COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. Influência da sucção matricial na resistência à tração de solos residuais de gnaisse compactados Mariana Ferreira Benessiuti UNESP/FEG, Guaratinguetá, Brasil, [email protected] George de Paula Bernardes UNESP/FEG, Guaratinguetá, Brasil, [email protected] Pedro Ivo Mioni Camarinha UNESP/FEG, Guaratinguetá, Brasil, [email protected] RESUMO: Este trabalho por objetivo avaliar os fatores influentes na erodibilidade do solo através de resultados de ensaios de Compressão Diametral, realizados em amostras de solos compactados para diferentes valores de sucção matricial. As curvas de retenção de água das amostras foram obtidas através do método do papel filtro (Marinho,1994). Os ensaios indicam que a resistência à tração fica praticamente constante na zona de efeito limite até o valor de entrada de ar. Após o valor de sucção de entrada de ar, a resistência à tração aumenta de forma exponencial até atingir seu valor máximo, próximo à sucção residual. Um modelo matemático é apresentado para descrever a variação da tensão de tração em função da sucção matricial, com base no modelo de Fredlund & Xing (1994). PALAVRAS-CHAVE: Solo Compactado, Resistência à tração, Sucção Matricial, Modelagem. 1 Topográficos, Fator Vegetação e Fator Solo, onde este último está associado às propriedades do solo não saturado que determinam a resistência à erosão pelo impacto das gotas de chuva e pelo escoamento superficial. Visando estudar as propriedades influentes na erodibilidade do solo, este trabalho apresenta os resultados e a interpretação de ensaios de resistência à tração (Método Brasileiro), realizados em amostras de solos compactados para diferentes valores de sucção matricial. Uma modelagem matemática é proposta, baseada no modelo de Fredlund & Xing (1994), para a previsão da resistência à tração em função da sucção matricial. Este modelo foi verificado no solo estudado neste presente trabalho e nos dados obtidos por Santos (2005) e Boszczowski (2008). INTRODUÇÃO No Brasil, a estradas constituem o principal meio de escoamento da produção agroindustrial, importante para o desenvolvimento econômico e social da nação. Segundo ANTT (2008), há aproximadamente 1.634.071 km de estradas distribuídas por todos os Estados da Federação, das quais 87% não são pavimentadas. Devido ao aumento de áreas florestadas nas regiões rurais, as estradas não pavimentadas vem sendo bastante exigidas, desencadeando e potencializando processos erosivos expressivos. De acordo com Maciel et al (2009), a erosão provocada pela água no leito e nas margens de estradas não pavimentadas é um dos principais fatores para sua degradação, sendo responsável pela maior parte das perdas de solo. Por isso, conhecer os diferentes mecanismos e fatores deflagradores do processo se faz necessário, a fim de evitar danos maiores de difícil solução. Bastos (2008) agrupou estes fatores em quatro classes: Fatores Climáticos, Fatores 2 PROPRIEDADES INFLUENTES ERODIBILIDADE DO SOLO 2.1 1 Sucção (Ψ) NA COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. A sucção existente nos solos não saturados é reconhecida como decorrente dos efeitos combinados de capilaridade, adsorção e osmose. Esta sucção pode ser dividida em matricial e osmótica, onde a primeira é devido à atuação das forças de adsorção e capilaridade, e a segunda, devido à força osmótica. A sucção matricial representada pela diferença entre a pressão do ar (ua) e a pressão da água (uw), equivale à sucção total quando o líquido contido no solo é idêntico à água padrão (destilada), restando apenas o efeito da matriz do solo. E, a sucção osmótica é igual à sucção total quando o solo se encontra saturado, restando apenas o efeito de diferentes concentrações de soluto. Figura 1. Curva característica típica, Boszczowski (2008). A relação entre sucção e a quantidade de água