PROCESSO DE SEPARAÇÃO POR MEMBRANAS COMO ALTERNATIVA PARA MINIMIZAÇÃO DO IMPACTO DO LANÇAMENTO DOS EFLUENTES LÍQUIDOS DA INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS NO MEIO AMBIENTE Anderson Idacir dos Santos Acadêmico do curso de Engenharia Mecânica pelo Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) - Câmpus Erechim [email protected] Airton Campanhola Bortoluzzi Professor do curso de Engenharia Mecânica no Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS)- Câmpus Erechim e Doutorando pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI) – Campus de Erechim [email protected] Julio Americo Faitão Professor do curso de Marketing no Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS)- Câmpus Erechim e Doutorando pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI) – Campus de Erechim [email protected] Resumo. O presente trabalho visa apresentar o tratamento de efluentes utilizando Processo de Separação por Membranas (PSM) como alternativa ao tratamento convencional utilizado pelas indústrias de laticínios, uma vez que os efluentes líquidos gerados na produção láctea possuem elevada carga orgânica e grande parte das indústrias não possui sistema eficiente de tratamento, o que acarreta o lançamento fora dos padrões ambientais. Brevemente é apresentada a evolução da produção leiteira no Brasil nos últimos vinte anos. Discutem-se, ainda, as dificuldades que os meios convencionais de tratamento de efluentes encontram para atender a legislação e possibilitar lançamento no corpo receptor, bem como os resultados satisfatórios que se pode obter quando o meio de tratamento utilizado é o de separação por membranas, de maneira a permitir até mesmo o reuso do permeado no processo. Os resultados parciais obtidos no projeto até o momento mostram o funcionamento da planta piloto e elevada eficiência do PSM. Palavras-chave: Leite. Tratamento de efluentes.Membranas. 1. HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DO SETOR LEITEIRO NO BRASIL Observando Pereira (2013), o cenário brasileiro apresenta-se como emergente na área de produção leiteira em grande escala. O país atingiu evidência maior a partir da década de 80, quando ganhou dinamismo que antes não existia, já que o leite do tipo Longa Vida adquiriu popularidade em virtude da forma como é produzido, permitindo que seu tempo de validade seja maior do que os demais concorrentes. A partir de então, o caráter regional da pecuária leiteira foi substituído, pois seu XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil processamento e venda podem ocorrer a milhares de quilômetros de sua origem. Maia (2013) ressalta que o fim da inflação dos anos 90 foi um divisor de águas. Depois da implantação do plano real e estabilização da moeda, o país iniciou de vez sua grande escalada na produção e consequentemente no ranking de grandes produtores mundiais, chegando aos anos 2000 com produção 27% maior do que no início da década anterior, cenário este que pode ser observado na Figura 1, a seguir. Figura 1 - Escala de crescimento da produção leiteira no Brasil – Últimos 20 anos. normas relacionadas ao tratamento e descarte de efluentes no meio ambiente. A indústria láctea como integrante dos segmentos a serem regulados pela legislação vigente no que tange aos padrões de lançamento é acompanhada/ fiscalizada pelo CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) onde prevê em sua legislação uma série de disposições que devem ser cumpridas por qualquer tipo de empresa para o lançamento de efluentes no meio ambiente. 2.1. Sistemas de tratamento de efluentes líquidos atualmente adotados nas indústrias de laticínios. Na Figura 2, pode-se observar um processo genérico atualmente utilizado pelas empresas do segmento leiteiro, não obstante, um dos inconvenientes constatados é a necessidade de utilização de grandes áreas para a construção das lagoas (utilizadas na maioria dos processos) para tratamento e polimento dos efluentes. Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados do IBGE (2014). 2. Figura 2 – modelo de sistema atualmente adotado pelas indústrias lácteas. TRATAMENTO DE EFLUENTES EM INDÚSTRIAS DE LATICÍNIOS É inevitável falar em meio ambiente quando o assunto em questão é o crescimento de um ramo industrial, seja ele de qualquer segmento, sempre envolve assuntos importantes como a poluição do ecossistema. Dentre todos os problemas e desequilíbrios que a natureza sofre, como desmatamento, poluição do ar e aumento de catástrofes climáticas, por exemplo, uma situação que muito preocupa é a escassez de água que se apresenta gradativamente em diversas áreas do planeta, o que torna cada vez maior a preocupação com o surgimento de alternativas para minimizar estes problemas (Gouvêa, 2014). Com este objetivo, a legislação brasileira, visando a regulamentação e o acompanhamento, dispõe de diferentes Fonte: Desenvolvidos pelos autores. Ainda na área do segmento lácteo, que faz uso de grande volume de água para higienização das instalações, bem como para a concepção dos produtos/subprodutos, o que gera consequentemente um grande volume de efluentes com elevada carga orgânica, corroborando com a necessidade de efetivo tratamento e monitoramento. Estas cargas orgânicas encontradas em efluentes da indústria leiteira são basicamente constituídas de leite, apresentando elevada Demanda Química de Oxigênio (DQO), óleos e graxas, nitrogênio e fósforo. Seguindo Rohlfes (2011) um dos XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil subprodutos, o soro do leite, é descartado sem tratamento adequado, o que causa sérios impactos ambientais já que contém quantidades significativas de lactose e proteínas. 