Internacionalização
é sucesso no setor de
proteínas animais
Internationalization: success
in the animal protein sector
Por Marcio Sette Fortes
Fotos Grupo JBS/Friboi e Grupo Marfrig
Não há país que, modernamente, tenha se desenvolvido sem que nele houvesse a formação de grandes
grupos empresariais nacionais. Evidentemente, outras
premissas contribuíram para esse desenvolvimento,
entretanto, é mister ressaltar aqui a importância
conferida à constituição de tais grupos. A assertiva
inicial, acima, remete imediatamente ao exemplo de
países como o Japão, a Coreia do Sul e os Estados
Unidos que, a partir da formação de grandes empresas
dentro de suas próprias fronteiras, tornaram-se
capazes de expandir sua atuação para outros países.
Empiricamente, e não por um acaso, a estratégia
vencedora vem sendo observada também nos países
dos BRICS, como a China, a Índia e o Brasil que, por
intermédio de suas transnacionais, passaram a
participar ativamente do processo de globalização.
Assim, sob uma ótica de política externa, no que
concerne à projeção do poder estatal, por um lado,
68_Animal Business-Brasil
No country has become developed today without
large national business groups having been formed
inside it. Of course, other premises have
contributed to this development, but here it is
necessary to emphasize the importance given to the
constitution of such groups. The initial statement
above stems immediately from the example of
countries such as Japan, South Korea and the
United States, which, beginning with the formation
of big companies inside their own frontiers, have
become able to expand their operations into other
countries. Empirically, and not by chance, this
winning strategy has also been observed in the
BRICS countries, such as China, India and Brazil,
which, through their multinational companies,
have come actively to participate in the process
of globalization.
ficou claro que, com o encerramento da Guerra Fria,
passou-se a conferir importância ainda maior aos
temas de ordem econômica. Por outro lado, sob a ótica
da política comercial internacional, tornou-se patente
o maior relevo conferido aos aspectos internos e
externos dessa diretriz. Internamente, no que diz
respeito às condições facilitadoras para a criação e
perpetuação de grandes grupos; externamente, no
que se refere à internacionalização desses grupos,
propriamente dita, e, em âmbito multilateral, na OMC,
à defesa dos interesses do produtor nacional.
Nesse contexto, o Brasil soube aproveitar suas
vantagens diante de seus competidores e, sobretudo,
superar ineficiências do passado, atreladas diretamente ao modelo de economia fechada. O mercado é
global hoje, mas nem sempre foi assim. Para os leitores
mais jovens, que já nasceram em um mundo globalizado, não será difícil imaginar um país do bloco capitalis-
Thus, from the point of view of foreign policy, on the
one hand, as regards the projection of state power, it
has become clear that with the end of the Cold War,
even greater importance has been given to topics of
an economic nature. On the other hand, from the
point of view of commercial international policy, the
greater prominence bestowed on the internal and
external aspects of this guideline has become
evident. Internally, as regards the facilitating
conditions for the establishment and maintenance
of big groups. Externally, regarding the
internationalization of these groups, properly
speaking, and, in a multilateral scope, in the WTO,
the defense of the interests of the Brazilian
producer.
In this context, Brazil has been able to make use of
its advantages over its competitors and, above all, to
overcome the inefficiencies of the past, linked
Animal Business-Brasil_69
Unidade de fabricação de produto
de carne de frango da Keystone Foods,
do Grupo Marfrig
Chicken meat production
facility of Keystone Foods,
part of Marfrig Group
70_Animal Business-Brasil
Animal Business-Brasil_71
ta, com a economia protegida. Não eram, entretanto,
proteções associadas às modernas medidas de defesa
comercial, e sim medidas que mascaravam ineficiências produtivas e de competição e que visavam à
obtenção de saldos comerciais artificiais. Esse foi o
cenário vigente no Brasil até o final da década de 1980.
