ÁREA DE OPERAÇÕES INDUSTRIAIS 2 GERÊNCIA SETORIAL 4 CADEIA DE COMERCIALIZAÇÃO DE LIVROS SITUAÇÃO ATUAL E PROPOSTAS PARA DESENVOLVIMENTO Elaboração: GERÊNCIA SETORIAL DE COMÉRCIO E SERVIÇOS William George Lopes Saab – Gerente Setorial Luiz Carlos Perez Gimenez - Engenheiro Rodrigo Martins Ribeiro - Estagiário Dezembro de 1999 ÍNDICE INTRODUÇÃO............................................................................................. ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. 1. CARACTERÍSTICAS DO PRODUTO ............................................................................................................... 2 2. A INDÚSTRIA EDITORIAL.................................................................................................................................. 6 3. O MERCADO BRASILEIRO DE LIVROS NOVOS ........................................................................................15 4. A INDÚSTRIA GRÁFICA..................................................................................................................................29 5 - A DISTRIBUIÇÃO ............................................................................................................................................31 6. LIVRARIAS ......................................................................................................................................................... 37 7. O COMÉRCIO DE LIVROS NA INTERNET...................................................................................................48 8. AÇÕES EM CURSO, PROBLEMAS ATUAIS E PROPOSTAS P/DESENVOLVIMENTO ..................... 52 9. CONCLUSÃO....................................................................................................................................................58 INTRODUÇÃO O comércio varejista brasileiro vem se defrontando com importantes desafios nos últimos anos, em decorrência não só do processo de globalização da economia, como também da estabilização econômica, o que tem exigido das empresas maior eficiência na operação dos seus negócios. Um dos segmentos que se encontra frente a essas mudanças, seja pela entrada de empresas internacionais, busca de maior eficiência, ou pela introdução de novos conceitos, é o de livrarias. Não se pode abordar, no entanto, as livrarias, sem se considerar toda a cadeia de comercialização, pois é através dela que se consegue analisar suas qualidades e deficiências, e perceber sua importância para o desenvolvimento econômico e social do país. Cabe ressaltar que não existe outra cadeia industrial capaz de produzir e comercializar tantos produtos novos, e que seja um reflexo do mundo real, como a de livros. Além disso, representa uma parcela significativa da atividade cultural. No entanto, essa cadeia se depara com inúmeras dificuldades e desafios. Uma dificuldade é que, para ser eficiente em seus múltiplos aspectos, ela precisa conciliar imperativos comerciais com exigências culturais. Quanto aos desafios, pode-se falar, inicialmente, da grande diversidade de oferta de lazer, que, ao ocupar o tempo das pessoas, pode vir a diminuir o tempo para leitura. Um outro desafio é a possibilidade de diminuição da comercialização do livro “físico”, já que boa parte do material impresso apresenta potencial de ser reduzido a bytes, o que afetará diferentemente os integrantes dessa cadeia industrial. Quanto ao Brasil, a qualidade do livro brasileiro se encontra entre as melhores do mundo, e a indústria do livro brasileira já consegue bastante atenção da mídia. Eventos realizados, como as Bienais Internacionais do Livro, alcançam grande sucesso de público. Apesar desses aspectos positivos, o livro encontra-se longe de estar democraticamente disponível para toda a população brasileira. Se muito dos entraves, no entanto, fossem adequadamente solucionados, a indústria do livro poderia tornar-se uma importante fonte de rendas e de geração de empregos. Um dos entraves, por exemplo, refere-se à importação de livros, tendo em vista que a produção mundial de títulos é extremamente ativa e a maioria dos títulos publicados no exterior jamais será traduzida para o português. Para os leitores, a sociedade e a democracia brasileira, é importante o acesso de toda a população aos livros e a presença de muitos participantes em todas os elos da cadeia, principalmente daqueles que vêem no livro mais do que um produto meramente comercial. O objetivo deste trabalho é propiciar uma visão panorâmica da cadeia de comercialização de livros e dos seus problemas, no Brasil, consolidando algumas propostas 1. para seu desenvolvimento e procurando contribuir, assim, para que os agentes envolvidos possam encontrar formas de colaborar para o crescimento dessa indústria. Como o mercado de livros usados é considerado residual, sendo, ainda, difícil encontrar informações sobre esse segmento, ele não foi considerado no trabalho. Embora as opiniões emitidas sejam de inteira responsabilidade dos autores, colaboraram, com informações o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e a Câmara Brasileira do Livro (CBL). Agradece-se, ainda, a cooperação do Sr. Maurício Fanganiello, da Saraiva S.A. Livreiros Editores, do Sr. Rui Campos, da Livraria da Travessa, e do Sr. Felipe Lindoso, da CBL. 1. CARACTERÍSTICAS DO PRODUTO Pode-se dizer que, saber ler, ter acesso e poder adquirir livros, sobre os mais abrangentes temas, é um direito fundamental de todo cidadão. Nesse sentido, encontram-se, na Constituição brasileira, promulgada em 05/10/88, alguns dispositivos que podem ser referenciados a esse direito. O artigo 3º estabelece que constitui objetivo fundamental da República Federativa do Brasil construir uma sociedade livre, justa e solidária. O artigo 5º, inciso XXVII, por sua vez, determina que aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras. Já o artigo 150, inciso VI, veda à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir impostos sobre livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão. Não obstante essa preocupação constitucional, o acesso ao livro, no Brasil, se encontra, ainda, circunscrito a locais onde existe concentração de renda e poder. Apesar de depender das segmentações predominantemente editadas no país, da qualidade dos textos disponíveis e das referências culturais do leitor, pode-se afirmar que o livro apresenta diversas características, de acordo com as diversas dimensões da vida social (Quadro 1). Além de apresentar explicações e alternativas para muitos dos dilemas contemporâneos, individualmente, o livro pode contribuir para aumentar a capacidade do leitor em compreender o mundo, decifrar signos e interpretar melhor a grande quantidade de dados e imagens que recebe. Mesmo a literatura de ficção, complementa a formação dos leitores, pelas associações e significados que propicia, além de aumentar a cognição. Quanto à produção do livro, pode-se dizer, sinteticamente, que a cadeia industrial para sua elaboração se inicia na floresta, continua na celulose, nos papéis de impressão, e no trabalho gráfico. Essa cadeia envolve muitos profissionais e empresas, desde os autores, ilustradores, editores, gráficos, distribuidores (que operam no ramo de compra e venda por atacado), até os livreiros (pessoas jurídicas que vendem diretamente ao consumidor) e os crediaristas (pessoas físicas que também vendem diretamente ao consumidor). No que se refere à sua produção, a partir da existência de textos já desenvolvidos, é realizada uma seleção de originais, pelo editor ou por uma comissão editorial, adquirindose o direito autoral sobre a obra. Se o texto for adquirido no exterior, cabe, também, 2. providenciar sua tradução e revisão. O texto pode ter sido, ainda, já contratado junto a determinado autor. Resolvida a seleção e preparação do texto, procede-se ao trabalho de editoração, que envolve, em alguns casos, a elaboração de desenhos, gráficos e outras ilustrações, e a preparação da capa. Visando assegurar a qualidade do produto, todas essas fases passam por cuidadosas provas e revisões. Após a execução do trabalho gráfico, deve haver a disponibilização de depósito para recebimento dos exemplares impressos e, finalmente, a sua distribuição. Quadro 1 Livros – Dimensões Humanas Principais Características Dimensão Política Cultural Educacional Profissional Tecnológica Social Características é um instrumento essencial da civilização ocidental; disponibiliza a herança cultural de outros povos; permite o intercâmbio de informações entre as nações; é uma manifestação da identidade cultural de um país; fomenta o desenvolvimento cultural; permite a conservação do patrimônio cultural; estimula a criação artística; é uma informação que permanece disponível; é um instrumento democrático de formação educacional; permite a transmissão de conhecimento; é um instrumento de qualificação e requalificação profissional; apresenta menores custos, relativamente a outros instrumentos educacionais, como os cursos; fomenta a pesquisa científica; permite a economia de custos com royalties e know-how importados; fomenta a pesquisa social; é um instrumento de promoção social; pode contribuir para a melhoria da qualidade de vida; e é uma opção barata, relativamente a outras atividades de lazer. Esse ciclo de produção do livro, dos originais até chegar às livrarias, é variável. Para algumas obras de referência, pode levar muitos anos. Para as edições mais simples, no entanto, o ciclo costuma transcorrer entre três e quatro meses. Já para os livros didáticos, que necessitam, em geral, de desenhos, gráficos, fotografias, e de revisões cuidadosas de conteúdo, o prazo médio costuma ser de um ano e meio. O custo de produção de livros didáticos e de obras de referência, que em geral são mais altos, pode ser apoiado, inclusive, pela Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet). No que se refere a autores, o Brasil, nos diversos segmentos da indústria editorial, possui bons autores. Na verdade, segundo os editores, a produção de conteúdo não constitui problema, no Brasil. O material didático em circulação nas escolas brasileiras, por exemplo, é majoritariamente elaborado por autores nacionais. A presença dos autores estrangeiros é pequena, e quase inexistente, no ensino fundamental, figurando apenas no ensino superior. 3. Acredita-se, ainda, que não deva existir desperdício de talentos no Brasil, pois, o autor que tenha talento e um pouco de persistência, consegue se lançar. Um dos fatores que contribuem para isso é a intensa competição, entre as editoras, por grandes sucessos, principalmente aquelas que começam a formar seus catálogos. Assim, ter bons autores é um forte fator de concorrência entre as editoras, de onde surge a necessidade de se descobrir talentos e fazer investimento em autores novos. Merece destaque, ainda, que, em muitos casos, já é possível ao escritor brasileiro impor o seu produto e negociá-lo ao máximo com a editora. Um mercado livreiro forte deve estar alicerçado na possibilidade de muitos escritores diferentes terem seus trabalhos avaliados e publicados. Para o desenvolvimento da cultura do país, deve haver a possibilidade de que autores que vendam pouco, ou mesmo os que produzam textos "marginais" ao mercado, consigam ter seus trabalhos publicados. A autoria de um livro é fruto de um longo trabalho, envolvendo pesquisas e atividades que exigem dedicação e saber. Como já vimos, a nossa Constituição estabelece que depende de autorização prévia e expressa do autor, a utilização da sua obra, por quaisquer modalidades, bem como a sua reprodução parcial ou integral. Em 19 de junho de 1998, foi sancionada a Lei nº 9.610, a nova Lei de Direitos Autorais. Segundo ela, os direitos autorais reputam-se, para os efeitos legais, como bens móveis. Além das sanções civis, a reprodução não autorizada de obras constitui um ilícito penal, configurado como crime contra a propriedade intelectual, conforme o art. 184 do Código Penal brasileiro. Quanto ao custo dos direitos autorais, em todo o mundo, em geral, o pagamento do direito autoral aos escritores gira em torno de 10%. Para autores que apresentam grande capacidade de vendagem, esse percentual é, naturalmente, bem maior. No Brasil, o autor recebe de 8,0 a 10,0% do preço de capa, o que corresponde, para as editoras, em torno de 20,0% do faturamento de cada livro. No caso de haver necessidade de tradução da obra, esse percentual pode baixar para 7,0%. Os contratos com autores de livros didáticos são diferenciados, por causa das compras efetuadas pelo governo, e, em geral, possuem maior escala de royalties. A tabela 1, a seguir, apresenta os valores pagos pelas editoras, a título de direitos autorais, no Brasil e no exterior, para o período 1990-1998. 4. Tabela 1 Brasil – Pagamento de Direitos Autorais, no País e no Exterior 1990-1998 (Em US$) Ano Brasil Exterior 1990 49.963.476 12.876.391 1991 61.686.975 13.948.860 1992 33.244.708 4.084.063 1993 46.547.984 5.585.758 1994 64.922.343 10.747.621 1995 113.117.590 12.038.546 1996 126.428.976 36.972.262 1997 159.392.733 27.039.292 1998 192.639.924 31.727.989 Fonte: CBL. Cabe destacar que as editoras, principalmente nos EUA, estão adquirindo, junto aos autores, outros direitos sobre a obra, como os de reprodução eletrônica, filmagem e produção de jogos interativos, visando aumentar seus faturamentos. Deve ser ressaltado, porém, que os autores brasileiros são pouco remunerados, pois grande parte dos livros editados no Brasil apresenta vendagem reduzida. Um dos fatores que piora as condições de remuneração do autor brasileiro, e mesmo dos editores, é a reprografia de suas obras, embora, como já mencionado, a Lei de Direitos Autorais classifique a reprografia não autorizada como crime. Livros com poucas páginas, como os infantis, são os mais prejudicados. Entre as causas do grande número de cópias reprográficas realizadas, têm sido apontadas a falta de acesso ao livro, seja pelo custo elevado do livro brasileiro, ou pelas condições precárias dos acervos das bibliotecas de universidades, que levam os alunos a não criarem o hábito de freqüentá-las. Estima-se que haja uma perda de aproximadamente US$ 200 milhões anuais, gerada pelas cópias reprográficas. Além das perdas de vendas e de seus efeitos na cadeia, isso desestimula a formação de bibliotecas nas universidades. Visando equacionar esse problema, foi criada, em 1992, a ABDR - Associação Brasileira de Direitos Reprográficos, uma entidade arrecadadora de direitos autorais, que representa o autor ou o editor, e arrecada um valor estabelecido, quando se atinge determinado número de cópias reprográficas. O valor arrecadado é revertido para as editoras ou autores, acreditando-se que tal medida possa contribuir para que a indústria produza livros mais baratos. Outros países abordaram de forma séria esse problema, aumentando significativamente o faturamento da cadeia editorial. Na Noruega, por exemplo, a sociedade arrecadadora funciona, atualmente, como um banco para as editoras. Hoje, nesses países, a maior preocupação dos editores e autores é com o que se tem chamado de reprografia cibernética. 