Carlos Souza Jr. & Adalberto Veríssimo (Imazon) Laurent Micol & Sérgio Guimarães (ICV) Resumo O SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento), desenvolvido pelo Imazon, revela uma redução de 59% no desmatamento no Estado de Mato Grosso em outubro de 2006: 460 quilômetros quadrados contra 1.120 quilômetros em setembro de 2006. A maior parte (75%) desse desmatamento ocorreu em propriedades rurais. Nos assentamentos de reforma agrária, o desmatamento avançou, representando 24% do total desmatado em outubro de 2006. O desmatamento ilegal aumentou proporcionalmente de 88% (setembro 2006) para 92% em outubro de 2006. Apenas 8% do total desmatado ocorreu de acordo com a legislação ambiental, ou seja, respeitando os limites da Reserva Legal. Os municípios mais desmatados em outubro de 2006 foram Juara, Nova Bandeirantes e Cotriguaçu, os quais somaram 21% do total desmatado no Estado. Neste boletim, apresentamos uma nova análise sobre as regiões críticas de desmatamento em Mato Grosso no período 2000-2005 com base nas taxas anuais de desmatamento e na proporção de floresta remanescente em 2005. Para isso, a área florestal do Estado foi dividida em células de 100 quilômetros quadrados. Essa análise revela que da área florestal total do Mato Grosso: 14% (67 mil quilômetros quadrados) sofrem desmatamento extremo, pois resta menos de 25% da floresta original nessas células; e 24% sofrem desmatamento alto, pois o desmatamento avança rapidamente nessas células, com taxas alarmantes de 5% ao ano. Estatísticas de Desmatamento metros quadrados). Se comparado ao desmatamento de outubro de 2005 e de 2004, a redução foi de 73% e 45%, respectivamente (Figura 1). Portanto, os dados do SAD apontam para uma redução do desmatamento no período atual (agosto de 2006 a julho de 2007). Em outubro de 2006, o SAD detectou 460 quilômetros quadrados desmatados em Mato Grosso, o que representou uma redução de 59% em relação à área desmatada em setembro de 2006 (1.120 quilô- Figura 1. Desmatamento mensal em Mato Grosso de agosto de 2004 a outubro de 2006. Novembro 2006 - nº 4 1 Geografia do Desmatamento A maior parte (75%) do desmatamento detectado pelo SAD em outubro de 2006 ocorreu em propriedades rurais. Nos assentamentos de reforma agrária, o desmatamento continuou avançando no mês de outubro, com 24% do total desmatado. As Áreas Protegidas mantiveram a mesma contribuição, com 2% do desmatamento total (Figura 2, Tabela 1). Propriedades Rurais O desmatamento detectado em outubro de 2006 em propriedades rurais não cadastradas no Sistema de Licenciamento Ambiental em Propriedades Rurais (SLAPR) alcançou 274 quilômetros quadrados (59% do total). Nas propriedades cadastradas foram desmatados 73 quilômetros quadrados (16% do total), dos quais 31 quilômetros quadrados estavam em áreas de Reserva Legal (Tabela 1, Figura 2). Figura 2. Desmatamento detectado pelo SAD em Mato Grosso em outubro de 2006. Tabela 1. Desmatamento detectado pelo SAD em Mato Grosso, por tipo de propriedade, em outubro de 2006. Categoria 2 Novembro 2006 - nº 4 Propriedades fora do SLAPR (A) Propriedades no SLAPR (B) Total Propriedades Rurais (C = A+B) Assentamentos de Reforma Agrária (D) Unidades de Conservação (E) Terras Indígenas (F) Outubro/2006 km² % 274 59 73 16 347 75 109 24 1 <1 3 <1 Total (km²) (G=C+D+E+F) 460 100 Assentamentos de Reforma Agrária O desmatamento nos assentamentos de reforma agrária vem aumentando desde setembro de 2006. Em outubro de 2006, o SAD detectou um total de 109 quilômetros quadrados desmatados, representando 24% do desmatamento total. Os projetos de assentamento Nova Cotriguaçu, Padovani e Juruena foram os que mais desmataram, atingindo 31 quilômetros quadrados. Áreas Protegidas Somente 4 quilômetros quadrados de Áreas Protegidas foram ilegalmente desmatados em outubro de 2006 em Mato Grosso. Entre essas áreas, as mais desmatadas foram a Terra Indígena Urubu Branco (45% do total