retida pode ser influenciada por inúmeros fatores, dentre eles: tipo de solo, arranjo estrutural e histerese, destacados por Cardoso (2006). Nos solos arenosos, devido à sua estrutura de poros, sua dessaturação ocorre rapidamente após a entrada de ar. Já nos solos argilosos, por possuir uma distribuição não uniforme de vazios, apresentam uma curva mais suave, onde sua dessaturação ocorre de forma mais lenta. Neste último solo, o desenvolvimento da sucção é maior, pois quanto maior a plasticidade, maior é a capacidade de se reter água. O último fator considerado que influencia na forma da curva de retenção de água no solo é a histerese. A histerese representa a diferença entre as curvas obtidas através dos processos de umedecimento e de secagem. De maneira geral, a quantidade de água liberada pelo solo no processo de secagem é superior a retida no processo de umedecimento. Este fenômeno pode estar associado a diversas causas, dentre elas: ao ar aprisionado nos vazios do solo e à geometria não uniforme dos poros, durante o processo de umedecimento. Atualmente, existem diversas equações matemáticas utilizadas para se ajustar os valores experimentais na curva de retenção de água. De acordo com Gerscovich & Sayão (2002), os solos brasileiros são melhores ajustados a partir das equações matemáticas propostas por Gardner (1958), Van Genuchten (1980) e Fredlund & Xing (1994). Este trabalho faz uso deste último modelo. 2.1.1 Curva de Retenção de Água A curva de retenção de água, também denominada curva característica, é uma importante relação na mecânica dos solos não saturados, entre a quantidade de água retida no solo (expressa em teor de umidade volumétrica, gravimétrica ou grau de saturação) com a sucção. Esta curva pode ser dividida em três estágios (figura 1). O primeiro, denominado zona de efeito limite, corresponde ao trecho onde todos os poros contém água. O segundo, denominado fase de transição, corresponde ao trecho de drenagem da fase líquida. Este estágio se inicia a partir do valor de entrada de ar. E, o terceiro, fase de saturação residual, corresponde ao trecho onde a continuidade da água nos vazios é reduzida e descontínua (acréscimos de sucção causam mínimas variações no grau de saturação do solo). O valor de umidade residual (wr) é um valor de umidade associado a altos valores de sucção, quando a água retida pelo solo encontra-se na forma de filmes finos ou meniscos desconectados (Lu & Likos, 2004). O valor de umidade de saturação (ws) é teoricamente igual à porosidade do solo, já que neste estado todos os vazios estão preenchidos pela água. 2.1.2 Métodos utilizados na medição de sucção do solo 2 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. onde, no Brasil, destaca-se o emprego do ensaio de compressão diametral ou ensaio brasileiro. Existem hoje diversas técnicas utilizadas para medir a sucção no solo (papel filtro, placa de pressão, tensiômetro e psicrômetro). Dentre os equipamentos disponíveis, é possível classificálos em duas categorias: os que fazem medidas indiretas (laboratório) e os de medida direta (campo) da sucção. Este trabalho utilizou o método do papel filtro, baseado na metodologia empregada por Marinho (1994), pela relativa simplicidade e pelo fato de abranger valores de sucção de 0 a 29000 kPa. 2.2 3 MATERIAS E MÉTODOS 3.1 Solo Estudado Para avaliar a influência da sucção matricial na resistência à tração, foi realizada uma campanha de ensaios em amostras de solo compactado, proveniente de um perfil de solo residual maduro de gnaisse, coletadas próxima ao Departamento de Engenharia Civil, da UNESP, Campus Guaratinguetá. A Tabela 1 apresenta os resultados dos ensaios de caracterização e de compactação realizados nesta amostra. Resistência à tração (σt) A erosão é um processo formado basicamente por duas etapas, o destacamento e o transporte das partículas. Com isso, acredita-se