23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental
II-011 – DESAGUAMENTO E ESTABILIZAÇÃO ALCALINA DE LODO
ANAERÓBIO
Kenia Kelly Barros(1)
Engenheira Civil pela UFPB. Mestre em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos pela UFPE.
Lourdinha Florencio
Engenheira Civil pela UFPE. Mestre em Hidráulica e Saneamento pela EESC/USP. Ph.D em Tecnologia
Ambiental pela Universidade Agrícola de Wageningen, Holanda. Professora Adjunta do Departamento de
Engenharia Civil, Centro de Tecnologia e Geociências da UFPE.
Mario Takayuki Kato
Engenheiro Civil pela UFPR. Mestre em Hidráulica e Saneamento pela EESC/USP. Ph.D em Tecnologia
Ambiental pela Universidade Agrícola de Wageningen; Holanda. Professor Adjunto do Departamento de
Engenharia Civil; Chefe do Laboratório de Saneamento Ambiental, Centro de Tecnologia e Geociências da
UFPE.
Sávia Gavazza
Engenheira Civil pela UFAL. Doutora em Hidráulica e Saneamento pela EESC/USP. Pesquisadora DCR
(CNPq) junto ao Programa de Pós-graduação em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos do Departamento
de Engenharia Civil, Centro de Tecnologia e Geociências da UFPE.
Endereço(1): Laboratório de Saneamento Ambiental, Departamento de Engenharia Civil, UFPE. Av.
Acadêmico Hélio Ramos, s/n – Cidade Universitária. Recife PE. CEP: 50.740-530 - Brasil - Tel: + 55 81 2126- 8228
/ 8229. Fax:: +55 81 2126- 8219 / 8205. E-mail: [email protected]
RESUMO
Nos sistemas de tratamento de águas residuárias faz-se uso de operações e processos unitários em tanques
distintos e sucessivos, nos quais ocorrem fenômenos de separação das fases líquida, sólida e gasosa. O lodo de
reatores biológicos, tratando esgotos domésticos, reflete, na sua constituição, todos os poluentes procedentes
das atividades, hábitos alimentares e do nível de saúde da comunidade atendida pelas redes coletoras de
esgotos, além de alta umidade. Por isso, torna-se importante submetê-los ao desaguamento e à higienização
antes do seu destino final. Neste experimento procurou-se analisar as transformações ocorridas nas
características físico-químicas e microbiológicas do lodo de descarte de reatores UASB, antes e depois do seu
tratamento. Durante 17 meses de monitoramento, foram realizadas descargas controladas nas oito células que
compõem o reator UASB em operação na ETE Mangueira (Recife, PE). O período de cada desaguamento do
lodo de descarte nos 8 leitos de secagem foi de 20 dias e o lodo seco (desaguado) foi removido com umidade
na faixa de 62 a 70%. Para a eliminação dos organismos patogênicos, esse lodo seco foi submetido à
estabilização alcalina, com o uso da cal hidratada, em dosagens de 30, 40 e 50% em relação ao peso do lodo
seco, para elevar o pH acima de 12. O lodo seco apresentou concentrações de STF e STV, em relação aos ST,
na faixa de 55 – 69% e 31 – 45%, respectivamente. Em 60 dias de maturação, a densidade de coliformes
fecais atingiu valores na faixa de 100 a 2120 NMP/g MS (matéria seca a 105 °C), com 30% de cal hidratada;
55,4 a 842 NMP/g MS, com 40%; e 25,5 a 54,1 NMP/g MS com 50%. Os ovos de helmintos foram totalmente
inviabilizados no lodo desaguado somente quando este foi tratado com 50% de cal hidratada. A concentração
de NTK (g/kg MS) reduziu em até 72% quando essa mesma dosagem de cal hidratada foi aplicada ao lodo
seco. Estes resultados indicam que a remoção de coliformes e ovos de helmintos, em lodo anaeróbio, pode ser
viável com a concentração de 50% de cal hidratada, em relação ao peso lodo seco, com 60-70% de umidade,
período de desaguamento de 20 dias, nas condições ambientais locais, podendo o lodo estabilizado ser
reutilizado posteriormente sem apresentar riscos à saúde e ao meio ambiente.