desmatado nas Áreas Protegidas) e o Parque Estadual Cristalino II (17%). Desmatamento Ilegal Propriedades Privadas. Nessas áreas, o desmatamento ilegal atingiu 305 quilômetros quadrados (66% do total desmatado em Mato Grosso) em outubro de 2006. Consideram-se ilegais os desmatamentos nas propriedades não cadastradas no SLAPR (274 quilômetros quadrados) e nas áreas de Reserva Legal das propriedades cadastradas (31 quilômetros quadrados). Áreas Protegidas. O desmatamento ilegal somou 4 quilômetros quadrados (2% do total) nessas áreas. Assentamentos de Reforma Agrária. O desmatamento nos assentamentos somou 109 quilômetros quadrados (24% do total) em outubro de 2006. Esse desmatamento é irregular, uma vez que esses assentamentos não possuem licença ambiental. Municípios Críticos Mais da metade (52%) do desmatamento de outubro de 2006 detectado pelo SAD ocorreu em dez municípios. Os mais afetados foram: Juara, Nova Bandeirantes e Cotriguaçu que, juntos, desmataram 96 quilômetros quadrados (21% do total) (Tabela 2, Figura 3). Tabela 2. Dez municípios mais desmatados em Mato Grosso em outubro de 2006. Municípios Juará Nova Bandeirantes Cotriguaçu Colniza Peixoto de Azevedo Paranaíta Vila Rica Marcelândia Apicais Querência Total Outubro/2006 Ranking km² 1 38 2 29 3 29 4 26 5 24 6 21 7 20 8 18 9 17 10 16 238 Figura 3. Dez municípios mais desmatados em Mato Grosso em outubro de 2006. Novembro 2006 - nº 4 3 Identificação das Áreas Críticas de Desmatamento Identificamos o avanço e as áreas críticas de desmatamento em áreas florestadas do Mato Grosso por meio de uma análise original que combina a taxa de desmatamento com a proporção de floresta remanescente. Para isso, selecionamos as áreas florestais do Estado com base no mapa de vegetação do IBGE (excluindo a vegetação de cerrado) e as dividimos em células de 100 quilômetros quadrados. Nesse caso, foram incluídas todas as células cuja cobertura florestal original representava mais de 80% da área. Em seguida, estimamos a proporção de floresta existente nessas células para os anos 2000 e 2005 (Figura 4). Por último, calculamos a taxa de desmatamento nesse período (2000-2005) subtraindo a floresta remanescente em 2005 da floresta existente em 2000 e dividindo esse resultado pelo número de anos (cinco). As células foram classificadas de acordo com as taxas de desmatamento anuais (zero; menor que 1%; entre 1% e 5%; e maior que 5%) e a proporção de floresta remanescente em 2005. Áreas Florestais mais Desmatadas de Mato Grosso menos de 25% da célula) no extremo norte e noroeste do Mato Grosso e em grande parte da região centro-norte. Em 2005, a situação se agravou com o avanço do desmatamento nas regiões centro-norte e extremo norte (predominando células com desmatamento superior a 25%). Na região noroeste, a situação também foi agravada com a ocorrência de desmatamento nas áreas intactas e o aumento de sua intensidade nas células já parcialmente desmatadas (Figura 4). Taxas Anuais de Desmatamento Trinta e nove por cento das florestas do Mato Grosso apresentam taxa anual de desmatamento alta (entre 1% e 5%). Além disso, o desmatamento é acelerado (taxas maiores que 5% ao ano) em 9% das células florestais do Estado. Por outro lado, em 33% das células florestais, a taxa anual de desmatamento é inferior a 1%, enquanto em 18% do território florestal do Mato Grosso é próxima de zero. (Figura 5 e Tabela 3). Figura 5. Distribuição (%) das taxas anuais de desmatamento em Mato Grosso entre 2000 e 2005. Até 2000, o desmatamento mais extremo (células com área desmatada superior a 75%) estava concentrado ao longo da BR-364 no sudoeste do Estado e de forma mais esparsa nas margens das rodovias BR-163 (regiões centro-norte e extremo norte) e BR-158 (região nordeste). Por outro lado, o desmatamento era incipiente (em geral, representando Figura 4. Proporção de desmatamento em células de 100 quilômetros quadrados para 2000 e 2005. 