UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Fisioterapia DermatoFuncional Fernanda Perussi Pereira DRENAGEM LINFÁTICA MANUAL E SUA APLICABILIDADE NO TRATAMENTO DE LINFEDEMA DE MEMBROS INFERIORES: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA LINS – SP 2010 FERNANDA PERUSSI PEREIRA DRENAGEM LINFÁTICA MANUAL E SUA APLICABILIDADE NO TRATAMENTO DE LINFEDEMA DE MEMBROS INFERIORES: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Monografia apresentada à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Fisioterapia DermatoFuncional sob a orientação dos Professores Heloisa Helena Rovery da Silva e Flávio Piloto Cirillo. Lins – SP 2010 P491d Pereira, Fernanda Perussi Drenagem Linfática Manual e sua Aplicabilidade no Tratamento de Linfedema de Membros Inferiores: Revisão Bibliográfica / Fernanda Perussi Pereira. – – Lins, 2010. 44p. il. 31cm. Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UNISALESIANO, Lins, SP para Pós-Graduação “Lato Sensu” em Fisioterapia Dermato-Funcional, 2010. Orientadores: Flávio Piloto Cirillo; Heloisa Helena Rovery da Silva 1. Drenagem Linfática Manual. 2. Linfedema. 4. Sistema Linfático. I Título. CDU 615.8 Dermato-Funcional. 3. FERNANDA PERUSSI PEREIRA DRENAGEM LINFÁTICA MANUAL E SUA APLICABILIDADE NO TRATAMENTO DE LINFEDEMA DE MEMROS INFERIORES: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, para obtenção do título de especialista em Fisioterapia Dermato-Funcional Aprovada em:___/___/____ Banca Examinadora: Prof. M.Sc. Flávio Piloto Cirillo Mestre em Anatomia pela Universidade de São Paulo _______________________________________________________________ Profª M.Sc. Heloisa Helena Rovery da Silva Mestre em Administração pela CNEC/FACECA – MG _______________________________________________________________ Lins – SP 2010 (In Memorian) “A você, que sorriu, mesmo estando chorando, A você, que ajudou, quando na verdade era quem deveria ser ajudado, A você, que doou, mesmo sabendo que era quem precisava... A você que ficou triste, que sorriu, que se emocionou, A você, que se prontificou, que foi solidário, que foi companheiro, que foi guerreiro.” Dedico este trabalho, pai (Idevaldo), a você, por tudo que fez por mim, por ter me amado e me ensinado a viver. Mesmo longe deste plano, sinto sua presença em todos os momentos da minha vida. Amo você. Fernanda AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, por estar sempre presente na minha vida, e me presenteando com saúde e proteção durante minha caminhada. À minha mãe Vera, que sempre está do meu lado, me apoiando e me encorajando em tudo que faço. Faz o possível e o impossível para que meus sonhos se realizem. Tenho muito orgulho de tê-la como mãe, guerreira, que luta sempre para dar o melhor para nossa família. Obrigada por tudo, te amo muito! À minha irmã Flávia, que me contagia sempre com sua alegria, e que sempre me dá forças, com palavras de amor e de incentivo. Amo-te, obrigada por ser minha melhor amiga. Ao meu namorado Pablo, agradeço por me fazer feliz e me sentir amada. Obrigada por dividir comigo os sonhos e pela compreensão. Amo muito você. Aos orientadores Heloisa Helena e Flávio Cirillo, que além de me guiarem nessa pesquisa, me ajudaram em vários momentos com sabedoria e delicadeza. Enfim agradeço a todas as pessoas que passaram por minha vida, colegas de sala de aula, em especial a Rachel, a Ivy e a Mariana, que de um modo ou de outro me incentivaram e me ajudaram nos momentos difíceis e também compartilharam muitos momentos de felicidade. RESUMO O sistema linfático tem um papel muito importante devido a suas funções na formação, transporte, e filtração de células linfóides, e no equilíbrio circulatório, como reabsorção, e transporte do líquido e da carga protéica excedente do espaço intersticial. Um distúrbio neste sistema leva a um quadro disfuncional que varia de acordo com o fator desencadeante. O linfedema é um quadro patológico de desordem vascular, onde se observa um déficit no equilíbrio das trocas de líquidos a nível intersticial. A técnica usada na fisioterapia atua sobre os trajetos dos vasos linfáticos, seguindo suas correntes derivativas, promovendo a reabsorção e condução do líquido acumulado da área edemaciada para as áreas normais. São utilizadas manobras específicas descongestivas manuais, denominada drenagem linfática manual. Os resultados obtidos com está técnica são de evolução bem satisfatória, principalmente se for iniciada prontamente ao diagnóstico. Alguns métodos auxiliares como meias de contenção elástica, enfaixamentos compressivos, exercícios específicos, pressoterapia, ajudam muito na manutenção dos resultados da drenagem linfática manual, e evitam recidivas. Conclui-se através deste estudo, baseado em revisão bibliográfica, que com conhecimento específico da anatomia linfática e da fisiologia, pode-se com base nestes dados, reequilibrar e reduzir o edema, através da drenagem linfática manual. Confirmando desse modo que a intervenção da fisioterapia se torna indispensável sob o aspecto reabilitador e preventivo nos casos de linfedemas. Sendo a fisioterapia dermato-funcional recente, ainda há muito a ser explorado, e novas pesquisas devem ser realizadas na busca de evidências científicas para o melhor embasamento dos recursos e técnicas disponíveis ao fisioterapeuta. Palavras-chave: Drenagem linfática manual. Dermato-Funcional. Linfedema. Sistema linfático. ABSTRACT The lymphatic system is a very important role due to their roles in the formation, transport, and filtration of lymphoid cells, circulatory and balance, such as absorption and transport of liquid cargo and excess protein in interstitial space. A disturbance in this system leads to a dysfunctional framework that varies according to the triggering factor. Lymphedema is a pathological disorder of vascular, where we observe a deficit in the balance of trade in the interstitial fluid level. The technique used in physical therapy acts on the paths of the lymphatic vessels, following its current derivative, driving and promoting the reabsorption of accumulated fluid from the swollen area to the normal areas. Specific maneuvers are used decongestive manuals, called manual lymphatic drainage. The results obtained with this technique are very satisfactory progress, especially if initiated immediately at diagnosis. Some auxiliary methods such as elastic stockings restraint, compressive bandages, specific exercises, preassure, very helpful in keeping the results of manual lymphatic drainage, and prevent relapses. We conclude from this study, based on literature review, that with specific knowledge of lymphatic anatomy and physiology, it can be based on these data, restore stability and reduce edema by lymphatic drainage manual. Thereby confirming that the intervention of physiotherapy is indispensable from the point where rehabilitation and prevention of lymphedema. As the recent physiotherapy dermato-functional, there is still much to be explored and further research should be conducted in search of scientific evidence for the best basement of resoucers and techniques available to the physiotherapist. Keywords: manual lymphatic drainage. Dermato-Funcional. Lymphedema. Lymphatic system. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Vasos sanguíneos e linfáticos.................................................. 14 Figura 2: Filamentos de Casley-Smith e orifício zonulae......................... 16 Figura 3: Estrutura do linfangion.............................................................. 17 Figura 4: Esquema do sistema linfático cutâneo..................................... Figura 5: Ductos linfáticos........................................................................ 19 Figura 6: Troncos e ductos linfáticos....................................................... 20 Figura 7: Grupos de linfonodos mais importantes................................... 21 Figura 8: Circulação sanguínea e transporte linfático.............................. 