Epistemologia e Educação: Uma Análise da Polêmica “Ciência ou Ciências da Educação” Mirelle Freitas1 Ferdinand Röhr2 Resumo: O presente artigo propõe uma análise crítica de três posições que podem ser consideradas paradigmáticas na atual discussão sobre o status da Educação como Ciência. Nosso objetivo é analisar por dentro da produção científico-intelectual sobre a questão da cientificidade da Educação, avaliando em que condições pode-se, ou não, constituir uma Ciência da Educação. Como se trata de uma pesquisa teórica, a análise das produções referentes à temática é objeto da própria pesquisa, que segue a metodologia da hermenêutica, a fim de viabilizar uma interpretação mais próxima possível ao objeto. A pesquisa contribui para a elucidação de decisões básicas em prol de uma relativa autonomia da Educação que encontra no educador o principal responsável por um objeto próprio da Educação. Palavras-chave: Ciência, educação, educador. A primeira tentativa de fundamentar a Educação como Ciência é de Joham Friedrich Herbart. Na sua obra “Pedagogia Geral” (1806), além de buscar os conceitos próprios da Educação, procura apoio tanto na Filosofia para estabelecer a meta educacional como na Psicologia para determinar os meios educacionais. Desde àquela época, o status da Educação como Ciência está em discussão e ao que tudo indica, a polêmica em torno dessa questão ainda está longe de uma conclusão. Obviamente que existem muitos interesses envolvidos nessa questão, principalmente interesses políticos, sociais e econômicos. Mas também, não se pode negar que na própria academia existem disputas a favor do domínio de áreas de conhecimento. Isso, nas últimas décadas, gerou uma polêmica em torno da Educação em relação às suas áreas afins como: Sociologia, Psicologia, Filosofia, Antropologia, História, Política, Administração e até Biologia. Assim sendo, é comum chamar essas áreas 1 Concluinte de Pedagogia – Centro de Educação – UFPE. E-mail: [email protected]. 2 Dr. phil. da Rheinisch-Westfälisch Technischen Hochschule Aachen, Alemanha; Professor Adjunto do Departamento de Fundamentos Sócio-Filosóficos da Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco. E-mail: [email protected]. 1 de Ciências da Educação. Contudo, parece que os profissionais da Educação procuram ancorar cada vez mais o conhecimento pedagógico nessas áreas, ao mesmo tempo em que esperam, dessa forma, assumir um status de maior cientificidade, frequentemente negado à Educação. O resultado dessa tendência é que as teorizações na área educacional flutuam entre as Ciências da Educação, e a própria Educação está sendo determinada pela Ciência que adquire, temporariamente, uma hegemonia na discussão. Podemos, dessa forma, falar de um Sociologismo, Psicologismo, Tecnicismo, Pragmatismo, Pós-Modernismo, etc., na educação (Cf. Orlandi, 1969, p. 8). Essa situação não é só prejudicial para a consideração atribuída à Educação na academia, mas traz conseqüências graves para a orientação dos educadores na prática pedagógica. O presente artigo, longe de pretender resolver essa situação, tenta contribuir com uma análise a partir de algumas posições dentro dessa discussão que pretende constituir a Educação como Ciência. As nossas questões em relação a essas posições são, portanto: Em que sentido está sendo proposta uma constituição no campo do conhecimento educacional que nos permite falar de uma Ciência; Qual é a compreensão que se tem de Ciência que possibilite compreender a Educação enquanto Ciência; Qual é a conceituação da própria Educação que caracteriza essas posições; Em que sentido existe, ou não, uma relativa autonomia no conhecimento educacional. Em face às questões acima levantadas, nosso objetivo é realizar uma análise por dentro da produção científico-intelectual sobre a questão da fundamentação científica dos saberes pedagógicos, a fim de contribuir em relação à possibilidade, ou não, de uma Ciência da Educação. Nesse sentido, indagamos à existência de um objeto epistêmico próprio da Educação, interligado com áreas de conhecimentos afins, fundamentando a possibilidade de falar numa “Ciência da Educação”. É, portanto, uma discussão que promove ao profissional de educação uma responsabilidade no cumprimento da sua tarefa educacional, pois é decisivo na compreensão do seu papel profissional: ou o educador é o principal responsável pelo esmero por um objeto epistêmico próprio da Educação, caso esse exista; ou por fazer da Educação um instrumento para finalidades externas a ela. Para 2 essa última posição, a Educação tem uma função meramente instrumental em relação às finalidades não propriamente educacionais. Já na primeira, o educador tem que avaliar a sua contribuição em qualquer tarefa atribuída a ele, partindo da sua responsabilidade diante dos preceitos essencialmente educacionais, das quais ele não pode abrir mão sem abandonar seu dever de educar. Além de ser uma questão relevante à atuação do educador, ela envolve também o significado da Educação em relação às Ciências afins. Para essa polêmica, “Ciência ou Ciências da Educação”, destacamos três posições representativas na discussão atual para uma análise mais profunda, uma vez que justificam o sentido da Educação sob perspectivas distintas3. No primeiro momento, trazemos à tona o pensamento de Maria Amélia Santoro Franco que defende uma Ciência da Educação ancorada na Teoria Crítica Emancipatória. Já no segundo momento, temos João Amado e João Boavida que justificam o modelo de Ciências da Educação baseado no Paradigma da Complexidade. E por fim, apresentamos o pensamento de Otto Friedrich Bollnow, que considera a Educação uma Ciência com objeto epistêmico próprio, seguindo a Metodologia Hermeunêutico- Fenomenológica. A escolha para essas contribuições, não se deu a partir de uma delimitação do período histórico, mas por serem posições diferenciadas que se encontram em discussão. A posição de Franco concebe a possibilidade de fazer de uma determinada elaboração teórica, fora do campo propriamente educacional, uma orientação norteadora da Educação. Ela representa, nesse sentido, todas as abordagens da Educação que fazem da Educação um meio para alcançar fins que não são educacionais em si. Como base de análise, utilizamos o livro Pedagogia como Ciência da Educação, que é a versão da tese do doutorado da autora preparada para a publicação. Já a obra, Ciências da Educação: Epistemologia, Identidade e Perspectivas, de João Amado e João Boavida, é paradigmática para as posições que negam à possibilidade da cientificidade da Educação e tentam 3 No âmbito das limitações de um trabalho de conclusão de curso, é impossível fazer um mapeamento completo das posições em discussão. Nesse sentido, escolhemos posições que são paradigmáticas às demais que encontramos. 