A PESQUISA NO CAMPO DA COMUNICAÇÃO SOCIAL: MAIS UM OLHAR
Alexandre de Medeiros Motta1
RESUMO
O campo da comunicação é um espaço emocionante para ser sondado e
explorado pela pesquisa, principalmente aquelas que se debruçam na força do
silêncio, da palavra, do olhar ou das mãos. Dessa maneira, a pesquisa nasce do
desejo de encontrar resposta para estas questões. Assim, esse esforço dirigido
resultará na aquisição de novos conhecimentos, culminando nos atuais modos
de inserção da Indústria Cultural dentro da dinâmica cultural contemporânea do
país. Além do mais, nas Ciências Sociais, área em que encontra o Jornalismo, o
social se apresenta sempre dinâmico, parecendo fugir aos domínios da
investigação científica, uma vez que a realidade apresenta uma riqueza de
significados relacionáveis ao cotidiano dos sujeitos que nela atuam. É também
útil destacar o fato de que o papel da pesquisa não se limita a fazer falar
determinados interlocutores e produzir um discurso diferente, pois se trata de
“trabalhar” sobre o discurso por meio de análises e interpretações. Em razão
disso, necessário se faz que defina uma linha metodológica para cada tipo de
investigação, como um modo de conduzir a pesquisa ou orientar o próprio
pesquisador na sua estruturação. Por isso, o papel do método nessa construção
científica, consiste numa maneira própria que a pesquisa tem para proporcionar
a aquisição de novos conhecimentos, principalmente na volatilidade do campo
social.
Palavras-chave: Comunicação, Pesquisa, Indústria Cultural.
Que força é essa conhecida como comunicação? Eis uma indagação interessante
para iniciarmos um diálogo entre pares, pois essa força pode ser traduzida como um processo
fascinante de relações ou interatividades humanas, que se utiliza do silêncio, da palavra, do
olhar ou das mãos para se comunicar. Assim, “um melhor conhecimento da comunicação
pode contribuir para que muitas pessoas adotem uma posição mais crítica e exigente em
relação ao que deveria ser a comunicação na sua sociedade” (BORDENAVE, 1992, p. 10).
Para o autor, a comunicação torna-se um ato inevitável, porque, mesmo quando
não queremos, estamos o tempo todo emitindo mensagens para o outro. Ela é irreversível,
porque não podemos voltar atrás naquilo que já foi comunicado ou mesmo irrepetível, porque
1
Professor da cadeira de Técnicas de Pesquisa em Comunicação, nos Cursos de Jornalismo e de Publicidade, da
Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). Graduado em História; Especialista em Metodologia do
Ensino Superior e Mestre em Ciências da Linguagem.
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todos e tudo estão continuamente mudando. Em razão disso, mesmo quando lemos o mesmo
livro, ou assistimos a um mesmo filme pela segunda ou quarta vez, esses filmes não serão
para nós os mesmos (SANTAELLA, 2001, p. 22). Além disso, “é necessário compreender
que a comunicação não inclui apenas as mensagens que as pessoas trocam deliberadamente
entre si, [mas outras que] são trocadas sem querer, numa espécie de paracomunicação ou
paralinguagem” (BORDENAVE, 1992, p. 51).
Segundo Santaella (2001, p. 22), pode-se apontar uma definição ampla e geral de
comunicação que assim se expressa: a transmissão de qualquer influência de uma parte de um
sistema vivo ou maquinal para uma outra parte, de modo a produzir mudança. O que é
transmitido para produzir influência são mensagens, de modo que a comunicação está
basicamente na capacidade de gerar e consumir mensagens. Daí se preocupar com assuntos
do tipo eficiência e exatidão, pois a comunicação é vista como um processo que afeta o
comportamento ou estado de espírito dos receptores. Por isso, De Vito (apud SANTAELLA,
2001, p. 84) ressalta que a comunicação humana seja intrapessoal, interpessoal, grupal,
pública ou de massa, “se refere a um ato, realizado por uma ou mais pessoas, de enviar e
receber mensagens que são distorcidas pelo ruído [físico, psicológico ou semântico], ocorrem
dentro de um contexto, produzem algum efeito e dão oportunidade a retro alimentação”.
