RENDIMENTO COMERCIAL DO PIMENTÃO EM RESPOSTA À SALINIDADE E AO TEMPO DE EXPOSIÇÃO J. P. N. de Almeida1; R. L. C. Nunes2; N. S. Dias3; J. M. da Costa2 RESUMO: A cultura do pimentão é considerada moderadamente sensível à salinidade da água de irrigação. O objetivo do atual trabalho foi de avaliar os efeitos da água de rejeito salino aplicada em diferentes estádios de desenvolvimento no rendimento comercial do pimentão (Capsicum annuum L.). O experimento foi conduzido em casa de vegetação no Departamento de Ciências Ambientais da UFERSA, Mossoró-RN. O delineamento experimental utilizado foi blocos inteiramente casualizados, com cinco tratamentos e três repetições. Os tratamentos constaram da combinação de duas fontes de água, sendo uma de abastecimento (AB) e outra de rejeito de dessalinizador (RD), resultando em: T1 (100% AB - controle), T2 (75% AB + 25% RD), T3 (50% AB + 50% RD), T4 (75% RD + 25% AB) e T5 (100% RD), com suas respectivas condutividades elétricas de 1,2; 3,49; 5,69; 7,07 e 9,23 dS m-1. Houve redução significativa no índice de qualidade dos frutos com aumento da salinidade. O tempo de exposição, para que não tenha uma redução acentuada no rendimento e produção dos frutos é de 85 a 120 dias. PALAVRAS-CHAVE: Capsicum annuum, nutrição, rejeito. INCOME COMMERCIAL THE CHILI IN RESPONSE TO SALINITY AND THE EXPOSURE TIME SUMMARY: The sweet pepper is considered moderately sensitive to salinity of irrigation water. The aim of the present study was to assess the effects of saline waste water appliedat different stages of development in the commercial performance of pepper (Capsicum annuum L.). The experiment was conducted in a greenhouse at the Department of Environmental Sciences UFERSA, Mossoró-RN. The experimental design was randomized blocks with five treatments and three repetitions. Thetreatments consisted of two sources of water supply and a (AB) and a waste ofdesalination (RD), resulting in: T1 (100% AB control), T2 (75% AB + 25% DR) , T3(50% AB + 50% DR), T4 (75% RD + 25% AB) and T5 (100% RD) with their respective electrical conductivities of 1.2, 3.49, 5.69, 7, 07 and 9.23 dS m-1.Significant reduction in the rate of fruit quality with increasing salinity. The exposure time, so you do not have a marked reduction in yield and fruit production is 85 to 120 days. KEYWORDS: Capsicum annuum, nutrition, reject 1 Mestrando em Agronomia/ Fitotecnia, UFC/Fortaleza-CE. E-mail: [email protected] Graduando em Agronomia, UFERSA/Mossoró-RN. 3 Engenheiro Agrônomo, Prof. Dr. Depto. de Ciência Ambientais e Tecnológicas, UFERSA/Mossoró. E-mail: [email protected] 2 J. P. N. de Almeida et al. INTRODUÇÃO O pimentão (Capsicum annuum) é uma das cinco culturas com maior área em cultivo protegido, tanto no Brasil como em diversos países devido à grande produtividade e qualidade dos frutos (Lorentz et al., 2002). Porém, para assegurar essas vantagens é preciso adequar o manejo ao ambiente protegido, principalmente quanto à suplementação hídrica, pois o pimentão é muito exigente em água e é considerada moderadamente sensível à salinidade. A escassez de recursos é um fator limitante ao desenvolvimento econômico e social de uma região. A agricultura é reconhecidamente a atividade humana que mais consome água, em média 70% de todo o volume captado, destacando-se a irrigação como atividade de maior demanda (Christofidis, 2001). Uma alternativa viável para aumentar a disponibilidade hídrica é a reutilização de efluentes, principalmente os de origem urbana, que é uma forma efetiva de controle de poluição e preservação do meio ambiente, cujos benefícios estão associados aos aspectos econômicos, ambientais e de saúde pública (Inhoff & Klaus, 1998). No Brasil, o rejeito não está recebendo, na quase totalidade dos casos, qualquer tratamento; mesmo assim, está