23 Figura 9: Linfedema primário bilateral congênito..................................... 27 18 Figura 10: Linfedema primário bilateral precoce........................................ 28 Figura 11: Linfedema secundário unilateral............................................... 29 Figura 12: Enfaixamento compressivo....................................................... 40 Figura 13: Contenção elástica................................................................... 40 Figura 14: Pressoterapia............................................................................ 41 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Parâmetros para diagnóstico diferencial................................... 30 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS DLM Drenagem Linfática Manual SNC Sistema Nervoso Central SUMÁRIO INTRODUÇÃO............................................................................................... 10 CAPÍTULO I – SISTEMA LINFÁTICO.......................................................... 13 1 DEFINIÇÃO..................................................................................... 13 1.1 Anatomo-fisiologia............................................................................ 14 1.1.1 Vasos linfáticos................................................................................ 1.1.2 Capilares linfáticos........................................................................... 15 1.1.3 Pré-coletores.................................................................................... 16 1.1.4 Vasos coletores................................................................................ 17 1.1.5 Troncos linfáticos............................................................................. 1.1.6 Ductos linfáticos............................................................................... 19 1.1.7 Linfonodos....................................................................................... 20 1.1.8 Linfa................................................................................................. 22 1.2 Linfáticos dos membros inferiores................................................... 23 1.2.1 Vasos linfáticos superficiais............................................................ 24 1.2.2 Vasos linfáticos profundos............................................................... 24 1.2.3 Linfonodos dos membros inferiores................................................. 25 1.3 Fisiopatologia................................................................................... 25 1.3.1 Linfedema........................................................................................ 25 1.3.1.1 Linfedema primário.......................................................................... 26 1.3.1.2 Linfedema secundário..................................................................... 28 1.3.2 Graus de intensidade dos linfedemas............................................. 29 1.3.3 Diagnóstico...................................................................................... 29 1.3.4 Tratamento...................................................................................... 31 14 18 CAPÍTULO II – DRENAGEM LINFÁTICA MANUAL.................................... 32 2 DEFINIÇÃO..................................................................................... 32 2.1 Efeitos da drenagem linfática manual.............................................. 32 2.2 Indicações da drenagem linfática manual na fisioterapia................ 2.3 Contra-indicações da drenagem linfática manual............................ 34 33 2.4 Métodos de drenagem linfática manual........................................... 34 2.4.1 Método Vodder................................................................................ 35 2.4.2 Método Leduc.................................................................................. 36 2.5 Drenagem linfática manual dos membros inferiores........................ 37 2.6 Fundamentações gerais da drenagem linfática manual.................. 38 2.7 Métodos auxiliares........................................................................... 39 CONCLUSÃO................................................................................................ 42 REFERÊNCIAS............................................................................................. 43 10 INTRODUÇÃO A fisioterapia dermato-funcional é uma área que vem acabando com o empirismo dos tratamentos estéticos, uma vez que atua com comprovação científica dos métodos e técnicas utilizados para o tratamento de diversas patologias. (CUNHA et al., 2007) Por ser uma área relativamente nova, com poucas pesquisas, é fundamental buscar mais conhecimento, através de estudos, e fornecer aos futuros profissionais da área e aos que aí estão para o crescimento de todos e o avanço da profissão. Nesta pesquisa será discutida a aplicação da Drenagem Linfática Manual (DLM) no tratamento do linfedema de membros inferiores. O linfedema, ou edema linfático, “é a tumefação dos tecidos moles pelo acúmulo de fluído intersticial rico em proteínas, causado por uma deficiência na circulação do fluxo linfático”. (VOGELFANG, 1995, p. 45). Ele pode acometer um ou vários segmentos corporais pela obstrução, destruição, remoção cirúrgica ou ausência de alguma rede linfática. (GUIRRO; GUIRRO, 2002) A DLM é um dos métodos de terapia mais utilizados por profissionais da saúde, sendo “reconhecida e empregada proporcionando a obtenção de melhores resultados em vários procedimentos, evitando assim complicações como o linfedema”. (BORGES, 2006, p. 341). É uma técnica específica de massagem e caracteriza-se por movimentos muito suaves e precisos. (DEITOS, 2005) Sua responsabilidade é drenar os líquidos excedentes que banham as células, mantendo assim o equilíbrio hídrico dos espaços intersticiais, e também promove a evacuação de dejetos provenientes do metabolismo celular. (LEDUC; LEDUC, 2000) A drenagem linfática manual foi descrita pela primeira vez em 1892, por Winiwater, utilizando-se somente dos conhecimentos que tinha na época. (DEITOS, 2005) Outra descrição ocorreu por volta de 1930, pelo terapeuta Emil Vodder, dinamarquês, e sua esposa, Estrid Vodder, na cidade de Cannes, onde muitos de seus pacientes possuíam doenças crônicas respiratórias, e percebendo que 11 estes apresentavam gânglios do pescoço intumescidos e rígidos, intuitivamente veio a idéia de massageá-los suavemente. (TACANI; TACANI, 2008) Dr. Vodder através da experiência com massagem e de seus resultados, iniciou um trabalho que sistematizou a técnica nomeada drenagem linfática manual, sendo publicada em 1936 em Paris. (GODOY; GODOY, 1999) Segundo os autores Tacani e Tacani (2008) e Souza (2009) a partir daí, foi desenvolvida uma base científica e criadas ‘linhas de trabalho’, por pesquisadores especializados em linfologia, dentre eles: Mislin, Collard, Asdonk, Foldi, Leduc, Kuhnke e Cashley-Smith. Os conhecimentos sobre DLM foram ampliados ainda mais quando “nos últimos anos de sua vida, Vodder cedeu a representação de seu método à escola de Walchsee na Áustria e ao professor Foldi, na Alemanha”. (DEITOS, 2005, p. 35). Foldi estudou as vias linfáticas da cabeça e suas relações com o líquor cérebro espinhal na década de 60. (PICCININ et al., 2009) A equipe de Foldi nos anos 70 começou a Teoria Complexa Descongestiva (TCD) destacando a DLM como parte fundamental desse tratamento, realizado em regime de internato hospitalar e utilizando também como parte do esquema, exercícios linfomiocinéticos, drenagem postural, cuidados com a pele e bandagem com ataduras de baixíssima elasticidade. (DEITOS, 2005) Os professores Albert Leduc e Olivier Leduc adaptaram em 1977 o método do professor Foldi e de Vodder, e demonstraram a ação da DLM através da radioscopia. (LEDUC; LEDUC, 2000) “Em 1978, no Congresso Internacional da Associação para