5. Uma outra particularidade dos livros refere-se ao código numérico normalizado universal para cada obra, estabelecido pelo ISBN - International Standard Book Number. Essa entidade foi criada, em 1972, pelos ingleses, sendo o seu escritório central internacional situado em Berlim. A ISBN estabelece um prefixo para cada país, editora e título da obra, criando uma codificação única e internacional. No Brasil, o responsável pela administração desses códigos é a Biblioteca Nacional. Um outro aspecto fundamental a ser considerado, quando se analisa o produto livro, em determinado mercado, é aquele ligado ao hábito de leitura da população. Alguns estudos tem sido realizados, com a finalidade de identificar os fatores relacionados à criação do hábito de leitura de uma pessoa e de uma nação. Segundo esses estudos, esse hábito está ligado ao nascimento numa família de leitores; ao fato de se ter passado a juventude num sistema escolar preocupado com o hábito de leitura; ao preço do livro; ao acesso ao livro (que envolve uma distribuição eficiente, divulgação, variedade e quantidade de livrarias, e infra-estrutura e qualidade do acervo de bibliotecas compatíveis com a população a ser atendida); e, finalmente, o valor simbólico que a cultura do país atribui ao livro. Esses dados confirmam algumas das considerações feitas pelos especialistas, como a de que os leitores se formam fundamentalmente na família. Verifica-se, ainda, a valorização da escola como alicerce para a formação de futuros leitores, e a necessidade de estímulo ao contato com livros, na idade escolar. Na escola, os principais aspectos ligados ao desenvolvimento do hábito de leitura são: o estudo de textos, o estudo de literatura, e a freqüência à biblioteca. Além das formas de acesso ao livro, é preciso conhecer, ainda, as motivações de leitura e os objetos e práticas de leituras correntes, considerando a faixa etária, o nível de renda, a escolaridade, o sexo, a região geográfica, a profissão, etc. Considera-se, ainda, que, em se tratando de incentivo à leitura, não há como se massificar, pois não se formam leitores em série, ou seja, só um leitor forma outro leitor. No Brasil, o órgão oficial de promoção da leitura é a Fundação Biblioteca Nacional. No entanto, após se levantar todos esses aspectos, é preciso que se leve em conta que existem múltiplas formas de leitura, e são diversos os objetivos e interesses que levam a pessoa a ler. Deve-se considerar, ainda, que a leitura exige, em geral, para a ampla compreensão do seu conteúdo, um determinado esforço mental, e que não há, na verdade, objetivamente, um vínculo necessário entre a leitura e comportamentos saudáveis positivos, apesar de que, apelos morais tentem mostrar que um leitor é melhor do que um não leitor. Na verdade, a leitura é decorrência de uma vontade de saber, e não promotora dessa vontade. 2. A INDÚSTRIA EDITORIAL Abordando-se, inicialmente, a formação do custo editorial, constata-se que, apesar de alguma variação, um livro novo apresenta equivalência entre os seguintes custos: direito autoral, preparação, papel e serviços gráficos. Os custos de preparação incluem, principalmente, os de tradução, pesquisa, projeto gráfico, composição e revisão editorial. No caso de reedições, naturalmente, os custos principais são os que se referem a direito autoral, papel e serviços gráficos. 6. O custo de uma editora costuma variar entre 25 a 30% do preço de capa, devendo-se, ainda, ser considerados, os custos de distribuição e comercialização. Cabe observar que, para os livros didáticos, a produção do texto costuma ser muito mais cara do que a de outros segmentos. O giro de estoques de livros, no Brasil, é baixo, bem menor que nos EUA, por exemplo, exigindo, assim, custos de capital elevados, para manter os estoques. A editora se caracteriza pela necessidade de ser financiadora durante o ciclo operacional do livro: quando adquire os direitos da obra, adianta o direito autoral, depois, tem os custos de tradução e os custos editoriais de copydesk , composição, revisão, impressão, gráfica, papel, fotolito, etc. Ao vender, deve-se conceder, ainda, um prazo para o livreiro, que, em geral, é de 60 dias. Quanto aos insumos, a atividade editorial está intimamente relacionada com as indústrias de tinta para impressão e de papel, onde são utilizados, principalmente, os papéis revestidos à base de celulose. Alguns principais forne-cedores deste tipo de papel, no Brasil, encontram-se apresentados no Quadro 2. Quadro 2 Brasil – Principais fornecedores de papéis para livros Fornecedor Produto Votorantim Papel offset Bahia Sul Papel offset Suzano Papel offset Ripasa Papel offset Samab Papel offset T. Janer Papel offset Fonte: Saraiva S.A. Como será abordado, detalhadamente, no item distribuição, a indústria editorial vende seus produtos para os livreiros, o governo (que distribui para as escolas e bibliotecas) e, também, para os atacadistas, conhecidos como distribuidores. Em alguns casos, no entanto, a editora efetua a venda diretamente ao consumidor. A inadimplência das livrarias, principal canal de comercialização das editoras, varia de acordo com a conjuntura, e de empresa a empresa, apresentando-se, na média, igual a de outros setores. Quanto ao preço ao consumidor final, o livro, no Brasil, é considerado caro, comparativamente ao mercado internacional, mas, principalmente, em relação ao poder aquisitivo médio da população brasileira. Para os editores, são diversos os fatores que tornam elevado o preço do livro nacional, mas, principalmente, a impossibilidade de ganhos de escala na produção, devido às tiragens reduzidas, o que se torna um problema cíclico, pois livros mais baratos possibilitariam maiores tiragens, compensando a menor margem de lucro. 7. Outros fatores devem ser elencados, tais como o alto custo dos insumos e de impressão, e o chamado “custo Brasil”, no que se refere, principalmente, aos juros praticados no país e aos problemas relativos à logística de distribuição. O preço do livro, como é fácil perceber, influencia muito o consumo de livros, porém, pode ser apontado como um grande entrave para a sua maior difusão. O problema torna-se mais relevante, ainda, quando o seu uso é destinado à educação. No país, uma alternativa mais barata, como os pocket books , beneficia, geralmente, os clássicos, os títulos de domínio público, e não os lançamentos recentes, como nas indústrias americana e européia. Para o livro tornar-se mais barato, destacam-se, dentre os fatores fundamentais, a melhoria da distribuição de renda no país, de modo a incorporar consumidores potenciais de livros, permitindo, assim, maiores tiragens, e a valorização da educação. A compra de exemplares de livros, para as bibliotecas públicas do país, permitiria, também, o aumento da tiragem, e contribuiria, conseqüentemente, para a diminuição do preço final da edição. No que se refere à fixação de preços, as editoras estabelecem o preço de venda e, a partir daí, concedem descontos para os distribuidores e livreiros. Em alguns países, o preço de capa é tabelado e impresso no próprio livro, como ocorre, por exemplo, na França, nos EUA, na Itália e na Grã-Bretanha. No modelo inglês do preço mínimo, por exemplo, o livro sai da editora com preço fixo, e tem percentuais máximos de reajuste e desconto fixados para as etapas seguintes do comércio, ou seja, para os distribuidores e livreiros. Na Espanha, o desconto máximo permitido sobre o preço de venda é de 5%. Portugal e França também limitam o desconto. Neste último país, só é permitido um desconto maior do que o percentual estabelecido, quando decorrem pelo menos dois anos de lançamento da edição e o livro já está há seis meses, pelo menos, nos estoques das livrarias. Nos EUA, apesar da indicação do preço de capa, o conflito gerado pelos descontos é muito grande. Algumas cadeias vendem best sellers com prejuízo, como chamariz para a venda de outros produtos. Essa política de desconto tem levado muitos livreiros, os independentes, principalmente, a passarem por dificuldades. No Brasil, não é usual haver a devolução de livros pelas livrarias. Quando acontece, a troca é feita pelo preço de capa e há uma intensa negociação. Nos EUA, as editoras vendem um lote de livros para as livrarias, mas, caso os títulos não tenham saída em três meses, o livreiro pode trocá-los por outros. As devoluções implicam em custos para as editoras, e essa prática ocasionou muitas dificuldades para a indústria editorial americana, principalmente, para as pequenas empresas, pois ocorre a devolução de muitos títulos que não fazem sucesso, tendo em vista que as livrarias concentram seu marketing nos best sellers e, são necessários em torno de 100 livros para se fazer um mostruário, onde se coloque em destaque determinado livro. Cabe ressaltar, ainda, a figura do editor, que é essencial na definição do perfil da editora. O editor é, na verdade, o intermediário entre a obra intelectual e a comercial, e cabe a ele dosar, com habilidade, o foco da editora, entre aquela eminentemente comercial, e a que apresenta apenas credibilidade, do ponto de vista cultural. Assim, como a figura do editor é central, a sucessão empresarial é importante, e pode mudar o perfil de uma editora, principalmente, quanto à formação de seu catálogo. Os bons catálogos levam anos para serem consolidados, e representam o sucesso ou não da empresa. 8. O baixo investimento necessário à instalação de uma pequena editora, facilita a sua entrada no mercado, atuando, primordialmente, em nichos específicos de mercado. No Brasil, calcula-se que as pequenas editoras já representem 10% do mercado editorial, mas seus livros são difíceis de serem encontrados nas livrarias, pois, atualmente, existem mais editoras do que livrarias, no País. Visando reduzir custos, expandir vendas, uniformizar a divulgação, e solucionar os problemas de distribuição, para poderem competir com as grandes editoras, os pequenos editores estão procurando se unir em associações. A despeito do aumento do número de pequenas editoras, porém, favorecido pelo uso da editoração eletrônica, o mercado mundial passa por um processo de concentração em torno dos grandes conglomerados de mídia, ou seja, o setor de comunicação está se integrando como um todo: TV’s, jornais, editoras, etc. No Brasil, acredita-se que o mercado editorial tenha ingressado na fase mais competitiva de sua história, esperando-se que continue o movimento de concentração, já iniciado, e a busca por maior escala de produção. Além disso, já se verifica a entrada de concorrentes internacionais, em função, basicamente, do faturamento significativo do segmento de didáticos e do potencial do mercado brasileiro, se comparado, principalmente, ao crescimento vegetativo dos mercados já desenvolvidos. Alguns exemplos dessa internacionalização podem ser citados, quais sejam: a Editora Saraiva, que tinha 15% do seu capital em propriedade de capital estrangeiro, vendeu mais 2,6% ao International Financial Corporation (IFC), órgão financeiro do Banco Mundial; as editoras de livros didáticos Ática e Scipione foram compradas pelo Grupo Abril e por um dos maiores grupos de comunicação da Europa, o Havas, da França; a Siciliano abriu o capital de sua rede de livrarias e vendeu 35% de suas ações para o grupo financeiro norte-americano Darby Overseas Investments; e o Shopping Ática, que pertencia à Editora Ática, foi vendido para a empresa francesa Fnac. O mercado brasileiro é bastante peculiar, exigindo conhecimento da sua cultura, hábitos e preferências. Essas especificidades impõem uma adaptação dos modelos existentes às condições de demanda do país. Os que temem a possibilidade de desnacionalização da indústria apontam, principalmente, como implicação negativa, a que se refere à possível redução do número de lançamentos de autores nacionais. Quanto à integração vertical, na maioria dos casos, as editoras brasileiras não atuam de forma integrada, isto é, contratam com terceiros, tanto a impressão (indústria gráfica), quanto a distribuição. A verticalização da indústria gráfica não é considerada necessária, e possui vantagens e desvantagens, dependendo da visão empresarial. Podese dizer que a tendência é de que as editoras não possuam gráficas, pois os negócios são considerados diferentes. A tabela 2 apresenta alguns dados sobre o desempenho operacional do setor editorial, no Brasil, em 1998. Tabela 2 Brasil – Setor Editorial Serviços Gráficos - 1998 9. Impressão Títulos de livros Gráfica própria 13.227 Gráfica de terceiros 35.534 Gráfica no exterior 985 Total 49.746 Participação (%) Exemplares Participação (%) Valor Participação (%) 26,7 78.954.448 21,4 77.183.233 18,2 71,3 2,0 259.181.455 31.050.571 70,2 8,4 297.891.633 49.837.051 70,1 11,7 100,0 369.186.474 100,0 424.911.917 100,0 Fonte: CBL. Uma outra novidade, no mercado, é a terceirização da produção editorial, delegando-se o projeto integral do livro a outra empresa, ou seja, em vez de confiar a revisão, o projeto da capa, dentre outras tarefas, para empresas ou pessoas diferentes, o livro é entregue a uma empresa, que cuidará de tudo. Estima-se, conforme a CBL, que sejam mais de 6.250 os títulos que saem mensalmente das gráficas de todo o país, sendo que, cerca de 1250 títulos, são novos. As grandes editoras, como a Record lançam em torno de 30 livros por mês, e as médias editoras em torno de 10 livros/mês. O país possui cerca de 150.000 títulos já existentes, conforme o CBP – Catálogo Brasileiro de Publicações, embora não se tenha uma book in print inteiramente confiável no Brasil. As tiragens traduzem um conjunto de variáveis, como o conteúdo da obra, os custos de produção, o público alvo, o momento do lançamento, etc. Nos Estados Unidos, os mega best-sellers podem alcançar tiragens de mais de um milhão de exemplares. O foco num público de interesse específico, no entanto, pode facilitar a produção de livros de baixa tiragem, com o apoio de novas tecnologias. No Brasil, já são considerados livros com grande público os que atingem 30 mil cópias. A tiragem padrão, de 3 mil exemplares, vem diminuindo ainda mais. De fato, a novidade é que dá impulso à indústria, pois vai ao encontro das necessidades da mídia, do varejo e dos consumidores, com seus interesses diversificados. Tendo em vista que não há significativo aumento do número de novos leitores, o que se pretende é que o mesmo público leitor compre mais títulos. Ao ter que investir em produtos novos, que demorarão ou não serão reimpressos, a rentabilidade das editoras fica prejudicada. Assim, a diversificação da produção tem sido uma estratégia das editoras, para garantir presença no mercado, e um grande desafio da indústria editorial encontra-se no fato de que, a cada ano, torna-se necessário publicar mais livros, para garantir a mesma vendagem. A redução do tamanho das tiragens responde também aos altos custos de estocagem e de encalhe. Os títulos considerados populares são os que mais vendem, pois são apoiados, ainda, em intensa propaganda. Esses títulos ajudam a indústria a editar livros com pequenas tiragens. Nos EUA, às vezes, vendem-se livros best sellers a preços bem baratos, pois, o que se pretende é divulgar uma futura obra cinematográfica. No que se refere à apresentação do livro, no Brasil, predomina a capa mole. Não se criou, no país, mercado para pocket books , que, por serem edições mais baratas, atingem um público diferente. 