2.2. Processo de separação por membranas: alternativa para o tratamento de efluentes. Os processos de separação com a adoção da tecnologia de membranas têm sido utilizados crescentemente como processos de separação, purificação, fracionamento e concentração em diversos tipos de indústrias (HAMZA et al.,1997). O campo de aplicação para membranas é vasto, saneamento, filtração de água potável, tratamento de água para fins industriais, dessalinização de água do mar, polimento e tratamento de efluentes são alguns exemplos que se podem citar. Existem vários tipos de membranas, onde sua aplicação depende das características do efluente e do padrão de qualidade que se deseja. Estão hoje disponíveis no mercado as membranas de Microfiltração, Ultrafiltração, Nanofiltração e Osmose Inversa. Para tratamentos de efluentes as membranas podem ser utilizadas a fim de separar quaisquer contaminantes, dada sua alta seletividade. (Aquino, 2011). A membrana de Microfiltração elimina todo material em suspensão da água bruta, possibilitando aumento do desempenho e da vida útil das membranas de menor corte, que podem ser utilizadas a jusante no processo. A tecnologia de Microfiltração pode ser usada em processos em que é necessária a separação de partículas com dimensões maiores que 0,1 μm. Farrugia (2013) afirma que junto às membranas de Ultrafiltração os poros são tão pequenos que nem são classificados por tamanho de poro, mas sim por uma estimativa de sua retenção molecular média. A tecnologia de Ultrafiltração consiste na aplicação de pressão hidrostática fazendo o líquido escoar através dos poros da membrana. Os sólidos suspensos e grandes moléculas em solução são retidos, enquanto que a água, de menor tamanho molecular, passa pelo poro da membrana pelo diferencial de pressão, como apresentado abaixo na Figura 3. Ainda é importante ressaltar que este tipo de membrana consegue uma remoção de 70% na DQO, enquanto as de Nanofiltração e Osmose Inversa atingem valores de 98% e 99% na remoção de DQO, respectivamente. Figura 3 – Proposta de sistema a ser adotado pelas indústrias lácteas. Fonte: Desenvolvido pelos autores. 3. RESULTADOS PRELIMINARES O fluxograma mostrado na Figura 4 elucida o sistema utilizado para realização dos ensaios utilizando o PSM. Figura 4 – Fluxograma piloto utilizado no projeto. Fonte: Desenvolvido pelos autores O efluente líquido inicialmente encontra-se armazenado no tanque de alimentação, saindo dele é conduzido para primeira bomba, que envia o efluente a baixa pressão para o filtro fino a fim de retirar os sólidos que ainda possam estar contidos na XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil amostra. Após, o efluente passa por um medidor de vazão e passa por outra bomba, desta vez de alta pressão, a fim de fazer com que o fluido escoe pela membrana com a pressão necessária para filtração. A membrana possui duas saídas, na da direita sai o fluxo permeado, ou seja, filtrado, este passa por um novo medidor de vazão e após é novamente encaminhado ao tanque de alimentação. A saída superior da membrana é respectiva ao fluido que a membrana não permeou ainda, este passa por uma válvula de controle de vazão e após entra no sistema de resfriamento. Depois disso o efluente volta para o tanque de alimentação, sendo reconstituído para continuação do experimento com menor volume de efluente. Considerando um processo industrial, o fluxo permeado é lançado ao corpo receptor (meio ambiente) atendendo devidamente a legislação ou pode ser reutilizado no processo produtivo. Utilizando o sistema citado, obtiveramse até o momento reduções de 100% da cor do efluente, 100% da turbidez, 100% dos sólidos totais e sólidos em suspensão, 98% do nitrogênio total e ainda, redução de 86% da DQO. Os resultados preliminares obtidos com o sistema de PSM são muito expressivos, deixando o efluente com as características necessárias para atendimento dos padrões que a legislação demanda e ainda mostrando que é possível chegar a resultados que possibilitam o reuso da água no processo. 4. REFERÊNCIAS AQUINO, Alexandre. As diferenças entre nanofiltração, ultrafiltração, microfiltração e osmose inversa. Revista Meio Filtrante. Ano X Edição 53. Nov/Dez 2011. FARRUGIA, Beatriz. Conheça como funciona uma estação de tratamento de efluentes. Revista TAE Especializada em tratamento de água e efluentes. Edição abril/maio 2013. FARRUGIA, Beatriz. Membranas de Filtração, tecnologia eficiente em aplicações diversas. Revista Meio Filtrante. Ano XII Edição 64. Set/Out 2013. GOUVÊA, M. M.; LIMA, G. S.; NETO, A. A. S.; NETTO, A. D. P.; MARQUES, F. F. C. 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