sendo despejado no solo, propiciando alto acúmulo de sais nas camadas superficiais do terreno (Porto et al., 2001). A deposição deste rejeito poderá trazer, em curto espaço de tempo, sérios problemas para as comunidades que se beneficiam da tecnologia de dessalinização, como informam Porto et al. (1999). A dessalinização, embora seja uma técnica incremental ao bem-estar dessas comunidades, podendo constituir-se em ação política de desenvolvimento local, deve-se ponderar pela dualidade do benefício da dessalinização por osmose reversa, tendo em vista o potencial de contaminação da água residuária gerada (Amorim et al., 2004). Desde modo, ações de pesquisas devem ser desenvolvidas para definir a melhor opção para se dispor o rejeito da dessalinização por osmose reversa, tendo em vista os riscos ambientais da técnica e o aproveitamento desse resíduo pelas comunidades para a produção agrícola. Com esta hipótese é que um experimento foi conduzido para avaliar os efeitos da água de rejeito de dessalinizadores aplicada em diferentes estádios de desenvolvimento no rendimento comercial do pimentão (Capsicum annuum L.). MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em vasos de polietileno com capacidade para 13 dm3, realizado em casa de vegetação do Departamento de Ciências Ambientais e Tecnológicas da Universidade Federal Rural do Semiárido – UFERSA, Mossoró, RN (5° 11' S, 37° 20' W e 18 m). O substrato utilizado foi à fibra de coco (PH: 5,9 – umidade: 37% - CE: 0,3 mS/cm, densidade: 260Kg/m3- CRA: 51%). O delineamento experimental utilizado foi blocos inteiramente casualizados, em um esquema fatorial de 5x3 e três repetições, sendo testados cinco níveis de salinidade da água (condutividade elétrica de 1,2; 3,49; 5,69; 7,07 e 9,23 dS m-1) e três estágio de desenvolvimento (0 a 24 DPA, 24 a 85 DAP e 85 a 120 DAP), totalizando 45 parcelas experimentais (um vaso por parcela). J. P. N. de Almeida et al. Os tratamentos constaram da combinação de duas fontes de água, sendo uma de abastecimento (AB) e outra rejeito de dessalinizador (RD), resultando em: T1 (100% AB - controle), T2 (75% AB + 25% RD), T3 (50% AB + 50% RD), T4 (75% RD + 25% AB) e T5 (100% RD), com suas respectivas condutividades elétricas de 1,2; 3,49; 5,69; 7,07 e 9,23 dS m-1. As irrigações foram realizadas duas vezes ao dia de forma localizada, utilizando-se uma proveta graduada e mantendo-se a umidade sempre a capacidade máxima de retenção de água do substrato. As épocas de aplicação foram respectivamente de 0 a 24 dias após o plantio, representando a fase inicial, de 24 a 85 (DAP), constituindo a fase de desenvolvimento e florescimento, e por fim 85 a 120 (DAP) representando a fase de produção dos frutos. Foi necessária a utilização do tutoramento, uma vez que os caules eram relativamente frágeis (Gotto & Tivelli, 1998). A água de abastecimento foi proveniente da rede hidráulica do campus da UFERSA e a água de rejeito oriunda na comunidade Boa Fé (Mossoró-RN) na qual faz parte de um complexo de 50 comunidades que são abastecidas com unidades de captação e tratamento de água por dessalinização. A quantidade de cada fertilizante adicionado a solução nutritiva para 100 L de água de irrigação foi de 18,4 g de nitrato de cálcio (Ca(NO3)2), 9,2 g de cloreto de potássio (KCl), 9,4 g de fosfato monoamônico ((NH4)H2PO4), 8,6 g de sulfato de magnésio (MgSO4) e 3,8 g de Quelatec® (mistura sólida de EDTA micronutrientes quelatados contendo 0,28% de Cu, 7,5% de Fe, 3,5% de Mn, 0,7% de Zn, 0,65% de B e 0,3% de Mo). Após o preparo da solução nutritiva o pH da solução foi ajustado para 6,0, utilizando, quando necessário, soluções diluídas de ácido sulfúrico (H2SO4) ou de hidróxido de sódio (NaOH). Após o início do período produtivo, avaliou-se a produção comercial de frutos (kg