Simposi Internacional La millora de les oportunitats educatives en una societat en transformació 1 Los derechos humanos como eje articulador del Curriculum Ulisses F. Araújo Unicamp - Universidade Estadual de Campinas - Brasil [email protected] RESUME N La propuesta que presentamos se apoya en la premisa de que una participación de la educación escolar en la construcción de la democracia y de la ciudadania debe enfocarse hacia contenidos estrechamente vinculados a lo cotidiano, a las preocupaciones sociales y a los intereses de la mayoría de la población. Desarrolamos experiencias con alumnado de enseñanza primaria y secundária de escuelas brasileñas, adoptando como eje articulador del curriculum los principios presentes en la Declaración de los Derechos Humanos. En torno a este eje giraron todos los contenidos escolares. Para desarrollar dicha propuesta empleamos la pedagogía de proyectos y adoptamos principios epistemológicos de los siguientes marcos teóricos: constructivismo de J.Piaget; teoría de la complejidad de E.Morin; la transversalidad de G.Sastre, M.Moreno Marimón y A.Leal; los métodos dialógicos de Puig Rovira y un planteo curricular empleando la metáfora de “red”. Esta concepción, anclada en los principios de inclusión, permite el desarrollo de una educación constructivista, dialógica e interaccionista que no fragmenta los acontecimientos y está abierta a las incertidumbres e indeterminaciones de lo cotidiano escolar. Evocar a noção de crise de valores na sociedade atual tornou-se lugar comum, reforçada pelo sentimento que toma conta dos atores que participam das instituições culturalmente responsáveis pela educação das futuras gerações: professores, professoras, alunos, alunas, pais e mães. Temas como indisciplina, violência, apatia e falta de perspectiva, de limites e de solidariedade da juventude, quando debatidos pela sociedade (em especial, pela mídia), geralmente recaem na idéia de uma suposta "perda" de determinados valores que, paulatinamente, teriam deixado de ser ensinados às novas gerações. Desse debate costuma resultar um certo saudosismo, de acordo com o qual as pessoas mais velhas passam a crer que a escola e a família deveriam retornar aos antigos modelos de Simposi Internacional La millora de les oportunitats educatives en una societat en transformació 2 educação, idealizados como eficientes tanto em relação aos conteúdos enfocados quanto em relação à transmissão de determinados valores alicerçados nos postulados religiosos. Sem querer aprofundar o debate sobre os modelos educacionais − autoritários e excludentes (voltados apenas aos interesses de uma pequena parcela da população) − experienciados por nossos pais, mães, professores e professoras, suspeitamos que, ao contrário do que muitos pensam, os valores morais então transmitidos não atendiam aos reais interesses de uma vida coletiva que se pretendesse justa, democrática e solidária. Falamos de suspeita porque, quando observamos o contexto social que nos foi legado pelas gerações anteriores, o que constatamos é a injustiça e a desigualdade, atestadas recorrentemente em cada esquina deste país. Será, portanto, que o caminho a ser trilhado para enfrentar a alegada crise de valores pressuporia o retorno aos modelos antigos? Pode ser, inclusive, que alguns dos problemas contemporâneos que se manifestam por meio dos atos de indisciplina, violência e falta de limites e de solidariedade da juventude sejam frutos de modelos que naturalizaram a exclusão de idéias e pessoas, tendo na doutrina liberal/capitalista seu sustentáculo ideológico. Parece-nos, aliás, que tais sintomas da contemporaneidade, pelo menos em parte, deitam suas raízes na crítica aos modelos autoritários desencadeada a partir dos anos 60. Em consonância com a busca da sonhada liberdade, os valores passados foram negados, o que abriu o campo de idéias e práticas para uma ideologia segundo as quais os valores seriam relativos e individuais, e que cada pessoa construiria seu próprio sistema de valores independentemente do grupo social em que estivesse inserido. É interessante notar que o rompimento com a forma autoritária de imposição de valores e a decorrente relativização destes poderiam ter conduzido ao esperado respeito à diversidade, mas não é o que temos observado. Uma vez que a exclusão de idéias e pessoas é sustentada por valores inerentes ao modelo liberal/capitalista dominante no mundo ocidental (dito globalizado), aliada ao incentivo ao consumismo desenfreado, o que temos presenciando é a formação de um modelo social que leva à constituição do que Richard Sennett (1988) denomina "tiranias da Intimidade", o que desencadeia a despotencialização do domínio público, e, por extensão, sua deslegitimação. Assim, é lícito supor que o questionamento