3 basear os conhecimentos educacionais nas chamadas Ciências da Educação. A referida publicação representa, em larga escala, a discussão sobre a temática principalmente em Portugal, mas não exclusivamente. Optamos, finalmente, para as colocações de Bollnow pelo fato de representar a posição de que é possível e necessário à fundamentação da Educação como Ciência relativamente autônoma. E ainda, por demonstrar também como é possível a Educação se relacionar com suas áreas afins, aqui, exemplarmente, com a Filosofia. Tomamos como principal material de análise, o seu livro Pedagogia e Filosofia da Existência: um ensaio sobre formas instáveis de educação (1971), além dos artigos The objectivity of the Humanities and the Essence of Truth (1974) e Sobre Las Virtudes Del Educador (1979), publicados na mesma década. Como se trata de uma pesquisa teórica, a análise dos referenciais teóricos é objeto da própria pesquisa, seguindo a metodologia da hermenêutica, em especial do ciclo hermenêutico, a fim de viabilizar uma interpretação mais próxima possível ao objeto. Por natureza, nessa metodologia não se pode deixar de compreender, em primeiro lugar, do que entendemos por Educação e Ciência, em seguida, das diferentes vertentes ou realidades que identificamos como significativas nas suas conceituações. Depende, ainda, da maneira como lidamos com a pluralidade dos paradigmas existentes, do modo como articulamos, tornamos coerentes e funcionais seus contributos científicos para uma melhor compreensão e aproximação do objeto de pesquisa, que nesse caso, é a problemática em torno da cientificidade da Educação. A metodologia científica da Hermenêutica se preocupa com as condições em que se dá a compreensão humana e por isso desenvolveu um procedimento interpretativo dos fenômenos humanos que tem a sua base no ciclo hermenêutico. Na medida em que se estendem os horizontes, cujo fenômeno humano está inserido, abrem-se, constantemente, novas compreensões, de tal forma que o lado subjetivo e objetivo do processo de compreensão aprofundam-se mutuamente de maneira inesgotável. O objetivo é incluir nesse processo de compreensão todos os elementos e facetas significativas que o próprio objeto de conhecimento envolve. 4 A Fenomenologia complementa essa metodologia da hermenêutica, que pelas próprias características está voltada principalmente para fatos históricos. A metodologia fenomenológica exige além da compreensão histórica, uma presença direta do pesquisador diante do objeto pesquisado. Sem a convivência direta não é possível penetrar no sentido de qualquer fenômeno humano (Cf. Rezende, 1990, p. 18). Entretanto, esse contato direto exige que o pesquisador suspenda, temporariamente, a crença na verdade dos conceitos que ele desenvolveu anteriormente sobre o objeto de pesquisa. No linguajar dos fenomenólogos seria colocar o conhecimento histórico entre parênteses, (Cf. Rezende, 1990, p.18) para abrir espaço para um olhar cada vez menos predeterminado por preconceitos4 estabelecidos (Gadamer, 2002). Iniciamos nossas reflexões a partir das considerações levantadas por Maria Amélia Santoro Franco5, que destaca em seu livro, Pedagogia como Ciência da Educação, uma abordagem de Ciência ancorada na Teoria Crítica Emancipatória. A referida autora faz uma breve explanação do princípio básico dessa concepção, cujo pressuposto fundamental é considerar a realidade como um processo histórico, provisório, decorrente de forças econômico-sociais contraditórias e intervenção dos homens mediados pela prática. Sendo, dessa forma, uma abordagem com base na dialética materialista, na filosofia da práxis, incorporando elementos da teoria crítica da Escola de Frankfurt. Todavia, é com os hegelianos da esquerda, Feuerbach, Marx e Engels, que identificamos a lógica marxista pela qual Franco justifica sua concepção de sociedade. Segundo a autora, a Educação apresenta-se como sendo articuladora de um projeto de sociedade, embora essa idéia não faça parte do projeto propriamente marxiano. Assim, a autora destaca o paradigma crítico-emancipatório, o qual se encontra relacionado com a Escola de Frankfurt, cujos principais representantes são: Herbert Marcuse (18984 Chamamos a atenção pelo fato de que Gadamer não usa preconceito num sentido negativo, mas sim, como algo que permanece no processo da compreensão, portanto, não é possível superar totalmente os preconceitos. 5 Maria Amélia do Rosário Santoro Franco é natural de Campinas (SP). Pedagoga, com mestrado em Psicologia da Educação pela PUC-SP e doutorado em Educação pela FE/SP, é especialista em administração escolar pela PUC-Campinas. 5 1979), Theodor Adorno (1903-1969), Max Horkheimer (1895-1973) e Jürgen Habermas (1923). Sendo esse último, o membro mais engajado em procurar saídas práticas, inclusive educacionais, que dizem respeito à situação de alienação. Portanto, o paradigma da teoria crítica surge com a Escola de Frankfurt, em que: “estabelece uma distinção entre dois tipos de razão. Uma é esclarecedora e emancipadora. Avalia as condições humanas, baseada nas idéias da Revolução Francesa – justiça, paz e felicidade. A outra, sua oposta, é a ‘razão instrumental’. Apenas fornece, sem reflexão, meios efetivos para qualquer fim aceite. (...) Apenas reproduz as condições estruturais existentes e serve a dominação, não a emancipação” (Landmann In: AMADO, J. & BOAVIDA J., 2006, p. 111). No entanto, é a partir do primeiro ponto de vista ‘crítico’, que Franco defende suas opções teóricas, colocando-se a favor de uma educação humana que valoriza a superação da opressão, da submissão e da alienação. Nesse sentido, como escreve Franco, cabe à pedagogia: “formar indivíduos na e para a práxis, conscientes de seu papel na conformação e na transformação da realidade sócio-histórica, pressupondo sempre uma ação coletiva, ideologicamente constituída, por meio da qual cada sujeito toma consciência do que é possível e necessário, a cada um, na formação e no controle da constituição do modo coletivo de vida” (FRANCO, 2003, p.64). Tal abordagem, formativo-emancipatória, estabelece a práxis como caminho para a compreensão e transformação da própria prática. Trata-se de uma metodologia que mantém a sua racionalidade fundamentada em finalidades político-sociais no interior da práxis, a qual conduz ações emancipatórias para sua transformação. E nessa perspectiva, Franco (2003, p. 65) afirma que somente a práxis traz a inteligibilidade da intencionalidade. A suposição acima, ratifica alguns propósitos do marxismo quanto à filosofia da práxis, em que o conhecimento, a reflexão e o trabalho têm como critério realizar ações concretas com vistas à transformação social, sem, portanto, adentrar na crença dos marxistas, em um processo históricamente pré-determinado e nem tampouco, considerar as condições econômicas como determinantes exclusivos da vida social. Com isso, o 6 sentido da Educação parte de um conceito de sociedade, cujo objetivo é unicamente preparar pedagogicamente ações sociais, que servem de instrumento para revisões de ordem sócio-econômico-político instalada. Para a autora, essas ações sociais pressupõem o real sentido e função da Pedagogia que são defendidas desde o início da sua obra quando destaca: “(...) o repensar do papel da pedagogia, na direção da construção de novas mediações sociais e políticas, com vistas a um projeto de futuro digno, às novas gerações” (FRANCO, 2003, p. 14). “(...) reforço a especificidade da ciência pedagógica no