XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL GERA COM ALTA DIVERSIDADE BETA. PAISAGENS Magda Silva Carneiro - Universidade Estadual de Campinas, Departamento de Botânica, Instituto de Biologia, Campinas, SP. [email protected]. Caroline Cambraia Furtado Campos - Universidade Federal de Alfenas, Laboratório de Ecologia de Fragmentos Florestais, Instituto de Ciências da Natureza, Alfenas, MG. Bruno Roberto Ribeiro -Universidade Federal de Alfenas, Laboratório de Ecologia de Fragmentos Florestais, Instituto de Ciências da Natureza, Alfenas, MG. Hisaias Almeida - Universidade Federal de Itajubá, Instituto de Recursos Naturais, Itajubá, MG. Flávio Nunes Ramos - Universidade Federal de Alfenas, Laboratório de Ecologia de Fragmentos Florestais, Instituto de Ciências da Natureza, Alfenas, MG. Flávio Antônio Maes dos Santos - Universidade Estadual de Campinas, Departamento de Botânica, Instituto de Biologia, Campinas, SP. INTRODUÇÃO Atualmente, a maior parte da biodiversidade está localizada em fragmentos florestais, poucos estudados e historicamente marginalizados pelas iniciativas de conservação. O componente florestal adulto (DAP >5 cm) é muitas vezes o mais enfatizado em estudos florísticos e fitossociológicos, porque neste componente se concentra a maior parte da biomassa florestal, e a biomassa economicamente mais importante. No entanto, é extremamente importante incluir indivíduos mais jovens (DAP <5 cm) nestes estudos. Sem a inclusão destes indivíduos, a riqueza e a diversidade de fragmentos pode ser subestimada, além disso, estes indivíduos representam o potencial de regeneração da floresta. Além de estudos florísticos e fitossociológicos, entender como os padrões de diversidade variam entre os fragmentos e através das paisagens é muito importante. Uma maneira de abordar este problema é através da partição aditiva da diversidade, em que a diversidade regional (gama) é dividida entre a diversidade local de espécies (alfa) e a diversidade entre as comunidades (beta). A beta-diversidade descreve não só a relação entre a diversidade local (alfa) e regional (gama), mas também como as comunidades respondem às perturbações antrópicas, e por isso tem sido utilizada como critério para o estabelecimento de áreas prioritárias para conservação. OBJETIVO Analisar a composição florística e a diversidade de espécies para o dossel e sub bosque em fragmentos florestais, e responder às seguintes perguntas específicas: (a) quais são as espécies/famílias que ocorrem na região e em cada classe? (b) os fragmentos são semelhantes em termos de composição florística?, (c) qual a diversidade alfa dos fragmentos? (d) qual a diversidade beta dos fragmentos e da região?. METODOLOGIA O estudo foi realizado em nove fragmentos de floresta estacional semidecidual Submontana em Alfenas, sul de Minas Gerais. Dez parcelas de 10 x 20 m (0,02 ha) foram instaladas em cada fragmento estudado (total = 1,8 ha). 1 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL Foram amostrados e medidos, dentro de cada parcela, todos os indivíduos com diâmetro à altura do peito (DAP) > 5 cm e todos os indivíduos com DAP <5 cm e altura maior que 1,3 m. Os parâmetros fitossociológicos foram calculados e a correlação entre a frequência e a abundância das espécies foi analisada através da correlação de Pearson no software BioEstat 5.3. Nós estimamos a riqueza de espécies por curvas de acumulação de espécies, utilizando o estimador Bootstrap no software Estimate. A similaridade florística entre os fragmentos foi calculada usando o índice de Bray Curtis e a relação entre a distância entre os fragmento e similaridade florística foi verificada pelo teste de Mantel simples no software Past. A partição aditiva da diversidade de espécies foi calculada no software Partition. RESULTADOS Foram amostrados 8338 (1985 com DAP >5 cm e 6353 com DAP <5 cm) indivíduos pertencentes a 60 famílias, 156 gêneros e 310 espécies. As duas classes de indivíduos apresentaram 167 (53,87%) espécies e 46 famílias (76,67%) em comum. As famílias