COMBINAÇÃO DE SOLVENTES ORGÂNICOS PARA PERMEABILIZAÇÃO DE CÉLULAS DE KLUYVEROMYCES MARXIANUS VISANDO OBTENÇÃO DE β-GALACTOSIDASE Luciane Padilha Mena Acadêmica do curso de Engenharia de Alimentos. Universidade Federal do Pampa – Campus Bagé [email protected] Caroline Costa Moraes Professora do curso de Engenharia de Alimentos. Universidade Federal do Pampa – Campus Bagé [email protected] Ana Paula Manera Professora do curso de Engenharia de Alimentos. Universidade Federal do Pampa – Campus Bagé [email protected] Resumo. As enzimas, biocatalisadores de interesse industrial, podem ser obtidas a partir de micro-organismos. A βgalactosidase é uma enzima intracelular que pode ser obtida a partir da levedura Kluyveromyces marxianus. A permeabilização celular emprega agentes permeabilizantes para tornar a célula porosa, permitindo a passagem de moléculas e acesso aos compostos intracelulares. Solventes orgânicos ou suas combinações são relatados como bons agentes permeabilizantes. O objetivo deste trabalho foi testar a mistura de 4 solventes em acetato de etila, para obtenção de células permeabilizadas de Kluyveromyces marxianus CCT 7082. A acetona 35% (p/v) e o isopropanol 50% (p/v), preparados em acetato de etila, apresentaram os melhores resultados. Ambos são aceitos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária para uso em alimentos, nas concentrações estudadas e seu custo atual assemelha-se. A acetona 35% (p/v) foi definida como o melhor agente permeabilizante com atividade enzimática média de 1,4 U/mg de biomassa. Palavras-chave: Lactase. Lactose. Enzimas microbianas. 1. INTRODUÇÃO Avanços na biotecnologia tornaram possível a obtenção de diversos produtos a partir de micro-organismos (PANESAR, 2007). As enzimas industriais são, em sua maioria, obtidas a partir de fontes microbianas e seu emprego apresenta vantagens frente aos catalisadores químicos, como alta especificidade, condições suaves de reação e a redução de problemas ambientais e toxicológicos (BON; FERRARA; CORVO, 2008; COELHO; SALGADO; RIBEIRO, 2008). A β-galactosidase, ou lactase, é uma promissora enzima empregada na indústria de alimentos. Dentre suas principais aplicações destaca-se a hidrólise da lactose do leite, tornando esse produto e derivados, próprios ao consumo por pessoas intolerantes a este carboidrato. Além disso, essa enzima possui a capacidade de produzir galactooligossacarídeos (GOS), os quais podem auxiliar na absorção de alguns nutrientes e na eliminação de compostos tóxicos ao organismo (PANESAR, 2007). A levedura Kluyveromyces marxianus produz essa enzima com maiores atividades catalíticas em valores de pH entre 6,0 e 7,0, tornando-a ideal para tratar o leite e produtos XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil derivados, os quais possuem pH próximo a neutralidade (KONDO et al., 2000; HUSAIN, 2010). Além disso, esse microorganismo é aceito como seguro (KAUR et al., 2009). Quando obtida a partir desta levedura a β-galactosidase é uma enzima intracelular e faz-se necessário o emprego de técnicas para sua obtenção. Métodos químicos, físicos e enzimáticos podem ser empregados, porém não são adequados, pois os drásticos tratamentos aplicados podem levar a degradação do composto de interesse (COELHO; SALGADO; RIBEIRO, 2008; PANESAR et al., 2007). A permeabilização celular é uma técnica alternativa que visa o acesso aos compostos intracelulares. Este método consiste no emprego de agentes permeabilizantes, os quais atuam removendo os fosfolipídios da camada e tornando a célula porosa, permitindo a passagem de pequenas moléculas e solutos (PANESAR et al., 2007; SISO; DOVAL, 2007). Solventes orgânicos e detergentes tem sido estudados em diferentes concentrações e combinações como agentes permeabilizantes. No entanto, os solventes tem se mostrado mais vantajosos, uma vez que apresentam bons resultados e possuem custo mais baixo que os detergentes (PANESAR et al; 2007; MENA et al. 2013). Mena e colaboradores (2013) testaram diferentes solventes orgânicos na permeabilização de células de Kluyveromyces marxianus CCT 7082. Os solventes foram testados separadamente, em diferentes concentrações (20, 35, 50 e 100%) preparados em tampão fosfato de potássio 0,1 M, pH 7,0. Os melhores resultados foram obtidos quando se empregou acetona 35% (p/v), álcool metílico 35% (p/v), etanol 35% (p/v), isopropanol 50% (p/v) e acetato de etila 100%. O objetivo deste trabalho foi avaliar quatro diferentes misturas de solventes orgânicos, empregando acetona, álcool metílico, isopropanol e etanol preparados em acetato de etila, para permeabilização das células da levedura Kluyveromyces marxianus CCT 7082, em atividade da β-galactosidase. 