De modo mais específico, pode-se dizer que o estudo dos fenômenos da
comunicação dentro da cultura industrializada é o que se concebe como o objeto da
Comunicação. Deste ponto de vista caberia perfeitamente a esse campo de estudos a
designação de Comunicação Social ou Comunicação de Massa.
Assim, nesse contexto, insere-se a área de Jornalismo, que, conforme Rossi
(2000) define-se como uma fascinante batalha pela conquista das mentes e corações de seus
alvos: leitores, telespectadores ou ouvintes. Uma batalha geralmente sutil e que usa uma arma
de aparência extremamente inofensiva: a palavra, acrescida, no caso da televisão, de imagens.
Todavia, essa batalha é temperada pelo mito da objetividade, que se acredita alcançar com a
posição neutra de quem descreve ou relata como pela presunção de se publicar tudo o que
ocorre em um determinado lugar e época, deixando ao leitor a tarefa de tirar suas próprias
conclusões. No entanto, esse tem o direito de saber o que pensa, de que lado está aquele que
lhe escreve, pois se trata de uma informação a mais para que ele possa tirar suas próprias
conclusões.
Essa análise de Rossi, por sua vez, deve caber também aos profissionais da área
da Publicidade, mesmo que tenham preocupações distintas da do Jornalismo, pois afinal de
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conta, a criatividade além de “exigir paixão sincera” (VIEIRA, 2004, p. 26) se torna uma
qualidade imprescindível para contornar as exigências cada vez maiores da competitividade
do mercado, passando então a enfocá-la como o elo fundamental entre estas, uma vez que se
desenvolverá somente quando houver conhecimento por parte de seus agentes articuladores.
Na visão de Muniz (2004, p. 11), essa situação decorre do fato de “vivermos em
um mundo sem fronteiras, no qual as notícias chegam a todo o momento e de formas
variadas. As novidades são cada vez mais efêmeras. Como destacar o produto do cliente em
meio a tantas informações recebidas diariamente?”. Por isso, “os anunciantes procuram as
agências criativas porque sabem que precisamos provocar algum tipo de emoção a fim de
atrair a atenção das pessoas para sua mensagem” (VIEIRA, 2004, p. 20).
Afinal, a publicidade está relacionada muito mais a divulgação de um produto,
serviço ou instituição, sem a qual se perdem os estímulos pelo consumo em nossa sociedade.
Daí se observar os vários meios de comunicação, onde, por exemplo, o apelo das agências
publicitárias pelas pesquisas de audiência ou de opinião são formas de diagnosticar uma
situação única ou particular. Com isso esses tipos de pesquisa, como é o caso da pesquisa de
audiência, não dispensa os rigores científicos, dentre os quais planejarem primeiramente o
projeto de pesquisa (ou mais propriamente de trabalho), e em seguida, as partes que o
compõem (população, amostra, estimativa, filtro e viés).
Conforme Lopes (2003, p. 33), “a investigação no campo da Comunicação Social
é historicamente datada, pois seu objeto são os atuais modos de inserção da Indústria Cultural
dentro da dinâmica cultural contemporânea do país”. Além do mais, “nas Ciências Sociais, o
próprio objeto é dinâmico e mutável, porque os problemas estudados são fenômenos
históricos, instituições, relações de poder, classes sociais, manifestações culturais etc.”
(LOPES, 2003, p. 37).
As breves indicações acima aí comparecem a título de sinal de alerta ao
pesquisador, para que saiba se conduzir “cientificamente” nesse campo de subjetividade e
possibilidades. Contudo, falar do processo de investigação nos remete a pensar diretamente
no conhecimento, que se adquire através da própria pesquisa. Por isso, “livrar-se de uma
dúvida, buscar uma resposta já é um processo investigativo” (SANTAELLA, 2001, p. 112).