10. O pocket book , nos EUA, alcança momentos diferentes do público, e o leitor não guarda o pocket , ou seja, é um consumo, pode-se dizer, descartável. Enquanto os pocket books não são editados nos EUA, os holandeses atuam nesse nicho, pois os americanos vendem o direito de edição do pocket, em inglês, no exterior, quase ao mesmo tempo do lançamento da primeira edição americana. Dessa forma, essas edições podem ser encontradas, com preços mais acessíveis, nos aeroportos do resto do mundo. No que se refere à segmentação, o livro pode ser caracterizado como um produto destinado a lazer, cultura e educação. Conforme a predominância de cada uma destas destinações, o produto livro possui características distintas, e vai atingir diferentes mercados, permitindo, dessa forma, a especialização de editoras e livrarias. Considerando-se outras variáveis, os livros podem ser segmentados de diferentes formas: • pela apresentação: capa dura, capa mole, pocket , etc. Nos EUA, visando beneficiar-se de diferentes fases do produto e de mercado, a segmentação, pela apresentação, varia de acordo com o tempo decorrido do lançamento. Tem-se, assim, inicialmente, a capa dura, para o lançamento inicial, o trade, com a capa mole (que predomina no Brasil), e o mass market (pocket ); • pelo conteúdo: com as suas divisões básicas, como livros de ficção, livros de não ficção, livros de espiritualidade, livros didáticos, etc. A partir dessas divisões básicas, há, ainda, outras subdivisões, como livros de ensaio, biografias, romances, livros de atividades, e outros. • pela idade do público a que se destinam: livros infantis, infanto-juvenis, etc. Tradicionalmente, no entanto, o mercado editorial é segmentado em: - obras gerais: ficção, ensaios, biografias; didáticos: de ensino fundamental, ou médio, e outros; científicos, técnicos e profissionais especializados: religiosos, culinária, etc. Alguns desses mercados de livros são restritos a um pequeno número de editoras, principalmente, aqueles que necessitam de grandes tiragens. No entanto, algumas das grandes editoras costumam atuar em mais de um mercado. A segmentação das editoras é feita, em geral, segundo a segmentação dos livros apresentada acima. No entanto, as editoras podem ser referidas, ainda, como grandes, médias e pequenas editoras, comerciais, universitárias, religiosas, etc. A formação do mercado editorial nacional foi baseada em editoras que concentravam suas atividades no mercado de livros didáticos, técnicos e profissionais, e surgiram a partir de livrarias. Encarando-se, atualmente, a atividade, como um negócio, tem sido destacado o profissionalismo que vem ocorrendo na área editorial brasileira, nos últimos anos, com cada vez mais planejamento e profissionalização, como, por exemplo, nos lançamentos dos best sellers . 11. A participação da indústria editorial no PIB brasileiro cresceu 42,1%, de 1990 a 1998, mas ainda representa apenas 0,27% do mesmo, conforme a tabela 3 a seguir: Tabela 3 Brasil – Participação da Indústria Editorial no PIB Brasileiro Faturamento PIB brasileiro Faturamento/PIB (US$) (a) (US$ milhões) (b) (em %) 1990 901.503.687 469.318 0,19 1991 871.640.216 405.679 0,21 1992 803.271.282 387.295 0,21 1993 930.959.670 429.685 0,22 1994 1.261.373.858 543.087 0,23 1995 1.857.377.029 705.449 0,26 1996 1.896.211.487 775.409 0,24 1997 1.845.467.967 804.182 0,23 2.083.338.907 777.083 Ano 1998 Fonte: CBL (a) 0,27 (b) e Revista Conjuntura Econômica, FGV, outubro/99 . Quanto à geração de empregos, tanto permanentes quanto temporários, observase uma redução do número de postos de trabalho, ao longo dos anos, conforme apresentada na tabela 4 a seguir, justificada, principalmente, pela busca de maior produtividade e terceirização de muitas atividades. Tabela 4 Brasil – Indústria Editorial Empregos Gerados – 1991-1998 Ano Permanentes Temporários 1991 27.661 16.527 1992 19.759 10.293 1993 20.292 8.510 1994 21.946 10.624 1995 20.630 11.145 1996 21.363 6.748 1997 19.918 4.372 1998 16.151 3.906 Fonte: CBL. Gráfico 1 Brasíl – Indústria Editorial Evolução dos Empregos Gerados – 1991-1998 12. 30.000 25.000 20.000 15.000 Permanentes Temporários 10.000 5.000 0 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 Estima-se, no Brasil, a existência de aproximadamente 1.200 editoras, sendo que, filiadas à CBL, são 400 empresas, das quais 10% podem ser consideradas grandes. A CBL considera, como comerciais, as que editam, pelo menos, cinco livros, anualmente, e cuja atividade principal seja a edição. As editoras estão concentradas, principalmente, em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba. Nas regiões Sul, especialmente Porto Alegre, e Nordeste, encontram-se, também, editoras voltadas para a produção regional. As únicas editoras de capital aberto são a Editora Saraiva e a Editora Melhoramentos. Nenhuma editora possui mais do que 7,0% do mercado. Algumas editoras, mesmo as de pequeno porte, possuem livrarias. Nesse sentido, merece destaque a Editora Saraiva, com a sua rede de livrarias e a Siciliano. As principais editoras brasileiras, segundo o segmento em que se destacam, são: • Livros didáticos - Editoras Ática-Scipione, FTD, Ibep Nacional, Saraiva-Atual, Editora do Brasil e Editora Moderna; • Obras gerais - Editoras Record - Bertrand Brasil – Civilização Brasileira, Cia das Letras, Rocco, Objetiva e Globo; • Livros religiosos - Editoras Vozes, Paulinas, Paulus, Quadrante e Sociedade Bíblica Brasileira; e • Livros técnico-científicos – Editoras Forense (livros jurídicos), Revista dos Tribunais (livros jurídicos), Atlas (livros de administração, economia, finanças e contabilidade), Campus, Melhoramentos e Guanabara Koogan. Tomando-se o faturamento como paradigma, as maiores editoras brasileiras, em 1997, foram as apresentadas pela tabela 5 seguinte: Tabela 5 Brasil – Maiores Editoras, por Faturamento – 1997 (US$ milhões) 13. Editora Faturamento Ática / Scipione 242,0 FTD 129,0 Saraiva 81,8 Moderna 78,0 Record 29,0 Cia. das Letras 21,5 Siciliano 13,0 Rocco 11,7 Nova Fronteira 10,0 Ediouro 9,4 Fonte: Norton. A título comparativo, e utilizando o mesmo parâmetro de faturamento, são apresentadas, a seguir, na tabela 6, as maiores editoras do mundo, em 1997: 14. Tabela 6 Mundo – Maiores Editoras, por Faturamento – 1997 (US$ bilhões) Editora Faturamento Bertelsmann 4,7 Warner Books 3,7 Simon & Schuster 2,1 Pearson 1,7 Reader’s Digest 1,6 Random House 1,5 Group de la Cité 1,4 Planet 1,3 Hacjette Reed Books 1,2 1,1 Fonte: Financial Times. Observa-se, presentemente, algumas mudanças no controle do capital de algumas editoras brasileiras. A Editora Abril, por exemplo, que só trabalhava com livros de coleções, adquiriu, recentemente, a Editora Ática-Scipione. 3. O MERCADO BRASILEIRO DE LIVROS NOVOS Não se dispõe de números exatos de quanto representam as vendas do mercado editorial, como um todo. Estima-se, no entanto, que seja em torno de 4,3 bilhões de dólares, considerando-se os livros importados. Um valor, que pode ser considerado como uma boa aproximação, estabelece, para esse mercado, o dobro do faturamento das editoras. Com esses números, o Brasil constitui-se num mercado, para livros, de dimensões representativas. Em 1998, o faturamento das editoras atingiu, aproximadamente US$ 2,1 bilhões, representando um aumento de 13%, em relação a 1997. A evolução do faturamento, no setor editorial brasileiro, é apresentada na tabela 7, a seguir: 15. Tabela 7 Brasil – Setor Editorial Evolução do Faturamento – 1990-1998 Ano Faturamento Variação (US$) (%) 1990 901.503.687 - 1991 871.640.216 -3 1992 803.271.282 -8 1993 930.959.670 16 1994 1.261.373.858 35 1995 1.857.337.029 47 1996 1.896.211.487 2 1997 1.845.467.967 -3 1998 2.083.338.907 13 Fonte: CBL. Gráfico 2 Brasil – Setor Editorial Evolução do Faturamento - 1990-1998 2.500.000.000 2.000.000.000 1.500.000.000 1.000.000.000 500.000.000 0 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 Observando-se a série temporal da tabela 7, atesta-se que o mercado editorial brasileiro apresentou-se bastante dinâmico. Comparando-se o faturamento de 1998 com o de 1990, o crescimento acumulado foi de 131,1%. A média das variações de crescimento anual do faturamento, nos últimos cinco anos, foi de cerca de 19%. Outros números 16. confirmam esse bom desempenho do setor, como, por exemplo, a média das variações de crescimento anual do número de títulos e de exemplares produzidos, nos últimos cinco anos, que foi de 8,6% e 11,2%, respectivamente. Os principais fatores, que têm influenciado de maneira positiva o mercado editorial brasileiro, nos últimos anos, são a estabilização monetária, promovida pelo Plano Real, com a conseqüente entrada de significativa parcela da população no mercado consumidor, em virtude do aumento do seu poder aquisitivo, e a maior preocupação com os investimentos na área de educação, como se verifica pelo aumento da compra de livros didáticos, pelo governo. Para salientar a relação entre estabilização econômica e aumento de venda de livros, destaca-se o desempenho do setor editorial em 1986, ano em que foi implantado o Plano Cruzado. A queda expressiva de faturamento, ocorrida em 1992, deveu-se à diminuição nas compras de livros, por parte da FAE (Fundação e Assistência ao Estudante), atual FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação). Essa queda foi mais significativa no número de produção e venda de exemplares, por se tratarem de poucos títulos, com grandes tiragens e preços baixos. Quanto ao número de exemplares, o total vendido, entre 1990 e 1998, aumentou cerca de 93%. Ressalte-se, apenas, a queda do número de exemplares vendidos, em 1997, bem como de exemplares produzidos, em 1998. A evolução do mercado editorial brasileiro, quanto ao número de exemplares produzidos e vendidos, é apresentada na tabela 8, a seguir: 17. Tabela 8 Brasil – Indústria Editorial Evolução do Nº de Exemplares Produzidos e Vendidos – 1990-1998 Ano Exemplares Produzidos Variação Exemplares Vendidos Variação (%) 1990 239.392.000 - 212.206.449 - 1991 303.492.000 27 289.957.634 37 1992 189.892.128 -37 159.678.277 -45 1993 222.622.318 17 277.619.986 74 1994 245.986.312 10 267.004.691 -4 1995 330.834.320 34 374.626.262 40 1996 376.747.137 14 389.151.085 4 1997 381.870.374 1 348.152.034 -11 1998 369.186.474 -3 410.334.641 18 (%) Fonte: CBL. Gráfico 3 Brasil – Indústria Editorial Evolução do Nº de Exemplares Produzidos e Vendidos – 1990-1998 450.000.000 400.000.000 350.000.000 300.000.000 250.000.000 200.000.000 150.000.000 100.000.000 50.000.000 0 Exemplares Produzidos Exemplares Vendidos 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 O número total de títulos produzidos, entre 1990 e 1998, aumentou, aproximadamente, 121%. Nesse item, o mercado editorial brasileiro tem evoluído da seguinte forma (tabela 9): 18. Tabela 9 Brasil – Setor Editorial Títulos Produzidos – 1990-1998 Variação Ano Nº de Títulos 1990 22.479 - 1991 28.450 27 1992 27.561 -3 1993 33.508 22 1994 38.253 14 1995 40.503 6 1996 43.315 7 1997 51.460 19 1998 49.746 -3 (%) Fonte: CBL. O faturamento e as unidades vendidas, segundo os diversos segmentos do mercado editorial brasileiro, nos anos de 1997 e 1998, estão apresentados nas tabelas 10 e 11: Tabela 10 Brasil – Setor Editorial Faturamento e Unidades Vendidas, por Segmento – 1998 Segmento Didáticos Faturamento Participação (%) Unidades Vendidas Participação (%) 1.134.329.203 55 258.490.241 63 Obras Gerais 404.344.561 19 71.317.369 17 Religiosos 147.890.424 7 59.123.165 15 Técnicos 396.774.719 19 21.403.866 5 2.083.338.907 100 410.334.641 100 Total Fonte: CBL. Faturamento milhões) - 1998 - 1998 Unidades(U$$ Vendidas (milhões) Gráfico 4 Técnicos–Técnicos Brasil Setor Editorial Religiosos 5% 19% 15% Faturamento e Unidades Vendidas, por Segmento – 1998 Religiosos 7% Obras Gerais 17% Obras Gerais 19% Didáticos Didáticos 55% 64% 19. Tabela 11 Brasil – Setor Editorial Faturamento e Unidades Vendidas, por Segmento – 1997 Segmento Faturamento Participação (%) Unidades Vendidas Participação (%) Didáticos 997.504.942 54 202.728.442 58 Obras Gerais 352.513.135 19 61.424.621 18 Religiosos 143.888.085 8 64.089.015 18 Técnicos 351.561.805 19 19.909.956 6 1.845.467.967 100 348.152.034 100 Total Fonte: CBL. Gráfico 5 Brasil – Setor Editorial Faturamento e Unidades Vendidas, por Segmento – 1997 Faturamento (U$$ milhões) -1997 Técnicos 19% Religiosos 8% Didáticos 54% Obras Gerais 19% Unidades Vendidas (milhões) - 1997 Religiosos 18% Obras Gerais 18% Técnicos 6% Didáticos 58% 20. No que se refere à produção de títulos e exemplares, utilizando essa segmentação, encontramos o seguinte panorama, ora apresentado pelas tabelas 12 e 13, a seguir: 21. Tabela 12 Brasil – Setor Editorial Nº de Títulos e de Exemplares Produzidos, por Segmento - 1998 Segmento Títulos Participação (%) Exemplares Participação (%) Didáticos 19.299 39 243.669.526 66 Obras Gerais 14.266 29 73.928.573 20 Religiosos 5.591 11 32.522.007 9 Técnicos 10.590 21 19.066.368 5 Total 49.746 100 369.186.474 100 Fonte: CBL. Tabela 13 Brasil – Setor Editorial Nº de Títulos e de Exemplares Produzidos, por Segmento – 1997 Segmento Didáticos Títulos Participação (%) Exemplares Participação (%) 20.590 40 267.833.084 70 Obras Gerais 15.012 29 65.995.581 17 Religiosos 5.416 11 27.353.390 7 Técnicos 10.442 20 20.688.319 6 Total 51.460 100 381.870.374 100 Fonte: CBL. O segmento de obras gerais, que inclui ensaios, poesia, romance, crítica, etc., é o mais fragmentado, ou seja, com maior número de editoras. É o que chama mais atenção do público, pois nele é que geralmente se encontram os autores mais famosos e os best sellers . Desse modo, ele é considerado a vitrine das livrarias. O segmento técnico-científico inclui livros jurídicos, de medicina, informática, etc. É nesse segmento que se concentra o problema da reprografia. Os livros técnicos possuem características mais complexas na produção de conteúdo, e apresentam características sazonais, como a necessidade de estarem disponíveis no início das aulas das faculdades e universidades. Os livros jurídicos representam um dos principais sub-segmentos. Na publicação dos Códigos de Leis, não é necessário pagar direito autoral, conseqüentemente, as margens são mais elevadas. O segmento de livros didáticos, incluindo-se, também, os paradidáticos, é o mais importante do setor, representando, em média 54% da produção editorial. Dos 369 milhões de livros produzidos, em 1998, 244 milhões referiram-se a livros didáticos. É o segmento mais concentrado, ou seja, com o menor número de editoras (Ática, Scipione, Saraiva, Moderna), o que pode ser explicado pelo seu elevado custo de produção. 