Técnica de mãos livres – Dra. Bernadette Stringer Os trabalhadores das salas operatórias provavelmente enfrentam maior risco de contrair doenças sanguíneas como hepatite B e C, além do HIV, do que os que trabalham no hospital, devido à sua frequente exposição a sangue não diluído, enquanto manuseiam e entregam instrumentos cortantes. Uma prática de trabalho recomendada para reduzir o risco é a técnica hands-free (de mãos livres). A entrega hands-free de instrumentos é uma prática onde nenhum membro da equipe cirúrgica manuseia o item cortante ao mesmo tempo. Quando a entrega hands-free é implantada, os itens cortantes não passam de mão em mão entre os cirurgiões, residentes, auxiliares e o pessoal em circulação. Pelo contrário, eles são colocados em zonas “neutras” para serem pegos. As zonas neutras podem ser implantadas com recipientes já usados rotineiramente, como bandejas quadradas, ou suportes Mayo, ou em setores do campo cirúrgico, ou com contêineres descartáveis comprados para este fim e campo cirúrgico magnético. Se forem escolhidos recipientes para servirem de zonas neutras, é necessário que os itens cortantes a serem entregues caibam neles confortavelmente. Devido à sua complexidade, muitos aspectos da cirurgia não permitem uma padronização. No entanto, este não é o caso da entrega rotineira de itens cortantes. A entrega hands-free deve ser vista como um método de tornar a entrega cada vez mais previsível, de modo que o pessoal cirúrgico possa prever melhor como os itens cortantes serão entregues entre eles. Este procedimento é essencial, já que quando os cirurgiões, residentes, enfermeiros e técnicos passam os itens uns para os outros, eles podem se distrair, não entender o que foi pedido ou perder o controle dos instrumentos. A entrega hands-free foi rigorosamente avaliada e descobriu-se que ela reduz as picadas de agulha, os rasgos de luva e as contaminações durante a cirurgia quando pelo menos 75% dos itens cortantes são transferidos desta forma durante uma cirurgia. Em um estudo dos EUA que acompanhou quase 4.000 cirurgias, do início ao fim, onde foi usada a entrega hand-free por no mínimo 75% do tempo, o risco foi estatisticamente reduzido em 60% nas cirurgias com perda de sangue mínima de 100 cc. Em um estudo posterior sobre pré e pós-intervenção realizado no Canadá, incluindo mais de 10.000 cirurgias, quando havia a entrega hand-free em pelo menos 75% do tempo, o risco foi significativamente reduzido em 35%, independentemente da perda de sangue. A pesquisa também observou que a falta de treinamento dos enfermeiros e técnicos em entrega hands-free pode ser uma grande barreira à implantação da técnica. Além disso, a pesquisa também concluiu que os cirurgiões e residentes precisam adquirir a habilidade cirúrgica de desviar o olhar do campo operatório, para que possam recuperar e devolver os perfurocortantes para as zonas neutras, sem perder a continuidade do procedimento. A entrega hands-free dos instrumentos cortantes demanda pouco treinamento e pode ser implantada facilmente e sem muitos custos e, portanto, deve ser entusiasticamente apoiada.