea. Partindo dessa problemática, fizemos uma observação das aulas, com anotações minuciosas para encontrarmos os motivos pelos quais os alunos não participavam no momento da plenária. Através dessa investigação detectamos que o problema estava no método/metodologia. O método, representado aqui pelos textos, algumas vezes era muito complexos para que os alunos pudessem participar mais ativamente. E a metodologia, o encaminhamento utilizado para trabalhar determinados gêneros textuais. 3. Fundamentação Teórica Sendo, então, proposta das DCEs, principal documento norteador para o ensino de LEM, o trabalho com gêneros textuais como prática social, sentimos a necessidade de levar para os alunos, textos que tivessem significado para eles. “O processo de ensino-aprendizagem contextualizado é um importante meio de estimular a curiosidade e fortalecer a confiança do aluno” (Paraná, 2008 apud RAMOS, 2004, p.02). Esta proposta de utilização de contos e fábulas no ensino de língua espanhola, com enfoque na oralidade, é ampla e proveitosa, pois “A fábula é um dos meios de conhecimento das relações do dia-a-dia, do caráter do homem, em suma, de tudo o que diz respeito ao aspecto ético da vida humana” (VYGOTSKY, 1999, apud POTIEBNYÁ 1992, p. 12). Considerando a quantidade de conteúdos que podemos abranger com esses dois gêneros literários escolhidos, os contos e as fábulas, contemplamos todas as competências do ensino da Língua Estrangeira, no entanto, priorizando a oralidade, sem deixar de incentivar a leitura, porque: A leitura atende, por um lado, às necessidades da educação formal, e, por outro, é a habilidade que o aluno pode usar em seu contexto social imediato. Além disso, a aprendizagem de leitura em Língua Estrangeira pode ajudar o desenvolvimento integral do letramento do aluno. A leitura tem função primordial na escola e aprender a ler em outra língua pode colaborar no desempenho do aluno como leitor em sua língua materna. (BRASIL, 1998, p. 20). 53 Considerando que, de acordo com as Diretrizes Curriculares Estaduais, no que se refere ao ensino de Língua Estrangeira, “Todo discurso está vinculado à história e ao mundo social” (PARANÁ, 2009, p. 55), buscamos nos contos e fábulas essa interação do aluno com temas de cunho social, nos quais ele possa identificar-se de maneira concisa e abrangente. No ensino de Língua Estrangeira, a língua, objeto de estudo dessa disciplina, contempla as relações com a cultura, o sujeito e a identidade. Torna-se fundamental que os professores compreendam o que se pretende com o ensino da Língua Estrangeira na Educação Básica, ou seja: ensinar e aprender línguas é também ensinar e aprender percepções de mundo e maneiras de atribuir sentidos, é formar subjetividades, é permitir que se reconheça no uso da língua os diferentes propósitos comunicativos, independentemente do grau de proficiência atingido. As aulas de Língua Estrangeira se configuram como espaços de interações entre professores e alunos e pelas representações e visões de mundo que se revelam no dia-a-dia. Objetiva-se que os alunos analisem as questões sociais-políticaseconômicas da nova ordem mundial, suas implicações e que desenvolvam uma consciência crítica a respeito do papel das línguas na sociedade. (PARANÁ, 2009, p. 55) Segundo as DCEs, o ensino de Língua Estrangeira Moderna na Educação Básica, propõe superar os fins utilitaristas, pragmáticos ou instrumentais que historicamente têm marcado o ensino dessa disciplina (PARANÁ, 2009 p. 56). 4. Caracterização do Gênero A partir das observações realizadas em diferentes grupos do CELEM, em duas escolas de Cascavel, tivemos a preocupação de elaborar uma aula em que houvesse a participação de todos, para isso, decidimos fazer uso de textos literários. Selecionamos o conto infantil “Caperucita roja”, de Charles Perrault. Esta escolha está relacionada ao fato de que os alunos já têm um conhecimento prévio da história em língua materna, pois, segundo as Orientações Curriculares Nacionais, “o sentido de um texto nunca está dado, mas é preciso construí-lo a partir das experiências pessoais, do conhecimento prévio e das inter-relações que o leitor estabelece com ele”. (2006, p. 151-152). Para começar nossas atividades com o gênero proposto, indagamos os alunos em relação às características dos contos e quais conheciam. Sem que soubessem de qual conto se tratava, colocamos um áudio com a história, em seguida, passamos alguns slides com o conto acima citado, fizemos vários questionamentos acerca da compreensão das duas atividades. Trabalhamos inúmeras atividades, partindo desse gênero: vocabulário (de alimentos, família, cores, partes da casa, animais, características físicas e de caráter), a gramática contextualizada, pois o ensino deixa de priorizar a gramática para trabalhar com o texto, sem, no entanto, abandoná-la (PARANÁ, 2008, p. 63), e focalizamos os pontos mais relevantes do conto para a interpretação do mesmo. Para finalizar, trouxemos uma paródia da obra. Houve grande participação por parte dos alunos. Assim, todos os discentes deixaram de ser meros expectadores e passaram a fazer parte do processo de ensino/aprendizagem e da construção de sentido. De acordo com Koch, “para que esse processo seja amplo, é preciso levar em conta os conhecimentos do leitor, condição fundamental para o estabelecimento da interação, com maior ou menor intensidade, durabilidade, qualidade” (KOCH, 2010, p. 19). Outro gênero que utilizamos em nosso trabalho foi a fábula. Levamos diversas fábulas para a sala de aula. Para o início das atividades e com a ajuda dos alunos 54 relembramos quais eram as características das fábulas, entre elas os personagens, os diálogos, as morais e a linguagem. Trabalhamos cada uma de maneira diferente, instigando-os para que criassem hipóteses acerca do título, das morais, que encontrassem o que não estava exposto no texto, buscando nas entrelinhas e que compreendessem as morais de cada uma delas. Por meio das discussões que fizemos sobre o gênero anteriormente citado, a fábula, conseguimos desenvolver atividades bem dinâmicas, os estudantes conseguiram criar suas próprias fábulas em pequenos grupos e uma fábula coletiva com o grande grupo. Esta segunda, com palavras (verbos, adjetivos, substantivos, advérbios, entre outros) que retiravam de uma caixa. Ressaltamos a importância do trabalho com os gêneros textuais e do papel que o mesmo desempenha na esfera escolar, pois “quanto melhor dominamos os gêneros tanto mais livremente os empregamos, tanto mais plena e nitidamente descobrimos neles a nossa individualidade (onde isso é possível e necessário) [...]” (BAKHTIN, 1992, p. 285). 5. Conclusão Objetivamos nesse trabalho, através dos contos e das fábulas, que os alunos participassem ativamente de todas as atividades para que, a partir dessa experiência, fossem capazes de criar suas hipóteses, refletir e interpretar os textos com os quais se deparam. Nesse processo de desenvolvimento da oralidade espontânea, ou seja, a desvinculada da leitura percebemos que os contos e as fábulas foram fundamentais para que os alunos pudessem desinibir-se e começassem a desenvolver tal habilidade, que até o momento representava grande obstáculo. Assim, além de conseguir um bom trabalho com o vocabulário, tivemos êxito nas estruturas gramaticais, e o mais importante é que muitos conseguiram ir além daquilo que estava exposto no texto. Acreditamos que o feedback positivo com os gêneros utilizados deve-se às características de tais textos: precisão, unidade de efeito e versatilidade do gênero. Desta maneira, pudemos transportar o aluno a outras situações, mas priorizando a realidade do mesmo, pois, conforme as DCE-LEM (2008), a aula de LEM deve ser um espaço em que se desenvolvam atividades significativas, as quais explorem diferentes recursos e fontes, a fim de que o aluno vincule o que é estudado com o que o cerca. Referências ALMEIDA FILHO, José Carlos Paes de. Dimensões comunicativas no ensino de línguas. Campinas, São Paulo: Pontes, 3ª ed. 2002. BAKHTIN, Mikhail Mjkhailovitch. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos de ensino fundamental: língua estrangeira. Brasília: MEC / SEF, 1998. KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e Compreender os Sentidos do Texto. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2010. BRASIL. Orientações Curriculares Nacionais. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006. PARANÁ. Secretaria de Educação do Estado do Paraná. Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná. Paraná: SEED, 2008. VYGOTSKY, Lev Semenovitch. Psicologia da arte. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 55 EL USO DE TEXTOS LITERARIOS PARA LA ENSEÑANZA DEL ESPAÑOL COMO LENGUA EXTRANJERA Marcelo RODRIGUES (PG – UEL) Simone RINALDI (UEL – Orientadora) Resumen La propuesta de esta investigación es averiguar se en las salas de clase de lengua española, más específicamente de la carrera de Letras estrangeiras e Modernas: Habilitação única em Língua e Literaturas Espanhola e Hispanoamericana de la Universidade Estadual de Londrina, es frecuente, por parte de los profesores el uso de los textos literarios en las clases de idioma, y si tal preocupación se hace presente por los alumnos del último año de la mencionada carrera. En un punto más específico, también se buscó saber como el uso de tales materiales por los docentes y futuros docentes contribuye con la propuesta de la Ley 9.394 del 20 de diciembre de 1996 - Ley de Directrices y Bases (LDB), que propone para los estudiantes una educación vuelta para la ciudadanía. Palabras clave: Enseñanza de español lengua extranjera. Textos literarios. Ley 9.394. Ley de Directrices y Bases (LDB). Resumo A proposta desta pesquisa é averiguar se nas aulas de língua espanhola como idioma estrangeiro, mais especificamente nas aulas do curso de Letras estrangeiras e Modernas: Habilitação única em Língua e Literaturas Espanhola e Hispanoamericana da Universidade Estadual de Londrina é frequente por parte dos professores o uso de textos literários nas aulas de língua, e se essa preocupação é passada ou notada pelos alunos do último ano da mencionada graduação. Em um ponto mais específico, também se buscou saber como o uso desses materiais, por parte de professores e de futuros professores, contribui com a proposta da Lei 9.394 de 20 de Dezembro de 1996 – Lei de Diretrizes e Bases (LDB) que propõe a formação do aluno como cidadão. Palavras-chave: Ensino de espanhol língua estrangeira. Textos literários. Lei 9.394. Lei de Diretrizes e Bases (LDB). 1. Introducción “Para aprimorar o ensino de Inglês e Espanhol, o ideal é usar textos diversos, valorizando a interação e as situações reais de comunicação.” (Revista nova escola, edição 214) Aunque los debates sobre la globalización y estrechamiento de las fronteras socio-culturales sean infinitas, en la educación y las artes, los investigadores enfrentan a una nueva constante: los adolescentes. Cada vez más jóvenes, de nacionalidades diversas, están interesados en las mismas películas, acceden a los mismos sitios de redes sociales, escuchan las mismas canciones y sin embargo, leen la misma literatura extranjera. A diferencia de los clásicos cánones y sus grandiosos enredos, esta nueva perspectiva de la literatura extranjera, nos presenta “bestsellers” de temática repetitiva y mucha de las veces, si no todas, de carácter ficcional y con la participación de estrellas estereotipadas y su imagen, que por cuenta del cine y de otras midias pasa a ser de gran admiración juvenil. 56 Sostenibles para el día y bien informados, estos jóvenes utilizan cada vez más la Internet, y más allá del lenguaje, hacen el uso de diferentes modalidades de traducción, a fin de obtener más información en tiempo real, o tan pronto como sea posible dentro intereses. En cuanto a esta nueva acción viene en beneficio de la juventud, educadores y profesores de lenguas extranjeras ven una nueva oportunidad para redimir el interés de sus alumnos por la literatura “clásica” y así diluir el enfoque que aprender un segundo idioma concentra en la gramática. Los educadores aún apuestan en una nueva oportunidad para que a través de la lectura, los estudiantes participen más críticamente en el ambiente de sala de clase y también aprendan a utilizar el acceso a la información en beneficio del desarrollo individual. Con base en la necesidad de adaptar el uso de la literatura al plan de estudios de enseñanza de lenguas extranjeras, más concretamente, del español, a la nueva vida socio-cultural de los adolescentes, este estudio tiene como objetivo investigar, así como la forma en que ocurre, por los profesores con más experiencia, la selección de textos literarios para el uso en clase de español como lengua extranjera, y también por los futuros profesores de lenguas extranjeras que se encuentran en las etapas finales de formación. También se investigó cuál es, o será, el método adoptado por ambos grupos de profesores, para la elección de tales materiales, a fin de satisfacer las demandas de los Parámetros Curriculares Nacionales (PCN) y del mismo modo, satisfacer la necesidad de este nuevo grupo de lectores contemporáneos. 2. Justificativa Dentro del proceso de enseñanza y aprendizaje de un idioma extranjero, la lectura es identificada como un importante instrumento en la construcción del conocimiento personal de cada alumno, lo que colabora y se refleja directamente en la autonomía con la que se emplean estos conocimientos en situaciones de su vida diaria, ya sea en el contexto académico o no. Otro punto positivo en estimular la lectura “clásica” en las clases de lengua extranjera, es estimular discusiones en grupos para acelerar el proceso que convierte el estudiante en un lector más crítico y capaz de expresar de modo natural y sencillo sus opiniones en el contexto de lengua extranjera. De acuerdo con que propone los Parámetros Curriculares Nacionales (PCN), la lectura debe ser la base de la enseñanza de idiomas extranjeros en las escuelas, y aún debe basarse en las actividades sociales de su dominio. Con esto, pensando en el papel que actualmente el idioma español desarrolla en el contexto nacional, ya sea por razones culturales o de negocios, debido a la necesidad política, los PCN también sugieren que el objetivo final de la lectura en lengua extranjera, o incluso, en una estancia más grande, en la propia enseñanza de una segunda lengua, sea la formación del alumno como individuo. Por lo tanto, los PCN también dan gran importancia a la utilización de una variedad de géneros textales ya conocida por los profesores del área, tales como de humor, artículos de periódicos, anuncios, y otros tipos de textos más. Así pues, dada la importancia adecuada a la utilización de textos literarios, o incluso otros tipos de textos auténticos, este trabajo vuelve su mirada hacia la necesidad y a no fácil tarea de los profesionales del mundo académico, específicamente en el ámbito universitario, en investigar cómo ellos hacen la selección de los textos, como objeto de trabajo, de modo a atender las necesidades señaladas, y también cómo los mismos justifican sus decisiones. 57 3. Marco Teórico Por tratarse de una obra singular, experimental y un poco innovadora, esta investigación tuvo como basis documentos teóricos, más específicamente las leyes federales de la República Federativa de Brasil, que organizan y unifican todo el sistema educacional. Se hizo el uso directo de la Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) - Ley nº 9.394 del 20 de diciembre de 1996 y del Plano Nacional de Educação (PNE) – Ley nº 10,172 del 09 de enero 2001. De acuerdo con lo que propone la LDB de 1996, y mencionado anteriormente, se entiende que la educación debe contribuir a la formación integral del ser humano como ciudadano y aún así ser un medio de calidad para su vida profesional: “TÍTULO II Dos Princípios e Fins da Educação Nacional Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” (LDB, Brasil, 1996) Definido el papel del Estado, de la familia y de la educación en la vida de los ciudadanos, vamos a ver lo que las leyes establecen para la escuela secundaria en cuanto a la enseñanza de las lenguas y literaturas extranjeras, que son el principal foco de esta investigación. Con respecto a la escuela secundaria, el PNE de 2001 dice: “3.2 Diretrizes Preparando jovens e adultos para os desafios da modernidade, o ensino médio deverá permitir aquisição de competências relacionadas ao pleno exercício da cidadania e da inserção produtiva: auto-aprendizagem; percepção da dinâmica social e capacidade para nela intervir; compreensão dos processos produtivos; capacidade de observar, interpretar e tomar decisões; domínio de aptidões básicas de linguagens, comunicação, abstração; habilidades para incorporar valores éticos de solidariedade, cooperação e respeito às individualidades.” Entonces, se define aquí, la complementación, o más bien el grado de oferta dirigida por la LDB a la educación secundaria. Es decir, una formación más centrada en algunas habilidades del aprendizaje y de la formación académica y ética del estudiante. Sin perder el foco, seguimos trabajando con dichas leyes. La investigación aún sigue con el tema central que trata de averiguar lo que estas leyes proponen en cuanto a la lengua extranjera en el currículo de la escuela secundaria, pero más específicamente lo que dice a cerca de la literatura extranjera. Se busca saber cómo los profesores titulados y estudiantes de licenciatura en los años finales de la formación, piensan abordar el uso del texto literario para llegar a lograr lo que la LBD de 1996 sugiere como la formación de los ciudadanos. Es decir, en términos más simples, cómo estos docentes y futuros docentes introducen o introducirán los textos literarios en la clase de lengua extranjera y más concretamente en la rutina de sus alumnos. Con respecto a la enseñanza de lenguas extranjeras la LBD de 1996, define: “Art. 26º. Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e 58 estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. § 5º. Na parte diversificada do currículo será incluído obrigatoriamente, a partir da quinta série, o ensino de pelo menos uma língua estrangeira moderna, cuja escolha ficará a cargo da comunidade escolar, dentro das possibilidades da instituição. Art. 36º. O currículo do ensino médio observará o disposto na Seção I deste Capítulo e as seguintes diretrizes: [...] III - será incluída uma língua estrangeira moderna, como disciplina obrigatória, escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda, em caráter optativo, dentro das disponibilidades da instituição.” Una vez definido el papel de la educación en la vida de los ciudadanos, dichas leyes aquí mencionadas, infelizmente no traen un plan de estudios modelo a seguir, y mucho menos sugiere como la asignatura debe ser desarrollada. O sea, específicamente no menciona nada sobre el uso de la literatura como parte de la metodología de la enseñanza y aprendizaje de una lengua extranjera. Por eso, aún como instrumento de esta misma investigación, se pensó desarrollar un cuestionario investigativo, de campo, para evaluar cómo los profesores titulados y también los que siguen en formación, aplican y/o pretenden aplicar, estos temas en sus clases de español como lengua extranjera. 4. Metodología Para saber cómo es la aplicación de los textos literarios en la clase de lengua extranjera - español, se pensó desarrollar un cuestionario basado en la propuesta de dichas leyes con respecto a los objetivos de la educación y la formación de los ciudadanos y, aplicarlos a profesores calificados (apéndice 1) en la enseñanza de lenguas extranjeras y también de la misma manera adaptarlo y aplicarlo a los profesores en formación (apéndice 2). Después de aplicar el cuestionario, se buscó analizar y comparar los resultados y saber cómo se aplica y desarrolla el tema de que tratamos y, si esa manera ya utilizada por profesores expertos es la misma que será aprobada y seguida por los profesores principiantes. Como objeto de estudio fueron seleccionados los estudiantes del cuarto año de la carrera de Letras Estrangeiras Modernas, Habilitacão única em Língua Espanhola e suas respectivas Literaturas del período de la tarde y del año 2010, para presentar el perfil de un profesor a finales de la formación. Alumnos que a la vez, presentan una visión no conformista cuanto a la manera con que actualmente se usan los textos literarios en la enseñanza de lengua extranjera, ya que estos estudiantes saben, por la experiencia como alumnos, la real importancia de tal práctica. De igual manera, se aplicó el cuestionario a los profesores que enseñan el idioma español en la misma carrera, buscando saber se sus ideales de enseñanza siguen los recomendados por las leyes y se están siendo seguidos, ignorados o cuestionados por sus alumnos. Con el análisis de los cuestionarios, se esperaba alcanzar un punto de mediación entre lo que dispuso la LDB de 1996 y en los PCN de 2001 y la realidad de cada profesor en sala de clase. Es decir, si los objetivos propuestos por las leyes son alcanzados (o no) por los profesores y, qué medios se están utilizando y/o se utilizan para eso. 59 5. Desarrollo Se hizo posible la aplicación de los cuestionarios con 5 profesores y 9 alumnos que no fueron nombrados de ninguna forma en esta investigación, una vez que lo que nos interesa son sus puntos de vista particulares acerca del tema. Entre los profesores de la carrera, no fueron todos que alcanzaron contestar las preguntas antes de la conclusión de la investigación. Por eso, el trabajo contó con la opinión de parte del grupo de profesores de la Universidad. Cuanto a los alumnos, la participación fue de ciento por ciento, todos contestaron los cuestionarios como les fue propuesto. Para el análisis de los resultados, se adoptó como regla agrupar las contestaciones iguales o parecidas y resaltar las que aparecen con más frecuencia en las respuestas, siempre respetando y siendo fiel a las opiniones de los profesores y las expectativas de los alumnos. Con eso, en el primero caso, en el cuestionario propuesto a los profesores, se alcanzó un ciento por ciento de profesores que utilizan textos literarios en clases de lengua española como idioma extranjero (cuestión uno). Entre las justificativas para el uso de tales textos (cuestión dos), las respuestas que más figuraron fueron la que ellos los utilizan para el desarrollo del léxico, para presentar a sus alumnos nuevos autores y culturas, presentarles las variantes linguísticas y entrenar la capacidad crítica e interpretativa de los mismos. Entre los géneros textuales más trabajados (cuestión tres), están los cuentos, poemas y las tiras cómicas, la mayoría escogidos a causa de la facilidad lexical de sus textos. Cuando la pregunta fue cuanto a los objetivos propuestos por los profesores con tales actividades (cuestión cuatro), las respuestas fueron las mismas mencionas en la cuestión número dos, pero una de las respuestas se destacó: “promover el intercambio de opiniones por medio de estos textos que pueden sintetizar el pensamiento de una época”. En la quinta cuestión donde se preguntaba si los objetivos propuestos eran alcanzados, de los cinco profesores, dos dijeron tener sus objetivos siempre logrados y los otros tres dijeron que a veces logran con la propuesta. No hubo ningún profesor que dijo no lograr sus propósitos. Para la cuestión de número seis, que para esta investigación figura ser la pregunta más importante por tratar del objetivo propuesto por la LDB acerca de la formación del alumno como ciudadano, las respuestas fueron muy variadas, los profesores parecen estar de acuerdo en trabajar con textos y/o autores polémicos y con eso desarrollar el pensamiento crítico del alumno para que esa práctica se aplique al cotidiano. Entre las contestaciones una de ellas llamó la atención por ser demasiado distinta de las otras, fue ella: “El ciudadano lo formamos a todo momento. No estoy preocupado en alcanzar este objetivo, puesto que no hay como mensurar dicha formación de forma objetiva.” En la pregunta número siete, sólo dos profesores complementaron la investigación con alguna observación. Una de las profesoras justificó su respuesta anterior y la otra hizo una observación importante:“ Yo no trabajo con la asignatura de lengua y veo que no hago lo ideal.” Por parte de los alumnos, aunque en mayor número, las contestaciones fueron más homogéneas. Igual que a los profesores, todos los alumnos suelen utilizar los textos literarios en clase de lengua española como idioma extranjero (cuestión uno). Las justificativas (cuestión dos), en su gran mayoría fueron: huir de la gramática, presentar nuevas culturas y variantes linguísticas y justificar una afirmación teórica por medio de la ejemplificación textual. Acerca de los géneros textuales (cuestión tres), los alumnos 60 están de acuerdo con los profesores y, una vez más el poema, los cuentos, y las propagandas figuran entre los preferidos para presentar a los alumnos. Para la cuestión cuatro, que trata de modo directo de los objetivos esperados por los futuros profesores cuando proponen a sus alumnos actividades que hagan uso de la literatura, las respuestas, como en el caso de los profesores titulados, también son iguales a las respuestas de la cuestión dos, salvo una que tenía como objetivo específico desarrollar las destrezas de producción y comprensión escrita y oral. Para la pregunta que se refiere a la LDB (cuestión cinco), como ya era esperado, con profesores y alumnos las respuestas convergen a la idea de que se debe desarrollar la mirada crítica de los alumnos y sacarlos de la posición pasiva común a los estudiantes de los días actuales. Es necesario hacer con que busquen y piensen acerca de lo que están haciendo. En la pregunta final (cuestión seis), donde se pide un comentario final, caso el alumno lo encuentre necesario, dos futuras profesoras agregan que el buen trabajo del profesor en sala de clase a veces es suficiente para estimular el alumno a buscar más informaciones sobre un autor o de la literatura en general. 6. Conclusión Por una mirada más direccionada, se puede decir que a los profesores universitarios, en primera instancia, no les importa mucho el tema que trae la LDB acerca de la formación de los ciudadanos. La justificativa es clara y sencilla. La LDB es un documento dirigido a la enseñanza brasileña en los niveles básico y medio, no que eso excluya la Universidad del deber de formar ciudadanos, sino permite a esa institución adoptar programas distintos para la enseñanza profesional. De otro lado, aunque los alumnos de la dicha carrera no tengan muy claro lo que propone la LDB en el tema acerca de la formación ciudadana, se nota una cierta preocupación de los investigados en atender a esa necesidad. La justificativa para eso también es obvia, una vez que la carrera forma profesionales capacitados para la actuación en la enseñanza en los niveles básico y medio, la LDB sirve como guía para esos futuros profesores, una vez que eses no la olvidan a causa de la actuación de sus maestros, ahora no de lengua sino de metodología de la enseñanza, que por su vez hacen del documento una cartilla rutinera en la actuación profesional de sus alumnos. Por otro lado, en una mirada más amplia, se puede decir que el segundo punto tratado por la investigación tuvo una positiva relevación: a todos los profesores y futuros profesores les gusta y les parece indispensable la presencia del texto literario en la enseñanza de la lengua española como idioma extranjero, sea logrando los objetivos propuestos por la LDB, o simplemente para perfeccionar el conocimiento cultural y lexical de los alumnos. Referencias LEÃO, Hélia Rodriguez de Oliveira; BELAONIA, Sara Guiliana Gonzáles. Español como instrumento de lectura. Anais do IV Seminário de Línguas Estrangeiras. Goiás: UFG, 2002. LEI No 10.172, DE 9 DE JANEIRO DE 2001. PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponible en : <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm> accedido el 01 sep. 2010. 61 LEI N° 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCACÃO NACIONAL. disponible en: <<portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf>> accedido el 01 sep. 2010. SECRETARIA de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental: Língua Estrangeira. Brasília: MEC/SEF, 1998. 62 Apéndices Apéndice 1 TRABAJO DE INVESTIGACIÓN REFERENTE AL USO DE TEXTOS LITERARIOS EN CLASE DE LENGUA ESPAÑOLA COMO IDIOMA EXTRANJERO Cuestionario destinado a los profesores del área de lengua española de la “Universidade Estadual de Londrina” (Marcelo Rodrigues –UEL) 1- ¿Suele usted hacer uso de textos literarios en las clases de lengua española como idioma extranjero? Sí______ No_____ 2 – En caso afirmativo, ¿Con qué finalidad los utiliza? ______________________________________________________________________ En caso negativo, ¿Por qué no los usa? Justifique. ______________________________________________________________________ (Si la respuesta fue “NO”, la investigación termina aquí.) 3- ¿Qué género literario prefiere usted trabajar en las clases de lengua española como idioma extranjero? Justifique su respuesta. ______________________________________________________________________ 4- ¿Cuáles son sus objetivos cuando propone una actividad que involucre un texto literario en una clase de lengua española como idioma extranjero? ______________________________________________________________________ 5 – ¿Sus objetivos son alcanzados? Sí______ No_____ A veces_____ 6 - De acuerdo con la “Lei n° 9.394 de 20 de dezembro de 1996 – Lei de Diretrizes e Bases Nacional”, una de las funciones de la enseñanza escolar es formar más que alumnos, es formar ciudadanos. Basado en esta afirmación, ¿Cómo trabaja usted con los textos literarios para alcanzar el objetivo impuesto por la ley? ______________________________________________________________________ 7- Caso encuentre necesario, comente sobre su elección por trabajar con los textos literarios en las clases de lengua española como idioma extranjero. ______________________________________________________________________ 63 Apéndice 2 TRABAJO DE INVESTIGACIÓN REFERENTE AL USO DE TEXTOS LITERARIOS EN CLASE DE LENGUA ESPAÑOLA COMO IDIOMA EXTRANJERO Cuestionario destinado a los alumnos del último año de la carrera de “Letras Estangeras Modernas”, período vespertino, de la “Universidade Estadual de Londrina” (Marcelo Rodrigues –UEL) 1- ¿Pretende usted hacer uso de textos literarios en las clases de lengua española como idioma extranjero? Sí______ No_____ 2 – En caso afirmativo, ¿Con qué finalidad los utilizaría? ______________________________________________________________________ En caso negativo, ¿Por qué no los usaría? Justifique. ______________________________________________________________________ (Si la respuesta fue “NO”, la investigación termina aquí.) 3- ¿Qué género literario le gustaría trabajar en las clases de lengua española como idioma extranjero? Justifique su respuesta. ______________________________________________________________________ 4- ¿Cuáles serían sus objetivos cuando proponga una actividad que involucre un texto literario en una clase de lengua española como idioma extranjero? ______________________________________________________________________ 5 - De acuerdo con la “Lei n° 9.394 de 20 de dezembro de 1996 – Lei de Diretrizes e Bases Nacional”, una de las funciones de la enseñanza escolar es formar más que alumnos, es formar ciudadanos. Basado en esta afirmación, ¿Cómo trabajará usted con los textos literarios para alcanzar el objetivo impuesto por la ley? ______________________________________________________________________ 6- Caso encuentre necesario, comente sobre su elección por trabajar con los textos en las clases de lengua española como idioma extranjero. ______________________________________________________________________ 64 VIDA Y OBRA DE MIGUEL DE UNAMUNO, SU FIGURA EN EL CONTEXTO DE LA GENERACIÓN DEL 98 UN MARCO EN LA LITERATURA ESPAÑOLA Maurício Rodrigo Pinilla EDUARDO (G – UEL) Gustavo Javier FIGLIOLO (UEL – Orientador) Resumen El presente trabajo tiene por objetivo mostrar la genialidad de este gran escritor español de fines del siglo XIX que tuvo una singular participación de lo que se conoce como la generación del 98, en la cual la cultura española sufrió una transformación sin precedentes en su historia contemporánea. A través de algunos pasajes de sus obras y de sus ideas intentaremos poner un punto de enlace entre la visión de mundo que se tenía en aquel momento y su contribución transformadora y cómo eso influyó en toda una generación de escritores de habla hispana. Palabras clave: Literatura. Generación del 98. Miguel de Unamuno. Resumo O presente trabalho tem por objetivo mostrar a genialidade do grande escritor espanhol do final do século XIX que teve uma importante participação do que hoje se conhece como a Generação del 98, na qual a cultura sofreu uma transformação sem precedentes na sua historia contemporânea. Através de algumas passagens de sua obra e de suas idéias tentaremos criar um ponto de ligação entre a visão de mundo que havia naquele momento histórico e a sua contribuição transformadora e como isso influenciou toda uma geração de escritores hispânicos. Palavras-chave: Literatura. Generación del 98. Miguel de Unamuno. 1. Miguel de Unamuno: vida y obra La generación del 98 retrató de por sí una situación muy singular por la cual vivía España a fines del siglo diecinueve. La pérdida de sus colonias ultramarinas y la debilidad de sus ejércitos frente a los estadounidenses crearon una niebla de desánimo y de baja estima. España estaba tras otros países de Europa como Francia o Inglaterra debido a sus pésimos gobiernos; no había una reforma agraria, no se les daba a los campesinos medios y formas de producir más, la industria estaba retrasada y sin ningún incremento en estos años en que la revolución industrial se ponía al orden del día en todo el mundo civilizado. Con la pérdida de Cuba, Puerto Rico y las Filipinas, España debía salir de su rincón de inactividad hacia algo que le fuera benéfico y enriquecedor. Los intelectuales de entonces, en especial los escritores Miguel de Unamuno, Pío Baroja, José Martínez Ruiz y Antonio Machado, ensayan bajo la bandera de la modernidad una nueva visión de lo que había hasta entonces en el campo político-social-cultural. Es importante resaltar que la generación del 98 fue una corriente surgida en lo que se conoce como Modernismo. El Modernismo fue un movimiento en el cual se valoraba sobretodo la retórica y la belleza del lenguaje, consecuentemente, esto hacía que esta literatura fuese muy exclusiva, ya que que no era accesible a todos los lectores por la abstracción de su lenguaje. Una verdadera vuelta a lo antiguo pero con otros ojos, de una forma más sensible, en donde las formas y la belleza estaban siempre cercanas a la narrativa y a los personajes. 65 La generación del 98, aun dentro de la modernidad y sus conceptos, tenía una preocupación inexorable por las cosas de la tierra, de España; como diría Miguel de Unamuno: “me duele España”, “soy español de nacimiento de educación, de cuerpo, de espíritu de lengua, hasta de profesión y oficio; español sobre todo y ante todo”. La generación del 98 fue un marco inigualable en la historia de la literatura española y por qué no decir del mundo, por su ferreña necesidad de demostrar en obras la necesidad de amar a su patria y a su tierra. Esta generación dejo un legado de escritores que serán siempre recordados como idealistas y a su vez modernistas, y de ellos Miguel de Unamuno será unos de sus mayores nombres. Tenía también la necesidad de demostrar a los españoles lo bello y verdadero que era España; que la gente se diese cuenta de que era necesario españolizar a Europa y no europeizar a España, como estaba ocurriendo. La necesidad de imputar los valores de los grandes autores de antaño como Cervantes. A este respecto, Unamuno hizo en homenaje su libro “Vida de Don Quijote y Sancho”, en el cual da una nueva visión de los hechos memorables “del gran héroe español”, hablando como narrador de la historia y dejando su visión personal de los hechos vividos por los personajes de Cervantes. Todo eso hacía de la Generación del 98 una corriente que por su forma de impulsar sus ideas revolucionarias crearía problema a un gobierno retrógrado. En el caso particular de Miguel de Unamuno, nunca se intimidó frente a los gobiernos y sus actitudes demuestran eso. Catedrático de griego en la universidad de Salamanca y rector por más de diez años de la misma, siempre fue visto con preocupación por el status quo debido a su verbo desestabilizador. Frente a la más antigua universidad de España y con posiciones firmes de denuncia, no tardó mucho tener problemas con el gobierno de Alfonso XIII, por lo que tuvo que dejar la rectoría de la Universidad (1914); pero fue por sus posiciones y su forma de contestar la dictadura del General Miguel Primo de Rivera que tuvo como consecuencia el destierro: las islas Canarias y Francia fueron sus hogares por seis años. En 1930 vuelve Unamuno con la caída de Primo de Rivera. Es electo diputado bajo la presidencia de Niceto Alcalá Zamora quien gobernó por seis años. Unamuno fue catedrático por más de cuarenta años de la universidad de Salamanca, nutrió por ella un amor incondicional y en ella se hizo conocido por su importancia y también por su particular forma de escribir. Miguel de Unamuno tenía conciencia de que la literatura era algo que sobreponía la imaginación y lo real; sus obras están plagadas de personajes raros y únicos, sus historia se sirven de una forma muy particular de hacerse inmortal frente al mundo que apaga de apoco a los mortales. Nihil volitum quin praecognitum (nada se desea que no se haya conocido antes), pasaje de la novela Niebla, quizás describa bien la visión de Unamuno sobre las cosas. En cada párrafo, en cada pequeña parte de su obra se ve a un Unamuno omnipresente, sea como Dios en la novela Niebla en que sirve de juez a su personaje principal, el intacto Augusto Pérez, revelando una nueva manera de narrativa; o como Víctor Goti, que hace una “presentación” de su misma obra, o sea, se da tono y voz a sí mismo. Una verdadera apología de obstinación por la inmortalidad. Algunos críticos consideran que la filosofía de Unamuno anticipa el existencialismo de los años 30, 40 y 50, y usan el término "pre-existencialista" para hablar de la obra unamuniana. A otros críticos les parece más apropiado hablar del "vitalismo" de ella. No importa tanto la clasificación de la filosofía unamuniana, en parte porque ésta evolucionaría a lo largo de la vida del autor, evidenciando una copiosa producción literaria. Miguel de Unamuno fue autor de novelas, poesía, teatro y ensayo y en su 66 asombrosa y prolífica obra artística encontramos una clara manifestación de su preocupación por la inmortalidad. Los temas predilectos de Unamuno, la inmortalidad, la procreación, la maternidad y la lucha del individuo por realizarse no son sino pretextos para la exploración de sus ideas filosóficas. El autor empleó un lenguaje esencial, sin adornos, para transmitir sus ideas. Buscó un estilo desnudo que permitiera desplegar una densidad de ideas muy particulares. Luchó con el lenguaje para conseguir lo que él llamaba "una lengua seca, precisa, rápida, sin tejido conjuntivo." Sus personajes casi carecen de descripción física, ya que lo que los define es la lucha interior. La obra literaria de Unamuno resiste toda categorización. Rechazó los límites tradicionales del género narrativo al escribir Niebla (1914), obra que él clasificó de "nívola" en vez de "novela": "Invento el género e inventar un género no es más que darle un nombre nuevo, y le doy las leyes que me placen." El protagonista de Niebla, Augusto Pérez, entra en diálogo con el autor, insistiendo que como ente de ficción es tan auténtico como el autor de carne y hueso, y explicando que no quiere morirse. El deseo de "ser" del protagonista se debate contra la muerte y la disolución de su personalidad.: "¡Quiero vivir, quiero ser yo!" El diálogo de la novela se convierte en vehículo imprescindible para la exteriorización de la voluntad del protagonista: […] Aquella tempestad del alma de Augusto terminó, como en terrible calma, en decisión de suicidarse, quería acabar consigo mismo […] Mas antes de llevar a cabo su propósito, como el naufrago que se agarra a una débil tabla, ocurriósele consultarlo conmigo, con el autor de todo este relato. […] Cuando me anunciaron su visita sonreí enigmáticamente y le mandé pasar a mi despacho-librería. Entro en él como un fantasma, miró a un retrato mío al óleo que allí preside a los libros de mi librería, y a una seña mía se sentó, frente a mí. […] ¡No te muevas! Le ordené. es que…balbuceó – es que tú no puedes suicidarte, aunque los quieras. - ¿Cómo? – exclamó al verse de tal modo negado y contradicho. – Sí, para que uno pueda matar a sí mismo ¿Qué es menester? – Le pregunté – Que tenga valor para hacerlo – me contestó – No- le dije - ¡que esté vivo! – ¡Desde luego! – Y tú no estás vivo! – ¿Cómo que no estoy vivo? , ¿es que me he muerto? – Y empezó, sin darse clara cuenta de lo que hacía, a palparse a sí mismo. […] – ¿Cómo no existo? Exclamó. – No, no existes más que como ente de ficción; no eres, pobre Augusto, más que un producto de mi fantasía y de las de aquellos de mis lectores que lean el relato que de tus fingidas venturas malandanzas he escrito yo; tú no eres más que un personaje de novela, o de nivola, o cómo quieres llamarle. […] (UNAMUNO, 2006, p. 233). Este fragmento de la novela nos hace reflexionar sobre quién es realmente Miguel de Unamuno. Se percibe que repasa a sus personajes quizá parte de su carácter, es un artificio de uso para que de una forma se deje decir por otro. Cuando lo pone a su pobre personaje delante suyo para que éste pueda intentar convencerlo, vanamente, de no matarlo en su novela, Unamuno se porta como un Dios, que tiene el poder de dar y sacar la vida de quien desee. De la misma manera, al dar el nombre de “nivola” a su novela para no llamarla de novela deja clara su posición de se hacer inmortal creando algo nuevo entre lo que existe. Las palabras y los nombres forman parte de su obra. Hay una verdadera infusión de términos del latín (todos traducidos), hay referencias a personas amigas suyas como Antonio Machado, que es citado en el fragmento que sigue bien como referencias a sus propias invenciones a las cuales les da un valor dentro de la misma novela, o sea, sus personajes son él mismo a la vez, pero él se pone de observador, dueño de la única verdad posible y necesaria. 67 […] – tal vez, pero el caso es que en esa novela pienso meter todo lo que me ocurra, sea como fuere. Pero acabara no siendo novela. No, será…será…Nívola. Y ¿Qué es eso, qué es nívola? Pues le oído contar a Manuel Machado, el poeta, el hermano de Antonio, que una vez le llevó a don Eduardo Benot, para leérselo, un soneto que estaba en alejandrinos o en no sé qué otra forma heterodoxa. Se lo leyó y don Eduardo le dijo “Pero ¡eso no es un soneto!...””No señor - le contesto Machado - no es soneto, es…sonite” Pues así con mi novela no va a ser novela, sino… ¿Cómo dije? , navila…nebulo, no no ¡Nívola! Eso es, ¡Nívola! Así nadie tendrá derecho a decir que deroga las leyes de su género. (UNAMUNO, 2006, p. 157). Por este fragmento tenemos la más clara de las verdades unamunianas y sus diversas formas de hacer una novela (o como quiere el autor nívola, y eso como diciendo que quien quiere no es él, sino su personaje, que no deja de ser él mismo); una narrativa magistral y rebelde a su tiempo; lo que existe puede y debe ser mejorado, su lenguaje es corto de detalles y rico en su mensaje elíptico. Su vida se transfigura en su obra de tal modo que a veces es difícil saber qué es ficción y qué no lo es. Como comentó en una ocasión: […] Toda novela, toda obra de ficción, todo poema, cuando es vivo es autobiográfico, Porque ¿Quién soy yo mismo? ¿Quién es el que se firma Miguel de Unamuno? Pues…uno de mis personajes, una de mis criaturas, uno de mis agonistas. (UNAMUNO, ano, p.). Otro fragmento de “La vida de Don Quijote y Sancho”, de 1905, nos permite ver de forma tajante su posición como crítico: […] Aquí inserta Cervantes aquel capítulo VI en que nos cuenta “el donoso y grande escrutinio que el cura y el barbero hicieron en la librería de nuestro ingenioso hidalgo”, todo lo cual es crítica literaria que debe importarnos muy poco. Trata de libros y no de vida. Pasémoslo por alto. (UNAMUNO, 2009, p.70). Cuando leemos este capítulo en la obra de Cervantes (primera parte) nos damos cuenta que no es nada más que diálogos entre el cura y el barbero como decidiendo lo qué hacer con los innúmeros libros que nuestro héroe tiene en su biblioteca privada y de este capítulo Unamuno se le saca la idea de que lo que importa “es la vida y no los libros”. Genio, lector y escritor voraz; Unamuno saca de cada fragmento de su historia algo en lo cual uno puede ver el crecimiento vertiginoso del ser unamuniano. Su forma de escribir y sus conceptos y visiones fueron cambiando no de dirección pero si de forma. Cada vez más tenían una forma más cercana a lo que él, seguramente, imagino para sí mismo. Él que siempre fue un religioso o decir con relación a su creencia en Dios se ve al fin de su existencia perturbado con muchas inquietudes acerca de su misma fe, y eso se le ve de forma muy clara en las contraposiciones de sus libros “LA agonía del cristianismo” (1925) y “San Manuel, bueno mártir” (1931), ya que Unamuno que siempre estuvo con un pie sobre la creencia en Dios y la religiosidad y otro en el agnosticismo y eso se le nota de forma filosófica en la primera obra (La Agonía del Cristianismo) que se desvanece en la segunda (San Manuel, Bueno Mártir), esta que es quizá, su gran obra maestra en donde cuenta la historia de un cura que practica su oficio pero que perdió su fe en la religión hace mucho tiempo. Como Unamuno se mezcla a sus personajes y uno jamás sabrá cuando es él o un simple personaje de su ficción. 68 Miguel de Unamuno nació en Bilbao en 1864, estudió Filosofía y Letras en la Universidad de Madrid y estuvo trabajando en su ciudad natal impartiendo clases de Latín y Griego hasta que se fue a Salamanca a intentar y después de muchos intentos lograr la cátedra de Griego en donde estuvo diez años como profesor hasta que lo nombraron rector de aquella institución que es la Universidad más antigua de España y una de las cinco del mundo. Dejó una enorme producción de artículos y de grandes obras siendo que las más conocidas son: “PAZ EN LA GUERRA” (1897), su primera obra que todavía, en su esencia no demostraba la forma única de ser de Unamuno, con su originalidad y estilo que lo seguiría por toda su existencia. En torno al Casticismo obra compuesta de cinco ensayos los cuales fueron publicados entre 1895 y 1897, En 1911 escribe “Por tierras de Portugal y España” y “Andanzas y visiones españolas” (1922) siendo que en estas dos ultimas trae su visión personal que fue una bandera al movimiento llamado generación del 98 acerca de las tierras castellanas y de cómo ellas eran importantes para el resurgimiento de una nueva corriente de sentimiento “español”, reviviendo las glorias de antaño y haciendo el final triunfal evocando los primeros acordes que ya habían sido dados con una de sus obras maestras “La vida de Don Quijote y Sancho” (1905) en la cual hace un homenaje al más grande de los Migueles (Cervantes) y le da un tono muy suyo a la misma, con su visión crítica pero no destructiva y si de agregar, en la cual el decreta que la obra de Cervantes no le pertenece al mismo y si a todos los españoles. Tenemos en la obra de Unamuno novelas que describen muy bien el modo de ser de nuestro escritor, en “Del sentimiento trágico de la vida” (1912) y “Niebla” (1914) tenemos un Unamuno filosófico, impregnado de sus ideales traspasados a sus personajes, sus reflexiones secas a cerca de la espiritualidad y de lo que se entiende como religiosidad están muy presentes en la primera y su jugo critico y la creencia a la inmortalidad están estampadas en la segunda. Podemos pensar de formas muy distintas de la figura de Miguel de Unamuno, de su sabiduría y de su forma única de escribir, muchos han dicho que el siempre estuvo al frente de su tiempo. Que de una forma muy particular supo aprovechar cada párrafo para impregnar a quienes leen sus obras de algo de su mundo unamuniano. Podemos decir que Unamuno no logro como se supone que quería la inmoralidad física pero si la consiguió en su más perfecta forma: La inmortalidad artística. Hoy se estudia su obra y se lee la misma con una vivacidad quizá sin igual. No se puede separar a él de lo que hizo y lo que represento, sus convicciones y su postura ante regímenes políticos y sus ideas copadas de novedades aún son vistas como algo nuevo. No son todos los mortales que logran que lo suyo sea algo vivo en más de cien años. No son todos los que pueden decir o saber que sus ideas persisten a lo largo de generaciones. Tenemos en nuestro Miguel de Unamuno alguien que por más muerto que esté físicamente un ser vivo. Vivo como siempre estuvo. Provocando en quienes leen sus obras sensaciones de encantamiento y de espanto, encantamiento por la belleza de descifrar lo que está por detrás de sus líneas; riso en leer algo que por su forma de ser causa esta sensación tan buena. Espanto por constatar que a casi un siglo había personas que pensaban como pensaba Unamuno, o sea, escritores al frente de su tiempo con una visión privilegiada de su entorno y de, quizá, el futuro, una vez que muchos críticos dijeron ser Unamuno unos de los más inspiradores de las futuras generaciones venideras de los años 40 y 50. 69 Referencias José Antonio Serrano – Miguel de Unamuno. Disponible en: <http://jaserrano.nom.es/unamuno/miguelunamuno> accedido el 10 de Mayo de 2011. Español 11 –Introducción a la Literatura Española. Disponible en: <http://www.swarthmore.edu/Humanities/mguardi1/espanol_11/unamuno.htm acceso en 08> accedido el 10 de Mayo de 2011. UNAMUNO, Miguel. Niebla. Madrid: Espasa, 2006. ______. Vida de Don Quijote y Sancho. Madrid: Alianza, 2009. 70 O DESASTRE DE 98 E A POESIA DE ANTONIO MACHADO Raíssa Karini VELASCO26 (G – UEL) Gustavo Javier FIGLIOLO27 (UEL – Orientador) Resumo Antonio Machado, grande nome da Literatura Espanhola, fez parte de um grupo de escritores contemporâneos a ele, denominados a Geração de 98; nessa época, Espanha atravessava uma crise por conta da perda de domínios de territórios e problemas regionalistas do país. Todo o contexto histórico influenciou diretamente a literatura dessa época, portanto é possível identificar as marcas desse desespero político-social, que havia se instaurado na comunidade espanhola, dentro das poesias de Antonio Machado. E é esse o objetivo maior deste artigo, identificar e descrever as influências do contexto histórico na obra do poeta, fazer um paralelo de sua vida e obra, traçar também algumas das características particulares de suas poesias. Palavras-chave: Literatura Espanhola. Antonio Machado. Geração de 98. Resumen Antonio Machado, gran nombre de la Literatura Española, formó parte de un grupo de escritores contemporáneos a él, denominados la Generación de 98; en esa época, España pasaba por una crisis a causa de la pérdida de dominios de territorios y problemáticas regionalistas del país. Todo el contexto histórico influyó directamente en la literatura de esa época, por lo tanto es posible identificar los rasgos de esa desesperación políticosocial que había se instaurado en la comunidad española, dentro de las poesías de Antonio Machado. Y ese es el objetivo mayor de este artículo, identificar y describir los influjos del contexto histórico en la obra del poeta, hacer un paralelo de su vida y obra, trazar también algunas de las características particulares de sus poesías. Palabras clave: Literatura Española. Antonio Machado. Generación del 98. 1. Introdução O presente trabalho desenvolve um paralelo histórico e literário, um regresso à sociedade espanhola de 1898 e procura explicar as influências desse contexto históricosocial na poesia de um dos grandes nomes da geração de 98, Antonio Machado. Nessa época Espanha passava por uma crise de desequilíbrios políticos e sociais, acabara de perder seus últimos territórios colonizados para os Estados Unidos e seu povo repelia a historia anterior e investia em uma nova forma de vida e de arte. A Geração de 98 surge pelo pensamento comum de alguns escritores, como Miguel Unamuno, Ramón Valle-Inclán, Pio Baroja, Azorín, Antonio Machado, entre outros. Apesar de todos produzirem gêneros textuais bem diferentes entre si (de textos filosóficos a poesia), encontram-se na crítica da história e da vida espanhola. Buscaram uma reformulação literária, abandonando o ultrapassado Romantismo. Antonio Machado, maior nome da poesia dessa geração, também doutor das leis e professor por vários anos de sua vida, transparece em suas poesias o conceito vigente na época, a busca por um homem mais espanhol, que valoriza sua terra e independente das teorias e estilos de vida alheios a seu país. Além das influências do contexto em que 26 Aluna do curso de Letras/Espanhol da Universidade Estadual de Londrina. Professor de Língua e Literatura Hispânicas do Departamento de Línguas Estrangeiras Modernas da Universidade Estadual de Londrina. 27 71 viveu, construiu traços muito particulares em suas obras, deixando florescer sua lírica intimista. 2. Contexto histórico No século XIX, Espanha sentia o resultado de seu enfraquecimento político interno, as disputas pelo poder somadas a uma sucessão de trocas presidenciais sem sucesso fazem com que Espanha se enfraqueça também internacionalmente, suas colônias estavam se declarando independentes, contudo, quase ao final do século, ainda mantinha domínio político sobre Cuba, Porto Rico e Filipinas; mesmo que esses territórios já almejassem independência sem forças político-militares suficientes, não conseguiam se desvencilhar do domínio espanhol. O ponto chave de esse desenrolar histórico foi o ano de 1898, em que as esquadras espanholas foram esmagadas pelas estadunidenses. Estados Unidos, que já possuía interesse nos territórios de Cuba e Porto Rico por serem zonas de influência no litoral norte americano, e em Filipinas por ser importante base no Pacífico, ancora no território marítimo cubano um navio para “proteger as vidas e terras americanas”; em fevereiro desse mesmo ano, Espanha explode a embarcação, os Estados Unidos, por sua vez saem “em defesa” da liberdade e independência política das últimas colônias espanholas, travando uma guerra curta que durou menos de oito meses, com a Espanha em Cavite (Filipinas) e em Santiago (Cuba). Espanha, sem forças para seguir lutando por suas colônias, rende-se a perda de seus últimos domínios, e com o Tratado de Paris, renuncia aos territórios de Cuba, Porto Rico e Filipinas, dando espaço ao domínio estadunidense. Por tudo isso o ano de 1898 foi significativo para os espanhóis, pela marca do desastre, pela perda de poder, e pela crise. Entretanto, esses fatos favoreceram o surgimento de uma era de necessária renovação, de revigoramento do espírito nacional, onde nasce, no cenário espanhol, uma geração que representará, através da literatura, essa fase histórica da Espanha: a Geração de 98. 