puro e simples dos modelos autoritários, desacompanhado de uma consistente crítica social e política, esteja levando Simposi Internacional La millora de les oportunitats educatives en una societat en transformació 3 as relações sociais a patamares de individualismo que acabam por reforçar o egocentrismo e a anomia moral. A bem da verdade, tudo leva a crer que estamos diante de uma vertente do autoritarismo ainda mais violenta, posto que idéias e práticas de exclusão são justificadas e naturalizadas a partir de interesses individuais ou de grupos econômica e/ou ideologicamente dominantes. Em nossa opinião, a construção de relações sociais mais justas, solidárias e democráticas, que respeitem as diferenças físicas, psíquicas, ideológicas, culturais e sócio-econômicas de seus membros, não passa pelo "resgate" de valores passados tradicionais, pelas razões já enunciadas. Outrossim, ela passa necessariamente pela incorporação, nas práticas cotidianas, de princípios e valores já conhecidos mas que nunca foram de fato consolidados por nenhuma cultura, como os que foram consagrados em 1948 na Declaração Universal dos Direitos Humanos. A despeito de suas imperfeições, este documento, elaborado pela ONU (Organização das Nações Unidas), é resultado do esforço da comunidade internacional para estabelecer parâmetros que possam balizar as ações das diferentes culturas com relação ao que se considera como razoável quanto ao respeito aos direitos fundamentais dos seres humanos. O que nos interessa, por ora, é apontá-la como um caminho extremamente frutífero a ser adotado por aquelas pessoas interessadas em promover uma educação para a ética, a cidadania e a paz, rompendo assim tanto com valores ideologicamente comprometidos com determinados grupos quanto com valores relativistas que findam por promover o individualismo e a anomia moral. Os princípios presentes na Declaração Universal dos Direitos Humanos − a que de agora em diante nos referiremos como DUDH − situam-se na confluência democrática entre os direitos e liberdades individuais e os deveres para com a comunidade em que se vive. Juntamente à forma coletiva de acordo com a qual foi elaborada, a DUDH pode ser compreendida como a base para o que vem sendo chamado de valores universalmente desejáveis. Tal postulado questiona o princípio de que existem valores universais, ou seja, que valham para toda e qualquer cultura em qualquer momento histórico. O pressuposto moderno de universalidade vem sendo questionado nos mais diferentes campos teóricos. Também no campo dos valores torna-se difícil defendê-lo. Seu princípio é, de certo modo, autoritário, uma vez que impõe modelos de conduta estabelecidos por Simposi Internacional La millora de les oportunitats educatives en una societat en transformació determinadas culturas hegemônicas a 4 outras culturas menos complexas ou menos articuladas do ponto de vista sócio-político-econômico. Por exemplo, estabelecer que determinados valores de culturas ditas "civilizadas" são "superiores" e devem, portanto, ser transpostos para comunidades indígenas, foi a base ideológica empregada para a conquista e o subjugo de outros povos. Por não considerar a diversidade e as características específicas de cada cultura, torna-se autoritário obrigar que determinada cultura indígena, patriarcal, deva assumir o princípio da democracia ocidental e seus pressupostos universais de igualdade e equidade. Isso não significa, por outro lado, que devamos sucumbir ao relativismo total dos valores, como defendem algumas teorias culturalistas segundo as quais a moralidade é sempre "local", assentando-se nas relações, valores e interesses pessoais de cada sujeito ou grupo social, em cada momento histórico. Ou ainda, teorias que defendem o princípio de que não existem valores melhores do que outros. Não podemos conceber a idéia de que o valor da "generosidade", por exemplo, seja equiparado ao da "violência", como pensam determinados grupos (ver Araújo,1999, p.66). Não podemos concordar com a hipótese de que os valores assumidos por determinado grupo que defenda, por exemplo, a discriminação de pessoas "diferentes" devam ser respeitados pelo coletivo social democrático. A premissa de que existem valores universalmente desejáveis permite a sistematização de alguns valores que valham para a maioria das culturas (ou pelo menos para as culturas mais complexas), sem perder, ao mesmo tempo, a referência de que existem limites para essa universalização, enfatizando que os valores próprios de cada cultura devem ser respeitados e assumidos como tais. Esses valores, portanto, podem ser tomados por nossa cultura como desejáveis, mas isso não nos dá o direito de os impor às demais. Nessa discussão, defendemos o pressuposto de que os princípios