Modelagem Matemática dos Processos de Combustão: Avaliando a Influência da Combustão Incompleta Renan Gabbi* A. Patricia Spilimbergo Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, Departamento de Física, Estatística e Matemática – DeFEM, 98700-000, Ijuí, RS e-mail: [email protected] e [email protected] RESUMO Os processos de combustão em instalações energéticas, como por exemplo, fornalhas para secagem de grãos, caldeiras, propulsores e fornos para cozimento de tijolos e telhas, podem ser descritos por modelos que consideram o meio reagente no estado de equilíbrio químico. Entre esses modelos os mais conhecidos são [1] e [3]. O presente trabalho destina-se ao estudo das propriedades dos produtos de combustão de combustíveis de biomassa (como por exemplo, papelão), que podem ser utilizados em instalações energéticas, como o objetivo de gerar ar quente. Para calculá-las é aplicado o modelo de processos quimicamente equilibrados [1] em conjunto com o método do “meio local reagente” [5]. Este método é utilizado com o objetivo de avaliar a influência da combustão incompleta na composição e nas propriedades dos produtos de combustão. O modelo [1] é constituído por três tipos de equações mostradas em [2], a saber: equação da dissociação das moléculas (radicais) nos átomos, equação da conservação da quantidade de átomos nos produtos de combustão e equação de Dalton, as quais fornecem um sistema de equações algébricas não lineares, e para sua resolve-lo utiliza-se o método de Newton. Para este trabalho, no modelo [1], foi então incluído o conceito de “meio local reagente” (MLR). Frequentemente em câmaras de combustão o processo de combustão não se realiza totalmente devido à mistura não ser uniforme, ou seja, alguma parte do combustível pode não participar do processo de combustão. Por exemplo, para fornalhas é possível ocorrer este fato quando alguma parte do carbono não queima, mas cai junto com a cinza na fase condensada. Nesta situação surge o problema de avaliação da alteração das várias características, como por exemplo, T (temperatura) e rq (fração molar da q-ésima substância) entre outras. Tradicionalmente, a avaliação destas alterações é realizada com base na diminuição da entalpia do bipropelente, admitindo que, parte da energia “desaparece”. Este procedimento pode avaliar a temperatura dos produtos de combustão, mas apresenta erros consideráveis, na composição dos produtos de combustão. O método do MLR não apresenta esta falha. O método do MLR será mostrado no exemplo do bipropelente: “CH4 + N52O14”. Admite-se que, além do meio reagente principal (C, H, N, O, H2, O2, OH, H2O, CH4, N2, CO e CO2), existe na câmara de combustão uma pequena zona, chamada MLR, que contém somente o combustível (CH4) e possui temperatura igual a do meio principal. Admitindo-se que 95% do CH4 fica no meio principal e 5% no meio local, é evidente que o meio local inclui apenas os átomos C e H e as moléculas CH4 e H2. Para distingui-los das mesmas substâncias que estão no meio principal são utilizados novos símbolos: Cx, Hx, CxHx4 e Hx2. Com relação ao combustível, sua entalpia (Ic) não é alterada, mas sua fórmula condicional deverá se apresentar na forma: [C0,95H3,8Cx0,05Hx0,2] e o meio reagente total (principal + local) fica constituído pelas substâncias: C, H, N, O, H2, O2, OH, H2O, CH4, N2 , CO, CO2, CxHx4, Hx2, Cx e Hx. O algoritmo e o aplicativo são invariantes e por isso automaticamente o sistema de equações inicial será complementado pelas equações de dissociação das moléculas Hx2 e CxHx4, pelas equações da conservação dos átomos Hx e Cx e na equação de Dalton serão acrescentadas as pressões parciais das substâncias do MLR. Este exemplo mostra que o método do MLR é de simples utilização, praticamente não exige alterações no aplicativo e amplia a zona de aplicação. Utilizando