22. O mercado de livros didáticos faturou cerca de US$ 998 milhões, em 1998, acompanhando o aumento no número de crianças e adolescentes matriculados nas escolas. O governo é o maior comprador de livros didáticos do país, tendo participado com cerca de 44%, das compras deste segmento, em 1998, quando adquiriu cerca de 114 milhões de exemplares; mesmo com margens, menores e com os colégios integrados produzindo material didático, essa expansão da venda de livros didáticos vem chamando a atenção de editoras estrangeiras, especialmente da Europa, onde as possibilidades de crescimento quase não existem mais. Assim, haveria uma tendência de internacionalização do segmento de livros didáticos brasileiro. Em todo os países desenvolvidos, as compras de livros didáticos, pelo Estado, têm peso no setor editorial, e influenciam nas tiragens e no preço de capa dos livros. No Brasil, antes de 1964, o poder público comprava pouco e diretamente, nas livrarias. Em 1965, o governo começou a comprar maciçamente. Havia uma comissão que escolhia os títulos. Em 1985, no Governo do Presidente José Sarney, mudou-se esse método, e os livros passaram a ser escolhidos pelos professores. Atualmente, a compra de livros didáticos é realizada por intermédio do Programa Nacional do Livro Didático (PNDL), desenvolvido pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão ligado ao Ministério da Educação. Através desse Programa, o referido Ministério investiu US$ 344 milhões na compra de 114 milhões de livros, para mais de 30 milhões de alunos matriculados no ensino fundamental público, em 1998. Para a compra de livros didáticos, não se exige licitação (Lei nº 6.696), a qual deve ser feita somente para os livros de domínio público. A escolha ocorre ao nível da escola ou delegacia, mas há uma negociação duríssima com o FNDE, onde a compra é centralizada. Em dois estados (SP e MG), a compra é descentralizada, mas é praticamente idêntico o processo, o que muda é o mix a ser editado. Em São Paulo, compra-se uma parcela considerável de livros paradidáticos. Já o Ministério da Educação, não compra livros paradidáticos. Nesse ponto, surge uma questão da filosofia da educação, já que a corrente construtivista dá maior valor ao livro paradidático, mas supõe um professor mais preparado para saber usá-lo. Apesar dos aspectos positivos desse processo, como abrir espaço para o professor usar o que quer, e torná-lo imune à corrupção, em grande escala, esse sistema vem sendo alvo de críticas, principalmente por parte dos editores. Segundo eles, o governo não leva em conta o custo de distribuição; a editora tem que fazer os pacotes e as etiquetas; exige um custo muito alto de promoção, para o professor escolher; quem vende mais, tem menor custo; o contrato do FNDE, com os correios, seria complicado; provoca transferência de renda, com o aumento do custo da escola particular e não contribui para a melhoria da distribuição e para o surgimento de novas livrarias. Além disso, o governo não avalia o custo da burocracia, e a centralização dessa verba traz uma concentração de poder muito grande. A CBL tem proposto a reintegração das livrarias ao processo, pois isso geraria reflexos positivos nessas empresas, e teria, ainda, impactos educacional e social de longo prazo, para o país. A compra descentralizada, no conjunto, reduziria o preço do livro didático, desonerando, imediatamente, o custo do colégio particular, além de propiciar o nascimento de livrarias e o aumento da arrecadação tributária. Quanto às compras feitas para as bibliotecas públicas, no Brasil, elas são insignificantes, estimando-se que representem apenas 1% do faturamento global do 23. mercado editorial brasileiro. Nos países desenvolvidos, como os da Europa, por exemplo, as bibliotecas públicas absorvem, em média, cerca de 30% da produção de livros. Países como França, Inglaterra, Alemanha, Espanha e Estados Unidos, contribuem, com suas compras, para aumentar as tiragens e, assim, diminuir o custo da edição. Nos EUA, por exemplo, quase a totalidade dos livros de medicina produzidos vão para as bibliotecas. O Ministério da Educação, que possui uma Secretaria do Livro e da Leitura, criou o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), em 1997, para aquisição de 215 títulos, chamado de 1º acervo, a ser entregue às bibliotecas de 20 mil escolas brasileiras, com mais de 500 alunos. O FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) está distribuindo, este ano, o 2º acervo, para 36 mil escolas públicas, de 1ª a 4ª séries. Essas iniciativas têm ido ao encontro da necessidade de se ter acesso ao livro, através de uma rede de bibliotecas públicas e escolares, que funcionem de forma adequada. Alguns especialistas consideram, inclusive, que a biblioteca pública já tenha funcionado melhor, no Brasil. Atualmente, mesmo grandes bibliotecas, como a da Universidade de São Paulo - USP, quando se compara a demanda, não apresentam uma boa relação acervo/demanda. Já a biblioteca da Universidade de São Carlos, é considerada boa, com um livro para cada cinco alunos. Quanto aos dados relativos ao comércio exterior do setor editorial, os oficiais estão disponibilizados pelo Departamento de Comércio Exterior - Decex, da Secretaria de Comércio Exterior – Secex, ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, segundo o capítulo 49 da NBM, que inclui livros, jornais, gravuras, etc. Segundo essas informações, foram movimentados, em 1998, cerca de 400 milhões de dólares, no comércio exterior, principalmente com serviços gráficos. Tabela 14 Brasil – Comércio Exterior Exportações da Cadeia Editorial e Gráfica – 1992-1998 Ano Peso Variação Exportações Variação (Kg) (%) (US$) (%) 1992 4.423.305 - 27.971.053 - 1993 12.235.529 177 45.681.654 63 1994 6.165.276 -50 32.096.023 -30 1995 3.666.826 -41 26.509.766 -17 1996 2.862.234 -22 22.509.120 -15 1997 3.384.589 18 30.355.413 35 1998 3.547.150 5 33.533.218 10 Fonte: Decex. Tabela 15 Brasil – Comércio Exterior Importações da Cadeia Editorial e Gráfica – 1992-1998 24. Ano Peso Variação Importações Variação (Kg) (%) (US$) (%) 1992 7.716.055 - 68.712.760 - 1993 8.681.124 13 80.896.963 18 1994 11.927.305 37 102.816.516 27 1995 42.101.025 253 274.732.326 167 1996 137.069.565 226 362.597.237 32 1997 78.518.457 43 407.279.330 12 1998 81.078.593 3 359.417.384 -12 Fonte: Decex. Gráfico 6 Brasil – Comércio Exterior Variação dos valores das exportações e importações – 1993-1998 200 150 (em %) 100 Exportações Importações 50 0 1993 1994 1995 1996 1997 1998 -50 No que se refere, especificamente, à exportação de livros editados no Brasil, a CBL apresenta os seguintes números: Tabela 16 Brasil – Setor Editorial 25. Exportações de Livros – 1997 e 1998 Exportações 1997 Títulos 1998 46.889 11.813 Exemplares 2.646.479 1.476.027 Valor (US$) 5.950.518 4.978.038 Fonte: CBL. É importante se destacar, ainda, que, no Brasil, existe um importante mercado para os livros importados. Segundo a CBL, esse mercado pode eqüivaler a até 50% do mercado de livros editados no país. Quanto às expectativas de aumento do consumo de livros, no Brasil, diversas variáveis apontam para essa tendência. Verifica-se, inicialmente, que o baixo consumo “per capita”, no país, conforme apresentado pela tabela 17, a seguir, é bastante relevante, principalmente em relação à importância econômica do país, o que pressupõe um potencial de crescimento significativo. Tabela 17 Brasil – Consumo de Livros, por Habitante – 1990-1998 Ano Exemplares Vendidos População Exemplares/ População 1990 212.206.449 144.723.900 1,5 1991 289.957.634 147.073.900 2,0 1992 159.678.277 149.357.500 1,1 1993 277.619.986 151.571.700 1,8 1994 267.004.691 153.725.700 1,7 1995 374.626.262 155.822.400 2,4 1996 389.151.085 157.872.000 2,5 1997 348.152.034 159.884.300 2,2 1998 410.334.641 161.857.000 2,5 Fonte: CBL e IBGE. Dos 2,5 livros “per capita” consumidos em 1998, conforme apresentado na tabela 17, apenas 0,9 não é livro didático. Dentre esses números, encontram-se, ainda, livros infanto-juvenis, que podem, algumas vezes, serem classificados como paradidáticos, ou seja, estarem vinculados aos programas de ensino fundamental. Tabela 18 26. Brasil – Consumo de Livros Não Didáticos, por Habitante – 1990-1998 Ano Exemplares de livros não Didáticos População Livros não Didáticos/População 1990 139.358.457 144.723.900 1,0 1991 203.819.391 147.073.900 1,4 1992 89.514.820 149.357.500 0,6 1993 115.830.358 151.571.700 0,8 1994 120.696.250 153.725.700 0,8 1995 142.624.584 155.822.400 0,9 1996 150.252.793 157.872.000 1,0 1997 145.423.592 159.884.300 0,9 1998 151.844.400 161.857.000 0,9 Fonte: CBL e IBGE. O consumo de livros, por habitante, no Brasil, apresenta grande diferença, quando comparado ao de outros países. Tabela 19 Mundo – Consumo de Livros, por Habitante Países Selecionados Livro/Ano por Habitante País Brasil *2,0 Estados Unidos 7,0 Países Nórdicos 15,0 Itália 5,0 Fonte: (*) CBL, Gazeta Mercantil 02/08/98 e 07/08/98. Outros indicadores podem ser mencionados, principalmente, aqueles ligados à educação. Na verdade, a inserção do Brasil, nos mercados mundiais, de forma competitiva, só será possível através de grandes investimentos na área educacional. A baixa taxa de participação escolar, nos ensinos fundamental e médio, no Brasil, aponta um grande potencial de crescimento do setor editorial, principalmente no segmento de livros didáticos. A média de anos de estudo, no Brasil, comparada à de outros países, reforça essa expectativa. Tabela 20 27. Brasil – Taxa de Participação Escolar – 1990 Séries Participação (%) 1ª 94 2ª 3ª 89 84 4ª 5ª 6ª 78 64 55 7ª 8ª 49 45 Ensino Médio 28 Fonte: Saraiva S.A. Tabela 21 Mundo – Jovens Matriculados no Ensino Médio Países Selecionados - 1993 País Participação (%) México 65 Taiwan 91 Japão 96 Fonte: EIU e UNDP. Tabela 22 Mundo – Média de Anos de Estudo Países Selecionados - 1993 País Anos de Estudo EUA 12,4 Inglaterra 11,7 Japão 10,8 Coréia do Sul 9,3 Argentina 8,7 Chile 7,5 Brasil 4,5 Fonte: EIU, UNDP e PNAD. 28. Outros fatores, que podem impactar de forma positiva o setor, referem-se à solução de alguns problema s estruturais apresentados, principalmente, quanto à distribuição e ao comércio varejista, que, ao fazer o livro chegar ao leitor de forma mais fácil, pode ter reflexos na ampliação do mercado consumidor. Existe, no mercado brasileiro, um espaço entre o que é produzido e o que é disponibilizado, acreditando-se que apenas 15% do catálogo das editoras esteja à disposição dos consumidores. As principais preocupações, quanto aos impactos negativos sobre o mercado, referem-se ao aumento do desemprego e à interrupção do processo de estabilização econômica. 4. A INDÚSTRIA GRÁFICA O papel, ao receber o trabalho editorial e gráfico, tornando-se um livro, passa a ser, muitas vezes, mais valioso. Nesse sentido, além da indústria editorial, a indústria gráfica é, também, de grande importância, para que se consiga um produto com qualidade e de alto valor agregado. No Brasil, a indústria gráfica compreende uma gama variada de firmas, abrangendo desde pequenos estabelecimentos até empresas com estrutura e processos produtivos tipicamente industriais. Essas empresas atuam em segmentos distintos, utilizando-se de vários tipos de materiais, com as mais diversas finalidades. Conforme a tabela 23, a seguir, verifica-se que o segmento editorial, que abrange a impressão de livros, revistas e periódicos, é um dos principais demandantes dos serviços das gráficas. Tabela 23 Brasil – Indústria Gráfica Segmentos Demandantes - 1996 Segmentos Faturamento (US$ milhões) Participação (%) Embalagens 1.310 22,3 Editorial 1.300 22,1 Formulários 880 15,0 Promocional 580 9,8 Papelaria 350 5,9 Comerciais 340 5,8 Pré-impressão 340 5,8 Diversos 780 13,3 5.880 100,0 Total Fonte: Abigraf. A seguir, apresentamos alguns indicadores da indústria gráfica brasileira: 29. Tabela 24 Brasil – Indústria Gráfica Indicadores Selecionados – 1996 e 1997 Nº de Empresas Indicadores 1996 13.634 1997 13.655 Nº de Empregados 190.266 196.127 5.900 6.500 0,8 0,8 Exportação de Produtos Gráficos ( US$ milhões) 65,2 85,3 Importação de Produtos Gráficos ( US$ milhões) 437,8 *516,3 Investimentos 696,1 *1.004,6 Faturamento ( US$ milhões) Participação no PIB (%) * Dado Preliminar. Fonte: Abigraf. Como se vê por esses números, apesar da capacidade de produzir seus produtos com qualidade, o setor gráfico nacional continua vulnerável à competição internacional, com parte da impressão de revistas e livros sendo realizadas fora do país. Do ponto de vista tecnológico, o setor gráfico continua passando por grandes transformações. Desde os anos 60, a base tecnológica da indústria gráfica começou a sofrer mudanças, apoiadas na introdução da microeletrônica. A informatização, iniciada com a introdução dos scanners, intensificou-se muito, nos anos 80, em todas as áreas da produção, da pré e da pós-impressão. A digitalização das informações, e o avanço nas telecomunicações, em particular, na comunicação de alta qualidade, permitiram uma realocação geográfica das tarefas, dentro do setor, com a centralização das atividades de criação e descentralização da impressão e do acabamento. A partir dessa evolução, novos conceitos foram sendo introduzidos na indústria, como os de gráficas rápidas e de impressão por demanda, com reflexos nas gráficas tradicionais. O conceito de gráfica rápida, gráfica expressa, ou gráfica de conveniência, foi criado nos Estados Unidos, na década de 70, expandindo-se rapidamente no Hemisfério Norte, a partir dos anos 80, com o estabelecimento do sistema de franquias. A primeira loja de uma gráfica rápida instalou-se, no Brasil (como loja piloto), em 1991, e, em 1993, foram abertas as primeiras franquias. Temos no Brasil, atualmente, “master-franquias ” das principais cadeias mundiais. A impressão por demanda vai ao encontro da idéia de não se ter estoque, ou seja, imprimir o livro quando o cliente quiser. Baixa -se o arquivo, via editora, e se imprime na hora, através de máquinas, na livraria. Já se tem, inclusive, máquinas para impressão a cores, embora a qualidade ainda não seja boa. O foco num público de interesse específico pode facilitar a produção de livros de baixa tiragem, com o apoio de novas tecnologias. As editoras com livros fora de estoque podem imprimir aos poucos, 50 ou 100 exemplares, por exemplo. A capa pode ser impressa em pequenas tiragens. Normalmente, é utilizada para reposição de estoque de livros de baixa venda, e não se espera que seja muito utilizada para livros destinados ao lazer. 30. Atualmente, já há discussão com os autores, a respeito dos direitos sobre essa modalidade de edição, mas os contratos, em geral, especificam a tiragem da edição. Pode-se citar, como exemplo, o sistema de impressão digital Docutech, lançado pela Xerox, em 1997, que permitiu a publicação de livros antes considerados “comercialmente inviáveis”. No sistema off-set convencional, sai caro imprimir tiragens abaixo de mil exemplares; pelo sistema digital, ao contrário, não é viável imprimir tiragens superiores a 500 exemplares. As limitações da impressão digital referem-se a cor, definição de eventuais imagens, e formato do livro. Existem, ainda, outras possibilidades muito novas, que necessitam de melhor avaliação, embora espera-se que se expandam, nos próximos anos. Já se tem, nos EUA, similares do MP3 (distribuição de música pela Internet), para o livro, bastando ao consumidor, neste caso, baixar o arquivo, para poder ler o livro. Outra novidade, que pode impactar profundamente a indústria gráfica, são os livros virtuais, pois as grandes empresas de informática estão desenvolvendo programas que visam melhorar a leitura, na tela de um computador, como o Microsoft Reader, que está em fase de testes. O objetivo é aumentar a definição das letras, bem como justificar as margens, para aproximar-se da qualidade do texto impresso. O produto poderá estar disponível na Internet, para downloads, no início de 2000. Atualmente, muito conteúdo editorial já é distribuído pela Internet, como acontece com as revistas científicas. Para exemplificar, pode ser citado o convênio da Fapesp – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo com a Elsevier, que é um grupo editorial holandês especializado em publicações científicas, para consultas ao acervo de revistas científicas pela USP, Unicamp e Unesp, visando substituir a assinatura convencional das revistas científicas. 5 - A DISTRIBUIÇÃO Conforme pode-se ver pela tabela 25, para chegar ao leitor, o livro possui dois canais principais de distribuição, o canal comercial, através das livrarias, e o canal institucional, através da distribuição, pelo governo, às escolas e bibliotecas. 31. Tabela 25 Brasil – Principais Canais de Comercialização da Indústria Editorial 1992 – 1998 (Nº de Exemplares) Canais de Comercialização 1998 Canais tradicionais 148.962.941 (%) 1997 36 159.797.906 (%) 1996 46 156.129.689 Bancas de jornais 1.813.774 1 2.190.725 1 999.485 Marketing direto 8.631.734 2 8.572.275 2 13.695.206 Supermercados 9.249.216 2 5.426.291 2 11.517.760 Porta a porta 4.352.414 1 14.361.214 4 1.841.143 Governo 36.373.527 9 37.895.699 11 30.150.986 Biblioteca 1.120.469 1 1.459.841 2.994.841 Feiras do livro 5.562.799 1 2.723.267 1 114.000.000 28 85.876.169 25 8.760.243 2 11.816.212 3 71.507.524 17 18.032.435 5 FNDE / FAE Escolas,colégios Outros(*) Total _ _ 90.000.000 _ 81.821.975 (%) 1995 40 124.908.120 _ (%) 1994 33 156.273.286 (%) 1993 59 188.781.590 68 (%) 97.237.601 61 1 4.641.436 2 4 11.816.624 3 21.637.588 8 3 5.064.168 1 6.631.433 2 6.850.200 2 4.305.763 2 8.328.599 3 8 26.161.981 7 9.039.428 3 55.523.997 20 1 3.190.602 1 2.338.928 1 90.200 _ _ _ _ _ _ 13 _ _ _ _ _ _ _ 10 _ _ _ _ 23 130.406.470 35 _ _ 21 _ 63.081.073 17 _ 35.336.802 _ 26.800.027 _ 1992 3.147.024 _ _ (%) 24.895.600 _ _ 9 _ _ 4.204.087 3 4.695.643 3 2.947.733 2 19.909.264 12 862.005 1 29.157.182 18 664.762 _ 410.334.641 100 348.152.034 100 389.151.085 100 374.626.262 100 267.004.691 100 277.619.986 100 159.678.277 100 Fonte: CBL. (*) Inclui os não especificados. 