e valores aludidos na DUDH, apesar de não dever ser impostos a toda e qualquer cultura existente hoje no planeta, para nós, ocidentais (e, mais especificamente, brasileiros), eles devem ser desejáveis quanto à sua universalização no contexto social. Vivemos hoje numa cultura que almeja a democracia, ou seja, uma ordem social pautada em valores como a justiça, a igualdade, a eqüidade e a solidariedade: os pressupostos basais da DUDH. Simposi Internacional La millora de les oportunitats educatives en una societat en transformació 5 Dessa maneira, a DUDH pode ser um guia de referência para a análise dos conflitos de valores vivenciados em nosso cotidiano e para a elaboração de programas educacionais que objetivem uma educação em valores. De maneira específica, vemos a DUDH como uma referência que pode servir de eixo articulador do currículo, em torno do qual girariam todos os conteúdos escolares. A educação em valores Definido um grupo de valores a serem enfocados na educação escolar (no nosso caso, elegemos aqueles contemplados pela DUDH), é necessário discutir a forma dos trabalhos. Isso porque o ensino de valores sempre foi encarado como uma "transmissão" que deve ser levada a cabo pelas gerações mais velhas. A maioria dos modelos educacionais parte do pressuposto epistemológico de que o conhecimento é exógeno em relação ao sujeito, que o internalizaria a partir de suas experiências sensoriais com o mundo externo. Assim, o conhecimento residiria nos livros, nos professores e professoras etc.; por meio do contato sensorial com essas "fontes", nossos alunos e alunas se apropriariam do conhecimento. No caso da educação moral não é diferente. Algumas pessoas supõem que a formação de pessoas virtuosas, portadoras de condutas moralmente relevantes, dá-se por meio de palestras e outros eventos informativos, de leituras de livros de conteúdo moral, ou mesmo por meio de novas tecnologias como vídeos e internet. Outros crêem que essa formação se dá por meio da convivência com pessoas que agem de maneira coerente com determinados valores morais, e que o exemplo é a melhor forma de se educar moralmente. Acreditamos que essas são concepções parciais e até certo ponto ingênuas. A realidade mostra-nos uma gama de casos de pessoas que travaram contato com as "melhores" informações e exemplos moralmente relevantes nas escolas, famílias e igrejas, e que hoje são adultos sem compromisso ético para com a sociedade ou outros seres humanos. O que esse modelo epistemológico não considera é o papel ativo do sujeito moral, o qual interpreta e confere sentido aos conteúdos oferecidos pelo mundo externo. Além disso, não leva em conta o papel dos sentimentos e emoções no funcionamento psíquico e na interpretação que o sujeito faz da realidade, desconsiderando a interação do ser humano com o universo à sua volta a partir dos valores previamente construídos. Simposi Internacional La millora de les oportunitats educatives en una societat en transformació 6 Adotamos, aqui, a premissa teórica de que os valores são construídos na interação mesma entre um sujeito imbuído de razão e emoções e um mundo constituído de pessoas, objetos e relações multiformes, díspares e conflitantes. Dessa maneira, os valores são construídos a partir do diálogo e da qualidade das trocas que são estabelecidas com as pessoas, grupos e instituições em que se vive. Se quisermos, portanto, promover uma educação em valores coerente com o discutido até aqui, devemos partir de temáticas significativas do ponto de vista ético (como é o caso daquelas contidas na DUDH), propiciando condições para que os alunos e alunas desenvolvam sua capacidade dialógica, tomem consciência de seus próprios sentimentos e emoções, e desenvolvam a capacidade autônoma de tomada de decisão em situações conflitantes do ponto de vista ético/moral. Esses são alguns dos princípios da teoria de educação moral elaborada por Puig (1998a) e que fornecem a base teórica para a construção de um currículo escolar que tenha a ética como eixo central e articulador dos conteúdos escolares. De uma certa maneira, esses também são os princípios defendidos por Larrosa (1994), ao citar o trabalho desse autor catalão. A ética como tema transversal Uma dúvida que costuma despontar entre os educadores conscientes da importância da inserção de temáticas relacionadas à ética no ensino regular diz respeito ao modo como isso deve se dar. Não somos partidários da proposta de que tal inserção deva ocorrer por meio de disciplinas específicas de ética, uma vez que esta continuaria a ser percebida de forma fragmentada, sem relação direta com os aspectos da vida cotidiana dos alunos e alunas. Defendemos, outrossim, a proposta de se incorporarem as temáticas relativas à ética na estrutura curricular