3. O movimento literário: Geração de 98 Em meio a toda a crise espanhola, surgem pensadores e escritores que dividem o mesmo sentimento de desconformidade com a história anterior de sua nação, e reivindicam uma nova forma de vida e de arte; essa geração é fortemente caracterizada por sua desconformidade com o passado e pelo desejo de revolução e de reforma do país, seja no campo social, artístico ou político. A Geração de 98 influencia fortemente no campo político, pois realiza importantes estudos e meditações com intenção de melhorar o rumo do país. Os autores desse movimento, apesar de possuírem estilos bem divergentes, focam-se em alguns pontos comuns, os quais serão descritos a seguir: 3.1 Crítica ao modelo de vida e à história da Espanha Os escritores pretendiam denunciar as falsas formas de vidas “civilizadas” e “modernas” que surgiram, pois lhes pareciam uma imitação de outros países da Europa. O afrancesamento ou a europeização não eram aceitáveis, reforçavam a busca por um estilo de vida tipicamente espanhol, livres de aspectos que não lhes fossem naturais. Contudo, não defendiam o retrocesso, à volta ao passado, acreditavam em uma Espanha cheia de identidade e moderna sem excessos. Defendiam que a modernização não estava basicamente ligada aos resultados da Revolução Industrial (fábricas, urbanismo, progresso material). Além do mais, nessa corrida Espanha já se havia atrasado, pois outros países europeus já tinham passado à 72 frente e derrubado seu status de “Potência Mundial”. E como a geração de 98 estava à busca do castiço, a não valorização dessa “civilização moderna” torna-se viável. Porém, eles não a rechaçam completamente, compartilham com os modernistas os ideias de liberdade, maneiras igualitárias de vida e respeito ao homem. Censuram tanto os monárquicos quanto os liberais republicanos, denunciam os partidos políticos por sua covardia civil, e também criticam os católicos e a Igreja. O governo, o Exército e o Estado tampouco não escaparam da desconformidade dos escritores dessa época, eles tentam derrubar o patriotismo dogmático com o patriotismo cosmopolita, verdadeiramente espanhol. 3.2 Crítica ao homem espanhol. A identidade do homem espanhol, as características nacionais, são assuntos sempre questionados pela geração de 98; à volta à própria cultura, a exclusividade do homem espanhol em comparação aos outros europeus, a defesa da “raça espanhola” é tema bem desenvolvido nessa época. Procurou-se mais voltar para o que é natural da Espanha, o homem, sua vida, cultura, paisagem. Viajavam pelo país à procura desses elementos, para que pudessem descrevê-los. Promovendo assim, a valorização e a defesa do que é nacional, do homem castiço e de seu estilo de vida. 3.3 Reforma literária Já cansados do Romantismo, Realismo e Naturalismo, os escritores de 98 realizaram uma renovação de temas, formas e estilo na literatura espanhola do final do século XIX e início do século XX; adotaram os temas da Espanha atual como os preferidos, sua gente, costumes, paisagens, retratavam a vida real, porém com a liberdade de expressão pessoal de cada autor. Frequentemente, a literatura se deu como forma de reivindicação, narração do vivido, as composições voltadas apenas para a estilística foram abandonadas, dando espaço para uma literatura renovada, combatente, carregada de ideias e criticidade, mesmo que, algumas vezes, fosse fortemente lírica. A liberdade para caminhar entre o idealismo e o realismo foi outra forte característica desse movimento. A produção literária dessa época foi intensa e bem diversificada, pode-se encontrar desde poesias até romances e textos filosóficos. Seus principais representantes foram: Miguel Unamuno – destacou-se por seus textos filosóficos e ensaios, mas também foi escritor de artigos, teatro e poesia; Ramón del Valle-Inclán e Pío Baroja – que dedicaram-se aos romances; José Martinez Ruiz, Azorín – teve sucesso por suas críticas; e Antonio Machado - o poeta da geração de 98. 4. Antonio Machado Denominado “o poeta da Geração de 98”, Antonio Machado também foi considerado um dos três maiores líricos do século XX. Nasceu em Sevilla em 1875, porém muito novo mudou para Madrid com seus pais, graduou-se em Direito, pela Universidade de Madrid. Mais tarde cursou Letras e Filosofia. Dedicou-se à leitura de filosofia, e foi inspirado pelas obras de Miguel Unamuno. Viveu e trabalhou como professor e em editorias por alguns anos na França, em sua volta à Espanha freqüentou ambientes literários onde conheceu Ramón Jiménez, Valle-Inclán e Unamuno. Foi nomeado membro da Real Academia Espanhola, e com as derrotas dos republicanos na Guerra Civil Espanhola manteve-se exilado na França até sua morte em 1939. 73 Suas primeiras composições seguiram o estilo modernista, porém, o abandonou já inicialmente, adotando um estilo próprio. Desenvolveu sua lírica intimista, descrevendo sua alma através de objetos naturais. A natureza foi a maior fonte de riqueza de Machado, ninguém como ele descreveu a paisagem de Castilla com tantas percepções e propriedade com as palavras, e por meio da paisagem descreveu, mais que o cenário, a alma dos homens dessa terra, solitários, recolhidos, seus costumes, sua vida. Elementos típicos dessa geração, o retorno e a busca pelo homem castiço, pela paisagem nacional, a valorização do que lhes é de origem, natural. Antonio Machado também representou outros elementos além da paisagem em sua poesia, o sonho, que é o símbolo da vida; a tarde, que corresponde naturalmente à melancolia; e o tempo, que é o ponto onde acontecem todas as complicações do espírito, pois a alma só dura e existe no tempo. O poeta preza pelas formas simples e descomplicadas, escreve de forma clara, criou um estilo e língua natural e popular, sem deixar de ser artística. Suas principais obras foram: Soledades – 1903; e Campos de Castilla – 1912. Além de poeta, dedicouse também à prosa, seguindo o mesmo seguimento de suas poesias optou pela forma simples e objetiva de compor. Na continuação, podemos observar o poema “Yo voy soñando caminos” de Antonio Machado: Yo voy soñando caminos Yo voy soñando caminos de la tarde. ¡Las colinas doradas, los verdes pinos, las polvorientas encinas!… ¿Adónde el camino irá? Yo voy cantando, viajero a lo largo del sendero… -la tarde cayendo está-. <<En el corazón tenía la espina de una pasión; logré arrancármela un día: ya no siento el corazón.>> Y todo el campo un momento se queda, mudo y sombrío, meditando. Suena el viento en los álamos del río. La tarde más se oscurece; y el camino que serpea y débilmente blanquea se enturbia y desaparece. Mi cantar vuelve a plañir: <<Aguda espina dorada, quién te pudiera sentir en el corazón clavada.>> 74 Esse poema é exemplo bem representativo do perfil poético de Antonio Machado, ele apresenta fortes características do movimento da Geração de 98 e também características próprias do autor. A descrição da paisagem nacional, o retorno ao cosmopolita, o homem sem destino definido, que traz uma velada crítica à perspectiva inexata da situação de todo o país, são claramente aspectos que evidenciam o contexto histórico vivido para o leitor, e compartilham o momento reflexivo do movimento literário da época. Pode-se apontar como características próprias do autor, porém, que não fogem ao movimento, a representação do homem através da paisagem, sendo essa silenciosa, sombria e reflexiva “[...] Y todo el campo un momento / se queda, mudo y sombrío, / meditando. [...]”, a harmonia de sentimentos entre homem e paisagem nacional. A tarde melancólica, o sol que se vai e deixa o turvo, a perda. E o sonho, representante da vida, o homem que vai caminhando sem destino fixo, que vive seu caminho, observa e contempla a natureza, sofre com suas “espinas”, mas segue em frente no desconhecido. 5. Conclusão A crise político-social vivida pela Espanha em meados 1898, teve notável influência nas composições literárias da época, diferente de alguns movimentos anteriores, era a literatura que estava para o contexto, exerceu papel de proclamadora da desconformidade com a história e a vida espanholas, reivindicou a melhora, um posicionamento dos governantes; na defesa do castiço, criticava o homem espanhol que não vivia o nacional, que buscava inspiração em outros países europeus. A Geração de 98 voltou-se insistentemente ao contexto da época, e até mesmo as composições poéticas vieram em defesa a esse pensamento comum. Antonio Machado, com toda sua lírica intimista, transpareceu em suas poesias a situação do homem nacional, descreveu a paisagem de sua terra, valorizou o que era espanhol. A poesia, que muitas vezes foge à realidade histórica, no movimento literário de 98, esteve diretamente ligada às problemáticas político-sociais de uma Espanha em crise. Referências DÍAZ-PLAJA, Fernando; ZIERER, Otto. Pequena história das grandes nações ESPANHA. Genebra: Minerva, 1979. GARCÍA LOPES, José. Historia de la literatura española. Barcelona: Vicens-Vives, 2004. LOPRETE, Carlos A. Literatura Española. 21ª ed. Buenos Aires: Plus Ultra, 1994. SCHILLING, Voltaire. Estados Unidos: Cuba e a Guerra Hispano-americana de 1898. Disponível em: <http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/guerra_hispano.htm>. Acesso: 16 de mai. 2011. 75 AGUAFUERTES ASTURIANAS (1935): O ESCRITOR ARGENTINO ROBERTO ARLT DISCUTE A POLÍTICA ESPANHOLA DE SEU TEMPO Thaís Nascimento do VALE28 (PG – UNESP-Assis) Resumo O presente trabalho propõe uma reflexão sobre as relações entre literatura e política no processo literário hispano-americano, a partir da experiência narrada por Roberto Arlt (1900-1942), um dos mais representativos escritores argentinos do século XX. Arlt ganhou notoriedade através das publicações de suas águas-fortes, gênero híbrido criado pelo escritor, no jornal El Mundo, a partir de 1928. Em 1935, foi enviado à Espanha como jornalista para acompanhar a tensa situação política que vivia aquele país nos primeiros anos de República. Dentre os textos resultantes dessa viagem, estão as Aguafuertes Asturianas, publicadas entre 05 e 13 de novembro de 1935, nas quais o escritor-jornalista narra e discute os acontecimentos e consequências da Rebelião de outubro de 1934, em Astúrias, episódio que, de alguma forma, antecipa a Guerra Civil Espanhola (1936-1939). Palavras-chave: Literatura e política. Roberto Arlt. Jornal El Mundo. Aguafuertes Asturianas. Resumen El presente trabajo propone una reflexión sobre las relaciones entre literatura y política en el proceso literario hispanoamericano a partir de la experiencia narrada por Roberto Arlt (1900-1942), uno de los más representativos escritores argentinos del siglo XX. Arlt ganó notoriedad a través de la publicación de sus aguafuertes, género híbrido creado por él, en el diario El Mundo, a partir de 1928. En 1935, fue enviado a España como periodista para acompañar de cerca la tensa situación política que vivía aquel país en los primeros años de República. Entre los textos resultantes de este viaje, están las Aguafuertes Asturianas, publicadas entre 05 y 13 de noviembre de 1935, en las cuales el escritor-periodista narra y discute los acontecimientos y consecuencias de la Revolución de octubre de 1934, en Asturias, episodio que, de alguna forma, anticipa la Guerra Civil Española (1936-1939). Palabras clave: Literatura y política. Roberto Arlt. Diario El Mundo. Aguafuertes Asturianas. Nos cafés, nos cinemas, nas barbearias, nas casas de espetáculos ou nos bares é impossível conversar sem a presença de testemunhas armadas. Os edifícios destruídos pela guerra civil são abundantes. Vejo-me obrigado a tirar fotografias com certa precaução. A cidade atualmente se reconstrói, mas com certa dificuldade. É que apesar da grande quantidade de forças armadas que protegem a cidade, a associação de trabalhadores da construção declarou greve geral: o governador civil decretou que a greve era ilegal, mas o decreto parece não ter convencido os trabalhadores tendo em vista que as obras estão protegidas por guardas de assalto. A desconfiança surda afasta as pessoas dos lugares públicos. Em várias casas de pensão me negaram alojamento quando souberam que eu era jornalista. Finalmente fui alojar-me na casa de um chefe de carregadores que se 28 Mestranda do Programa de Pós-graduação em Letras da FCL-Assis – Literatura e Vida Social. Orientador Dr. Antonio Roberto Esteves. Bolsista do CNPq. E-mail: [email protected] 76 comprometeu a não denunciar minha presença na cidade para a polícia. A impressão que produz tantos uniformes carregando fuzis nas costas na pequena cidade é a de ter penetrado no interior de um cárcere. E, na verdade, qual edifício meio desocupado, não acabou servindo durante alguns dias de cárcere? Muitos dos caminhões que hoje transportam verduras ou passageiros para os povoados vizinhos foram utilizados há um ano para carregar cadáveres, transportando-os do quartel de Pelayo, ou da Praça de Touros, convertida em necrotério, ao crematório do cemitério de Gijón. Os guardas do depósito de tabaco atrás do quartel de Pelayo, durante vários dias depois que as tropas entraram na cidade, escutavam a cada quinze minutos o barulho dos disparos. Muitos dos mortos tinham recebido um tiro na nuca. Em Villa Fria a tropa moura atuou com tal violência que seus crimes foram testemunhados em relatórios apresentados à Sociedade das Nações. Os que morreram com um fuzil na tentativa de investida ou os que caíram com uma metralhadora nas mãos foram muito mais felizes. Os conventos, semi destruídos por causa do fogo dos revolucionários e das bombas dos aviões, converteram-se em cárceres provisórios. […] (ARLT, 1999, p. 145-147, tradução nossa) O excerto acima constitui parte da primeira água-forte que Roberto Arlt (19001942) escreveu sobre Astúrias, durante sua viagem à Espanha como jornalista para acompanhar a tensa situação política que vivia aquele país nos primeiros anos de República. Dentre os vários textos resultantes dessa viagem, estão as Aguafuertes Asturianas, publicadas entre 05 e 13 de novembro de 1935, no jornal El Mundo, nas quais o escritor argentino narra e discute os acontecimentos e consequências da Rebelião de outubro de 1934, em Astúrias, episódio que, de alguma forma, antecipa a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e, a partir das quais, propomos tecer alguns comentários acerca das inter-relações entre três campos dos estudos científicos que se cruzam: a literatura, a história e a política, buscando refletir, sobretudo, em que medida os acontecimentos desta última aparecem tanto na forma como na temática das manifestações no âmbito da literatura. Tal perspectiva leva em consideração os pressupostos de Antonio Candido, segundo os quais, “uma crítica que se queira integral deixará de ser unilateralmente sociológica, psicológica ou linguística, para utilizar livremente os elementos capazes de conduzir a uma interpretação coerente.” (CANDIDO, 2006, p. 17) Em seu livro, América: história e ficção, André Trouche afirma que há, no processo literário hispano-americano, “uma sensível unidade construída a partir de uma atitude escritural comum de transferir à ficção o resgate e o questionamento da experiência histórica” (TROUCHE, 2006, p. 44). A partir do trecho que inicia este trabalho, é possível averiguar como esse diálogo entre o discurso histórico e o discurso ficcional pode ser apreendido a partir da leitura da experiência narrada por Arlt, que mais do que descrever paisagens ou narrar sua peregrinação por terras estrangeiras, reflete por meio de sua produção um contexto histórico, sobretudo acerca dos desdobramentos políticos e dos conflitos sociais decorrentes destes. Roberto Arlt, um dos mais representativos escritores argentinos do século XX, que revolucionou a literatura da época, tanto no que se refere ao tratamento que dava às questões sociais e políticas quanto nas soluções estéticas apresentadas com sua obra, é autor de uma extensa produção literária – contos, romances, peças de teatro, etc. – mas foi como jornalista que Arlt ganhou notoriedade através das publicações de suas águasfortes, gênero híbrido por ele criado, no jornal El Mundo, a partir de 1928. Tais textos, 77 cuja matriz ele encontra nas artes plásticas, inserem-se no âmbito das narrativas de extração histórica, uma vez que misturam uma série de tipos de narrativa que mantém uma estreita relação com a intenção de reproduzir a realidade, tais como a crônica jornalística e a literatura de viagem. À primeira água-forte asturiana, Oviedo con reminiscencias de Buenos Aires Soldados, guardia de asalto, cañones y fusiles - Las personas temen hablar (05/11/1935), precede uma nota da redação do jornal situando o leitor acerca da temática que se segue no conjunto de textos produzidos por Arlt sobre Astúrias e advertindo que, embora tais águas-fortes tenham sido recebidas há algum tempo, sua publicação segue a ordem em que foram concebidas para que não fosse interrompido o ritmo das viagens e observações de Roberto Arlt. A esta segue uma nota do próprio escritor-jornalista, na qual ele afirma que “estas águas-fortes carecem de epopéias brilhantes. São escuras e monótonas, como eram escuros e tediosos os dias da população refugiada nos subterrâneos. Porém, satisfazem a curiosidade das pessoas a quem interessa saber „como se viveu naqueles momentos‟.” (ARLT, 1999, p. 144, tradução nossa) No texto que abre esta sequência de águas-fortes, o argentino comenta que, após uma primeira impressão agrádavel acerca das semelhanças entre Oviedo e Buenos Aires, através da qual é interessante notar que o processo narrativo empreendido pelo escritor parte da memória para construir o texto, uma vez que confronta o cenário presente e suas reminiscências individuais, segue-se outra perturbadora: “a cidade está transformada em quartel” (ARLT, 1999, p.145, tradução nossa). Mais adiante, irá explicitar a sensação de estar no interior de um cárcere e reflete: “E, na verdade, qual edifício meio desocupado, não acabou servindo durante alguns dias de cárcere?” (ARLT, 1999, p. 146, tradução nossa). Esta sensação é descrita por meio de uma série de imagens, desde os comentários sobre a presença de “homens com fuzis às costas” a observações da arquitetura dos edifícios “destruídos pela guerra civil”. Também compõe o texto referências a espaços geográficos, fatos e personagens históricos. Ainda neste primeiro texto, o escritor narra a tentativa frustrada de conversar com as pessoas sobre o período em que a cidade fora tomada pelos revolucionários, evidenciando o clima de desconfiança das mesmas: A população lembra aqueles dias sinistros com os lábios apertados. Desconfia-se dos perguntadores. Em cada desconhecido, suspeita-se a presença de um policial espião ou um agitador comunista. É ilusão pretender informar-se minuciosamente dos episódios da revolução. Visitei o vale mineiro: ali ninguém viu nem sabe de nada. Se os quartéis da Guarda Civil, explodidos pelas bananas de dinamite, não comprovassem o ocorrido, seria difícil supor que a revolução passou por ali. No entanto, diante da atitude dos trabalhadores das minas, não é difícil suspeitá-lo. (ARLT, 1999, p. 147, tradução nossa). De acordo com Arlt, a reação das pessoas reflete com dramática intensidade o medo e a desconfiança decorrente dos últimos acontecimentos, cujos vestígios não só compõem a paisagem da capital da província, Oviedo, tomada pelos revolucionários no dia 6 de outubro, mas, sobretudo, permanecem na lembrança da população. Numa perspectiva histórico-política do quadro no qual se inserem tais acontecimentos, podemos dividir o período da Segunda República Espanhola29 em: o governo provisório, o bienio transformador (1931-1933), o “biênio-negro” (1933-1935), período no qual ocorrem os episódios de outubro de 1934, e as eleições de 1936 que, 29 A Primeira República Espanhola ocorreu entre 1873 e 1874. 78 nas palavras de Ramón Tamames (1983, p. 199), “são os últimos dias da República em paz.” O “biênio-negro” inicia-se com a entrada de Lerroux como chefe do governo após o triunfo das direitas em 19 de setembro de 1933. No entanto, para que os radicais pudessem se manter no poder, era necessário o apoio da CEDA (Confederación Española de Derechas Autónomas30). Segundo Jackson (1973, p. 199), essa participação “era considerada, quer pelos liberais da classe média, quer pelos revolucionários da esquerda, equivalente ao estabelecimento do fascismo na Espanha.” No dia 4 de outubro, uma nova formação do governo passa a contar com três ministros da CEDA. Em Asturias, a fim de tentar impedir a participação da CEDA no governo, a CNT (Confederación Nacional de Trabajo) e a UGT (Unión General de Trabajadores), bem como outras alianças partidárias, deram origem a “UHP”, assim denominada devido à célebre palavra de ordem “Unión, hermanos proletarios”, que ordenou greve geral como forma de manifestação de protesto. Então são formados comitês revolucionários que começam a tomar várias aldeias e, no dia 6 de outubro, tomam também a capital da província. Durante os combates, os mineiros se apoderam do arsenal de Trubia e La Vega e, na falta de munição, empregam a dinamite, tradicional arma de seus combates. No dia 8 de outubro chegam aos portos de Avilés contingentes militares regulares e da Legião Estrangeira enviadas pelo ministro de guerra, Diego Hidalgo, aconselhado pelo general Franco, para deter os revolucionários. Oviedo cai no dia 12 de outubro e, no dia 18 de outubro, rende-se o último reduto sobre poder dos mineiros. Apesar disso, o estado de guerra instalado é mantido pelos meses seguintes, período no qual a repressão é brutal: torturas, julgamentos e execuções. Em toda a Espanha, calcula-se algo entre 30.000 a 40.000 pessoas presas aguardando para serem julgadas (JACKSON, 1973). Além disso, o período foi marcado por forte censura da imprensa. Segundo Tamames (1983), o triunfo da rebelião em Astúrias era impossivel diante do fracasso do movimento grevista no restante do país. Ainda de acordo com Tamames, os acontecimentos em Astúrias refletem: “um ensaio daquilo que ocorreria dois anos depois: a guerra civil.” (1983, p. 211) Roberto Arlt chega a Oviedo oito meses após a rebelião armada dos mineiros asturianos e é acerca desse contexto histórico-político brevemente descrito, ou melhor, dos resquícios dos acontecimentos decorrentes deste, que ele escreverá as quatro primeiras águas-fortes asturianas. A primeira, como vimos, situa o leitor em relação àquilo que ocorrera nas Astúrias meses antes de sua chegada e a situação atual da cidade que se reconstroi. Os três textos seguintes31 dão continuidade a esta temática, mas procuram, sobretudo, uma vez que foram explicitadas as ações e o local onde ocorreram tais ações, evidenciar aquilo que configura o cerne da questão: quem? Ou seja, buscam averiguar os personagens de tais acontecimentos. Segundo o próprio Arlt, desde que chegara a Oviedo, “tinha uma curiosidade extraordinária por visitar uma mina. A magnitude da revolta fez crescer meu desejo de ver no seu subsolo natural, os protagonistas do Outubro Vermelho. Talvez fosse a única forma de poder explicar a força de suas decisões e resoluções.” (ARLT, 1999, p. 147-148, tradução nossa) 30 “Constitui-se de pequenos partidos direitistas independentes, os quais se agruparam nas Cortes, sob a chefia de José Maria Gil Robles; fortemente católica, a CEDA não se considerava ligada a qualquer forma de governo particular.” (JACKSON, 1973, p. 13) 31 Quiero visitar uma mina – No hay caso sin presentación oficial – Llegada a la mina de Llascares – Bajamos a 250 metros de profundidad (07/11/1935); En el interior de la mina – La posibilidad de ser enterrado vivo – Parálisis de la vida (08/11/1935); e El trabajo en la mina – Estrellas amarillas y sombras en la sombra – El venenoso aliento de la tierra (09/11/1935). 79 Para Jackson, o que possibilitou tamanha resistência nas Astúrias foi, em grande parte, o isolamento geográfico e psicológico das cidades e vilas mineiras, segundo o qual, as condições de vida das comunidades mineiras: incluíam um trabalho perigoso, uma constante vigilância da polícia, uma quase total ausência de jornais nacionais, de automóveis, rádios e comodidades caseiras e, simultaneamente, uma ânsia por um mínimo de dignidade e educação, que tentavam adquirir por intermédio das suas uniões obreiras. (...) Anos de propaganda marxista e anarquista haviam criado nos mineiros o sentimento de que tinham uma missão a cumprir. Tal como a reconquista cristã da Espanha começara em Covadonga, nos lugares mais recônditos dos montes Cantábricos, também a revolução proletária havia de nascer nas Astúrias. (JACKSON, 1973, p. 205-206) Levado por essa curiosidade acerca da determinação dos mineiros, Arlt resolve conhecer uma mina de carvão. No entanto, para realizar a curiosidade de conhecer os protagonistas daqueles nove dias de dura repressão das tropas do governo, faz-se necessário portar uma autorização oficial. Após conseguir o documento, Arlt se dirige à mina de Llascares, uma das mais modernas das Astúrias naquele momento. O trajeto é realizado a bordo do Trem Econômico, no qual, Arlt escuta de um desconhecido comentários sobre a vida dos mineiros, cujas descrições se assemelham “a essas gravuras nas quais se pinta a vida dos bem aventurados na eterna glória do Senhor. Não digo nada. Na Europa aprende-se a ficar de boca fechada”. (ARLT, 1999, p. 149, tradução nossa). Fica evidente o clima de opressão que leva ao silêncio e à exaltação do status quo. O caráter descritivo dos textos se acentua. As descrições da paisagem, à medida em que se aproxima da mina, são mais detalhadas: “no ar flutua um pozinho escuro que cobre o verde das montanhas e as paredes das casas, dando a esta paisagem escurecida um aspecto sinistro” (ARLT, 1999, p. 149, tradução nossa). As palavras que denotam escuridão aumentam na medida em que, acompanhado por um engenheiro, ele desce em direção à quinta galeria, a duzentos e cinquenta metros de profundidade. Após a experiência, Arlt reflete sobre a psicologia dos mineiros e questiona-se: “O que pode significar uma metralhadora ou o presídio para esses homens que vivem enterrados vivos?” (ARLT, 1999, p. 159, tradução nossa). Cabe observar que das oito águas-fortes produzidas sobre Astúrias, quatro são dedicadas à mina de carvão em geral e à situação do mineiro em particular. De fato, “sua estadia na Galiza e nas Astúrias marca os passos prévios e ainda titubeantes de quem, uma vez em Madrid, em fevereiro de 1936, irá inteirar-se completamente da vida política espanhola, buscando dar respostas e antecipando catástrofes” (SAÍTTA, 2000, p. 163, tradução nossa). A partir do contato com a situação na qual se encontra a cidade de Oviedo, Arlt passa a se inteirar mais profundamente das questões políticas locais. Mais do que denunciar as condições infrahumanas de trabalho das minas de carvão, local onde os acidentes são frequentes e as explosões uma ameaça constante, é através da transcrição desse cenário perigoso, onde estão os protagonistas da rebelião de outubro de 1934, que Arlt revela as consequências de tal acontecimento. Ao fim da caminhada ao lado do engenheiro, este afirma: “Como o senhor pode ver, os mineiros aqui estão muito bem” (ARLT, 1999, p. 157, tradução nossa). No entanto, e apesar dos meses transcorridos, a repressão é latente. A cidade transformada em quartel encontrase vigiada dia e noite, as pessoas temem falar e lhe é negado diálogo com os mineiros. 80 As quatro águas-fortes que se seguem32 descrevem as belas paisagens de Gijón, a principal cidade da região e centro da economia mineira, e a arquitetura local. Mesclado em seus comentários sobre o mercado de peixe, segundo ele, um sistema rápido e equitativo, o escritor divaga sobre a literatura e a leitura, fato que esclarece adiante: Na verdade eu não quis pular do leilão de pescado para comentários de psicologia popular, mas é que aqui, na Espanha, descobrimos o sentido de classe tão consolidado, que a mocinha que abandona a sua categoria proletária, a “Milongueira” portenha, é um fenômeno que só se concebe em páginas de romance. Daí essa curiosidade maravilhada por “Órfã ou Anjo dos operários”, que enganada pelo filho do dono da fábrica, suscita os mais divertidos e emocionados comentários em suas leitoras, quitandeiras, passadeiras e vendedoras de peixe. (ARLT, 1999, p. 165, tradução nossa) Nesse trecho, é possível notar uma idealização do escritor em relação ao comportamento das moças proletárias espanholas em relação às portenhas. Durante as primeiras décadas do século XX a arte em geral – poesia, cinema, teatro e música – traz o tema da trajetória das moças do bairro que trocam o mundo doméstico pela noite em busca de ascensão social. Após perder a inocência, e os anos de juventude, a “Milonguita” termina solitária e angustiada, também a tuberculose costuma aparecer como castigo para essas mulheres. Para Arlt, ao contrário das moças portenhas, na Espanha, há um sentimento de classe de tal modo consolidado, que a existência da “mocinha” que irá ascender socialmente só se dá na ficção, como os romances do escritor espanhol Luis de Val ou da escritora italiana Carolina Invernizio, lidos ao redor de uma mesa por uma mulher enquanto as vizinhas a escutam atentamente. No mercado de peixe, Arlt observa a uma mulher e mais uma vez abandona a simples descrição para tecer comentários: “Alinhavo essas divagações, enquanto meus olhos acompanham a esbelta Greta Garbo, que carrega com impressionante agilidade pesados caixotes de pescado”. Novamente comenta sua impressão sobre a consciência de classe dos espanhóis: “Mas é inútil olhar para ela. De acordo com seu ponto de vista, seu homem não poderá ser outro além do que usa o uniforme de azul mecânico e boné proletário” (ARLT, 1999, p. 165, tradução nossa). Ao perambular por diversos espaços, Roberto Arlt observa através da atitude das pessoas uma consciência proletária espanhola afirmada e reafirmada pelo escritor em oposição a sua realidade natal. De acordo com Saítta, Arlt descobre na Espanha que, diferentemente daquilo que percebia em Buenos Aires, os proletários com consciência de sê-lo são realidades „tangíveis‟, cuja existência havia sido ignorada pelos escritores que só apresentavam mulheres com mantos coloridos e pátios andaluzes, de mármore branco e azulejos azuis. (SAÍTTA, 2000, p. 162-3, tradução nossa) Ao abandonar o mercado de peixe ele divaga pela praia local e ao contemplar as pessoas que por ali circulam, rememora imagens de Buenos Aires, ora aproximando, ora afastando-as daquilo que vê: “A postura dessa gente é infinitamente superior à daqueles 32 Gijón, preciosidad cantábrica – El palácio de Revillagigedo – Muchachas que sonríen (10/11/1935); Remate y mercado de pescado – Un sistema rápido y equitativa – Greta Garbo entre cajones de peces (11/11/1935); La playa de Gijón – Dos kilómetros de arena flanqueados por rocas – Edificios rojos y mar azul (12/11/1935); e De Gijón a Santander – Alto en el pueblo de Llanes – Ríos que serpentean entre álamos (13/11/1935). 81 que frequentam nossas praias. Noto a ausência da atmosfera de hostilidade e grosseria que caracteriza os nossos balneários populares.” (ARLT, 1999, p. 168, tradução nossa) Embora nos textos escritos sobre Gijón predomine a narrativa da experiência viageira e a descrição da paisagem, bem como das praias e pessoas que por ali caminham, Arlt não abandona o caráter reflexivo dos mesmos acerca dos acontecimentos narrados nas quatro primeiras águas-fortes. O texto que encerra a sequência de águas-fortes dedicadas à região das Astúrias reproduz as imagens percorridas a bordo de um trem no trajeto de treze horas de duração de Gijón a Bilbao, cuja “paisagem é diversa e caprichosa como a que embeleza quase toda a Espanha” (ARLT, 1999, p. 170, tradução nossa). No entanto, ao relatar uma parada de meia hora no povoado de Llanes para almoçar, o escritor descreve a maneira como as mesas estão organizadas no restaurante, sobre as quais escreve: “há nessa particularidade uma atmosfera de quartel civil e comunismo apressado.” (ARLT, 1999, p. 172, tradução nossa) De volta ao trem, o escritor encerra as águas-fortes asturianas retomando a figura central das mesmas: o carvão. “Sopra e range e solta fuligem pela chaminé de bronze, trenzinho montanheiro. O importante é chegar. O resto... o resto é a sombra de um fantasma na parede.” (ARLT, 1999, p. 173, tradução nossa). Retoma, portanto, a figura dos mineiros tal como presenciou em sua descida a duzentos e cinquenta metros abaixo da terra: uma sombra. Após sua passagem por Astúrias, Arlt recorre ainda Castilla la Vieja (Santander), as províncias bascas (Bilbao, Baracaldo, Guernica e San Sebastián), Navarra (Eibar) e Aragão (Zaragoza). Quase um ano já se passou desde a sua chegada em terras espanholas quando Arlt chega a Madrid, a 16 de janeiro de 1936, no mesmo dia em que é anunciada publicamente a formação do Bloco Popular de Esquerda, cuja pretensão é participar das eleições presidenciais no mês seguinte. Arlt passa então a acompanhar de perto as manifestações políticas e os acontecimentos que acabam confluindo para a explosão do conflito que daria início à Guerra Civil Espanhola. Arlt retorna à sua terra natal no dia 22 de maio de 1936, após uma breve escala em Montevidéu, cerca de dois meses antes de iniciar o conflito espanhol. Desde Buenos Aires, e uma vez estourado o conflito, o escritor dedica ainda alguns textos para relatar aos seus leitores argentinos o momento dramático enfrentado na Espanha. São publicados quatro artigos: três sob o título “Roberto Arlt opina sobre a atual situação espanhola”, 20, 22 e 23 de julho de 1936, e “Oviedo outra vez em chamas”, 3 de agosto de 1936. Neste último, Arlt rememora seus dias em Oviedo, a cidade transformada em quartel e o diálogo travado na companhia de um capataz. O escritor-jornalista narra que, apesar dos estragos ainda visíveis, escutava do homem que o acompanhava que a cidade já estava reconstruída. Quase um ano depois deste diálogo, e diante dos acontecimentos mais recentes, Arlt questiona-se: “Que será de Oviedo agora?” (ARLT, 2000, p. 169, tradução nossa) e responde a si mesmo: Novamente como ontem, meu amigo capataz da descarga, deve estar refugiado em um porão. Novamente como ontem, a população civil de Oviedo vive refugiada nos porões, abrindo buracos nos muros para se comunicar com seus vizinhos. Como ontem, algum audaz assoma a cabeça por uma clarabóia para mirar as grandes chamas que se elevam dos altos edifícios da rua central, enquanto as baterias leais do Monte Naranco atordoam constantemente e as periferias acompanham a marcha dos mineiros, descalços ou calçados, que levam o corpo enrolado com cartuchos de dinamite, que acendem as bitucas de seus cigarros... (ARLT, 2000, p. 170, tradução nossa) 82 Este texto encerra os comentários do escritor acerca da tragédia espanhola, da qual Arlt se distancia, pelo menos do ponto de vista de seus escritos. Em um relato publicado no ano de 1938, no período mais dramático do conflito, confessará: “Alguém me perguntou por que tendo estado durante tanto tempo em terra da Espanha, tão pouco frequentemente me refiro a ela em meus contos, e é que me parte a alma falar de Espanha, e recordá-la como foi, e sabê-la tão despedaçada.” (ARLT apud SAÍTTA, 2000, p. 19, tradução nossa). A partir desse recorrido pelas águas-fortes asturianas é possível entrever como história e política estão presentes nas produções arltianas. Como vimos, as águas-fortes inserem-se no âmbito das narrativas de extração histórica, composto definido por Trouche como “o conjunto de narrativas que encetam o diálogo com a história, como forma de produção de saber e como intervenção transgressora” (2006, p. 44). Nota-se que no que se refere às narrativas que relatam a experiência do narrador enquanto viageiro, cuja característica mais notável é a descrição das paisagens por onde passa, Alt está escrevendo para um jornal, o que se traduz em certa objetividade, oscilando assim entre a reportagem e a criação literária. É reportagem porque a matéria da escritura, como já foi dito, é um fato extraído da realidade cotidiana e, por isso, abundante em referências que são facilmente reconhecidas pelo leitor. É também criação literária porque a realidade é recriada pelo engenho do escritor. (CARVALHO, 2009, p. 20) No que concerne a esta discussão, cabe ainda retomar aqui os argumentos de Fredric Jameson, segundo o qual, “nada existe que não seja social e histórico – na verdade, de que tudo é “em última análise”, político.” (1992, p. 18). Jameson concebe a narrativa como um ato social simbólico a partir de um modo essencialmente dialético de pensar as relações entre cultura, sociedade e história e é, segundo ele, “quando detectamos os traços dessa narrativa ininterrupta, quando trazemos para a superfície do texto a realidade reprimida e oculta dessa história fundamental, que a doutrina de um inconsciente político encontra sua função e sua necessidade” (JAMESON, 1992, p. 18). Desta forma, a literatura não pode ser pensada de forma outra que não politicamente. Ainda acerca de tais cruzamentos, e de acordo com Carlos Fuentes (2007, p. 18), a literatura é “uma arte, mas também uma função, situada na origem do ser falante, onde a ciência, a filosofia, a política e a informação se tornam possíveis”. Os textos de Arlt refletem sua função política, não somente pela sua temática, através das reminiscências daquilo que presenciou, recuperando e expressando-se sobre aquele país e seu contexto, mas também através de seu silêncio. Como o próprio mencionara em uma de suas águas-fortes asturianas já citadas, o fato de que uma vez estado na Europa, aprende-se a manter a boca fechada, silenciar, portanto, é a única forma encontrada pelo escritor de denunciar a dura repressão vivenciada por aquela população naquele momento. Referências ARLT, R. Aguafuertes gallegas y asturianas. Compilação e prólogo de Sylvia Saítta. Buenos Aires: Losada, 1999. ______. Aguafuertes madrileñas. Presságios de uma guerra civil. Prólogo, compilação e notas de Sylvia Saítta. 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Zulmira Aparecida HERRERA (PG – UEL) Gustavo Javier Figliolo (UEL – Orientador) Resumo Este artigo corresponde ao trabalho final da disciplina “Metodologia do Ensino da Língua Espanhola II” do curso de Letras/Espanhol da Universidade Estadual de Londrina (UEL), ministrada pela professora Valdirene Zorzo-Veloso, com orientação do professor Gustavo Javier Figliolo. Os alunos tem que pesquisar acerca de algum tópico do ensino de espanhol; pois bem, o resultado deste trabalho de pesquisa tem como objetivo mostrar a importância da literatura como recurso didático nas aulas de espanhol como língua estrangeira (LE). Palavras-chave: Textos literários. Ensino de español. Recurso didático. Resumen Este artículo corresponde al trabajo final de la disciplina “Metodologia do Ensino da Língua Espanhola II” de la carrera de Letras/Espanhol de la Universidade Estadual de Londrina (UEL), ministrada por la profesora Valdirene Zorzo-Veloso, con orientación del profesor Gustavo Javier Figliolo. Los alumnos tienen que investigar acerca de algún tópico de la enseñanza del español; pues bien, el resultado de este trabajo de investigación tiene como objetivo mostrar la importancia de la literatura como recurso didáctico en las clases de español como lengua extranjera (LE). Palabras clave: Textos literarios. Enseñanza de español. Recurso didáctico. 1. Introducción En los libros didácticos encontramos un espacio bastante reducido destinado a la literatura, y cuando lo encontramos está descontextualizado. Se propuso en las clases de prácticas el análisis del material didáctico [la Separata 2009] aplicado por los alumnos del 4º año de la carrera de letras, habilitación en lenguas y se encontró poco material referido a obras literarias, y cuando hubo alguna referencia, no fue bien trabajada: contextos históricos de las obras, cultura de la época, la condición humana, entre tantas otras cosas. Un buen ejemplo de eso está en la obra Don Quijote de la Mancha, ilustrada en la última página (p.13) de la unidad 1, donde al principio contiene datos como la fecha de la obra, su nombre completo, nombre del autor, algunas características y después sigue con el episodio de los molinos de viento, escena clásica de Don Quijote. Pero como ejercicio se propuso solamente preguntas a respecto de personalidades famosas de los países de cultura hispánica y además de eso, que se hiciese una investigación en casa para traer la clase siguiente. Al leer la obra maestra de Miguel de Cervantes, Don Quijote de la Mancha, en el capítulo XVI, entre las páginas 666-668 hay un diálogo de Don Quijote donde hace una reflexión acerca de la importancia de los estudios, de la poesía, de las letras, de valorar los autores de nuestra tierra, éste es un discurso paradidáctico. En los días de hoy, donde se hace necesario la enseñanza de valores éticos, de la valoración del hombre, de los estudios, se puede trabajar con este texto pues es un material riquísimo y abre una amplia cortina de conceptos para llevar a los alumnos. Sin embargo, fueron analizados algunos artículos más para encontrar algunas respuestas a las dudas a respecto de este asunto, principalmente sobre lo poco que se trabaja la literatura en los libros didácticos. Uno de los materiales analizados fue el artículo de Brito (2009), que va a presentarnos algunas discusiones al respecto de las dudas existentes y una de las preguntas presente fue “Língua e literatura: uma 85 dicotomia?” La autora responde que la enseñanza de la lengua española y la importancia de la aplicación correcta de la lengua materna, métodos y abordajes, establecieron una dicotomía entre la lengua y la literatura. Así sostiene la autora: “A literatura é apenas um dos domínios do idioma, é um dos conhecimentos culturais que se faz necessário à competência global da língua. A literatura faz parte do tesouro cultural de toda comunidade lingüística.”33 (Brito, 2009), con eso podemos percibir la importancia de la literatura dentro de una lengua, pues ella va a traer algunos datos o hechos históricos, dependiendo de la obra; también podemos apreciar las costumbres, saber cuáles fueron los pensamientos de décadas o siglos pasados. Y como ejemplo de la importancia de la literatura dentro de una lengua, Brito (2009) va a resaltar que “[...] a consolidação da língua espanhola deveu-se muito aos grandes escritores medievais e renacentistas”34. Como podemos observar, la literatura forma parte de la lengua, pues sin ella parte de la historia y de las costumbres se pierden en el tiempo. Podemos decir que la literatura es ya en sí un libro didáctico de las lenguas que progresa con el pasar de los tiempos. También se encuentra un texto muy interesante a respecto del tema, que complementa lo que dice Sara Araujo Brito; sin embargo, hace muchas críticas a eso de sólo estudiar los clásicos. Pero presentaremos primero las ideas comunes entre los autores. En este trabajo, Fouatih dice: […] Queremos recordar que a la hora de emprender la enseñanza de una lengua extranjera, la literatura deja de ser un simple elemento ornamental, cultural o un premio al final de una unidad didáctica como ocurre en muchos métodos publicados de E/LE. En efecto, esta última representa un importante y rico recurso y eso por la universalidad de sus temas, su autenticidad y sobre todo por su valor intercultural. (MENOUER FOUATIH, 2009, p. 161). Por eso no podemos dejar tan desprestigiada la enseñanza de la literatura. Los alumnos o aprendices de una lengua muchas veces no leen los libros en su propia lengua materna, probablemente tampoco en la LE. Por eso, su lenguaje puede ser más pobre y no llegan a comprender u observar la grandiosidad de las obras literarias. Nogueira (2008, p. 163) especialista en la obra de Miguel de Cervantes, Don Quijote, comenta que, “Ler é, portanto, uma atividade essencial tanto na aprendizagem da língua materna quanto na de LE. É necessário que o aluno possa interagir com o texto, observando as relações que mantém com o contexto sócio-cultural e com outros textos”35. Más adelante también dice: [...] Por apresentar tal complexidade, muitos professores preferem excluir o texto literário das aulas de LE. Para a superação dessas dificuldades, o professor dispõe 33 (La literatura es solamente uno de los dominios del idioma, es uno de los conocimientos culturales necesarios a la competencia de la lengua. La literatura es uno de los tesoros culturales de toda comunidad lingüística.) 34 (... la consolidación de la lengua española se dio gracias a los grandes escritores medievales y renacentistas.) 35 Leer es, por lo tanto, una actividad primordial tanto en el aprendizaje de la lengua materna como de una LE. Es necesario que los alumnos puedan interactuar junto al texto, observando las relaciones que mantiene con el contexto sociocultural y con otros textos. 5 Por presentar tal complejidad, muchos profesores prefieren excluir el texto literario de las clases de E/LE. Para superar esas dificultades, el profesor dispone de una gran cantidad de opciones en la selección de períodos y autores, desde que atienda al nivel de aprendizaje del alumno. 86 de uma grande quantidade de opções na seleção de períodos e de autores, desde que atenda ao nível de aprendizado do aluno (NOGUEIRA, 2008, p.164)5. Con eso podemos percibir la deficiencia de muchos profesores a la hora de trabajar la literatura en los salones de clases de LE, quizá la dificultad de trabajar con estos materiales, se encuentra en la necesidad de la búsqueda de los mismos, de la creación de ejercicios o de la inspiración para crear algo nuevo junto a lo concreto, junto a la literatura. Pues muchos de ellos tienen una carga horaria mayor de lo ideal. Podemos comprobar esto haciendo la verificación de un material didáctico que trabaja con la enseñanza média en Brasil. Hicimos la verificación del material “Español ¡Entérate!, 6º ano y 9º ano” y comprobamos eso, encontramos sólo tiras cómicas, muchos textos de diarios y revistas, una u otra canción, textos adaptados; ya en el libro “Español ¡Entérate! 9º ano” hay algunas reseñas de películas. Como ejemplo, mostramos un texto poético del libro ¡Entérate! 6º ano, en donde se trabaja de la siguiente manera: 1. Escucha y completa los poemas. La plaza de la torre (Antonio Machado) La plaza tiene una torre, La torre tiene ......... balcón, El Balcón tiene .........dama, la dama, una blanca flor. Ha pasado un caballero, - ¡quién sabe por qué pasó! y se ha llevado la plaza, con su torre y su balcón, con su balcón y su dama, su dama y su blanca flor. (MACHADO, Antonio. Poesías completas. Madrid, Editorial Espasa-Calpe, 1994. p. 342) Antonio Machado (1875-1939) - Poeta, nace en Sevilla en 1875. Publica sus primeros poemas en 1901, en la revista modernista española Elektra Su primer libro, Soledades, es publicado en 1903. Escribe sobre temas variados con versos sencillos, pero preciosos. El paisaje español aparece representado de maneira genial en sus poemas. Publica también Campos de Castilla (1912), Páginas escogidas (1917), Proverbios y Cantares (1923) y La guerra (1937). (BRUNO, Fátima A. T. C.; MENDES, Margarete A. de A.; ARRUDA, Sílvia A. F. Español: ¡Entérate! 6 ano. 3.ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2009, p. 35) Hay un poema más, “Nocturno” de Rafael Alberti, con el mismo formato, primero el poema, después la vida del autor. Ya en la página 37 hay preguntas a respecto de los dos textos y ejercicios basados en el poema: 2. Sobre el poema de Antonio Machado, elige la opción correcta. I. En la plaza hay un/a: a) Jardín b) Vivienda c) Centro comercial II. La dama vivía en un/a: 87 a) Casa b) Piso c) Castillo III. Se dice en el poema que el caballero se lleva la plaza, la torre, el balcón, la dama y la blanca flor porque: a) Es fuerte y poderoso b) Es secuestrador c) La dama da vida a la plaza IV. El poema describe un/a: a) Ciudad b) Barrio c) Pueblo (BRUNO, Fátima A. T. C.; MENDES, Margarete A. de A.; ARRUDA, Sílvia A. F. Español: ¡Entérate! 6 ano. 3.ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2009, p. 37.) Como podemos percibir, el trabajo arriba presentado no lleva al alumno a obtener interés por la literatura, concepción ésta que fue observada en el propio salón de clases con la práctica de la docencia, de mi parte, como alumna de la carrera de Letras/Espanhol y sus respectivas Literaturas. No hubo una buena recepción de este tipo de ejercicio propuesto, los alumnos demostraron desinterés, leyeron y respondieron muy rápido, ni analizaron la obra. Tal vez sea un poco complejo trabajar con la literatura, por eso muchos profesores prefieren no trabajar con textos literarios en los salones de clases de Lengua Extranjera. Pero, para superar estos problemas, los profesores disponen de una gran cantidad de opciones de selección de autores y períodos. Desde que puedan atender el nivel de aprendizaje del alumno. El artículo de Khemais Jouinise propone discutir cómo podemos trabajar las cuatro destrezas dentro de la literatura, puntualiza: […] En este artículo queremos reflexionar sobre la manera más conveniente de utilizar el texto literario en una clase de español como lengua extranjera, presentando un inventario de actividades que fomentan el desarrollo de las cuatro destrezas y la atención a las formas lingüísticas de un modo integrado (JOUINI, 2008, p. 149). Para este autor los textos literarios son buenos para trabajar “la práctica de las cuatro destrezas, pues a partir de él se puede ejercitar la lectura, la escritura, la comprensión oral y la expresión oral (JOUINI, 2008, p.153)”. Y es eso que nosotros, futuros profesores de la lengua española, deseamos trabajar con materiales que sean buenos para la enseñanza de la lengua en general y en un contexto original, escritos para hablantes de la lengua, con detalles de las costumbres y las características locales de cada región de origen de la literatura. Albaladejo García (2007) sugiere ser ésta la principal discusión: valorar la literatura trabajando las cuatro destrezas, a autora también trae esta misma discusión para su trabajo literario. Propone preguntas como: ¿Por qué introducir la literatura en la clase de E/LE? o ¿Qué tipo de textos son apropiados para la clase de E/LE? por ejemplo. En uno de sus tópicos, ella trata de la tipología de actividades didácticas que va a trabajar y pone ejemplos, intentando mostrarnos la cantidad de posibilidades que un texto literario puede traer de ejercicios, desde que bien explotados. Dice: 88 [...] La tipología de actividades sobre la que trabajaremos queda clasificada de la siguiente forma: Actividades de pre-lectura, actividades para mantener el interés, actividades de explotación de puntos cruciales y actividades finales. Primeramente explicaremos el objetivo que se persigue con cada uno de los cuatro tipos de tareas propuestas, seguidamente expondremos las actividades seleccionadas para cada uno de ellos (ALBALADEJO GARCIA, 2007, p. 14). Éste es el objetivo de este trabajo: ayudar a los profesores a trabajar con los textos literarios dentro del salón de clases. Nos gustaría saber: ¿Cuáles son las formas más comunes para que se pueda trabajar la literatura en la clase de E/LE? ¿En qué podemos mejorar? ¿De qué manera se puede presentar un texto literario sin aburrir a los alumnos y que provoque el interés del alumno por la literatura de forma más divertida y sin traumas? Vamos a empezar contestando las preguntas arriba. ¿Cuáles son las formas más comunes para que se pueda trabajar la literatura en la clase de E/LE? La primera pregunta propone a los profesores que perciban la real necesidad de la enseñanza de la literatura dentro de sus clases, primeramente, como dice Fauatih, la de “transmitir contenidos (culturales y sociales)” y después “la motivación hacia la lectura”, y comenta también que la literatura “favorece y estimula las cuatro destrezas e incrementa el vocabulario”, así como Albaladejo García también propone. Podemos percibir que hacer con que la lectura sea placentera a los alumnos es fundamental, porque con la lectura los alumnos van a adquirir la lengua de una forma sencilla y más tranquila. Sin embargo, a algunos profesores trabajar con la literatura les cuesta mucho, entonces dejan la oportunidad de llevar conocimientos nuevos a los alumnos, dejan de llevar curiosidades, dejan de instigar la búsqueda por nuevas fuentes de conocimiento. Por eso, nuestra cuestión es ¿cómo ayudar a los profesores a trabajar con este material tan rico? Volveremos a contestar nuestra pregunta. Hemos visto muchos tipos de ejercicios trabajados con la literatura, como por ejemplo ejercicios de rellenar huecos, algunos traen una tabla con las palabras a ser utilizadas por los alumnos, otros solamente por inferencia del texto. Sin embargo, este tipo de ejercicio no necesita tanto de la lectura del texto, entonces los alumnos pueden burlar la lectura y solamente resolver el ejercicio. Lo que no es nuestro objetivo. Hay ejercicios donde el alumno tiene que leer el texto y después contestar preguntas referentes a él; son preguntas subjetivas, necesitan de interpretación, pero sus preguntas son bien puntuales y de fácil comprensión. Hay también preguntas donde el alumno tiene que solamente escoger entre tres o cuatro alternativas. Este tipo de ejercicio tampoco favorece el trabajo de la creatividad. Existe un tipo de trabajo que requiere más participación por parte del alumno, que son los resúmenes. Y ejercicios con textos donde el alumno tiene que cambiar el final de la historia o entonces el profesor les presenta la historia y les pide que creen un final para después todos juntos saber si la historia creada es igual a la original, cuál fue la distinción, cómo el alumno utilizo su creatividad. Creemos que este es un buen ejercicio ya que tiene que llevar al alumno a formar parte de la historia, hacer con que juege como un posible autor. Lleva al alumno a ser participativo, activo dentro de la historia; no solamente hacer del lector una persona pasiva. Hasta aquí estamos trabajando con alumnos de la enseñanza primaria y secundaria en el Brasil. Pero creemos que la manera más adecuada para trabajar con literatura es: primero, al profesor tiene que gustarle; segundo, tiene que ser creativo en los salones de clase y para concluir, creer que trabajando con la literatura también estará enseñando la lengua. 89 Una buena manera de cambiar las expectativas negativas de los alumnos es preguntando ¿En qué podemos mejorar? Creemos que empieza con las elecciones hechas por el profesor, después de un buen sondeo, haciendo preguntas bien especificas a los alumnos o a los grupos de estudio en cuestión. Preguntas como: La edad; ¿Ya estudió alguna lengua extranjera? ¿Cuál? ¿Ya hizo la carrera de estudios de la lengua española? ¡Sí! ¡No! ¿Tiene algún contacto con la lengua española? ¡Sí! ¡No! ¿Tiene algún contacto con la literatura? ¡Sí! ¡No! ¿Qué tipo de literatura les gusta? (Respuesta personal) ¿Cuáles son los libros que ya leyó? (Respuesta personal) ¿Cuáles les gustaría leer? (Respuesta personal) Son algunas de las preguntas pertinentes a un sondeo que tiene la intención de conocer los hábitos de lectura de los alumnos. Con la respuesta de las preguntas y un buen planeamiento el profesor tiene cómo estructurar sus clases para poder hacer un buen trabajo literario con sus alumnos. Y con la planificación en sus manos también puede llevar a su escuela o a su grupo de colegas del salón de clases para una interdisciplinariedad entre la enseñanza de lenguas y historia, o entre lenguas y arte, o con geografía. De esta manera, el profesor puede ofrecer a sus alumnos una buena lectura, placer en el conocimiento, instigarlos a investigar. Y eligiendo “textos que ofrezcan múltiples formas de ser explotados” como bien dice Albaladejo García, es una buena manera de llevar a los alumnos este grado de satisfacción y no de excusa del hábito de lectura y conocimiento a respecto de él. Basados en el sondeo preguntamos ¿De qué manera se puede presentar un texto literario sin aburrir a los alumnos y que provoque el interés de los alumnos para la literatura de forma más divertida y sin traumas? Creemos que los textos tienen que ser accesibles, motivadores y ser significantes, de esta manera la opinión de los alumnos es muy importante a la hora de la elección del texto, de cuáles textos literarios vamos a llevarles. Albaladejo García (2004, p. 41-42) también sostiene que tenemos que tener “criterios para la elección de un texto idóneo para la enseñanza de una lengua extranjera, incluiremos la necesidad de que sean textos integradores de varias destrezas”. (ALBALADEJO GARCIA. 