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São Paulo, sexta-feira, 03 de julho de 2015
Especial
Fruto amazônico
tem efeito
anti-inflamatório
contra câncer
O guajiru, fruto da amazônia que hoje é pouco
aproveitado, pode fornecer substâncias que combatem
processos inflamatórios associados ao câncer
Júlio Bernardes/Agência USP de Notícias
T
estes realizados em animais e em células
humanas demonstraram que as antocianinas, compostos químicos extraídos do
fruto, apresentam ação anti-inflamatória e antimutagênica. O fruto influencia ainda a redução
das concentrações de radicais-livres, evitando a
destruição de células saudáveis. A pesquisa foi
realizada na Faculdade de Ciências Farmacêuticas
de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP e na Texas
A&M University, nos Estados Unidos, por Vinícius
Venâncio.
As folhas do guajiruzeiro são utilizadas na
medicina popular por
auxiliar na diminuição
dos níveis de glicose
sanguíneos, efeito este
já descrito na literatura
científica. “Quanto ao
fruto, sabe-se apenas
que ele possui antocianinas, compostos químicos de interesse na
prevenção de doenças,
mas não há informações
sobre outros compostos
e seus efeitos biológicos”, conta Venâncio.
“Desse modo, a pesquisa
se concentra nos mecanismos dos compostos
do fruto e das antocianinas nos processos de
instabilidade genética
e inflamação, descritos
como precursores da
carcinogênese (câncer)
e da fisiopatologia de doenças crônicas”.
Maurício Mercadante
Fotos: Divulgação
Guajiru tem substâncias que podem inibir processos
inflamatórios ligados ao câncer.
Venâncio. “Nesta etapa, destacaram-se aqui os
compostos fitoquímicos (antocianinas, carotenoides e compostos fenólicos), e os elementos
químicos magnésio e selênio, que podem ser os
responsáveis pelos efeitos benéficos observados
nos animais experimentais”.
Para os ensaios envolvendo culturas de células,
foram utilizadas a linhagem CCD-18Co de epitélio
normal de cólon e as células HT-29 de câncer de
cólon humano. As células foram tratadas com um
extrato de guajiru rico em antocianinas. “Antocianinas são uma classe
de compostos químicos
responsável pela coloração avermelhada ou
arroxeada de frutas e
outros vegetais”, relata
o pesquisador. “As antocianinas presentes em
maiores concentrações
no guajiru são glicosídeos de delfinidina,
cianidina e petunidina.
As antocianinas foram
extraídas do fruto liofilizado utilizando solventes e colunas cromatográficas”.
Foram realizados ensaios bioquímicos para
detecção de radicais
livres, ensaios citogenéticos para avaliar danos
na molécula do DNA, e
marcadores celulares
foram utilizados para
avaliar a influência do
guajiru no processo
inflamatório. “Os resultados indicam efeitos
antimutagênico, anti-inflamatório e de redução
das concentrações de radicais livres”, ressalta
Venancio. “Esta foi a primeira vez que os efeitos
dos frutos do guajiruzeiro foram avaliados e a primeira vez que as antocianinas isoladas do guajiru
apresentaram efeito anti-inflamatório em células
de câncer humano”.
Por se tratar de um fruto subutilizado, não há
muitos relatos sobre a disponibilidade do guajiru
na Amazônia. Ele é comum em regiões costeiras,
portanto há relatos da presença do guajiru nos
estados de Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco e Pará. “Os frutos utilizados nesta pesquisa
foram coletados no estado do Pará”, aponta o
pesquisador. “O fruto é comestível e utilizado in
Os ensaios realizados até agora tiveram o
natura ou na preparação de bebidas. Além disso, objetivo de conhecer o fruto do guajiru, sua
também é aproveitado no preparo de doces, como composição fitoquímica e de minerais e seus
compotas e geleias”.
efeitos sobre a estrutura do DNA, a geração e
neutralização de radicais livres e seus efeitos
Nos ensaios com animais (ratos), foi utilizado anti-inflamatórios. “Ainda há um longo processo
o fruto inteiro, composto por polpa e casca. Os até que o fruto ou as antocianinas tornem-se
efeitos foram avaliados nas células do sangue e de fato fármacos”, observa o pesquisador. “Enmedula óssea. “Os animais foram tratados com saios pré-clínicos e clínicos, assim como ensaios
todos os compostos que o fruto possui”, descreve mecanísticos serão necessários para a alegação
funcional deste produto natural, bem como sua
utilização na terapêutica”.
Os ensaios em roedores foram realizados no
Laboratório de Nutrigenômica da FCFRP, sob
orientação da professora Lusânia Maria Greggi
Antunes. Alguns experimentos foram realizados
sob supervisão da professora Cleni Mara Marzocchi
Machado, também da FCFRP. A caracterização
fitoquímica do fruto foi realizada pelo grupo da
professora Adriana Zerlotti Mercadante, na Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp.
A composição de elementos químicos (minerais)
essenciais e não-essenciais foi realizada no laboratório do professor Fernando Barbosa Junior,
na FCFRP.
Os ensaios com células em cultura e a quantificação e caracterização das antocianinas presentes nos
extratos utilizados nesses ensaios foram realizados
durante estágio de doutoramento sanduíche na
Texas A&M University, nos Estados Unidos, sob
orientação do professores Stephen Talcott e Susanne Talcott. O trabalho foi financiado pela FAPESP
(bolsa de doutorado no Brasil) e pelo CNPq (apoio
financeiro e bolsa de doutorado sanduíche).
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