sentido de buscar suporte reflexivo e crítico à prática educativa, na intenção de encontrar alternativas que possam efetivar a função social da educação como instrumento da sociedade” (FRANCO, 2003, p. 15). Franco afirma que a Pedagogia como Ciência deve ter por finalidade o esclarecimento reflexivo e transformador da práxis educativa, discutindo as mediações possíveis entre teoria e práxis. Sua obra enfoca a práxis educativa realizada prioritariamente na escola, mas não exclusivamente, pois esta também pode ocorrer em diversas instâncias da sociedade, como no trabalho ou na própria família. Porém, é na escola que a autora tem priorizado o exercício da práxis educativa, devido à relevância social atribuída a esta instituição na emancipação da sociedade, viabilizando uma lógica de procedimentos que poderá ser reorganizada e utilizada em outros espaços sociais. A práxis educativa é vista como prática social intencionada, cujos propósitos e expectativas sociais se convergem e determinam os contextos da existência humana a partir de um determinado grupo social num processo histórico-social que se renova continuamente. Desse modo, a “ciência pedagógica ou pedagogia como ciência” assume a função de mediadora da práxis educacional, responsável por conduzir o sujeito à humanização e à emancipação via transformação da sociedade. Conforme afirma a autora em uma de suas passagens: “Portanto, caberá a pedagogia, como ciência da educação, ser a interlocutora interpretativa das teorias implícitas na práxis e ser também a mediadora de sua transformação, para fins cada vez mais emancipatórios” (FRANCO, 2003, p. 85). 7 A Pedagogia vem sendo assinalada como uma ação de organização da sociedade, não só a partir de uma proposta do esclarecimento permeada por um processo reflexivo que desvela as finalidades político-sociais, mas na própria condição dos sujeitos da práxis de se auto-transformarem à medida que surgem novos paradigmas no interior da sociedade. Diante disso, o que caracteriza o processo de Educação é o desenvolvimento de práticas emancipativas na sociedade. Suas ações pedagógicas estão diretamente vinculadas à emancipação da sociedade, sendo, por isso, um instrumento político fundamental que funciona através de uma suposta participação ativa dos sujeitos no processo de transformação social. A posição da autora evidencia-se a favor de uma humanização assente na igualdade de oportunidades, servindo para combater e superar a situação de opressão, exclusão e dominação presentes na sociedade. “Minha opção é por uma ciência pedagógica que, em seu fazer social, assuma-se como instrumento político de emancipação dos homens, na direção de organizar condições de maior dignidade e igualdade entre os homens. Assim, reafirmo que a pedagogia, na qualidade de ciência, há que ser formativa, de modo a poder ser emancipatória” (FRANCO, 2003, p. 67). Devido ao processo educacional ser determinado a partir das condições políticas e sociais em que se vive, constatamos com isso, o não reconhecimento da Educação enquanto objeto epistêmico próprio. De acordo com essa perspectiva, pode-se considerar, ainda, a Educação como sendo um mero instrumento utilizado, predominantemente, para atender aos interesses político-sociais. Sua razão de existir parte dos conflitos presentes na sociedade, tais como desigualdades, exclusão, submissão, dominação e tantas outras opressões impostas à existência humana. Os alicerces da formação educativa são de natureza política e sóciocultural, cujo ponto de chegada é a emancipação dos homens através da reflexão incorporada à prática. Ou, como escreve Habermas (In: Franco, 2003, p. 98): “Um ato de auto-reflexão, que altera a vida, é um movimento de emancipação”. A concretização por uma sociedade mais democrática e igualitária passa a ser a intencionalidade e o verdadeiro sentido da Pedagogia. Diante disso, 8 Franco descreve uma Pedagogia que age de acordo com as expectativas sociais que são esperadas dela enquanto propulsora da emancipação: A pedagogia, para poder dar conta de seu papel social, deverá definir-se e exercer-se como uma ciência própria, que liberta dos grilhões de uma ciência clássica e da submissão às diretrizes epistemológicas de suas ciências auxiliares, (...) produzam novas condições de exercício pedagógico, compatíveis com a expectativa da emancipação da sociedade (FRANCO, 2003, p. 72). Além do papel social, Franco reforça o caráter político da Pedagogia como Ciência da Educação quando afirma que: Ao conduzir a pedagogia como ciência da prática educativa, (...) será preciso considerar que ela deve ter necessariamente um papel político, uma vez que estará sempre refletindo, avaliando, propondo à discussão os fins e os valores da educação, num determinado tempo e espaço históricos (FRANCO, 2003, p. 70). A autora vislumbra uma ciência pedagógica que inevitavelmente é ideológica6 e política, realçando a práxis como objeto dessa ciência num movimento que integra por um lado, a intencionalidade e prática docente, e por outro, a formação e emancipação do sujeito da práxis. Contudo, surge a seguinte questão: Como a Ciência pode incluir em si mesma uma opção ideológica? Para justificar tal indagação, é necessário recorrer aos fundamentos críticos elaborados pela Escola de Frankfurt. Mesmo a Ciência de cunho positivista, como por exemplo, o racionalismo crítico de Karl Raimund Popper, tem uma base ideológica subjacente ao conceito de ciência. Para Popper, a Ciência não pode afirmar verdades, sua tarefa é simplesmente fazer propostas no sentido de solucionar os problemas de conhecimento, as quais estarão aptas para serem submetidas à crítica. Assim, a afirmação defendida passa a ser considerada como uma “verdade provisória” até encontrar um fato que a conteste, tornando-a inválida. Nesse caso, se torna necessário buscar uma outra proposta, e assim, novamente, submeter às afirmativas futuras, à crítica. 6 O sentido ‘ideológico’ presente no texto assume a função de camuflar interesses hegemônicos, estando relacionado, por sua vez, com a idéia de igualdade e superação da dominação por parte de um grupo minoritário. 