das escolas de maneira transversal, sem abrir mão da importância dos conteúdos tradicionais. Mas de que conceito de transversalidade estamos nos referindo? Não é aquele proposto pelo MEC nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e que, de fato, não alteram o eixo curricular das escolas. Tal proposta, em nossa opinião, apenas incorpora uma idéia de vanguarda mas continua propondo-a de forma equivocada, uma vez que Simposi Internacional La millora de les oportunitats educatives en una societat en transformació 7 sua concepção continua sendo a de um currículo fragmentado, compartimentalizado, e que mantêm os conteúdos tradicionais como sendo a finalidade da educação. Nossa concepção de transversalidade é baseada nas proposições de Moreno, Sastre, Busquets e Leal, contidas na obra Temas Transversais em Educação (Ática,1997), segundo as quais só tem sentido propor a inclusão dos temas transversais na educação (ética, sexualidade, meio ambiente, sentimentos, relação capital-trabalho, consumo, dentre outros) se houver uma mudança no eixo "vertebrador", de sustentação dos conteúdos escolares. Essa proposta apóia-se na premissa de que a participação da educação escolar na construção da democracia e da cidadania deve se dar enfocando conteúdos estreitamente vinculados ao cotidiano, às preocupações sociais e aos interesses da maioria da população, diferentemente do ensino tradicional. Assim, Moreno propõe uma mudança radical na inter-relação entre conteúdos tradicionais e temas transversais, tornando estes o eixo longitudinal, ou vertebrador, dos conteúdos escolares. De acordo com a autora, essa torção traz uma concepção totalmente diferente de ensino, que permite encarar as disciplinas atualmente obrigatórias do currículo não mais como fins em si mesmas, mas como meios para se atingir outras finalidades, mais de acordo com os interesses e necessidades da maioria da população. Uma educação mais democrática, portanto. É a mesma concepção que norteia, em nossa opinião, duas coleções de livros que vêm sendo publicadas recentemente no Brasil e que contribuem para dar um novo sentido ao currículo de nossas escolas: O Sentido da escola, organizada por Nilda Alves e Regina Leite Garcia (D,P & A Editora); e Educação em Pauta - série Temas Transversais, coordenada por Ulisses F. Araújo, um dos autores deste trabalho (coedição Editora da Unicamp e Editora Moderna). Com o intuito de concretizar tal proposta no cotidiano escolar, em nossa opinião, faz-se necessário integrar interdisciplinarmente os conteúdos tradicionais abordados na escola e os temas transversais. Ou seja, é imprescindível reconhecer que a transversalidade só faz sentido se atrelada a uma concepção interdisciplinar de conhecimento, e que o conteúdo que promove a integração, ou que amarra os diferentes conteúdos, conferindo-lhes novos significados, pode ser a Ética. Dessa maneira, as temáticas relacionadas à ética, como aquelas presentes na DUDH, podem tornar-se a Simposi Internacional La millora de les oportunitats educatives en una societat en transformació 8 preocupação central da proposta curricular das escolas, em torno das quais devem orbitar as demais temáticas tradicionais e as outras transversais. Nossa proposta curricular − a introdução do estudo sistemático dos direitos humanos na sala de aula, entendendo a DUDH como um fôro de discussão ética a ser trabalhado de maneira transversal − só poderá ser integralmente compreendida se ancorada na concepção de transversalidade adotada acima. Teoria da complexidade e o cotidiano escolar Para introduzir esse trabalho nas escolas, existe uma pergunta de fundo que circunda a temática: será que compartimentalizando a realidade concreta, estudando um aspecto de cada vez, aos poucos poder-se-ia ter uma compreensão do todo e encontrar respostas coerentes para a complexidade da natureza humana e suas relações com o mundo? Tal maneira de aproximar-se da realidade e de buscar respostas para perguntas que rodeiam nossa mente há muito vem sendo questionada pelos novos paradigmas das ciências, com reflexos claros no campo da educação. Embora estes novos caminhos possam parecer óbvios para muita gente que deles já se aproximaram, acredito que a grande maioria dos profissionais que trabalham na educação ainda pensam que esquartejando a realidade, buscando compreender suas partes, se alcançará a visão da totalidade, se terá a noção de completude. É a força de uma concepção científica que fundamenta a cultura ocidental e que, de fato, é muito difícil de romper. Uma forma de se romper com este modelo é por meio da aproximação ao conceito de pensamento complexo e de visões sistêmicas sobre a natureza humana e suas relações com o mundo. Para apresentar a idéia de complexidade tenho como referência