o aplicativo existente foram realizados vários cálculos para determinar as propriedades dos produtos de combustão de combustíveis de biomassa, avaliando a influência da combustão incompleta desses combustíveis. As informações necessárias sobre os combustíveis foram obtidas de [4] e preparadas conforme mostrado em [2]. * Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/UNIJUÍ 784 T (K) (kg/kmol) Pode-se considerar a combustão incompleta de algumas substâncias voláteis (CO, CH 4 , C2 H 4 , C6 H 6 , etc.) que saem do combustível no andamento do seu aquecimento. Em particular neste trabalho, admite-se que o metano ( CH 4 liberado, leva 5% do carbono contido no combustível) não se mistura com o oxidante e só decompõe-se atingindo a mesma temperatura do meio reagente. Este efeito deve influir nas características dos produtos de combustão. Admite-se que o meio principal é constituído pelas substâncias H, O, N, C, Ar, Si, H2, O2, H2O, CO, CO2, OH, CH, N2, NO, SiO2 * ,C* e o MLR pelas substâncias: Hx, Cx, Hx2 , CxHx4 e Cx*. A fórmula condicional do combustível apresenta-se como: [C3,46H4,56O2,99N0,02Si0,09Cx0,18 Hx1,14]. Na Fig. 1 estão mostradas as 2500 35.0 dependências T = f(ox) e =f(ox), para a combustão completa e 32.5 2000 T incompleta de um tipo de papelão, 30.0 1500 sendo que o valor ox representa 27.5 excesso (ox >1) ou falta (ox <1) de 1000 25.0 oxidante no processo de combustão. É P apelã o 1 Co mbustão Completa 500 evidente que existe diferença entre as 22.5 Co mbustão Inco mpleta temperaturas para 0,3<ox<0,8, em 0 20.0 média ∆T = Tcom - Tinc ≈ -60K e na 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 região onde ox>0,8 tem-se em média ox ∆T ≈140K. Esta diferença e sua inverFig.1 - Influência da combustão incompleta em T e . são podem ser explicadas da seguinte forma: ∆T está condicionado por dois fatores: primeiramente, para a combustão incompleta, uma parte do combustível não entra em contato com o oxidante, então quando ox<1 este fato contribui para o aumento da T. Mas quando ox>1, este fator condiciona a diminuição da temperatura; por outro lado, a parte do combustível que não entra em contato com o oxidante, exige para a sua decomposição (em todo o intervalo de variação de ox) alguma quantidade de calor, e isto vai contribuir para a diminuição da T. Então quando ox<1, ambos fatores agem em direções contrárias o que condiciona a pequena diferença ∆T e seu sinal negativo, mas quando ox>1, os fatores agem em uma mesma direção e neste caso ∆T aumenta e inverte o sinal. Observa-se também (Fig.1), que a diferença entre as massas moleculares possui semelhança com ∆T. Palavras-chave: Equilíbrio Químico, Combustão Incompleta, Biomassa, Modelagem Matemática Referências [1] V. E. Alemassov, A. F. Dregalin, A. P. Tishin, “Propriedades termodinâmicas e termofisicas dos produtos de combustão”, VINITI, Moscou, 1973. [2] R. Gabbi, A. P. Spilimbergo, Processos de Combustão de Combustíveis de Biomassa Considerando o Equilíbrio Químico. “In: XXXII Congresso Nacional de Matemática Aplicada e Computacional – CNMAC”, 2009, Cuiabá - MT. Anais do XXXII CNMC, 2009. p. 809 – 810, 1 CD-ROM. [3] S. GORDON, B. J. McBRIDE, “NASA SP273 - Computer program for calculation do complex chemical equilibrium compositions, rocket performance incident and reflected shocks and chapman-jouguet”, Washington, 1971. [4] B. M. JENKINS, Fuel Properties for Biomass Materials, “Proceedings of International Symposium on Application and Management of the Energy in Agriculture”, Indiana, 1990. [5] A. P. Spilimbergo, C. J. Auth e R. L. Iskhakova, Modelagem dos Sistemas Quimicamente Equilibrados Aplicando os Métodos das Grandes Moléculas e do Meio Local Reagente. “In: Proceedings of 7th Brazilian Congress of Engineering and Thermal Sciences”, Rio de Janeiro, RJ, Vol. I, 116-121, 1998. 785