2004, p. 41-42) para que el profesor pueda abrir el abanico de oportunidades de trabajos con ellos; la autora también va a sugerir “la elección de textos que ofrezcan múltiples formas de ser explotados” (ALBALADEJO GARCIA. 2004, p. 41-42), porque de esta manera la posibilidad de trabajo con el texto, de utilizar el abanico de posibilidades a su favor es más provechoso; además de eso, debemos observar si “los textos literarios para nuestra clase de lengua extranjera, ¿deben incluir connotaciones socio-culturales? La respuesta no puede ser en otro sentido que en el afirmativo” (ALBALADEJO GARCIA. 2004, p. 41-42), y debemos observar también el contexto socio-cultural-histórico de nuestros alumnos. Para terminar, Albaladejo García también va a decir que no “se trata de discernir qué tipo de texto es más apropiado en la clase de lenguas extranjera: textos originales, simplificados o lecturas graduadas, y el nivel más conveniente para su uso” (ALBALADEJO GARCIA. 2004, p. 41-42). Algunos estudiosos dirán que los textos auténticos son mejores y otros dirán que es mejor los adaptados, pero creemos que el profesor tiene que usar su sentido común para hacer este discernimiento. 90 Como podemos observar, todo forma parte de un buen trabajo, desde un sondeo hasta una elección bien hecha de un texto, y encontramos otros autores que van a complementar, como Fouatih, por ejemplo: “Los estudios literarios cumplen muchos más fines educativos, intelectuales, morales, emocionales, lingüísticos y culturales que los puramente estéticos (MENOUER FOUATIH).” Habrá que tener en cuenta también la realidad de los alumnos, pues ellos no tienen un contacto directo con hablantes de la lengua meta, por eso la interacción con la literatura se hace tan importante en un salón de clases. Permítasenos citar otra vez a Albaladejo García: [...] La universalidad de temas como el amor, la muerte, la vejez, la amistad, etc., comunes a todas las culturas, hace que una obra literaria, aun escrita en un idioma extranjero, se acerque al mundo del estudiante y le resulte familiar. También es certo que el tratamiento diferente de dichos temas puede crear extrañamiento e incluso una barrera cultural (ALBALADEJO GARCIA, 2004. p. 37). O sea, el profesor con un material autentico puede trabajar las destrezas, enseñar la cultura, expandir los horizontes de los alumnos junto a otra cultura hablando de cosas que forman parte de su mundo, así como hacer con que los alumnos tengan placer en una buena lectura. Conclusión Como podemos percibir, no es fácil trabajar con literatura, pues ésta requiere mucha dedicación, empezando con un buen cuestionario, un buen planeamiento, con la elección de un buen texto y una buena interacción con otros colegas de profesión; todo esto hará una diferencia en el momento de planear sus clases. A algunos estudiantes nos les gusta leer, o por falta de tiempo o por falta de estímulo, necesitan solamente de una buena inspiración. A cuántas personas no escuchamos diciendo que no les gustaba matemáticas, o la ciencia, o entonces la historia debido a no haber sido estimuladas de manera correcta. Después de un tiempo encuentran un buen profesor y su concepción a respecto de ésta o de aquella disciplina cambia totalmente. Cabe al profesor la gran responsabilidad de elegir un buen material didáctico para determinado público. En este trabajo hubo algunas presentaciones que fueron elaboradas para la enseñanza de literatura como los ejercicios de las páginas 4 y 8 de este pequeño artículo, sólo para demostrar algunas maneras de trabajar con ellos. La eficacia del trabajo depende del público, de la manera cómo fue explotado o direccionado a los alumnos. No hay una receta única para eso, solamente especulaciones y mucho estudio a respecto de la mejor manera de hacerlo. Lo que no podemos hacer es dejar de intentar encontrarla, pues la literatura es un material autentico muy rico en significados, en historia, mostrándonos valores, concepciones de vidas, modo de pensar y escrito para hablantes nativos de la lengua meta. Una persona con un buen libro puede viajar el mundo sin salir de la comodidad de su sillón. Buena lectura y literatura a todos. Referencias ALBALADEJO GARCÍA, María Dolores. Marco teórico para el uso de la literatura como instrumento didáctico en la clase de E/LE (I). Revista Eletronica “cuaderno Cervantes”, n. 7, p. 37 – 43, sep. 2004. 91 ALBALADEJO GARCÍA, María Dolores. Cómo llevar la literatura al aula de ELE: de la teoría a la práctica. MarcoELE: Revista de didáctica ELE, La Rioja, v.5, p. 01-51, 2007. Disponible en: <http://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=2514064>. Acceso en: 21 jun. 2010. BRITO, Sara A. O texto literário e o componente cultural no ensino do espanhol como língua estrangeira. Disponible en: <http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno09-12.html> Acceso en: 11 maio 2010. BRUNO, Fátima A. T. C.; MENDES, Margarete A. de A.; ARRUDA, Sílvia A. F. Español: ¡Entérate! 6o ano. 3.ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2009, p.37. CERVANTES, Miguel S. de. Don Quijote de La Mancha. Madrid: Alfaguara, 2004. Diccionario de la Real Academia Española – DRAE. Disponible en: <http://buscon.rae.es/draeI/SrvltConsulta?TIPO_BUS=3&LEMA=cultura> Acceso en: 01 mar. 2010 - 15 nov. 2010. JOUINI, Khemais. 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Separata. 92 ENSEÑANZA Y APRENDIZAJE DE ESPAÑOL LENGUA EXTRANJERA 93 CARTA: UM GÊNERO RETRÔ Amábile Piacentine DROGUI36 (PG – UEL) Valdirene ZORZO-VELOSO (UEL – Orientadora) Resumo As considerações de Bakhtin (2003) fomentam hoje vários estudos sobre o ensino de línguas, tanto materna como estrangeiras. Depois de lê-lo, parece-nos inevitável questionar o ensino baseado no estruturalismo; o esvaziamento de sentido da palavra quando fora de uma esfera de atividade humana; a falta do outro para dar sentido às produções orais e escritas realizadas pelos alunos e, o vazio de significado que pode ter o aprendizado de uma língua quando posta como pronta e finalizada para ser observada. Baseando-nos nessas considerações, apresentamos uma proposta de ensino de língua espanhola fundamentada nos gêneros textuais. A partir do gênero carta, elaboramos uma seqüência didática e a colocamos em prática com alunos do CELEM de dois colégios de Apucarana, convertendo-se em objeto de análise e de avaliação da motivação para escrita e da evolução do aluno na língua alvo quando escreve para um destinatário concreto. Palavras-chave: E/LE Espanhol como Língua Estrangeira, Gêneros Textuais, Produção escrita. Resumen Los conceptos de Bakhtin (2003) impulsan hoy varios estudios respeto la enseñaza de lenguas, tanto materna como extranjeras. Tras leerlo, nos resulta inevitable cuestionar la enseñanza basada en el estructuralismo; el vaciamiento de sentido de la palabra si puesta fuera de una esfera de actividad humana; la falta del otro para traer sentido a las producciones orales y escritas realizadas por los alumnos y, el vacío de significado que puede tener el aprendizaje de una lengua si puesta como lista y finalizada para que se la observe. Basándonos en estas concepciones, presentamos una propuesta de enseñaza de lengua española fundamentada en los géneros textuales. A partir del género carta, elaboramos una secuencia didáctica y la pusimos en práctica con algunos de CELEM de dos colegios de Apucarana, convirtiéndose en objeto de análisis y de evaluación de la motivación para la escrita y la evolución del alumno en la lengua estudiada en el momento que escribe para un destinatario concreto. Palabras clave: E/Le Español como Lengua Extranjera, Géneros Textuales, Producción escrita. 1. Introdução Bakhtin (2003) propõe um olhar além do sistema estrutural da língua, de sua construção sintática e recursos linguísticos; para ele não há significação no isolamento, é preciso que a palavra ou a oração torne-se um enunciado e, para isso, precisa estar inserida em um contexto real de significação, em um ato enunciativo que envolve locutor e interlocutor, revezando ambos esses papéis no discurso. O presente artigo é a sintese de uma pesquisa monográfica realizada durante o curso de Especialização no Ensino de Línguas Estrangeiras (EELE) - 2010 da Universidade Estadual de Londrina (UEL). 36 Pós-graduanda. Orientadora: Dr.ª Valdirene Zorzo-Veloso. E-mail: [email protected] 94 O gênero aparece como o local de organização destes enunciados, cada gênero possui um estilo próprio, seleciona seus enunciados e circula em uma determinada esfera da atividade humana. Como a língua é viva e está em constante transformação, assim como a sociedade, não é possível delimitar o número de gêneros que existe e nem a quantidade de esferas de comunicação. No entanto, preocupando-nos com o ensino de línguas, faz-se necessário observar o contexto e selecionar os gêneros pertinentes. O aluno, ao produzir um texto, seja oral ou escrito, precisa sentir-se em uma esfera de comunicação, não se deve imergir-lo no vazio de significado do preenchimento de lacunas e produções apenas para correção ortográfica e gramatical. Muitas vezes, os textos inseridos em materiais didáticos não apresentam uma finalidade comunicativa real, são pretextos para ensino de léxico e gramática. Não se tem aqui o objetivo de excluir ambos, apenas colocá-los efetivamente em uma situação de necessidade real de uso da língua. O gênero estudado deve orientar os recursos linguísticos a serem estudados e não o inverso. é pela análise do contexto que se determina o gênero a ser trabalhado, as capacidades de linguagem que os alunos já dominam e aquelas que precisam ser aprendidas, ao passo que a análise do gênero mostra o funcionamento da linguagem em textos do gênero sendo pesquisado e determina os objetivos de ensino a serem evidenciados.(CRISTÓVÃO, 2005 p. 158, grito nosso) Levando em conta os conceitos bakthianos, de que nenhum enunciado é neutro e de que a existência do outro é fundamental para a significação, escolhemos como objeto de análise o gênero carta pessoal. Neste gênero, emissor e destinatário possuem funções bem definidas, facilitando a percepção da relevância do outro no discurso. Para que o aluno se sentisse inserido em um contexto real de produção, partiu-se de uma proposta de trocas de cartas entre colégios diferentes, alunos que não se conheciam tiveram seu primeiro contato por meio das cartas. A proposta de ensino foi aplicada com alunos de 2º ano do CELEM – Centro de Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas - do Colégio Estadual Vale do Saber e do Colégio Estadual Agrícola Manuel Ribas, ambos da cidade de Apucarana – PR. Cabe ressaltar que a heterogeneidade das salas de CELEM é ainda maior do que a existente em uma sala de aula padrão. Em um mesmo ano do curso de espanhol, encontram-se alunos de diversas séries do ensino regular e pessoas da comunidade em geral, tornando-se um campo interessante para avaliar as interações sociais. Os estudos de BAKHTIN (2003) foram a sustentação teórica inicial dessa pesquisa. DOLZ, NOVERRAZ e SCHNEUWLY (2004) nos deram argumentos para justificar a escolha de trabalhar com gêneros. CRISTOVÃO (2005, 2006 e 2007) e NASCIMENTO (2005 e 2006), ambas com trabalhos direcionados para o ensino de língua inglesa, também são bases essenciais desse trabalho pois, por meio delas tivemos contato com Interacionismo sócio-discursivo (ISD) e com modelos de sequências didáticas que orientaram diretamente a escolha do gênero e a elaboração das aulas posteriormente analisadas. MARCUSCHI (2003) ajudou-nos muito com suas definições sobre gêneros textuais e tipos textuais, provando-nos que todo gênero se realiza em textos. GARCEZ (1998), apesar da realização de uma pesquisa voltada para o ensino de língua portuguesa, auxiliou-nos muito com o rico embasamento teórico que traz em seu livro; a autora percorre a trajetória das investigações científicas sobre a escrita, visando 95 situar historicamente a superação do paradigma cognitivista pela perspectiva sociointeracionista. Outros autores e autoras, que realizaram pesquisas baseadas nos gêneros textuais, também contribuíram e facilitaram bastante nosso fazer científico e serão aqui lembrados. 2. Gêneros textuais e ensino Os termos gêneros textuais e gêneros discursivos serão lidos como sinônimos neste trabalho; os autores consultados, apesar de usarem nomenclaturas distintas, os definem mantendo o mesmo conceito de estabilidade relativa. Bakhtin (2003, p. 279) define gêneros do discurso como “tipos relativamente estáveis de enunciados.” Cristovão e Nascimento (2006, p. 46) afirmam que os gêneros textuais “constituem-se como modelos, ou seja, simultaneamente, representam um tipo de referência e de restrição.” Marcuschi, usando também a nomenclatura de gêneros textuais, traz a seguinte definição: São entidades sócio-discursivas e formas de ação social incontornáveis em qualquer situação comunicativa. No entanto, mesmo apresentando alto poder preditivo e interpretativo das ações humanas em qualquer contexto discursivo, os gêneros não são instrumentos estanques e enrijecedores da ação criativa. (MARCUSCHI, 2003, p.19) Há uma infinidade de gêneros, pois são inúmeras as esferas da atividade humana e sua transformação é constante. Bakhtin (2003) apresenta uma separação entre gêneros primários, que são os gêneros do cotidiano, e os secundários, entre os quais estão os literários e jornalísticos. Segundo o autor, um diálogo do cotidiano, quando inserido em uma obra literária, passa a receber uma nova conotação, tornando-se parte de um gênero secundário. Cada esfera da comunicação humana possui seus gêneros, apropriados às suas exigências, com determinados temas, estilos e composições. Dolz, Noverraz; Schneuwly (2004, p.97), defensores do ensino a partir do gêneros, afirmam que: Quando nos comunicamos, adaptamo-nos à situação de comunicação. Não escrevemos da mesma maneira quando redigimos uma carta de solicitação ou um conto; não falamos da mesma maneira quando fazemos uma exposição diante de uma classe ou quando conversamos à mesa com amigos. Os textos escritos e orais que produzimos diferenciam-se uns dos outros e isso porque são produzidos em condições diferentes. Cada esfera da comunicação humana possui seus gêneros, apropriados às suas exigências, com determinados temas, estilos e composições. O ambiente onde circula o gênero influencia diretamente na determinação do mesmo, por isso muitas vezes tornase difícil abordar o ensino de um gênero quando o texto que o devia representa está totalmente fora de seu suporte e de sua esfera de comunicação. Marcuschi (2003, p. 21) afirma que “haverá casos em que será o próprio suporte ou ambiente em que os textos aparecem que determinam o gênero presente”. Os enunciados, definidos por Bakhtin como relativamente estável para determinação de um gênero, só existem em um contexto concreto de produção, por isso a mudança de ambiente pode também mudar o gênero. Uma carta escrita para alguém 96 que a espera receber e que provavelmente a responderá é diferente de um modelo de como escrever cartas existente em um livro didático. O enunciado é a unidade de comunicação verbal, para se constituir como tal precisa do outro, concebido aqui com uma atitude ativa. Cada enunciado é um elo da cadeia muito complexa de outros enunciados. [...] O enunciado não é uma unidade convencional, mas uma unidade real, estritamente delimitada pela alternância dos sujeitos falantes, e que termina por uma transferência da palavra ao outro. (BAKHTIN, 2003, p. 291 - 294). A preocupação deste está em ensinar um gênero sem perder seu valor social, sem torná-lo simplesmente “didatizado” com finalidade de correção léxico-gramatical. Propusemo-nos a colocar em prática o conselho de Nascimento (2005, p.165): a elaboração do material didático e a transposição didática de gêneros textuais deve ter um embasamento teórico explicitamente delineado que forneça uma possibilidade de transformação dos saberes sobre o ensinoaprendizagem de produção de textos. Os gêneros se relacionam com o espaço e com o tempo, “nenhum fenômeno novo (fonético, lexical, gramatical) pode entrar no sistema da língua sem ter sido longamente testado e ter passado pelo acabamento do estilo-gênero” ( BAKHTIN, 2003, p.285). O fato de que todos os fenômenos linguísticos passam pelo gênero para entrar no sistema da língua implica diretamente no ensino e aprendizagem, tanto de língua materna como de estrangeira. Estudamos gêneros para poder compreender com mais clareza o que acontece quando usamos linguagem para interagir em grupos sociais, uma vez que realizamos ações na sociedade, por meio de processos estáveis de escrever/ ler e falar / ouvir, incorporando formas estáveis de enunciados. (MEURER, 2002, p. 12) A proposta de ensino a partir dos gêneros textuais tem por objetivo orientar o aluno para desempenhar-se com eficácia em distintos contextos sociais, preparando-o para perceber que cada discurso está inserido em um texto que possui características muito próprias e estas o fazem diferentes dos demais. 3. A escolha do gênero Talvez se possa pensar o porquê da escolha de um gênero aparentemente em desuso. No entanto, a escolha de modo algum foi aleatória; levamos em conta que: não se pode, numa visão interacionista sociodiscursiva, separar texto e contexto. O contexto de produção funciona como uma base de orientação para o sujeito adotar um modelo de gênero pertinente e eficaz. (CRISTÓVÃO, 2007, p. 12. grifo nosso) A idéia inicial foi troca de e-mails, os alunos mandariam primeiramente para o e-mail da professora que, após avaliá-los, os encaminharia aos seus correspondentes; 97 entretanto, a maioria dos alunos não possui acesso à internet em suas residências e o uso do laboratório de informática nos colégios é restrito, não se pode monopolizar-lo, principalmente no colégio agrícola, onde os alunos precisam constantemente dos computadores para digitar seus relatórios de estágios. Além disso, o gênero carta pessoal foi de suma importância e merece ser revivido em nossas aulas. Pressupomos que o trabalho com este gênero iria permitir aos alunos uma evolução na escrita de textos, pois provoca uma preocupação em escrever bem; o destinatário será real e revezará essa função com a de enunciador. Cristovão (2007), em seu livro, Modelos didáticos para o ensino de língua estrangeira, traz vários artigos sobre o ensino a partir de diferentes gêneros textuais, inseridos em diversas esferas da atividade humana. Apresenta como base para as definições de língua, linguagem, texto e discurso os estudos dos pesquisados do Interacionismo Sociodiscursivo do Grupo de Genebra, de Bronckart, Dolz e Schneuwly, Vygotsky, Bakhtin e outros. O embasamento teórico é uma fonte para novas pesquisas; recorremos a ele várias vezes para planejar nossa sequência didática e análise. A autora afirma que, considerando os preceitos do ISD, para escolha de um gênero, quatro dimensões devem ser consideradas: a) a dimensão psicológica, incluindo as motivações, a afetividade e os interesses dos alunos; b) a dimensão cognitiva, refletindo a complexidade do tema e o estatuto do conhecimento dos alunos; c) a dimensão social, envolvendo a densidade social do tema, suas potencialidade polêmicas, a relação entre eles e os participantes, os aspectos éticos, sua presença no interior ou no exterior na escola e a possibilidade de, com ele, se desenvolver um projeto de classe; d) a dimensão didática, que demanda um tema que não seja excessivamente cotidiano que comporte o apreensível. (CRISTÓVÃO, 2007, p. 14-15) Para atingir essas quatro dimensões, primeiramente consultamos os alunos sobre o interesse dos mesmos em trocar cartas com uma turma de outro colégio, tendo a oportunidade de conhecer uma nova pessoa com quem conversar em espanhol. Demonstraram-se motivados, curiosos por saber pra quem escreveriam (dimensão a). Como os alunos estavam no segundo ano do CELEM, acreditamos que possuíam conhecimento cognitivo suficiente para iniciar o processo de escrita no gênero (dimensão b). Ficou vetado qualquer excesso de liberdade nas cartas, como críticas a cor, religião, opção sexual, etc; como todo texto teria que ser previamente lido pelo professor, não haveria o risco de ofensas a valores morais. O projeto em si já representa um envolvimento extraclasse, superando o espaço físico escolar (dimensão c). Didaticamente, os alunos precisariam acionar muitos conhecimentos possivelmente armazenados e, certamente, necessitariam de novos saberes para suprir suas necessidades comunicativas; como nunca escreveram cartas, a atividade não lhes pareceu nada cotidiana (dimensão d). Analisando desta forma, concluímos que atingimos as dimensões necessárias e selecionamos o gênero carta pessoal como nosso objeto de ensino. Recorremos ainda a Cristóvão (2007, p.15-6) para definir os papéis dos alunos e seus posicionamentos no momento de produção e leitura dos textos. A autora, seguindo os pressupostos de Bronckart, apresenta uma pertinente distinção entre contextos físico e sócio-objetivo de produção. No contexto físico temos emissor, receptor, lugar de produção do texto e momento de produção; todos fazendo referência aos elementos concretos que cada um representa. Já no mundo sócio-subjetivo temos enunciador, 98 destinatário, lugar social e objetivo; representando as funções sociais que cada elemento físico passa a ter num ato de enunciação. O gênero carta pessoal permitiria aos alunos um suspense inicial em relação ao seu receptor / destinatário. O lugar de produção seria bem definido, mas, o lugar social, descoberto progressivamente; o momento de produção seria durante as aulas de espanhol; o objetivo, a pesar de poder variar de acordo com cada enunciador / destinatário, manteria-se parcialmente comum a todos os envolvidos no projeto de correspondências: comunicar-se na língua estudada, em todos os sentidos que envolvem a palavra comunicação. A autora afirma também a necessidade de pesquisar muito sobre o gênero a ser trabalhado, buscando os experts do assunto. Como o gênero que escolhemos é bastante fácil de compreender, além de definir e apresentar sua estrutura e função, buscamos fazer um breve histórico de seu uso na comunicação da humanidade, principalmente no descobrimento de nosso país e dos países hispano-americanos. Priorizando a evolução do aluno na língua espanhola, consideramos também, para escolha do gênero e elaboração de nossa sequência didática, a pesquisa de Garcez (1998) que revela a importância do outro para o aprendizado. O vazio de escrever apenas para o professor ler e corrigir desmotiva o aluno; a presença de um destinatário que se importa com o que ele diz (não apenas como diz) pode despertá-lo não somente para a necessidade de escrever, como também para o prazer que esse exercício pode oferecer. Por mais que sejamos professores interessados no que o nosso aluno tem a dizer, a condição de professor nos coloca constantemente numa posição de leitor que procura erros e acertos mais do que conceitos e pontos de vistas. Por isso procuramos colocar o aluno em uma situação em que há, além do professor, um leitor com uma função social mais relevante para ele, que lê seu texto buscando o que é possível informar a partir do gênero em que se manifesta; um destinatário que se torna enunciador, que avalia e é avaliado. Garcez (1998. p. 162) afirma que é possível transformar os procedimentos tradicionais da escola em relação à produção escrita levando em conta o caráter dialógico da produção individual, e desenvolvendo no jovem a percepção fenômeno em sua amplitude, por meio de práticas interativas, que esclarecem os procedimentos de compreensão do outros, as possibilidades dialógicas do texto produzido. Esperamos que o aluno, além de avaliar como o outro escreve e aprender com ele, conheça alguém com quem podem se comunicar na língua alvo, queira conhecer esse outro e se apresentar a ele por meio da língua espanhola. 4. Planejando o Ensino / Sequência didática Atualmente no Paraná, o ensino de língua espanhola ocorre, maiormente, por meio do CELEM / Espanhol, presente em 323 municípios e em 1007 estabelecimentos. Tendo número suficiente para abertura de turma e espaço para abrigar os alunos, qualquer diretor/a pode solicitar a implantação do mesmo na escola pública que dirige. A SEED (Secretaria Estadual da Educação) o define da seguinte maneira: O Centro de Línguas Estrangeiras Modernas é uma oferta extracurricular e gratuita de ensino de Línguas Estrangeiras nas escolas da rede pública do 99 Estado do Paraná, destinado a alunos, professores, funcionários e à comunidade.37 Os professores do CELEM, por se tratar de um centro de línguas estrangeiras, seguem, para elaboração da Proposta Pedagógica e do Plano de Ação Docente, as Diretrizes Curriculares de Língua Estrangeira Moderna (DCLEM), obedecendo mais especificamente os critérios destinados ao Ensino Médio. A proposta adotada nestas Diretrizes se baseia na corrente sociológica e nas teorias do Círculo de Bakhtin, que concebem a língua como discurso. (...) a língua concebida como discurso, não como estrutura ou código a ser decifrado, constrói significados e não apenas os transmite. O sentido da linguagem está no contexto de interação verbal e não no sistema linguístico. (SEED, 2008, p.53) Após ler cuidadosamente, e na íntegra, as DCLEM, podemos afirmar que a proposta de DOLZ, NOVERRAZ e SCHNEUWLY (2004), de trabalhar com as sequências didáticas, é uma orientação para um plano de ação docente que atende às exigências das Diretrizes. Uma sequência didática é um conjunto de atividade escolares organizadas, de maneira sistematizada, em torno de um gênero textual oral ou escrito. (DOLZ, NOVERRAZ e SCHNEUWLY, 2004, p. 97) Os autores propõem um esquema para a Sequência didática. Deve-se primeiramente fazer uma apresentação e solicitar uma produção inicial, está produção servirá para que o professor verifique os conhecimentos que o aluno tem do gênero e o quanto de recursos linguísticos domina para produzi-lo. Após a verificação do professor, deve-se guardar esse texto, a fim de que o aluno possa autoavaliar-se no final no processo, comparando essa primeira produção com a produção final. Entre ambas estão os módulos, que serão elaborados a partir das necessidades percebidas pelo professor ao analisar a produção inicial. As atividades elaboradas e executadas durante os módulos são ferramentas que o aluno adquire para desempenhar-se melhor na produção final, adequando-se com mais eficácia ao gênero proposto. Não tomamos esse método como engessado, a ser rigorosamente seguido. O utilizamos como uma base para estruturar nosso trabalho de prática de ensino. Como se trata de um projeto de correspondências, os módulos foram organizados a partir de novas produções, não tivemos apenas uma produção inicial e uma final. Colocamos em prática nossa sequência no período de dezenove de outubro a dois de dezembro de dois mil e dez. Participaram do projeto de correspondências trinta alunos, sendo quinze do CELEM do Colégio Agrícola Estadual Manoel Ribas e quinze do Colégio Estadual Vale do Saber, ambos da cidade de Apucarana. Nossa sequência pode ser descrita do seguinte modo: Produção inicial: solicitamos aos alunos que escrevesse uma carta para alguém imaginário, quem quisessem. O objetivo era medir o conhecimento que tinham no gênero, por isso não lhes foi dado nenhum instrução prévia. Módulo1: Importância histórica do gênero e sua função social. 37 Informação extraída do site: http://www.diaadia.pr.gov.br/celem/ dia 07 de ago. 2010. 100 Módulo 2: Conhecimento da estrutura do gênero e de recursos prévios da língua que se fazem necessários pra produzir textos adequados a ele. Contato com modelos do gênero na íntegra. Módulo 3: Escrita da primeira carta para um correspondente real. Módulo 4: Correção conjunta dos erros e valorização dos acertos. Escrita das novas cartas, sempre mediada pelas pausas para revisão de estrutura e uso da língua. Módulo 5: Produção da última carta para o correspondente. Encontro pessoal entre os participantes do projeto de correspondências. 5. Prática, análise e conclusões A produção inicial revelou a total desmotivação dos alunos ao “escrever apenas por escrever”, sem uma função social definida, sem um leitor real, que possui definidos papéis no discurso. Após a leitura dessas primeiras produções, fizemos a proposta do projeto de trocar cartas entre os colégios, informando-os que conheceriam alguém primeiramente por meio das cartas e, futuramente promoveríamos um encontro entre eles. A aceitação foi praticamente total, os que ficaram em dúvida foram convencidos pela motivação dos colegas. Combinamos de primeiramente conhecer o gênero carta. Depois de colocarmos em prática o módulo um e dois, a maioria dos alunos comentou que escreveram totalmente diferente do exigido pelo gênero e, quando questionados sobre começar a escrever para um possível novo amigo, afirmaram estar mais preparados e partimos para o módulo 3. Os alunos do Colégio Estadual Agrícola Manuel Ribas iniciaram as primeiras cartas. Sorteamos os nomes dos alunos do Colégio Estadual Vale do Saber para que cada um tivesse um correspondente apenas. O objetivo foi o de provocar o surgimento de assuntos diferentes, exigindo a busca de mais recursos na língua espanhola. Houve de ambos os colégios um preocupação com escrever corretamente, perguntavam muito, não queriam se expor cometendo erros que pudessem transmitir uma má impressão. Analisando as principais dificuldades dos alunos, foi possível elaborar o módulo 5. Começamos a selecionar dos textos dos próprios alunos, sem mencionar nomes, inadequações léxico-gramaticais para coletivamente discutir. Para criar um ambiente mais descontraído e sem a tensão que existe nos momentos de correções, chamamos essas inadequações de “Las Perlas”, fazendo uma espécie de plágio do que chamam, ironicamente, de pérolas dos vestibulandos. Essas “perlas” foram expostas no data-show, os próprios alunos identificavam os erros e juntos descobriam a maneira adequada de escrever a palavra ou frase. Na medida que encontravam a forma correta, esta era escrita na frente de cada “perla” registrada. Como trocaram uma média de quatro cartas, a evolução dos assuntos exigia novas palavras, relembrar conhecimentos adquiridos em momentos anteriores, buscar no dicionário, perguntar aos colegas e ao professor. Gradativamente os alunos se viram num intercâmbio de conhecimentos. Para o módulo 6, escrita da última carta, utilizamos o envelope oficial e o completamos usando os endereços de ambos os colégios. Antes de escrevê-la, revisamos os passos da estrutura de uma carta pessoal e tiramos as dúvidas. Para ser mais fácil perceber a necessidade do outro para tornar relevante nossas produções, inserimos aqui a produção inicial, a primeira carta escrita para o novo colega e a última, todos de uma mesma aluna participante do projeto. Para proteger a identidade a aluna, a chamamos de informante A e seu correspondente de informante B. 101 Ressaltamos que esta é uma aluna considerada mediana, a escolhemos exatamente por esse motivo, pois o projeto não soluciona todos os problemas de aprendizagem e, por outro lado, não é justo revelar os resultados somente dos alunos que possuem maior facilidade de aprender, para estes, na maioria das vezes, qualquer método funciona. Produção inicial: Como estás tranquilo, ruin, tengo una noticia Estoy mucho feliz aquí na Espanha. Estoy con mucho frío. Amaña estoy aí. Ela entregou em um pedacinho de papel e sem por o próprio nome. Bastante interessante para analisarmos a falta de motivação para escrever apenas para o professor corrigir (com o adendo de que não valeria nota). Além do mais, como lhe faltava conhecimento do gênero, não há local, data, saudação, despedida, nem assinatura. Primeira carta escrita para o novo colega: Apucarana, 04 de noviembre de 2010. Hola, yo escribo desde colégio Vale do Saber, pero estudo en el colégio Santos Dumont, tengo 1,62 m, me gusta estudiar, tengo 15 años de idad, pelo largo, tengo piel blanca, ojos castaños e pelo castaño. Cuántos años tiene usted? Tú gusta salir? Usted participó del a agenda jovem? Algunos alunos de tu colegio participaron. Quiero mucho conocerte un día. A Por mais que haja inadequações léxico-gramaticais, o texto é coerente e percebese claramente que se destina a alguém real, ela se apresenta e deseja descobrir mais de seu interlocutor por meio da língua espanhola. Última carta: Apucarana, 24 de noviembre de 2010. ¡Hola, B! Yo también estoy biem, mi apodo es "A”, pero solamente algunas personas me llaman así. Yo también no tengo ningún novio. Mi familia es de Mamborê próximo de Campo Mourão, Querido amigo me gustaría mucho conocerte. Besos A O diálogo foi estabelecido, a aluna responde as perguntas de seu correspondente, está inserida em um processo efetivo de comunicação, enunciar e destinatário revezam claramente seus papéis no discurso. Em relação à evolução no uso da língua, é possível observar que na primeira carta a aluna faz uso inadequado da interrogação, esquecendo de colocar o ponto inverso no início da pergunta; nesta última, ela já inicia pontuando corretamente a exclamação, que segue a mesma regra. Nas duas cartas intermediárias, ela já não cometeu o mesmo erro, elaborando perguntas como:¿Cómo estás? ¿Cuál es tu apodo? ¿Tienes novia?. 102 Na primeira carta a aluna usa o verbo “gustar” conjugando-o a partir do sujeito: Tu gusta salir? Ela até lembrou de não usar a preposição “de”, mas esqueceu de que esse verbo tem uma conjugação diferenciada, é conjugado a partir do complemento. Já na última carta, depois de analisar “las perlas”, apesar do verbo não estar em um questionamento, a aluna parece ter assimilado seu funcionamento quando constrói: Querido amigo me gustaría mucho conocerte. Após a finalização das atividades de escrita de cartas, antes do encontro pessoal, os alunos tiveram a oportunidade de autoavaliação. Elaboramos três perguntas, a segunda era “Que conteúdos da língua espanhola você pode afirmar que aprendeu escrevendo as cartas? Dê exemplos”. A aluna, por quem os textos anteriores foram escritos, deu a seguinte resposta: Colocar os pontos de ponta cabeça antes das perguntas e exclamações, exemplo: ¿Cómo estás?. Não usar yo e tú com verbo gustar, exemplo: Me gusta estudiar não yo gusto estudiar, usar y e não e, na maioria das vezes. Apodo significa apelido, hincha significa torcedor e outros mais. Analisando as cartas dos alunos, da primeira à última, foi notória a evolução da maioria. Não negamos que teve casos em que o grau de evolução foi bastante pequeno, entretanto, mesmo nestes, ficou-nos a satisfação de ter-lhes proporcionado uma atividade mais prazerosa; acreditamos que deixamos um “gostinho” diferente pela escrita (e também pela leitura, visto que liam as cartas de seus correspondentes), talvez um novo sentido. Proporcionamos uma confraternização no colégio Vale do Saber, onde os alunos se conheceram e comemoram a conclusão dos dois anos de espanhol. Todos puderam conversar, trocar e-mails, orkuts e telefones; independente de com quem tinham se correspondido. Após a conclusão do projeto, comentamos a experiência com a coordenadora do CELEM do Núcleo Regional de Ensino de Apucarana, Prof.ª Cláudia Pontara, que, além de demonstrar total apoio, estendeu a ideia para os onze municípios que fazem parte desse Núcleo. No início de 2011, houve uma reunião com todos os professores e sortearam-se os colégios, os alunos já estão se correspondendo e, para enriquecer ainda mais o projeto, a coordenadora do CELEM propôs que os professores também se correspondessem, para praticar a escrita na língua espanhola. Junto com as cartas dos alunos, que são enviadas por malote pelo núcleo, vai a do professor. Referências BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. SãoPaulo: Martins Fontes, 2003. p. 261 – 326. CRISTOVÃO, Vera Lúcia Lopes; NASCIMENTO, Elvira Lopes (Org.). Gêneros textuais: Teoria e prática II. Palmas e União da Vitória, PR: Kaygangue, 2005. ______. Gêneros textuais: contribuições do interacionismo sócio-discursivo. In: KARWOSKI, A. M.; GAYDECZKA, B.; SIEBENEICHER, B. (Org.). Gêneros textuais: reflexão e ensino. 2.ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2006. P. 37-55. CRISTOVÃO, Vera Lúcia Lopes. Modelos didáticos para o ensino de língua estrangeira. Londrina: UEL, 2007. GARCEZ, Lucília Helena do Carmo. 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Primeiro, que sejam vistas pelos alunos como importantes e de valor e, segundo, sejam interessantes acompanhadas de embelezamentos motivacionais. A seleção dos aspectos mencionados apresenta respaldo na literatura sobre motivação de adolescentes que têm reclamado que as tarefas escolares são complexas, desinteressantes, sem relevância pessoal e muito longas. A falha na valorização das atividades leva à diminuição do grau de motivação dos estudantes devido ao pouco esforço, baixa concentração e indiferença frente às aprendizagens. Alguns estudos sobre motivação em língua estrangeira mostraram que os alunos preferem atividades desenvolvidas a partir de embelezamentos motivacionais para uma aula mais interessante e, quando as atividades forem importantes, mas vistas como desinteressantes pelos estudantes, os professores podem mostrar seu valor. Palavras-chave: Motivação. Ensino de espanhol. Atividades motivacionais. Resumen Las actividades escolares pueden presentar características relevantes para incrementar la motivación de los estudiantes para aprender Lengua Española. La presente investigación eligió dos características de las actividades consideradas cruciales. Primero, que sean vistas por los alumnos como importantes y de valor y, segundo, sean interesantes acompañadas de embellecimientos motivacionales. La selección de los referidos aspectos tiene apoyo en la literatura motivacional de adolescentes que han protestado que las tareas escolares son complejas, desinteresantes, sin relevancia personal y mucho largas. La falla en la valoración de las actividades puede disminuir el grado de motivación de los estudiantes debido al poco esfuerzo, baja concentración e indiferencia hacia el aprendizaje. Algunos estudios sobre motivación en lengua extranjera apuntan que los alumnos prefieren actividades desarrolladas a partir de embellecimientos motivacionales para una clase más interesante y, cuando las actividades fueren importantes, pero vistas como desinteresantes por los estudiantes, los profesores pueden mostrar su valor. Palabras clave: Motivación. Enseñanza de español. Actividades motivacionales. 1. Introdução O termo motivação tem sido abordado por vários pesquisadores que concordam tratar-se de um constructo complexo e multifacetado. Bzuneck (2009) ressalta que a motivação ou motivo é aquilo que move uma pessoa ou que a põe em ação ou a faz mudar o curso. Nesse sentido, Dörnyei (2001) explica que a motivação é responsável pelo porquê das pessoas decidirem fazer alguma coisa, quanto tempo elas estão desejosas de sustentar ou expandir a atividade e em que grau irão sustentar a atividade. Assim, a motivação torna-se um aspecto importante do processo de aprendizagem em sala de aula já que dela depende a qualidade do envolvimento exigido para aprender. 38 Graduada em Letras Hispano-Portuguesas, Especialista em Ensino de Línguas Estrangeiras, Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Londrina. Atualmente, atua como tutora à distância na Universidade Estadual de Maringá. E-mail: [email protected] 105 Ao abordar o ensino de espanhol nesse estudo, é importante falar sobre a motivação de adolescentes já que é nessa etapa da vida que, geralmente, os alunos começam a aprendizagem de uma língua estrangeira na escola. A motivação de adolescentes vem se tornando, atualmente, um grande desafio ao professor. De acordo com Kaplan e Maehr (2002) e Zusho e Pintrich (2001), há claro declínio na motivação dos alunos quando atingem as séries finais do Ensino Fundamental e/ou quando chegam ao Ensino Médio. Em nosso sistema escolar, argumenta Bzuneck (2009), a passagem para a 5ª série do Ensino Fundamental tem sido apontada como causadora de problemas de adaptação por parte dos alunos, que acabam refletindo-se em sua motivação. E quanto mais avançadas as séries, os problemas tendem a ser mais complexos, por sofrerem influência das novas exigências dos diferentes tipos de disciplinas, aliadas às características evolutivas dos alunos. Isso porque, a partir da 5ª série, os conteúdos ficam complexos, sendo mais difícil para os adolescentes manterem um desempenho elevado e, ainda, tornam-se mais críticos quanto aos professores, à metodologia de ensino, ao conteúdo ministrado e às atividades escolares. Um fator que pode contribuir para o declínio na motivação do adolescente, segundo Brophy (1999a), é o próprio ambiente escolar de sala de aula por ser considerado diferente dos outros ambientes sociais a que as pessoas estão acostumadas. A frequência é obrigatória, os conteúdos são previamente selecionados, com atividades prescritas até quanto aos detalhes de execução e nem sempre correspondem às necessidades dos alunos. Os conteúdos são bem variados, contando-se entre eles alguns que são árduos, embora de algum modo significativos e relevantes, o que nem sempre é evidente para o aluno. É necessário desempenho em tarefas e provas para atingir uma nota e evitar o fracasso, que pode causar desapontamento e humilhação. Dessa forma, o envolvimento dos alunos nas atividades escolares ocorre mais para cumprir as exigências impostas pela escola do que para usufruir das aprendizagens que ela pode proporcionar. Nessa direção, é necessário adequar o contexto social de sala de aula às necessidades de desenvolvimento do estudante para fomentar a motivação para aprender. A falta de adequação, em parte, explica o declínio da motivação do aluno pelas atividades acadêmicas. A escola, muitas vezes, tem se apresentado pouco preparada para trabalhar com alunos na fase da adolescência. Cada nível de desenvolvimento requer ambientes adequados e mudanças nas necessidades dos aprendizes devem ser combinadas com mudanças nos contextos escolares (KAPLAN; MAEHR, 2002). Assim, o objetivo do presente estudo é abordar algumas características que as atividades escolares podem ter a fim de incrementar a motivação de estudantes adolescentes para aprendizagem de Língua Espanhola, como a valorização, o interesse e os embelezamentos motivacionais. Para tanto, é importante considerar algumas reflexões sobre a motivação especificamente para aprender língua espanhola, um assunto que será discutido a seguir. 2. A motivação nas aulas de língua espanhola É oportuno lembrar que o ensino de língua espanhola no Brasil ampliou-se nos últimos dez anos, como ressalta Moreno Fernández (2005). O autor aponta três razões para o exponencial crescimento de cursos de espanhol no Brasil: a criação do Mercosul, o mercado comum dos países do sul da América em 1991; a aparição de grandes empresas de origem espanhola e de estreitos laços comerciais com a Espanha, sobretudo a partir de 1996; e o peso da cultura hispânica em geral. É nesse contexto que a língua começou a ser introduzida nas provas de vestibulares e aumentou a produção de materiais didáticos com o intuito de propor métodos de ensino de espanhol a brasileiros. É importante acrescentar mais uma razão à expansão do ensino de espanhol no Brasil: a 106 criação da lei no 11.161 em 2005 que estabelece a obrigatoriedade da disciplina de Língua Espanhola nos currículos de ensino médio das escolas públicas e privadas do país com prazo máximo de cinco anos e facultativa a oferta da língua nos currículos de 5ª a 8ª séries (BRASIL, 2005). A língua espanhola começou a ser ensinada nas escolas públicas paranaenses a partir da criação do Centro de Línguas Estrangeiras Modernas (CELEM) realizada em 1986 pelo governo do Paraná sendo uma oferta extracurricular e gratuita de ensino de línguas estrangeiras nas escolas públicas (espanhol, francês, italiano, alemão, japonês, entre outras). Dessa forma, o aluno pode estudar a língua estrangeira de sua preferência ofertada pelo CELEM (BRASIL, 2009). Atualmente, o espanhol vem sendo inserido de forma gradativa no currículo do Ensino Médio em algumas escolas públicas do Paraná. Com a expansão, portanto, da língua espanhola no contexto educativo brasileiro aumenta também o desafio do professor em motivar o aluno adolescente para o estudo de mais uma disciplina, ou ainda, mais uma língua estrangeira, já que muitas escolas (principalmente as particulares) ensinam concomitantemente o espanhol e o inglês. No entanto, nem sempre é válido afirmar que o aluno é desmotivado para tudo em sala de aula, pois ele pode estar desmotivado ou apresentar motivação distorcida apenas em alguma(s) área(s), ou seja, o problema pode ser circunscrito e associado a certas condições da disciplina, ou do professor, ou da fase evolutiva do aluno, entre outras (BZUNECK, 2009). Isso ocorre porque cada disciplina possui especificidades próprias como professor diferente, com método diferente, nível de estruturação, conteúdos, exigências, finalidades, avaliação e ligações com outras aprendizagens atuais ou futuras. Nesse sentido, Dörnyei (2003) explicita que a aprendizagem de uma língua estrangeira é diferente de muitos caminhos de aprendizagem de outros assuntos escolares, porque é necessário conhecer elementos do código de comunicação (gramática e itens lexicais), além de aspectos sociais e culturais da comunidade da língua-alvo. Como ressaltam os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), na aprendizagem de outra língua devem-se levar em conta vários fatores que podem dificultar a aprendizagem dependendo das características individuais dos alunos como, por exemplo, a frustração de não conseguir se comunicar na língua, a reação emocional pelo estranhamento do novo idioma, etc. Por medo ou vergonha de errar e frustrar-se o aluno pode sentir-se desmotivado com a nova língua em estudo. Portanto, o professor de língua estrangeira deve tomar cuidado dobrado, principalmente com o aluno que está iniciando seu estudo na língua, para não constrangê-lo diante do novo idioma (Brasil, 1998). Por isso, Oxford e Shearin (1994) destacam que a aprendizagem de outra língua é considerada um processo difícil e diante dessa dificuldade a motivação pode ser um fator determinante do sucesso. Aprender línguas, segundo Almeida Filho (1998), deveria significar ser capaz de desenvolver a competência comunicativa, que não se restringe ao conhecimento das estruturas linguísticas, mas também inclui o conhecimento sociolinguístico, discursivo e estratégico. O autor ainda ressalta que o ensino comunicativo é aquele que organiza as experiências de aprender em termos de atividades relevantes, tarefas de real interesse e/ou necessidades do aluno para que ele se capacite a usar a língua-alvo para realizar ações de verdade na interação com outros falantes usuários dessa língua. De acordo com Guimarães (2009) diversificar o planejamento das atividades de aprendizagem seria um aspecto importante para a motivação dos alunos, pois a novidade ajuda no surgimento de um novo ânimo para o trabalho. Enfim, é preciso buscar a compreensão da situação motivacional encontrada nas aulas de língua estrangeira. Em vista da dificuldade que é aprender uma língua, sustentar a motivação do estudante é o ingrediente fundamental para ensinar a LE com 107 sucesso, já que muitos fatores podem influenciar o resultado (NOELS; PELLETIER; CLÉMENT, 1999). Em seguida serão abordados alguns fatores do contexto escolar que podem influenciar na motivação dos alunos. 3. Influências do contexto escolar na motivação A preocupação com o contexto de aprendizagem em sala de aula é compartilhada por diversos autores (por ex. AMES, 1992; KAPLAN; MAEHR, 2002). As pesquisas desenvolvidas descobriram as variáveis desse contexto a serem trabalhadas para que os alunos gastem tempo e energia em tarefas que objetivem uma aprendizagem significativa. Portanto, o ensino deve selecionar estratégias a fim de socializar os alunos a desenvolverem propósitos, metas, expectativas, crenças e emoções que resultem numa motivação positiva para a aprendizagem. Nesse sentido, utilizando o anagrama TARGET criado por Epstein, é possível destacar seis aspectos da situação escolar que podem influenciar a motivação dos alunos: Tarefas (Tasks), Autoridade (Authority), Reconhecimento (Recognition), Agrupamento (Grouping), Avaliação (Evaluation) e Tempo (Time). As variáveis do TARGET serão explicitadas abaixo de forma resumida de acordo com Ames (1992) e Guimarães (2009). As tarefas podem ter algumas características que estimulam os estudantes a tornarem-se ativamente envolvidos no processo de aprender. Dessa forma, devem ser definidas em termos de metas de curto prazo, cuja conclusão seja próxima, pois tarefas muito longas não favorecem o envolvimento. Também devem representar desafios adequados aos alunos, ou seja, com um grau intermediário de dificuldade, nem fáceis e nem difíceis demais, mas que possam ser superadas mediante o esforço. Ainda, as tarefas devem conter aspectos significativos como valor, importância, utilidade e relevância pessoal. Por último, devem envolver novidade, variedade e diversidade, caracterizadas como embelezamentos que podem promover o interesse na aprendizagem. Em sala de aula, o professor pode optar por conduzir as atividades de diferentes formas, que revelam sua concepção ou estilo de lidar com a autoridade. Se o professor é promotor de autonomia, em vez de controlador, depende de ele dar opções aos estudantes, oferecendo escolhas. Em relação ao reconhecimento, as interações entre professores e alunos tornam claras algumas regras de convivência como as características de comportamento individual ou de grupo que serão valorizados ou recompensados naquele contexto. Para propiciar condições favoráveis à aprendizagem, o professor e a escola devem enfatizar que valorizam o esforço, aliado ao emprego de estratégias adequadas de aprendizagem. E, ao propor uma atividade em grupo, o professor já pode deparar-se com certa organização da sala. Para eliminar os vícios de grupos pré-formados é necessário propor um movimento na sala que leve à formação de grupos com alunos que ainda não trabalharam juntos. As formas pelas quais os alunos são avaliados representam um dos fatores fundamentais de sala de aula que podem afetar a motivação do aluno. A avaliação deve focar na melhoria individual, no progresso e no aprender, reconhecendo o esforço dos alunos e o processo de aprendizagem, promovendo oportunidades de melhoria, encorajando a visão de que errar é normal e faz parte da aprendizagem desenvolvendo a tolerância pelo fracasso e lembrando que a avaliação deve ser sempre feita em particular e não em público. Por fim, a organização do tempo deve respeitar as necessidades inerentes às atividades de aprendizagem planejadas e as reais necessidades dos alunos, especialmente seus diferentes ritmos. A escassez do tempo pode assinalar um clima de 108 competição entre os alunos e um período muito longo pode demonstrar aos alunos que pouco está sendo cobrado deles. Os elementos contidos no anagrama TARGET são úteis como norteadores para o planejamento educacional objetivando incrementar a motivação dos alunos para aprender. Dentre esses elementos, o presente estudo optou por explorar duas características consideradas cruciais das tarefas de aprendizagem: que sejam vistas pelos alunos como importantes e de valor e sejam interessantes acompanhadas de embelezamentos motivacionais. A seleção desses dois aspectos das tarefas de aprendizagem em língua estrangeira tem respaldo na literatura sobre motivação de adolescentes na escola que, segundo Jang (2008), é uma categoria de alunos que tem reclamado que as aprendizagens escolares são complexas, desinteressantes, sem relevância pessoal, difíceis e muito longas. A falha na valorização das tarefas escolares leva a uma diminuição do grau de motivação dos estudantes, os quais exercem pouco esforço, baixa concentração e se sentem indiferentes frente às atividades. Portanto, a seguir serão consideradas algumas estratégias para motivar os alunos adolescentes a partir da valorização, do interesse e dos embelezamentos motivacionais. 4. A valorização das atividades de aprendizagem Uma primeira condição para o aluno abraçar a atividade de aprendizagem com aplicação de esforço é que ele a valorize, ou seja, que veja importância ou significado pessoal na sua execução, pois uma tarefa vista como irrelevante não tem o poder de despertar motivação e sim de provocar tédio ou indiferença (AMES, 1992). Por essa razão, Brophy (1999a) relata que antes de tudo os alunos devem considerar as atividades escolares significativas e merecedoras de envolvimento para se obter os benefícios da aprendizagem, mesmo que não considerem tais atividades interessantes ou prazerosas. Para que o aluno possa acreditar na importância ou no valor da tarefa, o professor pode contar com diversas estratégias de ensino a fim de conseguir tornar significativas as tarefas de aprendizagem. Uma estratégia motivacional consiste em capitalizar interesses pessoais e valores dos próprios alunos, relacionando as tarefas com sua vida, seu mundo, suas preocupações e interesses (MITCHELL, 1993). Assim, é necessário que os professores comecem por identificar e conhecer os objetivos, valores e interesses de seus alunos, considerando a sua faixa etária, nível sócio-econômico, área de moradia e como ocupam seu tempo livre. Santa-Cecilia (2000) menciona que o conhecimento dessas necessidades pode ser feito através de questionários, entrevistas e negociações com os alunos, pois se eles não podem aprender toda a língua em um curso determinado, é necessário fazer um tipo de seleção. Há, porém, outra forma de mostrar significado e valor das aprendizagens. De acordo com Eccles e Wigfield (2002), uma tarefa ou conteúdo podem ser apreciados pelo seu valor de utilidade, ou seja, adquirem significado se forem vistos como meios para se conseguirem determinados objetivos desejados. Haverá motivação por uma atividade se estiver bem claro para quê executá-la mostrando esse valor instrumental. Através de verbalizações, pode-se ainda mostrar que o domínio de certo conteúdo pelos alunos é meio ou instrumental para sucesso no exercício da profissão pretendida, porém só será eficaz para os alunos que já estiverem bem definidos quanto a seu futuro. Outra argumentação é demonstrar que os conhecimentos ou habilidades que agora devem ser dominados são pré-requisitos para outros que virão mais adiante e que o aluno espera com interesse. Um importante fator de convencimento do valor ou importância de uma disciplina por parte dos alunos consiste em o próprio professor mostrar que acredita nessa importância atuando como modelo. Tal valorização transparece em 109 comportamentos de dedicação, pontualidade, trabalho sério na preparação das atividades e no entusiasmo com que trata os assuntos relacionados à sua disciplina (BERGIN, 1999). Em resumo, de acordo com Jang (2008), um caminho para o professor alcançar a motivação dos estudantes durante atividades de aprendizagem desinteressantes, mas importantes, é promovendo o valor da tarefa no sentido de (a) identificar o valor oculto da tarefa; (b) ajudar os estudantes a compreenderem porquê a tarefa está custando esse esforço; (c) comunicar a razão da tarefa ser útil para eles; (d) ajudá-los a verem ou descobrirem um significado pessoal pela tarefa. Essa estratégia instrucional pode ajudar a criar nos estudantes a percepção e aceitação pessoal do valor da atividade de aprendizagem. 