Drenagem Linfática Manual, na Áustria, o professor Krahe comprovou a eficácia da técnica de DLM em pacientes mastectomizadas”. (PICCININ et al., 2009, p.11). Desenvolvendo ainda mais a técnica, Kubik fez uma descrição com muitos detalhes da anatomia do sistema linfático no ano de 1985, possibilitando uma maior aplicação fisiológica da DLM. (TACANI; TACANI, 2008) “Atualmente, a drenagem linfática manual está representada principalmente por duas técnicas: a de Leduc e a de Vodder”. (GUIRRO; GUIRRO, 2002, p. 74). A proposta deste trabalho foi relatar o emprego da DLM no tratamento de linfedema de membros inferiores, através de uma revisão bibliográfica e 12 responder o problema de pesquisa, a DLM é eficaz no tratamento da patologia linfedema? Sendo assim, no primeiro capítulo foi abordada uma revisão anatômica e fisiológica do sistema linfático, descrevendo como ocorre seu funcionamento e quais suas funções para o organismo, e que quando desequilibrado acarreta alterações que prejudicam todo seu funcionamento, podendo desenvolver em linfedema, que também será abordado. No segundo capítulo foi abordada a drenagem linfática manual, descrevendo as técnicas, modo de execução, suas indicações, contraindicações e sua empregabilidade no tratamento de linfedema de membros inferiores. 13 CAPÍTULO I SISTEMA LINFÁTICO 1 DEFINIÇÃO O sistema linfático tem origem embrionária no mesoderma e desenvolvese junto aos vasos sanguíneos. Podem ocorrer modificações no desenvolvimento embrionário durante a vida intra-uterina, dando para cada indivíduo características morfológicas individuais. (DEITOS, 2005) De acordo com Piccinin et al. (2009) o sistema linfático está presente em todas as regiões dos membros do corpo humano. “Só a cartilagem, o osso, o epitélio e os tecidos do Sistema Nervoso Central (SNC) não possuem vasos linfáticos”. (DEITOS, 2005, p. 14). O sistema linfático é um sistema vascular que está relacionado intimamente, anatomicamente e fisiologicamente ao sistema cardiovascular e que desempenha importantes funções no organismo, como: retorno do líquido intersticial para a corrente sanguínea, destruição de microorganismos e partículas estranhas da linfa e respostas imunes específicas, como a produção de anticorpos. (GUIRRO; GUIRRO, 2004) Segundo Jacques (2005) e Haschich (2005) por ser uma via acessória de mão única da circulação sanguínea e permitir que os líquidos dos espaços intersticiais possam fluir para o sangue, o sistema linfático, através de seus vasos linfáticos, transportam proteínas e partículas grandes que não poderiam ser removidas dos espaços teciduais pelos capilares sanguíneos. “A função do sistema linfático em remover as proteínas dos espaços intersticiais, é de fundamental importância para a homeostasia orgânica, e sem ela morreríamos num período de 24 horas”. (RIBEIRO et al., 2008, p. 230). O sistema linfático consiste de um sistema vascular, constituído por capilares linfáticos, vasos coletores e troncos linfáticos, por linfonodos, que servem como filtros do líquido coletado pelos vasos e por órgãos linfóides, que incluem tonsilas, baço e o timo, encarregados de recolher, na intimidade dos tecidos, o líquido intersticial, e reconduzi-lo ao sistema vascular sanguíneo. (HASCHICH, 2005) 14 Possui ainda, vasos superficiais e profundos, com grande capacidade de reparação e formação de novos vasos depois de danos sofridos. (GUIRRO; GUIRRO, 2002) 1.1 Anatomo-fisiologia 1.1.1 Vasos linfáticos “A expressão ‘vasos linfáticos’ foi concebida pelo dinamarquês Thomas Bartholin, que publicou seu trabalho sobre os vasos linfáticos em 1653”. (HERPERTZ, 2006, p.3). Fonte: Herpertz, 2006, p.3 Figura 1: Vasos sanguíneos e linfáticos 15 Segundo Haschich (2005) os vasos linfáticos consistem de uma camada fina de endotélio, similar aos capilares sanguíneos, só que bem mais permeáveis, permitindo assim a drenagem do líquido tecidual que não pode ser absorvido diretamente na corrente sanguínea, pois há partículas muito grandes ou quantidade excessiva para entrar nos capilares sanguíneos. Os vasos linfáticos iniciam-se numa rede densa de capilares situada entre os capilares sanguíneos, e aumentam progressivamente seu calibre, formando à esquerda por último, o canal torácico, e à direita, o canal linfático direito, terminando no ângulo das veias jugulares esquerda e direita com as veias subclávias, onde ocorre a comunicação linfática e venosa. (HASCHICH, 2005) Existem no sistema linfático os vasos profundos e os superficiais, sendo que, os profundos geralmente seguem as veias profundas, que via de regra caminham com as artérias, e, os superficiais passam através da fáscia superficial e os linfonodos relacionados, onde as grandes veias superficiais se anastomosam com as profundas. (GUIRRO; GUIRRO, 2002, p.24). De acordo com Borges (2006) os vasos linfáticos são classificados em ordem crescente de tamanho e complexidade, em capilares linfáticos, précoletores, vasos coletores e troncos linfáticos. 1.1.2 Capilares linfáticos Os vasos linfáticos originam-se como capilares linfáticos, sendo eles microscópicos nos espaços intercelulares e podem ser encontrados em todo o corpo, com exceção do tecido avascular, do SNC e da medula óssea vermelha. (DEITOS, 2005) Compostos de um cilindro de células endoteliais, os capilares linfáticos são finos e transparentes, apresentam um lúmen maior que o dos capilares sanguíneos e quanto ao tamanho também, são dispostos sob a forma de redes fechadas e intercomunicam-se livremente. (HASCHICH, 2005) Os capilares linfáticos, também chamados de linfáticos iniciais, originamse em fundos cegos e assemelham-se a ‘dedos de luvas’, para formarem unidos os coletores aferentes ou pré-nodais. (GODOY; GODOY, 1999) Apresentam como diferenciação anatômica e presença de filamentos de ancoragem, prolongamentos das células endoteliais que se originam na face externa da região de contato intercelular nas 16 junções fechadas, que se fixam às fibras colágenas e elásticas do tecido conjuntivo do interstício. (BORGES, 2006, p. 346). Estes filamentos de proteção são também denominados filamentos de Casley-Smith, sendo compostos de ácido hialurônico, e têm como função o controle da entrada de líquido pela abertura e fechamento do orifício denominado zonulae, não permitindo que a linfa retorne. (BORGES, 2006) Fonte: Borges, 2006, p. 346 Figura 2: Filamentos de Casley-Smith e orifício zonulae Segundo Guirro e Guirro (2004) os capilares linfáticos são tão permeáveis que, passam diretamente para o seu interior grandes partículas e moléculas de proteínas, cristalóides e água. Herpertz (2006) afirma que varia muito o número de linfáticos iniciais existentes nos órgãos e no corpo humano, sendo mais numerosos na pele e nas mucosas. 1.1.3 Pré-Coletores Estes vasos têm um diâmetro maior que o dos capilares linfáticos e sua aparência assemelha-se a ‘contas de rosário’, pois são repletos de válvulas que asseguram o fluxo da linfa em uma só direção, sendo separadas por um espaço chamado linfangion. (BORGES, 2006) De acordo com Leduc e Leduc (2000) os vasos pré-coletores ou vasos pós-capilares possuem praticamente a mesma estrutura dos capilares linfáticos, sendo que a diferença está no cilindro endotelial interno que é coberto de tecido conjuntivo e elementos musculares e elásticos, que proporcionam alongamento e contratilidade. 