32. No entanto, com o surgimento das grandes lojas, e a concentração do varejo aumentando, o que implica em maior poder do varejista e, conseqüentemente, margens menores para a indústria, os editores estão procurando ampliar seus canais de distribuição comercial, utilizando novos meios de comunicação e trabalhando com mais criatividade. Dessa forma, procuram, ainda, conquistar mercados, atingindo pontos que, usualmente, não alcançam, e àquele público que gosta de ler, mas que não freqüenta livrarias. Deve-se levar em conta que alguns segmentos do mercado editorial apresentam vantagens quanto à distribuição, como os livros de espiritualidade, que são distribuídos em templos, igrejas, centros espíritas, lojinhas e grupos de estudo, e que os diversos canais apresentam motivações diferentes, nas compras. Nos supermercados, por exemplo, as vendas são realizadas por impulso, enquanto nas livrarias, em geral, as compras são planejadas. O governo é um importante comprador da indústria editorial brasileira, mas os preços de venda, para o governo, segundo as empresas, são bem mais baixos. Tabela 26 Brasil - Mercado Editorial Compras de Livros pelo Governo* - 1992-1998 Ano Nº de Exemplares 1992 19.909 1993 55.524 1994 44.376 1995 156.568 1996 120.151 1997 123.772 1998 180.374 *FNDE (FAE), governos estaduais e municipais Fonte: CBL. Um dos novos canais de distribuição, que os editores brasileiros estão procurando desenvolver, são os supermercados. Os editores estão trabalhando no sentido de fazer com que esses varejistas, acostumados a se preocupar com a velocidade de giro e a contribuição marginal do produto para a receita, vejam o livro como um produto importante do seu mix, capaz de apresentar um bom retorno e, mesmo, de atrair consumidores. Em outros países, a venda de livros, nesse canal, alcança percentuais significativos do total de vendas, conforme se observa pela tabela 27, a seguir: Tabela 27 33. Venda de Livros em Supermercados Países Selecionados (%) País Venda em Supermercados Brasil 3,0 México 19,0 Argentina 20,0 Fonte: Value Partners Consultoria. Há necessidade das editoras desenvolverem produtos diferenciados para os supermercados, principalmente, quanto ao acabamento, tendo em vista a motivação específica desse canal. Além disso, nos contratos de fornecimento com as grandes redes de supermercados, são exigidas garantias de preços e prazos. Existe, ainda, a necessidade de gerenciamento do espaço. As primeiras experiências das editoras brasileiras, com os supermercados, não foram positivas, pois elas pensavam que poderiam vender edições que não apresentavam grande demanda, e não fizeram promoção dos livros, nem adaptações ao público desse canal. O Carrefour foi o primeiro supermercado brasileiro a comercializar livros em suas lojas, há aproximadamente 20 anos. Atualmente, opera com 1,2 mil títulos, em média. O formato de hipermercados parece ser o mais adequado à venda de livros. Estes, em alguns casos, respondem por, aproximadamente, metade do faturamento da sessão de papelaria. Para as editoras, a margem de lucro, nas vendas para os supermercados, é a mesma que para as livrarias, mas aqueles, no entanto, com um volume maior de vendas, realizam descontos nas suas próprias margens. Em alguns países, no entanto, deve ser obedecida a lei do preço mínimo, o que não acontece no Brasil. Espera-se que os supermercados sejam um grande canal para produtos específicos, e que venham a existir editores especializados em produzir livros para os supermercados. Em 1998, as Editoras Melhoramentos e Record, induzidas pelos próprios supermercados, se reuniram e criaram a Melbooks, uma empresa especializada na distribuição de livros aos supermercados. Na maioria das editoras, a venda, através de canais alternativos, têm aumentado significativamente. Na Melhoramentos, por exemplo, esses canais respondiam por cerca de 2% do faturamento, há cinco anos; hoje, já atinge 22%. Considera-se que os canais alternativos não sejam uma ameaça às livrarias, pois são capazes de criar uma nova demanda. Muitos dos canais alternativos vendem somente best sellers, livros recém lançados ou específicos, e não têm o acervo profundo e diversificado de uma livraria. Podem ser citados os seguintes canais alternativos: - marketing direto; - venda porta-a-porta; - venda por catálogo; 34. - venda eletrônica (e-commerce); - feira de livros em universidades, faculdades, praças, grêmios recreativos de empresas, etc; - encartes de jornais; - venda em locais alternativos, tais como: - bancas de jornais (principalmente as que funcionam 24 horas); - postos de estradas; - lojas de conveniência; - hotéis; - vídeo-locadoras; - cabeleireiros; e - restaurantes. O custo, em muitos desses canais alternativos, é elevado, pois é preciso pagar o vendedor, a promoção do ponto de vendas, etc. O Círculo do Livro, por exemplo, era um canal alternativo de distribuição de livros, mas, apresentava, segundo o mercado, um custo fixo muito alto. O que se deve ressaltar é que os canais alternativos são de grande importância, tanto para os editores, quanto para os consumidores, tendo em vista que os canais tradicionais são insuficientes, mesmo nas grandes capitais. Sem eles, pode haver o desaparecimento de milhares de títulos, principalmente, aqueles que não são destinados ao grande público, e que nem sequer aparecem mais nos catálogos, o que dificulta o desenvolvimento de novas gerações de autores, que possam vir a ter grandes vendas. Nos grandes centros, em geral, a própria editora faz a distribuição de seus produtos para os diversos canais, pois, quando é o seu representante que vende, a margem fica na própria editora. Pode-se dizer que, na maior parte dos títulos editados no país, o contato das editoras com os diversos canais é feito de forma direta. Fora dos grandes centros, no entanto, as grandes distribuidoras é que fazem o fornecimento de livros, comprando-os, por atacado, das editoras. O mesmo acontece nos EUA, por exemplo, onde a Ingram Book Company é a maior atacadista de livros e a maior fonte de suprimento dos livreiros independentes. A distribuição de livros requer uma estrutura financeira e física, bem como um certo know-how, que inclui visitar os livreiros, vender, entregar e receber. O relacionamento editor-distribuidor se baseia em percentuais de descontos, para distribuir o livro, geralmente de 55% sobre o valor de capa (percentual padrão do mercado), de modo a ser vendido ao livreiro com 30% de desconto. O porte da editora e a região de cobertura da distribuição também influem nos percentuais de descontos. As distribuidoras reduzem, assim, a necessidade de capital de giro das editoras. Existem, ainda, distribuidores menores, que se especializam em determinados nichos, como os livros religiosos, e os vendedores autônomos, conhecidos como crediaristas, ou creditistas, e que se estima sejam em torno de 18 mil, no Brasil, atualmente. A distribuição e a comercialização do livro têm sido apontados como o maior problema da cadeia editorial brasileira, constituindo o seu ponto crítico. No Brasil, não existe uma boa estrutura de distribuição regional. As distâncias são grandes, milhares de quilômetros, tornando necessária uma logística sofisticada, 35. principalmente, para atender as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde, às vezes, para se ir de um ponto de vendas a outro, é preciso superar centenas de quilômetros. Predomina, no país, o transporte rodoviário, que é considerado caro, relativamente a outros meios. Para Manaus, por exemplo, o custo de transporte é alto, mesmo com os descontos no frete, que as transportadoras oferecem, tendo em vista que, na volta, trazem produtos eletrônicos. Em outros países, tais como a Espanha e a França, as distâncias geográficas são bem menores, sem contar a existência de eficientes malhas rodoferroviárias, como na Alemanha. Os correios, que também são importantes, no aspecto logístico, retiraram alguns dos privilégios que o livro possuía, eliminando as tarifas diferenciadas por volume. Outra dificuldade refere-se ao fato de que muitas editoras brasileiras ainda não trabalham com pedidos on-line. Pode-se mencionar, aqui, um projeto envolvendo editoras e livrarias, que os espanhóis estão implantando. É um sistema eletrônico de consolidação de pedidos, e que informa quando o editor vai atender, e em quais circunstâncias. Isso facilita a vida do livreiro e da editora. A Telefônica participa de uma associação que utiliza rede própria, mas, hoje, se pode usar a Internet. Um outro ponto, relevante, é que os catálogos com os quais as livrarias trabalham apresentam milhares de títulos, atualmente, quantidade, aliás, muito maior do que há alguns anos. Quanto às empresas distribuidoras, segundo a CBL, não existe, hoje, alguma que possa ser considerada um distribuidor de âmbito nacional. Na verdade, o conceito brasileiro é o de atacadista de livros, que estava acostumado a trabalhar com prazo, e que lucrava com as aplicações financeiras. A partir do Plano Real, verificou-se que os mesmos não operavam com volumes de venda acima do ponto de equilíbrio operacional. As distribuidoras, em geral, operam com pequenas margens e, muitas das grandes distribuidoras estão passando, atualmente, por dificuldades, cujas principais causas prendem-se, segundo elas, ao fato de que os pequenos livreiros não estão fazendo mais estoques de livros, além do que, o índice de inadimplência encontra-se elevado. Na verdade, o Brasil possui um reduzido número de distribuidoras, que, em sua maioria, somente se interessam por livros de venda assegurada, e com tiragens de certo porte. Em tais circunstâncias, ficam com a maior parte da edição, mediante o desconto de 55% do preço de capa. Diferentemente do Brasil, o conceito de distribuição, em outros países, é o de fornecedor de logística. A legislação tributária brasileira, no entanto, não permite que se trabalhe como nesses países, onde se utiliza um grande depósito, no qual as editoras entregam os seus produtos. No Brasil, não pode ser emitida uma nota fiscal única, tem que haver uma fatura para o distribuidor, e outra para o livreiro. O ICMS e o IPI não são devidos, mas este sistema aumenta a carga de PIS e Cofins, onerando, portanto, o sistema logístico. Para tentar superar os diversos problemas, as próprias editoras começam montando os seus sistemas de distribuição, que, depois, no entanto, se fragmentam. Pela necessidade de divulgação de seus produtos, as editoras didáticas possuem melhor estrutura, mas elas próprias, na área não didática, apresentam problemas de distribuição. 36. Como a melhoria na distribuição do livro é mais importante no interior do país do que nos grandes centros urbanos, existe um projeto do SNEL – Sindicato Nacional dos Editores de Livros, à semelhança do modelo espanhol anteriormente citado, de incentivar a instalação de, pelo menos, um computador, em cada livraria do Brasil, interligados por softwares. Essa iniciativa visa a facilitar a comunicação dos editores com os livreiros de qualquer parte do país, mesmo nos lugares mais distantes, com o livreiro podendo fazer o seu pedido pela Internet, o que possibilitaria atingir mais leitores. As pequenas editoras vêm procurando trabalhar com distribuidores especializados, que, ao mesmo tempo, sejam divulgadores dos seus livros. Essa necessidade vem ao encontro do conceito de distribuição segmentada, que, além de procurar colocar o livro na livraria certa, procura colocá-lo na estante certa. Esses distribuidores fornecem informações precisas sobre os livros, acompanham os pedidos, e visitam os potenciais pontos de venda. Na realidade, essa segmentação acelera e profissionaliza as relações comerciais entre os editores e distribuidores. Além disso, para as editoras menores, ajuda a expandir geograficamente a divulgação. Em geral, essas editoras são desprezadas pelas grandes redes nacionais de livrarias-distribuidoras. A maioria dessas redes está sediada em São Paulo, ou centraliza as suas compras nessa cidade, e suas filiais, espalhadas pelo país, não possuem autonomia para adequarem os seus estoques às demandas locais. 6. LIVRARIAS Como característica das livrarias, pode-se dizer que, em geral, a venda de livros é lenta, ou seja, o livreiro compra da editora e pode ficar com o livro na prateleira por meses. Além disso, existe uma certa sazonalidade do produto, com o aumento do consumo no início do ano escolar e no último trimestre do ano. Quanto ao custo dos livros para as livrarias, normalmente as editoras oferecem descontos sobre os preços de capa, que variam conforme a linha editorial, mas que é estabelecido, também, em função do porte da livraria. As livrarias precisam comprar o livro da editora, pois elas não possuem força suficiente para que as editoras o cedam em consignação, o que algumas concedem, porém, apenas para as livrarias que estão começando. Quanto a esse segmento do varejo brasileiro, ele se caracteriza por ser bastante fragmentado. Como a incidência de pequenas e micro livrarias é muito alta, existe dificuldade na obtenção de dados agregados sobre o mercado livreiro brasileiro. Quanto à sua localização, o Brasil é dividido em cerca de 5.700 municípios, e apenas cerca de 600 deles possuem livrarias regulares, o que corresponde a cerca de 11% do total, ou seja, quase 90% dos municípios brasileiros não possuem uma livraria regularmente instalada. Além da existência de poucas livrarias, a maior parte delas está concentrada nas regiões Sul e Sudeste, com os grupos médios, de atuação regional, e os empreendedores isolados, desempenhando um significativo papel na cadeia de comercialização do livro. A título de exemplificação, pode-se utilizar os dados de quatro grandes grupos livreiros do país: Siciliano, Saraiva, Sodiler e Nobel. Do total de, aproximadamente, 600 municípios brasileiros, que possuem livrarias, conforme o quadro 3, a seguir, apenas 39 possuem lojas desses quatro grupos, e, do total 37. de cerca de 1.200 livrarias existentes no país, apenas 136 são desses quatro grupos, ou seja, cerca de 11%. Quadro 3 Brasil – Municípios e Nº de Lojas dos Quatro Maiores Grupos Livreiros do País Região São Paulo Municípios Nº de Lojas 20 72 Rio de Janeiro 2 24 Distrito Federal 3 12 Minas Gerais 2 7 Outros 12 21 Total 39 136 Fonte: Associação Estadual de Livrarias do RJ – 03/99. Mesmo alguns estados das regiões mais desenvolvidas do país, apresentam problemas quanto ao número de livrarias. O interior do Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, apresenta carência de livrarias. O próprio Município do Rio de Janeiro, possui 164 livrarias, em 157 bairros, que atendem a uma população de, aproximadamente, cinco milhões e meio de habitantes, o que indica 1 livraria para cada 33.537 habitantes, longe da relação de 1 livraria para cada 10.000 habitantes, alcançada por mais de trezentas cidades, em todo o mundo, segundo estatísticas da Unesco. Na cidade do Rio de Janeiro (região metropolitana), 39 bairros possuem livrarias, que atendem a uma população de, aproximadamente, 2 milhões e duzentos mil habitantes, com uma média de 1 livraria para cada 13.246 habitantes, ainda abaixo do parâmetro médio da Unesco. Verifica-se assim, que, de um total de 157 bairros, 118 não possuem livrarias instaladas (o que representa cerca de 75%). Cerca de 3 milhões e trezentos mil habitantes da