5. Desenvolvendo o interesse com o uso de embelezamentos motivacionais O interesse nas atividades de aprendizagem tem sido considerado um componente central da motivação e um caminho para desenvolver esse interesse é encontrar significado e valor nessas atividades. Nesse sentido, o interesse é definido por Hidi (2001) como um estado psicológico caracterizado por alto nível de atenção, esforço intenso e engajamento prolongado em uma atividade, acompanhado por sentimentos de prazer e senso de realização. Na pesquisa em educação, o interesse tem sido conceituado de duas formas: individual que se refere à disposição psicológica do indivíduo associada com suas preferências por atividades e ações; e situacional que se refere ao efeito atraente de características de uma atividade ou objeto que ativa a resposta individual no momento da interação da pessoa com a atividade. Em outras palavras, o desenvolvimento de interesse requer consideração dos interesses e experiências que os estudantes trazem para classe, como também os tipos de interesse que podem ser desenvolvidos nela. Segundo Hidi e Harackiewicz (2000), alguns estudantes podem entrar em um curso com um nível alto de interesse no tópico porque eles tiveram experiência anterior e o acharam interessante. Outros estudantes podem começar um curso com conhecimento limitado e pouco interesse inicial no tópico, mas podem desenvolver interesse durante o curso dependendo de suas características como o professor, materiais ou atividades que estimulam atenção e envolvimento. Assim, o estado psicológico de estar interessado tem papel fundamental na motivação dos estudantes e, por consequência, na sua aprendizagem. Dessa forma, os embelezamentos motivacionais são estratégias de ensino que contribuem para um melhor envolvimento nas atividades de aprendizagem. Eles são indicados para provocar o interesse pelas atividades, a fim de torná-las atraentes e estimulantes, saindo da mesmice e combatendo o tédio. Portanto, quando as tarefas são enriquecidas ou envolvem embelezamentos motivacionais, são mais prováveis de propiciar um propósito de aprendizagem intrínseca (AMES, 1992; PARKER; LEPPER, 1992). Vários tipos de embelezamentos motivacionais usados nas aulas de Língua Estrangeira podem ser citados de acordo com alguns autores (ALONSO, 1994; BELLO ESTÉVEZ, 1990) e com algumas pesquisas brasileiras sobre motivação em língua estrangeira (CALLEGARI, 2004; JACOB, 2002; VIANA, 1990). Dentre eles estão os jogos (se forem jogos competitivos, todos os alunos devem ter reais chances de ganhar), as dramatizações a partir de situações da vida real, músicas, apresentação de estórias ilustrativas, quadrinhos, uso do computador, utilização de elementos culturais do país da língua-alvo (vestimentas, pratos típicos, objetos), confecção de materiais (maquetes, cartazes, desenhos, cartas para jogos). 110 A estratégia de trabalhar conteúdos educacionais a partir de embelezamentos motivacionais pode ter um efeito positivo na aprendizagem, como argumentam Bergin (1999), Parker e Lepper (1992) e Cordova e Lepper (1996), pois o aumento de interesse em uma atividade educacional pode conduzir a um aumento da aprendizagem para aquela atividade. Porém, apesar dos efeitos benéficos dos embelezamentos motivacionais, os autores ressaltam algumas limitações quanto ao seu uso. Os embelezamentos podem provocar interesse, mas podem não conseguir manter esse interesse, também podem não ser bem acolhidos por alunos mais maduros e já motivados pelos conteúdos em si e, por fim, podem não garantir um trabalho mental de profundidade e uma aprendizagem de qualidade. Por essa razão, como conclui Bzuneck (2010), os embelezamentos enquanto recursos motivacionais devem ser considerados apenas como importantes aditivos que complementam, mas não dispensam outras estratégias motivacionais, como mostrar valor e apresentar desafios. Em outras palavras, os embelezamentos serão benéficos apenas na medida em que derem apoio e reforçarem os objetivos de aprendizagem que são atingíveis apenas se houver atividade mental. 6. Considerações finais Motivar alunos na escola não é apenas uma necessidade atual, mas é um desafio possível de ser atingido como lembra Bzuneck (2010). O professor será capaz de cumprir esse importante papel ligado à sua função de ajudar os alunos a aprenderem se ele mesmo estiver motivado para tanto. Assim, deve começar por adquirir conhecimentos a respeito dos processos motivacionais através de cursos específicos ou de leituras e reavaliar seu modo de agir em classe, suas crenças educacionais e conhecimentos, por vezes equivocados, informando-se sobre o que a literatura tem divulgado. Portanto, completa o autor, motivar alunos é questão de estratégias variadas, a serem usadas combinadamente e de forma discriminada conforme as circunstâncias. Nesse sentido, Brophy (1999b) alerta que os professores devem ser capacitados para compreender não somente o que eles precisam ensinar, mas também, porque o que eles precisam ensinar é importante para os seus alunos aprenderem. Assim, a atuação do professor não deve se restringir a favorecer uma aprendizagem que seja significativa apenas no aspecto cognitivo, mas também no sentido motivacional, fazendo com que o estudante, além de compreender e aprender o conteúdo possa valorizá-lo e perceber seu potencial de aplicação na sua vida prática. Por fim, Bzuneck (2010) esclarece que o professor atua num contexto marcado por dificuldades e limitações e, para não desanimar diante das exigências impostas, é preciso superar o individualismo que permeia a atuação docente no contexto escolar. Seu trabalho terá mais eficácia e será menos estressante se a escola como um todo atuar de modo solidário, criando um clima percebido pelos alunos de orientação para a aprendizagem de qualidade e para o desenvolvimento de suas potencialidades. Referências ALMEIDA FILHO, J. P. Dimensões comunicativas no ensino de línguas. Campinas: Pontes, 1998. ALONSO, E. ¿Cómo ser profesor/a y querer seguir siéndolo? Madrid: Edelsa, 1994. AMES, C. 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O Projeto Brincaespanhol no Educandário Lar de Jesus – SERTE visa ensinar a língua espanhola através de brincadeiras, jogos, músicas, oficinas criativas, entre outros, a crianças ainda não-alfabetizadas, na segunda infância. Busca-se com o projeto aproximar as crianças da cultura espanhola e toda a riqueza de conhecimentos que ela pode oferecer, além de propiciar a integração das crianças num mundo globalizado. Nesta comunicação compartilhamos nossa experiência vivida em sala relacionando a uma base teórica. Palavras-chave: Ensino de Espanhol. Projeto Brincaespanhol. Espanhol para crianças. Resumen Aprender una segunda o tercera lengua es cada vez más importante. Muchos teóricos sostienen que cuanto más temprano, más facilidad tendrá un niño para aprender una lengua extranjera. El proyecto Brincaespanhol en el Educandário Lar de Jesus – SERTE tiene como objetivo enseñar la lengua española a través de juegos, músicas, actividades creativas y otros, a la segunda infancia, niños todavía no alfabetizados. Se busca con el proyecto aproximar los niños a la cultura española y a toda la riqueza de conocimientos que ella puede ofrecer, además de propiciar la integración de los niños en el mundo globalizado. En esta comunicación compartiremos nuestras experiencias vividas en clase relacionando a una base teórica. Palabras clave: Enseñanza de Español. Proyecto Brincaespanhol. Español para niños. Aprender um segundo ou terceiro idioma é cada vez mais importante no mundo em plena globalização; é construir um caminho comunicativo para que a criança seja capaz de transmitir e assimilar o conhecimento da sociedade e do mundo em que vive. A língua estrangeira assume a condição de fonte indissolúvel do conjunto de conhecimento que permite à criança das séries inicias aproximar-se de várias culturas e propiciar sua integração num mundo globalizado. O trabalho com ensino de línguas estrangeiras na infância ainda é recente no Brasil. Muitos teóricos defendem que quanto mais cedo, mais facilidade uma criança terá de aprender uma língua estrangeira. José Ricardo (1988, p. 25) afirma que a língua estrangeira deve ser aprendida o mais cedo possível. Teme-se que aprender uma língua estrangeira na infância possa vir a atrapalhar o desenvolvimento da língua materna, entretanto, Ricardo assegura que crianças bilíngues separam claramente o que 39 Professora doutora do curso de Letras-Espanhol da Universidade Federal de Santa Catarina e da PósGraduação em Estudos da Tradução (PGET). Coordenadora do projeto Brincaespanhol. E-mail: [email protected] 40 Graduandas de Letras-Espanhol e bolsistas de extensão do PROBOLSA (UFSC) que participam do projeto. E-mail: [email protected] e [email protected] 114 aprendem, passando “de um idioma para outro com a maior facilidade, sem jamais misturar palavras ou locuções de um [idioma] em outro” (1988, p.25). Simone Silva Pires (2001), em sua dissertação intitulada “Vantagens e desvantagens do ensino de língua estrangeira na educação infantil: um estudo de caso”, afirma que crianças mais novas adquirem uma segunda língua mais lentamente, porém, a longo prazo, atingem um nível de proficiência maior do que adultos e crianças mais velhas. Baseado nesses estudos nasce o projeto Brincaespanhol no Educandário Lar de Jesus. O projeto tem por objetivo ensinar a língua espanhola através de brincadeiras, jogos, músicas, oficinas criativas, entre outros, a crianças ainda não-alfabetizadas, na segunda infância. As aulas são realizadas no Educandário Lar de Jesus, da SERTE (Sociedade Espírita de Recuperação, Trabalho e Educação), a qual é composta também pelo Lar das crianças e dos idosos. O educandário, além de atender as crianças órfãs que ali residem, atende também as crianças da comunidade do bairro Cachoeira do Bom Jesus localizado em Florianópolis/SC. As aulas são ministradas por bolsistas de extensão e voluntárias uma vez por semana no período vespertino a três grupos de crianças, entre 03 a 06 anos (sendo que cada grupo possui em média 10 a 15 alunos). Observa-se que há muitos conceitos acerca do termo “segunda infância”; em nosso artigo usamos como referência os autores Papalia e Olds. Para eles “dos três aos seis anos, as crianças vivem a segunda infância, período que muitas vezes é chamado de anos pré-escolares”. (PAPALIA; OLDS, 2000). Segundo os mesmos autores, a vantagem de trabalhar uma língua estrangeira durante a segunda infância é que durante esse período as crianças “mostram um aperfeiçoamento significativo na atenção e na velocidade e eficiência com a qual processam informações. Tais avanços permitem progressos cognitivos, particularmente na memória” (Idem, Ibidem, p.203). É importante lembrar que para a pedagogia tradicional, o ato de brincar e jogar antes não eram bem vistos, felizmente, essa visão mudou e agora a brincadeira é vista com outros olhos. O lúdico alcançou um novo espaço na didática e deixou de ser apenas entretenimento, passando a ser objeto potencializador do ensino-aprendizagem na educação infantil. A palavra “lúdico” se origina do latim “ludus” que significa brincar. A “ludo informação” refere-se à idéia de associar o entretenimento ao aprendizado. Santa Marli Pires Santos ressalta que “a educação pela via da ludicidade propõe-se a uma nova postura existencial, um novo sistema de aprender brincando inspirado numa concepção de educação para além da instrução” (apud NUNES, 2001, p. 53). O uso de brincadeiras desperta no aprendiz a curiosidade, a criatividade, a imaginação, e o trabalhar em grupo, servindo assim, como atividade orientadora de múltiplas aprendizagens. Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (MEC / SEF; 1998), o brincar “é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia” (1998, p. 23). De acordo com o mesmo referencial, no espaço da brincadeira, as crianças também podem desenvolver algumas capacidades importantes para a sua idade como a atenção, a imitação, a memória e a imaginação. Em nossas aulas buscamos sempre estimular as crianças abordando todas as áreas, tais como: cognitiva, física, social e emocional através da interação com as outras crianças, com os professores de língua espanhola e com o material didático selecionado. Uma aula realizada com uma das turmas, que envolveu atividade física, foi o jogo da amarelinha. Desenhamos a amarelinha no chão do pátio e colocamos os números. Primeiramente foram trabalhados os números de 1 a 10 em sala, e em seguida a turma foi levada ao pátio para brincar. As crianças brincaram de saltar amarelinha uma de cada vez pronunciando os números que haviam aprendido em sala. 115 As atividades lúdicas estimulam também o desenvolvimento da fala e da escrita. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil diz que “a linguagem representa um potente veículo de socialização” (MEC / SEF; 1998, p. 25), e quando bem utilizados tornam-se assim um grande aliado do professor no ensino. O referencial afirma ainda que “cada língua carrega, em sua estrutura, um jeito próprio de ver e compreender o mundo, o qual se relaciona a características de culturas e grupos sociais singulares” (Idem, Ibdem). O Referencial cita ainda a importância de se trabalhar histórias tradicionais com as crianças, pois, as mesmas “são inesgotável fonte de informações culturais” (1998, p. 26). Uma história trabalhada com as crianças foi Chapeuzinho Vermelho. Primeiramente foi contada a história usando o livro com cenas ilustrativas, em seguida foi feito uma atividade manual utilizando a técnica de origami, onde as crianças montavam a personagem Chapeuzinho Vermelho. Na aula seguinte foi passado um vídeo de 15 minutos da história, e como as crianças já a conheciam bem, não tiveram nenhuma dificuldade de entender o espanhol. Uma das metodologias de ensino que utilizamos em nossas aulas é o Enfoque Comunicativo. E dentro deste buscamos a Abordagem de Tarefas, que sugere que sejam trabalhadas atividades onde o estudante se concentre na resolução de tarefas e inconscientemente internalize a língua estrangeira. Diego Arenaza, professor do Centro de Educação da UFSC, explica que “a tarefa implica em resolver um problema ou completar um espaço de informação ativando um processo mental utilizando a língua estrangeira”41. Uma atividade realizada em uma das turmas, seguindo esse método, foi a brincadeira “Siga o mestre”. A partir de comandos como “ponga la mano en su cabeza” ou “haga cosquillas en su amigo” entre outros, os alunos iam agindo de acordo com o que havia sido solicitado, mostrando que haviam compreendido os comandos dados em espanhol e se divertindo com a dinâmica. Uma das características desta abordagem é proporcionar a criação de uma situação real, autêntica e que seja de interesse do educando de língua estrangeira, fazendo com que esse não fique restrito há livros didáticos, lendo e repetindo instruções ou falas já estabelecidas que pouco tenham a ver com a sua realidade. Outra característica deste método é a avaliação imediata que o professor tem do aluno, pois se este não efetuar a tarefa da forma adequada, o professor irá perceber que o aluno não entendeu a atividade e, consequentemente, deverá explicar de outra forma para que se possa alcançar o objetivo da tarefa proposta. Ainda, tratando de metodologia de ensino, observamos que Genevieve Roth (1998 apud PIRES, 2001, p.50) destaca algumas atividades potencializadoras para trabalhar com a língua estrangeira, dentre elas o ensino de sentenças através de músicas. Uma das primeiras músicas trabalhadas com as crianças foi “La vaca Lola”, que fez muito sucesso nas aulas e em todo o educandário. A música, contagiante e animada, contém uma letra pequena que repete bastante as sentenças: “la vaca lola, la vaca lola, tiene cabeza y tiene cola y hace „muuuu‟”. Através da coreografia mostramos as partes da vaca que a música se referia, e assim incentivamos os alunos a cantarem e a dançarem. Um ponto que contribui para o ensino-aprendizagem, destacado por Pires (2001), é que o aprendiz veja os lábios do professor quando este está falando. Outro 41 (tradução nossa). “la tarea implica resolver un problema o completar una laguna de información activando un proceso mental utilizando la lengua extranjera”. 116 ponto que ressalta é a importância da rotina direta, começar e terminar as aulas sempre com a mesma dinâmica, como por exemplo, com uma canção ou rima, ou algum jogo lúdico que sirva para relembrar o que foi aprendido (como o telefone sem fio) ou ainda começar a aula em círculo relembrando o que foi visto na aula anterior e terminar também em círculo, revisando tudo o que foi trabalhado no dia, como costumamos fazer em nossas aulas. Devemos lembrar que muitas vezes o que dá certo para uma turma, não dá para outra, por isso é essencial que o professor conheça a sua turma e planeje as aulas de acordo com a classe. Aprendemos que ter sempre em mente duas ou três atividades é essencial quando percebemos que as crianças não gostaram de certa atividade, pois, buscamos fazer com que as nossas aulas sejam atrativas e divertidas. Segundo Pires, “devemos lembrar que as pessoas são inteligentes de várias maneiras e, portanto, precisamos utilizar estratégias de ensino variadas em nossas aulas” (PIRES, 2001, p. 32). Através das várias experiências pelas quais vivemos, percebemos que era melhor nos preocuparmos mais com a qualidade das atividades propostas, ao invés da quantidade. O aprendizado foi mais significativo quando trabalhamos com poucas palavras ou até mesmo com uma única palavra. Segundo Pires (2001), é melhor trabalhar com menos conteúdo, de forma significativa, do que com várias palavras apresentadas na mesma aula de forma superficial e rápida, correndo-se o risco deles as esquecerem. Um exemplo que podemos citar foi a atividade com a palavra “culebra”, feita com caixas de ovos. As crianças as pintaram com tinta guache, as amarraram com barbante, e depois passearam com as cobras pela sala. Genevieve Roth aconselha que, se tratando de crianças, devemos ser pacientes, não corrigir demais as pronúncias e falar a mesma coisa várias vezes, sempre se lembrando que “crianças são crianças, [e] não se deve esperar demais, pois tudo acontece com o decorrer do tempo” (1998 apud PIRES, 2001, p. 51). Como observado na turma de 3 e 4 anos, em uma aula foi realizada uma dinâmica com o tapete das cores, nesse dia as crianças não se lembravam ou não queriam falar os nomes das cores, no entanto, na aula seguinte foi levado o jogo da memória de cores e as crianças, sem ajuda, começaram a pronunciar as cores corretamente. Procuramos selecionar com cuidado as atividades a serem trabalhadas, pois, de acordo com a dissertação de Pires “quando a professora tem qualificação profissional na língua estrangeira, mas não tem formação e experiência com a educação infantil, a criança pode desenvolver aversão a língua estrangeira por não gostar das aulas” (2001, p. 14). No entanto, ela também afirma que o contrário também é prejudicial ao ensino infantil, quando o profissional da educação infantil resolve dar aulas de língua estrangeira, mas, não tem o conhecimento suficiente da língua e nem a formação na área, além de poder cometer erros de pronúncia e gramática, pode também “comprometer o futuro de seus alunos enquanto estudantes de língua estrangeira” (idem, Ibidem, p. 7) . Outro fator que Pires (2001) destaca e que dificulta a aprendizagem é a escassez de material didático direcionado especificamente para crianças ainda não alfabetizadas que estejam aprendendo uma língua estrangeira, por isso, procuramos adaptar atividades de língua materna para usar no ensino da língua espanhola. Também buscamos estimular e interagir com os diferentes sentidos do educando, para isso trabalhar com diferentes tipos de materiais, como massinha de modelar, argila, materiais recicláveis, como revistas, caixas de ovos, rolos de papel higiênico, entre outros. Buscamos, nas aulas, proporcionar um ambiente de descontração para os aprendizes, pois, segundo José Ricardo, o ambiente de ensino é de fundamental 117 importância, “se o ambiente da turma é de companheirismo, de união, de cooperação e se eles sentem-se bem uns com os outros, isso leva a gostar instintivamente das aulas que assistem juntos” (1988, p. 50). Assim, esperamos que a aquisição da língua espanhola ocorra de maneira natural e que haja interação entre os membros do grupo, bem como o espaço físico, criando uma harmonização adequada para que ocorra uma aprendizagem significativa. Compreendemos que um projeto como este é de grande importância para a nossa formação, além de refletir sobre o conteúdo aprendido no decorrer do curso e aplicá-lo de forma prática, vivenciamos contextos e situações da realidade de nossa carreira docente. Com todas essas experiências e muitas outras que aqui não foram mencionadas, tivemos a oportunidade de relacionar a teoria com a prática. O que pretendemos de fato é que as atividades trabalhadas sejam prazerosas para que dessa forma as crianças tomem consciência que aprender traz satisfação e alegria. Referências ARENAZA, D. El enfoque de tareas en la enseñanza de lenguas extranjeras. Disponível em: http://www.ced.ufsc.br/~uriel/tareas.html Acesso em 16 de maio de 2011. MENDES, R. L. R. 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Petrópolis: Vozes, 2001. 118 DA TEORIA À PRÁTICA: A LEI 11.161 E SUA IMPLANTAÇÃO NA REGIÃO DE LONDRINA Gabriela Rodrigues BOTELHO 42 (G – UEL) Amanda Pérez MONTAÑÉS43 (UEL – Orientadora) Resumo Objetivamos neste trabalho contrastar aspectos da Lei 11.161 com os dados parciais de uma pesquisa vinculada ao projeto: “Políticas públicas e ensino de espanhol como língua estrangeira na região de Londrina: desafios para sua implementação”, coordenado pela professora Drª Amanda Pérez Montañés, obtendo um panorama geral sobre o estado em que se encontra a implantação dessa lei atualmente. Trata-se de uma pesquisa qualitativa e quantitativa feita através de questionários e entrevistas aplicados aos alunos e professores das escolas visitadas. Selecionamos á princípio 20 escolas de ensino médio entre as quais: as que ofertam o espanhol no CELEM, na grade curricular e as que não ofertam. Essa investigação iniciou na segunda quinzena de agosto de 2010 e até o momento concluímos que houve pouco avanço, pois em Londrina das 72 escolas estaduais de ensino médio somente 6 possuem o idioma espanhol em seu currículo, sendo que não há homogeneidade na oferta. Palavras-chave: Políticas Públicas. Língua Espanhola. Ensino. Resumen Este trabajo tuvo como objetivo contrastar aspectos de la Lei 11.161 con los datos parciales de una investigación vinculada al proyecto: “Políticas públicas e ensino de espanhol como língua estrangeira na região de Londrina: desafios para sua implementação”, coordinado por la profesora Drª Amanda Pérez Montañés, para mostrar un panorama general sobre el estado en que se encuentra la implantación de la lei actualmente. Se trata de una investigación cualitativa y cuantitativa hecha por medio de cuestionarios y entrevistas con los alumnos y profesores de las escuelas visitadas. Se seleccionaron 20 escuelas de enseñanza media, a saber: las que ofrecen el español en el CELEM, en la enseñanza regular y las que no lo ofrecen. Esta investigación inició en agosto de 2010, y hasta el momento, se puede concluir que hubo poco avance en la implantación de la ley, pues en Londrina, de las 72 escuelas públicas de enseñanza media solamente seis poseen el idioma español en su currículum, y no hay homogeneidad en la oferta. Palabras clave: Políticas Públicas. Español. Enseñanza. 1. Introdução Na região de Londrina o ensino público da língua espanhola vem ganhando força desde o início da década de noventa através dos CELEM (Centros de Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas), que tem por objetivo ofertar cursos básicos de idiomas e de aprimoramento aos alunos da Rede Pública matriculados no Ensino Fundamental (anos finais) e no Ensino Médio, entre outras esferas de ensino. Esses cursos são gratuitos e as vagas são destinadas também a funcionários das escolas e a comunidade em geral. Os centros funcionam nas dependências das escolas estaduais, foram criados em 1986 e desde então é notória a crescente procura pelo curso de língua espanhola, 42 Graduanda do 4º ano de Letras Estrangeiras Modernas pela Universidade Estadual de Londrina; Professora orientadora Drª Amanda Pérez Montañés. 43 Professora adjunta de Letras Estrangeiras Modernas na Universidade Estadual de Londrina. 119 haja visto que em 2011 em Londrina 50 escolas possuem a língua espanhola no CELEM. (www.diaadia.pr.gov.br/celem) Com a aprovação da Lei 11.161/05 a proposta de ensino da língua espanhola aparentemente mudou como afirma o artigo 2º da citada Lei: “A oferta da língua espanhola pelas redes públicas de ensino deverá ser feita no horário regular de aula dos alunos”. (D.O.U. DE 08/08/2005, P. 1). Dessa forma entendesse que o ensino da língua espanhola deve sair do contexto do CELEM para incorporar-se ao currículo de ensino das escolas públicas, já que passa ser obrigatória sua oferta no horário regular das aulas. Dizemos aparentemente, pois esse mesmo texto da Lei 11.161/05 em seu artigo 3º normatiza que: “Os sistemas públicos de ensino implantarão Centros de Ensino de Língua Estrangeira, cuja programação incluirá, necessariamente, a oferta de língua espanhola.” (Art. 3o, D.O.U. DE 08/08/2005, P. 1). Esta é uma das análises que faremos neste trabalho. Sabemos que como o texto da Lei 11.161/05 não é claro surgem muitas dívidas sobre a implantação da língua espanhola nele defendida. O projeto: “Políticas públicas e ensino de espanhol como língua estrangeira na região de Londrina: desafios para sua implementação”, coordenado pela professora Drª Amanda Pérez Montañés, tem como objetivo investigar o processo de transição do ensino de língua espanhola que era realizado até então no CELEM (ou em alguns casos não havia no contexto escolar) para o ensino que deve ser ofertado nas escolas públicas. A investigação consiste em constatar em que situação se encontra a estrutura das escolas, a qualificação dos professores, a demanda de docentes, o número de escolas que se enquadram e que não se enquadram na lei e interesse dos alunos pela língua. Neste trabalho vamos discorrer sobre o projeto: “Políticas públicas e ensino de espanhol como língua estrangeira na região de Londrina: desafios para sua implementação” e a metodologia utilizada para realizar a investigação nas escolas. Relataremos os pontos considerados mais interessantes da pesquisa de campo e detalharemos os dados parciais obtidos através dos questionários. Realizaremos também uma breve comparação entre alguns artigos da Lei 11.161/05 e a realidade que encontramos nas escolas em relação ao cumprimento desta. A partir desses pontos, seguindo a sequência exposta, será apresentada a conclusão dos dados obtidos até o presente momento através da investigação de campo. 2. Projeto e Pesquisa: O projeto: “Políticas públicas e ensino de espanhol como língua estrangeira na região de Londrina: desafios para sua implementação” (a partir daqui somente “Políticas Públicas”) está sendo desenvolvido na Universidade Estadual de Londrina e tem como participantes três alunas da graduação, duas alunas da especialização e um colaborador externo, além de uma professora orientadora. Entendemos por políticas públicas discussões, investigações, decisões e ações coerentes e racionalmente elaboradas pela sociedade com respaldo nas leis, a fim de resolver, um problema definido como público, de acordo com CHINCHILLA (2010). Neste caso do projeto nos atemos a problemática da educação direcionando as investigações e discussões a cerca da implantação da língua espanhola nas escolas públicas, sendo essas ações instrumentos de análise para que a universidade possa colaborar com esse processo. Dessa maneira a investigação do projeto “Políticas Públicas” trabalha para que seja de conhecimento comum da sociedade os pontos positivos e negativos do processo de implantação da língua espanhola no ensino público, possibilitando mais adiante reivindicações objetivas por parte da sociedade já que teremos os em mãos as reais 120 necessidades para que esse processo seja concluído com êxito. As atividades do projeto iniciaram no primeiro semestre de 2010 com as discussões de textos de fundamentação teórico-metodológica sobre a literatura pertinente à pesquisa. Em seguida foi realizado um mapeamento das escolas de ensino médio de Londrina e também a seleção das escolas a serem visitadas; nesse momento foram elaborados três questionários, sendo um para as escolas que ofertam espanhol no ensino regular e no CELEM e outro para as escolas que não ofertam espanhol. Esses questionários foram respondidos pelos alunos nas visitas realizadas nas escolas. O terceiro questionário foi elaborado para as professoras do CELEM e do ensino regular que ensinam a língua responder. Na segunda quinzena de agosto, começaram as visitas nas escolas com o objetivo de aplicar os questionários; essa atividade estendeu-se até novembro de 2010, até o momento foram visitadas 10 escolas da região de Londrina, onde foram aplicados 195 questionários sendo: 2 escolas que ofertam o espanhol na grade; 06 escolas que ofertam o espanhol no CELEM, e 02 escolas que não ofertam o espanhol. A princípio, tivemos dificuldade em obter a autorização das escolas para a coleta de dados, pois as instituições não apresentaram interesse na pesquisa. No entanto por parte das docentes houve cooperação, o que possibilitou a realização desse trabalho até então. Após esse processo preliminar realizamos a contagem e a interpretação dos dados obtidos até o momento. 3. Interpretação dos dados da pesquisa: Dos 195 questionários respondidos 95 foram aplicados pela pesquisadora responsável por este artigo, de maneira que a continuação vamos expor e analisar o resultado dessas respostas. No contexto do CELEM duas escolas foram visitadas pela autora deste estudo e 45 alunos do 1º e 2º ano participaram da pesquisa; destacou-se dessas respostas o interesse dos alunos pelo espanhol, pois a maioria considerou importante a aprendizagem do idioma nas escolas de ensino fundamental e médio, a maioria dos alunos teve o primeiro contato com o idioma na escola ao cursarem o CELEM, estes alunos preferem escolher qual idioma a ser ofertado pela a escola e visam na aprendizagem do espanhol melhores possibilidades de emprego. Para os alunos do CELEM o mais desestimulante na aprendizagem de língua estrangeira é a falta de recursos, eles consideraram o uso da língua espanhola fundamental para os principais setores da economia e a perspectiva do curso é o domínio da língua. Nesse contexto são lecionadas quatro aulas por semana, divididos em dois encontros de duas aulas cada, as turmas possuem em média 10 alunos por série podendo ser matriculados até 30. O curso é anual com duração de dois anos compreendendo o nível básico de cada língua ofertada. Os alunos se mostram interessados, participativos e conscientes de que estão investindo em conhecimento seja linguístico ou cultural, se mostram satisfeitos com o desenvolvimento do curso e acreditam que vai contribuir para o futuro. Foi visitada uma escola que possui o espanhol no ensino regular, participando da pesquisa 50 alunos do 1º, 2º e 3º ano do ensino médio, as respostas são bem parecidas com as do CELEM, a maioria dos alunos entrevistados considera importante a aprendizagem do espanhol nas escolas de ensino fundamental e médio, eles também tiveram o primeiro contato com o idioma na escola, porém no 1º ano do ensino médio e preferem escolher o idioma a ser ofertado, objetivam na aprendizagem do espanhol melhores possibilidades de emprego. As demais respostas também são iguais as do CELEM, para a maioria desses alunos o mais desestimulante é a falta de recursos, consideraram o uso da língua 121 espanhola fundamental para os principais setores da economia e a perspectiva do curso é o dominar a língua espanhola. Através das respostas notamos o interesse desses alunos pelo o ensino do espanhol, vemos que parte da necessidade de um trabalho melhor quanto língua, e da busca de conhecimento pessoal quanto às culturas a serem estudadas. Não foram observadas diferenças significativas entre as respostas dos alunos nos dois contextos pesquisados. Responderam as investigações desta pesquisadora 3 professoras, sendo 2 do CELEM e 1 do ensino regular. Das respostas obtidas destacamos que somente 1 professora leciona a mais de 5 anos. Tanto no CELEM quanto na escola os principais recursos utilizados são televisão e rádio, o material didático não é ofertado pela escola e a seleção desse material é feita pela professora. Para elas o principal desafio no Brasil é a falta de recursos, pois segundo as entrevistadas este fator gera principalmente a falta de interesse dos alunos, desencadeando outros problemas como má qualidade no ensino, e evasão. As três professoras lecionam no CELEM e na escola regular, uma delas apontou que o agravante da escola pública é que a língua espanhola pode passar a ser vista como uma disciplina á mais no currículo, por ser negligenciada como as outras disciplinas, além de não ser vista como a principal língua estrangeira a ser estudada, pois seria a língua inglesa, por não reprovar, o que leva os alunos a focarem em outras disciplinas, além de que o professor se depara com toda a problemática da educação pública em nosso país, dificultando o ensino da língua. Esse reflete o discurso das outras professoras, elas afirmam que é muito diferente ensinar em um espaço que os alunos optaram a ir, do que na escola onde os alunos são obrigados a frequentar. Para elas é mais produtivo o ensino no espaço do CELEM já que os alunos têm algum objetivo com o ensino buscado lá. Essa afirmação é confirmada por (NORTE, 2009) quando diz que: “Como os alunos que estudam nos Centros Língua (CLs) frequentam as aulas exclusivamente pelo interesse, têm muito mais motivação parar aprender.” Sabemos que a escola deveria ser uma ferramenta para a busca dos objetivos pessoais de cada aluno, motivando-o a crescer, porém essa não é a realidade que encontramos. Defendemos e acreditamos no ensino de línguas na escola pública, através da pesquisa de campo, das respostas dos questionários, da conversa com as professoras e demais investigações, percebemos que a escola não atende a necessidade do aluno e que se a língua espanhola como qualquer outra disciplina ao se enquadrar aos moldes atuais da escola estará condenado ao insucesso. É importante ressaltar que a não obrigatoriedade da frequência é apenas um fator que diferencia o CELEM da escola regular. Em geral nas escolas investigadas para este e outros trabalhos observamos que na região de Londrina a quantidade de aluno por turma em cada série do CELEM possui o número reduzido de alunos, podendo ser matriculado até 30, mas com frequência entre 10 e 15, são quatro aulas semanais, de maneira que os alunos ficam mais tempo expostos a língua e os professores lecionam para menos turma o que possibilita maior qualidade na produção das aulas. Embora as idades sejam bem diferentes não pareceu ser um problema e sim uma maneira a mais de contemplar o desenvolvimento da cidadania e a tolerância as diferenças já que nível linguístico é o mesmo. 4. Da teoria á prática: contrastes entre a lei e a escola Segundo a Lei 11.161 sancionada em agosto de 2005: “Art. 1 O ensino da língua espanhola, de oferta obrigatória pela escola e de matrícula facultativa para o aluno, será implantado, gradativamente, nos currículos plenos do ensino médio. 122 § 1 O processo de implantação deverá estar concluído no prazo de cinco anos, a partir da implantação desta Lei. § 2 É facultada a inclusão da língua espanhola nos currículos plenos do ensino fundamental de 5a a 8a séries.” Com o trabalho de pesquisa de campo foi possível estar em contato com a realidade de diversas escolas tendo um panorama geral quanto à oferta da disciplina de língua espanhola. Um dos pontos mais visíveis é que embora já tenha passado o prazo para a implantação poucas escolas estão cumprindo de fato a lei. Na escola visitada o idioma é lecionado nas três séries do ensino médio, porém temos conhecimento de escolas que lecionam somente no terceiro ano, isso reflete a desigualdade na oferta e no cumprimento da lei. Sabemos que para atender ás exigências da referida lei e ser efetivada a implantação é preciso haver uma boa gestão por parte das escolas. VILAÇA (2008) ressalta que: [...] cabe agora verificar se as escolas realmente apresentam ou se irão apresentar o espanhol como língua optativa e como fazem ou farão, uma vez que é necessária uma boa organização estrutural referente a horários, professores, número de alunos por turmas, entre outras para que os alunos possam fazer seu direito de estudar ou não esse idioma. O texto da Lei 11.161 gerou muita discussão, pois como veremos nos parágrafos a seguir não esclarece como deve ser realizada a oferta do idioma: “Art. 2 A oferta da língua espanhola pelas redes públicas de ensino deverá ser feita no horário regular de aula dos alunos. Art. 3 Os sistemas públicos de ensino implantarão Centros de Ensino de Língua Estrangeira, cuja programação incluirá, necessariamente, a oferta de língua espanhola. Art. 4 A rede privada poderá tornar disponível esta oferta por meio de diferentes estratégias que incluam desde aulas convencionais no horário normal dos alunos até a matrícula em cursos e Centro de Estudos de Língua Moderna.” Observamos que no artigo 2º fica estabelecido que a oferta seja no horário regular das aulas, porém o artigo 3º afirma que as escolas implantarão centros de línguas estrangeiras nos quais a oferta do espanhol está garantida . Até esse ponto ficam algumas divergências, pois já temos centros de língua estrangeira na rede pública, que no Paraná seriam os CELEM, surge então uma ambiguidade na interpretação da lei, pois não parece necessária essa criação ou seria uma adaptação para que a escola comportasse outras línguas no seu currículo? Essa ambiguidade foi vista na prática ao visitarmos uma das escolas de Londrina na qual o CELEM foi adaptado para ofertar a língua espanhola para alunos do ensino fundamental e médio, não sendo aberto a comunidade, porém atendendo a essa facha de alunos que tivessem interesse em participar de maneira que devem cursar a língua no horário do contra turno do ensino regular da série em que estão. Já no artigo 4º as escolas de ensino privado estariam cumprindo a lei ao propiciar aos alunos a matrícula no horário do contra turno ou mesmo no Centro de Estudos de Línguas Modernas. Seriam esses centros o próprio CELEM ou os centros que devem ser criados segundo a lei? 123 “Art. 5 Os Conselhos Estaduais de Educação e do Distrito Federal emitirão as normas necessárias à execução desta Lei, de acordo com as condições e peculiaridades de cada unidade federada. Art. 6 A União, no âmbito da política nacional de educação, estimulará e apoiará os sistemas estaduais e do Distrito Federal na execução desta Lei.” No artigo 5º e 6º fica definido que os órgãos estaduais executarão a lei e serão responsáveis por criar suas próprias normas para esse feito, fica por responsabilidade do governo federal o apoio á implantação. Sobre isso discorre (GONZÁLES, 2009, p. 24): [...] la Ley es federal (nacional) y la enseñanza Media es de competencia de los estados de la federación, una cuestión nada menor cuando se piensa en los embates políticos que vive permanentemente esta nación y todas las cuestiones que de este hecho pueden derivar; [...] esto exigirá un diálogo y apoyo mutuo de ambas esferas político-administrativas que, como sabemos, no siempre es fácil, además de que se suele pautarse mucho más por las disputas políticas, sobre todo las disputas por el poder, que por los efectivos intereses de la población[...] Quanto à atuação do estado nas escolas visitadas, percebemos que não há repasso de verbas, materiais ou mesmo movimentação para abertura de concursos. Isso nos leva a crer que o próprio estado não está cumprindo o que lhe compete segundo a Lei 11.161. Neste sentido podemos concordar com Gonzáles (2009) em outro artigo que questiona: “o que o Estado (nação) e os estados (da federação) fizeram, estão fazendo e estão dispostos a fazer pela implementação da lei 11.161, sem deixar que outros o façam por nós?” A resposta da autora vem de encontro com as observações durante a pesquisa e as constatações das analises dos questionários, “Se não é justo responder “nada”, é, entretanto, muito justo responder “muito pouco”. Nas páginas do site da secretaria de educação do Paraná encontramos diversos materiais de áudio e vídeo, artigos, teses, material de leitura e apoio ao professor para a produção de aulas de língua espanhola, o que nos parece plausível. No entanto a principal notícia da página celebra um acordo com uma instituição espanhola em parceria com uma universidade brasileira: El acuerdo rubricado por ambas instituciones incluye, como objetivo principal, la organización de cursos de formación que combinarán las diversas opciones que se imparten en cada uno de los centros, de forma que los alumnos obtengan una titulación más completa. (http://www.espanhol.seed.pr.gov.br) 5. Conclusão Partindo dos dados obtidos nas escolas visitas concluímos que há interesse no ensino de línguas e em especial da língua espanhola por parte dos alunos. No contexto do CELEM em Londrina a procura é considerável e embora haja um grande índice de evasão os alunos entrevistados demonstraram satisfação com o curso. Já na escola pública o que podemos avaliar é que o idioma desperta o interesse dos alunos, mas 124 acaba se perdendo nas dificuldades do ensino público. A língua espanhola na escola pode ser uma alternativa para evasão do CELEM por estar ainda mais acessível no diaa-dia dos alunos, ou seja integrado ao seu ambiente escolar. O ensino dessa língua é interessante para o aprimoramento do currículo e desenvolvimento pleno dos alunos, no entanto quando se depara com salas lotadas, violência, falta de material e estrutura, qualquer ensino fica prejudicado. Haja visto as comparações entre o ensino de línguas nos centros de idiomas do estado e a escola regular. O ensino nos centros não possui o ideal de estrutura, investimento e adequação, porém está em condições melhores de ensino do que a escola regular. O rendimento dos alunos conforme observamos na pesquisa e na investigação sobre a implantação em outros estados da federação, confirmam a melhores resultados nos centros pois a língua é ensinada de fato, o que na escola não acontece. Em entrevista concedida a rádio CBN (http/espanholdobrasil.wordpress.com) o professor Adrián Fanjul do Departamento de Letras Modernas da USP ao ser questionado sobre a má qualidade do ensino público de língua estrangeira defende que para melhorar essa falha é preciso aumentar a carga horária de língua estrangeira e melhorar as condições de trabalho. Fanjul afirma que há muitas disciplinas com desempenho ruim na escola, não é só a língua estrangeira, isso depende da melhoria na qualidade de ensino. O professor considera também que não há algo que impeça que a língua estrangeira seja aprendida na escola e mesmo as empresas terceirizadas não exigem o suficiente pois não querem perder o cliente. Os bons resultados apontados no 44CELEM por esta pesquisa, são principalmente a real aprendizagem da língua, ampliação da visão de mundo por parte dos alunos e incentivo a formação superior, pois o próprio professor Adrián Fanjul na já citada entrevista comenta que muitos ex-alunos do CEL45 (Centro de língua Estrangeira) são atuais alunos de graduação de letras com habilitação em língua espanhola na universidade, realidade presente também no estado do Paraná. Estes resultados defendidos por professores e alunos do curso, são comentados também nessa mesma entrevista concedida á radio CBN pelo professor Fanjul quando ele ressalta que: A minha experiência como professor universitário com aqueles que estudaram em cursos de idioma do estado em geral tem um domínio maior, do que vários que passaram alguns bimestres nessas escolas que tentam reter o aluno e não importa muito se aprende o não aprende. Dessa maneira podemos considerar que é possível propiciar ensino de língua estrangeira com qualidade nas escolas, os centros de línguas modernas são um exemplo disso, pois utiliza a mesma estrutura, compartilha do mesmo sistema da escola pública inclusive por ser parte dela e, no entanto consegue melhores resultados. O que podemos sugerir é adaptar a escola á alguns aspectos já testados e aprovados no CELEM como carga horária de aula ampliada, menor número de alunos por sala, menor número de turmas para cada professor, garantir que o aluno possa optar entre a língua espanhola e outra língua mantendo assim ao menos duas línguas estrangeiras no currículo escolar e claro, adequando outras questões das quais o CELEM ainda carece como material didático, espaço físico de salas de aula, recursos eletrônicos, professores qualificados, 44 CELEM (Centros de Língua Estrangeira Moderna) nomenclatura para os centro de idiomas ou centros de línguas estrangeiras do governo no Estado do Paraná. 45 CEL (Centro de Língua Estrangeira ) nomenclatura para os centro de idiomas ou centros de línguas estrangeiras do governo no Estado de São Paulo. 125 bem remunerados e em quantidade suficiente entre outras necessidades que a escola possa vir a ter. Acreditamos que ao problematizar, discutir e buscar soluções para sanar as necessidades de ensino da língua espanhola nas escolas públicas estamos contribuindo para a melhoria o próprio ensino de línguas estrangeiras no país, ensino esse que não deve limitar-se a decodificação da língua, sendo assim, nos deparamos com a reformulação da própria escola, haja vista que a língua estrangeira faz parte dela. Segundo a (OCN, 2000; p. 91). [...] pode passar a impressão de que o ensino de Línguas Estrangeiras voltado somente para o aspecto linguístico do idioma não educa. Ele educa, mas contribui para uma outra formação, aquela que entende que o papel da escola é suprir esse indivíduo com conteúdo, preenchendo-o com conhecimentos até que ele seja um “ser completo e formado”. Quando falamos sobre o aspecto educacional do ensino de Línguas Estrangeiras, referimo-nos, à compreensão do conceito de cidadania, enfatizando-o. As Orientações Curriculares Nacionais quanto diretrizes nos orienta para uma formação visando a cidadania e não há exemplo melhor de cidadania que uma escola de qualidade que supre as necessidades intelectuais de seus alunos propiciando uma formação completa. É essa escola que buscamos e é essa escola que podemos fomentar com a devida implantação da língua espanhola no ensino público para que não venha a ser mais uma disciplina no currículo. Concluímos que na região de Londrina falta muito para o ensino de língua espanhola constar nas escolas efetivamente, porém existe demanda e interesse tanto no estudo quanto no ensino da língua. Referências NORTE, Diego Braga; A hora do espanhol (será mesmo?) Disponível em: http://letras-esp-uems.blogspot.com/2009/10/hora-do-espanhol-sera-mesmo.html Acesso: 25/10/09 CHINCHILLA, Tulio Elí; ¿Qué son "políticas públicas"? <http://www.elespectador .com/columna> SEED<http://www.nre.seed.pr.gov.br/londrina/modules/conteudo/conteudo.php?conteu do=140>. Acesso em: 20 maio 2011. GONZÁLEZ, Neide Maia. Políticas públicas y enseñanza de lenguas estrangeras en Brasil: Desafíos para su implementación. Signo y Seña; UBA, 2009. GONZÁLEZ, Neide Maia; A lei 11.161, as Orientações Curriculares e as políticas publicas de formação de professores: a história de um descompasso entre o dizer e o fazer. 2009. Disponível em <http://espanholdobrasil.wordpress.com> acesso em 27 agosto 2009. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃ BÁSICA; ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO - Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; BRASÍLIA 2006. Entrevista com Prof. Adrián Fanjul do departamento de letra modernas da USP (Universidade de São Paulo) concedida á Rádio CBN em 28/04/2011; Disponível em <http://espanholdobrasil.wordpress.com> Acesso em 14 maio 2011. 126 LA DIDACTIZACIÓN DEL GÉNERO TEXTUAL “LETRA DE MÚSICA” EN LA ADQUISICIÓN DEL ESPAÑOL COMO LENGUA EXTRANJERA A PARTIR DE LA CONCEPCIÓN DEL INTERACCIONISMO SOCIODISCURSIVO46 Gilson Rodrigo WOGINSKI (CELEM/CELI/CEP – UNICS – PUCPR)47 Resumen El presente estudio tiene por objeto discutir las cuestiones acerca de los estudios de los géneros textuales (Bakhtin, 1952), así como de la concepción sociointeraccionista del lenguaje (Vygotsky, 2008) y de las secuencias didácticas (Schneuwly y Dolz, 2004) como elementos planificadores de actividades desarrolladas con géneros. Para lograr ese objetivo, presentaremos los conceptos teóricos que embasan el trabajo con géneros, tales como: la cuestión del lenguaje como instrumento de acción en el mundo (Bronckart, 1999), las condiciones de producción textual (Bronckart, 1999), el desarrollo de capacidades de lenguaje (Schneuwly y Dolz, 2004), las secuencias didácticas como elementos planificadores de las actividades que serán desarrolladas con géneros (Schneuwly y Dolz, 2004), entre otros. Finalmente, abordaremos la cuestión de tornar didácticos los géneros (Woginski, 2008 y 2009) y la elaboración de Secuencias Didácticas (SD) para la enseñanza de lenguas extranjeras a partir de la noción del “Interaccionismo Sociodiscursivo” (ISD). Palabras clave: Didactización del género textual. Letra de música. Enseñanza de español. Interaccionismo sociodiscursivo. Resumo O presente estudo tem por objetivo discutir as questões acerca dos estudos dos gêneros textuais (Bakhtin, 1952), bem como da concepção sociointeracionista da linguagem (Vygotsky, 2008) e das sequências didáticas (Schneuwly e Dolz, 2004) como elementos planificadores de atividades desenvolvidas com gêneros. Para atingir esse objetivo, apresentaremos os conceitos teóricos que embasam o trabalho com gêneros, tais como: a questão da linguagem como instrumento de ação no mundo (Bronckart, 1999), as condições de produção textual (Bronckart, 1999), o desenvolvimento de capacidades de linguagem (Schneuwly e Dolz, 2004), as sequências didáticas como elementos planificadores das atividades a serem desenvolvidas com gêneros (Schneuwly e Dolz, 2004), entre outros. Finalmente, abordaremos a questão da didatização de gêneros (Woginski, 2008 e 2009) e a elaboração de Sequências Didáticas (SD) para o ensino de línguas estrangeiras a partir da noção do “Interacionismo Sociodiscursivo” (ISD). Palavras-chave: Didatização do gênero textual. Letra de música. Ensino de espanhol. Interacionismo sociodiscursivo. 46 Este trabajo es el resultado de una investigación desarrollada acerca de la noción de géneros textuales y el proceso de transposición didáctica, la “didactización” de géneros para la enseñanza de Lenguas Extranjeras (LE). Esta investigación fue presentada como un Mini-curso ministrado por el autor en el evento “I Jornada de Estudos Hispânicos – Língua e Cultura” promovido por el Centro de Estudos Hispânicos (CEHISP) y por el Departamento de Letras de la Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória (FAFIUV), de 19 a 20 de septiembre de 2008 y profundizada para una “Comunicación Oral” a propósito de la III Jornada de Estudos Hispânicos nuevamente organizada por el CEHISP de FAFIUV, 2010. 47 Es experto en Lengua y Literatura Hispanoamericana por el Centro Universitário Diocesano do Sudoeste do Paraná (UNICS), de Palmas (PR). En la actualidad es Coordinador del Centro de Línguas Estrangeiras Modernas (CELEM) y del Centro de Línguas (CELI), ambos del Colégio Estadual do Paraná (CEP), de Curitiba (PR). Correo electrónico: [email protected] 127 1. Introducción Proponemos el desarrollo de actividades a partir de la concepción de los géneros textuales, a partir del género textual “letra de música”, pues consideramos ese género como una herramienta de comprensión de las diferencias linguísticas y de los diversos lenguajes disponibles del hablante y por considerarlo también un género de amplia circulación social. Los textos de las letras de músicas son portadores de muchas informaciones linguísticas, culturales, históricas y sociales. Siendo así, observamos que “es imposible comunicarse verbalmente sino por algún género, así como es imposible comunicarse verbalmente sino por algún texto” (MARCUSCHI, 2003, p. 22). 2. El lenguaje en la perspectiva de Vygotsky La concepción de lenguaje que orienta la investigación es la del sociointeraccionismo, o sea, tal concepción está pautada en la naturaleza social del lenguaje como producto histórico y social del hombre en lo que se refiere al cambio de experiencias y la producción de conocimientos. De esa forma, el lenguaje es comprendido como una forma de interacción, pues es él que permea nuestros actos, así como articula nuestras relaciones con el otro y con el medio y, consecuentemente, nos constituye como sujetos. Por lo tanto, el lenguaje sólo se realizará por medio de la interacción, dentro de situaciones concretas de producción. En lo que se refiere al carácter interaccional y dialógico de la lengua, conocemos nuestra lengua y la lengua del otro (las lenguas extranjeras) a través de los enunciados concretos que oímos y que también producimos en una dada interacción con aquellos que nos cercan. En la teoría sociointeraccionista de Vygotsky (2008), observamos una visión de desarrollo humano fundamentada en la idea de un organismo activo, en el que el pensamiento es constituido en un ambiente histórico y cultural. También, Vygotsky (2008) relata que las posibilidades que el ambiente proporciona al individuo son esenciales para que este se constituya como sujeto. Matencio (2007, p. 55), al investigar la teoría de Vygotsky, reitera la defensa de que, (i) toda actividad humana es mediada por el instrumento (representado, ahí, por la palabra como signo); (ii) las acciones del individuo en una actividad son orientadas por el instrumento (por lo tanto, por el signo); (iii) el instrumento (o signo), elaborado socialmente, atribuye una cierta configuración a la actividad, a un sólo tiempo, significándola y materializándola; (iv) la lengua y las demás formas de manifestación del lenguaje son instrumentos, forjados, históricamente, en las interacciones sociales. Para Vygotsky (2008), el aprendizaje solamente se realiza en el ámbito social, a partir de las relaciones interpersonales, o sea, el individuo pasa a adquirir conceptos de lenguaje y los utilizará apenas si mantiene contacto directo con la lengua. 