17 Fonte: Borges, 2006, p.347 Figura 3: Estrutura do linfangion 1.1.4 Vasos coletores O fluxo linfático provém de várias regiões do corpo, começando pelos capilares linfáticos, passando pelos pré-coletores e coletores de calibre cada vez maior, e desemboca nos dois principais e maiores coletores linfáticos, o canal linfático direito e o ducto torácico, sendo que ambos devolvem a linfa ao sistema venoso na junção das veias jugular interna e subclávia, estando o canal linfático no lado direito e o ducto torácico à esquerda. (HASCHICH, 2005) Para Guirro e Guirro (2002) os coletores são vasos linfáticos de maior calibre, têm estrutura semelhante à das grandes veias e compõem-se de três camadas diferentes, sendo elas: a) túnica íntima- é a mais interna e apresenta um revestimento endotelial de fibras elásticas dispostas longitudinalmente, cúbicas quando o vaso está contraído e achatadas quando o vaso está relaxado; b) túnica média- formada por fibras musculares lisas de formato cilíndrico que compõe a maior parte da parede do vaso; c) túnica adventícia- é a mais externa e espessa de todas, formada por fibras colagenosas dispostas longitudinalmente, entre as quais existem fibras elásticas e feixes de musculatura longitudinal. Os coletores linfáticos são estruturas valvuladas, sendo que suas válvulas se projetam no sentido da corrente linfática, evitando assim o refluxo da linfa. (BORGES, 2006) 18 Fonte: Herpertz, 2006, p. 7 Figura 4: Esquema do sistema linfático cutâneo 1.1.5 Troncos linfáticos São grandes vasos linfáticos que tem como função recolher toda linfa proveniente de diferentes regiões do corpo, cuja estrutura é igual ao dos coletores, mas com paredes mais espessas, possuindo um endotélio, uma túnica muscular e uma colágena, e como revestimento uma membrana adventícia. (COUTO, 2004) Vogelfang (1995) descreveu que os troncos linfáticos são onze no total e são nomeados da seguinte forma: troncos lombares, tronco intestinal, troncos broncomediastinais, troncos subclávios, troncos jugulares e troncos descendentes intercostais. Borges (2006) e Vogelfang (1995) descreveram anatomicamente os troncos linfáticos: a) formados pelos vasos linfáticos que drenam formados pelos vasos linfáticos que drenam troncos lombares- formados pelos vasos linfáticos que drenam os membros inferiores, sistema urinário e genital, estruturas anatômicas irrigadas pela artéria mesentérica inferior e parede abdominal infra-umbilical; b) tronco intestinal- formado pelos vasos linfáticos eferentes dos linfonodos celíacos e mesentéricos superiores; c) troncos broncomediastinais- formados pelos vasos linfáticos que drenam as paredes ântero-superiores do tórax e abdômen, porção 19 anterior do diafragma, pulmão, coração e face visceral do lobo direito do fígado; d) troncos subclávios- formados pelos vasos linfáticos que drenam os membros superiores, a parede abdominal supra-umbilical e a parede anterior do tórax; e) troncos jugulares- formados pelos vasos linfáticos que drenam a cabeça, face, pescoço e parte posterior da região cervical; f) troncos descendentes intercostais- formados pelos vasos linfáticos que drenam a região profunda da parede posterior do tórax. 1.1.6 Ductos linfáticos De acordo com Borges (2006) ductos linfáticos são os vasos da porção final da drenagem linfática, que desembocam no sistema venoso, no nível da junção subclávio-jugular. Fonte: Guirro; Guirro, 2002, p.29 Figura 5: Ductos linfáticos Os ductos linfáticos são em número de dois, sendo um o ducto linfático direito, que drena uma parte do lado direito do corpo, e o outro, ducto torácico, que drena o lado esquerdo do corpo e o restante do lado direito. (GODOY; GODOY, 1999) 20 Segundo Vogelfang (1995) o ducto linfático direito forma-se pelos troncos jugular direito, subclávio direito e broncomediastinal direito, desembocando normalmente na junção jugulo - subclávio direita, e ducto torácico que se forma pela união dos troncos descendentes intercostais, lombares e intestinal que geralmente formam uma dilatação entre T12 e L2, chamada cisterna do quilo, localizada entre a veia ázigo e a artéria aorta. “Assim, fica completo todo o sistema de drenagem (retorno sanguíneo e linfático para o coração) de todo fluido e substância mobilizada pelo sistema circulatório”. (GODOY; GODOY, 1999, p. 12). Fonte: Borges, 2006, p. 348 Figura 6: Troncos e ductos linfáticos 1.1.7 Linfonodos Os linfonodos são conhecidos também como nodos linfáticos ou gânglios, sendo que este último nome é utilizado erroneamente para 21 caracterizar uma estrutura do sistema linfático, pois o termo gânglio é restrito ao sistema nervoso. (GUIRRO; GUIRRO, 2002) Há muitos linfonodos ao longo dos coletores linfáticos, de modo que a linfa tenha que atravessar em seu caminho um, ou na maior parte das vezes diversos linfonodos. (HERPERTZ, 2006) De acordo com Herpertz (2006) e Godoy e Godoy (1999) são cerca de 500 a 700 o número de linfonodos distribuídos em todo o corpo humano, representando em torno de 2 a 3% do peso corporal. Fonte: Herpertz, 2006, p. 10 Figura 7: Grupos de linfonodos mais importantes Os linfonodos apresentam formas estruturais diferentes, podendo ser esféricos ou elipsóides, variando também no tamanho e coloração. (GUIRRO; GUIRRO, 2002) “São formados por tecido reticuloendotelial revestidos por uma cápsula de tecido conjuntivo”. (BORGES, 2006, p. 349). Nos linfonodos, a linfa chega pelos vasos coletores aferentes, depois de passar pelos folículos linfáticos, onde é filtrada e retidas partículas, e recebe nessa passagem células linfóides antes de chegar nos vasos eferentes. (GODOY; GODOY, 1999) 22 De acordo com Borges (2006) o local de entrada e saída dos vasos eferentes é denominado hilo. “A parte interna do linfonodo, o parênquima, é formada por dois tipos de estruturas: a cortical que se localiza perifericamente e, mais internamente, localiza-se a medula”. (GUIRRO; GUIRRO, 2002, p. 27). Para Godoy e Godoy (1999) e Guirro e Guirro (2002) os linfonodos desempenham funções importantíssimas como reguladores da corrente linfática, filtrando as impurezas da linfa e produzindo células de defesa especializadas, os linfócitos. Na maior parte, os linfonodos estão localizados em tecido conjuntivo frouxo, rico em lipídeos, e nas regiões do corpo imunologicamente importantes, como raiz dos membros, na lateral do pescoço, na raiz do pulmão e do intestino, e na lombar. (HERPERTZ, 2006) Quando ocorre alguma patologia os linfonodos ficam aumentados volumetricamente e mais sensíveis, e constituem em um obstáculo à corrente linfática, fazendo com que haja circulação colateral ou retrógrada, assim, microorganismos e detritos de células mortas, são retidos e destruídos em fagocitose por células especializadas. (GUIRRO; GUIRRO, 2002) 1.1.8 Linfa Linfa significa água limpa, cristalina, água da fonte, e é considerado, o líquido mais nobre do organismo, de cor límpida e cristalina, esbranquiçada ou amarelo limão. (BORGES, 2006) Segundo Haschich (2005) a linfa é encontrada somente dentro dos vasos linfáticos fechados, se parece com o plasma sanguíneo e nela são encontrados leucócitos. A linfa tem 96% de água em sua composição e é constituída de duas partes, uma plasmática, contendo sódio, potássio, cloreto, dióxido de carbono, glicose, enzimas, e a outra parte, celular, contendo linfócitos, granulócitos, eritrócitos e macrófagos. Esse líquido intersticial recebe o nome de linfa, quando em virtude da pressão osmótica, passa para dentro dos capilares linfáticos. (BORGES, 2006) 23 O fluxo da linfa é relativamente lento, sendo aproximadamente três litros de linfa que penetram no sistema cardiovascular em 24 horas. Esse fluxo é lento porque, ao contrário do sistema cardiovascular, o sistema linfático para fluir depende de forças externas e internas ao organismo, tais como: a gravidade, os movimentos passivos, a massagem ou a contração muscular, a pulsação das artérias próximas aos vasos, o peristaltismo visceral e os movimentos respiratórios. (GUIRRO; GUIRRO, 2002, p. 28). Fonte: Borges, 2006, p. 353 Figura 8: Circulação sanguínea e transporte linfático Através da hipótese de Starling sobre o equilíbrio entre os fenômenos de filtração e reabsorção que ocorrem nas terminações capilares, pode-se explicar a formação e o transporte da linfa. (DEITOS, 2005) Essa hipótese ocorre quando há um equilíbrio de valores entre o líquido recebido dos capilares sanguíneos para os tecidos, e o líquido que retorna para os capilares sanguíneos, sendo que a quantidade que entra e sai se equivale, e o pouco líquido que não penetra na circulação