9 Habermas, apoiando a posição de Adorno diante da “Lógica das Ciências Sociais”, demonstra que a conceituação da ciência de Popper em si não se enquadra nas possibilidades de uma falsificação metodológica científica no sentido dele mesmo. Logo, é uma proposta à qual a nossa razão não é obrigada a aderir. Demonstra, ainda, que o próprio procedimento da ciência no sentido de Popper, contém elementos das relações sociais na sociedade capitalista que leva a duvidar da almejada objetividade e neutralidade de prática científica. Conclui-se, com isso, que a Ciência, aproveitando as possibilidades que a própria razão crítica oferece, tem que incluir nas suas atividades uma reflexão do próprio papel que ela tem na sociedade. Os frankfurtianos, portanto, defendem a idéia de que a Ciência tem que aderir ao processo emancipatório da sociedade, pois todas as tentativas de ser neutra terminariam por contribuir para a manutenção do status quo. Seguindo com as nossas reflexões, destacamos uma segunda abordagem de Ciência apoiada no Paradigma da Complexidade, sendo apontado como mais apropriado às chamadas Ciências da Educação pelos autores portugueses, João Boavida7 e João Amado8, em sua obra Ciências da Educação: Epistemologia, Identidade e Perspectivas. Para compreender a complexidade em educação, faz-se necessário pensar nas dificuldades empíricas realizadas nas Ciências Humanas e Sociais, sobretudo quando se tenta impor um modelo simplificado e reducionista nessas experiências. A princípio, os autores comparam o conceito de complexidade a uma “confusão” ou “teia de dificuldades”. Já para Morin, principal representante dessa corrente, “a idéia de complexidade comporta a imperfeição, uma vez que comporta a incerteza e o reconhecimento do irredutível. (...) A complexidade reside precisamente na relação entre o simples e o complexo, porque esta relação 7 João Boavida, natural de Alpedrinha, doutorado em Ciências da Educação pela Universidade de Coimbra, é professor catedrático da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da mesma Universidade. É também licenciado em Filosofia e com especialização em Psicopedagogia pela Universidade Católica de Lovaina. 8 João Amado, natural de Coimbra, doutorado em Ciências da Educação pela Universidade de Lisboa, é professor associado da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa. É licenciado em Filosofia e mestre em Ciências da Educação. 10 é simultaneamente antagônica e complementar” (Morin In: AMADO, J. & BOAVIDA J., 2006, p. 132). Diante das reflexões dos autores, o complexo resulta do universo empírico (baseado na experiência) e da incerteza, da incapacidade de estar seguro de tudo. E ainda, da incapacidade de evitar as contradições, buscando incessantemente a sua superação. O processo educativo passa a ser considerado em toda a extensão do seu conceito a partir do paradigma da complexidade. Busca-se uma compreensão global através do confronto entre os pontos de vista e discussão de hipóteses descobertos. Ainda sobre a complexidade, Morin (In: Amado e Boavida, 2006, p. 133), chama a atenção para a dificuldade de pensar, porque o pensamento é um combate contra a lógica, com e contra as palavras, com e contra o conceito. O próprio Morin acredita que a Filosofia tenha se deparado várias vezes com a complexidade, mas atualmente esta questão é colocada a partir das transformações ocorridas nas ciências. A Educação ou qualquer outro fenômeno educativo, em particular, exige uma análise dessa realidade complexa, pois cada momento apresenta características particulares e únicas que jamais repetirão da mesma forma. Um exemplo que pode ilustrar bem essa verdade é quando um professor segue rigorosamente seu plano de aula em turmas distintas, porém com idades equivalentes. A faixa etária das turmas não será um determinante em relação ao grau de maturidade e compreensão do conteúdo proposto. Nem numa mesma turma espera-se que todos tenham compreendido de igual maneira o assunto. Existe uma multiplicidade enorme de fatores que podem ser determinantes no processo de aprendizagem. Nesse sentido, deve-se estar atento às particularidades e complexidades de cada evento, respeitando as significações implícitas existentes. A complexidade do sistema educativo procede da diversidade do ser humano, da sua indefinição, da sua autonomia, da sua capacidade de auto-organização, enfim, da sua própria transformação. Concomitantemente ao pensamento anterior, os autores discorrem à educação como sendo, “uma realidade complexa de conceitos e de práticas através dos quais o educando se transforma, mediante processos espontâneos e sistemáticos e sempre dentro de 11 um contexto social e cultural” (AMADO, J. & BOAVIDA J., 2006, p. 236). Contudo, o que se percebe com o paradigma da complexidade nessas situações complexas e particulares é que de algum modo se procura controlá-las devido à possibilidade de integrar essas inúmeras e variadas situações educativas em diferentes categorias. Procura-se caracterizar e adequar tais situações a partir de uma estrutura, quer seja de natureza social, econômica, jurídica, religiosa, axiológica, a fim de tornar possível uma aproximação à sua compreensão. Nesse sentido, os autores consideram o paradigma da complexidade como sendo a única abordagem que permite unir o maior numero possível de fatores, ao mesmo tempo em que consegue articulá-los com certa coerência. Amado e Boavida se apóiam em López Rupérez (1997) quando este conclui dizendo que: “a reflexão sobre o sistema educativo, sobre as suas reformas e, em geral, sobre as políticas que lhe são características não pode ignorar esta nova lógica, (...), enfim, essa nova forma de pensar a realidade física, natural e social que, ao longo das últimas décadas, abriram caminho no panorama das ciências contemporâneas e que se albergam no chamado paradigma da complexidade” (Rupérez In: AMADO, J. & BOAVIDA J., 2006, p. 189). O paradigma da complexidade tem como pressuposto uma diversidade de fatores que atuam na própria realidade, sendo impossível descrever ou explicar cada detalhe no momento em que cada aspecto é complexo. A caracterização dessa complexidade, portanto, também seria complexa, mas no momento em que é necessário apresentar algo dessa realidade, de certa forma, somos forçados a reduzir essa complexidade porque não é possível apresentar toda a realidade. Mesmo no paradigma da complexidade, somos obrigados a entrar num processo de redução da complexidade, simplificando e agrupando uma realidade que é sempre mais complexa do que se pode descrever. Porém, é impossível descrever a complexidade em todas as suas facetas, tendo como risco uma simplificação da realidade, pois quando se propõe uma categorização das mais variadas situações, o perigo está em reduzir esses eventos na medida em que se tenta enquadrálos a determinadas categorias. A educação, nesse sentido, 12 “é uma realidade complexa de práticas e de processos mediante os quais o educando se transforma – a criança e o jovem em adulto, o adulto num ser mais completo e melhor – em ordem a um desenvolvimento que se pretenda integral. (...) Trata-se de um processo muito variado, nos indivíduos e nas situações sócio-históricas que o sustentam; goza, por isso, das características gerais <<da complexidade,(...)” (AMADO, J. & BOAVIDA J., 2006, p. 151). O conceito de educação, portanto, é entendido por esses autores como algo inacabado que sofre constantes modificações através de uma série de influências que fazem parte de uma realidade complexa e instável. Perante a educação, Amado e Boavida afirmam que: “Estamos sempre diante de uma realidade diversa, rica, multiforme, que nunca está acabada, em que se articulam práticas quotidianas, processos e normas institucionalizadas, representações, objetivos e finalidades; que, além disso, abrange os mais variados aspectos da existência humana, que muda constantemente de umas situações para outras, nunca se repetindo, além de estar determinada por um número efetivamente indeterminado de fatores, próximos e remotos” (AMADO, J. & BOAVIDA J., 2006, p. 192). Os autores, nesse caso, não fazem uma descrição