3. El estudio y la noción de los “Géneros Textuales” (Discursivos) 3.1 Concepción de Género Textual 128 Con relación a los estudios del lenguaje, Woginski (2008, p. 59) asegura que éstos “sufren influencias por la teoría de los géneros (textuales, de texto, discursivos, del discurso)”. De acuerdo con Woginski (2009, s/p), “la expresión 'género del discurso' también podrá aparecer como 'género discursivo', así como la expresión 'género de texto' podrá dar lugar a 'género textual'”. De esa forma, verificamos que, Ambas las vertientes se encontraban enraizadas en diferentes relecturas de la herencia bakhtiniana [referencia a Bakhtin y su obra “Estética de la creación verbal”], siendo que la primera – teoría de los géneros del discurso – se centraba sobretodo en el estudio de las situaciones de producción de los enunciados o textos y en sus aspectos socio-históricos [los autores de referencia eran el propio Bakhtin y comentadores como Faraco] y la segunda – teoría de los géneros del texto – en la descripción de la materialidad textual [los autores de referencia eran Bronckart, Adam entre otros]” (ROJO, 2005, p. 185). Los términos “género textual” y “género discursivo” son considerados equivalentes por muchos autores. En la teoría de Mainguenau (2008), por ejemplo, no hay lugar para esa distinción, teniendo en vista ser imposible separar “texto” de “género” y todo texto es el texto de un género de discurso. Según Fairclough (2001), cualquier evento discursivo es considerado simultáneamente un texto, un ejemplo de práctica discursiva y un ejemplo de práctica social. Los géneros del discurso son definidos como “tipos relativamente estables y heterogéneos de enunciados dentro de una esfera de utilización de la lengua” (BAKHTIN, 1952, p. 279). Los géneros son definidos (caracterizados) a partir de su FORMA (estructura), llevando el lector a reconocerlo como tal, así como a partir de su PROPÓSITO COMUNICATIVO (función) y ambos posibilitan su reconocimiento por el lector. Es imprescindible observar que, (...) todos los géneros comportan una o más secuencias tipológicas y son producidos en algún dominio discursivo que, por su vez, se halla dentro de una formación discursiva, siendo que los textos siempre se fijan en algún soporte por el cual atingen la sociedad” (MARCUSCHI, 2008, p. 176). De acuerdo con Bakhtin (1952), los géneros del discurso son caracterizados por tres elementos, siendo el contenido temático, el estilo y la construcción composicional: a) El contenido temático se refiere al contexto de producción y no apenas de lo que trata el texto en un determinado género textual. Aún, es la forma de aquel género tratar un determinado tema; b) El estilo se refiere a lo que generalmente es apuntado como marca enunciativa del productor del género textual, así como el uso de recursos linguísticos; c) La construcción composicional se refiere al modo como es organizado determinado género, así como su característica y secuencia tipológica. 3.2 La cuestión del soporte del Género Textual El soporte de un género textual “es imprescindible para que el género circule en la sociedad y debe tener alguna influencia en la naturaleza del género soportado” (MARCUSCHI, 2008, p. 174), así como “no significa que un soporte determine un dado género, pero que un dado género determine (solicite) un soporte especial” (WOGINSKI, 2008, p. 60). 129 4. Caracterización del Género Textual “letra de música” De acuerdo con Betti (2008, s/p.), Los textos de las canciones, por lo menos en algunos casos, son considerados textos literarios y, como tal, ofrecen al docente una amplia gama de registros, estilos y tipologías con diferentes niveles de dificultades. Presentan, además, el ritmo típico de la lengua desde el punto de vista prosódico, por ejemplo, los textos poéticos colocados en la música, como hizo el intérprete catalán Juan Manuel Serrat con las poesías de Machado y de Hernández. En este caso, la canción es también un recurso importante para introducir los estudiantes en la literatura y en la cultura del país. A partir de la concepción de géneros propuesta por Bakhtin (1952), el género textual “letra de música” posee como contenido temático el tratamiento que es dado a las varias vertientes de la música, o sea, los varios géneros musicales como el rock, el jazz, el sertanejo, la samba, el tango, el reggaeton. Eso significa decir que a partir de un dado género musical es que será posible verificar como un tema es tratado (la forma de aprensión) en aquella determinada “letra de música”, pudiendo ocurrir el registro de aspectos de carácter psicológico como la expresión de sentimientos de amor, así como de aspectos sociales como una crítica, un manifiesto, por ejemplo. Según Costa (2003, p. 107), “la canción es un género híbrido, de carácter intersemiótico [grifo del autor], pues es resultado de la conjugación de dos tipos de lenguajes, la verbal y la musical (ritmo y melodía)”. Aún de acuerdo con el autor, (...) podemos decir que la canción es una pieza verbo-melódica breve, de vehiculación vocal. Esa vehiculación debe encuadrarse en los cánones establecidos por el lenguaje musical de determinada sociedad, esto es, debe obedecer a una escala entonacional y a padrones rítmicos previa y convencionalmente fijados. Como objeto de uso (y de cambio) de una comunidad, naturalmente estas balizas conceptuales de la canción son extremamente flexibles. Con frecuencia, los padrones entonacionales, por ejemplo, son dejados de lado en favor de la letra y del ritmo, como es el caso del llamado rap. En este subgénero, el habla cantada es sustituida o conjugada con un habla rimada y ritmada de acuerdo con ciertos padrones. (...) De cualquier manera, se puede arriesgar que ciertamente la canción no es ni exclusivamente texto verbal, ni exclusivamente pieza melódica, pero una conjugación de las dos materialidades. (...) En el ámbito de la clásica distinción entre oralidad y escrita, la canción se coloca en una frontera instable entre esas dos materialidades, presentando aspectos de ésta y de aquélla, en diferentes grados (COSTA, 2003, p. 107-108). En cuanto a los aspectos del estilo (BAKHTIN, 1952), en la “letra de música” podrán aparecer enunciados en los cuales determinados elementos fraseológicos y lexicales fueron seleccionados con una determinada intención teniendo en vista su destinatario. Por lo tanto, en esa relación dialógica hay la presencia del discurso del otro. Aún, los factores que determinan la construcción composicional (BAKHTIN, 1952) del género “letra de música” son básicamente los siguientes: a) texto largo (pudiendo existir textos más cortos); b) formado por la relación de letra y música; c) organizado en estrofas (pudiendo existir “letras” con una sólo estrofa); d) constituido en versos (pudiendo existir “letras” en prosa); e) caracterizado por rimas (pudiendo existir o no rimas en las “letras”); f) caracterizado por la repetición de versos y refranes. 130 Observamos que, con relación a la “letra de música”, mismo presentada oralmente, depende de la escritura para existir, o sea, se trata de un género textual con características de las modalidades escrita y oral de uso de la lengua, o como diría Marcuschi (2008, p. 191), ése es un género que “representa las mezclas de los géneros en la relación habla-escritura, considerándose las condiciones de producción (concepción) y recepción oral y escrita (aspecto medial, gráfico, o fónico)”. Nos parece bastante interesante esa afirmación de Marcuschi (2008), y es a partir de ella que postulamos la concepción de la “letra de música” como siendo un género de la escritura que, al ser utilizado, o sea, el medio utilizado fue el habla (cantada), apenas se trata de un texto escrito oralizado, pues su concepción fue en el formato escrito. Las letras de música se confunden mucho con los poemas, dada su semejanza en el aspecto composicional. De esa forma, es notable que se hagan asimilaciones del razonamiento común en las cuales adviene, (...) la eterna controversia en los medios literarios sobre si la llamada 'letra de música' es o no poesía, lo que equivale a la cuestión de si ella tiene o no status equivalente a la poesía. (...) Por lo tanto, el simple hecho de ambas, canción y poesía, se utilizaren de la materialidad gráfica en determinados momentos de su producción y circulación no las volvería variedades de lo mismo (COSTA, 2003, p. 112-113). El compositor y experto en análisis de la canción popular Tatit (1998), citado por Costa (2003, p. 116), establece la diferencia entre esos dos géneros textuales, o sea, entre la letra de música (canción) y el poema (poesía), afirmando que él ve dos situaciones, esto es, lo que le llama la atención son “las diferencias entre las letras de las canciones y las poesías, o sea, cuando una cosa es pensada como poesía y cuando es pensada como letra de canción”. Por lo tanto, al discutirse la noción de “letra de música” como un género textual que presupone familiaridad con otro género, en ese caso el “poema”, es notable que, según Costa (2003, p. 121) “se trata de dos géneros que tienen estructural e históricamente fuerte parentesco, siendo tan próximos que es necesario diferenciarlos”. 5. La Transposición Didáctica de Géneros Textuales y la Didactización del Género Textual “letra de música” En el ámbito del proceso de enseñanza de Lenguas Extranjeras (de aquí adelante LE) es imposible no pensarse en la elaboración de actividades a partir de géneros textuales y consecuentemente surge la necesidad de realizarse la adecuación de diferentes textos de diferentes dominios discursivos para el trabajo en el aula, o sea, de esa necesidad de se abordar textos (de una cierta forma auténticos) que revelan situaciones reales de comunicación adviene el proceso de la transposición didáctica. La transposición didáctica (de aquí adelante TD), en una simple definición, es el proceso resultante de la acción de sacar determinado género textual de su dominio discursivo de origen y adecuarlo a las condiciones pedagógicas necesarias para la enseñanza, objetivando el desarrollo de las capacidades de lenguaje. De acuerdo con Cristovão (2009, p. 310): En esa misma línea de raciocinio, en relación al uso de géneros como instrumentos para la enseñanza y eje organizador de secuencias didácticas, es necesario que el conjunto de actividades propicie la transposición didáctica adecuada a los conocimientos científicos sobre los géneros para el nivel de los conocimientos 131 a ser efectivamente enseñados, [grifo mío] de acuerdo con las capacidades de los alumnos, sus necesidades, intereses y objetivos. Conforme Machado (2000, p. 02), la transposición didáctica es comprendida como: (...) el conjunto de las transformaciones que un determinado cuerpo de conocimientos científicos invariablemente sufre, con el objetivo de ser enseñado, implicando, necesariamente, determinados desplazamientos, rupturas y transformaciones diversas en ese conjunto de conocimientos, y no como una mera aplicación de una teoría de referencia cualquier. De esa forma, Woginski (2008, p. 63) al investigar la cuestión de la didactización de géneros textuales acerca de la TD, relata que: A partir de un modelo didáctico, debemos pensar lo qué de hecho los alumnos precisan aprender sobre la acción de lenguaje configurada en el género, así como qué capacidades de lenguaje los alumnos ya desarrollaron en relación al género. Woginski (2008, p. 63) todavía postula “que el uso y el manejo de un género textual, cualquier que sea él, debe provocar en el alumno la curiosidad y la búsqueda por la expresión, atribución y (re)construcción de sentidos con los textos [grifo del autor]”. Con relación al uso de las “letras de música” (canción) en la escuela, esto es, con el objetivo de tornarlas objeto y/o instrumento pedagógico, Costa (2003, p.119-120) afirma que, (...) el profesor debe reconocer su integridad como género autónomo. Eso implica tener en cuenta la dimensión melódica de la misma y todos los riesgos que eso trae, uno de los cuales es la transformación de la clase en un espacio de ocio, más que un espacio de aprendizaje. Ese reconocimiento debe también armonizarse con una conciencia clara de los objetivos del trabajo con la canción en el aula. (...) proporcionar un ejercicio de lectura multisemiótica (...) formar críticos de canciones capaces de percibir los efectos de sentido del texto (...). En la medida en que la canción es vista como un dispositivo enunciativo, es esencial llevar en cuenta elementos relativos a la producción, circulación y recepción y registro del género. En el aspecto de la situación pedagógica, es de extrema importancia que también se piense en los contenidos enseñables a partir de un género y su relación con el currículo escolar, desencadenando la constitución de la organización escolar. De esa forma, el currículo (...) implica, necesariamente, la interacción entre sujetos que tienen un mismo objetivo y la opción por un referencial teórico que lo sostenga. Currículo es una construcción social del conocimiento, presuponiendo la sistematización de los medios para que esa construcción se efectúe; la transmisión de los conocimientos históricamente producidos y las formas de asimilarlos; por lo tanto, producción, transmisión y asimilación son procesos que componen una metodología de construcción colectiva del conocimiento escolar, o sea, el currículo propiamente dicho. En ese sentido, el currículo se refiere a la organización del conocimiento escolar (VEIGA, 1995 apud WOGINSKI, 2009, s/p). 132 Costa y Cristovão (2007) recuerdan que ese género, esto es, la “letra de música”, por ser también oral, posee aspectos fonológicos de la lengua que pueden y deben ser explorados en las clases de LE, bien así las letras de música desvelan un lenguaje auténtico, memorable y rítmico. 6. El uso del Género Textual “letra de música” via Módulos Didácticos Acorde Woginski (2008, p. 64), fundamentado en los estudios de Lopes-Rossi (2006), “el trabajo con los géneros desarrollado a través de proyectos pedagógicos es ideal para mejorar la apropiación de las características típicas de los géneros”. Así siendo, es necesario que eses proyectos pedagógicos sean organizados en Módulos Didácticos (de aquí adelante MD), objetivando la adquisición (aprendizaje) de la lengua-blanco y partiendo del género textual como contenido básico de la asignatura de lengua, conforme abajo: a) MD de lectura, en el cual el alumno será llevado a caracterizar el género de estudio y a reconocerlo en la sociedad, teniendo como base una necesidad (o motivo) de producción (de interacción) escrita u oral, bien así discutir y conocer las propiedades discursivas (qué y cómo generalmente es realizada la elección de la infraestructura general de un texto), temáticas (qué generalmente es dicho en esos mismos géneros), estilísticas (qué generalmente es registrado como marca enunciativa del productor de esos géneros, qué es utilizado como recurso linguístico y el análisis linguístico: recursos gramaticales, lexicales y recursos no-verbales) y composicionales (cómo generalmente es organizado ese género, cuál es su característica y su secuencia tipológica) del género seleccionado; b) MD de producción escrita, en el cual alumno y profesor podrán planear la producción y recoger informaciones para la primera versión de la escritura del texto. En la secuencia, revisar y reescribir el texto producido en colaboración (alumno y profesor) y, por fin, la producción final intentando aproximarlo de aquellos géneros que circulan en la sociedad; c) MD de divulgación al público, en el cual alumno y profesor podrán indicar el soporte (medio) para la circulación del género producido, bien así realizar acciones para efectuar esa circulación fuera del aula y, si fuera posible, fuera de la escuela. Acorde Lopes-Rossi (2006, s/p), es importante que (...) todos los elementos que componen el género discursivo, sean ellos verbales o no-verbales, con relación al posicionamiento y al tamaño, como: título, texto, subtítulo, foto, ilustración, gráfico, tabla, indicaciones de alguna información en las márgenes de la página, tipos de las letras (fuentes), colores, recursos gráficos en general, o cualquier otra característica que llame la atención, deben ser observados. Es de gran importancia resaltar que el conocimiento de las características linguísticas del género incluye la “observación del nivel de formalidad del texto, del tono, del vocabulario empleado, de las construcciones frasales, del uso de puntuación y de cualquier otro aspecto microestrutural que llame la atención” (LOPES-ROSSI, 2006, s/p). Por fin, el conocimiento de las marcas enunciativas también deberá ser incluido en la lectura más detallada, la cual permitirá la, (...) identificación de marcas formales del texto, tales como palabras, comillas, verbos, destaques gráficos y otras, responsables, entre muchos aspectos, por la imagen que el enunciador quiere pasar de sí, por la imagen que atribuye al coenunciador, por el tono del texto, por otras voces que el enunciador trae para el 133 texto, por el nivel de comprometimiento que asume con las informaciones (LOPES-ROSSI, 2006, s/p). 7. La concepción de Secuencias Didácticas para la Enseñanza de Lenguas Las Secuencias Didácticas (de aquí en adelante SD) son definidas por Dolz, Noverraz y Schneuwly (2004, p. 97) como “un conjunto de actividades escolares organizadas, de manera sistemática, alrededor de un género textual oral o escrito”. Con relación a la progresión, secuencia didáctica y géneros textuales, Dolz y Schneuwly (2004. p. 51) postulan que “comunicarse oralmente o por escrito puede y debe ser enseñado sistemáticamente”. De esa forma, esa concepción, (...) se articula por medio de una estrategia, válida tanto para la producción oral como para la escrita, llamada secuencia didáctica, a saber, una secuencia de módulos de enseñanza, organizados conjuntamente para mejorar una determinada práctica de lenguaje. Las secuencias didácticas instauran una primera relación entre un proyecto de apropiación de una práctica de lenguaje y los instrumentos que facilitan esa apropiación. De ese punto de vista, ellas buscan confrontar los alumnos con prácticas de lenguaje históricamente construidas, los géneros textuales, para darles la posibilidad de reconstruirlas y de ellas se apropiaren. Esa reconstrucción se realiza gracias a la interacción de tres factores: las especificidades de las prácticas de lenguaje que son objeto de aprendizaje, las capacidades de lenguaje de los aprendices y las estrategias de enseñanza propuestas por la secuencia didáctica. En la secuencia, podemos observar el Esquema de la Secuencia Didáctica (adaptado al español) propuesto por Dolz, Noverraz y Schneuwly (2004, p. 98): Presentación PRODUCCIÓN de la situación INICIAL Módulo Módulo Módulo 1 2 n PRODUCCIÓN FINAL El presente “Esquema” elucida la estructura de una SD, tal cual propuesto por los autores, o sea, Luego de una presentación de la situación en la cual es descrita de manera detallada la tarea de expresión oral o escrita que los alumnos deberán realizar, éstos elaboran un primero texto inicial, oral o escrito, que corresponde al género trabajado; es la primera producción. Esa etapa permite al profesor evaluar las capacidades ya adquiridas y ajustar las actividades y los ejercicios previstos en la secuencia a las posibilidades y dificultades reales de un grupo. Además, ella define el significado de una secuencia para el alumno, esto es, las capacidades que debe desarrollar para mejor dominar el género de texto en cuestión. Los módulos, constituidos por varias actividades o ejercicios, le dan los instrumentos necesarios para ese dominio, pues los problemas colocados por el género son trabajados de manera sistemática y profunda. En el momento de la producción final, el alumno puede poner en práctica los conocimientos adquiridos y, con el profesor, medir los progresos alcanzados. La producción final sirve, también, para una evaluación de tipo suma, que incidirá sobre los aspectos trabajados durante la secuencia (DOLZ, NOVERRAZ y SCHNEUWLY, 2004, p. 98). 134 Postulamos que no necesariamente todos los géneros textuales serán producidos como una actividad de producción final dentro de una SD. Creemos que hay géneros que merecen y deben ser (re)producidos. Sin embargo, hay géneros, como la “letra de música”, en el cual podrán ser presentados apenas los elementos que la caracterizan, pues el objetivo mayor, al proponerse actividades con base en una dada letra de música, es justamente la cuestión de manoseo de ese, bien así el reconocimiento de las marcas enunciativas del productor de aquella letra y la exploración de la infraestructura textual. 8. El Interaccionismo Sociodiscursivo y las Capacidades de Lenguaje La propuesta del Interaccionismo Sociodiscursivo (de aquí en adelante ISD) propuesto por Bronckart (2003) analiza el lenguaje como práctica social, en que las conductas humanas constituyen redes de actividades desarrolladas en un cuadro de interacciones diversas, materializadas a través de acciones de lenguaje que se concretizan discursivamente dentro de un género. La noción de capacidad de lenguaje, según Dolz y Schneuwly (2004, p. 52), pautados en los estudios del propio Dolz y también de Pasquier y Bronckart abarca, (...) las aptitudes requeridas del aprendiz para la producción de un género en una situación de interacción determinada: adaptarse a las características del contexto y del referente (capacidades de acción); movilizar modelos discursivos (capacidades discursivas); dominar las operaciones psicolinguísticas y las unidades linguísticas (capacidades linguístico-discursivas). El desarrollo de las capacidades de lenguaje se constituye, siempre, parcialmente, en un mecanismo de reproducción, en el sentido de que modelos de prácticas de lenguaje están disponibles en el ambiente social y de que los miembros de la sociedad que los dominan tienen la posibilidad de adoptar estrategias explícitas para que los aprendices puedan apropiarse de ellos. Complementando las definiciones de cada una de las capacidades de lenguaje, Cristovão (2007, p. 12-13) describe que, Las capacidades de acción posibilitan al sujeto adaptar su producción de lenguaje al contexto de producción, o mejor, a las representaciones del ambiente físico, del estatuto social de los participantes y del lugar social donde se pasa la interacción. De esa forma, las representaciones de la situación de comunicación tienen relación directa con el género, ya que el género debe estar adaptado a un destinatario específico, a un contenido específico, a un objetivo específico. Las capacidades discursivas posibilitan al sujeto escoger la infraestructura general de un texto, o sea, la elección de los tipos de discurso y de secuencias textuales, así como la elección y elaboración de contenidos, que surgen como efecto de un texto ya existente y estímulo para otro que será producido. Las capacidades linguísticodiscursivas posibilitan al sujeto realizar las operaciones implicadas en la producción textual, siendo ellas de cuatro tipos: las operaciones de textualización, siendo ellas la conexión, cohesión nominal y verbal; los mecanismos enunciativos de gestión de voces y modalización; la construcción de enunciados, oración y período; y, finalmente, la elección de ítems lexicales. De esa forma, podemos esquematizar las capacidades de lenguaje de la siguiente manera: a) Capacidades de ACCIÓN: la movilización de representaciones en relación al contexto de producción del texto: a) ¿Quién produjo el texto?, b) ¿Cuál es su objetivo?, c) ¿Cuándo fue producido?, d) ¿Dónde fue divulgado (publicado)?, e) ¿Quién es su público potencial?; 135 b) Capacidades DISCURSIVAS: la organización general del texto (contenidos temáticos y secuencias tipológicas): a) ¿Cómo los contenidos son presentados en el texto?, b) ¿Cuál es la organización textual general?, c) ¿Cuál es la forma (layout) del texto?, d) ¿Cuál es (cuáles son) la(s) secuencia(s) presentada(s)?; c) Capacidades LINGUÍSTICO-DISCURSIVAS: los mecanismos de textualización (cohesión verbal: articulación de los diferentes tiempos verbales; cohesión nominal: procesos de referenciación interna, como retomadas nominales y pronominales) y los mecanismos enunciativos (voces: varias formas del discurso relatado - discurso directo, indirecto, etc.; modalizaciones: verbos o elementos modales expresando posibilidad, probabilidad, certeza, duda, etc.). 9. Consideraciones Finales Observamos la importancia de la elaboración de actividades que posibiliten al alumno la apropiación de las prácticas discursivas de la lengua: lectura, oralidad y escritura. Según Bakhtin (1952), el individuo primero define su propósito, para entonces decidir el género textual que utilizará. En lo que dice respecto a la práctica de la lectura, observamos que el papel primordial de la utilización de los géneros textuales en el aprendizaje de LE torna la adquisición del conocimiento más significativa y más próxima de las prácticas sociales con las cuales el alumno interacciona. De esa forma, Foucambert (2008, p. 25) postula que “no se puede más olvidar que, al aprender el mecanismo de la lectura, se conquista también un instrumento de comunicación”. Con relación a la práctica de la oralidad, percibimos la necesidad de oportunizar al alumno percibir su función social, en la cual el propio alumno utilizará los diferentes géneros de acuerdo con sus propios intereses. Las condiciones de la producción escrita y el uso de variados géneros textuales desarrollarán en el alumno, (...) la posibilidad o necesidad de usar la lengua escrita como forma de comunicación, de interlocución en situaciones en las cuales la expresión escrita se presente como una respuesta a un deseo o una necesidad de comunicación, de interacción, y que el alumno tenga, pues, objetivos para escribir y destinatarios (lectores) para quienes escribir (SOARES, 1999 apud WOGINSKI, 2008, p. 63). Por último, es de extrema importancia que se (re)piense la enseñanza de LE a partir de la noción de géneros textuales, pues acorde Dolz y Schneuwly (2004, p. 51) los géneros constituidos como “instrumentos de mediación de toda estrategia de enseñanza y el material de trabajo” son condición necesaria para la enseñanza de la textualidad. Por lo tanto, cabe resaltar la fundamentación de Dolz y Schneuwly (2004, p. 51) a respeto de los géneros textuales, pues cuando los analizamos, sus características nos fornecen una “primera base de modelización instrumental para organizar las actividades de enseñanza que esos objetos de aprendizaje requieren”. Referencias BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1952. p. 279-326. BETTI, S. La canción moderna en una clase de E/LE. In: Cuadernos Cervantes. Año XII, 2008. Disponible en: <http:www.cuadernoscervantes.com/art_50_cancion>. Accedido en: 20 jun. 2008. 136 BRONCKART, J. P. 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Romano Berejuk, actualmente profesor de Lengua Española del Centro Universitário de União da Vitória (UNIUV), União da Vitória (PR). 138 RELATOS DE ENSINO/ APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESPANHOLA: IDENTIFICANDO CRENÇAS Graciele LUKASAK48 (G – UFPR) Ana Josefina FERRARI49 (UFPR) Resumo Pesquisa com professores do ensino fundamental séries finais, sobre ensino/aprendizagem de língua espanhola, através de relatos de suas experiências vividas na escola e cursos de idioma. Os resultados foram obtidos através de seus relatos de como aconteceram suas aulas de espanhol, quais eram suas relações com o idioma e de que maneira isto influenciou na sua aprendizagem. A maioria dos entrevistados estudou em escola pública, fator que segundo eles determinou a baixa qualidade de ensino em contraponto ao ensino da escola particular. Citaram que a metodologia adotada em suas aprendizagens era de repetição e memorização e mesmo assim gostavam de estudar a língua. Com a análise dos relatos pode-se concluir que a educação na rede pública de ensino esta desacreditada e há uma grande necessidade de se repensar as metodologias adotadas no ensino de língua estrangeira, tornando o aprendizado mais interessante e assim passar a ser vista não só com uma oportunidade de mercado de trabalho. Palavras–chave: Educação. Crenças. Metodologia de ensino. Resumen Investiga con profesores de la enseñanza fundamental series finales, sobre enseñanza/aprendizaje de lengua española, a través de relatos de sus experiencias vividas en la escuela y cursos de idioma. Los resultados fueron obtenidos a través de sus relatos de cómo sucedieron sus aulas de español, cuáles eran sus relaciones con el idioma y de qué manera esto influenció en su aprendizaje. La mayoría de los entrevistados estudió en escuela pública, factor que según ellos determinó la baja calidad de enseñanza en contrapunto a la enseñanza de la escuela particular. Citaron que la metodología adoptada en sus aprendizajes era de repetición y memorización y aún así les gustaba estudiar la lengua. Con el análisis de los relatos se puede concluir que la educación en la red pública de enseñanza esta desacreditada y hay una gran necesidad de repensarse las metodologías adoptadas en la enseñanza de lengua extranjera, haciendo el aprendizaje más interesante y así pasar a ser vista no solo como una oportunidad de mercado de trabajo. Palabras–clave: Educación. Creencias. Metodología de la enseñanza. 1. Introdução O ensino/aprendizagem da língua espanhola passa por diversas crenças. Estabeleceu-se, ao longo do tempo, a idéia de que o Espanhol é um idioma de fácil compreensão e “domínio”, pois se assemelha bastante à nossa língua materna, o português. Esse senso comum é fortalecido pela idéia de que o conhecimento simples dos falsos cognatos (palavras parecidas, que existem nos dois idiomas, mas que apresentam significados diferentes) seriam o suficiente para o estabelecimento de um 48 Graduanda do curso de Linguagem e Comunicação da Universidade Federal do Paraná Setor Litoral, E-mail: [email protected] 49 Professora do curso de Linguagem e Comunicação da Universidade Federal do Paraná Setor Litoral, Email: [email protected] 139 dialogo claro. No entanto, nenhuma língua é transparente, sem distorções. Se a comunicação entre pessoas que tem a mesma língua materna já apresenta ruídos e conflitos de compreensão, há a possibilidade muito maior de desentendimento num dialogo entre pessoas que não detém o conhecimento de certo idioma. A partir daí iniciou-se um estudo em torno de um tema específico: “as crenças sobre aprendizagem de línguas estrangeiras”. “[Crenças] cobrem todos os assuntos para os quais ainda não dispomos de conhecimento certo, dando-nos confiança suficiente para agirmos, bem como os assuntos que aceitamos como verdadeiros, como conhecimento, mas que podem ser questionados no futuro” (DEWEY, 1933, p. 6, apud BARCELOS, 2004, p. 129) Muitos professores querem aprender a falar e escrever em espanhol para poder ensinar. Esta é (pré) ocupação ansiosa de como atingir a proficiência é normal e vincula-se com o tema proposto por ser este sentimento atrelado as crenças que eles devem tomar consciência que existem. Saber lidar positivamente com as crenças que aparecerem no aprendizado e posteriormente quando já “fluentes”, faz parte do dia a dia docente. Se fosse perguntado: “O que você acha mais importante para ser professor de espanhol?” as respostas com certeza não trariam a importância de se conhecer as crenças e mitos na aprendizagem, mas conteriam várias delas. E talvez a crença de que o “domínio” da língua somente seria suficiente para ser um professor de língua estrangeira, como o caso de pessoas que moraram anos no exterior, que “dominam” a língua e por isso somente são “professores” seria uma resposta frequente. Por isso toda introdução numa trajetória deve ser feita com propostas que contextualizem, preparem o “terreno” para uma atuação/ação em que conhecer e identificar características sociais e individuais através das crenças é um primeiro passo importante. “(...) entendo crenças como uma forma de pensamento, como construções da realidade, maneiras de ver e perceber o mundo e seus fenômenos, construídas em nossas experiências resultantes de um processo interativo de interpretação e (re)significação. Como tal, crenças são sociais (mas também individuais), dinâmicas, contextuais e paradoxais” (BARCELOS, no prelo apud BARCELOS, 2006, p. 151). 2. Conceituando crenças Definir o termo crença é algo bem difícil. Pode-se definir como opiniões que alunos e professores têm a cerca do processo de ensino-aprendizagem. Dentro do estudo de Barcelos há várias definições de crenças: “Charle S. Pierce (1877/1958) filósofo americano, definiu crenças como ideia que se alojam na mente das pessoas como hábitos, costumes, tradições, maneiras folclóricas e populares de pensar” (BARCELOS, 2004, p. 129 ). Porém de acordo com Kátia B. Mulik, crenças também são consideradas como verdades que podem ser individuais ou coletivas, construídas nas relações sociais, que norteiam muitas vezes as ações dos indivíduos e em conjunto com as experiências constroem a realidade (MULIK, PUCPR). 140 Barcelos (2004) ressalta a importância de se estudar crenças sustentando que elas exercem papel fundamental no processo de formação de professores. A autora diz que “as crenças podem atuar como lentes através das quais os alunos interpretam as novas informações recebidas durante sua formação”. Isso mostra a importância de os professores estarem conscientes de suas crenças, pois elas afetam diretamente suas ações na sala de aula. É somente por meio da prática reflexiva que essa consciência será adquirida, levando o professor, a saber, explicar por que ensina como ensina. É importante citar uma das definições encontradas nas pesquisas de Barcelos que se enquadram bem nos relatos da pesquisa. Nesse conceito de crença a autora define como: Suposições dos aprendizes sobre seus papéis e funções dos professore e dos materiais de ensino” (HOLEC, 1987, p.152,apud BARCELOS, 2004, p. 130). 3. Apresentação da pesquisa A realização da pesquisa teve como objetivo identificar crenças nas experiências com a aprendizagem do espanhol, sendo que inicialmente eram de pessoas que haviam se formado no ensino médio nos anos 70, porém devido a não encontrar em nossa região entrevistados com estas características, mudou-se o foco da pesquisa para professores de ensino fundamental séries finais. Foram entrevistadas 11 professoras, de idades e áreas de atuação variadas, de três escolas diferentes no município de Matinhos, que através de um relato descreveram como ocorreu seu aprendizado de língua espanhola, qual a relação pessoal com esta língua e onde este aprendizado ocorreu. Analisando os relatos a diversas crenças e algumas são comuns entre algumas entrevistadas. Ao identificar essas crenças notou-se que eram positivas em algumas entrevistadas e negativas em outras, devido à faixa etária por consequência a época em que estudaram, ou relatos que desvalidavam ambas. Algumas entrevistadas sempre estudaram em escola pública, porém acham que se aprende mais em escola particular, que é a mesma opinião de outra que sempre estudou em escola particular e também pensa que é onde se aprende mais, porém duas das professoras em questão sempre estudaram em escola pública, com um diferencial de ser em uma época diferente dos demais, em que a escola pública era melhor, a escola particular era para alunos que não passavam no teste para acesso á escola pública. Algumas professoras concordam que a vontade do professor em preparar e aplicar uma boa aula é o que determina o rendimento do aluno, independente da época ou da instituição ser pública ou privada. Outra característica importante deste trabalho foi à relação que as crenças de aprendizagem das entrevistadas com as próprias crenças, que se ouvi, como por exemplo, a afirmação da deficiência da rede pública de ensino em contraponto ao ensino privado, que por ser pago é melhor. Com a análise das respostas é de extrema importância aprender a identificar características do grupo em questão, para ligá-las a aspectos comuns individuais e institucionais e assim teorizar para compreender estes aspectos e produzir opinião para usar na prática. (...) nossas crenças têm um papel importante - elas são hipóteses que nós testamos e avaliamos e que levam (ou não) a mudanças em nossas ações. Essa adaptação contínua é direcionada e adequada a cada contexto 141 específico onde cada pessoa vive (CAMPBELL, 1995 apud BARCELOS, 2006, p. 150) 4. Metodologia da pesquisa Participaram da pesquisa 11 professoras de 5º a 8º série, sendo que 4 lecionam na Escola Estadual Mustafá Salomão, no balneário de Currais em Matinhos, 4 no Colégio Paulo Freire, no balneário de Praia de Leste em Pontal do Paraná, 1 no Escola Estadual Abigail dos Santos Corrêa no balneário Riviera em Matinhos e 2 professoras são aposentadas. Uma das professoras já aposentada não é moradora da região, reside no estado do Rio Grande do Sul. As áreas de atuação são bem variadas (português, inglês, espanhol, ciência e geografia), com idades entre 24 e 67 anos e 10 das entrevistadas estudaram em escola pública e apenas 1 em escola particular ( toda a sua formação). Ao chegar às escolas para solicitar a participação de alguns professores a conversa foi direcionada aqueles que estavam em hora/atividade, por isso houve essa variação de áreas de atuação. Todas as entrevistas ocorreram informalmente, isto é, durante uma conversa, relatavam como aprenderam o espanhol e seu contato com o idioma, de que forma os professores aplicavam o conteúdo, onde esse aprendizado ocorreu e o que mais quisessem falar, enquanto isso era feito as anotações e assim montar um relatório. É importante ressaltar que por estarem em hora/atividade, não dispunham de muito tempo, por isso as entrevistas foram breves e focadas, cada uma durou em média 10 minutos, algumas falaram menos, principalmente as que não têm uma boa relação e conhecimento do espanhol, mas também tiveram casos que a entrevista fluiu muito bem, a professora sentiu muito prazer em relatar sua experiência enquanto aluna. A realização da pesquisa dividiu-se nas entrevistas e posteriormente em dados para a análise e formulação do relatório. O momento da análise dos dados foi dividido em três momentos, a saber: ler, analisar os dados e a enumeração das crenças que eram identificadas em cada relato. O interessante nesta situação foi constatar que as maiorias das crenças listadas eram semelhantes as que fazem parte de pessoas tiveram um contato com uma língua estrangeira. Após as crenças terem sido relacionadas, e agrupadas por semelhanças, com a finalidade de relacionar as crenças com as características das entrevistadas, exemplo: a crença que estudar em escola pública seja o fator que define a falta de aprendizado, foi citado por varias professoras, por isso todas que fizeram esta citação foram agrupadas para analisar suas características, principalmente se estudavam em escola pública ou particular e assim entender melhor essa afirmação. Com base nessas análises, foi formulado um relatório com todos os dados citados acima, para facilitar a montagem deste trabalho. 5. Resultados da pesquisa Com base na análise dos relatos, foram listadas varias crenças citadas pelas professoras. É bom dizer que muitas dessas crenças que aqui estão sendo tratadas, não são reconhecidas como tal diretamente por elas, muitas vezes expressa-se opiniões e como neste caso relata-se experiências, mas não se tem consciência de que estes argumentos são na verdade crenças de aprendizagem, em nenhum momento foram pedidas que relatassem suas crenças e sim que o relato fosse a respeito de sua aprendizagem de língua espanhola ou estrangeira. Um fator importante na análise da pesquisa foi detectar que das 11 entrevistadas, 6 gostavam de estudar espanhol e 5 além de não gostar, relacionaram com sofrimento e frustração e citaram como causa os professores e a metodologia da aula. 142 Variadas foram às crenças identificadas nas narrativas como as seguintes: 5.1 Crenças relacionadas a materiais didáticos e metodologias adotadas: Das entrevistadas a maioria citou que eram poucos os materiais didáticos utilizados pelos professores; as metodologias adotadas quase sempre eram baseadas na repetição. Podemos aqui fazer um relação com o texto lido “crenças sobre aprendizagem” (Barcelos, 2004) que em sua pesquisa cita a forma em que o aprendiz de língua era visto dentro de cada movimento: “Mímico (anos 50): os aprendizes imitavam o comportamento linguísticodo professor, em um processo de formação de hábito.” (BARCELOS, 200, p. 126) Crenças: não se aprendeu espanhol por que não tinha material didático; com música se aprende mais fácil; espanhol se aprende ouvindo; aprender espanhol é questão de prática; escrevendo e falando só na língua alvo se aprende mais; aprendizado por métodos de imersão são mais eficientes. 5.2 Crenças relacionadas à instituição de ensino: É bem comum se ouvir falar que em escolas particulares ou cursos de idiomas a aprendizagem é mais eficiente que a rede pública de ensino, que é falha e ineficiente. Nos estudos de Barcelos, ela já havia constatado esta realidade quando realizou sua pesquisa com alunos universitários do curso de Letras: “Nas narrativas de alguns alunos foi possível perceber que eles concebem a escola pública e o curso de idiomas como lugares dicotômicos. Em um é possível aprender. Em outro, não. Desta forma, eles confirmam também um discurso presente em nossa sociedade que coloca sempre o ensino escola pública em comparação com a “qualidade dos cursos de idiomas da iniciativa privada” (OLIVEIRA; MOTA, 2003, apud BARCELOS, 2006, p. 155) Crenças: quem estuda em escola particular aprende mais; escola pública é banalizada, pois cobra menos do aluno, é ineficiente; A escola pública não pode exigir muito do aluno, se tratando de língua estrangeira. 5.3 Crenças relacionadas a professores: Com relação a professores, a opinião das entrevistadas ficou dividida. E assim como citado anteriormente, esse é um fator determinante para se gostar ou não do idioma e é o principal fator para a não aprendizagem. Crenças: ensino eficiente depende do professor, não importando a instituição; 143 não aprendeu o idioma, pois não gostava do professor; a professora não motivava os alunos a aprender uma nova língua. 5.4 Crenças relacionadas a outros fatores: só é necessário aprender espanhol para crescimento profissional; quando não se gosta de espanhol não se aprende. 6. Conclusão Esta pesquisa fez refletir muito a respeito do ensino e aprendizagem de língua estrangeira. E muitos dos conceitos que se identificou nos relatos das entrevistadas vieram a confirmar as próprias crenças já existentes em senso comum. Houve também muita semelhança entre os resultados obtidos na pesquisa com os estudos de Ana Maria Ferreira Barcelos (2004, 2006). Em geral, o resultado da pesquisa aponta para a diferenciação gritante que há entre escola pública e privada, sendo a primeira, sinônimo de fracasso e deficiência e a segunda como um lugar especial, fonte de aprendizado concreto. Barcelos (2006) em seu estudo diz que para os alunos as experiências de aprendizagem em escola pública foram ruins e citou como fatores responsáveis, os trabalhos pedagógicos, a desmotivação dos alunos, a falta de formação e experiência dos professores. Ainda falando a respeito da qualidade do ensino da rede pública, é muito importante ressaltar que duas das professoras mais experientes que foram entrevistadas, concluíram o ensino médio nos anos 70. E relataram que o ensino nas escolas públicas era bem diferente de hoje, muito valorizada, só estudava em escola particular aqueles alunos que não conseguiam passar na pública, os pais tinham que pagar para passarem. O motivo citado por elas para esta valorização era que existia muito mais cobrança para com os alunos. Para se matricular na 5º série, o aluno precisava fazer um exame admissional dificílimo. Aqueles que não acompanhavam os estudos ficavam para 2º época, em que o aluno estudava por conta própria nas férias e fazia uma prova antes das aulas começarem, se não fossem bem na prova tinha que refazer o ano todo. A desqualificação que existe em relação à escola pública de hoje não era o que ocorria há 30 anos, assim relatadas por estas professoras. A questão de metodologias de ensino também foi uma das questões abordadas nos relatos, em que relacionam a deficiência na aprendizagem e forma que o professores conduzia as aulas. Falta de interatividade e aulas monótonas foram citadas, bem como métodos de repetição exaustiva, a falta de estímulos por parte dos professores. Assim relacionar o fato da qualificação profissional, reconhecida pelas professoras entrevistadas como não sendo suficiente para uma boa aula, não bastando somente ter uma licenciatura, mas também é necessário vocação, para que haja empenho por parte dos docentes no ensino de língua estrangeira, bem como em qualquer área de atuação. Podemos ainda citar algumas questões abordadas por nossas entrevistadas, tais como a relação entre o idioma e a qualificação profissional, em que saber falar bem uma língua estrangeira é significado de boa colocação no mercado de trabalho. Com base nesta colocação é possível relacionar com o que diz Barcelos ao afirmar que “o curso de idiomas é visto pela maioria dos alunos como um investimento, como o lugar ao qual a possibilidade de acesso é comparada a ganhar na loteria (...)” (BARCELOS, 2006, p.159), e ainda que este “investimento” é necessário, pois serve de motivação para o aluno, que em sua maioria busca nestes cursos formação para conseguir emprego melhor. 144 Outra colocação importante é a aprendizagem condicionada à motivação, ou seja, quando não se gosta é muito difícil aprender uma língua. De forma geral, é uma regra que é válida para o ensino de qualquer língua. Esta pesquisa foi muito relevante para a minha caminhada e formação, por isso vejo este começo como adequado no sentido de que toda introdução numa trajetória deve ser feita com propostas que contextualizem, preparem o “terreno” para uma atuação/ação em que conhecer e identificar características sociais e individuais através das crenças é um primeiro passo importante. Referências BARCELOS, A.M.F. Narrativas, crenças e experiências de aprender inglês. Linguagem & Ensino, Vol. 9, No. 2, 2006 (145 - 175) BARCELOS, A.M.F. Crenças sobre aprendizagem de línguas, Linguística Aplicada e ensino de línguas. Linguagem & Ensino, Vol. 7, No. 1, 2004 (123-156). MULIK, Kátia Bruginski. Crenças de professores em formação sobre o ensinoaprendizado de língua estrangeira. TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) apresentado ao curso de Licenciatura em Letras-Inglês da PUC-PR.(data não mencionada no trabalho). LEI 11.161/05. Disponível em:<http://espanholdobrasil.wordpress.com/2010/02/05/ainclusao-da-lingua-espanhola-no-curriculo-do-ensino-medio> Acesso: 20/04/11 145 Anexo Modelo de material de coleta de dados Pesquisa a respeito da língua espanhola Descreva qual a sua relação com o espanhol. Como ocorreu sua aprendizagem? _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ 146 RELATOS DE EXPERIÊNCIA OFICINAS PIBID 2010 – PROCESSO DE LEITURA Marielly LAUTERT50 (G – UNIOESTE) Ercilia Victoria PEDRAZA51 (G – UNIOESTE) Greice CASTELA52 (UNIOESTE – Orientadora) Resumo No processo de aquisição da língua estrangeira não se pode esquecer a destreza leitora, pois a partir da leitura o aluno pode ampliar seus conhecimentos de mundo, refletir sobre a realidade em que ele está inserido e chegar a importantes conclusões sobre o seu mundo e os aspectos que o compõem. Nesse artigo relatamos a realização de quatro oficinas voltadas para o desenvolvimento da habilidade leitora em Espanhol como Língua Estrangeira (E/LE), realizadas em um colégio da rede estadual de ensino de Cascavel-PR, a partir de nossa participação no Programa institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), da Capes. Nas oficinas realizadas, valorizamos a leitura como um processo de construção de sentidos e a emancipação social desse sujeito leitor, de modo a contribuir para cidadãos críticos e capazes de se posicionar em relação ao que lêem e ao contexto em que estão inseridos. Palavras-chave: Espanhol como Língua Estrangeira. Leitura. Oficinas. Resumen En el proceso de adquisición de la lengua extranjera no se puede olvidar la destreza lectora, pues a partir de la lectura el alumno puede ampliar sus conocimientos de mundo, reflexionar sobre la realidad en que él está insertado y llegar a importantes conclusiones sobre su mundo y los aspectos que lo componen. En ese artículo relatamos la realización de cuatro talleres destinados para el desarrollo de la habilidad lectora en Español como Lengua Extranjera (E/LE), realizadas en un colegio de la red estadual de enseñanza de Cascavel-PR, a partir de nuestra participación en el Programa institucional de Becas de Iniciación a la Docencia (PIBID), de Capes. En los talleres realizados, valoramos la lectura como un proceso de construcción de sentidos y la emancipación social de ese sujeto lector, de modo que contribuyamos para ciudadanos críticos y capaces de posicionarse en relación a lo que leen y al contexto en que están insertados. Palabras clave: Español como Lengua Extranjera. Lectura. Talleres. 1. Introdução A participação no PIBID – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - propiciou a ocorrência de oficinas para ajudar os alunos no ensino de língua estrangeira. As oficinas de leitura foram aplicadas no decorrer do ano letivo de 2010 e continuam neste de 2011 com outros temas que proporcionam o processo educacional da língua estrangeira. No total aplicamos oito oficinas dentro da temática leitura, cada uma baseada em um gênero textual diferenciado, os textos foram extraídos da internet, e nas questões aplicadas houve a preocupação em escrevê-las de forma original, pois futuramente esse 50 Acadêmica do Curso de Letras Português/Espanhol UNIOESTE. Bolsista Capes / PIBID. Email: [email protected]. 51 Acadêmica do Curso de Letras Português/Espanhol UNIOESTE. Bolsista Capes / PIBID. Email: [email protected]. 52 Professora Doutora – Orientadora PIBID/UNIOESTE. 147 material irá produzir uma seqüência didática. Pensando nessa perspectiva, realizaremos uma reflexão em torno ao método de leitura na aprendizagem da língua estrangeira durante a aplicabilidade das oficinas em aulas de espanhol, ministradas no curso, oferecido pelo Centro de Línguas Estrangeira Modernas – CELEM, em um colégio estadual localizado na cidade de Cascavel. A leitura cumpre um papel relevante no processo educacional da língua estrangeira. Ler é muito mais do que decifrar códigos, a leitura vai além da escrita ou da fala, remete à percepção de mundo que nos rodeia. A reflexão acerca da noção de leitura no processo de aprendizado da língua estrangeira auxilia ainda, o aluno no ganho de vocabulário, pronúncia, argumentação, etc. Nas oficinas realizadas, valorizamos a leitura como um processo de construção de sentidos e a emancipação social do sujeito leitor, construindo formadores de opinião. Em nossas oficinas seguimos três modelos de processamento da leitura, apresentados por Leffa(1996) No modelo ascendente, as informações fluem do texto para o leitor, com exercícios de decodificação lingüística, no qual as respostas estarão no próprio texto e podem ser localizadas a partir do enunciado da questão. No modelo descendente, o foco está no leitor e em seu conhecimento prévio. E por último, no processamento conciliador, o leitor interage com o texto e contexto para construir sentidos. Acreditamos, que a leitura é capaz de transformar a perspectiva de quem lê, sendo assim, discutimos a seguir questões sobre a leitura no processo de aprendizagem, e apresentamos resultados a cerca da aplicação das oficinas. Das oito oficinas empregadas, quatro serão retratadas nesse relato de experiência, dentre essas, os gêneros textuais música, conto de fadas, história em quadrinho e reportagem. 2. O processo de leitura A leitura constitui um veículo para a aprendizagem, para o desenvolvimento da inteligência e para a aquisição de cultura. Segundo Bransford y Jonson (1982), o leitor traz para o texto suas expectativas, os conhecimentos que ele já possui sobre a estrutura e conteúdo da linguagem e seus antecedentes culturais para conseguir a construção e interpretação da palavra escrita à medida que é lida. Como indica Maria Helena Martins (1994), o ato de ler permite que as pessoas adquiram consciência de seu papel enquanto indivíduos, consciência de seu papel no grupo social e sobre as várias culturas existentes. A leitura incentiva não somente a fantasia e a criatividade, como também a consciência da realidade objetiva, proporcionando uma postura crítica e mostrando uma série de possibilidades. Dessa maneira, o leitor não somente vai decodificar os sinais do texto, mas também atribuirlhes sentido, considerando as informações presentes no texto e seu conhecimento prévio. Seguindo o pensamento dessa autora (1974), ler significa também, apreender o mundo, dando sentido a ele e a nossa própria existência. Enquanto mediadores dessa experiência, os professores têm o papel de mostrar os caminhos e proporcionar condições para a leitura atenta, dar sentido ao texto, no entanto, implica levar em conta a situação desse texto e de seu leitor, não nos detendo somente no texto escrito, mas aproximando-o a nossa realidade, contextualizando-o. Nessa perspectiva, Paulo Freire (2006) considera que o ato de ler é principalmente um ato político que se dá num ambiente social e cultural, passa pela interação do ser com o mundo e precisa dessa contextualização para fazer sentido, uma vez que se atribui sentido ao texto, e por conseqüência dá sentido ao existir. É dizer, o que se propõe é uma leitura não mecânica, algo que vá além do simples decorar, do 148 simples memorizar por um período curto de tempo, a proposta é que o leitor interiorize e amadureça os textos, que possa refletir sobre as palavras, destrinchar a mensagem do texto, dialogando com ele, transitando com liberdade entre o texto e o contexto. Maria Eugenia Dubois (2006) afirma que a verdadeira leitura requer uma série de operações deliberadas que o leitor realiza a fim de certificar-se da eficácia de sua atividade de leitura. Isso envolve a ação consciente do leitor-escritor que lhe permite controlar a ativação de diferentes estratégias de leitura de acordo ao objetivo das mesmas, o tipo de texto e inclusive seu conhecimento de mundo. Esta autoconsciência lhe ajuda a reconhecer suas próprias dificuldades e escolher meios diferentes para resolvê-las, é dizer, que os problemas da leitura ou da escritura não se solucionam de forma automática. Isabel Solé (1998) divide didaticamente o trabalho de leitura em três etapas: préleitura, leitura e pós-leitura. Seguimos essa divisão na elaboração das atividades aplicadas nas oficinas, comentadas a seguir. 