que a resistência à tração do solo esteja diretamente relacionada à primeira etapa do processo, que corresponde à facilidade que o solo tem em ter suas partículas destacadas umas das outras. Segundo Villar et al. (2007) e Boszczowski (2008), geralmente, na prática da engenharia geotécnica, a resistência à tração dos solos é desconsiderada. Porém, com o crescimento dos estudos de solos não saturados, uma maior atenção vem sendo dada para um melhor entendimento dos processos de secagem e umedecimento. A resistência à tração de um solo é uma propriedade do material dependente, em geral, da sucção presente em sua estrutura (Aluko & Koolen, 2000 apud Villar et al., 2007). No processo de secagem, a saturação parcial produz um aumento na sucção e, consequentemente, nas ligações entre os agregados e internas a estes. Esta resistência é influenciada por diversos fatores, a saber: número e tamanho dos poros, tipo e quantidade de argilo mineral presente, tamanho da fração de argila e quantidade de argila em estado disperso. Segundo Zeh & Witt (2007) apud Boszczowski (2008), solos finos, com pequenos poros e alto teor de argila apresentam maior resistência à tração. A fim de quantificar este parâmetro, diversos ensaios de laboratório são utilizados, Tabela 1. Caracterização do solo estudado. LL LP IP Wóti (%) (%) (%) SUCS Gs (%) 58 45 12 MH 2,74 22 γdmáx (g/cm3) 1,58 onde LL é o limite de liquidez, LP, limite de plasticidade, IP, índice de plasticidade, MH, silte altamente plástico, Gs, densidade dos grãos, Wóti, umidade ótima e γdmáx, massa específica seca máxima. 3.2 Metodologia dos Ensaios As curvas características foram determinadas a partir da moldagem de 16 corpos de prova, compactados com uma massa específica seca média de 1,68±4 g/cm3, em anéis de PVC de 50 mm de diâmetro e 20 mm de espessura. Foram utilizadas oito amostras para a realização de cada curva obtida (processo de umedecimento e de secagem). No primeiro, partiu-se de uma umidade de compactação de 14% e, através da adição de diferentes quantidades de água, atingiram-se diferentes umidades, onde o valor máximo ensaiado foi de 21%. No segundo processo, moldaram-se os corpos de prova com 26% de umidade e, através do processo de secagem ao ar livre, foram obtidas diferentes umidades, através do controle de perda de massa com o tempo, atingindo o valor mínimo de 12%. Depois de confeccionados, todos os corpos 3 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. de prova foram embalados em filme plástico de PVC e colocados em uma caixa de isopor por 3 dias, a fim de equalizar a umidade dentro das amostras. ⎡ ψ ⎛ ⎢ 1 − ln ⎜ 1 + Ψr ⎝ ω =⎢ ⎢ ⎛ 1 + 10 6 ⎞ ⎟⎟ ⎢ ln ⎜⎜ ⎢⎣ ⎝ Ψr ⎠ 3.2.1 Ensaio de Sucção: Método do Papel Filtro (1) ⎞⎤ ⎟⎥ ωs ⎠⎥ m ⎥ ⎡ n ⎥ ⎢ ln ⎛⎜ e + ⎛ ψ ⎞ ⎞⎟ ⎤⎥ ⎜ ⎟ ⎟ ⎥⎦ ⎢ ⎜ ⎝ a ⎠ ⎠ ⎥⎦ ⎣ ⎝ 3.2.2 Ensaio de Compressão Diametral Toda a metodologia empregada neste trabalho se baseiou nos procedimentos descritos por Marinho (1994). As amostras moldadas foram colocadas em contato (topo e base) com o papel filtro do tipo Schleicher & Schuell No 589, sendo estes novamente envolvidos por camadas de filme plástico, colocados em sacos plásticos individuais e posteriormente colocados em uma caixa de isopor, visando o máximo isolamento térmico. Conforme recomendado, as amostras ficaram em repouso por 7 dias, a fim de garantir o mecanismo de transferência de umidade solopapel filtro para a equalização da sucção matricial. Após esse tempo, o conjunto foi aberto e os papéis filtros foram colocados diretamente na balança com precisão de 0,0001 g. Para cada valor de tempo pré-determinado (10’, 20’, 30’, 40’, 50’, 60’, 80’, 100’, 120’, 150’, 180’), a massa do papel era medida e, a partir da correlação exponencial, obteve-se a massa deste no tempo igual a zero. Este procedimento foi repetido para a obtenção da massa do papel filtro seco após um período de duas horas, em