A necessidade de desenvolvimento partiu da percepção do que ocorria nos mercados mundiais e aliou-se
à certeza de que restrições à atividade econômica seriam perniciosas ao desenvolvimento
do país. O fechamento da economia nacional, no final
do século, enquanto a atividade econômica mundial
se internacionalizava, constituiu-se em um erro a ser
evitado.
Investimentos em tecnologia, em qualidade, em
marketing, na cadeia produtiva, na cadeia logística,
na inovação, enfim, na adaptação do produto para
mercados estrangeiros, considerado o grau de
sensibilidade ambiental de cada bem, além, é claro,
da busca pela racionalização dos custos, dotou os
produtos brasileiros de maior competitividade.
Não bastava, entretanto, competir internacionalmente
por meio das exportações. A competição estrangeira
nos mercados nacionais, por meio das importações,
intensificou-se nos últimos anos, tornando os produtos
estrangeiros cada vez mais disseminados. Agora,
empresas estrangeiras passaram a competir com as
domésticas em mercados anteriormente protegidos.
Se antes consumia-se produtos em sua maioria
fabricados localmente, agora consomem-se produtos
fabricados ao redor do mundo. Há, portanto, uma
mudança no padrão de consumo que é resultado da
ampla oferta de produtos globais.
Fica claro, portanto, que agora os clientes estão em
todo o planeta. Internacionalizar-se não é apenas
dar vazão ao potencial empresarial de realizar bons
negócios. Trata-se da própria sobrevivência da
empresa. Não responder de maneira adequada aos
desafios e oportunidades apresentados pela globalização significa desaparecer ou ser absorvido por
empresas ainda maiores. Ao comércio exterior, como
grau inicial de internacionalização, somou-se a
descentralização produtiva, tendo em vista que a maior
demanda estrangeira exige uma rede global de
fábricas e de distribuição.
Nesse contexto ganham destaque os grandes grupos
empresariais brasileiros, muitos dos quais formados a
partir de processos de fusões e aquisições recentes.
Os fluxos de investimento direto rumo ao exterior
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directly to the closed economic model. Today the
market is global, but it was not always so. It will not
be difficult for younger readers born in a globalized
world to imagine a capitalist bloc country with a
protected economy. These protections, however, were
not those associated with modern measures of
commercial defense, but measures that masked
inefficiencies of production and competition and
aimed at obtaining artificial trade balances. This
was the setting prevailing in Brazil up to the end of
the 1980s. The need for development arose out of
awareness of what was going on in the
world markets together with the conviction that
restrictions on economic activity would be harmful
to the development of the country. The closing of the
Brazilian economy at the end of the century, while
the economic activity of the world was becoming
international, was an error to be avoided.
Investments in technology, in quality, in
marketing, in the productive chain and the logistic
chain, in innovation and finally in tailoring of
products for foreign markets, bearing in mind the
degree of environmental sensitivity of each item,
in addition, of course, to seeking the rationalization
of costs, provided Brazilian products high
competitiveness.
It was not enough, however, to compete
internationally by means of exports. Foreign
competition in national markets, through imports,
has intensified in recent years, making foreign
products ever more widely disseminated. Foreign
companies have now begun to compete with domestic
ones in markets previously protected. If in the past
products were consumed that were mostly locally
made, products are now consumed that are made
around the world. There is thus a change in the
standard of consumption resulting from the
abundant offer of global products.
It is thus clear that clients are to be found all over
the planet. A company does not go international
merely to find an outlet for its potential to do good
business. It is a question of the survival of the
company itself. Adequately failing to meet the
challenges and opportunities presented by
globalization means disappearance or takeover by
even bigger companies. To foreign trade, as an
initial degree of internationalization, production
decentralization has been added, bearing in mind
passaram a ganhar importância, seguindo tendência
observada em outros países emergentes. Esse
movimento foi liderado, em grande parte, por grandes
grupos empresariais brasileiros. Importante notar,
aqui, que alguns deles passaram a disputar a liderança
global em seus setores de atuação.