3. Relato das oficinas Neste trabalho relatamos oficinas de leitura com os gêneros textuais, música, conto de fadas, história em quadrinho e reportagem. As oficinas foram trabalhadas valorizando a leitura nos processos de ensino e aprendizagem. O ambiente de interação foi um Colégio Estadual, em turmas de primeiro ano do CELEM (Centro de Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas). Os textos foram analisados e escolhidos não somente observando o caráter didático, são leituras comuns utilizadas na vida diária dos aprendizes. Pensando dessa forma, procuramos aproximar o conhecimento da língua estrangeira ao cotidiano dos alunos. Essa análise foi possível devido à participação no PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência), da Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná) com financiamento da Capes. O projeto prevê o contato de acadêmicos da graduação em letras (Português/Espanhol) com a docência escolar. Desde a primeira aula até a última, o plano de trabalho foi o seguinte: a tarefa de sondar o conhecimento com que os alunos chegavam sobre determinados assuntos, aumentar esse leque alinhando a práticas e a teoria, e ao fim de cada sessão com diferentes gêneros era aplicado um questionário com perguntas de compreensão leitora comentadas durante o percurso das oficinas. Diante destas etapas vinha a correção das atividades. Algumas foram feitas no quadro, outras oralmente. Privilegiamos esse momento para que nenhum aluno fosse embora com dúvida. Procuramos não corrigi-los perante a turma e valorizar qualquer inserção feita pelos aprendizes. Diante desta realidade, nosso trabalho ocorreu da seguinte maneira. A escolha dos textos partiu de um tema que unisse os gêneros escolhidos. Também tivemos conversas com as professoras regentes, avaliando a produtividade dos textos e a necessidade da turma. No primeiro dia de oficina, aplicamos a música Cuéntame un cuento, com o objetivo de introduzir as características dos contos de fadas, próximo gênero a ser utilizado. Para atingir uma leitura emancipadora, demos início à oficina com o processo de pré-leitura, questionando os alunos acerca de seus conhecimentos de mundo. Percebemos que os alunos gostam de ouvir música, atividade rotineira para os mesmo que aprovaram o ritmo. Os conhecimentos dos estudantes atribuídos às discussões foram muito bem vindos, pois conheciam vários contos de fadas e suas características. No caso dessa música, optamos por fazer a leitura, primeiramente, para depois escutar e assistir ao vídeo clipe, para então concluir as discussões com questões de 149 caráter descendente e interacional, valorizando as respostas que estão presentes no texto, e outras que os alunos necessitam repensar o tema e abordar suas opiniões. Ao trabalhar o gênero música é aberto um leque de recursos que podem ser usados para dinamizar o andamento da aula, tais como, vídeo clipe, letra escrita da música e áudio. Fazendo desta maneira com que os alunos trabalhem não somente com a leitura, mas também com a compreensão auditiva e produção oral. Nesse momento nós falávamos em espanhol, e os alunos respondiam em português, mas com o passar das oficinas percebemos que a interação perante a língua tomou um caráter diferenciado. Até a última oficina, os aprendizes já estavam falando em espanhol e nos questionando sobre palavras desconhecidas. Para a segunda oficina, o gênero escolhido foi o conto de fadas. Devido à música, os alunos já conheciam as principais características e a fomentação do conto de fadas. Portanto iniciamos a aula fazendo perguntas aos alunos para sondar o que eles lembravam da oficina anterior. Como todas as oficinas tiveram seus conteúdos interligados, era interessante e necessário esta retomada para a memorização do conteúdo aprendido. Na seqüência questionamos a imagem presente no texto, sendo uma princesa descendo as escadas e deixando cair um de seus sapatos. A imagem foi essencial para que eles mesmos, sem conhecer o léxico cenicienta, identificassem qual seria o conto lido. Após uma conversa sobre a imagem, e o que conheciam da história, contextualizamos o papel da mulher nos dias atuais. Na pré-leitura, nosso objetivo era recordar as ideias e sonhos de infância, com questionamentos sobre as leituras dos contos de fadas, se eram os pais que contavam, qual era o preferido. Assim percebemos que os estudantes falavam a todo o momento e quase sempre em espanhol. No caso, do conto de fadas La Cenicienta, pudemos analisar aspectos do cotidiano dos leitores, fizemos relações com outros contos, tentamos diagnosticar nos alunos o que pensam sobre a tradição dos casamentos, a situação das crianças abandonadas, assim como Cenicienta que não tinha pais. Também refletimos sobre o casamento na atualidade, se traz felicidade, se as meninas sonham em casar-se, entre outras coisas. Depois da leitura temas clássicos e atuais foram discutidos com o grupo como, a mulher na sociedade, o que ela faz hoje, como pensamos o sentimento do amor e se ele é fundamental, os problemas sociais diante de casamentos que não dão certo. Para a fundamentação final dessa oficina, foram respondidos questionários com perguntas descendentes e perguntas que percebam a opinião dos alunos. Na terceira oficina Mafalda, começamos a atividade com uma pré-leitura, por meio de perguntas orais, e assim conhecer alguns aspectos do cotidiano dos alunos, como por exemplo, a família, a boda, etc. No caso da tira Mafalda, contribuímos previamente com algumas informações sobre o contexto histórico- cultural em que Mafalda está inserida, também o porquê da sua maneira de se expressar, de criticar. Isto levou ao aluno a um melhor entendimento do texto, e assim quando realizamos a própria leitura, eles puderam ter uma visão melhor do tira. Foi muito interessante, pois os estudantes já tinham algum conhecimento sobre Mafalda. Logo fizemos os exercícios de compreensão, realizados e contextualizados, prosseguimos para a leitura de interação entre todos, cujos resultados foram discutidos entre todos tendo em conta o conhecimento e a realidade do grupo. Na última oficina foi trabalhada a reportagem, a leitura deste texto promoveu uma boa ferramenta de aprendizagem. Durante a pré-leitura, a identificação do gênero textual pelos alunos foi rápida, frente aos questionamentos em relação ao formato do texto os alunos desenvolveram sua consciência ética frente aos conflitos do mundo atual e citaram algumas reportagens que estavam lendo no momento, ou que tinham lido há alguns dias. Com a leitura do texto Supersticiones y curiosidades sobre bodas, foi 150 possível analisar aspectos do cotidiano dos leitores, ainda na oralidade questões a respeito dos conhecimentos de cada aluno sobre superstições e crenças foram abordados. Com a leitura do texto, puderam concretizar e aumentar seus saberes. Diagnosticar o que pensam os leitores sobre a tradição do matrimônio, foi o papel da leitura no momento interacional. Nessa oficina percebemos a maior interação dos alunos com os oficineiros, sendo o quarto encontro o momento inicial de timidez foi eliminado. Com a leitura de Supersticiones y curiosidades sobre bodas, os estudantes fizeram inúmeras intercessões citaram crenças transmitidas pelos avós, pais. Também deram exemplos de superstições que seguem. Em vários momentos a turma se encontrava aos risos, pelas expressões utilizadas pelos colegas. Outro aspecto interessante dessa oficina foi que a classe se dividiu e aconteceu um debate, metade da turma acreditava em superstições e crenças e outra metade não acreditava. Então por meio de argumentos um grupo tentava convencer o outro. Essa temática no momento da elaboração da oficina não havia sido pensada, mas teve um resultado positivo para a compreensão do texto e o sucesso da oficina, já que os aprendizes conseguiram interpretar a leitura e expressar seus pontos de vista. Diante desta metodologia viu-se que o conhecimento que os alunos obtiveram com a oficina de reportagem, não partiu somente das professoras regentes, mas também de seus colegas que tiveram voz na discussão. Em todas as oficinas empregadas, no processamento da pré-leitura exploramos e analisamos o uso das imagens, nos quatro textos trabalhados, apenas a música não apresentava figuras, porém nos demais gêneros a leitura de imagens foi essencial para interpretação e compreensão, ela aparece como dica do que o texto irá abordar. Durante a aplicação das oficinas sempre que um novo gênero textual era iniciado o gênero trabalhado anteriormente era retomado, assim como, os temas abordados. Como o foco era a leitura e o tempo das oficinas era de apenas uma hora, nos preocupamos na escolha dos textos para que os mesmos não fossem extensos. Desta maneira, a aula não se tornou cansativa e a leitura que era feita pelos alunos não foi um processo cansativo, pelo contrário, os estudantes ficavam eufóricos para chegar a sua vez na leitura. Percebemos que a classe aguardava a nossa chegada ansiosa para a aplicabilidade das oficinas, sempre tinham novidades para nós contar e também contavam sobre comentários feitos junto aos pais dos temas abordados em aulas anteriores. Os alunos aprovaram o material que nós produzimos, eram participativos mostraram que possuíam uma boa noção de pronuncia e interpretação. 4. Considerações finais As oficinas tiveram um resultado positivo para todos os alunos, já que constatamos que houve uma melhora expressiva em relação à habilidade leitora e ao uso da língua espanhola. Os professores conseguiram observar uma melhora na escrita, leitura e conversação dos alunos. A interação deu-se da forma mais agradável possível, e serviu de motivação para os discentes, que gostaram das atividades extras. Para nós, enquanto bolsistas de um projeto de iniciação à docência, essa vivência na escola foi muito importante, pois além da nossa melhora da língua espanhola, atingimos a postura de professor, com o compromisso do planejamento das aulas e preocupação com a elaboração de materiais. 151 Referencias CASTELA, Greice da Silva. O Ensino de estratégias de leitura e a preparação de material para alas de espanhol instrumental. IN: Anais do V seminário de línguas estrangeiras – A formação do professor de língua estrangeira. Faculdade de Letras UFG: Goiânia, 2003. LEFFA, J. Vilson. Perspectivas no estudo da leitura Texto, leitor e interação social. Rio Grande do Sul: UCPEL, 1996. SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6 edição. Porto Alegre: Artmed, 1998. MARTINS, Maria Helena. O que é a leitura. São Paulo: Brasiliense. 1994. ______. O que é a leitura. São Paulo: Brasiliense, 1974. FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. 22 ed. São Paulo: Cortez, 1988. 80 p. DUBOIS, Maria Eugenia. Texto en contexto 7. Sobre lectura, escritura... y algo más. Argentina: Asociación Internacional de lectura, 2006. 152 O COMPUTADOR E A INTERNET COMO FERRAMENTAS DIDÁTICAS NO ENSINO DE LEM-ESPANHOL Priscila do Carmo MOREIRA53 (Rede Estadual) Resumo O presente trabalho propõe uma reflexão sobre o uso do computador e internet no processo de ensino e aprendizagem, especificamente nas aulas de língua espanhola. Devido à crescente utilização do computador e da internet pelos adolescentes e jovens, acredita-se ser de grande importância a mobilização dos professores para viabilizar a utilização de tais ferramentas no processo de ensino e aprendizagem, buscando a conscientização dos discentes para uma exploração proveitosa do computador e da internet para a construção do conhecimento. Para tanto, será desenvolvida inicialmente uma explanação sobre as diferentes modalidades de implantação da língua espanhola nas instituições de ensino médio a partir das determinações legais e posteriormente será apresentada uma revisão bibliográfica sobre a importância do uso do computador e da internet como ferramentas metodológicas. Na sequência, será apresentada uma proposta de atividade para ensino de língua espanhola com o uso do computador e internet como ferramentas metodológicas. Palavras-chave: Ensino de espanhol. Computador e Internet como ferramentas didáticas. Novas tecnologias. Resumen El presente trabajo propone reflexionar sobre el uso de la computadora y de la internet en el proceso de enseñar y aprender, específicamente en las clases de lengua española. Debido a la creciente utilización de la computadora y de la internet por los adolescentes y jóvenes, es de gran importancia la movilización de los profesores para viabilizar la utilización de tales herramientas en la enseñanza, buscando la concientización de los alumnos para una explotación provechosa de la computadora y de la internet para la construcción del conocimiento. Para tanto, será desarrollada inicialmente una descripción sobre las diferentes modalidades de planteamiento de la lengua española en las instituciones de enseñanza media a partir de las determinaciones legales y después será presentado un repaso bibliográfico sobre la importancia del uso de la computadora y de la internet como herramienta metodológica. Enseguida, será presentada una propuesta de actividad para enseñanza de lengua española con el uso de la computadora y la internet como herramientas metodológicas. Palabras-clave: Enseñanza de español. Computadora e Internet como herramientas didácticas. Nuevas tecnologías. 1. Introdução O uso do computador e o advento da internet possibilitaram o acesso ao mundo globalizado, em consequência disto, transformações sociais tem ocorrido inclusive no âmbito da educação. Estas ferramentas possibilitam o acesso a diferentes meios de comunicação, como televisão, jornal, revista, rádio, etc. e ainda a interação em diferentes modalidades de redes sociais. Desde seu surgimento, quando apenas classes sociais privilegiadas tinham o acesso à internet, até os dias atuais a internet tem se popularizado e sua utilização está bastante comum inclusive por pessoas pertencentes às classes sociais B e C. 53 Professora de Língua Espanhola da Rede Estadual de Ensino do Paraná. E-mail: [email protected]. 153 Percebe-se que esta popularização do computador e da internet torna os alunos cada vez mais exigentes quanto às metodologias que envolvem o processo de ensinoaprendizagem; pois no seu dia-a-dia é comum a presença de ferramentas diferenciadas como celular, computador e outros aparatos que são utilizados para diversão e lazer, e muitas vezes acabam atrapalhando o ambiente escolar, quando explorados de maneira inadequada pelos jovens e adolescentes. Devido a essa familiaridade dos discentes com os aparatos tecnológicos, cabe também ao professor dominar tais ferramentas a fim de explorá-las em benefício do processo de ensino-aprendizagem. Porém, pesquisas demonstram que ainda existem barreiras que dificultam a utilização da tecnologia por docentes. Diante disto, este trabalho propõe uma reflexão sobre a importância do uso das tecnologias, especificamente do computador e internet e apresenta uma proposta didática para ensino de língua espanhola mediado pelo uso do computador e da internet, além de outras ferramentas metodológicas. 2. O ensino de língua espanhola No contexto de adaptação à Lei 11.161/2005, no Estado do Paraná, a língua espanhola vem sendo ofertada nas instituições de ensino, ora na grade curricular do ensino médio, ora na modalidade de curso de línguas em contra turno por meio do Centro de Línguas Estrangeiras Modernas (CELEM). Esta última modalidade, em funcionamento há mais de vinte anos no Estado do Paraná, proporciona a oportunidade de oferta de várias línguas estrangeiras em caráter optativo para os estudantes. Como a oferta da língua espanhola na modalidade de CELEM atende aos requisitos da Lei federal, o que ocorreu na maioria das instituições de ensino no Estado do Paraná foi a implantação do CELEM como alternativa para atendimento à legislação. Esta modalidade apresenta várias vantagens, como o número reduzido de alunos para aprendizado de uma língua estrangeira e a carga horária semanal de quatro horas-aula. Porém as dificuldades de falta de material didático e, em alguns casos, de espaço adequado ainda fazem parte da realidade de várias escolas. Para os alunos matriculados no ensino médio no período noturno há ainda a dificuldade de adequar-se aos horários do CELEM, pois a maioria dos discentes trabalha e não tem a disponibilidade para matricular-se em horário que antecede o início das aulas. Desta forma, percebemos que, mesmo atendendo a legislação, muitas vezes a oferta do idioma nas instituições de ensino não está devidamente adequada às necessidades da comunidade local. Estes são apenas exemplos das dificuldades de implantação da língua espanhola nas instituições de ensino, poderíamos levantar muitas outras discussões a respeito do tema, porém este não é o foco deste trabalho. 3. Materiais didáticos no ensino de língua espanhola A escassez de materiais ainda é um obstáculo para o sucesso do processo de ensino-aprendizagem de língua estrangeira, principalmente na língua espanhola, que desde 2005 passa por processos de adaptação para inclusão nas escolas em rede nacional, como demonstrado no tópico anterior. No ano de 2011 as instituições que ofertam o idioma na grade curricular do ensino médio participarão do processo de escolha do livro didático público também para a disciplina de língua espanhola. Isto pode ser considerado um avanço, pois o livro didático pode funcionar como ferramenta metodológica inicial para a expansão de outras formas de aprendizado. O ideal é que o livro seja utilizado como apoio, mas não como única ferramenta didática. 154 3.1 Computador e internet como ferramenta didática Diante desta escassez de material, sendo o ressaltado o livro didático como um dos materiais de apoio ainda mais utilizados na educação básica, o computador e a internet passam a ter um importante papel como ferramenta didática, quando bem explorados nas aulas de LEM-espanhol. Segundo Moran (1997, p. 6) A internet está trazendo inúmeras possibilidades para professores e alunos, dentro ou fora da sala de aula. A facilidade de estar digitando duas ou três palavras nos serviços de busca, encontrar múltiplas respostas para qualquer tema é uma facilidade deslumbrante, impossível de ser imaginada há um pouco tempo. Mencionadas facilidades podem contribuir na formação do cidadão e, principalmente no ensino de LEM, quando pensamos na diversidade de pesquisas que podem ser facilitadas com o uso da internet. A rede de computadores interligada na internet é uma ferramenta presente em nas escolas estaduais do Paraná, sendo que nem todos os profissionais a exploram devidamente. O que se percebe em muitas escolas é que os laboratórios servem para uso do professor, muitas vezes para a simples digitação de atividades, funcionando assim como simples substitutivo de aparatos tecnológicos já ultrapassados como a máquina de escrever ou o retro projetor. Na cultura dos alunos do ensino fundamental e médio ainda não está imbricada a possibilidade e a prática da pesquisa pela internet. Muitas vezes, quando são conduzidos aos laboratórios para pesquisar determinados temas os alunos tentam copiar, na íntegra, textos resultantes da pesquisa por assunto, o que repete a simples prática da cópia de conteúdos que ocorria também na consulta em livros impressos. Além disso, nos deparamos também com a perigosa prática do plágio que, mesmo que às vezes sem intencionalidade, acaba ocorrendo por falta de preparo do pesquisador para a busca de conteúdos disponibilizados na internet e sua devida referência. Faz-se necessário preparar os docentes para a correta exploração dos recursos e ainda a formação adequada destes para a pesquisa na internet. Para Moran (1997, p. 7), um dos objetivos principais no uso da internet para a pesquisa é: Podemos coordenar pesquisas com objetivos, monitorando de perto cada etapa, pedindo que anotem os dados mais importantes e que reconstruam ao final os resultados. É importante sensibilizar o aluno antes para o que se quer conseguir neste momento, neste tópico. Se o aluno tem claro ou encontra valor no que vai pesquisar, procederá com mais rapidez e eficiência. O professor precisa estar atento, porque a tendência na internet é para a dispersão fácil. O intercâmbio constante de resultados e a supervisão do professor podem ajudar muito a obter melhores resultados. Neste contexto fica evidente a importância do papel do professor em sala de aula, para direcionamento da pesquisa e devida exploração da ferramenta como meio para auxiliar no processo de construção do conhecimento. 4. Reconfiguração social diante da tecnologia Observa-se que neste início de século XXI a sociedade cada vez mais tem se organizado por meio de processos comunicativos midiatizados tecnologicamente. Tal afirmativa nos faz compreender o comportamento diferenciado dos jovens e adolescentes no ambiente escolar. Novos modelos são construídos e reconstruídos 155 diariamente a partir do contato com a mídia tecnológica. A rapidez e o excesso de informações recebidas diariamente fazem com que os indivíduos em processo de formação tenham diferentes reações, muitas vezes não correspondendo às expectativas dos agentes formadores. Neste sentido Martín Barbero (2001, p. 43) salienta que: (...) O sentido em que hoje se move a tecnologia não é tanto o domínio da natureza pelas maquinas, mas sim, o desenvolvimento específico da informação e comunicação num mundo como imagem. Faz-se então necessário uma revalorização cognitiva da imagem, e com isso, sua recolocação no campo da educação, já não como mera ilustração da verdade contida na escrita, mas como dispositivo de uma produção de conhecimento específica. Diante desta realidade o professor deve atuar como mediador no contato com a diversidade de informações, tentando direcionar o aluno na busca pelo comportamento ativo e crítico diante dos acontecimentos. O que se percebe é que as notícias causam um impacto passageiro, não havendo posicionamento crítico, característico da era tecnológica, na qual a informação se renova a cada instante. Isto requer uma formação crítica para a construção de valores que permitam ao aluno refletir sobre os acontecimentos ao seu redor e preocupar-se com seu envolvimento como cidadão crítico e participativo dos processos sociais. Quando a escola insere no conteúdo programático o uso da tecnologia como suporte na melhoria do ensino em sala de aula, isto requer um olhar minucioso para que as aulas sejam diversificadas. Para que isso aconteça, os professores precisam reestruturar a sua prática pedagógica, incluindo métodos que lhes proporcionem estudar e avaliar esses novos segmentos informatizados, aperfeiçoando sua pratica de ensinar para orientar adequadamente seus alunos, mudando a sua concepção a respeito do uso do computador e, refletindo sobre suas dificuldades. Neste sentido Almeida (1998, p.51) enfatiza que: A integração do computador ao processo educacional depende da atuação do professor, que nada fará se atuar isoladamente. São necessários o envolvimento e o apoio de toda comunidade para que se estabeleça uma perspectiva comum de trabalho em torno dos objetivos explicitados no projeto pedagógico da escola, o qual dever ser elaborado coletivamente e continuamente revisto, atualizado e alterado segundo os interesses emergentes. É fundamental que o uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC) integre o planejamento escolar, estando disposto no Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola, para que estejam claros os objetivos desta prática. Esta inserção das TIC no planejamento escolar viabilizará o direcionamento do planejamento dos professores nas diferentes disciplinas, incentivando a utilização do computador e internet para desenvolvimento de conteúdos de forma adequada. O computador e a internet, assim como outros aparatos tecnológicos, representam uma importante alternativa para o planejamento metodológico do professor, no entanto, para que isto ocorra, os professores precisam estar devidamente preparados para a correta exploração das ferramentas, cabendo a ele avaliar se tal alternativa irá colaborar ou não para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem. Para Moran (1998, p. 89). Ensinar utilizando a internet exige muita atenção do professor. Diante de tantas possibilidades de busca, a própria navegação. Os alunos tendem a dispersar-se com 156 as imagens e textos que se sucedem interruptamente. Tendem a acumular muitos textos, que ficam gravados, impressos, anotados. Colocam os dados em sequência mais do que em confronto. Copiam os endereços, os artigos uns ao lado dos outros, sem a devida triagem. [...] Ensinar com as novas mídias será uma revolução se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais de ensino, que mantém distantes professores e alunos. Caso contrário, conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem mexer no essencial. Diante da facilidade de despertar o interesse dos alunos com auxílio do uso do computador e da internet, não se pode esquecer de outras ferramentas metodológicas. O elemento principal neste contexto é a integração das TIC com outras tecnologias, como televisão, jornais e revistas impressos, etc. Integrar as novas tecnologias com as técnicas já conhecidas faz parte do perfil do profissional que valoriza o conhecimento adquirido ao longo de sua experiência e, ao mesmo tempo, está aberto a novos conhecimentos e aprendizados proporcionados pelos avanços tecnológicos. 5. O professor e as TIC Um estudo desenvolvido pela UNICAMP em escolas do município de Campinas-SP, entre os anos de 2009 e 2010, demonstra que os professores da rede pública de ensino não se sentem seguros para aplicar a tecnologia na sala de aula. O estudo foi realizado em 27 escolas de Campinas, mas a pesquisadora do Núcleo de Estudos Avançados em Psicologia Cognitiva e Comportamental (Neapsi) da Unicamp, Cacilda Encarnação Augusto Alvarenga, afirma que os resultados da amostra são semelhantes no resto do país. Para Cacilda, “a falta de afinidade dos professores públicos com a tecnologia é comum”. (ODA, Jornal da Tarde, 10/04/2011, São Paulo SP) A opinião dos pesquisadores demonstra que um dos obstáculos para o uso correto da tecnologia no ambiente escolar é a falta de preparo dos profissionais. Ainda segundo Almeida (2003), ao discorrer sobre a preparação do professor para inserção das TIC, deve-se “considerar os professores não apenas como executores do projeto, responsáveis pela utilização dos computadores e consumidores dos materiais e programas escolhidos pelos os idealizadores do projeto, mas principalmente, como parceiros na concepção de todo o trabalho” (ALMEIDA, 2003, p. 10) Diante deste contexto, é importante que o professor possa refletir sobre a realidade de seus alunos, repensar sua prática pedagógica e construir novas formas de ação que permitam, não só lidar com a nova realidade, e sim como também transformála. 6. Uso da Internet e computador nas aulas de língua espanhola Os tópicos acima demonstram como a internet e o computador podem ser aliados do professor no processo de ensino-aprendizagem, vale ressaltar que a maioria dos alunos, já mantém contato com estas ferramentas, porém não sabe explorá-la para construção do conhecimento. Neste panorama, o professor de língua espanhola pode tentar explorar as ferramentas tecnológicas no intuito de despertar maior interesse dos alunos e prepará-los para melhor utilizar estes recursos no processo de aprendizagem. Tratando do ensino de LEM as diretrizes curriculares estaduais para o ensino de língua estrangeira moderna (LEM) propõem o ensino por meio do discurso como prática social: 157 Propõe-se que a aula de Língua Estrangeira Moderna constitua um espaço para que o aluno reconheça e compreenda a diversidade linguística e cultural, de modo que se envolva discursivamente e perceba possibilidades de construção de significados em relação ao mundo em que vive. Espera-se que o aluno compreenda que os significados são sociais e historicamente construídos e, portanto, passíveis de transformação na prática social. (DCE, 2009, p. 53) Neste contexto o ensino de LEM não se dá por meio do ensino de estruturas gramaticais, mas se faz uso da língua alvo para trabalhar temas relevantes para o contexto social no qual o aluno está inserido. “Objetiva-se que os alunos analisem as questões sociais-políticas-econômicas da nova ordem mundial, suas implicações e que desenvolvam uma consciência crítica a respeito do papel das línguas na sociedade”.(DCE, 2009, p.55) Assim, as ferramentas tecnológicas podem auxiliar para que tais proposições sejam colocadas em prática, pois por meio do trabalho com diferentes gêneros textuais pode-se proporcionar o envolvimento dos alunos com assuntos que despertem seu interesse. “Isto envolve a análise e a crítica das relações entre texto, língua, poder, grupos sociais e práticas sociais. Refere-se às formas de olhar o texto escrito, o visual, o oral e o hipertexto para questionar e desafiar as atitudes, os valores e as crenças a ele subjacentes”. (DCE, 2009, p. 58) O trabalho com a Língua Estrangeira Moderna fundamenta-se na diversidade de gêneros textuais e busca alargar a compreensão dos diversos usos da linguagem, bem como a ativação de procedimentos interpretativos alternativos no processo de construção de significados possíveis pelo leitor. Tendo em vista que texto e leitura são dois elementos indissociáveis, e que um não se realiza sem o outro, é importante definir o que se entende por esses dois termos. (DCE, 2009, p. 58) Ao direcionar os alunos para uso da internet o professor pode propor discussões de temas polêmicos, pesquisa de dados, opiniões diferenciadas, notícias e informações por meio de diferentes gêneros textuais que envolvam imagem, som, interação social, etc. Hipertexto vai além do texto. Dentro do hipertexto existem vários links, que permitem acessar outras janelas, conectando algumas expressões com novos textos, distanciando-se assim da linearidade da página. Na Internet, cada site é um hipertexto – clicando em certas palavras vamos para novos trechos, e vamos construindo, nós mesmos, uma espécie de texto. Na definição de Jay Bolter (1991, s/p): “as partes de um hipertexto podem ser agrupadas e reagrupadas pelo leitor”. (DCE, 2009, p. 58) O hipertexto permite conectar-se com informações secundárias que podem ampliar a pesquisa, mas se não for adequadamente direcionado pode também dispersar o estudante do seu foco de pesquisa. Daí a importância da orientação do professor e também do interesse dos alunos pelo tema pesquisado. Além da interação, as aulas mediadas pelo uso do computador e da internet, podem proporcionar atividades que direcionadas à expansão do vocabulário, ao conhecimento de diferentes costumes e culturas, ao aprendizado da pesquisa. Nessa visão, é importante que os alunos tenham consciência de que há várias formas de produção e circulação de textos em nossa cultura e em outras, de que existem diferentes práticas de linguagem no âmbito de cada cultura, e que essas 158 práticas são valorizadas também de formas diferentes nas distintas sociedades. (DCE, 2009, p. 59) Para colocar em prática a proposta de inserção do computador e internet na metodologia de ensino de LEM é preciso que o professor esteja devidamente preparado, tanto para dominar as ferramentas tecnológicas como para selecionar adequadamente os conteúdos a serem trabalhados e orientar os alunos na prática. No ato da seleção de textos, o docente precisa se preocupar com a qualidade do conteúdo dos textos escolhidos no que se refere às informações, e verificar se estes instigam o aluno à pesquisa e à discussão. As características do gênero a que o texto pertence serão evidenciadas no desenvolvimento do trabalhado pedagógico. Os elementos linguístico-discursivos, neles presentes, serão analisados na medida em que colaborem para a compreensão dos mesmos. É importante, ainda, trabalhar com diversos gêneros discursivos – apresentando, também, diferentes graus de complexidade da estrutura linguística. (DCE, 2009, p. 62) 7. Proposta de atividade Estão contidas nas diretrizes curriculares estaduais para o ensino de LEM as seguintes proposições para auxiliarem o professor no planejamento de suas aulas: • Pesquisa: será proposta para o aluno, acerca do assunto abordado. Lembrando, aqui, que pesquisa é entendida como uma forma de saber mais sobre o assunto, isso significa que poderá ser realizada não só nos livros ou na internet. Uma conversa com pessoas mais experientes, uma entrevista, e assim por diante, também serão consideradas pesquisas. • Discussão: conversar na sala de aula a respeito do assunto, valorizando as pesquisas feitas pelos alunos. Aprofundar e/ou confrontar informações. Essa atividade poderá ser feita em Língua Materna. • Produção de texto: o aluno irá produzir um texto na Língua Estrangeira, com a ajuda dos recursos disponíveis na sala de aula e a orientação do professor.(DCE, 2009, p. 68) Sobre a seleção de materiais as diretrizes apontam: Além de descortinar os valores subjacentes no livro didático, recomenda-se que o professor utilize outros materiais disponíveis na escola: livros didáticos, dicionários, livros paradidáticos, vídeos, DVD, CD-ROM, Internet, TV multimídia, etc. A elaboração de materiais pedagógicos pautada nestas Diretrizes permite flexibilidade para incorporar especificidades e interesses dos alunos, bem como para contemplar a diversidade regional. (DCE, 2009, p. 69) A partir do tema discutido nos tópicos anteriores e nas diretrizes curriculares, segue proposta de atividade para o ensino de língua espanhola. A atividade pode ser desenvolvida no ensino da língua espanhola tanto na modalidade CELEM, como nas turmas onde o espanhol seja a língua ofertada na grade curricular do Ensino Médio. Porém o ideal é que seja desenvolvida com alunos do 3º ano do ensino médio ou na faixa etária dos quinze aos dezessete anos, idade em que a maioria dos alunos se prepara para participar do vestibular e, portanto, definir a área na qual irá dar continuidade aos estudos. 159 Tema: Profissões 1ª etapa: o professor propõe um exercício de leitura e exploração de vocabulário a partir da definição de algumas profissões para introduzir o assunto. Ejercicio: Relaciona las carreras con las actividades profesionales descritas abajo: 1) 2) 3) 4) 5) 6) 7) 8) Bibliotecología Arquitectura Nutrición Sociología Geografía Económicas Ciencias de la Educación Psicología ( ) Desempeñar la docencia a partir del análisis de las teorías, de las prácticas y de las interrelaciones educativas con el objetivo de lograr una visión crítica y transformadora de la realidad de los alumnos. ( ) Analizar, comprender y actuar sobre la realidad económica. ( ) Actuar en el campo de la Salud Pública para mejorar la alimentación humana y el mantenimiento de la salud. ( ) Atender servicios de documentación e información generales especializadas. Estudiar el comportamiento y los procesos mentales de los seres humanos. ( ) Analizar científicamente los grupos de instituciones sociales y su interacción. Proyectar edificios y planificar el desarrollo de ciudades y zonas rurales y dirigir su ejecución. ( ) Estudiar las características físicas y climáticas del medio geográfico y de la distribución y actividades del hombre sobre la tierra. 2ª etapa: Na sequência, deve-se trabalhar um texto que fale da importância das carreiras profissionais (Figura 1). Neste momento o professor deve orientar adequadamente para que todos acessem o mesmo endereço eletrônico para que façam coletivamente a leitura do texto sugerido para posterior discussão. Vale ressaltar que o texto sugerido está disponível na internet e abaixo do texto são apresentados links de interesse para aprofundamento da pesquisa. (carrera profesional, motivación, productividad, profesionales, vocación). Sendo que a turma pode ser dividida em equipes para que cada uma apresente a idéia principal de cada termo sugerido no hipertexto, além de reescreverem e apresentarem os argumentos principais apresentados no texto para justificar a importância das carreiras profissionais. Nesta etapa todos os alunos devem participar da leitura do texto e ter acesso aos links indicados, lembrando que a partir da proposta de discussão da importância de dedicar-se a uma carreira profissional e a tarefa de expor os temas relacionados na sequência, todos os alunos deverão empenhar-se durante a aula dedicada à pesquisa para posteriormente expor os resultados. Ao final da leitura do texto, oralmente o professor pode solicitar aos alunos que tentem denominar as profissões representadas pelas figuras na ilustração que acompanha o texto. 160 Figura 1: La importancia de la carrera profesional Me llama la atención como hay profesionales (o profesiones) que desde que empiezan a trabajar tienen muy claro cual es su trabajo y como pueden evolucionar y otros en cambio se pasan la vida dando tumbos y cambiando de trabajo, lo cual a priori supone un volver a empezar y aprender a hacer algo desde cero, cosa que no debe ser muy productiva. Por ejemplo, alguien que decide ser fontanero o electricista habrá estudiado formación profesional o algún curso en las escuelas de oficios y desde muy joven (16 años aprox.) habrá empezado a trabajar. Al principio habrá sido aprendiz o ayudante de otros electricistas y llegado el momento se habrá establecido por su cuenta como trabajador autónomo. Si además esta persona cuenta con cierta ambición y conocimientos se habrá planteado crecer y contratar a otras personas creando una empresa. A esto si que se le puede llamar hacer carrera profesional. Existen otros empleos, como pueden ser los operarios de almacén, trabajadores de cadenas productivas, dependientes en tiendas o cajeros de supermercados, que requieren de pocas habilidades para ejercer su trabajo. Son empleos con mayor rotación de personal porque suelen „quemar‟ bastante. Estas personas pueden haber adquirido ciertos conocimientos técnicos, de atención al cliente, etc. pero en general cuando vuelvan a trabajar en otro sitio empezarán desde cero. Algunas de estas personas siguen así gran parte de su vida y en momentos de crisis encuentran difícil encontrar trabajo. Otras de estas personas deciden estudiar una profesión o carrera para intentar tener un futuro mejor. Luego están las personas que estudian carrera universitaria. Y aquí quería hacer una reflexión bastante crítica. Si uno estudia una carrera es porque quiere adquirir los conocimientos suficientes para ejercer una profesión de nivel medio-alto que le gusta. Se supone que antes de realizar el enorme esfuerzo de estudiar una carrera uno debe tener claro en que quiere trabajar. Pero a diario me encuentro con gente que ha estudiado una carrera universitaria por tener carrera, sin más objetivos ni vocación alguna. Por ejemplo he conocido a ingenieros informáticos que apenas sabían programar. Esto es absurdo y una gran pérdida de tiempo y dinero. Ahora bien, los que estudian una carrera, ejercen su profesión y les gusta se convierten en buenos profesores, médicos, abogados, diseñadores o ingenieros que todo país necesita. Con todo esta reflexión donde quiero llegar a parar es que se estudie lo que se estudie y se trabaje donde se trabaje hay una cosa fundamental, y es la motivación. Es una pérdida de tiempo dedicar años y años a estudiar una carrera si no te va a gustar el trabajo que vas a tener luego. Y no vale la pena ejercer una profesión que no te gusta, se puede hacer por necesidad en un momento dado, pero uno debe intentar estar motivado en lo que hace. Y orientar tu carrera profesional es básico para evolucionar. Si eres fotógrafo y amas tu profesión mejorarás día a día, te formarás e intentarás ofrecer mejores servicios y hacer mejores fotos. Esto es productividad y mejora continua. Si eres un buen mecánico o jardinero también será debido a que has mejorado a lo largo del tiempo. Y si eres un buen médico, abogado o arquitecto, tu y tu empresa creceréis de la mano. Si te gusta tu trabajo intentarás evolucionar, formarte, ser mejor, y esto te llevará a ser mejor valorado, trabajes para ti o para otros. La vocación es vital, y a partir de ahí uno debe orientar su carrera profesional intentando no dar tumbos y giros a cada momento. Otra cosa es que decidas iniciar una nueva andadura en algo completamente diferente a lo que estabas haciendo hasta ese momento. Si lo haces adelante, tal vez acabas de descubrir tu verdadera vocación. Tags: carrera profesional, motivación, productividad, profesionales, vocación Fonte: http://www.pensamientosdigitales.com/2010/02/28/la-importancia-de-la-carrera-profesional/ Acesso em: 12/04/2011 3ª etapa: Uma vez que há uma infinidade de carreiras profissionais, depois de trabalhar o exercício o professor deve fazer um levantamento sobre as áreas de interesse dos alunos para direcionar que os cursos a serem pesquisados sejam de interesse do grupo. Após o levantamento, denominar todas as profissões levantadas pelas opiniões dos alunos, dividir a classe em duplas, ou o número que forma mais adequado para que façam a pesquisa sobre a profissão que lhe for determinada, podendo ser por preferência 161 ou por sorteio no caso de repetição de interesses. A pesquisa sobre a profissão será feita sob os seguintes aspectos: - Descrição da carreira profissional; - Área de atuação e mercado de trabalho; - Instituições de ensino, oferta de vagas e custos na região; - Principais conteúdos/disciplinas que são explorados durante o processo de formação. Os alunos serão encaminhados ao laboratório para uso do computador e da internet, sendo delimitado pelo professor a produção que deverá ser apresentada ao final de cada aula destinada à pesquisa. Ao final da pesquisa concluída deverá ser feito um seminário de apresentação em língua espanhola, no qual os alunos poderão trocar informações sobre as profissões definidas, e ainda produzir o texto de descrição da carreira profissional em língua espanhola. Com o desenvolvimento da atividade proposta, na primeira etapa o professor irá despertar o interesse dos alunos sobre o tema, nas fases seguintes acompanhará os alunos para o desenvolvimento da pesquisa, direcionando a busca pelos dados e a produção em língua espanhola. Ao final, pode ser colocado como proposta complementar a criação de um blog organizado com os dados coletados, no qual os alunos poderão interagir com outros interessados sobre o tema e compartilhar comentários e opiniões. 8. Considerações finais O presente trabalho apresenta apenas uma exemplificação de exploração do computador e da internet para auxiliar no desenvolvimento das aulas de língua espanhola, mas partindo da discussão apresentada espera-se que as reflexões para que estas práticas sejam incluídas no Projeto Político Pedagógico das escolas e, consequentemente, no planejamento do professor que, quando não se sentir preparado para uso das TIC, deve procurar a devida formação para que tais práticas façam parte do seu dia-a-dia de forma tão natural como a utilização do livro impresso. Referências ALMEIDA, M E de. Informática e formação de professores. Brasília: Ministério da Educação, 2000. JORNAL DA TARDE. São Paulo: 10/04/2011. Disponível em: http://www.jornaiserevistas.com.br/jornal/jornal-da-tarde/2011-04-03/19736.html Acesso em: 12/04/2011 MARTÍN – BARBERO, Jesus. Prefácio. In: BACCEGA, M. A. Comunicação e Linguagem Discursos e Ciência. São Paulo: Moderna, 1998. MORAN, José Manuel. Novos caminhos do ensino à distância. Informe CEAD - Centro de Educação à Distância. SENAI. Rio de Janeiro, Ano 1, n. 5, out/nov/dez 1994, p. 1-3. MORAN, José Manuel. Internet no ensino. Comunicação & Educação. São Paulo: CCA-ECAUSP/ Moderna, n. 14, jan./abr. de 1999. p. 17-26. Disponível em: http://www.eca.usp.br/eca/prof/moran/mor.htm Acesso em: 13/04/2011. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da educação básica – língua estrangeira moderna. Curitiba: 2009. 88p. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/diretrizes_2009/out _2009/lem.pdf> Acesso em: 13/04/2011. 162 APRESENTAÇÃO DE UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA O 2º PERÍODO DO CURSO DE ESPANHOL- BÁSICO NO CELEM Viviani Aline Alves GALVÃO54 (CELEM) Resumo Esta oficina tem por objetivo apresentar e discutir o trabalho de elaboração de uma unidade didática para o ensino de espanhol no CELEM, de acordo com a concepção de ensino de línguas em cima de gêneros textuais e orientações oferecidas em muitos cursos de formação continuada nos últimos anos pela SEED/ PR (Secretaria de Educação do Estado do Paraná). Para atingir esse objetivo, apresentaremos alguns conceitos teóricos que embasam o trabalho com gêneros, tais como: a questão da linguagem como instrumento de ação no mundo (BRONCKART, 1999), as condições de produção textual (Bronckart, 1999), o desenvolvimento de capacidades de linguagem (Schneuwuly e Dolz, 2004) e as sequências didáticas como elementos planificadores das atividades a serem desenvolvidas. Em um segundo momento, apresentaremos a sequência didática da unidade em andamento, refletindo sobre o universo de materiais e conteúdos realmente úteis para o professor e o aprendiz. As atividades práticas que serão desenvolvidas possibilitarão também que os participantes vivenciem os procedimentos propostos, para que possam atuar como elaboradores de atividades didáticas adequadas a suas reais condições de trabalho. Palavras-chave: Ensino de Espanhol. CELEM. Gêneros Textuais. SMS. Resumen Este taller tiene por objetivo presentar y discutir el trabajo de elaboración de una unidad didáctica para la enseñanza de español en CELEM, según la concepción de enseñanza de lenguas encima de géneros textuales y orientaciones ofrecidas en muchos cursos de formación continuada en los últimos años por la SEED/ PR (Secretaria de Educação do Estado do Paraná).Para lograr ese objetivo, presentaremos algunos conceptos teóricos que basan el trabajo con géneros, tales como: la cuestión del lenguaje como instrumento de acción en el mundo (BRONCKART, 1999), las condiciones de producción textual (BRONCKART, 1999), el desarrollo de capacidades de lenguaje (SCHNEUWULY; DOLZ, 2004) y las secuencias didácticas como elementos planeadores de las actividades a ser desarrolladas. En un segundo momento, presentaremos la secuencia didáctica de la unidad en marcha, reflexionando sobre el universo de materiales y contenidos realmente útiles para el profesor y el aprendiente. Las actividades prácticas que serán desarrolladas posibilitarán también que los participantes vivan los procedimientos propuestos, para que puedan actuar como elaboradores de actividades didácticas adecuadas a sus reales condiciones de trabajo. Palabras clave: Enseñanza de Español. CELEM. Géneros Textuales. SMS. 1. Referencial teórico Podemos relacionar os princípios do interacionismo sociodiscursivo (ISD) presentes em um texto, considerando as capacidades de linguagem como um conjunto de operações que permitem a realização de uma determinada ação de linguagem, um instrumento para mobilizar os conhecimentos que temos e operacionalizar a aprendizagem. 54 Professora de Língua Espanhola da Rede Estadual de Ensino no CELEM. E-mail: [email protected] 163 E os princípios básicos que embasam este tipo de trabalho segundo Bronckart (1999), são as condições de produção textual e o desenvolvimento de capacidades de linguagem, Schneuwuly e Dolz, 1999, que por sua vez se caracterizam por: capacidades de ação, capacidades discursivas e capacidades linguístico-discursivas. As capacidades de ação possibilitam ao sujeito adaptar sua produção de linguagem ao contexto de produção, ou melhor, às representações do ambiente físico, do estatuto social dos participantes e do lugar social onde se passa a interação. As capacidades discursivas possibilitam ao usuário escolher a infraestrutura geral de um texto, ou seja, a escolha dos tipos de discurso e de sequências textuais, bem como a escolha e elaboração de conteúdos. As capacidades linguístico-discursivas possibilitam ao indivíduo realizar as operações implicadas na produção textual, sendo elas de quatro tipos: as operações de textualização, sendo elas a conexão, coesão nominal e verbal; os mecanismos enunciativos de gerenciamento de vozes e modalização; a construção de enunciados, oração e período; e, finalmente, a escolha de itens lexicais. Portando podemos nos questionar quais as contribuições ao ensino de língua estrangeira presentes em uma abordagem baseada em gêneros textuais e ancorada no interacionismo sociodiscursivo? O professor estará possivelmente encorajando seu alunado a ter uma posição crítica frente aos textos, fazendo-os refletir sobre valores e crenças que estão por trás dos discursos, pois a linguagem pode apresentar significados que vão além do efeito comunicativo imediato. Como diria Marcuschi (2007, p. 09), (...) a contribuição para um melhor conhecimento do uso da língua, partindo do princípio de que são os usos que fundam a língua e não o contrário, falar ou escrever bem não é ser capaz de adequar-se às regras da língua, mas é usar adequadamente a língua para produzir um efeito de sentido pretendido numa dada situação. Portanto é a intenção comunicativa que funda o uso da língua e não a morfologia ou a gramática. Não se trata de saber como se chega a um texto ideal pelo emprego das formas, mas como se chega a um discurso significativo pelo uso adequado às práticas e à situação a que se destina. Essas questões são amplamente compartilhadas pelas DCEs/LE (2006). Em seus fundamentos teórico-metodológicos, ancorados nos pressupostos da pedagogia crítica, do sócio-interacionismo de Vygotsky e do Círculo de Bakhtin, esta discussão parte do ponto que: (...) a escolarização tem o compromisso de prover aos alunos meios necessários para que não apenas assimilem o saber como resultado, mas apreendam o processo de sua produção, bem como as tendências de sua transformação. A escola tem o papel de informar, mostrar, desnudar, ensinar regras, não apenas para que sejam seguidas, mas principalmente para que possam ser modificadas. (DCEs/LE, 2006, p. 28). Por esta razão é que se acreditou no desenvolvimento de um trabalho baseado nos gêneros, uma vez que se entende que os gêneros organizam nossa fala e, através deles, aprendemos a moldar essas falas às formas do gênero. Segundo Bakhtin, “se não existissem os gêneros e se não os dominássemos, se fossem criados sempre pela primeira vez em cada conversa, a comunicação verbal seria quase que impossível” (DCEs/LE, p. 45). Enfim, tornou-se essencial, particularmente para mim, repensar como essas questões estão sendo consideradas durante o processo de elaboração de uma unidade didática enquanto integrante da produção do livro didático para o ensino de espanhol no CELEM ela SEED/ PR (Secretaria de Educação do Estado do Paraná). 2. Apresentação do programa da Unidade – P2 (2º ano) em andamento 164 Título: Ainda não há, mas deve ser algo interessante e provocativo ao aluno. Objetivo: - compreender / refletir sobre o contexto do uso do celular na vida cotidiana; -ressaltar valores culturais implícitos e problematizá-los; - analisar textos midiáticos da esfera eletrônica. Gênero principal: SMS Gêneros secundários: Publicidade, notícia, música e artigo científico Recursos de Língua Mobilizado: abreviaturas, relação de coesão e coerência em mensagens de SMS, vocabulário relativo à avaliação e apreciação, marcadores. Produção Final: Debate regrado. Semana 1 (4 aulas): Compreender / refletir sobre o contexto do uso do celular na vida cotidiana. Ressaltar valores culturais implícitos e problematizá-los, analisar textos midiáticos da publicidade, notícia e artigo científico. Compreensão Oral e escrita sobre SMS Abreviaturas, relação de coesão e coerência em mensagens de SMS Semana 2 (4 aulas): Vocabulário relativo à avaliação e expressões argumentativas. Produção Oral: Debate regrado Semana 1 ¿Cómo usan los jóvenes el celular? a) ¿Tienes un móvil o celular? b) ¿Piensas que el celular es muy importante en la vida moderna? c) En tu opinión, ¿cómo el celular cambió la vida de las personas? ¿Este aparato electrónico puede salvar vidas, convertir más independiente, más libre,... la vida de uno? d) ¿Antes el celular era usado solamente para recibir y hacer llamadas en cualquier lugar? Actualmente, ¿cuáles son las principales funciones del móvil? e) ¿Estás de acuerdo con el uso del móvil en diferentes sitios como iglesias, escuelas, bancos, etcétera? Vamos a aprender algunas palabras relacionadas al celular en las próximas lecturas de esta unidad. Para eso descubre palabras relacionadas a las definiciones y sinónimos. Lee las palabras del recuadro y escribe en tu cuaderno el orden de SUS respectivas definiciones. Debes consultar los cuatro textos a continuación. diseño / desarrollo / invertir / pantalla DEFINICIÓN 1. Crecimiento o aumento de una persona o cosa. 2. Dibujo, especialmente el que sirve como modelo de una cosa para fabricarla después. 3. Aparición no esperada de una gran cantidad de cosas, acontecimientos o personas. 4. Portada de un libro, Cd, Dvd, etc. / ola / seguridad/ carátulas SINÓNIMOS Propagar, estirar Diseño, ilustración Nueva tendencia Máscara o careta. 165 5. Emplear dinero o tiempo en una cosa para Gastar, destinar conseguir un beneficio . 6. Característica de la persona o cosa segura. Protección, certeza 7. Superficie en la que se ven imágenes, como la Proyector del cine, televisión y otros aparatos electrónicos. Lecturas ¡Ojo! Mil millones corresponde en português: “um bilhão”. TEXTO I – 2009: más de 4.000 millones de móviles en el mundo (David Carriola) Hace 10 años Nokia lanzó uno de los móviles que revolucionó el mercado, el 8210, primer móvil que ya incluía la estilización en diseño, con funciones por encima de sus antecesores y competencia. Para ese mismo año algunas marcas se comenzaron a subir al barco de la telefonía móvil, como Ericksson, LG, Samsung, etc. En gran medida se concede este crecimiento al desarrollo de mercados emergentes, en especial a Brasil, China, India y Rusia, que por sí solos cuentan con más de 1.300 millones de móviles. Sin duda alguna, el negocio de la telefonía móvil es uno de los más redituables a través de la historia, con un crecimiento abrumador sobre cualquier otro ambito comercial, y por si fuera poco no se ve fin a este crecimiento e innovación en tecnologías. [...] (Disponível em: <http://tendenciamovil.com/moviles/2009-mas-de-4-000-millones-demoviles-en-el-mundo/gmx-niv20-con58.htm> Acesso em 22/07/2010 Adapatado) TEXTO II – El celular más barato del mundo costará menos de 15 dólares Vodafone nos acaba de presentar su nuevo modelo de celular 150, un dispositivo que costará menos de 15 dólares, además si deseas invertir un poco más, tendrás el modelo 250 por menos de 20 dólares, increíble, pero cierto, ya era hora de tener celulares baratos que solo sirvan para lo que inicialmente fueron creados, realizar llamadas telefónicas. Pero claro, no todo será color de rosa, ya que la batería solo durará 5 horas, Podremos tener 5 horas de conversación continua, incluirán 2 juegos, tendrán pantalla monocromática, e incluso un pequeño LED en la parte posterior. (Disponível em: <http://tecnologia21.com/celular-barato-mundo-costara-15-dolares>) TEXTO III – Preocupación de los docentes La ola de celulares llegó hasta las escuelas argentinas. Los docentes están preocupados y en algunas escuelas ya prohibieron su uso durante las horas de clases. ¿Se debe limitar el uso del teléfono móvil en los menores? Los chicos llevan carpetas, cartuchera y, ahora, el celular. El celular está en todos los aspectos de la vida cotidiana. Más allá de la utilidad, en algunos casos como en el cine o en el banco causa tanta molestias que ya fueron prohibidos. Ahora, la ola móvil llegó a las escuelas primarias y secundarias de Argentina. Los docentes y directivos están alarmados e intentan frenar la estampida. Del otro lado, los padres defienden a sus hijos y dicen que es para la seguridad de los chicos. (Disponível em: <http://www.terra.com.ar/canales/celulares/111/111044.html>) Comprensión textual Contexto de Producción 166 1.Conforme los textos, escribe una ficha en tu cuaderno, informando correctamente sobre cada texto: Género Textual: Autor: Destinatario: Medio de Vehiculación: Contenido: Objetivo: Espacio Social de Producción: Momento Histórico de Producción: Aspectos Linguísticos 2. Encuentra en los textos anteriores: a- 5 Verbos en el Presente de Indicativo b- 4 Verbos en el Pretérito Indefinido c- 2 Verbos en Futuro Imperfecto: d- 1 Adjetivo Posesivo Basado en el vídeo: SMS y los adolescentes http://www.youtube.com/watch?v=-W9PZ_T0yf8 Reflexionando un poco, ¿qué conclusiones podemos sacar con el final del vídeo? Responde a las cuestiones por escrito: 1. ¿Estás de acuerdo con la prohibición del uso del celular dentro de sala de clases? 