PALAVRAS-CHAVE: Lodo Anaeróbio,
Patogênicos, Características Físico-químicas.
Desaguamento,
Estabilização
Alcalina,
Microrganismos
INTRODUÇÃO
Em sistemas de tratamento de águas residuárias faz-se uso de operações e processos unitários em tanques
distintos e sucessivos, nos quais ocorrem os fenômenos de separação das fases líquida, sólida e gasosa, com a
transformação dos poluentes presentes nos esgotos. Na etapa de separação, os microrganismos se aderem às
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partículas sólidas do meio; assim, o lodo proveniente dos reatores biológicos contém todos os poluentes
procedentes das atividades, dos hábitos alimentares e do nível de saúde da população atendida pelas redes
coletoras de esgotos. Por isso, antes do seu destino final, este resíduo deve ser submetido a um tratamento para
reduzir, a limites aceitáveis, seu grau de patogenicidade.
Antes de tomar uma decisão a respeito de qual tratamento deve ser aplicado ao lodo, é de grande interesse
conhecer a quantidade de lodo produzido, suas características químicas e microbiológicas, os custos de
implantação, de operação e de gerenciamento do tratamento. Só desta forma é que podemos assegurar o êxito
do método de tratamento a ser utilizado (CHÁVEZ et al, 2000).
A capacidade de desaguamento de lodo varia de acordo com a sua natureza e está diretamente relacionada
com o tipo de lodo e a forma com que a água está ligada às partículas do lodo (GONÇALVES et al, 2001). O
lodo de reatores anaeróbios tipo UASB (reator anaeróbio de manta de lodo e fluxo ascendente), tratando
esgotos domésticos, se adapta muito bem ao desaguamento em leitos de secagem. A biomassa fica retida mais
tempo no sistema, onde ocorre a digestão anaeróbia do próprio material celular. O resultado disto é um lodo
com menor teor de matéria orgânica (lodo digerido) e maior concentração de sólidos inorgânicos, o que
dispensa uma etapa posterior de digestão.
Os leitos de secagem são unidades de tratamento, cujo princípio de funcionamento envolve basicamente duas
etapas: uma fase de drenagem do excesso de água livre presente no resíduo, com lixiviação de nutrientes, e
outra de evaporação natural. O lodo deve ser retirado do leito de secagem tão rápido quanto possível, após
atingir teores de ST (sólidos totais) em torno de 30%, para não dificultar sua remoção posterior.
O grau de patogenicidade do lodo é, em geral, pouco reduzido apenas através de processos de estabilização,
como a digestão anaeróbia e a digestão aeróbia, necessitando de uma etapa completar, a higienização, como
por exemplo, a estabilização alcalina do lodo, para a sua completa inativação (PINTO, 2001).
A estabilização alcalina consiste na mistura da cal virgem ou hidratada ao lodo para elevar o pH a valores
maiores ou iguais a 12. Além da alteração do pH, dois fatores intervêm no processo de desinfecção do lodo
com o uso da cal: alteração da temperatura e a ação da amônia que será formada a partir do nitrogênio do lodo
em condições de temperatura e pH elevados. A adição de cal ao lodo provoca uma perda expressiva de
nitrogênio (em torno de 50%); mesmo assim, um lodo digerido anaerobiamente e caleado apresenta um teor de
médio de 1,5% de nitrogênio por tonelada de MS (matéria seca), ou 15 kg de N/t (ILHENFELD et al, 1999).
A estabilização alcalina é um processo de fácil operação, que pode ser implantado facilmente em estações de
tratamento de pequeno porte; e o lodo caleado pode ser usado na correção de solos, na adubação de jardins ou,
dependendo do grau de redução de microrganismos patogênicos, como fertilizante orgânico, desde que
atendam os limites estabelecidos pelas normas brasileiras. Em alguns estados brasileiros os seguintes limites
devem ser atendidos para que o lodo proveniente de estaçöes de tratamento de esgotos (ETE) possa ser usado
como fertilizante orgânico (SANTOS, 2001): no Paraná se indica um valor limite de 0,25 ovo de helmintos/g
MS na contagem de ovos viáveis e 103 NMP/g MS para a densidade de coliformes fecais; em São Paulo, a
CETESB atribui valores admissíveis para a reciclagem agrícola do lodo higienizado de 103 NMP/g MS para a
densidade de coliformes fecais e menos de 1 ovo viável de helminto por 4 g de MS.