Como tema de interesse desta publicação, destaca-se
aqui, em particular, a performance de duas empresas
brasileiras do ramo de proteínas animais altamente
internacionalizadas: Marfrig e JBS Friboi. A primeira é
considerada uma das empresas brasileiras mais
diversificadas no setor de alimentos, baseada em
proteínas animais, sendo a quarta maior produtora
mundial de carne e a segunda maior exportadora de
frango do mundo. A segunda é a maior empresa em
processamento de proteína animal do mundo.
Boa parte do elevado grau de internacionalização da
Marfrig deve-se às cerca de 40 aquisições realizadas
nos últimos quatro anos, sendo a maior parte delas no
exterior. Deve-se, igualmente, a uma base operacional
que inclui aproximadamente 150 unidades produtivas,
comerciais, de distribuição e escritórios, espalhados
pela América do Sul, América do Norte, África, Ásia e
Europa. Deve-se, por fim, ao grau de penetração de
seus produtos, encontrados em cerca de 100 países.
Para a Marfrig, o ano de 2010 marcou a transformação
mais ampla da companhia em uma empresa de
alimentos de atuação global. Foi exatamente nesse
ano que a empresa adquiriu a Keystone, entre outras
empresas, como o frigorífico irlandês O'Kane Poultry.
A aquisição da Keystone foi o marco de uma nova etapa
para a Marfrig, por já se tratar de uma empresa com
atuação global nas áreas de desenvolvimento,
produção, comercialização e distribuição de alimentos,
à base de carnes bovinas, suínas, de aves e peixes. Não
foi, portanto, apenas mais uma aquisição realizada
pela Marfrig. Tratou-se da compra da maior empresa privada norte-americana de proteínas animais,
segundo a Forbe´s 2009 America´s Largest Private
Companies, com um faturamento anual de US$ 6, 5
bilhões, o que elevou a Marfrig a uma posição de
destaque como fornecedora de toda a cadeia internacional do McDonald´s, Subway e Campbell´s, entre
outros.
O elevado grau de internacionalização da JBS Friboi,
por seu turno, deve-se à presença da companhia em
todos os continentes, possuindo 140 unidades de
produção no mundo, com plataformas de produção e
escritórios nos mais diversos países, entre eles,
that greater foreign demand requires a global
network of factories and distribution.
In this context the big Brazilian company groups,
many of which have been formed by recent merger
and acquisition processes, are noteworthy. Flows of
direct investment abroad have gained importance,
following the trend observed in other emerging
countries. This movement has been led, in the main,
by big Brazilian company groups. Here it is
important to note that some of them have started to
contend for global leadership in their sectors of
operation.
As a matter of interest to this publication, particular
mention is made of the performance of two highly
internationalized Brazilian companies in the animal
protein field: Marfrig and JBS Friboi. The first is
considered one of the most diversified Brazilian
companies in the sector of foodstuffs based on
animal proteins, being the fourth largest world meat
producer and the second largest chicken exporter in
the world. The second is the largest animal protein
processing company in the world.
A large part of the high scale of internationalization
of Marfrig is due to about 40 acquisitions made in
the last four years, most of them being abroad. It is
equally due to an operational base that includes
approximately 150 production, commercial and
distribution units and offices, spread over South
America, North America, Africa, Asia and Europe.
It is finally due to its scale of penetration of its
products, found in about 100 countries.
As regards Marfrig, 2010 marked the transformation
on a broad scale of the firm into a global operating
food company. It was precisely in this year the
company acquired Keystone, as well as other
companies, such as O'Kane Poultry, the Irish
producer.
The purchase of Keystone marked a new stage for
Marfrig, since this was a global operating company
in the areas of development, production, marketing
and distribution of foodstuffs based on beef, pork,
poultry and fish. It was not just another acquisition
made by Marfrig. It was the purchase of the
largest American private animal protein company,
according to Forbes 2009 America´s Largest
Private Companies, with an annual turnover of
US$ 6.5 billion, that raised Marfrig to an
Animal Business-Brasil_73
Argentina, Itália, Austrália, EUA, Uruguai, Paraguai,
México, China, Rússia, entre outros.