2. ¿Envías o recibes muchos mensajes por teléfono? ¿cuántas al cabo de cada dia, de la semana y del mes? 3. ¿Conoces las abreviaturas que se emplean en los mensajes de teléfono móvil? 4. ¿Te interesas por las reglas de abreviación que se utilizan en los mensajes de teléfono móvil? 5. ¿Empleas algunas abreviaturas presentadas por el vídeo parecidas cuando escribes mensajes de este tipo en su propia lengua? Da algún ejemplo de abreviación en tu respectiva lengua. Profesor puede entregar contar a tus alumnos que recibiste ayer este mensaje: «sabs q paso ayr? 1 xica wapisima m dio 1 bso. fue gnial! A2.» Y pedir que los alumnos descifren. Analicen el mensaje anterior y su contenido real para que deduzcan. Después, entre todos pueden comentar algunas de las reglas que se ejemplifican en ese mensaje: q = que, 1 = un, una, a2 = adiós. Se aprovecha entero el sonido de las consonantes: g (ge), m (me), b (be), etc El mensaje que dice: «¿Sabes que pasó ayer? Una chica guapísima me dio un beso. ¡Fue genial! Adiós.» Y pedir que los alumnos descifren. Después SMS (Short Message Service) Mensajes cortos codificados, habituales en la comunicación escrita que se realiza a través de los teléfonos móviles. 167 Los sms se han convertido en un fenómeno de masas en los últimos años y muchos de nosotros también nos comunicamos a través de ellos. Este tipo de mensajes está sujeto a pocas normas linguísticas, de hecho rompe con la mayoría de ellas (ausencia de acentos, vocales, artículos, etc.). Sin embargo, estos mensajes están sujetos a otro tipo de limitaciones pues en la mayoría de los teléfonos móviles los mensajes no pueden superar los 160 caracteres. Actividad Vamos a realizar una actividad lúdica cuya finalidad va a ser que aprendan a desenvolverse mejor con el tipo de lenguaje que aparece en estos mensajes, una mezcla de jerga e incluso de jeroglífico para los no iniciados en las normas de los sms. Pasos de la actividad propuesta 1. Utiliza la técnica de la «lluvia de ideas» para que todos señalen en qué situaciones de su vida cotidiana utilizan este tipo de mensajes (para quedar con un amigo, para cancelar o retrasar una cita, para felicitar a alguien, para realizar alguna invitación, etc.). Esta información te ayudará a elaborar diferentes tipos de mensajes. 2. Organiza un grupo de máximo cuatro colegas y lee los mensajes completos (anejo1) Los mensajes están redactados de una forma correcta con todos los signos de puntuación necesarios. Entre paréntesis aparece el número de caracteres empleados. Cada grupo tendrá que modificar el mensaje economizándolo lo máximo posible, es decir, tendrán que volver a redactar el mensaje con el mínimo de caracteres posibles consiguiendo a su vez una completa comprensión. 3. Una vez que todos hayan modificado y reducido los mensajes, pide a un representante de cada grupo que escriba en la pizarra los nuevos mensajes. Compara las diferentes modificaciones que ha hecho cada grupo, resuelve cualquier duda de comprensión que aparezca y finalmente cuenta los caracteres que ha utilizado cada grupo en cada uno de los mensajes. Actividad Complementar 1. A continuación elabore dos o tres mensajes con el leguaje usado en los sms y entrega a tu profesor o profesora. Recuerda que no deben sobrepasar los 160 caracteres que permite normalmente la telefonía móvil. (A un amigo): El sábado celebras tu cumpleaños y quieres invitarle a él y a sus amigos. (A una amiga): Tu amiga está en el hospital porque acaba de tener un bebé. (A tu hermano): A tu hermano le han ascendido de puesto en su empresa. (A tu compañero/a de clase): Vas a llegar tarde para hacer el trabajo en su casa porque te has perdido el autobús. (A tu mejor amigo o amiga): No vas a verlo o verla el fin de semana porque tienes un viaje. 2. Por último, aprovecha y crea un glosario con todas aquellas palabras abreviadas que hayan utilizado (amgs, bso, xa, xq, etc.) y todos los comentarios que hayan ido apareciendo en el desarrollo de esta actividad. 168 3. Elabora una serie de normas útiles para redactar sms. Estas normas tienen la finalidad de ayudar a redactar y comprender sms. Aquí se presentan algunas normas para que puedas guiarte. 1. No existen las tildes. 2. No existen los artículos. 3. El signo de interrogación y de admiración del principio desaparece. Semana 2 Lectura Encuesta: ¿Cómo usamos los móviles? O b jeti vos gen eral e s Lograr obtener información y datos cualitativos en cuanto a cómo se usan los móviles los jóvenes y adolescentes y cuál sería el tipo de móvil más característico de la población encuestada. Conformar un estudio y visualizar, proyectar los datos a partir de los gustos y preferencias de los usuarios en relación con las características y contextos de uso que lideran tendencias en aparatos móviles actualmente en nuestro país. Recu rs os Por parejas dentro de sala de clase, lee las preguntas a continuación a un compañero y escribe las respuestas en tu cuaderno. Datos d e l a en cu est a Nombre: ¿Cómo usamos los móviles? Tipo: Oral y escrito Población: Colegas de clase Cantidad de Preguntas: 14 preguntas Pr egu n tas real i zad as La encuesta está dividida en tres ámbitos. A. Usos generales B. Internet Móvil C. Usuarios sin Internet Móvil A. Uso generales 1. ¿Cuáles son las funcionalidades que utilizas con más frecuencia en tu celular? 2. ¿Cuáles son los 3 atributos que más valoras a la hora de escoger un teléfono móvil? 3. ¿Qué haces con las fotos que tienes en tu celular? 4. Señala las razones principales del porque utilizas mensajes de texto 5. ¿En qué idioma está configurado tu celular? B. Internet Móvil 1. Qué tan importante es para ti el poder conectarse a Internet a través del teléfono móvil? 2. ¿Qué actividades realizas cuando te conectas a Internet desde tu celular? 3. En general, ¿Cómo calificarías tu experiencia de navegación en Internet desde tu teléfono móvil? 4. ¿Sabías que algunos sitios están especialmente diseñados para verse en los teléfonos celulares? 169 5. ¿Te gustaría saber qué sitios son los más accesibles en Internet para tu teléfono móvil? C. Sin Internet Móvil 1. ¿Cuál es la razón principal por la que no accedes a Internet desde tu celular (Internet Móvil)? 2. ¿Qué razón crees que te motivaría para acceder a Internet usando tu celular? 3. Si pudieras navegar por Internet a través de tu celular y asumiendo que las siguientes actividades fueran fáciles de acceder/realizar: ¿cuáles considerarías hacer utilizando Internet Móvil? 4. ¿Qué tipo de páginas web te gustaría visitar a través de tu móvil? (Disponível em: <http://wiki.ead.pucv.cl/index.php/Encuesta:_%C2%BFC%C3%B3mo_usamos_los_m %C3%B3viles%3F> Acesso em 22/07/2010 Adapatado) Comprensión oral: 1. A continuación tienes la letra de música intitulada “El celular” de Daddy Yankee. Léela con mucha atención escuchándola. Después de eso, puedes cantar escuchando otra vez, haciendo los ejercicios a continuación El celular Artista: Daddy Yankee - Disco: El Cartel: The Big Boss Estribillo Quires que te llame, Quires que te llame, Quires que te llame, Quires que te llame. Me pide que yo te llame Me das tu Teléfono Y como nos vamos a ver Si tú no contestas ¡el celular! [x2] Te llame el lunes, te llame el martes, miércoles y jueves también Entre todas las llamadas perdidas, por eso no te llame el weekend. No me gusta molestar,oooo pero te quise llamar Mama mía ma Te voy a dejar un mensaje baby. Usualmente no soy así, pero no lo pude evitar desde que yo vi [...] http://www.sitiodeletras.com/mostrar.php?lid=25259&artista=Daddy%20Yankee&titul o=El%20celular ( Acesso em 22/07/2010 Adapatação) Comprensión lectora Contesta em português y por escrito en tu cuaderno las siguientes preguntas : 1.¿Qué significa em el texto de la canción: quiere que te llame? 2. ¿Qué dias de la semana el muchacho que canta llamó a aguien? 3. Al fin y al cabo ¿el muchacho querría hablar por teléfono con quién? ¿Qué palabras comprueban que realmente el muchacho querría hablar con un hombre o uma mujer? 4. ¿Hay algún fenômeno del lenguaje presente em la letra de canción? Da ejemplos. 170 Expresión oral – tarea Pide a alguien que te llame y llama también a alguien fuera de sala de clase hablando todo en español. Para eso utiliza las expresiones que has aprendido en las últimas clases de como hablar por teléfono. Lectura ¿Le molesta oír hablar por celular? Científicos explican por qué Por Walker Simon | vie 21 may 2010 10:42:51 EDT ¿Alguna vez se ha preguntado por qué le molesta tanto escuchar a alguien hablar por el teléfono móvil? Unos investigadores estadounidenses creen que han encontrado la respuesta. Ya se trate de la oficina, de un tren o de un automóvil, sólo la mitad de la conversión que se escucha por casualidad atrae más atención y concentración que cuando se escucha a dos personas hablar, según científicos de la Universidad de Cornell. "Tenemos menos control para apartar nuestra atención de la mitad de una conversación (o medio diálogo) que cuando escuchamos un diálogo", dijo Lauren Emberson, coautora del estudio que se publicará en la revista Psychological Science. "Los medios diálogos distraen más en realidad y no se puede desconectar de ellos, y esto explicaría por qué la gente se siente tan molesta", dijo en una entrevista. El año pasado, los estadounidenses pasaron 2,3 billones de minutos hablando por teléfonos móviles, según la asociación de comercio inalámbrico de Estados Unidos (CTIA, por sus siglas en inglés), nueve veces más que en el 2000. En todo el mundo, hay unos 4.600 abonados a celulares, según la Unión Internacional de Telecomunicaciones, una agencia de la ONU. El número equivale aproximadamente a las dos terceras partes de la población mundial, lo que deja pocos rincones en el planeta libre de conversadores que dependen del teléfono móvil. China tiene la mayoría de los usuarios de móviles con 634 millones, seguida de India con 545 millones y Estados Unidos con 270 millones, según datos de la Agencia Central de Inteligencia (CIA). Emberson dijo que la gente intenta dar sentido a los fragmentos que escuchan y predecir lo que los oradores dirán a continuación. "Cuando escuchas una conversación a medias, tienes menos información y no puedes predecir tan bien", dijo. "Eso exige más atención", agregó. Los resultados obtenidos por Emberson y su coautor Michael Goldstein se basan en una investigación con 41 estudiantes universitarios que hicieron ejercicios de concentración, como el seguimiento de puntos en movimiento, mientras escuchaban una o ambas partes de una conversación por móvil. Los estudiantes cometieron más errores cuando escuchaban una parte de la conversación que cuando oían el diálogo entero. El estudio demuestra que oír una conversación telefónica afecta a la atención que utilizamos e nuestros quehaceres diarios, incluida la conducción, dijo Emberson. "Estos resultados sugieren que la atención del conductor puede verse afectada por la conversación por el móvil de un pasajero", según el estudio, que recomienda que se lleven a cabo estudios parecidos con simuladores de conducción. 171 (Fuente: http://mx.ibtimes.com/articles/1178/20100521/celular-analisis-hablarescuichar.htmz Acesso em 22/07/2010 Adaptado) Contesta en tu cuaderno. 1. ¿A qué género textual pertenece: reportaje, publicidad, entrevista o artículo científico? 2. ¿Cuál es el mensaje? 3. ¿Ya habías leído algún artículo científico? 4.¿Dónde lo has leído? 5. ¿Sobre qué era? 6. ¿Para qué sirve un texto como este? Lectura complementar para un trabajo final sobre teléfono móvil y los jóvenes: debate reglado en una próxima clase Investiga los temas: 1. ¿Cómo perciben los padres el uso que hacen sus hijos de los móviles? 2. Cada minuto y medio se envían un millón de SMS en todo el planeta. 3. Mensajería instantánea ha dado lugar a frases más sencillas, errores ortográficos, ausencia de puntuación o un vocabulario más simple. 4. Los 10 mandamientos del celular. Reglas de etiqueta en el uso del celular. Consulta reglas de uso para el celular en una revista de tecnologías. Recu rs os En sala de clases, formando un círculo con los pupitres podemos hacer la aplicación preguntas y respuestas para un análisis de resultados y herramientas de visualización. Fin de la primera parte de esta unidad didáctica con previsión para ocho clases. 3. Considerações Finais Devido à ênfase na comunicação oral através de interações na língua alvo e introdução de linguagem autêntica, textos autênticos durante o processo de aprendizagem, somados oportunidade de ajudar os alunos a refletir sobre seu processo de aprendizagem, além da importância das próprias experiências dos alunos como elementos de contribuição para que a aprendizagem possa acontecer. Eu acredito na tentativa de fazer com que a aprendizagem dentro de sala de aula esteja diretamente ligada a situações de conhecimento de gêneros textuais, priorizando o desenvolvimento de capacidades de linguagem. Portanto fica presente há experiência de participar de um processo, ainda que não concluído de elaboração de um livro didático e um ardente desejo que as condições de produção textual e o desenvolvimento de capacidades de linguagem dos nossos alunos aconteçam durante as sequências didáticas para se perpetuar em capacidades de ação. Que todo o esforço e comprometimento do professor e aluno não só tragam benefícios, sucessos e capacidades, mas também satisfação. Referencias PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação Departamento de Educação. Departamento de Educação Básica. Diretrizes Curriculares de Língua Estrangeira Moderna. Curitiba, 2008. 172 PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação Departamento de Educação. Departamento de Educação Básica. Livro Didádico Público de Língua Estrangeira Moderna – Espanhol e Inglês/ vários autores. Curitiba,2006. CRISTOVÃO, V.L.L. O interacionismo sociodiscursivo e o ensino de línguas com uma abordagem com base em gêneros textuais. In: CRISTOVÃO, V. L. L. Modelos didáticos de gênero: uma abordagem para o ensino de língua estrangeira. Londrina: UEL, 2007. P.09-26. Links • • • • • • • • • • http://www8.pr.gov.br/diaadia/educadores/index http://www.espanhol.seed.pr.gov.br/ http://cvc.cervantes.es/didacteca http://tecnologia21.com/celular-barato-mundo-costara-15-dolares http://www.diaadia.pr.gov.br/celem/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo= 55 http://www.terra.com.ar/canales/celulares/111/111044.html http://www.youtube.com/watch?v=-W9PZ_T0yf8 http://wiki.ead.pucv.cl/index.php/Encuesta:_%C2%BFC%C3%B3mo_usamos_l os_m%C3%B3viles%3F http://www.sitiodeletras.com/mostrar.php?lid=25259&artista=Daddy%20Yanke e&titulo=El%20celular http://mx.ibtimes.com/articles/1178/20100521/celular-analisis-hablarescuichar.htmz 173 ANEXO 1 174 DESCRIPCIÓN Y ANÁLISIS LINGUÍSTICO 175 UNIDADES FRASEOLÓGICAS DA ESTRUTURA CONCEITUAL “MORRER” NOS DICIONÁRIOS BILÍNGUES PORTUGUÊS-ESPANHOL/ESPANHOLPORTUGUÊS Fidel PASCUA VÍLCHEZ55 (UEL) Mariana Daré VARGAS56 (PG – UEL) Resumo O presente trabalho visa analisar a presença das unidades fraseológicas da estrutura conceitual “morrer” nos dicionários bilingues português-espanhol/espanhol português. Foi feita uma pesquisa prévia nos dicionários monolíngues de português Aurélio e Houaiss e nos de espanhol DUE e DRAE para conhecer as diversas acepções do lexema “morrer”/”morir” em ambas as línguas; após comprovar as diferenças existentes, foram descritas, desde uma perspectiva teórica, as mudanças léxico-semânticas deste lexema e, finalmente, procedeu-se a pesquisa das unidades fraseológicas nos dicionários bilíngues selecionados para este fim. Promovemos, como conclusão principal do nosso trabalho, a necessidade de criar uma lexicografia bilíngue que resolva neste, como em tantos outros casos, as necessidades dos consulentes de ambas as línguas. Palavras-chave: unidades fraseológicas; lexicografia bilíngue; semasiologia e onomasiologia. Resumen Analizamos en el presente trabajo la presencia, en los diccionarios bilingues portuguésespañol/español-portugués, de unidades fraseológicas que contengan la estructura conceptual de “morir”. Investigamos, en primer lugar, en los principales diccionarios monolingues de ambas lenguas: Aurélio y Houaiss, en el caso del portugués y el DUE y el DRAE, en el caso del español, a fin de conocer las acepciones principales del lexema “morir”/ “morrer”; tras comprobar las diferencias existentes, describimos, desde una perspectiva teórica, los cambios léxico-semánticos de este lexema y, posteriormente, procedimos a la búsqueda de las unidades fraseológicas seleccionadas para este fin. Promovimos, como principal conclusión de nuestro trabajo, la necesidad de crear una lexicografía bilingue que venga a satisfacer en este, como en tantos otros casos, las necesidades de los consultantes de ambas lenguas. Palabras clave: unidades fraseológicas; lexicografía bilingue; semasiología y onomasiología. 1. Introdução No presente trabalho, refletimos acerca da presença do componente fraseológico nos dicionários bilingues português-espanhol/espanhol-português que são publicados em nosso país. Escolhemos, para nossa análise, os verbos “morrer” e “morir”, os quais, na aparente simplicidade em sua equivalência de significado, ocultam notáveis diferenças no uso e têm associadas inúmeras unidades fraseológicas (doravante UF), às vezes equivalentes, às vezes nem tanto. Ao consultar um dicionário monolíngue português de primeiro nível, como o Houaiss ou o Aurélio, descobrimos, no primeiro caso, quinze acepções, vinte e oito 55 Professor colaborador de Língua Espanhola e Gramática da Língua Espanhola da Universidade Estadual de Londrina. Doutorando em Estudos da Linguagem. E-mail: [email protected] 56 Mestre em Estudos da Linguagem. Aluna da Especialização em Ensino de Línguas Estrangeiras na Universidade Estadual de Londrina. E-mail: [email protected] 176 verbos sinonímicos e cinquenta e cinco UF que remetem à acepção principal, a de “perder a vida”; vinte acepções, vinte e sete verbos sinonímicos e sessenta e duas UF, no segundo caso. Isto dá-nos uma idéia da complexidade e da dificuldade de apresentar esta realidade, em toda sua dimensão, dentro de um dicionário bilingue. Similares características apresenta o equivalente em espanhol “morir”. O DUE57 apresenta, juntando as variantes “morir” e “morirse”, um total de dez acepções, vinte e três verbos sinonímicos e sessenta e uma UF; por sua vez, o DRAE58 é menos exaustivo e apresenta “apenas” oito acepções. 2. Equivalências lexico-semânticas entre “morrer” e “morir” A acepção principal, que aparece em primeiro lugar e entendida pela maioria das pessoas, é a de “perder a vida”; assim a encontramos tanto no Houaiss quanto no Aurélio, salientando a ideia de que a vida é um bem que se perde. Neste sentido, a definição oferecida pelos dicionários espanhóis é, como não poderia ser de outra maneira, similar, mas expressa de forma diferente, já que “llegar al término de la vida”, “dejar de vivir”, forma sob a qual é definido o verbo “morir” no DUE e no DRAE, indica o final de um período vivido, salientando a idéia de que a vida é algo que tem fim. A dupla “José Saramago morreu ontem.”/ “José Saramago murió ayer.” é totalmente equivalente. Sem nós abandonarmos esta acepção principal, encontramos uma pequena diferença de matiz em espanhol, associada ao uso pronominal deste verbo, que, no caso, pode causar problemas aos discentes, pois não existe tal distinção em português: Se emplea «morir» y no «morirse» cuando la muerte es «recibida», es decir, producida por un accidente u otra causa violenta: „Murió en la guerra [a mano airada, en el hundimiento del Titánic]‟. En otros casos, se emplea indistintamente una u otra forma (MOLINER, 1998). A segunda acepção apresentada mostra também uma total equivalência e os exemplos escolhidos como ilustração do sentido confirmam isto. Para o português encontramos “perder a força”, “afrouxar (Houaiss): “a tarde morria”; “extinguir-se”, “apagar-se”, “findar” (Aurélio): “A tarde morre tranquilamente”; “terminar una cosa su actividad o su movimiento suavemente” (DUE): “muere el día”. A terceira acepção supõe a primeira divergência de sentidos recolhida pelos lexicógrafos. Para o português encontramos no Houaiss “parar de funcionar (motor, mecanismo, dispositivo, veículo, etc.): “a lancha morreu no meio do lago”. Com este mesmo sentido, no Aurélio, precisamos descer até a décima acepção e figura como brasileirismo. Não achamos, porém, nenhuma acepção com este sentido descrito nos dicionários espanhóis escolhidos para nossa pesquisa (DUE e DRAE), de maneira que não poderíamos usar em espanhol expressões como “el carro/coche murió en la carretera”. Embora seja compreensível, em sentido metafórico, não seria o que um hispanofalante expressaria nessa situação. Aproximar-se do fim de modo lento, geralmente após um período de desenvolvimento, de apogeu; decair, declinar, degradar-se (Houaiss): “aquela civilização morria após séculos de prosperidade”. Não aparece um sentido semelhante nem no Aurélio, nem no DUE, nem no DRAE, mas, pelo sentido, remete ou está relacionada com a segunda acepção. 57 58 Diccionario de uso del español María Moliner. Diccionario de la Real Academia Española. 177 Chegar ao fim de uma trajetória, de um percurso; acabar, finalizar (Houaiss): “o rio morria no mar”; lançar suas águas; desaguar (Aurélio): “O rio morre no Oceano”; terminar, perderse o desaparecer el curso o el trazado de cierta cosa en el sitio que se expresa (DUE): “En este punto muere el curso del río”. Perder (alguma coisa) que se tinha ou que se julgava ter: “morre um pouco a cada dia” (Houaiss); con este sentido de perda, podemos encontrar até três definições diferentes no Aurélio: a) perder o movimento b) perder o brilho; tornar-se menos vivo: “A luz do lampadário entrou a morrer”; c) perder (a planta) a cor e o vigor; estiolar-se. Não se acha uma acepção similar nos dicionários espanhóis, mas o mesmo exemplo da luz que se apaga está inserida na definição segunda do DUE: terminar una cosa su actividad “morir la luz de una vela”; também aparece no DRAE com este sentido: dicho del fuego, de la luz, de la llama, etc.: apagarse o dejar de arder o lucir. Deixar (alguma coisa) de ter existência; extinguir-se “morreu aquela ideia” “suas ilusões morreram” (Houaiss); Não encontramos uma acepção similar nos outros dicionários. A seguir, uma das acepções comuns em todos os dicionários consultados, nem sempre expressa com as mesmas palavras, mas sim com os mesmos exemplos: sucumbir aos poucos, em função de (intensa dor, esp. moral, espiritual); sofrer “morrer de amor, de angústia, de saudade” (Houaiss); atormentar-se em função de (dor física, indisposição, etc.): “morria de calor” “morrer de dor de cabeça” (Houaiss); experimentar em grau muito intenso (sentimento, sensação, desejo, etc.): “morrer de amor, de tristeza, de inveja” (Aurélio); desejar, querer ardentemente: “Morria por saber o segredo da amada” (Aurélio); experimentar violentamente lo que se dice a continuación: “Se muere de ganas de venir, de miedo, de verguenza, de envidia” (DUE); sentir muy intensamente algún deseo, afecto, pasión, etc.: “Morir de frío, de hambre, de sed, de risa” (DRAE). Como acontecia no caso anterior, a seguinte acepção é comum em todos os dicionários consultados: experimentar (forte sentimento) por: “morre(-se) pela mulher com quem casou” (Houaiss); ter grande afeição, grande amor a: “morrer pela namorada” (Aurélio); desear mucho cierta cosa, gustar mucho de ella, o (con menos frecuencia) estar muy enamorado de alguien: “Se muere por una moto, por las fresas, por el fútbol”, “se muere por esa chica” (DUE); dicho de una persona: amar a otra en extremo: “Muere por ella”; dicho de una persona: ser muy aficionada a algo o desearlo vehementemente: “se muere por el cuadro” (DRAE). A seguinte acepção e o exemplo de uso aparecem exclusivamente em dicionários de português: não se realizar, não chegar a acontecer; interromper-se: “a resposta àquele impropério morreu-lhe na garganta” (Houaiss); ficar suspenso; interromper-se: “O grito morreu na garganta” (Aurélio). O mesmo acontece com: renunciar a (alguém ou alguma coisa); renegar: “morreu para o mundo”, “após aquela decepção amorosa, morreu para o amor” (Houaiss) e também com: pagar preço elevado (no mercado informal): “morre quem quiser comprar aquela candonga” (Houaiss). Já o uso referido a despender (dinheiro) [para fazer um pagamento, quitar uma dívida, etc.]: “morreu em 400 reais para consertar o carro” (Houaiss); e a satisfazer uma dívida, pagar: “morrer na conta” (Aurélio), pertencem exclusivamente ao âmbito do português brasileiro, como gíria. Da mesma maneira, existem usos específicos deste verbo em espanhol, os quais não tem eco em português, como, por exemplo: ser dada por no realizada una jugada cuando hay duda sobre quién la ha ganado (DUE); dicho de un lance o de una mano: en algunos juegos, darlo por no ejecutado al no saber quién los gana (DRAE); en el juego de la oca, caer el jugador con su ficha en la casilla 178 de la muerte, lo que supone volver a empezar desde el principio (DUE); dicho de un jugador en el juego de la oca: ir a parar a la casilla donde está representada la muerte, lo que le obliga a volver a empezar el juego (DRAE). Conceito Português Espanhol Perder a vida O soldado morreu com honra El soldado murió con honor Perder a força A tarde morria tranquilamente El día moría lentamente Parar de funcionar O carro morreu na estrada Fim do percurso O rio morre no oceano El río muere en el mar Perda de luz ou brilho A luz da lâmpada entrou a morrer Morir la luz de una vela Perda de sentimento Suas ilusões morreram Se me ha muerto la ilusión Sofrimento físico Morrer de fome Morirse de hambre Sofrimento anímico Morrer de inveja Morirse de envidia Desejo Morrer pela namorada Se muere por ella Interrupção O grito morreu na garganta Renunciar Morreu para o amor Pagar preço elevado Morre quem comprar isso Pagar uma dívida Morrer na conta Jogo de baralho El juego está muerto Jogo da glória Te moriste: vuelve a empezar Figura 1- equivalências léxico-semânticas entre “morrer” e “morir” 3. Mudanças léxico-semânticas As diferentes acepções descritas anteriormente e recolhidas nos dicionários são fruto da análise semasiológica; aliás, os diferentes significados adquiridos ao longo do tempo por uma mesma forma léxica são muito importantes também e são o objetivo da nossa pesquisa: as diferentes maneiras de ser expressar uma mesma estrutura conceitual, um significado; no caso, a primeira acepção, a principal, apresentada sob o lexema “morrer”, em português e “morir”, em espanhol. Falamos, então, em onomasiologia. O conceito básico associado a “morrer”, como já foi dito é a de “perder a vida”. Mas esta é uma realidade triste, causadora de dor, medo, angústia, sofrimento nos seres humanos. Isso fez que o lexema associado a este conceito fosse pejorado ao longo do tempo e virasse o que em termos linguísticos chamamos de “tabu”; ao mesmo tempo, foram surgindo outras formas para se referir ao mesmo conceito, sem usar esse lexema. Surgem, assim, uma multidão de lexemas e unidades fraseológicas abrangentes da estrutura conceitual expressa anteriormente com o lexema “tabu”. É o que chamamos de “eufemismos”. Por exemplo: “bater as botas”, “estuporar-se”, “ir para o Acre”, etc; paralelamente, o lexema “tabu” foi adquirindo significados distintos ao principal, desprovidos da carga negativa subjacente. Por isso temos tantas acepções para um lexema como “morrer”/ “morir”: “morrer de amor”/“morir de amor”; o rio morre no Oceano”/ “el río muere en el mar” etc. Todas estas expressões eufemísticas surgidas, verbos e UF abrangentes do significado principal expresso com o lexema “morrer”/ “morir”, pertencem ao acervo da língua, são muito importantes e usadas no cotidiano da língua. Mas, infelizmente, não costumam aparecer adequadamente nos dicionários bilíngues portuguêsespanhol/espanhol-português. Fizemos, então, uma pesquisa com dois importantes dicionários bilíngues publicados em nosso país, a fim de verificar o modo como foram lematizadas. 179 4. As unidades fraseológicas nos dicionários bilíngues Em dicionários bilíngues, cuja finalidade é possibilitar o ensino e a aprendizagem de uma língua estrangeira (doravante LE), é fundamental que sejam incluídas em sua macro e microestrutura as UF, já que, por meio delas, é possível aproximar-se da competência linguística de um nativo. Olímpio de Oliveira (2005, p. 621) corrobora essa proposição quando afirma que “cualquier obra lexicográfica que quiera cumplir una función didáctica debe suministrar una definición adecuada de estas unidades”. Entretanto, a realidade dos dicionários bilíngues em relação ao componente fraseológico ainda está distante do que seria ideal, porque não há sistematicidade na inclusão das UF. Para Martínez López (2007, p. 65), isso se deve ao fato de que essas obras lexicográficas estão orientadas para o tratamento de unidades monoverbais, não pluriverbais. Olímpio de Oliveira (2005, p. 621), por sua vez, afirma que, devido à natureza dessas unidades léxicas complexas, a descrição semântica delas é complicada e conclui que a práxis lexicográfica é ainda deficiente no que diz respeito a esse aspecto. 5. Apresentação do corpus Nosso corpus é constituído de seis UF: “abotoar o paletó”, “bater as botas”, “ir para o Acre”, “irse al otro barrio”, “estirar la pata” e “liar el petate”. Analisamo-las em dois dicionários bilíngues português-espanhol/espanhol-português: Diccionario Bilingue Escolar, publicado em 2009 pela editora SGEL/SBS, e Minidicionário, de Eugenia Flavian e Gretel Eres Fernández, publicado em 2009 pela editora Ática. Ambos os dicionários caracterizam-se por sua natureza pedagógica: são destinados a aprendizes brasileiros de espanhol como língua estrangeira (E/LE), visando, assim, serem úteis no processo de ensino e aprendizagem da língua espanhola. 6. Análise do corpus 6.1 As UF na superestrutura e na macroestrutura dos dicionários bilíngues Na superestrutura do Diccionario Bilingue Escolar, na “Introducción”, há uma menção breve à presença não só de palavras, mas também de UF na obra. Não são explicitadas ao aprendiz-consulente informações sobre os critérios de ordenação das UF na macroestrutura, tampouco as formas de apresentação delas na microestrutura. Por outro lado, na superestrutura do Minidicionário, a presença das UF na obra é registrada em duas seções. Em “Que oferece este dicionário? / Espanhol-português”, é mencionada a lematização de locuções e expressões idiomáticas, a marca tipográfica que as acompanha nos verbetes, o critério de ordenação delas no artigo lexicográfico e a tradução apresentada. Em “Que oferece este dicionário? / Português-espanhol”, é explicado que foram incluídas na obra as expressões idiomáticas consideradas relevantes, com equivalência ou adaptação em português. Em relação à lematização das UF, no Diccionario Bilingue Escolar, observamos que há uma tendência em seguir o critério tradicional de dicionários monolíngues e bilíngues na apresentação dessas unidades léxicas complexas (no verbete correspondente a um de seus constituintes não verbais, na ordem: substantivo, adjetivo, advérbio e pronome), mas não se pode afirmar que há sistematização, porque, apesar de “bater as botas”, “irse al otro barrio” e “estirar la pata” terem sido incluídas nos verbetes de seus substantivos, “abotoar o paletó” foi lematizada em “paletó” e “abotoar”, e “ir para o Acre”, em “ir”. No Minidicionário, percebemos que o critério mencionado não é seguido estritamente, já que todas as UF lematizadas (“abotoar o paletó”, “bater as botas”, “estirar la pata”) encontram-se nos verbetes correspondentes aos seus substantivos e 180 verbos. Entretanto, trata-se de uma forma de facilitar a busca delas para consulenteaprendiz, o que é bastante positivo para uma obra de cunho pedagógico. 6.2 As UF na microestrutura dos dicionários bilíngues 6.2.1 Marca tipográficas Em ambos os dicionários, as UF recebem um destaque especial no verbete, apresentando-se em negrito. No Minidicionário, elas ainda vêm acompanhadas do símbolo ♦. 6.2.2 Indicações gramaticais e sintáticas No Minidicionário, não há indicações gramaticais e sintáticas acompanhando as UF. Já no Diccionario Bilíngue Escolar, todas as UF apresentam a marca LOC. (locução). 6.2.3 Valores estilísticos e pragmáticos No Minidicionário, não foram apresentados valores estilísticos e pragmáticos. No Diccionario Bilíngue Escolar, foram apresentadas as marcas FAM. (familiar), ARG. (argot/gíria) e FIG. (figurativo) para algumas UF. Contudo, percebemos falta de critérios para empregá-las, pois “abotoar o paletó”, no lema “paletó”, foi apresentada como de sentido figurativo e, no lema “abotoar”, como gíria/argot. 6.2.4 Exemplos lexicográficos Não foram registrados exemplos de uso para contextualizar as UF. 6.2.5 Equivalentes de tradução Para indicar os equivalentes das UF na língua de chegada, foram empregadas duas técnicas: apresentar UF equivalente e unidade léxica equivalente. No entanto, constatamos que nem sempre são apresentadas UF equivalentes na língua de chegada, ainda que isso seja possível. No Diccionario Bilíngue Escolar, para a UF “irse al otro barrio”, foi dada, em língua portuguesa, a unidade léxica “morir”, quando poderia ter sido indicada UF equivalente: “ir para o Acre”. O mesmo ocorreu no Minidicionário, quando lematizou “abotoar o paletó”, para a qual, na língua portuguesa, indicou apenas a unidade léxica “morir”. Observamos, também, falta de sistematicidade em relação a esse aspecto, porque, no Minidicionário, para a UF “estirar la pata”, no lema “estirar”, foi apresentado o equivalente “esticar a canela” e, no lema “pata”, o equivalente “bater as botas”. Para a UF “bater as botas”, no lema “bota”, foram apresentadas a UF equivalente “estirar la pata” e a unidade léxica equivalente “morir”; já no verbete “bater”, apenas a UF equivalente. 7. Conclusão Em nossa análise do componente fraseológico, relacionado à estrutura conceitual “morrer” nos dicionários bilíngues selecionados, constatamos pontos positivos e negativos em relação à apresentação das UF nessas obras lexicográficas. No que diz respeito à análise do material fraseológico na superestrutura dos dicionários, o Diccionario Bilíngue Escolar apresentou poucas informações acerca da presença das UF, prejudicando, assim, o acesso a essas unidades léxicas complexas pelo consulente. Já o Minidicionário apresentou informações completas e pertinentes acerca do componente fraseológico. Todavia, deixou de explicitar o critério de lematização das UF, informação de extrema importância, porque facilita e agiliza as buscas lexicais realizadas pelo aprendiz de LE. Em relação à análise das UF na microestrutura dos dicionários, constatamos que houve preocupação das obras lexicográficas em dar destaque às unidades léxicas complexas por meio de marcas tipográficas. Entretanto, percebemos ausência de informações gramaticais e sintáticas acerca delas, prejudicando o (re)conhecimento das 181 UF e o emprego adequado delas no nível discursivo da língua pelo consulente-aprendiz. A quase ausência de valores estilísticos e pragmáticos e a falta de critérios para indicálos impossibilitam conhecer o emprego das UF nos contextos adequados. O mesmo se dá com os exemplos lexicográficos que, ao não serem empregados, impossibilitam a aprendizagem do comportamento sintático dessas unidades. Por fim, sobre os equivalentes de tradução, houve preferência por apresentar UF equivalentes na língua de chegada e acreditamos que essa prática, sempre que possível, deveria se tornar recorrente. Por fim, nenhum dos dicionários lematizou a UF espanhola “liar el petate”, de uso corrente entre os falantes nativos dessa língua, portanto, de necessária presença nas obras lexicográficas. Concluímos que os dicionários bilíngues analisados, apesar do cunho pedagógico, não atendem às necessidades do consulente-aprendiz de língua espanhola no tocante às UF da estrutura conceitual “morrer”. É necessário que haja parâmetros lexicográficos precisos e sistemáticos para a inclusão dessas unidades léxicas complexas nas estruturas dos dicionários bilíngues pedagógicos, visto que, além de serem de uso recorrente no discurso do nativo de língua espanhola, possibilitam ao aprendiz brasileiro de E/LE comunicar-se de forma competente na língua meta. Referências BUARQUE DE HOLANDA FERREIRA, A. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa - 4ª Edição. Curitiba: Positivo, 2009. FLAVIAN, E.; FERNÁNDEZ, G. E. Minidicionário espanhol – português, português – espanhol. São Paulo: Ática, 2009. HOUAISS, A. Diccionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. MARTÍNEZ LÓPEZ, J. A. Sobre algunos elementos del contorno en el diccionario fraseológico. Revista de Lexicografia, n. 13, p. 55-65, 2007. MOLINER, M. Diccionario de uso del español. Madrid: Editorial Gredos S. A., 1998. OLÍMPIO DE OLIVEIRA, M. E. Cuestiones didácticas relacionadas con el tratamiento de la definición lexicográfica de las unidades fraseológicas en los diccionarios. In: In: XV CONGRESO INTERNACIONAL DE ASELE, 2004, Sevilla. Actas del XV Congreso Internacional de ASELE. Sevilla: Universidad de Sevilla, 2004. p. 621-628. Disponível em: < http://cvc.cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ele/asele/pdf/15/15_0619.pdf.>. Acesso em: 19 nov. 2010. REAL ACADEMIA ESPAÑOLA. Diccionario de la lengua española. Madrid: Espasa Calpe S. A., 2003. Diccionario Bilingue Escolar. Madrid: SGEL/SBS, 2009. 182 LEXICOLOGIA E TERMINOLOGIA: CONTRIBUIÇÕES PARA ELABORAÇÃO DE OBRAS TERMINOLÓGICAS Isael SIMÃO (PG – UEM) Manoel M. A. da SILVA (UEM – Orientador) Resumo As obras terminológicas têm atraído olhares de vários ramos da pesquisa cientifica, e com esta evidência que vem aumentando ao longo dos anos, têm se estruturada com o apoio teórico-metodológico de disciplinas que corroboram para tal desenvolvimento. Desta forma, Lexicologia e Terminologia, que fazem parte deste contexto, trazem em suas estruturas, suportes imprescindíveis para a elaboração de obras terminológicas no contexto social. Encarregada de estudar a língua geral, a Lexicologia da conta de contextualizar o usuário da língua comum; já a Terminologia, preocupa-se com usos especializados da linguagem, e assim destaca-se por seu potencial crescimento no Brasil. Embora á pouco tempo os estudos terminológicos destaquem-se no âmbito local, em outros países é grande a atenção que é dispensada à estudos terminológicos. Deste modo propostas para elaboração de trabalhos terminológicos, necessitam de bases para realizar-se, e é na lexicologia e terminologia, enquanto ciências, que buscamos alguns suportes para sustentar a feitura de tais obras. Portanto neste artigo serão abarcados pontos sobre a colaboração, que tanto Lexicologia quanto Terminologia, podem ofertar para a feitura de materiais terminológicos de uso especializado. Palavras-chave: Lexicologia. Terminologia. Produtos terminológicos. Resumen Las obras terminológicas han atraído miradas de muchas partes de la pesquisa científica y de esta forma ha logrado un éxito muy gran, que ha hecho desarrollar teórico y metodológico con ayuda de otras asignaturas. De esta forma lexicología y terminología forman parte de este contexto trayendo en sus estructuras suportes necesarios para elaboración de obra terminológicas en el contexto social. Encargada de estudiar a la lengua general, la lexicología está contextualizando el usuario de la lengua general, ya la terminología preocupase con el uso especializado de la lenguaje, y por esto se destacan por su potencial de desarrollo en Brasil. Aún los estudios terminológicos tengan poco destaque en Brasil, en otros países es muy grande la atención dada a los estudios terminológicos. De este modo propuestas para la elaboración de obras terminológicas, necesitan de bases para ocurrieren y es en la lexicología y terminología, como ciencias, que buscamos algunos suportes para mantener la elaboración de estas obras. Por lo tanto, en este artigo serán abordadas algunos puntos sobre la colaboración que lexicología y terminología pueden ofrecer para la confección de obras terminológicas especializadas. Palabras claves: Lexicología. Terminología. Obras terminológicas. 1. Introdução Ao longo dos anos os trabalhos sobre dicionários muitas vezes ficaram limitados aos de dicionários de língua, e posteriormente a trabalhos de dicionários bilíngues que compunham um grande feixe de obras terminológicas que, porém, não contemplavam as linguagens de especialidade. É notório o crescimento e interesse por obras especializadas, em especial no inicio deste século, e sua potencial distinção que não as fazem ficarem separadas do léxico de um idioma, neste caso o português do Brasil (PB); 183 É nas atividades, ciências e/ou disciplinas especializadas que as obras terminológicas de uso especializado encontram refugio para sustentar sua importância dentro de uma língua geral, pois é devido à vivacidade da língua que surge a necessidade de novas pesquisas que possam ajudar a compreender e aperfeiçoar o idioma. 2. Lexicologia e Terminologia: campos de atuação Este artigo tem por finalidade, fomentar sobre a lexicologia e terminologia, como ciências que estudam a língua de modo geral, línguas comuns e de especialidade. Porém iniciaremos abordando um pouco sobre o léxico e suas formas de organização, a partir do ponto de análise da Lexicologia e Terminologia. O léxico é entendido como o conjunto das palavras de uma língua; embora pareça finito, o léxico de cada uma das línguas é tão rico e dinâmico que mesmo o melhor dos linguistas não conseguiria enumerá-lo. Claro que o objetivo primeiro de um linguista, não é somente enumerar, mas conhecer o léxico de uma língua de forma abrangente, para que possa estudá-lo, com o intuito de colaborar para seu desenvolvimento, através de pesquisas que auxiliam na organização deste léxico. Estudar o léxico de uma língua requer alguns apontamentos que o diferencie, mas não com a intenção de dar-lhe um caráter ambíguo, mas identificar as formas como o léxico pode ser visto e entendido; para tal fato, temos na lexicologia a disciplina que estuda o léxico e sua organização sob pontos de vista variados. A lexicologia tem por objetivo cientifico certificar o que diz o léxico, ou seja, a sua significação. Levando em consideração os mais variados pontos, como a posição geográfica, á sua distribuição sintagmática, ao uso social e cultural, sua realização fonética, aos morfemas que a compõem. Quanto ao objeto, portanto, observa-se que, enquanto a lexicologia trata da palavra e do seu conteúdo conceptual, na língua comum, geral, a terminologia se ocupa do termo, ou seja, da palavra especializada, dos conceitos inerentes às diversas matérias especializadas. (ANDRADE, 2001, p. 192) Existem algumas diferenças no campo de análise e objeto de estudos, entre lexicologia e terminologia. Pois o objeto de estudo da lexicologia é a palavra de uso geral, comum, que geralmente são tratadas em glossários e dicionários de língua geral; como, por exemplo, o Aurélio, Houaiss, Michaelis e outros que reúnam o léxico de determinada língua, como o português do Brasil. A terminologia tem por objeto de estudo o termo especializado; que está dentro do sistema maior, que é a língua geral, porém constitui-se de forma singular. Requerendo assim, uma abordagem específica de estudos, para que se configure no universo do discurso especializado. Termos estes, que encontramos em glossários e dicionários, de uso especializado na medicina, na botânica, na medicina veterinária e outras áreas do conhecimento, que utilizam uma linguagem própria, para se constituírem como ciência, disciplina, técnicas e trabalho. Segundo Andrade, (2001, p. 194) no que diz respeito aos conceitos operacionais, verifica-se que a lexicologia tem por meta definir um vocábulo, caracterizando-o funcional e semanticamente, ou seja, tem por função decodificar, ao passo que a terminologia desempenha função inversa, a de codificar, pois tem por objetivo nomear um fato, uma noção ou conceito. 184 Aqui cabe lembrar, que a terminologia é onomasiológica, partindo do conceito para uma definição; Ou seja, existe uma lista de conceitos e a terminologia busca a denominação de cada um. Por sua vez, a lexicologia é semasiológica, parte da lista de palavras, e visa descrevê-la semanticamente. A lexicologia está intimamente ligada á terminologia, porém por nortes de trabalho diferenciam em alguns pontos de análise, isto implica, em como cada disciplina se posiciona em relação á língua. Uma vez que a lexicologia trabalha em função da língua geral, decodificando o vocábulo, e a terminologia dedica-se ao termo, que se está ligado a linguagens de especialidade. Portanto temos na lexicologia, a ciência que se preocupa em dar uma descrição semântica a uma palavra; partindo o linguista de um ou mais pontos de vista da língua, para elaborar tais definições, da língua comum. Neste momento é preciso distinguir terminologia iniciada com minúscula, que é empregada de modo geral para designar vocabulário ou comunicação especializada; iniciada com maiúscula designa a Terminologia enquanto teoria ou atividade. Esta diferenciação é importante para compreendermos de que forma estamos tratando a Terminologia, quando queremos utilizar de suas propriedades especificas. A Terminologia pode ser encarada como uma “especificidade” da lexicologia, uma vez que trata não de todas as palavras da língua, mas daquelas que constituem as linguagens de especialidade. (ANDRADE, 2001, p.192) Podemos observar claramente, que a Terminologia está preocupada com as linguagens de especialidade, afastando-se da língua comum, originando seu caráter de “especificidade” paralelamente á lexicologia, que por sua vez distancia-se da configuração especializada, dos conceitos inerentes às línguas específicas. As linguagens de especialidade, não estão á margem da língua comum; mas constituem um saber específico, de determinada ciência, técnica, atividade ou trabalho. Surgindo deste modo, a necessidade de estudar com mais delimitações os termos que são utilizados, para o desenvolvimento destas linguagens. As linguagens especializadas se caracterizam pelo emprego da terminologia, que representa a estrutura conceptual de determinada matéria, enquanto os termos denominam os conceitos da rede estruturada da matéria em questão. (ANDRADE, 2001, p. 193) Segundo Andrade (2001, p. 193) tal como as palavras para o léxico geral, os termos são unidades sígnicas distintivas e significativas ao mesmo tempo, apresentandose de forma tão natural no discurso especializado, quanto ás palavras, nos discursos que se valem da língua comum como forma de expressão. Podemos claramente aqui, delimitar termo e palavra; o termo é de uso especializado, com significação mais específica, que a palavra, utilizada na língua geral, distanciada do uso específico. Porém, vale recordar que, não estamos tratando de um objeto estranho, ou desvencilhado, mas de duas formas de analisarmos uma língua. Na terminologia, ao contrário, ou serão registradas tantas entradas quantos forem os empregos, ou será selecionado o significado correspondente ao termo, na área de interesse do trabalho. (ANDRADE, 2001, p.198) O termo presa pela monossemia, pois mesmo estando na terminologia de várias atividades, terá a significação, apenas referente ao tema escolhido; Exemplo disto é o 185 uso de termos da Medicina Veterinária, que estão na Medicina, na Zootecnia, mas quando tratados especificadamente naquela área, prevalecerá a significação referente á ela. O uso da terminologia correta permite desenvolver obras terminológicas, de grande valor social, pois com estes materiais é possível a linguagem de especialidade se fortalecer; pois através dela o conhecimento se estrutura. 3. Contribuições da lexicologia e terminologia para a feitura de obras terminológicas Até o momento foi explanado sobre o conceito e alguns apontamentos sobre a lexicologia e Terminologia, enquanto ciências; Desta forma pode nos orientar, no sentido de buscar as contribuições teóricas e metodológicas, que estas teorias possuem e que auxiliam na construção de obras terminológicas. O uso especializado de uma língua, tem se constituído em um ramo de grande valor linguístico, em que especialistas tem se debruçado para ampliar conhecimentos, sobre determinadas áreas; e para tal fato busca na lexicologia, como grande colaboradora da Terminologia na feitura de obras terminológicas, embasamentos para desenvolverem glossários e dicionários especializados. Obras terminológicas são exemplos de constituição do léxico de uma língua, que ao longo dos séculos vem se aprimorando, em suas formas de constituição, sem perder o foco principal que é o de sistematizar o léxico, seja ele geral ou especializado. Se os dicionários na Idade Média eram tratados como um corpus definitivamente fixado, no Renascimento, ao contrário, são vistos como um compêndio evolutivo, em constante atualização gramatical. (MURAKAWA, 2001, p. 153) Toda obra terminológica contribui para o desenvolvimento de determinada língua, pois nela está contido o tesouro vocabular de um país, de um povo, que baseados na estrutura daquela obra, buscam suporte para desenvolver o diálogo de forma sistematizada; e como cita Murakcawa, os dicionários a partir do Renascimento, deixaram de ser tratados como obras fixas, prontas, mas sim como material que está em constante evolução, para poder acompanhar o desenvolvimento da própria linguagem, que é viva, e jamais deixa de evoluir. Vamos a partir de agora nos fixar nas obras terminológicas, indicando as contribuições teóricas e metodológicas da lexicologia e Terminologia, no processo de construção destes materiais. Existem vários tipos de dicionários monolíngues: os dicionários de língua, os dicionários analógicos (ou ideológicos), os dicionários temáticos ou especializados (de verbos e/ou regência verbal, de sinônimos e antônimos), os dicionários etimológicos, os dicionários históricos, os dicionários terminológicos das diferentes áreas do conhecimento: astronomia, biologia, comunicações, direito, ecologia, eletricidade, física, geologia e geomorfologia, informática, medicina, metalurgia, psicologia, química, etc. (BIDERMAN, 2001, p. 131) O ser humano como inventor de ferramentas, de atividades e disciplinas, que compõem os mais variados campos do conhecimento, necessita organizar o léxico em obras terminológicas, especializadas ou não, para dinamizar e continuar aprimorando-se através do uso deste léxico, que nomeia, e mais significativamente da sentido e significado a tudo o que cerca este mundo em que estamos envoltos; seja no trabalho, nomeando ferramentas ou explicando o que está sendo estudado nas ciências. 186 De acordo com Biderman (2001), temos vários tipos de dicionários, que visam atender tais necessidades do ser humano, de comunicação sistematizada, onde possam encontrar respostas e sanar duvidas em relação ao uso de termos, para compreender e aperfeiçoar a língua em questão. Não vamos aqui nos prolongar nas obras terminológicas de uso geral; vamos direcionar nossos estudos para obras de especialidade, que vem nas ultimas décadas, se consolidando como ferramenta essencial, para o desenvolvimento de várias ciências, dando-lhes suporte linguístico do mais profundo valor. Vimos que obras terminológicas concentram suas pesquisas em áreas especificas do conhecimento, por exemplo, na informática, na medicina, na biologia, contribuindo significativamente para que tais áreas constituam-se ao longo dos anos, com termos únicos, que lhes dão o caráter especifico. Dentro de uma determinada área ou subárea, o terminólogo terá que seguir procedimentos teóricos quando da realização de sua obra terminográfica. Nesse sentido, a teoria mais aceita é aquela que preconiza, para métodos de base do trabalho terminológico, os seguintes procedimentos: a recolha, a análise, a criação neonímica e a normalização. (SILVA, 2003, p. 133) Como estamos tratando neste momento sobre obras de especialidade, é importante focarmos sobre os aspectos que delimitam este tipo de obra; para isto, temos que direcionar o trabalho para métodos que mostrem procedimentos claros para a confecção de tais materiais. Para Silva, o terminólogo deve levar em consideração, procedimentos teóricos que definam sua meta, para a realização de sua obra terminográfica; portanto deve observar a recolha, a análise, a criação neonímica e a normalização, dos termos que irão compor a obra terminológica. A recolha das Uce‟s é feita em obras impressas, método predominante até poucas décadas atrás, e materiais na internet, que hoje somam grande parte da pesquisa, para a recolha dos futuros candidatos a termos das obras de especialidade; e outras fontes que sejam significativas e não dispersem do objetivo do terminológo, quanto aos objetivos de sua pesquisa. Quanto ao trabalho de recolha das UCEs, o terminógrafo deve saber identificar aquelas que pertençam a própria área estudada e não à linguagem geral. Essa operação faz supor que ele deva ter um conhecimento aprofundado da língua comum e conhecimento sumário acerca da área ou subárea objeto de sua análise. (SILVA, 2003 p. 133-134) Neste processo de recolha das UCEs, a lexicologia colabora, no sentido de dar conta das demais unidades que estão no campo maior da língua geral; porém é na Terminologia que encontramos as definitudes daquelas que estão dentro das linguagens de especialidade. A recolha não é meramente uma escolha, por parte do terminólogo; mas é a confirmação de que cada UCe que compõem a obra terminológica, é aquela que está em consonância com o uso apropriado e socialmente aceito. E como sabemos que tais UCEs, são realmente validadas? Através da análise contextual é que podemos suprir esta dúvida; pois a recolha pode ser inútil, se revelar apenas que determinada UCE, faz parte da área ou subárea estudada; não proporcionando a apuração quanto ao seu uso real. 187 Desta forma, a identificação do conceito por meio da análise contextual aparece como um método fundamental da pesquisa terminológica. (SILVA, 2003, p. 134) Aqui está posto, questões sobre a veracidade de determinadas UCEs, no sentido de uso real, e não somente de verdadeiras ou falsas, e que é na análise contextual, que o terminológo tem a oportunidade de pôr a prova, o uso de determinada UCE, dentro da linguagem de especialidade em que estão dedicando seus estudos; pois não basta a UCE somente fazer parte da linguagem de especialidade, para estar na obra terminológica, mas ser de uso real. Nesta perspectiva aberta, para apontarmos sobre procedimentos que ajudam a construir uma obra terminológica, chegamos á um ponto crucial, que é a criação neonímica; pois ela não é uma tarefa básica da terminologia; por que a função da terminologia está baseada em encontrar uma UCE para o conceito existente, e não o de criar a qualquer custo uma UCE. Segundo Silva (p.135) a criação de uma unidade léxica especializada não se justifica senão quando há falta da nominação procurada na língua de especialidade de referencia. E quando o terminógrafo vier a criar uma UCE, ele deve ter conhecimentos profundos da história da língua, de morfologia e de semântica. Pois a tarefa de elaboração de uma obra de especialidade, justamente não se caracteriza por criar novas UCEs, senão pelo fato de encontrar uma unidade léxica de especialidade, para determinado conceito; assim quando da criação de uma UCE, será necessário que o terminólogo tenha este profundo conhecimento, não só da linguagem de especialidade, como da língua geral. Neste ultimo tópico, sobre alguns procedimentos para a feitura de obras terminológicas, iremos abarcar um pouco sobre a normalização, que está associada á pesquisa terminológica. A normalização, que consiste em impor um mesmo uso para uma determinada área ou subárea, não pode resultar senão de uma convenção entre os usuários ou quando isto não for possível, da imposição de uma instituição criada para esse fim. (SILVA, 2003, p. 135) Para que aconteça a normalização, é preciso que o terminológo tenha documentado todo o processo, formalizando e justificando o uso sistematizado de determinada UCE, para área ou subárea em questão; e até mesmo para a imposição de determinada instituição criada para esse fim; Pois trata-se de um momento em que há uma discussão profunda acerca do que está sendo posto para uso, de uma comunidade de falantes. Portanto, estes quatro são componentes de extrema importância para a construção de obras terminológicas, pois através deles teremos normas da composição de um glossário ou dicionário, e em especial nesta proposta, na área da Medicina Veterinária; depois de observarmos estes itens, podemos dizer que no processo de constituição de obras terminológicas, é necessário que estipule a que área do conhecimento irá se posicionar os estudos, observar os suportes teóricos que encontramos tanto na lexicologia, mas principalmente na terminologia e consequentemente que a obra terminológica tenha o objetivo de atender determinado grupo de usuário da língua em questão. 