sanguínea, é absorvido pelos capilares linfáticos. (BORGES, 2006) 1.2 Linfáticos dos membros inferiores 24 Os linfáticos dos membros inferiores compreendem dois conjuntos, um superficial e um profundo, correspondendo intimamente às veias em sua distribuição. (HASCHICH, 2005) Os vasos linfáticos superficiais juntamente com os vasos linfáticos profundos estão ligados uns aos outros por vasos comunicantes, formando uma unidade funcional, de modo que esses vasos comunicantes se tornam importantes somente em condições patológicas. (HERPERTZ, 2006) 1.2.1 Vasos linfáticos superficiais De acordo com Herpertz (2006) os vasos linfáticos superficiais são muito mais importantes que os profundos, devido sua capacidade de transporte ser maior, cerca de 80 a 90%, enquanto que os profundos transportam 10 a 20%. “Os vasos linfáticos superficiais localizam-se na tela subcutânea e dividem-se em dois grupos: um medial, que acompanha a veia safena magna e outro lateral, que acompanha a veia safena parva”. (HASCHICH, 2005. p. 32). O grupo medial é maior e mais numeroso, iniciam-se no lado tibial e no dorso do pé, sobem pelo maléolo medial, pela perna, seguem a veia safena magna até o côndilo medial do fêmur, passa pela região inguinal, terminando no grupo subinguinal de nodos superficiais. O grupo lateral começa no lado fibular do pé, alguns vasos sobem para a perna, cruzam a tíbia, unem-se aos linfáticos do lado medial da coxa, outros vasos passam posteriores ao maléolo lateral, seguem a veia safena parva e terminam nos nodos poplíteos. (HASCHICH, 2005) 1.2.2 Vasos linfáticos profundos Os vasos linfáticos profundos ascendem ao longo dos vasos sanguíneos e apresentam-se através de duas vertentes proximais na coxa e três distais, uma corrente anterior ou tibial anterior e duas posteriores ou tibial posterior e fibular, localizadas no pé e na perna. (GODOY; GODOY, 1999) “Entre os vasos linfáticos superficiais e profundos existem anastomoses, por onde a linfa, por meio de atividade muscular, normalmente flui dos vasos linfáticos profundos para os superficiais”. (HERPERTZ, 2006, p. 21). 25 1.2.3 Linfonodos dos membros inferiores Existem cerca de dez a quinze linfonodos na região inguinal entre os superficiais e os profundos, sendo que os superficiais dividem-se em inferior e superior. (HERPERTZ, 2006) Os linfonodos poplíteos estão localizados sob a aponeurose, entre a safena e o nervo poplíteo externo e outros mais profundos. O gânglio tibial anterior encontra-se no nível da membrana interóssea e, portanto, nitidamente sob a aponeurose. (LEDUC; LEDUC, 2000) 1.3 Fisiopatologia Comparado ao coração, o sistema linfático é suficiente quando a capacidade de transporte é maior que a requerida, e pode ser definida como aquela que o organismo pode transportar ativamente, em torno de 20 litros por dia. Na insuficiência linfática a capacidade de drenagem é ultrapassada e reconhecida pela presença do edema. (GODOY; GODOY, 1999) Segundo Godoy e Godoy (2004) o sistema linfático normal, assim como todos os órgãos, trabalham com reserva funcional grande; assim, a capacidade total de transporte linfático é bem superior às necessidades fisiológicas. No estado de equilíbrio, o débito linfático, o volume de linfa transportado por unidade de tempo, é igual à carga linfática, que é a quantidade de líquidos e substâncias de transporte linfático presente nos tecidos. Quando aumenta a carga linfática, o débito linfático cresce paralelamente até que seja atingido o nível máximo de transporte. A partir desse ponto, ocorre edema. Para Leduc e Leduc (2000) o desequilíbrio entre a filtragem e a evacuação ocorre quando o aporte de líquido filtrado se torna mais importante e o sistema de drenagem não aumenta por isso, a partir daí os tecidos enchem-se de líquido, aumenta a pressão intratecidual, a pele se distende e incha, ocasionando o edema de origem vascular. Há também um outro edema totalmente diferente, este pode aparecer quando a rede de evacuação é insuficiente e o aporte por filtragem é normal. 1.3.1 Linfedema 26 Linfedema é um tipo de edema que ocorre devido ao acúmulo anormal de líquidos nos tecidos, pela falha no sistema linfático de drenagem, juntamente à insuficiência de proteólise extralinfática das proteínas do interstício. (GODOY; GODOY, 1999) Geralmente o linfedema acomete as extremidades, principalmente membros inferiores, causando desde um discreto edema, reversível ao repouso nas fases iniciais da doença, até deformidades como alteração da forma do membro (elefantíase) nos estágios mais avançados. (KAFEJIAN-HADDAD et al., 2005) Ocorre uma retirada insuficiente de proteínas teciduais que permanecem no interstício aumentando o conteúdo protéico para até 3 a 4g/dL, sendo o normal 2 a 3g/dL. (HERPERTZ, 2006) Herpertz (2006) relata como causa do linfedema, lesões a vasos linfáticos ou linfonodos, reduzindo assim a capacidade de transporte linfático. Segundo Haschich (2005) as causas básicas para ocorrer a formação do edema são o aumento da pressão hidrostática, diminuição da pressão osmótica, obstrução da drenagem linfática, aumento da permeabilidade vascular, assim como, bloqueio ganglionar ou dos coletores linfáticos conseqüentemente a processos neoplásicos, inflamatórios (linfangite), parasitário (filariose) e após retirada cirúrgica ganglionar. Os linfedemas têm características clínicas muito especiais, podendo se desenvolver através de uma patologia primaria dos linfáticos ou secundária, a outras complicações. (HACHICH, 2005) Herpertz (2006) diferencia os linfedemas em dois tipos, os primários, devido lesão congênita do sistema linfático, e secundários, devido lesão adquirida do sistema linfático. 1.3.1.1 Linfedema primário De acordo com Herpertz (2006) os linfedemas primários representam cerca de 34% de todos os linfedemas, são lesões de origem congênita, mas somente 3% dos casos o linfedema já existe ao nascimento. Linfedema primário é aquele decorrente de alterações congênitas dos vasos linfáticos e, de acordo com a idade de manifestação dos sintomas, é subdividido em: congênito (desde o nascimento até um 27 ano de idade), precoce (até 35 anos) ou tardio (acima de 35 anos). (KAFEJIAN-HADDAD et al., 2005, p. 284). Para Ferrandez; Theys; Bouchet (2001) esta patologia é vascular congênita, está presente desde o nascimento e é relacionada com uma hipogênese ou uma hipoplasia pelo baixo número de vasos linfáticos, ausência destes ou mau funcionamento. Fonte: Herpertz, 2006, p.69 Figura 9: Linfedema primário bilateral congênito O linfedema primário tem como causa alteração congênita do desenvolvimento de vasos linfáticos e linfonodos ou obstrução de linfáticos de etiologia desconhecida, linfedemas idiopáticos. (ANDRADE, 2003) Haschich (2005) relata que os linfedemas primários precoces aparecem em mulheres na puberdade devido a um desequilíbrio hormonal ou desenvolvimento inadequado dos vasos linfáticos pélvicos, o congênito, aparece no nascimento devido hipoplasia linfática e uma estrutura inadequada dos vasos linfáticos com linfangiectasia e insuficiência valvular, já o linfedema hereditário é também chamado de doença de Milroy ou lifedema familiar. 28 Fonte: Herpertz, 2006, p. 70 Figura 10: Linfedema primário bilateral precoce O linfedema primário desenvolve-se de maneira ascendente, ou seja, inicia-se no pé e se propaga no sentido proximal, em velocidades diferentes de acordo com cada caso. (HERPERTZ, 2006) 1.3.1.2 Linfedema secundário O linfedema secundário representa cerca de 66% de todos os linfedemas, são muito mais freqüentes que os primários e são adquiridos ao longo da vida através de lesões no sistema linfático, sendo elas causadas por cirurgias, irradiação, traumas, infecções, inflamações, parasitas, tumores malignos ou metástases e lesões auto realizados. (HERPERTZ, 2006) Podem ser causados também por lesões teciduais, filariose, insuficiência venosa crônica, recidivas de erisipela, linfangite ou celulite, linfadenectomia ou ressecção de vaso linfático por metástases de tumores malignos, por fibrose pós-radioterapia e radiodermite. (HASCHICH, 2005) “A causa do aparecimento de um linfedema secundário de membro inferior é, na maioria das vezes, a dissecção dos linfonodos ilíacos ou, mais raramente, inguinais ou lombares e/ou irradiação devido a um tumor maligno”. (HERPERTZ, 2006, p. 79). 