Dessa maneira, toda pesquisa nasce do desejo de encontrar resposta para uma
questão. Assim, todo o esforço dirigido e o conjunto de atividades orientadas para a solução
da questão abstrata ou prática ou operativa que se apresenta, resultará na aquisição de
conhecimento.
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Conforme Minayo (1996, p. 18),
toda investigação se inicia por um problema com uma questão, com uma dúvida ou
com uma pergunta, articuladas a conhecimentos anteriores, mas que também podem
demandar a criação de novos referenciais.
Esse conhecimento anterior, construído por outros estudiosos e que lançam luz sobre
a questão de nossa pesquisa, é chamado teoria. [...].
A teoria é construída para explicar ou compreender um fenômeno, um processo ou
um conjunto de fenômenos e processos. [...].
Teorias, portanto, são explicações parciais da realidade.
Posto isto, fica pertinente dizer que a definição de pesquisa é uma preocupação
complexa demais para ser reduzida a apenas algumas palavras, pois além de ser considerada
uma atividade própria da natureza humana, pode também partir da própria reflexão, o único
veículo viável para o homem compor seu contorno social e político. Além do mais, nada pode
substituir a criatividade do pesquisador.
Por outro lado, no sentido formal, “a pesquisa pode ser considerada como um
modo próprio que a ciência tem para adquirir conhecimento, sendo definida, por isso, como
uma atividade específica e especializada” (SANTAELLA, 2001, p. 113, grifo meu). Desse
modo, assim como não há ciência sem pesquisa, não há pesquisa sem método.
Em razão disso, necessário se faz que se defina uma linha metodológica para
cada tipo de investigação, como um modo de conduzir a pesquisa ou orientar o pesquisador
na estruturação da própria investigação. Assim, as características de cada método ou de cada
técnica podem interferir no tipo de interpretação dos dados que produzem, a partir da
natureza do problema delimitado pelo próprio investigador (THIOLLENT, 2003).
É também útil destacar o fato de que o papel da pesquisa não se limita a fazer
falar determinados interlocutores e produzir um discurso diferente. Trata-se de “trabalhar”
sobre o discurso por meio de análises e interpretações. Isto supõe que seja ultrapassado o
simples registro de informação espontaneamente gerada pelos interlocutores implicados na
pesquisa, como se o investigador fosse considerado um mero expectador ou sujeito passivo
nesse processo investigatório.
Necessário, ainda, se faz enfocar de modo mais específico, o papel do método
nessa construção científica, pois como já foi mencionada anteriormente, a pesquisa consiste
num modo próprio que a ciência tem para adquirir conhecimento, estando esse “modo
próprio” relacionado ao método. Por isso, a seguir, abordam-se alguns aspectos sobre a
importância do método no campo investigativo.
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Começando pelo sentido etimológico, pode-se dizer que a palavra método vem do
grego, methodos, que é composta de meta (através de, por meio de) e de hodos (via,
caminho). Nesse sentido, pode-se definir método como o caminho a ser trilhado pelos
pesquisadores na busca do conhecimento.
O método são os meios de que dispõe a ciência para propor problemas verificáveis e
para submeter à prova ou verificação as soluções que forem propostas a tais
problemas. Assim, a primeira pergunta que deve ser feita para saber se um dado
conhecimento é científico é: como foi obtido? Ou, em outras palavras, como se
chegou a considerar que tal conhecimento é verdadeiro (no sentido das verdades
parciais e falíveis da ciência, claro está)? (CARDOSO, 1982, p. 57).
Assim, “o conhecimento científico é sempre uma busca de articulação entre uma
teoria e a realidade empírica; o método é o fio condutor para se formular esta articulação”
(MINAYO; SANCHES, 1993, p. 240). Por isso, “para dar segurança ao conhecimento, o
pensamento cria regras e procedimentos que permitam no sujeito cognoscente aferir e
controlar todos os passos que realiza no conhecimento de algum objeto ou conjunto de
objetos” (CHAUÍ, 1994, p. 300).