O objetivo deste experimento foi o de analisar as modificações nas características físico-químicas e
microbiológicas que ocorrem no lodo de descarte quando este é submetido a um processo de desaguamento
em leitos de secagem, seguido por estabilização alcalina com o uso da cal hidratada (cal de construção) em
dosagens de 30, 40 e 50% de cal com relação ao peso do lodo seco.
MATERIAIS E MÉTODOS
Entre janeiro de 2003 a maio de 2004 realizaram-se descargas de 8,82 m3 do lodo de excesso, em cada uma
das oito células que compõem o reator UASB/Mangueira, diretamente em leitos de secagem. O período de
desaguamento foi de 20 dias e todos os leitos de secagem permaneceram descobertos. O lodo foi submetido à
desidratação sem revolvimento e quando a umidade do lodo seco atingiu valores na faixa de 62 a 70%, sua
remoção foi realizada com o uso de pás e carrinhos de mão.
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Para caracterizar os lodos de descarte e seco, os seguintes parâmetros foram avaliados: umidades (65 °C e 105
o
C), teor de sólidos totais (ST), sulfato, fósforo total, nitrogênio total (NTK), potássio, pH, temperatura,
condutividade elétrica, peso específico do lodo e microrganismos patogênicos (coliformes fecais e viabilidade
de ovos de helmintos).
Após o desaguamento, o lodo seco era misturado com cal hidratada, em dosagens de 30, 40 e 50% em relação
ao peso do lodo seco e, depois, disposto em leiras dentro dos próprios leitos de secagem e essas cobertas com
uma lona plástica, permanecendo desta forma até o final do período de maturação (60 dias). O lodo caleado
foi submetido, antes e depois do período de maturação, às análises de NTK, pH e de microrganismos
patogênicos (coliformes fecais e viabilidade de ovos de helmintos).
As análises foram realizadas no Laboratório de Saneamento Ambiental (LSA), Departamento de Engenharia
Civil, Universidade Federal de Pernambuco. Todos os ensaios físico-químicos foram baseados no Standard
Methods for the Examination of Water and Wasterwater (1995); os nutrientes (N, P e K) foram determinados
através da metodologia descrita por KIEHL (1985) e as análises bacteriológicas e parasitológicas através das
metodologias de HIGASKINO et al (1998) e MEYER et al (1978), respectivamente.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Características Físico-químicas em Amostras do Lodo de Descarte e Seco
Os resultados contidos na Tabela 1 mostram os valores dos parâmetros físico-químicos nos lodos de descarte
(dia 0) e seco (dia 20).
Tabela 1: Características físico-químicas médias do lodo de descarte (dia 0) e seco (dia 20).
PARÂMETROS
Nº de
Amostras
Leitos
17
1
9
2
6
3
5
4
4
5
3
6
3
7
3
8
Dias
0
20
0
20
0
20
0
20
0
20
0
20
0
20
0
20
T
°C
30
29
26
32
25
27
28
28
Peso Específico
do Lodo
(kg/m3)
1015
1187
1035
1159
1066
1132
1134
1159
1077
1107
1066
1139
1076
1139
1076
1172
CE
μS/cm
PH
7,0
5,5
7,8
6,9
8,7
5,2
7,9
5,5
7,5
5,2
7,0
6,0
6,7
5,7
6,7
5,6
1459
2019
1242
1500
1520
1694
1356
1760
1050
1903
1810
2410
801
1403
801
1859
% Matéria Úmida
(lodo de descarte)
U 65°
U 105°
93
66
92
62
93
63
97
63
91
63
91
61
93
62
93
66
%ST
%ST
93
66
92
63
93
64
97
63
91
63
91
62
94
63
94
66
%STF
7
34
8
37
7
36
3
37
9
37
9
38
6
37
6
34
%STV
62
65
49
55
48
69
53
61
57
66
58
64
53
60
53
56
38
35
51
45
52
31
47
39
43
34
42
36
47
40
47
44
Os resultados apresentados na Tabela 1 indicam que houve uma redução nos valores de pH com o
desaguamento do lodo; isto pode estar relacionado aos fatores ambientais relativos à exposição do lodo nos
leitos de secagem que causam a perda de água. No processo de secagem ainda ocorre a decomposição da
matéria orgânica, onde são formados os ácidos orgânicos e os cátions (K, Ca, Na, Mg e OH), que dão um
caráter básico ao lodo e são lixiviados com a água, contribuindo para o decaimento do pH do lodo seco.