cidade, ou seja, 60% da população, não são atendidos, portanto, por livrarias, em seus bairros. Na verdade, no Brasil, embora ainda sejam o maior canal de distribuição de livros, as livrarias representam um obstáculo para os editores. As livrarias não refletem o catálogo brasileiro. Somente uma pequena porcentagem dos livros publicados estão disponíveis nas lojas, pois elas, em sua maioria, “trabalham” apenas os livros que estão sendo divulgados pela mídia e os best sellers. Atingir as prateleiras das livrarias, é ainda mais difícil, para as pequenas editoras. Por essas razões, as editoras estão buscando novos canais de comercialização, e, assim, as livrarias vêm perdendo espaço, ao longo do tempo, para essas novas formas de distribuição, conforme apresentado no quadro 4, a seguir: Quadro 4 38. Brasil – Participação das Livrarias como Canal de Distribuição das Editoras – 1992 / 1998 (%) Anos Participação 1992 61 1993 68 1994 65 1995 40 1996 48 1997 47 1998 40 Fonte: CBL. A grande disputa, pelo espaço das livrarias, influencia o ritmo de lançamento de novos títulos. Mesmo para produtos baratos, é preciso haver pontos de venda, para que os livros sejam comprados. Além desses aspectos, o mercado brasileiro é instável, e, antes da estabilização monetária, as livrarias auferiam ganhos com o giro financeiro. Assim, apresentavam-se como um segmento sem grandes novidades, com lojas pouco atrativas, que davam pouca atenção às necessidades do cliente. Com a concorrência pouco estimulada, ainda se identifica, em muitas livrarias, má disposição de produtos, pouca variedade, e serviço de baixa qualidade. Nos últimos três anos, no entanto, tem sido observadas mudanças significativas no segmento, principalmente a partir da introdução do conceito de megastores. No que se refere à tecnologia, por exemplo, foram aplicadas diversas inovações na frente de lojas, como terminais de consulta, código de barras e listening centers, além de maior preocupação com o lay out e a programação visual, observando a disposição dos produtos e a conveniência do consumidor. Na retaguarda das lojas, do ponto-de-vista tecnológico, é importante ressaltar as mudanças que ocorreram nos sistemas de gestão de estoques, centros de distribuição e logística, associadas com a informatização do ponto de venda. Pelo menos, as grandes livrarias já estão procurando trabalhar com estoques just-in-time, bem como utilizar softwares , que permitam verificar os estoques dos atacadistas. O comércio tradicional de livros, na verdade, vem se defrontando, cada vez mais, com o acirramento da concorrência e a introdução de um grande número de novas variáveis. Quanto à concorrência crescente, existe, atualmente, facilidade de comprar os produtos vendidos em livrarias, por diversos meios. Inicialmente, podem ser citados: • papelarias ou bazares, que vendem livros escolares no período escolar; • escolas, que se transformam, cada vez mais, em pontos de venda, nos períodos escolares. As próprias editoras vêm buscando novas formas de atingir o consumidor, seja pela escassez de livrarias no país, seja visando aumentar as sua margens, através de outros meios de distribuição, tais como: 39. • • • • • • venda direta; venda casada com jornais; bancas 24 horas; supermercados; lojas de conveniência; e outros segmentos de comércio, que começam a vender livros, objetivando uma diferenciação de serviços, como as tabacarias. Uma outra forma significativa de concorrência é o comércio eletrônico, via Internet, pois, quando o cliente sabe exatamente o que quer comprar, não precisa ir até uma livraria. As livrarias tradicionais, nesse caso, estão procurando atuar nesse novo segmento, oferecendo esse serviço, também. Quanto à introdução de novas variáveis, elas estão diretamente ligadas aos conceitos de megastores, que oferecem variados produtos e serviços, e de shopping cultural, lojas ainda maiores, onde existem bares, acontecem saraus, lançamento de cd’s, etc. Na verdade, o centro de debates atual se prende à introdução recente dessas novas variáveis, bem como de seus efeitos no mercado, principalmente, sobre as lojas independentes. O conceito de megastores se originou na França, popularizando-se tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, sendo, atualmente, uma tendência mundial. Suas dimensões, normalmente, ultrapassam os mil metros quadrados, e compreendem, em geral, livraria, papelaria, e lojas de discos, vídeo e informática. Em algumas megastores, pode-se encontrar, ainda, cafeteria, espaços reservados para crianças, auditório, charutaria, restaurante e adega, às vezes, com administração terceirizada. Sua característica é oferecer variados serviços e grande diversidade de produtos e títulos. Os principais produtos comercializados nas megastores são: livros, periódicos, cd’s, artigos de papelaria, artigos multimídia, presentes, programas de computadores, vídeo-lasers, cassetes, fitas de vídeo, acessórios, camisetas, porta cd’s, fones de ouvido, etc. Entre as atividades desenvolvidas nas megastores, tem-se: lançamento de livros, oficinas de leitura, exposições de pintura, serviços de acesso à Internet e, mesmo, cursos de artes plásticas e teatro. Além da quantidade e diversidade de produtos, são características do conceito de megastores, o maior conforto, ambiente amplo e agradável, música ambiente, pontos de pesquisa de produto e preços informatizados, ponto para escuta de cd’s, e maior facilidade para encontrar livros, chamados de fundo de catálogos e dificilmente encontrados em pequenas livrarias. Apesar de trabalhar com o conceito de auto-atendimento, as megastores procuram se caracterizar por um atendimento ágil, com funcionários em nível universitário, serviço de encomenda de produtos e sistema de check-out, que agiliza o pagamento, utilizando, portanto, a tecnologia, para suprir e aperfeiçoar o atendimento. Procuram, também, fazer com que o cliente passe mais tempo dentro da loja e consuma mais, estabelecendo uma política de vendas amigável, podendo o cliente ler um livro inteiro, se desejar. As megastores são importantes para as editoras, pois dão maior visibilidade aos livros e expandem o interesse pelos mesmos. Além disso, atraem, para a região onde se 40. instalam, um grande número de consumidores, o que pode beneficiar, dessa forma, lojas altamente especializadas, com localização próxima. No entanto, a pressão e o poder de barganha do varejo tem aumentado, com o crescimento das megastores, principalmente, no que se refere à aceitação da devolução de livros ou do crédito correspondente, afetando, principalmente, as pequenas e médias editoras. As livrarias independentes, por sua vez, não têm esse poder. As megastores trabalham com um mix de elevado giro, além de concederem maiores descontos, desse modo, o produto com giro mais lento sai prejudicado. Elas obrigaram, ainda, que boa parte do comércio de livros voltasse a comprar por catálogo, o que provoca uma consolidação dos atacadistas. Do ponto-de-vista do consumidor, falta às megastores maior personalização, pois esse conceito não tem como proposta investir na relação íntima do livreiro com o cliente. Outro aspecto é que volumes individuais se perdem, entre os milhares de títulos oferecidos por muitas das grandes lojas, e os custos incorridos em perdas e sobras com que uma megastore trabalha, são muito grandes, embora a sofisticação dos programas de computador esteja possibilitando maior controle e redução dos estoques. Por esses motivos, e por existirem muitos nichos, as megastores não podem pretender o monopólio do mercado. As lojas pequenas podem ter um nível de especialização que os consumidores não encontram nas megastores. Essas grandes lojas ameaçam, mesmo, as cadeias de livrarias tradicionais. Como o poder de compra das grandes redes é muito maior que o das livrarias independentes, o que facilita a obtenção de maiores descontos junto às editoras, torna-se importante o acompanhamento do segmento pelos órgãos reguladores da concorrência. Nos Estados Unidos, por exemplo, pequenas livrarias têm processado grandes varejistas, por concorrência desleal. Entram em questão, neste caso, também, as leis do preço mínimo e do preço único, que existem em alguns países da Europa, e pelas quais não se pode vender o livro com desconto, sobre o preço de capa, superior a valores estabelecidos ou ao próprio valor de capa do livro. No estudo da viabilidade de mega livrarias, deve-se verificar se o tamanho das lojas é compatível com o tamanho do mercado e com o público do lugar escolhido, bem como, se é melhor uma loja grande, com risco integral, ou lojas menores, com risco dividido. Deve-se verificar, ainda, o seu impacto econômico-social, no tocante ao fechamento de livrarias independentes. No entanto, grande parte das livrarias independentes bem sucedidas se caracteriza pela qualidade do atendimento, e pelo interesse de seus proprietários e funcionários por livros, sendo, dessa forma, capacitados a oferecer um atendimento personalizado ao cliente. Assim, por estarem bem próximos do seu público alvo, esse tipo de livraria tem a possibilidade de satisfazer os desejos de seus clientes, e de criar uma forte relação com eles. Outra característica é a qualidade do seu acervo, com uma seleção cuidadosa de títulos. Com a introdução do conceito de megastores, no entanto, as livrarias independentes estão tendo que ir, ainda mais, ao encontro da conveniência do seu público, tornando-se lugares mais aconchegantes para os clientes, e incorporando novos atributos, 41. como a implantação de “cafés”, venda de cd’s e ampliação de horário, visando oferecer, aos clientes, alguns dos serviços das grandes lojas. Composta de pessoas empreendedoras, e que gostam de livros, em geral, as livrarias independentes são incubadoras de experiências, possibilitando o florescimento de novos livros e autores. Na verdade, sem os livreiros independentes, muitas editoras de alta qualidade teriam dificuldade de expor os seus produtos. Tudo isso indica a necessidade de haver, no mercado, um balanceamento entre as livrarias independentes e as grandes cadeias. Além do conceito de megastores, vem se difundindo, ainda, o de shopping cultural, que também procura oferecer um mix de serviços de lazer e entretenimento, ocupando lugares com áreas acima de 3.000 m², que objetivam ser um espaço de freqüência contínua, não somente para compras. Outro aspecto relevante é a chegada de empresas internacionais, como resultado do processo de globalização da economia, motivadas, principalmente, pela estabilização monetária e pela potencialidade do mercado brasileiro, não obstante as peculiaridades apresentadas pelo país. Para enfrentar essa competição, as livrarias brasileiras terão que minimizar custos, manterem-se competitivas sob todos os aspectos, e fidelizar os seus clientes. Nesse sentido, devem caminhar para: • estabelecer o perfil do consumidor – acervo distinto e decoração diferenciada; • conveniência – lojas abertas 24 horas, nos finais de semana e feriados, e com serviços de entregas à domicílio; • qualidade de atendimento – vendedores treinados, bilíngües, com formação universitária, capazes de recomendar uma melhor edição e uma bibliografia; • diversificação de produtos – quantidade, variedade e tempo de atendimento à demanda; • tirar proveito do know-how, em logística e distribuição, adquiridos; • informatização – para melhor facilitar o consumidor, e para contribuir à administração da loja. Na verdade, para criação do seu valor, a livraria deve contar com um conselho de qualidade, formado por profissionais competentes, e prestar atenção a diversos itens, tais como: a permanência do estoque, durante determinado período, a pluralidade da oferta, com estoque rico e diversificado, a localização próxima ao mercado visado, a capacidade de dar atenção especial a determinados segmentos, como o público infantil, concorrência na prestação de serviços, oferta de produtos ligados à cultura, atenção maior à programação visual e instalação das lojas, com apresentação, sobre as mesas e vitrines, do máximo possível de títulos recentes, além dos best-sellers . Uma das preocupações, dos livreiros brasileiros, se refere à importação de livros. Segundo eles, empresas como as americanas Amazon ou Barnes & Nobles, e suas congêneres de outros países, avançam sobre o mercado brasileiro, via Internet. Essas empresas não estão sujeitas às mesmas taxas e custos que afetam a importação legal de livros. Os principais custos, que recaem sobre o importador de livros, são os seguintes: custo de embalagem e manuseio, no país de origem, cobrado pelo próprio editor; frete do país de origem para o Brasil, cobrado por quilo (livros são produtos densos e pesados); 42. taxa de consolidação e desconsolidação, e entrega, cobradas pelo transportador, tanto na partida quanto na chegada; taxa de armazenagem (no caso de frete aéreo, cobrada pela Infraero); taxa de despachante aduaneiro; taxa de corretagem de câmbio, e taxas bancárias, cobradas pelos bancos, a cada fechamento de câmbio. Além disso, o próprio custo de despacho, via correio, dos EUA para o Brasil, é muito mais baixo do que o custo do correio doméstico, praticado no interior do país, uma vez que não há, atualmente, uma tarifa diferenciada para expedição de livros. Segundo os livreiros, esse tipo de compra pode, a médio prazo, ameaçar a própria existência de livrarias com obras importadas, em todo o país. Essas livrarias têm o custo da própria manutenção de um estoque de fundo, com obras de referência, e que define o seu perfil. O total das divisas que saem do país, no caso da soma das importações individuais, é mais elevado do que no caso da importação, via livreiros, que, ao comprarem, no exterior, negociam o maior desconto possível, afetando, de qualquer modo, o balanço de pagamentos do país. No entanto, a principal questão está ligada ao emprego gerado no país. No que tange à política de crédito ao consumidor, cada rede de livrarias trabalha de acordo com a sua capacidade de financiamento. Existe uma tendência à concessão de prazos maiores, na época escolar, no que se refere à compra de livros didáticos. No entanto, para outros produtos, a regra geral é a venda à vista, ou por cartão de crédito. No Brasil, observa-se, ainda, o início da utilização de sistema de franquias, como pela rede de livrarias Nobel, que possui 50 lojas, sendo que seis são franqueadas. Algumas das principais livrarias estão ligadas à editoras, mas afirma-se que isso não gera maior dificuldade no relacionamento e negociação com os fornecedores, pois a livraria se relaciona de forma independente com as outras editoras. No Brasil, conforme o número de lojas, podemos agrupar as livrarias em grandes, médias e pequenas cadeias ou lojas independentes, encontrando-se, ainda, megastores, livrarias convencionais e livrarias especializadas. Há, no Brasil, dois grandes grupos, com atuação nacional, as Livrarias Siciliano e Saraiva. Ambas são empresas com mais de 70 anos no mercado. Existem dois grupos médios, com atuação regional, as Livrarias Sodiler e Nobel, bem como alguns grupos regionais, com atuação local, e empreendedores isolados, com um ou dois pontos de vendas. Livraria e Papelaria Saraiva S.A. Integrante do grupo econômico que inclui a Editora Saraiva e a Editora Atual, esta última adquirida em julho de 1998, a LIVRARIA E PAPELARIA SARAIVA S.A. é uma empresa aberta, possuindo 15% do capital social sob o controle de investidores institucionais internacionais. Em 1993, a International Financial Corporation – IFC adquiriu 2,6% do capital total da empresa, por US$ 3 milhões. Em 1998, a receita operacional líquida da Livraria e Papelaria Saraiva S.A foi de R$ 111,9 milhões. A empresa conta, atualmente, com uma rede de 31 lojas, sendo 8 “megastores”. A Saraiva foi a primeira empresa a implementar, no país, o conceito de “megastores”. Os municípios onde estão localizadas essas “megastores” são: Campinas, Rio de Janeiro, Porto Alegre e São Paulo (5). Até março de 2000, deverão ser inauguradas mais cinco “megastores”, localizadas em Ribeirão Preto, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro (2). As 43. lojas tradicionais estão localizadas na capital e no interior de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Recife e Porto Alegre. Seus principais indicadores econômico-financeiros são apresentados na tabela 28 a seguir: Tabela 28 Indicadores econômico-financeiros da Livraria e Papelaria Saraiva S.A. 1996-1998 Indicadores 1996 1997 1998 Liquidez Liquidez Geral 1,02 0,81 1,08 Liquidez Corrente 1,70 2,43 2,16 Liquidez Seca 0,64 0,68 0,61 104,95 145,29 92,57 Endividamento Total 51,21 59,23 48,07 Endividamento Financeiro Total 21,51 31,17 18,63 Endivid. Financeiro a curto prazo 0 2,05 16,22 Endivid. Financeiro a longo prazo 100 97,95 83,78 Rentab. do Ativo Operacional 6,21 1,51 4,90 Rentab. do Patrimônio Líquido 3,12 5,92 2,77 Prazo Médio de Renov. de Estoque 86 133 123 Prazo Médio de Pag. de Compras 42 46 50 Prazo Médio de Recebim. de vendas 17 14 15 Ciclo de caixa (em dias) 61 101 88 Margem Líquida 0,74 1,70 0,89 Margem Operacional Ajustada -0,05 1,11 3,11 Margem Bruta 34,72 36,74 35,82 Endividamento (em %) Endividamento Patrimonial Rentabilidade (em %) Rotação (em dias) Lucratividade (em %) Fonte: Demonstrações financeiras da empresa. 