4 Novembro 2006 - nº 4 Áreas Críticas de Desmatamento em Mato Grosso Ao combinarmos as taxas anuais de desmatamento com a proporção de floresta remanescente em 2005 obtivemos cinco níveis de desmatamento: nãocrítico, baixo, médio, alto e extremo (Tabela 3, Figura 6). Tabela 3. Áreas sob cinco níveis de desmatamento em Mato Grosso em 2005. Níveis de Desmatamento Não-crítico Descrição das Células A taxa anual de desmatamento é próxima de zero e a proporção de floresta remanescente é superior a 80%. Baixo A taxa anual de desmatamento é inferior a 1% e a proporção de floresta remanescente é superior a 50%. Médio Taxa anual de desmatamento entre 1% e 5% e a proporção de floresta remanescente é superior a 50%. Alto Desmatamento avança muito rapidamente, com taxas maiores que 5% ao ano podendo ter qualquer proporção de floresta remanescente. Extremo Desmatamento avança em áreas com pouquíssima floresta (inferior a 25%) a qualquer taxa. Situação do Estado de Mato Grosso Representa 78 mil quilômetros quadrados (17% da área ocupada pelas células florestais). Ocorre principalmente na região noroeste do Estado e nas Áreas Protegidas. Soma 96 mil quilômetros quadrados (21%). Ocorre em grande medida na região noroeste e ao redor das Áreas Protegidas. Representa 113 mil quilômetros quadrados (24%). Ocorre em todas as regiões (exceto sudoeste), mas com maior freqüência na região noroeste. Totaliza 115 mil quilômetros quadrados (24%). Ocorre principalmente nas margens das rodovias (por exemplo, BR-163, BR158) e estradas vicinais do Estado. É mais significativa nas regiões centro-norte e extremo norte do Estado. Soma aproximadamente 67 mil quilômetros quadrados (14%). Ocorre principalmente na região sudoeste (margens da BR-364) e margens das rodovias BR163 e BR-158. Novembro 2006 - nº 4 5 Figura 6. Níveis de desmatamento em Mato Grosso em 2005. Para efeito de comparação, sobrepusemos os mapas de áreas críticas e o de desmatamento detectado pelo SAD entre agosto de 2005 e outubro de 2006. Os re- sultados revelam uma correlação positiva, ou seja, o SAD detectou o desmatamento de acordo com o gradiente de áreas críticas dessa análise. NOTAS Definição dos procedimentos de licenciamento ambiental das propriedades rurais. Em 24 de novembro foi sancionada a Instrução Normativa Nº 5 que disciplina os procedimentos administrativos de licenciamento ambiental das propriedades rurais em Mato Grosso. Essa instrução estabelece que os mapas de vegetação do Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) de Mato Grosso deverão servir como referência para a tipologia vegetal e que a averbação de Reserva Legal obedecerá aos percentuais definidos no Código Florestal. Também define os procedimentos administrativos para licenciamento de posses; averbação, retificação ou realocação de Reserva Legal; licenciamento de empreendimentos em Áreas Protegidas e seu entorno; licenciamento de assentamentos rurais; planos de recuperação de áreas degradadas; compensação ambiental; autorização de desmatamento e plano de exploração florestal. Além disso, estabelece a responsabilidade do engenheiro em casos de fraude ou informação inverídica nos processos de licenciamento (Disponível no site www.sema.mt.gov.br). Equipe Responsável: Coordenação Geral: Carlos Souza Jr. e Adalberto Veríssimo (Imazon); Laurent Micol e Sérgio Guimarães (ICV). Equipe: Amintas Brandão Jr., Anderson Costa (Sensoriamento Remoto) e Rodney Salomão (Geoprocessamento) – Imazon; Roberta Roxilene dos Santos (Geoprocessamento) – ICV; Luciano Silva (Diagramação e Projeto Gráfico) e Gláucia Barreto (Edição e Revisão de Texto). Fontes de Dados: Para as estatísticas mensais de desmatamento foram utilizados os dados do SAD (Imazon). Para as análises do desmatamento por região crítica foram utilizados os dados do Prodes (Inpe) (www.obt.inpe.br/prodes/). Apoio: Embaixada do Reino dos Paises Baixos Fundação Lucile e David Packard 6 Novembro 2006 - nº 4