A perda de água causou ainda um aumento na condutividade elétrica e nos STF (sólidos totais fixos), e a
conseqüente redução dos STV (sólidos totais voláteis). A permanência do lodo, por um período de tempo
prolongado em leitos de secagem, a temperatura ambiente de 24 a 36 °C (dados do INMET – Instituto
Nacional de Meteorologia), provoca uma estabilização adicional da matéria orgânica, ao passo que a
quantidade de sólidos inorgânicos aumenta, por causa da grande quantidade de areia presente no lodo de
descarte, uma vez que antes da permanência do lodo no leito de secagem a porcentagem de STF já era maior
que a de STV.
Como o processo de separação de sólidos e líquidos tende a aumentar o teor de matéria seca, observado
através dos resultados de ST alcançados no último dia de secagem do lodo, resultou-se em aumento no peso
específico do lodo seco.
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As umidades registradas no lodo dos leitos 1 e 8 foram mais altas, em comparação com as verificadas nos
outros leitos, por causa dos períodos chuvosos ocorridos durante os meses de descargas do lodo de excesso. A
secagem do lodo nos outros leitos passou por períodos de estiagem maiores, como ocorreu com o leito 6 que
apresentou umidades médias de 61% a 65 °C e 62% a 105 °C.
A Tabela 2 contém informações sobre a concentração de nutrientes presente no lodo antes e após o
desaguamento.
Tabela 2: Concentrações médias de nutrientes, antes e após o desaguamento.
Retenção do
Nº de Amostras
lodo anaeróbio
Leitos
Nutrientes (g/kg de MS)
Dias
S
1 mês
17
1
2 meses
9
2
3 meses
6
3
4 meses
5
4
5 meses
4
5
6 meses
3
6
7 meses
3
7
8 meses
3
8
0
20
0
20
0
20
0
20
0
20
0
20
0
20
0
20
P
6,2
10,7
19,1
39,4
13,9
24,0
14,5
28,7
9,7
31,3
14,2
29,4
15,7
36,1
10,1
35,2
N
1,2
3,1
5,0
6,4
6,8
14,0
4,8
12,6
5,6
13,7
4,0
9,1
4,1
8,1
2,1
7,5
K
14,6
10,5
17,5
11,9
17,3
10,4
18,6
11,2
15,4
12,9
16,1
12,6
14,2
12,6
17,5
15,4
3,1
2,4
7,1
3,8
4,0
3,2
9,6
3,0
7,1
4,3
9,0
8,0
10,6
2,5
8,5
3,6
Com relação à concentração de nutrientes presentes no lodo, os teores de sulfato e fósforo total aumentaram,
provavelmente porque estes elementos encontram-se na fase sólida e a secagem do lodo eleva o teor de
sólidos deste material. Contudo, os teores de nitrogênio total e de potássio sofreram uma diminuição, o que
também pode estar relacionada à perda de água, a qual pode provocar a lixiviação de nutrientes.
Concentrações de Nitrogênio Total no Lodo Caleado
A Tabela 3 mostra as concentrações de nitrogênio total, em grama por quilograma de matéria seca (105 °C),
nos lodos de descarte e caleado, com 60 dias de maturação.
