Conjuntura: Com alta de 71%, financiamento tem foco na baixa renda
Crédito sustenta expansão da construção no Nordeste
Murillo Camarotto, do Recife
08/06/2010
A poluição sonora produzida por serras, marretas, furadeiras e demais congêneres é cada dia mais presente na vida do cidadão das principais
cidades do Nordeste. Em muitos casos, o aborrecimento é reforçado por ruas interditadas, desvios em estradas e todos os transtornos comuns
aos arredores dos chamados canteiros de obras. No Nordeste, eles se multiplicam rapidamente. São os grandes responsáveis pelo ritmo
diferenciado de crescimento econômico da região.
Apesar da relevância de indicadores como emprego e consumo de cimento, o chamado "boom" do setor de construção civil só foi possível
graças à expansão da oferta de crédito no país, especialmente no Nordeste. Nos últimos quatro anos, o financiamento para aquisição e
construção de imóveis na região cresceu a uma taxa média anual de 71%, segundo dados do Banco Central referentes ao uso de recursos do
Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). No mesmo período, a média nacional ficou em 46,4% ao ano.
"A abertura do crédito ampliou sensivelmente o poder de compra das classes mais baixas e intermediárias, dando maior fôlego ao mercado.
Diante disso, houve uma diversificação de bairros e a orla deixou de ser o único local para os novos empreendimentos", conta Irenaldo
Quintans, presidente do Sinduscon de João Pessoa (PB).
Segundo ele, o crescimento da construção civil está transformando a paisagem da capital da Paraíba, que começa a intensificar o seu processo
de verticalização. "Em março, tínhamos 5 mil apartamentos novos em oferta, com valor total de vendas de R$ 1,1 bilhão. Isso é o dobro do que
tínhamos em 2004".
Apesar de o mercado imobiliário estar aquecido em praticamente todos os segmentos, é a baixa renda que tem atraído as grandes construtoras
para o Nordeste, onde está o maior déficit habitacional do país. Especialista nesse tipo de cliente, a mineira MRV chegou ao Ceará em 2007.
Hoje, conta com 19 empreendimentos em quatro Estados da região, dos quais 95% estão enquadrados no MCMV.
O diretor comercial da empresa, Yuri Chain, disse que a MRV deve expandir neste ano as operações para João Pessoa (PB) e Maceió (AL).
Também está prevista a construção de um empreendimento em Caruaru (PE), o que marcará a estreia da empresa em municípios do interior do
Nordeste. "O cliente da região tem respondido muito fortemente aos lançamentos", afirmou o executivo.
O Nordeste responde hoje por 10% do faturamento da MRV. Para o ano que vem, a expectativa da empresa é de que ele passe a representar
25%. Para isso, a companhia vem se associando com construtoras regionais, que têm, por exemplo, maior expertise na busca por bons terrenos,
além de conhecerem melhor o perfil do cliente.
Em Pernambuco, a MRV se associou a Moura Dubeux, que até então atuava somente com imóveis de alto padrão. Com a parceria, a empresa já
tira do segmento econômico cerca de 30% do que fatura. A Moura Dubeux espera ultrapassar neste ano a marca de R$ 1 bilhão em
lançamentos, quase o dobro dos R$ 579 milhões lançados em 2009.
Outra sede do Mundial de 2014, o Ceará também vive um momento especial, que o vice-presidente do Sinduscon local, André Montenegro,
classifica como de "super aquecimento". Ele prevê que o PIB da construção cearense vá crescer 10% este ano. Além das obras da Copa, o setor
trabalha na construção de um imenso centro de convenções e de 110 escolas técnicas, além dos inúmeros projetos imobiliários de média e
baixa renda.
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