da Educação enquanto fenômeno complexo, mas definem o Curso de Ciências da Educação a partir da complexidade da Educação, que para eles, deve dar conta do fenômeno educacional, preparando o educador para compreender esse fenômeno em sua complexidade. Da forma como o próprio curso está pensado, pressupomos, com isso, que a função da Educação seria preparar o educando para corresponder a complexidade existente, valorizando os mais diversos domínios da atividade social, qualificando-os de acordo com as necessidades que uma nova sociedade complexa exige. Esse sentido da educação é nitidamente confirmado à medida que nos deparamos com as propostas estabelecidas nos cursos de Ciências da Educação/Educação. “Os cursos de Ciências da Educação/Educação procuram responder às necessidades de um vasto campo de atividades e de modelos de formação, em plena expansão pela própria complexidade crescente da vida social, cultural 13 e econômica, (...) onde é determinante a dimensão educativa para a sua correta execução, qualificação e potenciação (...)” (AMADO, J. & BOAVIDA J., 2006, p. 354). Espera-se diversidade uma do formação fenômeno que contemple, educativo de simultaneamente, forma compreensiva a e fundamentada. Como a Educação é um fenômeno muito rico e de muitas faces, a formação não pode deixar também de ser complexa para investigar e agir em toda a sua amplitude. A dimensão profissionalizante exige uma formação o mais integral possível, pressupondo concepções diferentes nas formas de aprender. O processo educacional caracteriza-se por educar para compreender a realidade complexa, desenvolvendo habilitações para sobreviver nela. No entanto, é importante destacar que este modelo de educação não é questionado, nem tampouco alterado, mas aperfeiçoado a partir do entendimento complexo que se faz dele. Cabe às Ciências da Educação, ou melhor, à própria Educação, definir as competências necessárias aos alunos em cada fase da sua evolução, planejando e racionalizando o processo educativo para que os resultados correspondam às exigências de uma sociedade complexa. Amado e Boavida concordam que as realizações de tarefas educativas formam a base para atender às necessidades da sociedade, afinal: “Compete, pois, o esforço de compreensão e de racionalização das práticas educativas e formativas de modo a que seja possível (em aliança com outras disciplinas e outras forças) dar-se uma resposta adequada aos anseios da sociedade em geral e de cada um dos seus membros” (AMADO, J. & BOAVIDA J., 2006, p. 363). No que diz respeito ao reconhecimento da Educação como objeto epistêmico próprio, os autores a justificam como mera questão de valores e finalidades e por essa razão não é suscetível de cientificidade. O não reconhecimento desse objeto epistêmico constitui-se no fato da Educação, com seus valores, finalidades, sentimentos e relações, não revelarem-se como conhecimento objetivo, mas sim, repleto de subjetividade. Conseqüentemente, ao deparar-se com a educação, os autores a definem como: 14 “um domínio onde reina a ambigüidade e a incerteza, a mescla epistemológica; mas mais por efeito da complexidade do objeto e da diversidade dos fatores que para ela concorrem, (...)” (AMADO, J. & BOAVIDA J., 2006, p. 333). Segundo os autores, a complexidade do objeto educacional impede que a sua análise seja esgotada por uma abordagem única, tornando-se indispensável à interação direta com as demais áreas de conhecimento. Essa relação se dá a partir da interdisciplinaridade, que é a condição para o reconhecimento e futuro acadêmico das Ciências da Educação. Já que a educação em si é um fenômeno humano com vertentes diferenciadas, que mudam constantemente de uma situação para outra, sem serem repetidas na íntegra, acaba por não oferecer uma objetividade, que segundo os autores, encontra-se a partir de várias outras Ciências que no seu conjunto formam as Ciências da Educação. Entretanto, segundo Amado e Boavida (2006, p. 236), não é possível compreender de fato as “Ciências da Educação“ fora do conceito mais abrangente de “Educação”, pois só este lhes dá sentido. Uma finalidade que vem sendo utilizada para esclarecer e legitimar os pressupostos epistemológicos das Ciências da Educação. Por fim, temos numa terceira análise, Otto Friedrich Bollnow9, que utiliza a abordagem Hermenêutico-Fenomenológica para justificar a sua compreensão de Ciência e Educação. Além do livro Pedagogia e Filosofia da Existência, temos como referência os respectivos artigos desenvolvidos por esse pensador: Sobre Las Virtudes Del Educador (Sobre as Virtudes do Educador) e The objectivity of the Humanities and the Essence of Truth (A objetividade das Ciências Humanas e a Essência da Verdade). No que se refere à corrente filosófica ou metodológica, a visão de Ciência apresentada por Bollnow vem da abordagem HermenêuticoFenomenológica na educação. Assim como o autor, nossa pesquisa segue essa metodologia, a qual foi definida desde a sua elaboração, a fim de 9 Otto Friedrich Bollnow nasceu em 1903, em Stettin. Estudou Ciências Naturais e se voltou para a Filosofia e Pedagogia. Foi aluno de Misch, Nohl, Spranger e Heidegger e se tornou professor de Filosofia Pedagogia em Giessen, Mainz e Tübingen. 15 viabilizar uma interpretação mais próxima possível ao objeto, seguindo em especial o ciclo da Hermenêutica. Desta feita, se faz necessário caracterizar essa corrente, cujos grandes precursores são: Schleiermacher; Dilthey; Heiddegger; Gadamer, na Filosofia e Spranger; Nohl; Kerschensteiner; Weniger, na Pedagogia. A característica básica dessa corrente é que ela procura diferenciar a metodologia aplicada nas Ciências Naturais das Ciências Humanas. No que concerne às Ciências Naturais, Dilthey atribuiu à tarefa de explicar os fenômenos da natureza a partir de leis gerais. Já nas Ciências Humanas, essa forma de proceder se torna inviável porque o homem não age de forma regular e invariável, tendo, com isso, a possibilidade de agir de acordo com a sua liberdade. Nesse sentido, não se pode explicar o comportamento dele, mas apenas tentar compreendê-lo. Nota-se, com isso, que em Ciências Humanas a situação é muito mais complexa do que nas Ciências Naturais, cujas características principais são: a possibilidade de repetir experiências para serem manipuladas por outros e o fato de reduzir todos os fenômenos pertinentes ao quantitativo. Nas Ciências Humanas não se pode reduzir o homem a mero objeto de experimentação, pois o que é essencial dele não é mensurável. Aplicar uma metodologia que não considere a liberdade do homem, seria fugir da sua verdade, ao mesmo tempo em que seria um ato reducionista e excluiria da educação a temática da ética, tanto por parte do educador, quanto do educando. Bollnow, como quase todos os seguidores da Fenomenologia de Husserl, não acredita na possibilidade de chegar a um resultado definitivo na busca da essência dos fenômenos humanos. Trata-se de um processo de aproximação, em que se desenvolve um discurso, revelando áreas cada vez mais profundas do mesmo fenômeno. E quanto a essa questão, vale salientar que o autor assume uma posição bastante