188 4. Considerações finais Para a maioria dos pesquisadores, a lexicologia é a disciplina em que primeiro se busca um aprofundamento teórico, sobre a constituição do léxico, e como ele está se constituindo ao longo dos anos; mas esta disciplina mostra o que há para a língua comum, não salientando as linguagens especializadas. Aprofundando-se sobre as linguagens de especialidade, é de fundamental importância que o pesquisador tenha claro, em que direção irá traçar seus objetivos, para que destaque a que linguagem se debruçará para estender seus estudos. Existem várias áreas do conhecimento, em que pode o terminólogo dedicar-se á pesquisa, ampliando os objetivos, porém sem delimitar demasiadamente seus estudos; pois cada vez mais as linguagens de especialidade ganham espaço, e com isto a procura por materiais terminológicos se amplia. Portanto é de suma importância que obras terminológicas, tenham um suporte teórico-metodológico, que ajude a construir obras que supram as necessidades dos consulentes, que buscam em tais obras, subsídios para sanar dúvidas sobre o uso especializado em determinada ciência; obras que abarquem linguagens de especialidade estão ao longo dos anos se consolidando por serem de grande valor linguístico e ajudarem na continuidade do desenvolvimento do léxico, de cada idioma em que são constituídos. Referências ANDRADE, Maria Margarida de. Lexicologia, Terminologia,definições, finalidades, conceitos operacionais. Campo Grande: Ed. UFMS, 2003. MURAKAWA, Clotilde de Almeida Azevedo. Tradição Lexicográfica Portuguesa: Bloteau, Morais e Vieira. Campo Grande: Ed. UFMS, 2001. BIDERMAN, Maria Tereza Camargo. Os dicionários na contemporaneidade: arquitetura, métodos e técnicas. Campo Grande: Ed. UFMS, 2001. SILVA, Manoel Messias Alves da. Dicionário terminológico da gestão pela qualidade total em serviços. Tese de Doutorado. São Paulo, USP, 2003. 189 OS MATERIAIS AUTÊNTICOS COMO AUXILIADORES NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DOS PRONOMES ÁTONOS EM LÍNGUA ESPANHOLA Natália Araújo da FONSECA (G – UEL)59 Valdirene F. ZORZO-VELOSO (UEL – Orientadora)60 Resumo Empregar os pronomes pessoais átonos na comunicação é uma das grandes dificuldades que os alunos brasileiros aprendizes de espanhol como língua estrangeira apresentam. Tais complicações decorrem basicamente por dois principais motivos: a escassa utilização destes pronomes em contextos comunicativos na língua portuguesa e a deficitária abordagem dos mesmos nos livros didáticos elaborados para o ensino e aprendizagem de Espanhol como língua estrangeira (E/LE). Tendo em vista estes motivos geradores de tais dificuldades, este artigo objetiva contribuir com o ensino e a aprendizagem destas formas pronominais, pois apresenta uma proposta de input mais funcional destes pronomes através do uso de materiais autênticos. Assim, acredita-se que a utilização destes materiais seja uma excelente ferramenta no processo de ensino e aprendizagem dos pronomes átonos, pois, através deste recurso, o professor promoverá uma maior compreensão cultural e linguística aos aprendizes proporcionando-lhes mostras reais da língua, por meio de elementos que formam parte da realidade sócio-cultural do mundo hispânico. Palavras-chave: Espanhol como língua estrangeira. Pronomes átonos. Materiais autênticos. Proposta didática. Resumen Emplear los pronombres personales átonos en la comunicación es una de las grandes dificultades presentadas por los aprendices brasileños de español como lengua extranjera. Estas complicaciones provienen básicamente de dos principales motivos: la escasa utilización de estos pronombres en contextos comunicativos en la lengua portuguesa y el deficitario abordaje de los mismos en los libros didácticos elaborados para la enseñanza y aprendizaje del español como lengua extranjera (E/LE). Considerando las principales causas de estas dificultades, este artículo objetiva contribuir con el proceso de enseñanza y aprendizaje de tales formas pronominales a los aprendices brasileños, pues presenta una propuesta de input más funcional de estos pronombres a través del uso de materiales auténticos. Por lo tanto, se cree que la utilización de estos materiales sea una excelente herramienta en el proceso de enseñanza y aprendizaje de los pronombres átonos, pues, el profesor promoverá una mayor comprensión cultural y linguística a los aprendices, proporcionándoles muestras reales de lengua por medio de elementos que forman parte de la realidad socio-cultural del mundo hispánico. Palabras clave: Español como lengua extranjera. Pronombres átonos. Material auténtico. Propuesta didáctica. 59 Graduanda do 4º ano de Letras - licenciatura em Língua espanhola e respectivas literaturas Universidade Estadual de Londrina. Email: [email protected] 60 Orientadora: Profª Drª Valdirene F. Zorzo-Veloso. Email: [email protected] 190 1. Introdução O presente artigo nasce como fruto da participação do projeto “Os Pronomes Clíticos no Processo de Ensino e Aprendizagem de Espanhol como Língua Estrangeira” coordenado pela Profa. Dra. Valdirene Zorzo-Veloso, vigente desde abril de 2008. Nesse cenário, o artigo apresenta um recorte temático do projeto supracitado, objetivando sanar as dificuldades que os aprendizes brasileiros de E/LE se deparam ao empregar os pronomes átonos61 na comunicação, visto que “conhecer e empregar bem estes pronomes é fundamental, especialmente no espanhol, em que essa classe de palavras é usada de maneira muito particular e significativa." (ZORZO-VELOSO; SAITO, 2006). Nesta perspectiva, acredita-se que o uso de materiais autênticos como instrumento de ensino destes pronomes viabilize um melhor aprendizado aos alunos, na medida em que estes materiais refletem o cotidiano dos falantes naturais da língua, além de abordar temas comuns a sua própria realidade, suscitando no aluno um maior interesse de se aprender uma língua estrangeira. Por conseguinte, objetiva-se através de uma abordagem funcional que o aluno saiba utilizar os átonos na comunicação de maneira adequada, para que ao se expressar ele possa se apropriar de toda a autenticidade e peculiaridade da língua espanhola. O foco da proposta recai principalmente na comunicação por esta apresentar utilizar os pronomes átonos com muito mais frequência com que são empregados na escrita, pois tais pronomes atendem a uma necessidade que ocorre na comunicação „face-a-face‟ possibilitando ao interlocutor uma melhor compreensão do discurso, ao retomarem informações já ditas. (ZORZO-VELOSO, 2009, p. 60) Fragoso (2003, p. 2) acredita que a gramática funcional considera a competência comunicativa não somente como a capacidade que os indivíduos possuem para codificar e decodificar expressões, mas também, como a capacidade de interpretar essas expressões de maneira mais apropriada. Ratifica-se assim, que a gramática funcional é a melhor alternativa para o ensino dos pronomes átonos, pois esta não tem como foco a estrutura gramatical, mas sim a situação comunicativa que ocorre no momento do discurso. Nesse viés, optaram-se como instrumentos de ensino os materiais autênticos, por fazerem parte da realidade diária do aluno, o que torna o aprendizado mais significativo, visto que os mesmos são encontrados em jornais, revistas, publicidade e em uma infinidade de materiais disponíveis em meio eletrônico, podendo assim, auxiliar no processo de ensino e aprendizagem dos pronomes átonos. Por fim, justifica-se o desenvolvimento deste artigo, visto que por meio da utilização de materiais autênticos, o processo de ensino e aprendizagem dos pronomes átonos se evidencie de maneira eficaz, pois ao serem expostos a mostras reais da língua os aprendizes irão perceber a importância deste pronome em contextos comunicativos do mundo hispânico e consequentemente lograrão empregá-los na comunicação. (ZORZO-VELOSO, 2009, p. 28). 2. Referencial teórico O processo de ensino e aprendizagem é permeado por fatores que interagem de forma positiva e/ou negativa na obtenção dos resultados de aprendizagem. No que se refere ao ensino e a aprendizagem dos pronomes átonos do espanhol, o número de 61 Optamos pelo uso da nomenclatura “pronomes átonos”, porém a mesma recebe diferentes denominações tais como: pronomes clíticos e pronomes complemento como encontramos em diversos materiais didáticos e na literatura. 191 fatores que interagem de forma negativa é muito maior dos que interagem positivamente neste processo. Segundo a Real Academia Espanhola (1995 apud CORRÊA, 2000, p. 16) “os clíticos são "incrementos pessoais" que ligados ao verbo têm a função de objeto direto ou indireto, ou ambos de uma vez”. Além da utilização dos pronomes átonos, a duplicação é um fenômeno muito utilizado em contextos comunicativos da língua espanhola. Nos casos de duplicação, temos um pronome clítico e um sintagma nominal com um mesmo referente na sentença para apenas um espaço argumental na predicação. Assim o clítico preenche o espaço argumental do verbo e o sintagma nominal exerce uma função pragmática, está a serviço da veiculação da informação. (ZORZO-VELOSO, 2003, p. 02) Devido ao fato da duplicação não ser um fenômeno comum no português, os aprendizes de E/LE acreditam que a mesma seja um pleonasmo, uma redundância da língua espanhola, desconhecendo, portanto, sua grande importância a favor da comunicação. Zorzo-Veloso (2009, p. 28) explica o motivo de a duplicação estar mais relacionada à oralidade do que com a escrita A duplicação em estruturas com pronomes clíticos está principalmente associada à língua oral, pelo caráter de retomada, resgate ou ênfase de partes do enunciado que são próprias da duplicação. No registro escrito, o leitor tem a possibilidade de retomar, no texto, e regatar partes da informação que tenham, por ventura, comprometido sua compreensão de algum fragmento dado. O emissor de um texto escrito é consciente disso, por isso na escrita a duplicação não é tão necessária. Além da duplicação consistir em uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos aprendizes, outra resposta para a dificuldade do emprego dos átonos é que, segundo Corrêa (2000, p. 12) “na língua portuguesa os clíticos são usados somente na linguagem culta, o que não ocorre no espanhol que faz uso dos mesmos corriqueiramente”. Essa afirmação aponta que os brasileiros utilizam estes pronomes diante de situações que necessitam uma linguagem formal, bem como discursos, palestras, trabalhos científicos, entre outros. De fato, a interferência cultural é um dos principais motivos para essa dificuldade, pois, enquanto no Brasil se utiliza os pronomes átonos somente em situações específicas, os hispano-falantes os utilizam corriqueiramente em seu cotidiano, independente do seu nível de estudo. Outro fator que interfere de maneira negativa no ensino e aprendizagem de tais pronomes é a maneira que estes são abordados nos livros didáticos. Durante o projeto de pesquisa “Os Pronomes Clíticos no Processo de Ensino e Aprendizagem de Espanhol como Língua Estrangeira” foram analisados diversos livros didáticos direcionados ao ensino de E/LE, podendo-se observar por meio das análises que os mesmos ainda estão presos a antigos métodos como, por exemplo, o método estrutural. Neste caso, os átonos são apresentados de maneira estrutural, através de tabelas e exercícios calcados na repetição e memorização de regras gramaticais (FERREIRA; SANTOS, 2010). Neste cenário, os livros didáticos tratam os aprendizes como meros assimiladores de informações a serem decoradas, na maioria das vezes sem fazer sentido algum, evidenciando a discussão em torno da “educação bancária”, a qual Freire (1983, p. 66) define-a como o “ato de depositar, em que os educandos são os 192 depositários e o educador o depositante.” Assim, a autonomia do aluno enquanto peça imprescindível para a construção do conhecimento é lançada a esmo. Esta concepção de ensino perdurou por um longo período, pois tal como afirma Ambassa (2006) Hasta los años sesenta, la lengua se había considerado como materia de conocimiento, como un conjunto cerrado de contenidos que había que analizar, memorizar y aprender: la fonética y la ortografía, la morfosintaxis y el léxico de la lengua. La palabra clave que aglutinaba eso era gramática. Desde esta perspectiva, la finalidad de la clase de lengua era por supuesto, aprender estructuras, es decir la gramática. No entanto, a partir dos anos sessenta, esta visão que antes era centrada no ensino estrutural da gramática passa a ser vista sob um novo prisma e, disciplinas como filosofia da linguagem, sociolinguística, didática das segundas línguas e linguística textual revolucionam o ensino de línguas e a partir daí surge uma visão funcionalista e comunicativa da língua a qual os estudiosos priorizam seu uso, ou seja, sua funcionalidade (AMBASSA, 2006). Nesse momento, a palavra-chave que antes era gramática passa a ser uso. Ambassa (2006, p. 2) expressa de maneira precisa este novo olhar que a língua passa a adquirir. La palabra clave que define esta nueva visión de la lengua y que se opone a la antigua visión es uso o también comunicación, auténtico sentido último de la lengua y el objetivo real de su aprendizaje. Aprender lengua equivale pues a aprender a usarla, comunicarse en situaciones más complejas o comprometidas. Sob esta ótica, Almeida Filho (2005, apud OLIVEIRA, p. 26) compartilha da mesma opinião e acredita que “a gramática como a conhecemos e a praticamos no dia-adia escolar das línguas precisa ter seu papel redimensionado, agora subordinado às necessidades de ou interesse pelo uso comunicativo da língua-alvo”, pois, enquanto o seu ensino estiver descontextualizado, não haverá interação entre os participantes no processo de ensino e aprendizagem das línguas. Tal afirmação deixa claro que esta nova visão de língua, que tem como foco o uso, não conseguiu atingir grande parte dos livros didáticos que embora se denominem comunicativos, ainda priorizam a norma gramatical (ALMEIDA FILHO, 1993 apud OLIVEIRA, 2005, p. 14). Em meio às dificuldades e as incoerências entre teoria e prática supracitadas surge este artigo, cuja proposta é uma abordagem funcional dos pronomes átonos, afim de que os aprendizes de E/LE, além de saberem empregar estes pronomes em exercícios gramaticais saibam principalmente empregá-los durante a comunicação. Portanto, por acreditar-se que a gramática funcional é a melhor alternativa no processo de ensino e aprendizagem dos átonos, esta proposta consiste na utilização de materiais autênticos que auxiliem neste processo. De acordo com Arreza et al. (1994 apud OUVIÑA, p. 2) Por material auténtico debemos entender las muestras del lenguaje, ya sean orales o escritas, que, en su origen fueron producidas para la comunicación entre hablantes nativos en un contexto no docente, y por tanto, no están graduados de ninguna manera, desde el punto de vista linguístico, ni organizados para mostrar el uso de un punto gramatical concreto. 193 Neste âmbito, “a utilização de materiais autênticos ajuda a recriar situações reais, a aprender a usar expressões dentro de determinados contextos e a absorver dados sócios – culturais imprescindíveis a um bom desempenho linguístico”, proporcionando aos alunos um aprendizado mais significativo da língua alvo (CARVALHO, 1993, p. 119). Por conseguinte, além de poder trabalhar os aspectos linguísticos contidos nos materiais autênticos também há a possibilidade de trabalhar os aspectos sócio-culturais que servirão para aproximar o aluno a outras culturas, o que, segundo Figueiredo (2005, apud OLIVEIRA, p. 48) não costuma ocorrer na maioria dos livros didáticos, os quais “não abordam uma visão de língua estrangeira enquanto manifestação cultural, como se a língua não fosse um veículo de interação entre os povos” e a própria materialização da cultura. Em oposição a essa desvinculação entre língua e cultura, encontrada em diversos livros didáticos, acredita-se ser de fundamental importância no ensino de E/LE evidenciar ao aluno a pluralidade linguística e cultural existente no universo hispânico, pois de acordo com Santos (2002, 2004, 2005 apud MEC/SEB, 2006, p. 134) Há uma forte tendência, por parte dos brasileiros, a classificarem o Espanhol peninsular como “puro”, “original”, “clássico”, “rico”, “perfeito”, “mais correto”, enquanto a variedade rio-platense, por exemplo, é vista como “derivada”, “diferente”, “carregada de particularidades”, “com mistura de outras línguas”, “com gírias e manias locais”, “mais popular. Neste sentido, o material autêntico cumpre importante papel no processo de aprendizagem, cabendo ao professor selecionar materiais de diferentes países hispânicos para que o aluno aprenda a compreender e a respeitar outras culturas, proporcionandolhe com isso, uma vasta exposição a variedades linguísticas, rompendo com estereótipos e preconceitos que geralmente ocorrem ao estudar uma língua estrangeira. 3. Proposta Didática Tendo em vista que a proposta deste artigo almeja oferecer ao aluno um input funcional dos pronomes átonos, explanam-se aqui duas propostas didáticas que auxiliarão o aluno no seu processo de aprendizagem. Essas propostas consistem na utilização de materiais autênticos como ferramenta de ensino, conforme visto anteriormente. Cabe ressaltar que as propostas a serem apresentadas a seguir, evidenciam-se metodicamente e direcionam-se a alunos de nível intermediário, pois os conteúdos aqui referidos abarcam alunos desse nível de aprendizado. Os materiais autênticos escolhidos para esta proposta são: o gênero HQ (História em Quadrinho) e o gênero propaganda. A primeira proposta didática refere-se ao gênero HQ – Figura 1. 194 Figura 1: História em Quadrinho – Gaturro. Fonte: NIK, 2011. Nota-se que a história em quadrinho é uma excelente ferramenta para ensinar os pronomes átonos, visto que a mesma apresenta os pronomes por meio da linguagem verbal e não verbal, ou seja, através de diálogos e imagens, elementos estes característicos de uma situação discursiva. Assim, para introduzir a atividade com HQ, o professor deve antes de tudo apresentar aos alunos os personagens principais e comentar a respeito do autor da obra e dos temas por ele abordado em suas demais obras. Após esta breve apresentação, o professor entrega a cada aluno uma cópia da história em quadrinho e pede para que quatro alunos leiam os diálogos em voz alta, visto que cada aluno representará um personagem da história. Posteriormente, o professor solicita aos alunos que voltem ao diálogo e tentem identificar nos quadrinhos os pronomes utilizados e as quais personagens estes pronomes se referem. Caso os alunos não consigam identificar os pronomes o professor os direciona, dando-lhes dicas, até que eles próprios encontrem os pronomes. Na etapa seguinte, o professor pede aos alunos para que observem a posição dos pronomes de acordo com os verbos e em seguida, o mesmo ilustra na lousa outros exemplos com pronomes átonos pospostos e antepostos ao verbo para que os alunos possam comparar com os exemplos extraídos do diálogo e observar em quais situações os pronomes vem antes ou depois do verbo. Desta maneira, o ensino e aprendizagem dos pronomes átonos é contextualizado por meio de uma situação comunicativa, logrando, portanto, o real objetivo de se aprender uma língua, assim, conforme visto em Ambassa (2006, p. 2) “Aprender lengua equivale pues a aprender a usarla”. Posteriormente, o professor utiliza-se da história em quadrinho para ensinar aos alunos o voseo, um fenômeno linguístico que consiste no uso do pronome vos para 195 referir-se a segunda pessoa do singular tú, fenômeno este característico de alguns países hispânicos. (SONNELAND, 2001, p. 1). A princípio, o professor comenta com os alunos o que vem a ser o voseo, quais países utilizam-se desse deste fenômeno linguístico e em quais países este fenômeno tem ou não prestígio social. Em seguida, assim como no exemplo anterior, o professor volta na história e diz que sendo Nik um autor argentino, utiliza-se do voseo em seus quadrinhos, pois neste país este fenômeno linguístico é utilizado tanto na escrita quanto na oralidade, fato que explica o seu constante emprego. Depois disso, o professor pede para que os alunos tentem identificar quais são as formas verbais que estão no voseo e a partir das respostas, ilustra com mais exemplos no quadro, outros verbos que seguem a mesma conjugação. Como última atividade, o professor entrega aos alunos uma HQ somente com as imagens dos personagens para que eles criem sua história, fazendo uso dos conteúdos estudados na aula: pronomes átonos e o voseo. Por conseguinte, o material autêntico, neste caso a HQ, além de auxiliar no aprendizado da língua alvo em situações reais de uso, auxilia também na “absorção de dados sócio-culturais, imprescindíveis a um bom desempenho linguístico” conforme nos expõe (CARVALHO, 1993), pois, por meio destes materiais, o professor emprega em sua aula mostras reais da língua, mesmo que não se possa ter a possibilidade de utilizar o entorno dos hispano-falantes como recurso pedagógico. A segunda sugestão didática se refere ao gênero propaganda. Figura 2: Propaganda de Buenos Aires 196 A propaganda é um gênero comum tanto na cultura da língua materna dos aprendizes de E/LE quanto nas demais línguas estrangeiras, visto que este gênero faz parte da realidade dos alunos e está constantemente presente no cotidiano dos mesmos. Este foi um dos principais motivos da escolha por este material autêntico, pois se acredita que tais materiais servem de estímulo para que os alunos associem seus conhecimentos teóricos à sua realidade e “o uso de materiais autênticos, neste caso, a propaganda, poderia proporcionar esse elo entre o aluno e o que este aprende em sua vivência, podendo ser considerado assim, um fator motivante e de aprendizagem nesse processo” (OLIVEIRA, 2005, p. 49). Entre os vários tipos de propaganda optou-se pela propaganda de um restaurante-bar, especificamente da cidade de Buenos Aires – Argentina, pois, tendo em vista que o gênero anterior é uma HQ de um autor argentino, o professor tem a possibilidade de se aprofundar mais nos aspetos culturais deste país. Nesta aula o professor apresentaria os pratos típicos de Buenos Aires a partir da propaganda, ao passo que em suas próximas aulas, poderia trabalhar propagandas sobre: filmes argentinos, moda, danças típicas, lugares turísticos e uma infinidade de materiais autênticos relacionados ao país em questão. De igual maneira o professor deve apresentar materiais autênticos de outros países para que o aluno conheça outras formas de cultura e aprenda a respeitar as diferenças existentes entre os países, pois é preciso que o professor, “atue no sentido de evitar dicotomias simplificadoras reducionistas e que permita a exposição dos estudantes à variedade sem estimular a reprodução de preconceitos” (MEC/SEB, 2006, p. 134). Objetivando introduzir a atividade com a propaganda referente à figura 2 o professor inicia a aula perguntando aos alunos o que eles sabem sobre a cidade de Buenos Aires e se eles conhecem quais são os pratos típicos deste país; em seguida, mostra-lhes por meio de um retroprojetor, DVD, ou qualquer outro material disponível, os pratos típicos, perguntando-lhes se já haviam visto alguns destes pratos, entre outras perguntas que forem pertinentes ao tema. Posteriormente a esse procedimento, o professor deverá distribuir a cada dupla a propaganda referente à figura 2 e reproduzi-la através do retroprojetor para que os alunos possam melhor visualizar as ulteriores explicações. Em seguida, o professor apresenta a propaganda aos alunos e solicita que eles façam a leitura da mesma individualmente. Após a leitura, assim como na aula passada, o professor pede para que eles indiquem quais são os pronomes átonos presentes na propaganda, se estes pronomes estão pospostos ou antepostos aos verbos e por quê? . O professor exemplifica na lousa outras frases em que os pronomes se encontram antes ou depois do verbo para que os alunos gradativamente internalizem a regra por meio de exemplos contextualizados. Por conseguinte, para um melhor aproveitamento do material, o professor pergunta aos alunos qual é o modo verbal utilizado na propaganda e, se as repostas forem que os verbos encontram-se no imperativo, como é o caso desta propaganda, o professor pode utilizar-se destes verbos para explicar aos alunos que este modo verbal é comum tanto na língua portuguesa quanto na língua espanhola, porém “seu índice de frequência parece ser maior em castelhano, sobretudo na linguagem oral, na variedade coloquial distensa, enquanto em português, nesses contextos, preferem-se fórmulas de polidez” como, por exemplo, por favor, por gentileza, etc. (FERNÁNDEZ, 1998, p. 88), Por meio destas explicações o professor apresenta um aspecto linguístico muito utilizado pelos falantes dos países hispânicos e que é característico dessa cultura. Neste momento, rompe-se com o estereótipo criado por brasileiros, ao falarem que os hispano197 falantes ao se expressarem “são autoritários ou pouco educados, devido ao fato de não pedir, e sim mandar” (FERNÁNDEZ, 1998, p. 22), algo que por meio da proposta didática procura-se desmistificar. Para finalizar, o professor pode explorar juntamente com os alunos o que geralmente as propagandas apresentam em comum no que se refere a sua estrutura: combinação de texto oral com imagens, slogans breves e de fácil memorização, recursos linguísticos como metáforas, comparações e principalmente a utilização do modo imperativo, utilizado para atrair a atenção do destinatário. Como última atividade, os alunos produzirão em dupla uma propaganda sobre um restaurante argentino, utilizando, portanto, todos os conteúdos vistos em aula: pratos típicos, pronomes átonos e recursos linguísticos que fazem parte da estrutura de uma propaganda. Neste cenário, acredita-se que a utilização de propagandas como auxílio no ensino e aprendizagem tanto de pronomes átonos quanto de qualquer outro conteúdo gramatical, seja válido e eficaz, visto que estes materiais oferecem ao aluno a oportunidade de um contato direto com materiais voltados para o contexto real dos hispano-falantes. Nestes contextos os alunos irão se deparar com materiais autênticos e não com textos “didatizados” ou “simplificados” geralmente encontrados na grande maioria dos livros didáticos direcionados ao ensino de E/LE. (OLIVEIRA, 2005) 4. Considerações finais Levando-se em conta os argumentos apresentados, faz-se necessário que os livros didáticos dirigidos ao ensino de E/LE se conscientizem de que o ensino de gramática, neste caso, dos pronomes átonos, tenha seu papel redimensionado, objetivando atender as necessidades do uso da língua, priorizando, portanto, sua funcionalidade conforme visto em Almeida Filho (2005, apud OLIVEIRA). Neste sentido, percebe-se que o uso de materiais autênticos consegue atingir o real objetivo de se aprender e ensinar uma língua estrangeira uma vez que apresentam aos alunos aspectos linguísticos e sócio-culturais que formam parte do mundo hispânico. Desta forma, o aluno é exposto a uma pluralidade linguística e cultural por meio de materiais produzidos para a comunicação entre os falantes naturais da língua, transformando, segundo Freire (2001 apud OLIVEIRA, 2005) “a compreensão dos textos, que antes se concretizavam em um nível de manipulação mecânica das palavras numa relação dinâmica que envolve língua e realidade”, atendendo, portanto, a essa nova visão de língua, em que aprendê-la é sinônimo de saber usá-la em situações reais de comunicação. Referências AMBASSA, C. Algunas preocupaciones didácticas y metodológicas en la enseñanza de literatura en clase de EL. Revista electrónica de didáctica ELE: español lengua extranjera, Salamanca, n. 8, 2006. 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Nesta perspectiva, este trabalho apresenta uma análise do material didático elaborado pelos alunos do curso de Letras Estrangeiras Modernas, Habilitação em Língua Espanhola e suas Respectivas Literaturas/UEL 2009 para o VIII Mini Curso, proposto pela disciplina 6EST108 – Estágio Supervisionado II, e discute a forma como o tema foi abordado neste contexto específico. Ao final, propõe maneiras simples, porém habituais, de propiciar aos alunos de nível inicial contato com os pronomes complemento na tentativa de minimizar tal dificuldade de ensino/aprendizagem. Palavras-chave: Análise de material didático. Pronomes complemento. Ensino e aprendizagem de espanhol. Resumen El uso de los pronombres complemento es tema de gran dificultad para alumnos brasileños en el proceso de enseñanza/aprendizaje de la Lengua Española. Pese a esa notoria dificultad, son escasas las propuestas de materiales didácticos producidos para brasileños que presenten, desde los niveles iniciales, los usos formal y pragmático de los pronombres complemento. Bajo esta perspectiva, este trabajo propone el análisis del material didáctico elaborado por los alumnos de la carrera Letras Estrangeiras Modernas, Habilitação em Língua Espanhola e suas Respectivas Literaturas/UEL 2009 para el VIII Minicurso, propuesto por la asignatura 6EST108 – Estágio Supervisionado II, y discute el tratamiento del tema en ese contexto especifico. Al final, propone maneras sencillas, sin embargo habituales, de propiciar a los alumnos de nivel inicial contacto con los pronombres complemento con el intento de minimizar tal dificultad de enseñanza/aprendizaje. Palabras clave: Análise de material didático. Pronomes complemento. Ensino e aprendizagem de espanhol. 1. Introducción Este trabajo se propone a analizar la incidencia y el abordaje de los pronombres personales complemento en el material didáctico (separata) elaborado por los practicantes de la carrera de Letras Estrangeiras Modernas, Habilitação em Língua Espanhola e suas Respectivas Literaturas, ofrecido por el Departamento de Letras Estrangeiras Modernas de la Universidade Estadual de Londrina, en el ámbito de las prácticas obligatorias de la asignatura 6EST108 – Estágio Supervisionado II, para el VIII Minicurso de Español Básico, y cuestionar el abordaje de este mismo tema en la 62 Professora de Língua Espanhola da Rede Privada de Ensino/ Pós-graduanda do curso: Espanhol: língua, literatura e metodologia/UEL. E-mail: [email protected] 63 Professora Doutora do Departamento de Letras Estrangeiras Modernas da Universidade Estadual de Londrina. E-mail: [email protected] 200 separata citada y en los materiales didácticos elegidos para la construcción de ésta, direccionados a niveles iniciales de enseñanza/aprendizaje de la lengua española. O uso de pronomes clíticos (ou átonos) constitui uma das dificuldades para os brasileiros aprendizes da língua espanhola. No entanto, conhecer e empregar bem os pronomes é fundamental, especialmente no espanhol, em que essa classe de palavras é usada de maneira muito particular e significativa. (ZORZO-VELOSO; SAITO, 2006, p. 134). Más que una clase de palabra que simplemente sustituye el nombre, los pronombres son palabras poseedoras de valor semántico que apuntan para elementos que constituyen la situación de comunicación (el que habla, el que oye, objetos presentes, lugar, momento): Quando a produção é escrita, quem escreve vai criar os elementos que podem ser apontados pelos pronomes: vai introduzir no texto personagens, objetos, lugares momentos. Os pronomes vão apontar para elementos que sejam apresentados no texto antes do pronome ou depois dele. (GROPPI, 2006, p. 99) 1. Mi primer recuerdo de Funes es muy perspicuo […]: la única vez que lo veníamos a caballo de San Francisco y él andaba en un lugar alto.64 2. Me dijo que Ireneo estaba en la pieza del fondo y que extrañara encontrarla a oscuras.65 no vi, me En el ejemplo 1, el pronombre lo y él se refieren a Funes, introduciendo así el personaje. En el ejemplo 2, el pronombre la se refiere al lugar citado anteriormente – la pieza. En estos ejemplos figuran dos tipos de pronombres personales. Su clasificación se puede observar en el recuadro a seguir: Cuadro 1 – Pronombres personales (Adaptado de ALARCOS, 1994, p. 201) Complementos (átonos) Sujeto Objeto directo Objeto indirecto con preposición OD OI (tónicos) número persona singular 1ª Yo me me (a) mí, conmigo 2ª Tu te te (a) ti, contigo 3ª él, Ella lo, la le (a) él, ella reflexivo se se (a) sí, consigo plural 1ª Nosotros nos nos (a) nosotros 2ª Vosotros os os (a) vosotros 3ª ellos, ellas los, las les (a) ellos, ellas reflexivos se se (a) sí, consigo Para aclarar las informaciones del recuadro, podemos decir que las formas del pronombre personal sujeto (también llamadas de tónicas) pueden, por ellas mismas, rellenar el espacio que un sintagma nominal (SN) podría ocupar en la sentencia (3.). Según Groppi, (2006, p. 104), generalmente cuando un elemento es introducido en un 64 65 BORGES, 1995, p. 8-9. Ibidem, p. 12. 201 discurso se utiliza un SN y en nuevas menciones este SN puede ser sustituido por un pronombre, para enfatizar la información, o simplemente se menciona el verbo (4.). 3. Funes y yo, de un vistazo, percibimos tres copas en una mesa. vistazo, percibimos tres copas en una mesa.66 Nosotros, de un 4. En efecto, Funes no sólo recordaba cada hoja de cada árbol, de cada monte, sino cada una de las veces que la había percibido o imaginado. Resolvió reducir cada una de sus jornadas pretéritas, a unos mil recuerdos, que definiría luego por cifras. 67 Las formas del pronombre personal complemento (también llamados de formas átonas o pronombres clíticos) se articulan para hacer referencia a la predicación del verbo: son elementos que sustituyen o hacen referencia a los complementos verbales (objetos). Según Zorzo-Veloso y Saito (2006)68, el verbo posee espacios argumentales, sintácticamente conocidos por sujeto, objeto directo e objeto indirecto. Los espacios argumentales de objeto directo y/o indirecto son, en español, frecuentemente ocupados por pronombres clíticos. Al analizar el ejemplo 5.Roberto dio un lindo regalo a nosotros. Y nos lo dio en el día de nuestra boda. tenemos: Roberto dio un lindo regalo a nosotros. Sujeto OD OI Es decir, el discurso se inició con el anuncio de una información nueva – Roberto dio un lindo regalo a nosotros. Enseguida, para introducir una nueva información (cuando), el interlocutor suprimió el nombre del sujeto y sustituyó la información ya conocida – el acto practicado por el verbo (los objetos dar algo a alguien) – por los pronombres átonos. Veamos: Y nos lo dio en el día de nuestra boda. 69 OI OD Estas sustituciones, que suenan tan particulares a los brasileños aprendices del español, son corrientes y frecuentes en el uso de la lengua española por nativos. A partir de este breve repaso teórico sobre los pronombres personales, pasaremos al desarrollo del trabajo que se organizará de la siguiente manera: En 1, analizaremos la presencia cuantitativa de los pronombres átonos a lo largo de toda la separata: en los textos (escritos y audio-visuales) y enunciados. En 2 presentaremos precisamente el abordaje de tales pronombres en cuanto contenido seleccionado para la enseñanza en el curso: los tipos, en que momentos son presentados y las actividades propuestas. En 3, haremos algunas consideraciones sobre la relación entre la importancia del contenido para la enseñanza de la lengua española como LE a aprendices brasileños y su incidencia en cuanto contenido seleccionado para la confección del material. 66 Adaptado de Ibidem, p. 13. Ibidem, p. 16. 68 Apud ALARCOS, 1990 (traducción libre nuestra). 69 Por cuestiones gramaticales, el orden de los objetos se cambian al hacer las sustituciones: OD+OI > OI+OD. (Cf. FANJUL, 2005, p. 62) 67 202 Para concluir, propondremos una actividad para la presentación de los pronombres átonos y sus usos a aprendices de nivel inicial. 2. La presencia de los pronombres átonos en la separata del VIII Minicurso de Español Básico Como ya se ha dicho anteriormente, la muestra analizada en este trabajo es el material didáctico elaborado por los alumnos del 4° año nocturno de la carrera de Letras Estrangeiras Modernas –Habilitação: Licenciatura em Língua Espanhola e Respectivas Literaturas de la Universidade Estadual de Londrina/PR (UEL), bajo la orientación de la Profa. Dra. Valdirene Zorzo-Veloso. Dicho material se constituye de una separata compuesta por 10 unidades didácticas con un promedio de 10 páginas cada unidad. Es importante aclarar, antes de proseguir, que este material se ha elaborado buscando los referenciales teóricos del enfoque comunicativo – que propone el concepto de competencia comunicativa que se puede alcanzar a través del empleo y desarrollo de conocimientos socioculturales, discursivos, estratégicos, linguísticos y funcionales para que el aprendiz pueda comunicarse de manera satisfactoria (SANTOS GARGALLO, 1999, p. 67) – mediante la recopilación y adaptación de contenidos y actividades presentes en libros didácticos dirigidos a la enseñanza de español a brasileños ya existentes en el mercado. Para la separata, inicialmente los practicantes definieron los contenidos funcionales que juzgaban indispensables para el contexto propuesto – curso básico con 45 horas de duración, en que cada unidad iba a ser trabajada con los alumnos en una clase semanal de 3 horas o en dos clases semanales de 1h30 cada – enseguida, en grupos de 2 ó 3 personas, los practicantes seleccionaron las unidades que proponían el tema comunicativo predeterminado en los libros didácticos y elegidos para componer la separata. Entonces, según la necesidad de adecuación al programa previamente elaborado, los practicantes adaptaron o elaboraron actividades exclusivas para este minicurso, así que, de manera general, esta separata refleja los contenidos propuestos por los propios libros didácticos seleccionados y también la mentalidad del grupo de profesores-practicantes del periodo nocturno de la carrera citada cuanto a los contenidos esenciales para el nivel inicial de enseñanza de la lengua española a brasileños. Considerando estas informaciones, partiremos ahora al análisis del material didáctico como tema principal de este trabajo – la incidencia de los pronombres átonos – pero en este primer momento, no como contenido propuesto, sino su presencia en los textos escritos, audio-visuales y enunciados de actividades. Analicemos el recuadro a seguir que está organizado por unidades y sus respectivos temas: Cuadro 2 – Cuantidad de pronombres átonos en la separata analizada. UNIDADES Cuantidad de incidencias OD OI OI+OD Unidad 1 – ¡Mucho gusto! ¿Vamos a conocer el español? 35 7 2 Unidad 2 – ¿Qué hago primero? 22 10 Unidad 3 – ¿Cómo me ves? 17 9 2 Unidad 4 – ¡Cuídate! 27 12 4 Unidad 5 – Tu vivienda, tu hogar. 38 4 2 Unidad 6 – ¡Comprar sí, pero sin perder el control! 12 9 Unidad 7 – ¿Cómo hago para llegar a…? 9 2 1 Unidad 8 – El medio ambiente es nuestra casa. 4 2 Unidad 9 – Recuerdos de mi niñez. 15 7 1 203 Unidad 10 – Planeando mi futuro. 13 1 - Fuente: Separata elaborada por los alumnos del 4º año de la carrera de Letras Estrangeiras Modernas –Habilitação: Licenciatura em Língua Espanhola e Respectivas Literaturas/UEL, bajo la orientación de la Prof. Dra Valdirene Zorzo-Veloso. En análisis cuantitativo, se ha destacado el uso de los pronombres átonos 269 veces a lo largo de toda la separata, por lo tanto un promedio de 26 apariciones por unidad didáctica, de las cuales, en un promedio de 5 veces, hubo el uso de complementos directos e indirectos conjuntamente, y 11 apariciones de casos de duplicación de los pronombres átonos. La mayor incidencia está en los textos tanto auténticos (periódicos, revistas, recetas, etc.) como también en los diálogos producidos para el contexto didáctico. Citaremos algunos ejemplos de tales textos y de enunciados: 6.Teresa: Rosa: Teresa: Estoy con unos amigos. ¿Te gustaría conocerlos? Sí, ¿dónde están? Estamos en aquella mesa. Te los presento en seguida, si quieres”. 70 7. Rodrigo: ¿Quién es ese Diego? ¿Por qué tienes que invitarlo? 71 8. Al mismo tiempo, existe una menor carga de obligaciones del joven para con su familia, lo que les sitúa en una posición “muy ventajosa” para captar una parte importante y creciente de los recursos familiares […]. 72 9. En parejas, uno elige un mes del año y el compañero deberá describir de qué mes se trata. Para eso, hay que darle algunas pistas. Por ejemplo: es un mes de vacaciones/ de mucho calor, etc. En este primer análisis vemos que la cantidad de apariciones es muy expresiva y, por si sola, pone de relieve la frecuencia de estos elementos en el discurso escrito y oral de la lengua española. 3. El abordaje de los pronombres átonos como contenido programático en la separata del VIII Minicurso Básico de Español de la UEL Como contenido programático de enseñanza, la separata del VIII Minicurso de Español Básico de la UEL abordó de manera directa los pronombres átonos en dos momentos y unidades didácticas distintas: 1) en sus formas reflexivas73 utilizadas junto a los verbos que expresan acciones diarias/cotidianas; 2) en construcciones especiales con OI. Como se ha dicho anteriormente, esta separata sigue los referenciales teóricos del enfoque comunicativo, por lo tanto, todos los contenidos fueron propuestos observando la contribución para el desarrollo de la competencia comunicativa. Vamos a relatar las actividades considerando este contexto: 70 Adaptado de: MENDONZA; BRUNO, 2004, p. 12 BRIONES; FLAVIAN; ERES FERNÁNDEZ, 2003, p. 78. 72 El país. La emancipación de los jóvenes españoles aumenta por primera vez en diez años, según un estudio. Disponible en: < http://www.elpais.com/articulo/sociedad/emancipacion/jovenes/espanoles/aumenta/primera/vez/anos/estudio/elpepusoc/200607 20elpepusoc_7/Tes>. Accedido el 04/06/2009. 73 Cf. Cuadro 1. 71 204 La primera incidencia está en la unidad 2 – ¿Qué hago primero?– Esta unidad fue elaborada, entre otras cosas, para posibilitar que los alumnos fuesen capaces de expresarse en cuanto a sus acciones diarias, por eso la incidencia de los pronombres reflexivos junto a los verbos que expresen esta noción. Inicialmente se propone una actividad de interacción, y se ofrece una fórmula y verbos del tipo reflexivo para que los alumnos hablen entre sí. Por ejemplo: acostarse; arreglarse; lavarse; etc. Enseguida, en un cuadro, se explica cómo se conjuga el verbo de acuerdo con el modo y tiempo en que está y se proponen dos casos: para verbos que estén en infinitivo el pronombre se pone pospuesto, transformando el verbo y el pronombre en una sola palabra; para verbos que estén en tiempo presente de indicativo el pronombre se coloca antepuesto y separado del verbo; el cuadro demuestra incluso cuales son los pronombres reflexivos correspondientes a todos los pronombres sujeto. Para finalizar, se propone una serie de sentencias en presente de indicativo en las cuales el alumno debe rellenar los espacios vacíos con los pronombres reflexivos que faltan respetando las personas indicadas por los pronombres sujeto, entre paréntesis. Como éste se trata del primer contenido propuesto por la unidad 2, otras actividades indirectas de producción escrita se pueden encontrar a lo largo de la unidad. El segundo momento en que el pronombre átono es abordado como contenido de enseñanza está en la unidad 6 – ¡Comprar sí, pero sin perder el control! – El tema de esta unidad fue pensado para que los alumnos fuesen capaces de expresar gustos y preferencias y expresar opiniones a través de los verbos gustar, apetecer, parecer y encantar. Estos verbos, según Fanjul (2005, p. 64), son construcciones especiales con OI. El verbo gustar, por su especial dificultad de enseñanza a aprendices brasileños hablantes del portugués y también por su función dentro del contexto de la unidad, fue abordado solamente para expresar gustos en relación a cosas. Para facilitar la comprensión de los alumnos en relación a él, inicialmente se hace una comparación del verbo gustar con el verbo agradar, de la lengua portuguesa, pues los dos tienen una estructura semejante. A seguir, se presenta un cuadro con los pronombres personales sujeto y sus correspondientes átonos OI. Se propone entonces que los alumnos, en parejas, intenten redactar una regla de uso a través de la observación de un cuadro que presenta ejemplo de uso de las formas del verbo gustar en singular y en plural con algunas formas tónicas y otras átonas del OI. 74 Luego, se pide a los alumnos que lean una lista de sentencias con los verbos principales de la unidad (citados anteriormente) e intenten identificar a cuales pronombres sujeto se refieren los pronombres de OI. Para finalizar, se ofrece a los alumnos una lista de complementos OD y para cada ítem un pronombre sujeto para que el alumno elabore una frase empleando correctamente uno de los verbos estudiados con el OI correspondiente y el OD. Ejemplo: (Yo) helado de fresa > Me gusta helado de fresa. Presentadas las actividades de enseñanza de los pronombres átonos propuestos por la separata del VIII Minicurso de Español Básico de la UEL, dirigidas a aprendices de nivel inicial, pasaremos ahora a una breve consideración sobre la frecuencia de apariciones de los pronombres átonos y la ausencia de actividades que aclaren y distingan tales elementos de otros que puedan causar dificultades de comprensión escrita y oral en el momento presente y dificulten también, en el futuro, la asimilación de otros aspectos semánticos y pragmáticos del tema en niveles superiores de enseñanza/aprendizaje de la lengua española. 74 Cf. Cuadro 1. 205 4. Consideraciones finales Antes de proseguir, es interesante destacar que el material analizado fue elaborado para un contexto específico: la enseñanza de la lengua española en el minicurso con 45 horas de duración a aprendices que tuvieron poco o ninguno contacto con esta lengua y que van a mantener los primeros contactos con ella a través de este material. Reafirmamos que el resultado de esta separata refleja no solo la mentalidad de los profesores-practicantes de la carrera de Letras Español de la UEL, pero de igual manera la de los libros didácticos elegidos para la confección de este material: ambos no han propuesto actividades relativas al tema de los átonos como ocupantes del espacio argumental del complemento de los verbos, ni tampoco una presentación del tema. En contrapartida, reconocemos que el carácter comunicativo de esta separata justifica el abordaje de los pronombres átonos tal como ha sido propuesto, y podemos decir que logramos alcanzar los objetivos esperados con estas actividades. Sin embargo, en este primer contacto con la lengua española, principalmente para facilitar la comprensión escrita y posibilitar al alumno conocimientos pragmáticos, es que cuestionamos la ausencia de una actividad que presente los pronombres átonos en su empleo más común de uso: como ocupantes de los espacios argumentales del verbo. Si la incidencia de estos elementos en la lengua hablada y escrita es tan grande y la extrañeza que provoca en los alumnos brasileños es tan común, ¿por qué no presentar estos elementos al principio del curso a los alumnos, de manera sencilla, para que se familiaricen con los aspectos de la lengua española que más se distinguen de la lengua portuguesa? Hacemos esta pregunta al considerar las necesidades de los alumnos del VIII Minicurso de la UEL, las necesidades que yo misma tuve como alumna de la carrera de Letras Español de la UEL, y la necesidad de tantos aprendices que tienen dificultad en relación a los pronombres átonos. El contacto inicial de los alumnos con estos elementos genera muchas dudas que, si aclaradas previamente, aunque de manera superficial, facilitarían la exposición más detallada y profunda del tema en los niveles superiores de enseñanza. Como ejemplo puedo decir que un alumno de este minicurso me ha relatado que no entendía porque se dice lo diré a mi madre, en lugar de la diré a mi madre, una vez que madre es femenino, o sea, la aclaración de lo que es pronombre átono como ocupante del espacio argumental del verbo proporcionaría a los alumnos que desarrollasen una conciencia de uso más productiva ya a partir del nivel inicial. Al proponer este análisis no ignoramos la dificultad de la enseñanza de los pronombres complemento, al contrario, creemos que cuanto más temprano sea el contacto formal con estos elementos, todavía más fácil será la comprensión gradual de todos los aspectos que envuelven esta clase de palabras. Para concluir, proponemos una actividad muy sencilla para la presentación de los pronombres átonos, en su función de ocupar los espacios argumentales del complemento de los verbos, a alumnos de niveles iniciales, basada en la comprensión escrita y su desarrollo y en aspectos del análisis sintáctico de una canción. Esta actividad permite que los alumnos comprendan, como mínimo, en pocas preguntas la justificación para la presencia de tales elementos. Nivel: Inicial Objetivo: que los alumnos hagan relaciones entre los pronombres átonos que ocupan los espacios argumentales de los verbos y sus referenciales en un texto escrito. Destrezas: comprensión oral, comprensión escrita, producción oral. La actividad consiste en presentar una canción (u otro texto, de acuerdo con la preferencia de los alumnos) en la cual haya una gran incidencia de pronombres átonos. 206 Para que los alumnos estén más tranquilos el profesor les informa que esta actividad se trata de una presentación de un elemento muy importante de la lengua española solo para que se familiaricen con ella. Desarrollo: los alumnos deben inicialmente escuchar la música sin la letra para la práctica de la comprensión oral. (el profesor puede leer el texto en voz alta, pero lo bueno/ideal sería que el alumno tuviese la posibilidad de oír otra variante distinta de la del profesor). Ya con la letra completa de la canción en manos, los alumnos harán la lectura con la ayuda del profesor que les aclarará las dudas de vocabulario o les indicará el uso del diccionario. Luego, el profesor lee el texto con los alumnos preguntándoles qué significan tales elementos, en el caso de ellos mismos no lo cuestionen. A partir de ahí, el profesor estimula a los alumnos que busquen los referentes para cada pronombre átono que ocupen el/los espacios argumentales de los verbos. El profesor siempre sigue a los alumnos y les indica, si fuese necesario, cuales son los pronombres que están buscando. Terminada esta fase, el profesor distribuye otra hoja que esté con espacios vacíos en los lugares de los pronombres átonos para que los alumnos rellenen estos espacios con los referentes, utilizando la otra hoja completa como apoyo. De pronto el profesor lee con los alumnos la nueva letra de la canción que han escrito y comenta con los alumnos la necesidad del uso de los pronombres para que los referentes se repitan tantas veces. Para finalizar, el profesor presenta un cuadro con los pronombres personales sujeto y sus correspondientes complemento directo y los tónicos y átonos del complemento indirecto. Como manutención/fijación, el profesor puede siempre retomar el tema en la lectura de textos pidiendo a los alumnos que identifiquen los referentes de los pronombres átonos. En suma, en este trabajo presentamos una breve definición de los pronombres personales, para enseguida analizar el material didáctico producido por los alumnos del 4º año de la carrera de Letras Estrangeiras Modernas, Habilitação em Língua Espanhola e suas Respectivas Literaturas, ofrecido por la Universidade Estadual de Londrina, para el VIII Minicurso de Español Básico. Verificamos, inicialmente, la incidencia de los pronombres átonos como recurso discursivo y luego analizamos las actividades de enseñanza del tema a alumnos de nivel inicial propuestas por la separata. Enseguida, consideramos algunas cuestiones en relación a la necesidad de presentarse este contenido ya en los niveles iniciales de enseñanza/aprendizaje de la lengua española a brasileños nativos hablantes del portugués. Finalizamos el trabajo presentando una propuesta de actividad para este fin. Al analizar el producto final de este trabajo, concluimos que el abordaje de los pronombres complemento en el material del VIII Minicurso de Español Básico de la UEL está por debajo de las necesidades reales de los aprendices cuanto al tema propuesto y por si solo no proporcionó un ambiente adecuado para el desarrollo de conocimientos pragmáticos tan necesarios a este público especifico. Esperamos que este material sirva de incentivo y apoyo a profesores de español como lengua extranjera a brasileños que tengan el portugués como lengua materna. Referencias ALARCOS LLORACH, Emilio. Gramática de la Lengua Española. Madrid: Espasa Calpe, 1994 207 BORGES, Jorge Luis. Funes el memorioso, en: Artificios, Madrid: Alianza, 1995, p. 89. BRIONES, Ana; FLAVIAN, Eugenia; ERES FERNÁNDEZ; Gretel. Español ahora 1. São Paulo: Moderna, 2003, p. 78. El país. La emancipación de los jóvenes españoles aumenta por primera vez en diez años, según un estudio. Disponible en: < http://www.elpais.com/articulo/sociedad/emancipacion/jovenes/espanoles/aumenta/primera/vez/anos/es tudio/elpepusoc/20060720elpepusoc_7/Tes>. Accedido el 04/06/2009. FANJUL, Adrián (org.). Gramática de Español paso a paso: con ejercicios. São Paulo: MODERNA, 2005 GROPPI, Mirta. Falando de pronomes. Signum. Estudos de Linguagem, v. 9, 2006, p. 95-109 MENDONZA, Maria Angélica; BRUNO, Fátima Cabral. Hacia el español: nivel básico. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 12 SANTOS GARGALLO, Isabel. Linguística aplicada a la enseñaza del español como lengua extranjera. Madrid: Arco/Libros. 1999 ZORZO-VELOSO, Valdirene Filomena; SAITO, Rosiane da Silva. Funções pragmáticas da duplicação de clíticos: mostras no gênero HQ. Entretextos, Londrina, n. 6, jan/dez 2006, p.134-142 208 REALIZAÇÃO Departamento de Letras Estrangeiras Modernas Área de Língua Espanhola COLABORADORES Centro de Letras e Ciências Humanas Colegiado de Letras Estrangeiras Modernas 209