estufa a 100° C. O valor de sucção foi então determinado, a partir da umidade do papel filtro, conforme a calibração existente na literatura (ASTM – D5298-94). Assim, a partir da sucção obtida através do papel filtro e da umidade do solo moldado, foi possível traçar as curvas características pelos dois processos (umedecimento e secagem), sendo estas ajustadas através da modelagem proposta por Fredlund & Xing (1994), equação (1). Para se medir a resistência à tração, foi utilizado o ensaio de compressão diametral (método brasileiro), conforme a metodologia empregada em Santos (2005). Este ensaio consiste no carregamento de amostras cilíndricas (altura h e diâmetro d), carregado ao longo de duas placas rígidas paralelas, uma oposta à outra, no sentido do seu diâmetro (Villar et al., 2007). Os corpos de prova foram colocados na prensa de compressão simples conforme ilustrado na Figura 2. Foi aplicado um deslocamento vertical manualmente e medida a força de reação a partir do anel de carga. A resistência à tração foi então calculada pela equação 2 abaixo (Krishhnayya & Eisenstein, 1974 – Apud Villar, 2002). σt = 2P/πDH (2) onde P é a força axial calculada, D, o diâmetro da amostra e H, a espessura da amostra. A partir dos resultados obtidos, traçou-se as curvas de resistência à tração versus sucção matricial e comparou-as com suas respectivas curvas características. Figura 2. Equipamento utilizado no ensaio, Santos (2005). 4 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS A tabela 2 apresenta os resultados dos ensaios obtidos para cada corpo de prova. Todos estes valores foram plotados em gráficos, dispostos nas figuras 3 e 4. Tabela 2. Resultados dos ensaios realizados com o solo em questão. Umedecimento Amostra 1 2 3 4 5 6 7 8 W(%) Amostra 9 10 11 12 13 14 15 16 W(%) 14,24 15,98 16,56 18,07 19,83 20,02 21,08 21,34 26,09 24,31 22 12,32 19,14 17,33 14,12 20,99 σt (kPa) 322,27 97,31 93,57 55,20 37,65 37,16 33,44 38,99 Secagem Ψ (kPa) 5388,16 1350,26 1320,24 305,07 44,36 29,21 15,43 13,86 σt (kPa) 28,54 38,92 84,79 328,51 303,91 430,74 281,45 180,80 Ψ (kPa) 21,30 159,52 1099,81 9529,94 3264,32 5517,88 8193,62 1929,72 Figura 4. Resultados do ensaio de resistência à tração versus sucção matricial. Através da figura 3, pode-se perceber a histerese, já que os valores de umidade obtidos pelo processo de secagem foram superiores ao de umedecimento, para um mesmo valor de sucção. Conforme mencionado anteriormente, este fenômeno pode estar associado ao ar aprisionado nos vazios do solo, durante o processo de umedecimento. Ao analisar a figura 4, verifica-se que a resistência à tração do solo se comporta de três formas distintas. Para baixos valores de sucção, a resistência à tração se mantém praticamente constante, sofrendo pequenas variações até o valor de entrada de ar. A partir deste ponto, há uma mudança de comportamento na resistência, onde o aumento na sucção matricial gera variações consideráveis na resistência, devido a entrada de ar nos vazios da amostra. O terceiro trecho mostra que a partir de um certo valor de sucção matricial, a resistência à tração do solo diminui. Villar et al. (2007) mostraram em seus estudos que a entrada de mais ar na amostra estabelece uma condição de ar contínuo no interior da mesma, sendo o fator responsável pela nova mudança de comportamento na resistência à tração. Vale ressaltar que este último não foi verificado no processo de umedecimento, pois a faixa de umidade ensaiada neste processo não atingiu valores consideráveis para tal análise. Os resultados de sucção matricial versus umidade (figura 3) foram ajustados a partir da proposta de Fredlund & Xing (1994), figura 5, onde os parâmetros de ajustes utilizados estão dispostos na tabela 3. Figura 3. Resultados do ensaio de sucção. 