peculiar. Para ele, seguir as regras da hermenêutica e da fenomenologia na compreensão dos fenômenos humanos é meramente um pressuposto indispensável. Afinal, tais regras são apenas o vestíbulo e não o santuário da investigação em Ciências Humanas. (Bollnow, 1974, p. 5). Se utilizando meramente dessas regras, as interpretações de determinados fenômenos humanos realizadas 16 por vários autores que buscam seguir a metodologia hermenêuticofenomenológica chegam, via de regra, a resultados significativamente destoantes. Questiona-se, portanto, a objetividade desses procedimentos. Para Bollnow, a objetividade deve ser avaliada diante do conceito de verdade e nessa conceituação, ele se apóia em Heidegger. “Heidegger definiu a tarefa da fenomenologia como um deixar ser vista a partir de si mesma, assim como se mostra a si mesma. E seu conceito de desvelar essa verdade está diretamente relacionada com o sentido grego de pura percepção de algo” (Bollnow, 1974, p. 10). Para Heidegger, a verdade não é algo que pode ser livremente construída pelo ser humano. Para ele, a verdade existe desde sempre, mas de forma oculta. Tarefa do homem, neste caso, é desocultar essa verdade, no sentido de desvelá-la. No entanto, isso para Heidegger é um processo muito difícil e doloroso, pois a verdade não corresponde, naturalmente, com aquilo que nós esperamos da realidade ou pensamos sobre nós mesmos. “a verdade é algo profundamente doloroso que interrompe nossas vidas e, em seguida, exige uma forte autodisciplina, que é necessária para suportar essa dor, mas quem tem medo de si mesmo, encontra qualquer pretexto para evitar a pesada verdade ao suspender uma investigação mais profunda, dirigindo-se a uma área menos ameaçadora” (Bollnow, 1974, p. 12). O homem, por sua vez, desvirtua constantemente o processo de desvelamento da verdade, por motivações e interesses que não obedecem a uma vontade incondicional de conhecer a verdade. Gerar essa vontade é um processo de formação humana do próprio sujeito. Bollnow, portanto, faz uma distinção em relação à subjetividade humana. Na medida em que uma interfere negativamente no processo de conhecimento humano, a outra é condição prévia para desvendar cada vez mais a verdade. As tendências subjetivas que desviam a subjetividade humana da busca da verdade são suficientemente conhecidas em análises psicológicas, sociológicas e antropológicas em prol dos interesses particulares ou coletivos. O mais difícil é pensar as condições, em que a subjetividade humana se aperfeiçoa na busca da verdade. Bollnow em seu artigo, The objectivity of the 17 Humanities and the Essence of Truth, aponta três aspectos que podem ajudar na orientação desse caminho. O primeiro aspecto está na experiência de que a verdade não é algo de fácil acesso. Ela exerce uma grande resistência e qualquer posição que se acredita tê-la em mãos, fazendo uso de esquemas simplórios ou facilmente generalizáveis, apresenta de imediato um indício de que não se está no caminho certo. Isso, principalmente, porque o reconhecimento da realidade como ela é, exige um processo doloroso de adaptação subjetiva a esse fato. Conforme essa afirmativa Bollnow escreve: “Quando a resistência do objeto obriga-me a aumentar o meu esforço, eu sei que eu não perdi o contato com a realidade” (Bollnow, 1974, p. 9). O segundo critério apontado por Bollnow é em relação à abertura que o pesquisador necessariamente deve ter para compartilhar suas supostas verdades encontradas, a fim de entrar em diálogo constante com os outros pesquisadores. Afinal, como escreve o autor, não significa que somos necessariamente da mesma opinião, que com provas se pode forçar o outro a concordar com a minha afirmação (Bollnow, 1974 p. 10). É preciso que o pesquisador esteja aberto para receber e analisar todas as críticas que a sua versão da verdade recebe. Bollnow faz referência a Jaspers quando descreve essa abertura como sendo uma luta amorosa, pois o essencial é que se busque a verdade juntos, mesmo não estando de acordo sobre todos os pontos. “(...) buscar a verdade juntos, em igualdade fundamental, sem serem concorrentes, em que cada um reconhece a possibilidade de que pode errar e que o outro pode estar certo, e que cada um, por isso, estão dispostos a aprender tudo de novo” (Bollnow, 1974, p. 11). O último critério é a capacidade do pesquisador se comprometer com a própria verdade. Trata-se, em última instância, de uma questão ética de prezar a veracidade diante dos fatos e de si mesmo. Podemos dessa forma, concluir que a busca da própria verdade para Bollnow depende de uma subjetividade aperfeiçoada de forma absolutamente exigente. “Em Ciências Humanas não é possível alcançar validação universal, elas permanecem irremediavelmente aprisionadas na subjetividade do próprio investigador” (Bollnow, 1974, p. 3). 18 A objetividade do resultado de uma pesquisa científica nas Ciências Humanas depende, portanto, da maturidade ética que o próprio pesquisador em relação à sua atividade de pesquisa alcançou. Tão logo, é a subjetividade aperfeiçoada que assegura a objetividade, não de forma definitiva e total, mas sempre no sentido de desvelar gradual e progressivamente a verdade. Certamente que os fenômenos educacionais fazem parte dessa forma de aproximação da verdade, de modo que as pesquisas na área educacional seguem a essa metodologia estabelecida. A pesquisa em Educação, nessa abordagem, depende da compreensão que o pesquisador adquiriu diante da história do fenômeno educativo, da especial presença que tem em relação a ele e, finalmente, da maturidade que desenvolveu em relação à sua busca da verdade. No que diz respeito ao sentido da Educação, Bollnow argumenta que a própria Pedagogia tem como função, historicamente estabelecida, preparar o educando para a vida na sua completude. Para o autor, é milenar o acúmulo de reflexões pedagógicas existentes, porém divergentes entre si. Na tentativa de encontrar algo em comum, Bollnow sintetiza essas teorias educacionais em duas concepções fundamentais que são referências na Educação. Na primeira, temos o modelo do artesão, com características semelhantes ao processo de produção aplicada na Educação. O educando é objeto de uma modificação feita de acordo com metas pré-estabelecidas e métodos fixados e testados. Já na segunda, temos o modelo do jardineiro, que ao deixar suas sementes, deve apenas acompanhar e subsidiar o crescimento das suas plantas, protegendo-as de pragas e predadores. Nessa visão aplicada na Educação, o educando traz todas as potencialidades em si que só precisam de condições externas favoráveis para se desenvolver. Admite-se também, nesse sentido, que muitas teorias educacionais consistem em combinações desses dois modelos. Esses dois modelos caracterizam tradicionalmente o pensamento pedagógico que, segundo Bollnow, nenhum está mais certo ou errado que o outro. Ele mesmo afirma que alguns fenômenos da Educação se explicam pelo primeiro modelo, à medida que outros fenômenos se justificam com o segundo. Em alguns momentos se pode agir como se fosse um artesão, 19 noutros, é preciso observar como o educando vem se desenvolvendo