29 Fonte: Herpertz, 2006, p. 77 Figura 11: Linfedema secundário unilateral 1.3.2 Graus de intensidade dos linfedemas Os linfedemas ocorrem em diferentes graus de intensidade, sendo classificados por fases, desde o mais simples, grau I, até o mais grave, grau IV. (HASCHICH, 2005) Segundo Ferrandez; Theys; Bouchet (2001) os linfedemas são graduados através de sua evolução em quatro graus: a) Grau I: estágio subclínico, não há presença de edema; b) Grau II: há presença de edema que aos poucos desaparece completamente; c) Grau III: há presença de um edema clínico, que se apresenta em declive e é pouco importante; d) Grau IV: caracteriza-se pela deformação da morfologia do membro ou pela presença de uma reação esclerosante no nível da pele (paquidermia) (papilomatose). 1.3.3 Diagnóstico ou pela presença de papilas cutâneas 30 A anamnese e o exame físico são primordiais para o diagnóstico da doença, assim como o sinal de Stemmer, que pode ser visto em cerca de 94% de todos os linfedemas primários de membros inferiores, e trata-se de uma fibrose linfostática subcutânea, ou seja, uma fibrose protéica, na altura dos dedos, espessando a pele que não pode ser pressionável. (HERPERTZ, 2006) O diagnóstico de linfedema é basicamente clínico, e estudos como tomografia e linfocintilografia têm o objetivo de confirmar o diagnóstico, detectar locais de má formação linfática, neoplasia e excluir outras causas de aumento de volume do membro. (KAFEJIAN-HADDAD et al., 2005) Parâmetros Linfedema Flebodema Lipodema Causas Vasos Pressão venosa Lipo-hipertrofia linfáticos elevada Sexo Ambos Ambos Mulheres Extremidades Membro Membro inferior Membro inferior, inferior em terço também superior Localização Uni ou Uni ou bilateral Bilateral e simétrico bilateral Cor da pele Normal Marrom-azulada Normal Varicose Não Sim Não Depressibilidade Sim Sim Não Participação dos dedos Sim Sim Não Sinal de stemmer Sim No início não Não Risco de erisipela Sim Mínimo Não Eczema de Raro Freqüente Não Úlcera Muito rara Freqüente Não Exames flebológicos Normal Patológico Normal Linfocintilografia Patológica Normal Normal do pé congestionamento Fonte: Herpertz, 2006, p. 102 Quadro 1: Parâmetros para diagnóstico diferencial A linfocintilografia segundo Ribeiro et al. (2008), é o exame mais fidedigno para avaliar um membro com linfedema, pois mostra a anatomia dos 31 vasos linfáticos, podendo assim considerar a quantidade de vias disponíveis e o tempo de escoamento da linfa. 1.3.4 Tratamento Independente da localização do linfedema, que é uma patologia complexa e envolve alterações mecânicas e funcionais, exige também um tratamento complexo que atue localmente nos tecidos envolvidos e não só de forma sistêmica, por isso além de medicamentos, deve-se restabelecer ou melhorar a circulação linfática e drenar o líquido congestionado na região afetada. (HASCHICH, 2005) Um bom tratamento precisa estimular a angiogênese, que forma novos vasos para auxiliar no esvaziamento da linfa do meio intersticial, e estimular também a função dos gânglios e vasos existentes, principalmente após cirurgias oncológicas, onde estes podem ter sido retirados. Medicação adequada, fisioterapia especializada, atividade física o quanto antes possível e, uso de meias compressivas são fundamentais para o bom tratamento. (RIBEIRO et al., 2008) A terapêutica mais utilizada em linfedemas é a denominada por Asdonk de fisioterapia complexa descongestiva, cujos componentes são drenagem linfática manual, manipulação do edema e compressão. (HERPERTZ, 2006) Também chamada de linfoterapia, a fisioterapia complexa descongestiva consiste em cuidados com a pele como limpeza e umedecimento diário para controle de erupções e infecções, drenagem linfática manual, bandagens compressivas envolvendo as extremidades afetadas, cinesioterapia que estimula os linfáticos através da contração muscular, meias compressivas que devem ser usadas na maior parte do dia. (RIBEIRO et al., 2008) “A aplicação da drenagem linfática manual é realizada e indicada de acordo com a extensão e gravidade do edema, alternando as manobras, freqüência e duração do tratamento”. (HERPERTZ, 2006, p. 99). É indicada em quase todos os tipos de linfedemas segundo Godoy e Godoy (1999), e será detalhada no capítulo seguinte. 32 CAPÍTULO II DRENAGEM LINFÁTICA MANUAL 2 DEFINIÇÃO A palavra drenagem origina-se do pré-histórico germânico draug, que consiste em evacuar um pântano que está cheio de água, através de canaletas que desembocam em um canal maior, desembocando este, por sua vez, em um curso de água ou poço. (TACANI; TACANI, 2008) A massagem é um dos tratamentos mais antigos, útil e de fácil administração, sendo utilizada para aliviar dores e outros sintomas de doença ou lesão. (SCASNI, 2004) A drenagem linfática manual é uma técnica de massagem composta por manobras suaves, lentas, monótonas e rítmicas, feitas com as mãos, que obedecem ao trajeto do sistema linfático superficial e que tem por objetivo a redução de edemas e linfedemas, e a prevenção ou melhoria de algumas de suas conseqüências. (TACANI; TACANI, 2008, p. 73). O objetivo da DLM é melhorar a absorção e o transporte de líquidos intersticiais de uma área congestionada para áreas em melhores condições, através de anastomoses linfo linfáticas ou vias de substituição. (JACQUES, 2005) A DLM esvazia os líquidos exsudados e os resíduos metabólicos através de manobras cinésicas especializadas nas vias linfáticas e nos linfonodos. O líquido é orientado do espaço intersticial para os centros de drenagem, estimulando as correntes derivativas do setor afetado. (PICCININ et al., 2009) Independente de sua finalidade, a DLM “deve respeitar a anatomia e a fisiologia do sistema linfático, além da integridade dos tecidos superficiais”. (TACANI; TACANI, 2008, p.71). A drenagem consiste em movimentos de compressão feitos no sentido distal proximal do segmento tratado, aplicando uma pressão manual intermitente em torno de 40 mmHg. (RIBEIRO et al., 2008) 2.1 Efeitos da drenagem linfática manual 33 A DLM promove alguns efeitos diretos sobre alguns sistemas do corpo, como o sistema neuro vegetativo, o imunológico, e o vascular. Alguns desses efeitos são: a resposta imune que é a produção e renovação de células de defesa, o aumento do fluxo linfático e da velocidade de filtração da linfa, o aumento da filtração e absorção dos capilares sanguíneos, o aumento da quantidade de linfa processada nos linfonodos devido ao aumento do fluxo linfático, a promoção de efeitos tônicos nos músculos lisos dos vasos sanguíneos, a promoção do relaxamento devido a liberação de substâncias simpaticolíticas no organismo durante a massagem, a motricidade do intestino favorecendo a evacuação. (BORGES, 2006) Outros efeitos são citados por Borges (2006) como sendo indiretos, são eles: o aumento da quantidade de líquido excretado, a melhora de irrigação sanguínea e conseqüentemente da nutrição celular, a melhora da oxigenação dos tecidos devido o aporte de sangue arterializado, a desintoxicação dos tecidos intersticiais, a excreção do ácido lático da musculatura esquelética e diminuição do tempo de dor do músculo, a absorção de nutrientes pelo trato digestivo devido reabsorção de gorduras através do sistema linfático. 