o trabalho de Edgard Morin (1997). Para esse autor, o pensamento capaz de superar o desafio da complexidade é aquele capaz de tratar, de dialogar, de negociar com o real (p.22). De acordo com Morin (p.23), enquanto o pensamento simplificador desintegra a complexidade do real, o pensamento complexo integra, o mais possível, os modos simplificados de pensar. Por outro lado, o pensamento complexo aspira o conhecimento multidimensional e sabe, desde sempre, que o conhecimento completo é impossível. Simposi Internacional La millora de les oportunitats educatives en una societat en transformació 9 Assim, o princípio de incompletude e de incerteza estão por detrás do pensamento complexo. O paradigma da simplificação continua refletido na educação formal. Percebe-se que a educação atual encontra-se alicerçada em uma forma simples de compreensão da realidade, pautada em princípios de disjunção, redução e abstração. Estamos em um momento de transição de paradigmas que solicita uma maior abertura por parte daqueles que lidam com a ciência, e com a educação. A forma simplificante de pensar e analisar a realidade já não satisfaz as necessidades da ciência e da educação e a forma complexa de se ver o mundo é um dos caminhos que devem ser considerados neste momento de transição. Esta abertura a novos paradigmas permite que educadores e pesquisadores da área de educação se debrucem sobre a escola e sobre as relações que ali ocorrem com um olhar diferente, não reducionista. Quando se muda a maneira de encarar a escola, adotando o pensamento complexo, tem-se outra perspectiva dos fenômenos. A maior dificuldade que professores e profissionais da educação encontram é de fazer a mudança na maneira de pensar, mas uma vez feito isto não é que os novos caminhos que se descortinam sejam mais fáceis, pois seria contraditório à complexidade, mas se percebem outras dimensões da realidade. Isto não significa que pensar os fenômenos da escola de forma complexa seja abandonar a visão parcial dos fatos. Como explicitamos anteriormente nas idéias de Edgard Morin, deixar o pensamento reducionista não é pensar de maneira holista, tentando captar a totalidade dos fenômenos, pois isto manteria a visão dicotômica da realidade. O grande avanço do pensamento complexo é coordenar, em uma mesma perspectiva, os aspectos parciais e de totalidade da realidade. É o princípio de unidade complexa. A novidade no pensamento complexo é tirar o disjuntivo “ou” do pensamento sobre os fenômenos e perceber que todos os fatores levantados, e outros mais ainda não considerados, podem ter influência no problema analisado. A implementação dos direitos humanos como eixo articulador do currículo Nos últimos três anos vimos implementando essa proposta em diversos projetos de intervenção desenvolvidos em escolas públicas e privadas do interior do Estado de São Paulo e também dentro da própria universidade. A despeito das enormes Simposi Internacional La millora de les oportunitats educatives en una societat en transformació 10 resistências e dificuldades enfrentadas em sua efetivação, os resultados obtidos em muitos locais são significativos e animadores para continuarmos lutando pelos ideais de construção de uma escola mais justa e democrática. Trabalhamos nessas instituições por meio de projetos, embasados nos pressupostos de complexidade, transversalidade, dialogicidade e de construção do conhecimento apontados anteriormente Para exemplificar o tipo de projeto que desenvolvemos, tendo os artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos como referência, apresentamos a seguir um modelo de planejamento curricular coerente com os paradigmas teóricos e epistemológicos discutidos. Empregando a metáfora de "redes neurais" como modelo, o exemplo que aqui demonstramos é reflexo de um planejamento "vivo" que foi se constituindo durante o trabalho, a partir das perguntas dos alunos e alunas sobre a temática e incorporando o dinamismo das interações entre os saberes cotidianos, os saberes históricamente construído por nossa cultura, e os interesses docentes e discentes. Tudo isso tendo a ética, e seus princípios, articulando o currículo. Esta é apenas uma imagem, mas creio que pode permitir uma visualização do tipo de trabalho que estamos implementando em escolas brasileiras, com resultados concretos e efetivos na construção da cidadania. Simposi Internacional La millora de les oportunitats educatives en una societat en transformació 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS • ARAÚJO, Ulisses F. (1999). Conto de escola: a vergonha como um regulador moral. São Paulo, Editora Moderna e Editora da Unicamp. • ARAÚJO, Ulisses F (1999). Respeito e Autoridade na escola. in: Aquino, J. 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