As aquisições recentes marcam as diretrizes de
internacionalização da JBS Friboi. A primeira delas deuse em 2007, quando a empresa consolidou-se como a
maior do mundo no setor de carne bovina com a
aquisição da Swift & Company nos Estados Unidos e na
Austrália. Com isso, a JBS Friboi ingressou no segmento de carne suína, apresentando-se no encerramento
daquele exercício como o terceiro maior produtor e
processador desse tipo de carne nos EUA. A segunda e
a terceira ocorreram em 2009, quando consolidou a
sua plataforma de produção de proteína no mundo.
Buscou diversificar sua atuação, adquirindo 64% do
capital social da norte-americana Pilgrim's Pride (no
segmento de frangos) e o Bertin (no segmento de
lácteos).
Não menos importante na história recente da JBS
Friboi, cabe ressaltar aqui, foi a aquisição das empresas norte-americanas National Beef e Smithfiel, em
2008, que, aliadas à aquisição da australiana Tasman,
permitiram a consolidação da liderança no setor
mundial de carnes.
Diante da crescente demanda mundial por alimentos,
a despeito das barreiras comerciais adotadas por
países desenvolvidos que mascaram suas ineficiências, a destacada atuação destas duas grandes empresas brasileiras corresponde a um exemplo de administração moderna, onde o planejamento estratégico
deixa sua marca. Não basta, portanto, internacionalizar-se: é necessário fazê-lo com competitividade e
eficiência. É o que têm feito a Marfrig e a JBS Friboi,
motivos de orgulho nacional.
Marcio Sette Fortes
Diretor da Sociedade Nacional de Agricultura - SNA
Professor da Faculdade de Relações Internacionais
do IBMEC
Conselheiro da Fundação Centro de Estudos do
Comércio Exterior - FUNCEX
Diretor da Federação das Câmaras de Comércio Exterior
Conselheiro da Associação de Comércio Exterior do
Brasil - AEB
outstanding position as the supplier of the entire
international chain of McDonald´s, Subway and
Campbell´s, among others.
The high level of JBS Friboi is due, in its turn, to the
presence of the company in all the continents. It has
140 production units in the world, with production
platforms and offices in the most varied countries,
such as Argentina, Italy, Australia, USA, Uruguay,
Paraguay, Mexico, China and Russia, among others.
Its recent acquisitions typify the internationalization
guidelines of JBS Friboi. The first occurred in 2007,
when, with the purchase of Swift & Company in the
United States and in Australia, the company became
consolidated as the largest one in the world in the
beef sector. With this purchase JBS Friboi entered
the pork segment, figuring at the end of the financial
year as the third largest producer and processor of
this kind of meat in the USA. The second and third
took place in 2009, when it consolidated its platform
of protein production in the world. It sought to
diversify its activities by acquiring 64% of the share
capital of the American company Pilgrim's Pride
(in chicken segment) and Bertin (in the segment of
dairy products).
No less important in the recent history of
JBS Friboi, it should be mentioned here, was
the acquisition in 2008 of the American companies
National Beef and Smithfield, which allied to its
purchase of the Australian company Tasman,
allowed it to consolidate its leading position in the
world meat sector.
In view of the growing world demand for food,
in spite of the commercial barriers imposed
by developed countries that conceal their
inefficiencies, the notable performance of these two
big Brazilian companies sets an example of modern
administration, where strategic planning leaves
its mark. Thus it is not enough to go international;
it is necessary to do so with competitiveness and
efficiency. This is what Marfrig and JBS Friboi,
two reasons of national pride, have done.
Director of Sociedade Nacional de Agricultura - SNA
Faculty Professor of International Relations of IBMEC
Member of Council of Foreign Trade Study Centre
Foundation - FUNCEX
Director of Federation of Foreign Chambers of Commerce
Member of Council of Brazilian Foreign Trade Association - AEB
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Fontes/Sources:
JBS Friboi: www.jbs.com.br/
Marfrig: www.marfrig.com.br/
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