2.2 Indicações da drenagem linfática manual na fisioterapia A DLM é aplicada em muitos tratamentos fisioterapêuticos. As principais indicações segundo Borges (2006) são os edemas e linfedemas decorrentes de diversas causas, a paniculopatia edemato esclerótica ou celulite como é comumente chamada, pós-operatório de cirurgias plásticas, a insuficiência venosa crônica, a obesidade e a mastoidinia. Há outras indicações da DLM nos casos de problemas circulatórios, préoperatório de cirurgia plástica, edemas pós-traumáticos, dores musculares e prevenção de olheiras. (SOUZA, 2009) Herpertz (2006) descreve alguns sucessos terapêuticos com a DLM em casos de elefantíase, dores de cabeça, síndrome de Menière, tinido, tontura, distúrbios auditivos, obstrução nasal em resfriados, contratura de Dupuytren, cicatrizes, distúrbios de ciclo menstrual, neuralgias preferencialmente póscirúrgicas, sintomas cicatriciais no abdômen, paresia facial aguda periférica, neuralgia do trigêmio e fibromialgia. 34 2.3 Contra-indicações da drenagem linfática manual A DLM possui precauções e restrições quanto o seu uso, totais ou parciais dependendo do caso, apesar de ser um método leve, suave e superficial, sendo elas: distúrbios do ritmo cardíaco e acidentes cardíacos recentes, edemas causados por insuficiência cardíaca descompensada ou insuficiência renal e hepática, distúrbios e afecções imunitárias, edemas por infecções ou inflamações agudas, tumores malignos ativos, flebites, tromboses, tromboflebites, síndrome do seio carotídeo, hipertireoidismo. (DEITOS, 2005) De acordo com Borges (2006) as contra-indicações podem ser divididas em absolutas e relativas, sendo que entre as absolutas estão a tuberculose e as reações alérgicas agudas, e entre as relativas estão a menstruação em abundância, a asma, a bronquite, a hipotensão arterial e as afecções da pele, as quais necessitam de cuidados especiais. As erisipelas e linfangites são contra- indicações enquanto a temperatura central do paciente não estiver normalizada, assim como as linfoceles e as linforréias contra-indicam a DLM sobre a extensão do membro afetado, sendo a compressão mais útil nesses casos. (FERRANDEZ; THEYS; BOUCHET, 2001) 2.4 Métodos de drenagem linfática manual A DLM sofreu numerosas transformações desde a sua origem. Apesar de atualmente poder abordar a drenagem de diferentes modos, os autores concordam que deve-se respeitar regras em comum, como a pressão, que nunca deve produzir hiperemia, a velocidade que deve ser lenta e utilizar manobras monótonas, o respeito da anatomia das áreas de drenagem, iniciar realizando processos de evacuação ou descongestionamento de vias linfáticas adjacentes, a indução ao relaxamento, e o proporcionamento de um ambiente tranqüilo e reservado. (DEITOS, 2005, p. 41). Borges (2006) comentou ainda que diversos métodos de DLM são empregados e eles têm em comum o fato de que através do contato com a pele, receptores específicos são estimulados e efeitos correspondentes serão observados. Atualmente os métodos de DLM mais utilizados nos tratamentos fisioterapêuticos são o método Vodder e o método Leduc. 35 2.4.1 Método Vodder Na técnica de Vodder a drenagem linfática manual consiste de pressão suave, feita de forma lenta e repetitiva, onde não ocorre deslizamento da mão sobre o tecido, e sim empurra e relaxa o tecido cutâneo, sendo que após isso existe um relaxamento da pressão sem a aplicação de nenhuma força, somente mantem-se o contato. (BORGES, 2006) Vodder estabeleceu um esquema com as características das manobras para a realização da DLM, como realização em grandes superfícies, manobras circulares, duração da pressão de um segundo e descanso de cinco a sete segundos, repetição da manobra de cinco a sete vezes por segmento tratado, tratar de proximal para distal na direção do fluxo linfático, a força da manobra varia de acordo com o edema e sua gravidade, não deve causar dor e nenhum eritema. (HERPERTZ, 2006) A técnica compreende dois procedimentos básicos, a captação, que visa a captar a linfa do interstício para os capilares linfáticos, e evacuação, que consiste em eliminar a linfa que está dentro dos vasos linfáticos, transportandoa para os linfonodos mais distantes do edema, no sentido do fluxo. (BORGES, 2006) As manobras básicas da DLM pelo método Vodder, de acordo com Herpertz (2006) são: a) círculos verticais- os dedos, ou em alguns casos, a mão, devem ser colocados planos sobre a pele e os vasos linfáticos, transversais à direção do fluxo linfático. Desloca-se a pele em círculos, sendo que a fase de pressão deve ocorrer somente na direção do fluxo. Faz-se o meio círculo de retorno sem pressão. Devem ser feitos também somente com os dedos, círculos verticais sobre os linfonodos, com pressões medianas; b) manobra de torção- deve-se repousar a mão sobre a pele na direção do fluxo linfático, sendo que a região do membro a ser tratada deve ficar entre o polegar e o indicador. Com a mão deve ser realizada uma torção, iniciando no lado do dedo mínimo, sobre a palma da mão até o polegar. Essa manobra deve ser realizada com as mãos intercaladas, seguindo para o centro; 36 c) manobra de tração- deve-se repousar a mão sobre a pele na direção do fluxo linfático, sendo que a região do membro a ser tratada deve ficar entre o polegar e o indicador. Com a mão deve ser feita uma torção iniciando no lado do dedo mínimo, sobre a palma da mão até o polegar de modo que ambos, um de encontro ao outro, possam puxar. A cada manobra a mão deve se movimentar na direção central. Deve-se fazer pressão no polegar, dedo mínimo e palma da mão; d) manobra transversal- o terapeuta deve se posicionar transversal ao fluxo linfático, e com ambas as mãos devem ser feitas manobras transversais, sendo que esta manobra é uma combinação das manobras de tração, com a de círculos verticais, e realizam-se progressivamente. 2.4.2 Método Leduc As manobras no método Leduc são específicas para a execução da técnica de DLM, onde os movimentos sempre se iniciam na parte proximal do segmento a ser drenado. (BORGES, 2006) Dois são os processos existentes que contribuem para a evacuação dos líquidos intersticiais, sendo eles: a captação dos líquidos pela rede de capilares linfáticos devido o aumento local da pressão tissular, e a evacuação dos elementos recaptados pelos capilares, longe da região infiltrada. (HASCHICH, 2005) “Os dois processos, muito diferentes entre si, devem, naturalmente, ser facilitados por técnicas adequadas de drenagem manual”. (LEDUC; LEDUC, 2000, p.33). Na captação a mão deve estar em contato com a pele pela borda ulnar do quinto dedo, sendo que os dedos devem sucessivamente fazer uma pressão levados pelo movimento circular do punho, podendo usar também a palma da mão para pressionar o local. A pressão deve ser feita no sentido da drenagem fisiológica. (HASCHICH, 2005) Já na evacuação, Haschich (2005) explica que a mão deve estar em contato com a pele pela borda radial do indicador, sendo que a borda ulnar da 37 mão fica livre, os dedos desenrolam-se do indicador até o anular em contato com a pele que é estirada no sentido proximal durante a manobra. Os movimentos devem ser realizados suavemente, como um tateamento discretamente apoiado. As manobras específicas do método Leduc segundo Borges (2006) são: a) círculos com os dedos sem o polegar- com os dedos devem ser feitos movimentos rotatórios, deprimindo levemente a pele, deslocando-a em relação ao plano profundo. A pressão feita deve ser suave e progressiva, e não deve haver fricção no deslocamento das mãos. Devem ser realizados os círculos várias vezes no local; b) círculos com o polegar- devem ser feitos movimentos circulares com o polegar, utilizando-se da articulação metacarpo falangeana. O movimento não se diferencia do anterior; c) movimento combinado- deve-se realizar o movimento com o polegar e os dedos juntos da mesma forma descrita anteriormente. Enquanto os dedos realizam os movimentos de círculos, o polegar realiza movimento circular no sentido oposto ou não aos dedos; d) pressões em braceletes- deve-se realizar com as mão o movimento começando na região proximal e seguindo distalmente conforme vai sendo evacuada, realizando pressão em direção a região proximal. Após uma compressão, segue-se uma fase de relaxamento. Esse movimento pode ser usado quando o local a ser drenado puder ser envolvido por uma ou duas mãos; e) drenagem dos gânglios linfáticos- usada para evacuar os gânglios linfáticos, a mão deve estar em contato com a pele do paciente de forma a repousar sobre ela. Deve-se realizar uma compressão e um estiramento tecidual no sentido proximal, com a mesma suavidade e prudência que a compressão dos vasos linfáticos. Esta manobra pode ser realizada também com o uso de duas mãos sobrepostas. 