planta-1), considerando-se comerciais os frutos livres de danos mecânicos, manchas e deformações, e que atingiam o diâmetro transversal mínimo de 60 mm. A produtividade percentual do pimentão em função da salinidade em cada tratamento foi calculada em relação à produtividade obtida com o tratamento testemunha. Foram realizadas comparações entre médias pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO: A análise de variância indicou que os diferentes níveis de salinidade e o tempo de exposição influenciaram significativamente os resultados obtidos e que não houve interação entre salinidade e estágio, evidenciando que o êxito que cada tratamento obteve não foi influenciado pelo tempo de exposição (Tabela 1). Esse resultado contraria a hipótese levantada por Porto filho et al. (2006), na qual verificaram que o aumento da salinidade das águas e do tempo de uso destas na irrigação do melão, diminuiu significativamente a produção comercial e total da cultura. Não ocorreu o aparecimento podridão apical nos frutos. Os efeitos dos níveis de salinidade foram mais graves quando as soluções foram aplicadas antes da fase de floração (24 e 85 DAT). Em relação à produção, verificou-se que existe relação inversa entre a CE da solução nutritiva e o rendimento médio dos frutos. Assim, quanto maior a CE, menor o rendimento médio dos frutos e quanto maior ao tempo de exposição, maior o rendimento médio dos frutos (Tabela 2). J. P. N. de Almeida et al. Os tratamentos com CE mais elevada induziram uma redução de 53% do rendimento de frutos produzidos (Figura 1) em relação ao tratamento controle (1,2 dS m-1). Esses resultados confirmam o verificado por Amor et al. (1999) e Mendlinger e Pasternak (1992) ao afirmarem que, quanto maior a salinidade da água e o tempo de uso da mesma na irrigação, maior a perda no rendimento da cultura. CONCLUSÕES: Aumentos na salinidade da água de irrigação (9,23 dS m-1) reduzem as produções totais do pimentão em 53%. O tempo de exposição, para que não tenha uma redução acentuada no rendimento e produção dos frutos é de 85 a 120 dias. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: AMORIM, M.C.C. et al. Evaporação solar como alternativa de reuso dos efluentes da dessalinização por osmose inversa. Disponível em: http://www.cepis.org.pe/bvsaidis/aresidua/i-007.pdf. 10 Jul. 2004. Acesso em: 15 nov. 2011. AMOR, F.M. et al. Salinity duration and concentration affect fruit yield and quality, and growth and mineral composition of melon plants grown in perlite. HortScience, Alexandria, v.34, n.7, p.1234-1237, 1999. CHRISTOFIDIS, D. Os recursos hídricos e a prática de irrigação no Brasil e no mundo. 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Uso do rejeito da dessalinização de água salobra para irrigação da erva-sal (Atriplex nummularia). Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v.5, n.1, p.111-114, 2001. PORTO FILHO et al., 2006 Viabilidade da irrigação do meloeiro com águas salinas em diferentes fases fenológicas. Ciência Rural, Santa maria v36, n2, p.453-459, mar-abr, 2006. Tabela 1. Resultados da análise de variância referentes ao peso do pimentão submetido a diferentes níveis de salinidade e ao tempo de exposição. Mossoró-RN, 2011. Fator GL Salinidade (S) Estágio (E) SxE Erro CV (%) 4 2 8 30 REN (kg ha-1) 14,44** 5,23* 1,39NS 18,69 J. P. N. de Almeida et al. Figura 1. Rendimento de frutos (kg ha-1) em função de diferentes níveis de CE. Mossoró-RN, 2011. Tabela 2. Efeito dos níveis de salinidade da água e do tempo de exposição as respostas de rendimento (kg ha-1) do pimentão “margarita”. Mossoró-RN, 2011. Tempo de exposição DAT 24 85 120 1,2 3416,67 2750 3723,33 Salinidade (dS cm-1) 3,49 5,69 7,07 2253,33 2000 1480 2380 2260 1700 3386,67 3020 2516,67 9,23 1180 1304 2216,67 MÉDIA 2066 2078,8 2972,67