44. Gráficos 7.1 a 7.5 Indicadores econômico-financeiros da Livraria e Papelaria Saraiva S.A. 1996-1998 7.1 - Índices de Liquidez 2,5 2 Liquidez Geral Liquidez Corrente 1,5 Liquidez Seca 1 0,5 0 1996 1997 1998 7.2 - Índices de Endividamento (em %) 160 140 Endividamento Patrimonial 120 Endividamento Total 100 Endividamento Financeiro Total 80 60 Endivid. Financeiro a curto prazo 40 Endivid. Financeiro a longo prazo 20 0 1996 1997 1998 45. 7.3- Índices de rentabilidade (em %) 7 6 5 4 3 2 1 0 Rentab. do Ativo Operacional Rentab. do Patrimônio Líquido 1996 1997 1998 7.4 - Índices de Rotação (em dias) 140 120 Prazo Médio de Renov. de Estoque 100 80 Prazo Médio de Pag. de Compras 60 40 Prazo Médio de Recebim. de vendas 20 0 1996 1997 1998 7.5 - Índices de Lucratividade (em %) 40 35 30 25 20 15 10 5 0 -5 Margem Líquida Margem Operacional Ajustada Margem Bruta 1996 1997 1998 46. Livrarias Siciliano S.A Trata-se da maior cadeia nacional de livrarias em número de lojas, estando sediada em São Paulo. Em 1998, obteve um faturamento estimado de R$ 100 milhões, alterou sua organização social de limitada para sociedade anônima e vendeu parte do seu capital (35%) para a empresa americana Darby Overseas. Possui 56 lojas, em 24 municípios, que se localizam em 11 Estados e no Distrito Federal. Suas lojas estão distribuídas da seguinte forma: Salvador, Fortaleza, Brasília (5), Vitória, Goiânia, Belo Horizonte (4), Uberlândia, Curitiba (2), Recife, Porto Alegre (3), Rio de Janeiro (8), Niterói, São Paulo (15), Santo André (2), São Bernardo do Campo, Guarulhos, Campinas, Mogi das Cruzes, Ribeirão Preto, São José dos Campos, Santos (2), Sorocaba, Florianópolis e Blumenau. Fnac A FNAC é uma subsidiária do grupo francês Pinault Printemps-Redoute (PRP). Fundada há 45 anos, é uma das maiores redes européias de distribuição e venda de produtos culturais e de lazer. Em 1998, adquiriu o Ática Shopping Cultural, inaugurado em junho de 1997, considerado a maior livraria da América Latina, localizada em São Paulo, com oito mil metros quadrados de área construída e 4.500m² de área comercial, dos quais 2.200m² só para livrarias. Na loja, há espaço para realização de diversas atividades culturais, como lançamentos de cd’s, noites de autógrafos e palestras, além de uma galeria, que apresenta exposições de artistas novos ou consagrados. O grupo Ática Scipione investiu US$ 30 milhões no referido “shopping” cultural, sendo sua estratégia ter, em suas prateleiras, tudo o que estivesse em catálogo nas editoras nacionais. O grupo pretendia utilizar elementos multiplicadores do projeto, considerando o “shopping” como uma loja central e com lojas satélites, onde, através de serviços de consulta instantânea e entregas a domicílio, o cliente teria acesso a todo o estoque do “shopping ”, cujas taxas de instalação ficariam cada vez menores, já que o investimento na loja principal compreende, ainda, o know-ho w adquirido. Segundo a FNAC, existe um plano de expansão para as principais capitais brasileiras, pois o país teria capacidade para receber 15 dessas lojas. O espaço de uma loja da empresa varia entre 3 mil e 6 mil metros quadrados, incluindo a parte do estoque. A empresa trabalha com uma estratégia voltada à máxima variedade de itens, preços baixos, e atendimento especializado, através de vendedores “quase técnicos” em suas áreas, e independente dos fornecedores com os quais trabalham. Livraria Nobel S.A. Com sede em São Paulo, baseia sua expansão no sistema de franquias. Atua em 15 Estados, possuindo 50 lojas, em 29 municípios, quais sejam: Maceió, Fortaleza, Brasília (3), Goiânia (2), Campo Grande, São Luis (3), Belo Horizonte (2), Poços de Caldas, Belém, 47. Campina Grande, Juazeiro do Norte, Teresina, Natal, Passo Fundo, Porto Alegre, Florianópolis, São José, Rio de Janeiro, Niterói, São Paulo-capital (15) e interior de São Paulo (10). Livraria Sodiler Estabelecida no Rio de Janeiro, tem atuação em quatro Estados, baseando a sua estratégia comercial em lojas de aeroportos. Possui 17 lojas, em 4 municípios, quais sejam: Brasília (3), Recife (2), Rio de Janeiro (11) e São Paulo (1). 7. O COMÉRCIO DE LIVROS NA INTERNET A informática, aliada à nova tecnologia de comunicação, em âmbito global, tem causado um grande impacto em todas as atividades econômicas, principalmente, a partir do aumento da velocidade de circulação da informação, e da diminuição do custo para seu acesso. A Internet, que reflete esses avanços na informática e nas telecomunicações, incorpora e supera as mídias anteriores, afetando a cadeia de comercialização de livros, tanto no que se refere aos autores, à venda de conteúdo, e ao comércio de livros, propriamente dito. Os escritores, com a Internet, viram o questionamento do suporte tradicional de sua expressão, ou seja, do livro. Para o escritor, no entanto, a Internet pode ser uma vitrine, um meio de divulgação, gratuito e imediato, impactando, de forma positiva, principalmente, quanto à arbitrariedade das escolhas editoriais, à detenção das informações pelos grandes canais, e ao distanciamento do público. Quanto à venda de conteúdo, isso é o que realmente interessa ao editor, pois é o que ele produz, o meio, pouco importa. Alguns problemas precisam ser superados, como é o caso dos direitos autorais, que vêm sendo analisados pela Associação Internacional de Editores. Similarmente ao ISBN, está sendo desenvolvido o DOI (Digital Object Identifer), que identifica qualquer pedaço de informação digital, podendo, mesmo, serem pequenos trechos. Esse desenvolvimento pressupõe vários mecanismos de gerenciamento e de cobrança de direitos autorais. Quanto ao comércio, propriamente dito, já existe casos em que o internauta paga uma pequena taxa, podendo imprimir o livro de seu interesse, ou arquivá-lo. Como não há gastos com impressão, papel, capa, e, principalmente, com a distribuição, o cliente pode comprá-lo por um preço menor. O e-commerce (comércio eletrônico) é uma grande tendência mundial. Estima-se que o número de internautas, no mundo, já atinja 80 milhões, e que pelo menos 15% deles façam compra pelo computador. No Brasil, atualmente, calcula-se que sejam mais de 2 milhões, os usuários da Internet, conforme é apresentado na tabela 29, a seguir. 48. Tabela 29 BRASIL – Nº de Usuários da Internet e Potencial de Consumidores* Ano Total de Usuários Percentual de Consumidores 1997 625.000 13% 1998 1.572.000 20% 1999 2.323.000 21% 2000 3.127.000 24% 2001 4.100.000 28% 2002 5.067.000 32% 2003 5.969.000 35% *Números estimados, a partir de 1999. Fonte: IDC (Exame 22/09/99). A Internet tem crescido como um veículo de venda, especialmente, de produtos culturais e de entretenimento. Entre os itens mais vendidos, por meio da Internet, estão os livros, CD’s, DVD’s, vídeos e artigos multimídia. A tabela 30, a seguir, apresenta os produtos e serviços mais vendidos, pela Internet, nos EUA. 49. Tabela 30 EUA – Faturamento do Comércio pela Internet Produtos mais Vendidos (US$ milhões/ano) Produtos e Serviços Faturamento Viagens 3.073 Hardware 1.090 Software 665 Livros 630 Vestuário 275 Alimentos e bebidas 235 Flores 212 Acessórios pessoais 207 Discos / Música 187 Produtos eletrônicos 84 Móveis / Produtos para casa 83 Presentes 63 Eletrodomésticos 17 Fonte: Business 2.0, 01/99 (Exame 22/09/99). A venda de livros, pela Internet, vem crescendo, pois esse produto possui algumas características que facilitam a sua compra, através desse meio, quais sejam: • • • são oferecidos títulos demais para que a maioria das lojas os estoquem; apresentam a oportunidade de ser “experimentados”; e ocorrem constantes lançamentos de novos títulos. Diante do crescimento das vendas de livros, pela Internet, a questão que vem sendo colocada é: até que ponto as livrarias virtuais estão tirando consumidores das livrarias físicas? É certo, entretanto, que a venda eletrônica vai trazer impactos sobre as livrarias, que deverão se adaptar ao novo ambiente concorrencial. No entanto, o mercado é muito dinâmico, e vai se adaptando às novas variáveis introduzidas. Na verdade, surgem respostas diferenciadas. Já existe, por exemplo, um site na Internet, para venda de livros que trabalham com livrarias independentes, localizadas mais próximas do cliente. Outras respostas, como vimos, referem-se à formação de mix complementares das livrarias, e à criação de um novo ambiente, para atração de novos consumidores. A Internet vem sendo vista, também, como propiciadora de ampliação do público leitor de livros, sendo a leitura, através dela, encarada como complementar. A Internet forma uma comunidade de interesses, e pode converter tais grupos em alvos para a venda de livros. 50. Paralelamente às vantagens possibilitadas pela Internet, como a de se poder “visitar” todas as livrarias do mundo, ou a possibilidade de leitura de sinopses dos livros editados, existem, também, inconvenientes, como a demasiada segmentação da Internet, que, ao abrir muitas possibilidades, acaba levando à dispersão do consumidor. O varejo de livros, na Internet, tem sido dominado por “lojas” puramente eletrônicas. No entanto, as livrarias tradicionais, também, já estão oferecendo, ao consumidor, a opção de vendas on line. Mesmo as lojas independentes, já têm desenvolvido seus sites para busca e encomenda virtual. O varejo virtual de livros é o que apresenta, hoje, no Brasil, o maior número de sites, conforme apresentado na tabela 31, a seguir: Tabela 31 BRASIL – Nº de Sites para Comércio Eletrônico, por Produto ou Segmento - Junho/99 Produto ou Segmento Nº de Sites Livros 59 Música 43 PCs/ Softwares 43 Bancos 23 Produtos Eletrônicos 16 Supermercados 11 Corretoras 6 Companhias Aéreas 2 Outros 104 Fonte: Boston Consulting Group. Apesar dos custos e prejuízos, pois, mesmo a maior livraria virtual americana, a Amazon, com capital estimado em US$ 20 bilhões, nunca auferiu lucro, as livrarias tradicionais não querem ficar fora da rede, já que se considera a venda eletrônica uma forma irreversível de comércio, que complementa as vendas das livrarias físicas. Além disso, o potencial de crescimento desse meio de venda parece enorme, tendo em vista que grande parte da população ainda não está conectada à rede mundial de computadores. Como movimento estratégico, verificam-se alianças de grandes redes varejistas com as redes de livrarias convencionais, para fornecimento exclusivo de livros, em sites de comércio eletrônico, como é o caso da aliança entre a Wal -Mart e a Books-A-Million . Outro exemplo é a união da Microsoft e da Barnes & Nobles , para venderem os seus produtos (software e livros) em sites na Internet. A Microsoft vem investindo na sua rede de sites, para torná-la mais atrativa para o comércio eletrônico. A Barnes & Nobles será a livraria virtual exclusiva da rede da Microsoft. A Amazon, por sua vez, tornou-se a principal responsável pela venda de CDs no canal de compras da Microsoft Network. 51. Visando concorrer com a distribuição tradicional, as livrarias virtuais procuram tirar proveito das vantagens de se comprar pela Internet, disponibilizando, por exemplo, pesquisas, de forma rápida, e estabelecendo estratégias para conquistar clientes, como preços diferenciados, mais baixos que nas lojas convencionais, e a isenção da cobrança de fretes. A competição entre as lojas eletrônicas se dá, também, do ponto de vista tecnológico, o que inclui o aumento da velocidade do site, a sofisticação do sistema de buscas, com opções organizadas hierarquicamente, em temas e subtemas, e, mesmo, a possibilidade de cálculo do custo final do produto, incluindo os preços do livro e do frete, além de, também, comparar as diversas possibilidades de entrega, como courrier, sedex , correio comum, etc. As livrarias on-line têm procurado, ainda, montar as suas redes de distribuição, visando diminuir o tempo de entrega de livros e de outros produtos, reduzindo, ainda mais, o custo, tendo em vista ser bastante dispendioso manter o site e a sua estrutura. Nesse aspecto, deve-se ressaltar a importância da eficiência e do custo de serviço dos correios. No mundo, as maiores livrarias virtuais são: Amazon, Barnes & Noble, Waterstone’s, Blockwell’s e Internet Book Shop . A Amazon possui, aproximadamente, 2,5 milhões de títulos, em catálogo, e mais de oito milhões de consumidores já registrados, em seu negócio on-line de venda de livros e discos. Sua receita, em 1988, foi de US$ 610 milhões. Trata-se da maior vendedora de produtos não informáticos, na rede. A Amazon está expandindo as suas atividades, além da venda de livros e discos, acrescentando artigos com grande poder de atração. Nesse sentido, está procurando vender produtos relacionados, por exemplo, com a saúde. A Amazon está pretendendo se tornar, ainda, uma grande empresa de leilões virtuais, e fornecedora de outros serviços. Para isso, vem comprando outras empresas que atuam na rede, e concorrendo com aquelas que fornecem correio eletrônico (e-mails), salas de bate-papo (chats), e comércio eletrônico (e-commerce). No Brasil, todas as grandes redes tradicionais também vendem, através da Internet. A Saraiva, por exemplo, investiu R$ 500 mil, no desenvolvimento do seu site. Além delas, muitas livrarias independentes também possuem sites. Outro site brasileiro importante é o da Booknet . A Booknet já nasceu como uma livraria virtual. Foi a primeira livraria virtual brasileira, com página na Web desde 1995, completando um custo de implantação da página da ordem de R$ 300 mil. Atualmente, somente fora do país, possui cerca de dois mil clientes. Em 1998, vendeu 335.000 exemplares, faturando R$ 7,3 milhões, e registrando um lucro de R$ 250 mil, com uma média diária de 3.000 consultas. Uma de suas estratégias reside na ampliação da linha de produtos vendidos, em seu site. Seguindo o caminho inverso da maioria das livrarias, a Booknet abriu três lojas convencionais, situadas no Estado do Rio de Janeiro, nos Municípios do Rio de Janeiro, Niterói e Volta Redonda. Em 1998, comprou a rede Curió, e, em 1999, foi adquirida pelo Grupo Garantia. 