2.5 Drenagem linfática manual dos membros inferiores 38 De acordo com Leduc e Leduc (2000) e Borges (2006) para dar início à DLM, o paciente deve ser posicionado em decúbito dorsal, com o membro inferior acometido discretamente elevado e despido, para que nada atrapalhe a circulação de retorno. Independente do método escolhido para realizar a DLM, deve-se seguir as recomendações abaixo e a direção das manobras. Deve-se iniciar a drenagem pelos gânglios inguinais, massageando-os para que a linfa siga em direção às cadeias ilíacas profundas, desobstruindoos. As manobras devem ser lentas e suaves, e devem ser repetidas várias vezes no local. A seguir a face anterior da coxa é drenada, iniciando proximal à coxa, ou seja, distal ao joelho. O movimento feito deve ser ascendente no sentido fisiológico, direcionando a linfa para a cadeia ganglionar inguinal, na medida em que as mãos são deslocadas em direção ao joelho. Repete-se a mesma massagem de drenagem na face medial da coxa e na face lateral. No joelho, os gânglios poplíteos devem ser massageados várias vezes. Drena-se em seguida a perna, iniciando proximal ao joelho e distal ao pé. O movimento deve ser feito empurrando a linfa em direção à coxa, onde as vias de evacuação caminham em direção aos gânglios inguinais, enquanto que as mãos se deslocam no sentido do tornozelo. O tornozelo deve ser drenado proximal para distal, no sentido ascendente, pelas vias pré e retro-maleolares. A seguir o pé deve ser drenado no sentido ascendente. Para finalizar devem ser realizadas manobras de pressão que devem ser aplicadas no pé até a região da coxa, terminando com a drenagem dos gânglios inguinais. Concluindo a DLM da região anterior do membro, deve-se drenar a região posterior, seguindo o fluxo linfático, no sentido ascendente, com movimentos de proximal para distal. 2.6 Fundamentações gerais da drenagem linfática manual O profissional deve tomar medidas de segurança ao executar a DLM, como conhecer o paciente, avaliando-o corretamente, observando o seu estado de saúde. (SOUZA, 2009) 39 Para que a DLM tenha sua execução de forma correta, o fisioterapeuta deve se atentar para a posição do segmento corpóreo que será drenado, deixando-o desnudo e posicionado de forma que favoreça o retorno linfático. A pressão feita deve seguir o sentido fisiológico da drenagem sempre, e as manobras de drenagem devem ser feitas de forma rítmica e intermitente. (JACQUES, 2005) Deve ser evitado o uso de óleos sobre a pele durante a DLM, para que estes não impeçam que o movimento seja feito corretamente. Somente nos casos em que a pele do paciente se apresenta muito ressecada, o uso de uma ou duas gotas de óleo pode ser feita, para que não ocorram fricções e lesões cutâneas. (BORGES, 2006) Ainda segundo Borges (2006) o ambiente deve ser tranqüilo, com uma temperatura adequada, luzes fracas e poucos ruídos, para que seja promovido o relaxamento durante a DLM. 2.7 Métodos auxiliares Desde quando a DLM se iniciou, vários estudiosos vêm compreendendo melhor a fisiologia e a anatomia linfática, e atualmente a fisioterapia é eleita como o tratamento escolhido para o linfedema, sendo que os resultados são positivos e se mantém por bastante tempo. (SCASNI, 2004) Segundo Jacques (2005) e Borges (2006) a linfoterapia ou terapia física complexa, é a técnica mais empregada atualmente, e a que obtém melhores resultados no tratamento e prevenção do linfedema. Consiste em utilizar de vários recursos fisioterapêuticos juntamente com a DLM, como o enfaixamento compressivo funcional, a cinesioterapia específica, cuidados com a pele, auto massagem linfática e contenção elástica. Quando o edema não é muito importante, a associação da DLM aos exercícios específicos, tendo como alvo a circulação venosa, geralmente é suficiente. Já uma contenção elástica a fim de assegurar a manutenção dos bons resultados obtidos com a DLM é indicada, sendo que pode ser indicada também como meio profilático sempre que houver uma atividade física significativa, pois assim o risco de recidiva do edema é fortemente reduzido. (HASCHICH, 2005) 40 Fonte: Perez, 2003, p. 3 Figura 12: Enfaixamento compressivo Fonte: Perez, 2003, p. 3 Figura 13: Contenção elástica A pressoterapia que atua sobre as massas líquidas intersticiais, facilitando a reabsorção pela via venosa, é mais um método auxiliar no tratamento de linfedemas. É um método terapêutico que realiza uma pressão suave com o auxílio de várias câmaras que são infladas da região distal até a proximal do membro. (LEDUC; LEDUC, 2000) 41 Fonte: Perez, 2003, p. 3 Figura 14: Pressoterapia 42 CONCLUSÃO Ao término deste estudo, onde foi evidenciada a anatomia, a fisiologia e a fisiopatologia do sistema linfático, as indicações e os efeitos fisiológicos da DLM, pode-se concluir que esta técnica que consiste em drenar a linfa, desobstruindo os vasos linfáticos, é muito importante e eficaz no tratamento de linfedemas, promovendo a diminuição dos mesmos, e somente deve ser realizada por profissionais fisioterapeutas que realmente são qualificados para a execução da técnica. Concluiu-se também que não existe diferença nos parâmetros de aplicação da técnica de DLM, independente da escola de origem ou do método escolhido, todos respeitam a anatomia e a fisiologia do sistema linfático, a integridade dos tecidos superficiais, e, para tanto, a DLM deve ser feita de forma suave, lenta e rítmica, sem causar danos ou lesões aos tecidos, tão pouco dor ao paciente. A atuação do fisioterapeuta nos quadros de linfedema, mais precocemente possível, demonstra-se imperativa para que os resultados positivos sejam alcançados. A prevenção ou a recuperação do linfedema depende muito da atuação fisioterápica, que além da DLM, pode utilizar recursos auxiliares que complementam o tratamento de forma eficaz e muitas vezes necessária na maioria dos casos, evitando dessa forma quadros recidivantes, diminuindo os distúrbios causados ao indivíduo, mantendo a funcionalidade o mais próximo possível da normalidade, e devolvendo este paciente ao convívio social. Pelo fato da fisioterapia dermato-funcional ser uma área de atuação muito recente, as pesquisas científicas efetuadas pelos profissionais que atuam nessa área ainda são poucas, e, no entanto este levantamento bibliográfico permitiu observar que há na literatura científica embasamento para justificar a escolha dos diversos recursos utilizados nas patologias englobadas por essa área da fisioterapia. Há a necessidade de ampliar o número de pesquisas científicas, para a consolidação da fisioterapia dermato-funcional como uma área relevante no contexto da saúde do Brasil. 43 REFERÊNCIAS ANDRADE, M. F. C. Linfedema. Liga Acadêmica Vascular, Maceió, 16 maio 2003. Disponível em:<http://lava.med.br/livro/pdf/mauro_linfedema.PDF> Acesso em: 11 abr. 2010. BORGES, F. S. Dermato-Funcional: modalidades terapêuticas nas disfunções estéticas. São Paulo: Phorte, 2006. COUTO, A. Anatomia do sistema linfático. 4shared, [s.l.], 11 maio 2004. Disponível em:<http://www.4shared.com/get/xqPUinVr/Anatomia_do_Sistema_Linftico.html ;jsessionid=08E06DDE8F2F308BF2C5835E46E55D3F.dc211> Acesso em: 10 abr. 2010. CUNHA, E. S. et al. Intervenção fisioterapêutica no tratamento do firo edema gelóide. FisioWeb WGate, Aracaju, 1 mar. 2007. Disponível em:<http://www.wgate.com.br/conteudo/medicinaesaude/fisioterapia/alternativa /geloide_eline.htm> Acesso em: 11 abr. 2010. DEITOS, P. M. 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