64º Congresso Nacional de Botânica Belo Horizonte, 10-15 de Novembro de 2013 DIVERSIDADE DE ELAIÓFOROS EM Baptistonia (ORCHIDACEAE: ONCIDIINAE) BRASILEIRAS 1 2 Ludmila M. Pansarin *, Emerson R. Pansarin , Isabel A. dos Santos 1 1 2 Departamento de Ecologia, Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, São Paulo-SP, Departamento de Biologia, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto-SP. *[email protected] Introdução Oncidiinae é a subtribo com a maior diversidade floral dentro de Orchidaceae, atraindo diversos grupos de polinizadores. Os visitantes florais forrageiam a procura de néctar, óleo ou fragrância, mas muitas espécies da subtribo não oferecem nenhum recurso floral e são polinizadas por engano [1]. Os óleos florais são produzidos em glândulas chamadas elaióforos, que podem ser do tipo tricomático, epidérmico [2] ou misto [3]. O gênero Baptistonia apresenta 25 espécies nativas do Brasil, sendo 21 endêmicas [4]. O objetivo do presente trabalho foi caracterizar as glândulas florais de dez espécies de Baptistonia e avaliar a natureza química da secreção através da aplicação de testes histoquímicos. Metodologia Para esse estudo foram utilizadas cerca de 20 flores frescas de cada espécie (Baptistonia cornigera, B. damacenoi, B. echinata, B. fimbriata, B. leinigii, B. nitida, B. pubes, B. sarcodes, B. silvana e B. venusta), coletadas no primeiro dia de antese. Foram realizados cortes longitudinais e transversais do labelo e aplicados os seguintes testes histoquímicos: Ácido tânico/Cloreto férrico (para mucilagem), Vermelho de Rutênio (para mucilagem ácida), Sudan III e IV (para lipídios), Acetato de cobre/Ácido rubeânico (para ácidos graxos), Reagente de Fehling (para açúcar redutor) e Lugol (para amido). Para cada teste foram realizados os respectivos controles. Resultados e Discussão Como reportado por Chiron [5] todas as espécies de Baptistonia analisadas secretam óleo floral no labelo como recurso aos polinizadores. Os elaióforos localizamse sempre na base do labelo, na região também conhecida como calo. O calo é úmido na maioria das espécies, e seco apenas em B. leinigii e B. sacodes. Os testes histoquímicos confirmaram a natureza lipofílica da secreção produzida nos elaióforos. Não foram observadas secreções hidrofílicas nas células do labelo. O óleo é produzido em elaióforos do tipo epidérmico, com células arredondadas ou em paliçada, com exceção de B. sarcodes, que apresenta papilas epidérmicas responsáveis pela secreção do óleo. Nosso estudo corrobora os resultados obtidos para Oncidium trulliferum [6], atualmente considerado sinônimo de B. venusta. Essa espécie secreta pouca quantidade de óleo nos elaióforos do tipo epidérmico. Na maioria das espécies a quantidade de secreção é grande e o óleo fica exposto aos polinizadores sobre a cutícula. Apenas em B. leinigii a pouca quantidade de óleo fica acumulada entre as células epidérmicas e a cutícula, e em B. sarcodes a também pouca secreção fica retida no interior das papilas, e nessas duas espécies os polinizadores precisam raspar o labelo para romper a cutícula e coletar o óleo floral. Como reportado para Trichocentrum pumilum [7], provavelmente as espécies de Baptistonia também sejam polinizadas por fêmeas de abelhas coletoras de óleo. Conclusões As espécies de Baptistonia oferecem óleo floral aos seus polinizadores, secretado em elaióforos do tipo epidérmico. Na maioria das espécies o óleo fica exposto aos visitantes acima da cutícula. Apenas em B. leinigii e B. sarcodes o óleo fica abaixo da cutícula ou no interior da célula, respectivamente, e os polinizadores precisam raspar o labelo para romper a cutícula e coletar o óleo floral. Agradecimentos Agradecemos à Fapesp (Processo 2011/12720-2) pelo financiamento concedido e à Base Ecológica da Serra do Japi pela autorização de coleta das espécies botânicas. Referências Bibliográficas [1] Chase, M.W. 2009. Oncidiinae. Pp. 237–239, 357–359. In: Pridgeon, A.M.; Cribb, P.J.; Chase, M.W. & Rasmussen, F.N. (eds.) Genera Orchidacearum. Vol. 5. Epidendroideae. Part 2. Oxford: Oxford University Press. [2] Vogel, S. 1974. Ölblumen und ölsammelnde Bienen. Akademie der Wissenschaften und der Literatur Tropische und subtropische Pflanzenwelt 7: 1-267. [3] Pansarin, L.M; Castro, M. de M. & Sazima, M. 2009. Osmophore and elaiophores of Grobya amherstiae (Catasetinae, Orchidaceae) and their relation to pollination. Botanical Journal of the Linnean Society 159: 408–415. [4] Barros, F.; Vinhos, F.; Rodrigues, V.T.; Barberena, F.F.V.A.; Fraga, C.N.; Pessoa, E.M. & Foster, W. 2013. Lista de espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. [5] Chiron, G.R.; Oliveira, R.P.; Santos, T.M.; Bellvert, F.; Bertrand, C. & van den Berg, C. 2009. Phylogeny and evolution of Baptistonia (Orchidaceae, Oncidiinae). based on molecular analyses, morphology and floral oil evidences. Plant Systematics and Evolution 281:35–49. [6] Stpiczyńska, M. & Davies, K.L. 2008. Elaiophore structure and oil secretion in flowers of Oncidium trulliferum Lindl. and Ornithophora radicans (Rchb.f.) Garay & Pabst (Oncidiinae: Orchidaceae). Annals of Botany 101: 375–384. [7] Pansarin, E.R. & Pansarin, L.M. 2011. Reproductive biology of Trichocentrum pumilum: an orchid pollinated by oil-collecting bees. Plant Biology 13: 576-81.