Tabela 3: Concentrações de nitrogênio total em 60 dias de maturação
Tratamento
Lodo de descarte
30% de Ca(OH)2
40% de Ca(OH)2
50% de Ca(OH)2
Leito 1
14,6
8,4
6,3
5,6
Leito 2
17,5
7,7
5,6
4,9
NTK (g /kg de MS)
Leito 3
Leito 4
17,3
18,6
9,0
9,6
6,9
8,4
6,2
7,7
Leito 5
15,4
7,7
7,0
6,3
Leito 6
16,1
10,2
9,1
7,6
Leito 7
14,7
10,5
9,8
8,4
Leito 8
17,5
12,6
7,7
7,0
De acordo com os resultados relatados na Tabela 3, após 60 dias de maturação, houve uma perda de
nitrogênio total no lodo, mesmo as leiras estando cobertas com uma lona plástica, para minimizar a
volatilização da amônia. As maiores perdas foram observadas quando proporções de 50% de cal hidratada
foram aplicadas ao lodo, as quais ficaram em torno de 59% (célula 4) e 72% (célula 2).
pH do Lodo Caleado
Na Tabela 4 estão registrados os valores de pH do lodo imediatamente após a aplicação da cal hidratada e
depois de 60 dias.
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Tabela 4: pH do lodo caleado
Conc. de
Ca(OH)2
30%
40%
50%
Dias
0
60
0
60
0
60
Leito 1
Leito 2
Leito 3
Leito 4
Leito 5
Leito 6
Leito 7
Leito 8
12,5
11,7
12,7
11,9
12,9
12,1
12,7
11,0
12,9
11,2
12,9
11,4
12,8
11,6
12,9
11,8
12,9
12,0
12,8
11,5
12,9
11,7
12,9
11,8
12,6
11,3
12,8
11,5
12,9
11,7
12,5
11,2
12,7
11,4
12,9
11,7
12,7
11,1
12,9
11,4
13,0
11,6
12,7
11,2
12,9
11,4
13,0
11,6
A caleação do lodo foi capaz de elevar seu pH para valores acima de 12 em todas as amostras estudadas. Mas,
o processo de degradação da matéria orgânica causou pouca redução deste parâmetro ao final de 60 dias.
Densidades de Coliformes Fecais
A Tabela 5 se refere às densidades de coliformes fecais, em NMP/g MS, encontradas nos lodos de descarte,
seco e caleado, das células 1 a 8.
Tabela 5: Densidade de coliformes fecais, em MNP/g MS, encontradas no decorrer do tratamento do
lodo.
Fases do
Tratamento
Lodo de Descarte
Lodo Seco
30% de Ca(OH)2
40% de Ca(OH)2
50% de Ca(OH)2
Célula 1
Célula 2
Célula 3
Célula 4
Célula 5
Célula 6
Célula 7
Célula 8
7,55E+07
3,27E+05
1,0E+02
5,68E+01
2,57E+01
2,08E+08
4,66E+05
1,37E+03
8,42E+02
2,55E+01
7,54E+06
4,53E+05
2,46E+02
2,36E+02
2,56E+01
4,12E+07
6,59E+06
2,50E+02
2,61E+02
2,56E+01
3,01E+07
3,00E+05
2,12E+03
1,29E+02
2,58E+01
4,06E+06
6,09E+05
6,07E+02
2,86E+02
5,15E+01
2,72E+07
5,58E+05
5,74E+02
2,78E+02
5,41E+01
4,79E+07
5,00E+05
1,00E+02
5,54E+01
2,70E+01
Os materiais alcalinos têm um alto poder bactericida que favorece a remoção de organismos patogênicos. Em
se tratando da densidade de coliformes fecais, o tratamento alcançou significativas remoções, máximo de 7
logaritmos na célula 2, quando foi aplicada uma concentração de 50% de cal hidratada ao lodo seco.