com suas próprias forças. Mas esse não é todo o sentido da Educação para Bollnow. Ao pensar a Filosofia da Existência, ele revela que a Educação Tradicional coloca à parte uma dimensão do ser humano, a qual corresponde aos momentos de instabilidade existencial da vida humana, que atingem a dimensão espiritual do homem. Mesmo reconhecendo o esforço da teoria pedagógica no que se refere aos processos psíquicos e intelectuais do educando, Bollnow questiona a ausência de reflexão acerca dessa esfera espiritual que corresponde aos momentos de instabilidade e conflito vividos pelo homem. As crises existenciais que os educandos, por ventura, podem passar, para citar um dos exemplos, se tornam momentos com relevância pedagógica significativa, pois são caracterizados pelo autor como momentos de impasse que exigem do educando uma escolha própria, decisiva para a sua vida. Reflexões pedagógicas em torno de fenômenos como esse, exigem do educador um conhecimento que ultrapassa a forma de regras de comportamento pré-estabelecido. Espera-se do educador uma conduta que evita antecipações na decisão do educando, pois isso tiraria a oportunidade ímpar de amadurecimento do seu aluno, e ainda, uma compreensão da situação do educando, ajudando-o no esclarecimento dos fatores decisivos sem induzi-lo na sua opção. Encontramos em situações pedagógicas, dessa natureza, a necessidade de um trabalho árduo de desvendar a verdade no sentido de Heidegger. Diante disso, para se relacionar com as mais variadas situações educacionais, Bollnow aponta ‘virtudes’ que são essenciais para todo e qualquer processo educacional. O autor fala claramente de atitudes pedagógicas que o educador deve assumir, destacando o amor, a paciência e a confiança como virtudes essenciais no processo de educação. Porém, ele não usa a palavra ‘virtudes’ no sentido moralizante, mas do grego original que significa perfeição de comportamento. Quando se busca compreender o ser humano na sua totalidade, não apenas como um objeto que é possível moldar ou um simples ser vivo que cresce, mas também como ser que tem liberdade, é preciso estar atento à sua dimensão espiritual. Nessa liberdade, encontramos a dimensão 20 espiritual do sujeito, cujos fenômenos de instabilidade, propriamente humanos, exigem uma forma própria de reflexão pedagógica. O sentido da Educação seria perceber o ser humano na complexidade dele, incluindo a dimensão espiritual que se revela com os fenômenos de instabilidade na própria vida humana. Portanto, é exatamente esta dimensão que o ser humano deve decidir com responsabilidade própria, pensando ela pedagogicamente. Depois dessa apresentação do conceito de educação, resta refletir sobre a compreensão que Bollnow tem da possibilidade de uma Ciência da Educação. No caso de Bollnow, podemos afirmar que uma Ciência da Educação é possível. Isso se torna claro na medida em que faz da Educação seu objeto de reflexão sem recorrer a pressupostos de outras áreas de conhecimento. Segundo Bollnow, a Educação deve pensar seus próprios problemas a partir dela mesma. Não é simplesmente importar os conhecimentos de áreas afins, mas com seu conhecimento e avanço no campo educacional desenvolvidos, procurar até que ponto as outras áreas podem contribuir para aperfeiçoar cada vez mais essa Ciência da Educação. Percebemos isso exemplarmente no caso do relacionamento da Educação com a Filosofia, no nosso caso, com a Filosofia da Existência. O cuidado que Bollnow apresenta em não impor uma Filosofia ou uma nova teoria à Educação é nítido. O que o autor faz é comparar o pensamento pedagógico com o pensamento da Filosofia da Existência, pressupondo, com isso, que ele pensa a Educação como um campo de conhecimento com objeto epistêmico próprio, portanto, uma Ciência. Para o autor, não se trata de descartar os conhecimentos pedagógicos tradicionais e ignorar seus conhecimentos adquiridos, nem tampouco inventar outra Pedagogia como aplicação de preceitos existencialista. O que ele propõe é completar o pensamento pedagógico com elementos teóricos que dizem respeito à instabilidade da vida humana. “Em termos gerais, trata-se de ampliar a Pedagogia clássica, baseada nos processos estáveis e contínuos da educação, por uma Pedagogia de formas instáveis de educação, a ela correlatada. Pois, se a Filosofia da Existência deve como tal se tornar profícua no campo pedagógico, isto será pela sua atuação numa tal teoria de formas instáveis de educação ” (Bollnow, 1971, p. 30). 21 Então, nesse caso não é seguir a Filosofia10, embora seja possível se aproveitar de algumas análises sugeridas por ela para desvendar o fenômeno pedagógico. Mas o que está em questão é pensar como agir pedagogicamente no momento em que o educando entra, por exemplo, numa crise? Isso é tarefa pedagógica e não filosófica, é uma responsabilidade que o educador deve assumir ao refletir pedagogicamente sobre o seu papel e relevância no processo de formação dos sujeitos. Isso não só em relação à Filosofia, mas também em relação às outras áreas afins. A dinâmica sempre é partir de uma questão propriamente educacional e se o pensamento pedagógico por si não corresponde, procurar apoio nas ciências afins, verificando em que sentido o pensamento pedagógico pode esclarecer as suas questões à luz dos conhecimentos dessas Ciências, assegurando, assim, uma relativa autonomia da Ciência da Educação. Por fim, nossas apreciações são reflexos desse panorama que envolve três dimensões particulares acerca do que se compreende por Educação e Ciência. Na primeira posição, a Educação como Ciência é uma afirmativa que vem sendo erguida a partir de uma teoria de sociedade. A Educação está inserida numa teoria mais ampla que determina o que ela é, tornandose, com isso, um elo para implantação de um projeto político. Nessa perspectiva, a Educação se revela ao serviço de uma sociedade como instrumento sócio-político a ser manipulado de acordo com os interesses externos a ela. Contudo, a meta política até poderia ser aceitável como uma possível compreensão do decorrer da própria história, como podemos constatar no desenvolvimento histórico da humanidade uma tendência à emancipação humana. Mas para desenvolver uma Educação com essa inclinação, a condição básica seria embarcá-la no projeto político da Teoria Crítica (ver anexo 1). Embora seja um modelo que defende e assegura uma Ciência da 10 Nem mesmo Bollnow é adepto da Filosofia da Existência. Em suas várias publicações, ele refletiu sobre a possibilidade de uma superação do pensamento existencialista em sua forma mais extrema. (Cf. El Problema de Una Superación Del Existencialismo. Disponível em: <http://www.otto-friedrich-bollnow.de/doc/Superacion.pdf>; The Conquest of Existentialism. Disponível em: <http://www.otto-friedrich-bollnow.de/doc/ConquestExistetialism.pdf>). 