8. AÇÕES EM CURSO, PROBLEMAS ATUAIS E PROPOSTAS PARA DESENVOLVIMENTO 52. Vêm sendo realizadas, no Brasil, algumas ações, as quais estão contribuindo para o crescimento dos setores envolvidos na cadeia do livro. Discute-se, atualmente, por exemplo, no Congresso Nacional, um Anteprojeto de Lei do livro, que procura estabelecer as linhas da Política Nacional do Livro. Quanto ao apoio governamental, foi lançado, recentemente, pelo BNDES, o “Programa Fernando de Azevedo de Apoio à Indústria do Livro”, com recursos da ordem de R$ 100 milhões, que visa a desenvolver o segmento editorial, atribuindo, porém, especial prioridade às edições representativas da cultura brasileira. No que se refere ao incentivo à leitura, há vários programas governamentais e não governamentais no Brasil, estimando-se que ultrapassem 150. Entre essas iniciativas, destacam-se o Programa Sala de Leitura (PSL), que distribui livros de literatura infantojuvenil a 17 mil escolas públicas, e o Programa de Leitura Suplementar (PLS), que distribuiu livros de literatura infantil e obras de referência às turmas de 1ª a 4ª séries das escolas públicas, na região Nordeste. Destaca-se, ainda, o “Leia Brasil”, patrocinado pela Petrobrás, cujos caminhões, ligados ao programa, fizeram, em média, 4,98 mil visitas anuais às 627 escolas de 95 municípios dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Sergipe e Alagoas. São realizados, em média, 4,8 milhões de empréstimos por ano, para um acervo que atinge 240 mil exemplares de literatura. Quanto ao apoio às bibliotecas, a Secretaria de Política Cultural, órgão vinculado ao Ministério da Cultura, está estudando um programa de fomento de bibliotecas, numa ação conjunta entre o Ministério da Cultura e outras entidades, que pretende duplicar o número de bibliotecas existentes atualmente. O Estado do Rio de Janeiro lançou o Programa “Biblioteca para Todos”, da Secretaria Estadual de Cultura, que vem sendo considerado um modelo a ser copiado em outros Estados. O projeto prevê a criação de 156 bibliotecas, até o ano 2000. Em sua metodologia, considera-se a densidade demográfica do município onde serão instaladas as bibliotecas, bem como os níveis de alfabetização e renda. Realizando o cruzamento destes dados, pretende-se levantar as melhores áreas para serem implantadas as bibliotecas. Há, ainda, a tentativa de se implantar um modelo de gestão comunitária. Para cada município, com cem mil habitantes, pretende-se que seja instalada, pelo menos, uma biblioteca. O Programa prevê, também, o acompanhamento do desempenho, quanto às metas estabelecidas. Quanto ao conhecimento do mercado editorial, cabe ressaltar as iniciativas da Câmara Brasileira do Livro, que vem publicando, anualmente, diagnóstico do setor, a partir de pesquisa realizada junto a diversos editores. Além disso, deve-se destacar o alto padrão editorial alcançado por diversas editoras brasileiras, com produtos de qualidade internacional. No que se refere ao varejo, como visto anteriormente, esse segmento tem passado por significativas transformações, relacionadas à sua própria modernização, procurando, desse modo, ir ao encontro das necessidades do consumidor. Não obstante essas iniciativas, a cadeia do livro, no país, encontra-se face a diversas questões. Uma delas é a mitificação da leitura e do livro, no país, onde os livros caracterizam-se como produtos que a sociedade brasileira valoriza apenas simbolicamente, pois essa valorização não se reflete na prática da leitura. 53. Além do problema estrutural da indústria, que possui um ciclo operacional muito longo, existem os problemas estruturais da sociedade brasileira, que afetam diretamente os setores envolvidos. O primeiro deles é a estrutura concentradora da sociedade, com má distribuição de renda, baixo poder aquisitivo da maioria da população, e uma convivência entre a tecnologia de ponta e os níveis ínfimos de educação. Alguns aspectos da política econômica, como os juros elevados, também afetam o desempenho dos setores envolvidos. A seguir, é apresentado o quadro 5, que objetiva consolidar os principais problemas apontados pelos integrantes da cadeia do livro, no Brasil, encontrando-se agrupados segundo os seguintes tópicos: política industrial, apoio financeiro, recursos humanos, autores nacionais, leitura, preço, bibliotecas, escolas, mercado, editoras, distribuição e varejo. Quadro 5 Brasil – Principais Problemas da Cadeia do Livro Tópicos Problemas Atuais Não existe uma política industrial que contemple a cadeia do livro; Existência de dois Ministérios diferentes, ambos comprando livros para as bibliotecas e ensino fundamental; Não há um programa de fomento que considere a cadeia editorial Apoio financeiro como um todo; • fracasso do programa de incentivo à produção de livros; • o apoio é dado à operações financeiras clássicas; Recursos Humanos Não há programas específicos de preparação da mão-de-obra para a cadeia; Autores Nacionais Não se estimula a produção intelectual dos autores brasileiros; Falta de hábito de leitura; Leitura Falta de incentivo à leitura; Pouca escolaridade do brasileiro; Falta de acesso ao livro; • devido aos problemas ligados a preço, bibliotecas, escolas, distribuição e varejo; Preço O livro é muito caro; • baixa tiragem dos livros brasileiros; A maioria dos municípios é carente de bibliotecas; Bibliotecas Despreparo das bibliotecas, sendo que apenas 356 possuem computador; Desconhecimento do acervo, da performance, e dos resultados das bibliotecas; Falta de um grande plano integrado, para atuação das bibliotecas; Ações apenas pontuais, no que se refere às bibliotecas; Carência de bibliotecas, em escolas; • quase a totalidade do público, das bibliotecas públicas, são de estudantes; Inadequação de bibliotecas escolares; • a carreira de bibliotecário não existe nas escolas; As bibliotecas não funcionam como um centro de informação e intercâmbio cultural; Escolas A leitura é mal trabalhada na escola; Política Industrial 54. Existência de um elevado contingente de pessoas, que não adquirem qualquer livro; Baixo consumo “per capita”; Mercado pulverizado; Mercado pouco explorado; Os leitores não são atendidos nas suas expectativas; Trabalha-se com conceitos vagos, ao se tratar de livro e leitura; Carência de estudos e pesquisas de mercado, sobre promoção, publicidade, vendas, etc; Baixo nível de capitalização da maioria das empresas; Poucas empresas de capital aberto; Empresas com gestão familiar; Distribuição deficiente; • desconhecimento de logística, • elevado custo de transporte; Lacuna entre o que é produzido e o que é mostrado; A maioria dos municípios é carente de livrarias; Só há livrarias nas capitais e nas principais cidades; Mesmo nas capitais e principais cidades, são poucos os pontos de vendas; As práticas de vendas no varejo são ultrapassadas; Existe grande diferença cultural entre o vendedor e o comprador; Mercado Editoras Distribuição Varejo O quadro 6 apresenta diversas propostas levantadas, as quais estão agrupadas conforme os mesmos tópicos anteriores, ou seja: política industrial, apoio financeiro, recursos humanos, autores nacionais, leitura, preço, bibliotecas, escolas, mercado, editoras, distribuição e varejo. Quadro 6 Brasil – Propostas para Desenvolvimento da Cadeia do Livro Tópicos Propostas para Desenvolvimento Política Nacional Reunir os representantes da cadeia, incluindo especialistas, para a Indústria do professores, escritores, etc, estabelecendo diagnósticos, propostas e livro projeções; Elaborar um planejamento dotado de metas quantificáveis e verificáveis, como o aumento do consumo “per capita ”, com programas bem elaborados e investimentos bem alocados; Criação da lei do livro; Estabelecer um plano anual de difusão do livro; Plano de incentivo à cultura; Plano de apoio às bibliotecas; Priorizar os investimentos em educação; Estimular a demanda doméstica; Criar mecanismos estruturais de incentivo ao setor; Estabelecer incentivos fiscais a empresas que baratearem o livro; Articular o apoio de entidades como Sesc, Senac, e de órgãos estaduais, como as Secretarias de Educação e Cultura; Estimular as parcerias entre as diversas esferas do governo; Apoio Financeiro Criação de um fundo, composto por várias fontes de capital 55. (governos, BID, BIRD e lei Rouanet); Criação de linhas de crédito específicas, nas instituições públicas de fomento; Contemplar o financiamento das necessidades líquidas de capital de giro, bem como de pesquisas setoriais; Priorizar a distribuição e as livrarias; Financiar a modernização industrial; Financiar a produção; Recursos Humanos Formar, capacitar e aperfeiçoar a mão-de-obra de toda a cadeia produtiva, com a criação de cursos, escola de livreiros, etc; Autores Nacionais Leitura Preço Estimular a produção intelectual dos escritores e autores brasileiros, com iniciativas como o estabelecimento de prêmios nacionais; Democratização dos livros; • acesso, ao livro, pela população com menor poder aquisitivo, e daquela que não freqüenta livrarias e bibliotecas; • lançamento de títulos a preços reduzidos, como edições populares, vendidas em bancas de jornais; • Incentivar o hábito de leitura; • priorizar as crianças, mas despertar a valorização da leitura por toda a sociedade; • utilizar todas as mídias para divulgação, principalmente a televisão; • estimular a leitura em escolas, lares e bibliotecas; • divulgar os lugares e as formas de obtenção de material para leitura, desenvolvendo, estrategicamente, o hábito de leitura, com revistas, jornais, livros infantis e juvenis, e até leituras mais sofisticadas; • realizar eventos que promovam os livros e a leitura; • apostar no lúdico, como instrumento de iniciação; • realizar múltiplos eventos; • resgatar a oralidade, por meio de estórias, como instrumentos de iniciação; • envolver toda a comunidade – educadores, vizinhos e pais; • incentivar a realização de programas de leitura em todos os municípios e comunidades; Promoção do livro; • elaborar um calendário de eventos; • realizar exposições; • implementar feiras regionais, adaptadas às características locais; • realizar campanhas promocionais do livro; • divulgar e promover o Dia nacional do livro e da leitura (29 de outubro); • participação do país em feiras internacionais; • criar feiras permanentes; Redução do preço dos livros; Utilização de produtos decorrentes do livro; Aumentar a tiragem dos livros; Disseminar um maior interesse, entre editores e livreiros, em vender livros mais baratos; Desenvolver parceria entre os integrantes da cadeia; 56. Bibliotecas Escolas Mercado Editoras Aumentar a produtividade da cadeia; Aumentar a qualidade na cadeia; Captar e distribuir recursos para as bibliotecas, a partir de uma política nacional de apoio às bibliotecas; Instalar bibliotecas, proporcionalmente ao número de habitantes, com, pelo menos, uma, nos municípios menores; Modernizar as bibliotecas públicas, escolares e universitárias, com atualização tecnológica e renovação de acervos; Comprar estoque de livros das editoras para as bibliotecas, enriquecendo o acervo daquelas já existentes; Disponibilizar, na biblioteca, os livros lançados; Socializar a biblioteca, franqueando-as às comunidades; Tornar acessíveis o acervo de bibliotecas públicas com acesso restrito; Divulgar a existência das bibliotecas; Criar bibliotecas volantes; Realizar ações para a adoção de novos freqüentadores; Cultuar o hábito das pessoas em freqüentarem bibliotecas; Comentar textos literários, trocar informações sobre prêmios literários, novas editoras, etc; Criar videotecas, nas bibliotecas; Promover o intercâmbio entre bibliotecas; Criar associações de amigos da biblioteca, para interagir com a comunidade; Aperfeiçoar os funcionários das bibliotecas; Enfatizar a preocupação com o desenvolvimento do hábito de leitura, tornando-a significativa e freqüente; Renovar a prática de leitura, em sala de aula; Aprofundar o conhecimento acerca dos perfis do leitor brasileiro, com pesquisas periódicas sobre: • formas de acesso ao livro, no Brasil, identificando o número de escolas, bibliotecas, livrarias, bancas de jornais, etc; • as motivações de leitura, como diversão, informação, obrigação escolar, obrigação profissional, contatos com doutrinas de espiritualidade, etc; • objetos e práticas de leitura correntes, considerando diferentes categorias, como faixa etária, nível de renda, escolaridade, sexo, região geográfica, profissão, etc; • realizar campanhas promocionais, envolvendo editoras, livrarias, pontos de venda, escolas, bibliotecas, etc; Conscientizar-se do seu papel, como indústria e agente cultural; Realizar pesquisas sobre os diversos aspectos da população editorial; Trabalhar com qualidade, quantidade, preço e variedade, para todas as faixas de mercado, e em todo o conjunto, do papel à capa, do texto à diagramação; Utilizar a criatividade, para atender a todos os segmentos de leitores; Estabelecer uma permanente renovação de profissionais envolvidos, como os ilustradores; Focar o seu mercado; Buscar nichos de mercado; Promover parcerias com outras empresas e entidades, como as 57. Distribuição Varejo universidades; Utilizar, com eficiência, os diversos canais de distribuição; Aprimorar a distribuição; Efetuar pesquisas sobre as principais características da distribuição, seus principais problemas, etc; Aprofundar o conhecimento sobre as estratégias logísticas; Estabelecer condições eqüitativas para todos os varejistas; Atualizar-se com as mais modernas tecnologias empregadas; Realizar parcerias estratégicas, estrangeiras ou não; Incluir fusões e aquisições como possível estratégia empresarial; Tornar-se, cada vez mais, um local de convívio social e de troca de experiências humanas; Oferecer outros atrativos, atraindo o público com eventos alternativos, como musicais noturnos; Aumentar o volume e a qualidade das vendas; Incrementar a oferta de livrarias e mega livrarias; Estar focado no seu público alvo; Acompanhar a mudança de hábitos e desejos do público alvo; Expandir-se para o interior dos Estados e do país. 9. CONCLUSÃO A cadeia de livros é responsável pela produção e comercialização de milhares de novos produtos, que abrangem os mais diversos aspectos do mundo real, envolvendo diferentes tipos de empresas e profissionais. Comparativamente a outras cadeias industriais, a do livro não é das mais representativas, em relação à movimentação econômica, mas é, indiscutivelmente, a que mais apresenta repercussões políticas, culturais, educacionais, profissionais, tecnológicas e sociais, ao disseminar educação, cultura e, fundamentalmente, idéias. No Brasil, essa cadeia está se deparando com enormes desafios, como reflexo, principalmente, da internacionalização e estabilização econômicas. Como conseqüência, observa-se a entrada de empresas internacionais no país, e a busca pelas empresas nacionais de maior eficiência. Além desses desafios, e apesar da qualidade dos produtos brasileiros se encontrar entre as melhores do mundo, o livro não está democraticamente disponível para toda a população brasileira, mesmo sendo um direito fundamental de todo cidadão. Este trabalho procurou avaliar e consolidar alguns problemas apresentados pela cadeia do livro, no país, referentes à política industrial, apoio financeiro, recursos humanos, autores nacionais, leitura, preço, bibliotecas, escolas, mercados, editoras, distribuição e varejo. Para estes tópicos, também foram consolidadas propostas para desenvolvimento. Seu objetivo principal é contribuir, como ponto de partida, para que os agentes envolvidos possam, através de um processo dialético, encontrar formas de desenvolver essa cadeia industrial, incorporando, como consumidores ou usuários, novos segmentos da população brasileira. Afinal, a construção de uma sociedade mais justa e igualitária deve ser o objetivo de todos. 58.