5 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. obrigatoriamente negativo. Para facilitar o ajuste, recomenda-se que t seja aproximadamente o dobro da diferença entre a maior e a menor σt medida. A figura 6 corresponde à modelagem proposta, para o solo analisado, onde os parâmetros utilizados em cada ajuste encontram-se dispostos na tabela 4. É recomendado que esta formulação não seja aplicada para valores elevados de sucção (>10.000 kPa). Figura 5. Ajustes das curvas características de sucção, de acordo com a proposta de Fredlund & Xing (1994). Tabela 3. Parâmetros utilizados para o ajuste das curvas características. Secagem Umedecimento 26 21 ws (%) = ws (%) = Ψr (kPa) = 700 Ψr (kPa) = 300 a = 13500 a = 13500 2 2 n= n= 1,5 1 m= m= 5 PREVISÃO DA RESISTÊNCIA À TRAÇÃO A PARTIR DA CURVA CARACTERÍSITICA A partir dos dados provenientes das curvas características, procurou-se elaborar uma modelagem matemática para a previsão da resistência à tração em função da sucção matricial. Observou-se que é possível representá-la utilizando a formulação proposta por Fredlung & Xing (1994) para modelagem da curva característica, aplicando alguns ajustes aos parâmetros da equação 1 e transformando-a na equação 3 a seguir. ⎡ ⎛ ψ ⎢ 1 − ln ⎜⎜ 1 + σ t max ⎝ σ t = ⎢⎢ ⎛ 1 + 10 6 ⎞ ⎢ ln ⎜ ⎟ ⎜ σ ⎟ ⎢⎣ ⎝ t max ⎠ ⎞⎤ ⎟⎥ ⎟ ⎠⎥ ⎥ ⎥ ⎥⎦ Tabela 4. Parâmetros de ajuste da curva σt versus Ψ. (3) t ⎡ ⎛ ⎛ ⎢ ln ⎜ e + ⎜ ψ ⎜σ ⎜ ⎢ ⎝ t max ⎣ ⎝ Figura 6. Previsão de σt a partir dos dados da curva característica de umedecimento e secagem. ⎞ ⎟ ⎟ ⎠ n ⎞⎤ ⎟⎥ ⎟⎥ ⎠⎦ m Umedecimento Secagem σtmax 6000 4000 t 600 700 n -4 -3 m 0,9 1,28 Conforme mencionado anteriormente, as curvas obtidas explicam a tendência observada nos resultados dos ensaios. Ao analisá-las com as curvas características apresentadas na figura 5, nota-se que a resistência à tração fica praticamente constante na zona de efeito limite onde Ψ é o valor da sucção matricial; σt max é o maior valor da tensão à tração (proveniente de ensaio); t, m, n são parâmetros de ajuste da curva. Para modelar a curva σt versus sucção matricial, através da equação 3, n deve ser 6 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. Tabela 5. Parâmetros para o solo de Santos (2005). (valores menores que 100 kPa) até o valor de entrada de ar. Após este valor, a resistência à tração aumenta de forma exponencial até atingir seu valor máximo, valor este próximo ao valor da sucção residual. Após atingido o pico, há uma nova mudança de comportamento, onde a resistência à tração começa a diminuir. 5.1 Comparação com Encontrados na Literatura Outros Solo Amarelo Solo Cinza σtmax 7500 2500 t 270 122 n -4 -1,8 m 0,9 0,7 Dados Com o intuito de verificar a modelagem matemática proposta pela equação 3, serão apresentados alguns dados dos trabalhos de Santos (2005) e Boszczowski (2008), submetidos à mesma modelagem apresentada. Os resultados destas análises podem ser observados nas figuras 7 e 8, onde os parâmetros utilizados são apresentados nas tabelas 5 e 6. Figura 8. Comparação da modelagem para os solos branco e laranja, compactados, de Boszczowski (2008). Tabela 6. Parâmetros para os solos de Boszczowski (2008). Solo Solo Laranja Solo Laranja Branco 1 2 σtmax 200 700 600 t 20 33 46 n -5 -2,1 -2,1 m 0,6 1,1 1,1 A partir destes resultados, verificou-se que a tendência encontrada no solo analisado também foi observada nos solos reportados na literatura. Isso caracteriza a aplicabilidade da modelagem proposta para diferentes solos. Porém, há alguns casos em que é possível observar uma faixa de variação da resistência com a sucção matricial (figura 8 – solo laranja), limitada por duas curvas modeladas. Nestes casos observou-se que há uma grande Figura 7. Comparação da modelagem para os solos cinza e amarelo de Santos (2005). 