Desse modo, foi através do método que a ciência se propôs construir um
conhecimento sistemático e seguro da natureza, a partir do pressuposto de que se poderia
compreender o universo através do mundo visível, dos fenômenos mensuráveis, observáveis,
testáveis, enfim, através da experimentação – condição necessária para o estabelecimento de
enunciados científicos verdadeiros.
Durante muito tempo a ciência buscou eliminar incertezas, dúvidas, imprecisões, a
fim de dominar e controlar o mundo; contraditoriamente, o resultado foi a
organização de uma ciência que hoje trabalha com o aleatório, o incerto, o
indeterminado, o complexo.
Sem procurar estabelecer leis a qualquer preço, a visão contemporânea de método
busca um pensamento transdisciplinar, um pensamento que não se quebre nas
fronteiras entre as disciplinas (PÁDUA, 1996, p. 26-28).
Portanto, o método designa ações ordenadas que devam ser procedidas para que
os objetivos previamente estabelecidos no processo de investigação sejam atingidos. Sendo
assim, pode-se afirmar que um aspecto fundamental capaz de diferenciar a atividade
científica da atividade não científica é a própria presença do método científico. Com isso, o
conhecimento científico não pode ser alcançado de maneira dispersiva e errante, mas de um
modo sistemático, acima de tudo.
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Assim, como resultante desse “modo sistemático”, o estudo do método auxilia
significativamente na formação do estado de espírito e dos hábitos correspondentes ao ideal
da pesquisa científica, que consiste em praticamente controlar os fenômenos da natureza que
nos rodeia, possibilitando ao pesquisador acompanhar as mudanças e adaptações necessárias
na sociedade extremamente volátil da pós-modernidade.
Contudo, eis que na área da Comunicação, seja no Jornalismo como na
Publicidade, essa atitude de controle deva se desligar necessariamente da noção quantitativa
de “mensuração” dos fatos, a fim de que se possa tornar um desafio maior (e estimulante ao
mesmo tempo) a esses profissionais, desde que criativos e sensíveis ao dinamismo do mundo
social, uma vez que a realidade apresenta o seu próprio movimento, rico em significados,
envolvendo-se com os sujeitos que nela se relacionam e atuam. Afinal, o mundo não está
pronto e acabado para quem está fadado a trabalhar continuamente com a sensibilidade
social, inerente ao campo da comunicação.
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REFERÊNCIAS
BORDENAVE, Juan E. D. O que é comunicação? 15. ed. São Paulo: Brasiliense, 1992.
CARDOSO, Ciro F. Uma introdução à História. São Paulo: Brasiliense, 1982.
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1994.
LOPES, Maria I. V. de. Pesquisa em comunicação. 7. ed. São Paulo: Loyola, 2003.
MINAYO, Maria Cecília de S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 5. ed.
Petrópolis: Vozes, 1996.
MINAYO, Maria Cecília; SANCHES, Odécio. Quantitativo- qualitativo: oposição ou
complementaridade? Caderno Saúde Pública, Rio de Janeiro, 9 (3), jul./set. 1993, p. 239248.
MUNIZ, Magda Lúcia V. Mídia: conceitos e prática. Rio de Janeiro: Rio, 2004.
ROSSI, Clóvis. O que é jornalismo. São Paulo: Brasiliense, 2000. (Coleção primeiros
passos, 15).
SANTAELLA, Lucia. Comunicação e pesquisa: projetos para mestrado e doutorado. São Paulo:
Hacker, 2001.
VIEIRA, Stalimir. Raciocínio criativo na publicidade. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2004.
PÁDUA, Elisabete M. M. de. Metodologia da pesquisa: abordagem teórico-prática.
Campinas (S.P.): Papirus, 1996. (Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico).
THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2003.
(Coleção temas básicos de pesquisa-ação).
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