Anacardiaceae, Annonaceae, Euphorbiaceae, Fabaceae, Lauraceae, Meliaceae, Myrtaceae, Salicaceae e Rubiaceae, bem como as espécies Duguetia lanceolata e Copaifera langsdorffii ocorreram nas duas classes e em todos os fragmentos. Os indivíduos com DAP > 5 cm tiveram duas famílias, Caricaceae e Rhamnaceae, e 38 espécies exclusivas, enquanto que a classe DAP <5 cm apresentou 12 famílias e 105 espécies exclusivas. Para ambas as classes, as espécies mais abundantes foram também as mais frequentes (rPearson= 0,94; 0,73 p <0,0001, respectivamente). Para os individuos com DAP >5 cm e DAP <5 cm a riqueza estimada por Bootstrap variou de 46,5-105,3 e 96,8-147,3, a diversidade de Shannon (H ') apresentou valores entre 3,17 e 4,03, 3,18 e 4,15 e equabilidade de Pielou (J ') entre 0,82 e 0,91, 0,67 e 0,85, respectivamente. A similaridade florística entre os fragmentos foi baixa (<0,5) tanto para o dossel e quanto para o sub bosque e não houve correlação significativa entre a similaridade florística e a distância geográfica entre fragmentos (r= -0,01; p= 0,51 e r= 0,15; p= 0,16). A riqueza amostrada nas parcelas (diversidade alfa) não diferiu (p = 0,99) do esperado ao acaso (distribuição aleatória), paras ambas as classes. Já diversidade beta 1 (entre parcelas) representa mais de 70% da diversidade total dos fragmentos e foi maior do que esperado caso a distribuição fosse ao acaso (p= 0,001). Quando a partição foi realizada para a região, a diversidade beta entre as parcelas não diferiu da distribuição aleatória (p= 0,99) e a diversidade beta 2 (entre fragmentos) representou aproximadamente 70% (≥5cm) e 77% (≤ 5 cm) da diversidade regional. DISCUSSÃO Nosso estudo mostrou que a inclusão de indivíduos com DAP <5 cm aumentou a riqueza em 33,9%. Portanto, quando estes indivíduos não são incluídos no inventário, a riqueza de espécies pode ser subestimada. O alto número de espécies comuns entre as classes sugere que esses fragmentos são capazes de manter a alta diversidade ao longo dos anos e confirma a hipótese proposta por Comita et al. (2007), que afirma que a abundância de indivíduos regenerantes é positivamente relatada a abundância de adultos reprodutivos. Os fragmentos apresentam alta diversidade e muitas espécies exclusivas. Esse grande número de espécies exclusivas refletiu na alta diversidade beta encontrada. Diversidade beta maior que o esperado ao acaso indica distribuição de espécies agregada e sugere complementaridade dos fragmentos (Veech 2005). A agregação de espécies pode ocorrer por dois motivos, devido à limitação de dispersão (Hubbell 2001) e/ou devido às condições ambientais que podem ser ideais para o crescimento e reprodução de espécies. Os fragmentos têm diferentes históricos de perturbação que podem determinar a abundância das espécies, e o fato da distância não apresentar uma correlação com a matriz espécies sugere que estas comunidades diferem devido à heterogeneidade ambiental e não devido à limitação de dispersão (Svenning & Flemming 2004). 2 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL CONCLUSÃO Os fragmentos estudados têm alta diversidade de espécies e ainda preservam algumas espécies ameaçadas de extinção. Diante disso, e devido à alta diversidade beta, podemos dizer que a conservação da biodiversidade da região depende da preservação de todos os fragmentos, uma vez que são altamente complementares. O planejamento de estratégias de conservação devem considerar não apenas dados sobre a riqueza de espécies local, mas também a complementaridade entre áreas e a diversidade beta da região. REFERENCIAS COMITA, L.S.; CONDIT, R; HUBBELL, S.P. 2007. Developmental changes in habitat associations of tropical trees. Journal of Ecology 95:482-492. VEECH, J.A. 2005. Analyzing patterns of species diversity as departures from random expectations. Oikos 108:149-155. HUBBELL, S.P. 2001. The unified neutral theory of biodiversity and biogeography. Princeton University. SVENNING, J; FLEMMING, S. 2004. Limited filling of the potential range in European tree species. Ecology Letters 7:565-573. 3