Os resultados obtidos com a estabilização alcalina, em todas as células, atenderam os limites estabelecidos
pelas normas aplicadas tanto no estado do Paraná como em São Paulo (CETESB), para caracterizar o perfil
sanitário do lodo (menos que 103 NMP/g MS) em quase todas as concentrações de cal hidratada apresentadas
neste trabalho, com exceção para a concentração de 30% aplicada no lodo seco das células 2 e 5.
Viabilidade de Ovos de Helmintos
A Tabela 6 mostra as quantidades de ovos viáveis e não viáveis encontradas nos lodos de descarte, seco e
caleado das células 1 a 8.
Tabela 6: Viabilidade de ovos de helmintos, em ovos/g MS, nas fases do tratamento do lodo de descarte.
Tipos de Lodo
Lodo de descarte
Lodo seco
30% de Ca(OH)2
40% de Ca(OH)2
50% de Ca(OH)2
Viabilidade dos
Ovos
Viáveis
Não viáveis
Viáveis
Não viáveis
Viáveis
Não viáveis
Viáveis
Não viáveis
Viáveis
Não viáveis
Célula
1
5464
1639
6667
3333
0
1667
0
2727
0
2500
Célula
2
7717
0
4500
2000
3000
6000
3000
6000
0
7000
Célula
3
11251
0
7000
3000
2000
6000
2000
5000
0
6000
Célula
4
9698
0
4000
2000
1000
2500
1000
2000
0
2500
Célula
5
14064
0
6000
2000
1000
5000
2000
4000
0
5000
Célula
6
12198
0
7000
3000
1500
2500
1000
1500
0
2400
Célula
7
13945
0
4500
2500
500
3500
500
2000
0
3000
Célula
8
17379
2397
10465
8721
0
2000
0
2000
0
1750
A respeito da viabilidade dos ovos de helmintos, estes foram totalmente inviabilizados, em todas a amostras
estudadas, quando uma concentração de 50% de cal hidratada foi aplicada ao lodo seco. Nas células 2, 3, 4, 5,
6 e 7, as menores concentrações de cal hidratada não foram suficientes para inviabilizar, por completo, os
ovos de helmintos, o que pode estar relacionado à dificuldade de misturar o lodo com a cal, porque quando
este apresentava uma umidade inferior a 65% era difícil quebrar os torrões que se formavam, impedindo o
contato do lodo com a cal no interior dos torrões.
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23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental
CONCLUSÕES
Verificou-se que o lodo anaeróbio se adapta muito bem à secagem natural, nas condições ambientais locais, e
que 20 dias foi suficiente para reduzir o teor de umidade de, aproximadamente, 93% no lodo de descarte para
valores em torno de 64% no lodo seco.
Com o desaguamento do lodo, o teor de STF aumentou, média de 54% para 62%, e a concentração de STV
reduziu, média de 46% para 38%. Os valores estão representados em porcentagens de ST. Também ocorreu
reduções nos valores de pH do lodo, de 7,4 para 5,7, em média. Em se tratando das concentrações de
nutrientes (N, S, P e K), houve reduções nas quantidades de N (média de 16,4 g/kg MS para 12,2 g/kg MS) e
de K (média de 7,3 g/kg MS para 3,8 g/ kg MS), e aumentos nos teores de S (média de 12,9 g/kg MS para
29,4 g/kg MS) e de P (média de 4,2 g/kg MS para 9,3 g/kg MS), em 20 dias.
A temperatura ambiente, entre 24 e 36° C (dados do INMET), não foi suficiente para reduzir os níveis de
patogenicidade do lodo, atingindo uma redução máxima de 3 logaritmos e mínima de 1 logaritmo, no caso dos
coliformes fecais. Em se tratando da viabilidade dos ovos de helmintos, o desaguamento do lodo não foi
suficiente para inviabilizá-los por completo ou a índices que permitam sua aplicação no solo sem restrições
(103 NMP/g MS e 0,25 ovo viáveis/g MS, legislação aplicada nos Estados do Paraná e de São Paulo CETESB). A concentração de 50% de cal hidratada foi a que apresentou melhores resultados na remoção de
microrganismos patogênicos, inviabilizando os ovos de helmintos e reduzindo oito casas decimais na
densidade de coliformes fecais.
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