7 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. Bastos, C. A. B. (1999) Estudo Geotécnico sobre a Erodibilidade de Solos Residuais Não Saturado, Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Escola de Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Porto Alegre, RS. Boszczowski, R. B. (2008) Avaliação de propriedades mecânicas e hidráulicas de um perfil de alteração de granito-gnaisse de Curitiba, PR, Tese de Doutorado em Geotecnia, Departamento de Engenharia Civil, PUC Rio. Cardoso, C. R. (2006) Estudo do comportamento de um solo residual de gnaisse não saturado para avaliar a influência da infiltração na estabilidade de taludes. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, USP, São Paulo. Fredlund, D. G. & Xing, A. (1994) Equations for the soil water characteristic curve, Canadian Geotechnical Journal, Vol. 31 (4), p. 699-706. Gerscovich, D. M. S. & SAYÃO, A. S. F. J. (2002) Evaluation of the soil-water characteristic curve equations for soils from Brazil, Third International Conference on Unsaturated Soils - UNSAT2002, Recife, Vol.1, p.295-300. Lu, N.; Likos, W. J. (2004) Unsaturated Soil Mechanics, John Wiley & Sons. Maciel, C. B., Grando, A., Maccarini, M., Kobiyama, M., Higashi, R. A. R. (2009) Caracterização de solos utilizados em estradas não pavimentadas: Avaliação de solos melhorados com vista na redução de processos erosivos, XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, Campo Grande, MS. Marinho, F. A. M. (1994) Medição de sucção com o método do papel filtro, X Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações, Foz do Iguaçu, PR, Vol. 2, p. 515-522. Santos, C. M. Z. (2005) Estudo da erodibilidade dos solos da bacia do ribeirão Taboão, SP, como subsídio ao estudo da disponibilidade hídrica da bacia, Relatório Final de Iniciação Científica – Fapesp, 86 p. Villar, L. F. S. (2002) Estudo do Adensamento e Ressecamento de Resíduos de Mineração e Processamento de Bauxita, Tese de Doutorado em Geotecnia, Departamento de Engenharia Civil, PUC Rio. Villar, L.F.S., De Campos, T.M.P, Zornberg, J. G. (2007) Relação Entre a Resistência à tração Obtida via Ensaio Brasileiro, a Sucção e Índices Físicos de um Solo, VI Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados, Salvador, BA, p. 421-432. heterogeneidade no material analisado. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho buscou avaliar a influência da sucção matricial na resistência à tração de amostras de solos compactados. A curva característica foi determinada pelo método do papel filtro e a resistência à tração através do ensaio de compressão diametral (método brasileiro). O efeito de histerese foi avaliado para as duas metodologias de ensaio (umedecimento e secagem) sendo mantida nas amostras a mesma densidade seca. A sucção matricial foi relacionada com a resistência à tração de cada corpo de prova moldado. Um modelo matemático foi proposto para descrever a variação da tensão de tração em função da sucção matricial, com base no modelo de Fredlund & Xing (1994), onde sua aplicabilidade foi verificada no solo estudado e em alguns solos reportados na literatura. Por se tratar de um estudo preliminar, algumas recomendações são feitas para este modelo: o parâmetro n deve ser obrigatoriamente negativo estando este no intervalo de 1 a 5. A faixa de valores de sucção para esta formulação não deve ser superior a 10000 kPa. O entendimento do comportamento da curva resistência à tração e sua possível modelagem podem se apresentar como uma importante ferramenta para os estudos de erodibilidade do solo. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à Fapesp, pela bolsa de mestrado concedida ao primeiro autor, e ao CNPq, pela bolsa PQ-2 do segundo autor. REFERÊNCIAS ANTT (2008) Anuário Estatístico de Transportes Terrestres, Brasília. Disponível em: http://appeantt.antt.gov.br/InformacoesTecnicas/aett/aet t_2008/principal.asp. Acesso em 22/01/2010. ASTM – American Society for Testing and Materials D5298 (1994). Standard test method for measurement of soil potential (suction) using Filter Paper. 8