22 Educação, ao mesmo nega à Educação um objeto epistêmico próprio, uma finalidade em si, uma tarefa que seja própria dela. Isso traz conseqüências significativas para a prática pedagógica e o agir do educador. Para ser educador, nessa compreensão, ele precisa estar convencido da legitimidade dessa opção político-social. Uma vez convicto, o educador irá direcionar todas as suas decisões, no que se refere aos processos pedagógicos, a partir do objetivo da emancipação político-social. Além de se tratar de um reducionismo significativo, corre-se o perigo de justificar os meios pelo fim, deixando de considerar a liberdade do educando, o que significaria perder de vista uma ética especificamente pedagógica, da qual o educador não pode abdicar. Já na segunda posição, é adotado um conceito, originalmente desenvolvido nas Ciências Naturais e que sem dúvida também é aplicado com propriedade nas Ciências Humanas. Afinal, é difícil negar a complexidade dos fenômenos humanos e por essa razão é ressaltada a contribuição das mais variadas Ciências, a fim de explicar o fenômeno educacional. Entretanto, por maior esclarecimento que se busque nessas Ciências, nem por isso a reflexão pedagógica como Ciência é aceita. Ao avaliar o argumento com que os autores recusam a cientificidade da Educação, percebemos que a velha dicotomia que o positivismo estabeleceu entre fato e valor é a causa dessa negação. A Educação inclui necessariamente, ou melhor, inevitavelmente, valores, como pensamentos sobre a sua meta, escolhas de conteúdos, estrutura curricular, atitudes pedagógicas desejáveis, etc. Mas caso se considere e aceite o conceito positivista de Ciência, a saber: que a Ciência se faz sobre fatos e não sobre valores, então, a Educação, no que diz respeito à maior parte das suas questões, ou senão nas mais significativas, não pode se tornar uma Ciência. Mesmo assim, essa abordagem propõe a elaboração do conhecimento pedagógico a partir das “Ciências da Educação” (ver anexo 2). Não acreditamos que isso seja uma saída que supere a dificuldade alegada à cientificidade da Educação. Podemos questionar se de fato as chamadas “Ciências da Educação” como Sociologia, Psicologia, Antropologia, Filosofia, Biologia e História da Educação envolvem ou não, igualmente 23 questões de valor. Certamente, é fácil perceber que essas áreas de conhecimento como de fato todas as Ciências Humanas não podem, em última instância, se isentar de valores quando pretendem fazer afirmações significativas sobre o ser humano e a sua educação. Pergunta-se, portanto, – sem possibilidades de responder a essa indagação nesse artigo – Por que se alega um empecilho para a Educação e não para as áreas afins que se confrontam com a mesma questão? Em conseqüência disso, se não é possível admitir uma Ciência da Educação nessas condições, então é inaceitável também falar das Ciências da Educação, aplicando o mesmo critério. A partir dessa observação, levantamos uma outra: uma vez negada a cientificidade da Educação e negligenciando a discussão sobre valores que se transferem das chamadas Ciências da Educação para a prática pedagógica, resta questionar sobre a direção que a própria Educação vai tomar. Por mais que concordemos com o pressuposto da complexidade da realidade, esse por si mesmo não define o futuro. A não ser que se subentenda que a complexificação em curso é o desejável e a tarefa da Educação é simplesmente adequar às novas gerações a essa situação. Quanto à terceira posição, essa se distingue das duas primeiras principalmente pelo fato de admitir uma reflexão pedagógica própria com base em objetividade científica. Naturalmente, não se trata da mesma objetividade que os cientistas positivistas têm em mente. Trata-se de uma objetividade que se alcança no aprimoramento da subjetividade investigativa por parte do pesquisador em relação ao fenômeno educacional. Partindo desse ponto de vista de Ciência, é plenamente possível pensar a Educação como Ciência relativamente autônoma, sem deixar de dialogar constantemente com outras áreas afins no sentido de aprofundar os conhecimentos pedagógicos (ver anexo 3). A questão inicial apresentada, em que podemos falar de um objeto próprio da Educação e, com isso, de uma Ciência da Educação, depende, de acordo com as nossas reflexões, fundamentalmente, do conceito que passamos a assumir tanto em relação à Ciência quanto à Educação. O conceito de Ciência da Teoria Crítica Emancipatória nos remete a um conceito de Educação ao serviço da emancipação sócio-político. No que se refere ao Paradigma da Complexidade, esse conceito de Educação nos faz 24 adequá-la às exigências sociais projetadas para o futuro. Já o conceito Hermenêutico-Fenomenológico da Ciência, possibilita uma compreensão de Educação enquanto formação humana do ser humano, visando o seu desenvolvimento pleno. Considerando, finalmente, que não existe a possibilidade de decidir objetivamente ou cientificamente qual é a compreensão de Ciência mais adequada, pois nem sequer a própria Ciência consegue se auto-definir, nos deparamos com a necessidade do próprio educador, no processo da sua formação profissional e pessoal, buscar a sua própria posição diante das possibilidades de compreender a complexa relação entre a Ciência e a Educação. Para isso, ele deve assumir, conseqüentemente, uma responsabilidade diante dessa tentativa de fundamental importância na sua atuação profissional. Ao contemplar a magnitude do fenômeno humano, é legítimo afirmar que a questão da cientificidade da Educação não caminha numa única direção, afinal, a discussão pedagógica deve dialogar com as mais diversas abordagens de conhecimento. No entanto, ao saber, criteriosamente, o sentido de cada metodologia implicada, é responsabilidade do educador comprometer-se com uma delas. Ficou implícito nas nossas reflexões que a nossa escolha aderiu àquela que considera o educando em toda a sua integralidade. Na busca dessa integralidade e suas implicações para a Educação, o pensamento de Bollnow nos levou a despertar para uma dimensão que corresponde aos momentos de instabilidade, totalmente presentes no ser humano, mas que parecem não existir nas reflexões pedagógicas, a não ser como momentos indesejáveis e perturbadores do percurso normal esperado. Encontramos, com isso, um elemento que ao fazer parte do humano precisa ser incluído na teoria educacional, pretendendo atender à integralidade humana. Bollnow, ao perceber a importância dos processos de instabilidade na vida humana, aponta, ao mesmo tempo, um caminho como essa nova problemática educacional pode ser abordada sem negar a história dos conhecimentos propriamente pedagógicos acumulados e sem estabelecer laços de dependência de uma área afim, no nosso caso, da Filosofia. 25 Referências Bibliográficas: Amado J. & Boavida J. Ciências da Educação: Epistemologia, Identidade e Perspectivas. Coimbra, Portugal: Imprensa da universidade de Coimbra, 2006 BOLLNOW. O. F. Pedagogia e Filosofia da Existência: um ensaio sobre formas instáveis de educação. Tradução de Hermógenes Harada. Vozes LTDA. 1971. FRANCO, Maria Amélia Santoro. Pedagogia como Ciência da Educação. Campinas, SP: Papirus, 2003. – (coleção entre nós professores); GADAMER, Hans – Georg. Verdade e Método: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Tradução de Flávio Paulo Meurer. Petrópolis, RJ: Vozes. 4ª Edição 2002. HABERMAS, Jürgen (1982). 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