2. relação à MATERIAL E MÉTODOS A enzima foi produzida por cultivo submerso, em meio complexo, utilizando lactose como substrato, a 30°C, 150 rpm durante 48 horas (MANERA et al., 2008). O meio de fermentação foi inoculado com 10% de inóculo feito com o mesmo meio, incubado por 24 h a 30ºC e 150 rpm. Foram testados os solventes orgânicos: acetona, isopropanol, álcool metílico e etanol, preparados utilizando acetato de etila como diluente. As misturas contendo acetona, etanol e álcool metílico foram preparadas na concentração de 35% (p/v). Já, para o isopropanol utilizou-se a concentração de 50% (p/v). Essas condições foram escolhidas em função destes solventes apresentarem máxima atividade enzimática quando preparados isoladamente, nestas concentrações, em tampão fosfato de potássio (MENA et al., 2013). Para a permeabilização celular foram utilizados 15 mg de células (peso seco) do caldo fermentado. As células foram coletadas por centrifugação (5000 rpm, por 5 min a 5°C), lavadas duas vezes com água destilada e ressuspendidas em 2 mL do agente permeabilizante. A suspensão foi mantida durante 5 min a 25°C. Decorrido este tempo, as células foram novamente centrifugadas e lavadas duas vezes com tampão fosfato de potássio 0,1 M, pH 7,0 para a retirada do agente permeabilizante. Após a permeabilização celular realizou-se a determinação da atividade enzimática por método espectrofotométrico, usando o-nitrofenil-β-D-galactopiranosideo (oNPG) como substrato, segundo metodologia descrita por Inchaurrondo, Yantorno e Voget (1994). Realizou-se também um ensaio para células não permeabilizadas. Os resultados foram expressos em U por mg de biomassa. Uma unidade de atividade enzimática (U) é definida como a quantidade de enzima XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil que hidrolisa 1μmol de oNPG por minuto, sob as condições do ensaio. Todos os testes foram realizados em triplicata. Os gráficos foram construídos utilizando-se editor de gráficos e para a análise estatística utilizou-se programa estatístico. Foi realizada a análise de variância (p<0,05) e o teste de Tukey com nível de confiança de 95%. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO cada um dos agentes permeabilizantes, em suas respectivas concentrações, utilizando acetato de etila. Em 0% tem-se a atividade das células não permeabilizadas. Através da análise de variância constatou-se haver diferença significativa entre os tratamentos (p< 0,05). E, de modo a definir qual o melhor tratamento, dentre os testados, aplicou-se o Teste de Tukey. Na Figura 1 o Teste de Tukey está representado pelas letras. A Figura 1 apresenta os resultados obtidos para a atividade enzimática para Figura 1 – Efeito dos solventes preparados em acetato de etila na permeabilização de células de Kluyveromyces marxianus CCT 7082. Teste de Tukey, entre os tratamentos, representado pelas letras. Letras iguais denotam que não houve diferença significativa entre os tratamentos a 95% de confiança. As células não permeabilizadas apresentaram atividade enzimática igual a 0,18±0,072 U/mg. A acetona 35% (p/v), o álcool metílico 35% (p/v), o etanol 35% (p/v) e o isopropanol 50% (p/v) apresentaram atividade enzimática igual a 1,40±0,22 U/mg, 0,48±0,02 U/mg, 0,68±0,03 U/mg e 1,46±0,07 U/mg, respectivamente. Todos os tratamentos foram considerados estatisticamente diferentes das células não permeabilizadas, indicando que todas as misturas testadas possuem capacidade de permeabilização das células da levedura, nas concentrações testadas, em relação à atividade da enzima βgalactosidase. No entanto, os melhores resultados foram obtidos para acetona 35% (p/v) e isopropanol 50% (p/v). Esses dois tratamentos foram considerados estatisticamente iguais. Todos os solventes orgânicos testados neste trabalho podem ser utilizados em alimentos, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (BRASIL, 2007). Atualmente, o custo da acetona e do isopropanol é semelhante. Assim, a acetona 35% (p/v) preparada em acetato de etila foi definida como sendo o melhor agente permeabilizante, dentre os testados neste trabalho, por utilizar uma concentração menor do que o isopropanol 50% (p/v), resultando em economia de reagentes, sem XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil atividade HUSAIN, Q. β-galactosidases and their potential applications: a review. Critical Reviews in Biotechnology. India, v. 30, n. 1, p. 41-62, out 2010. A partir dos resultados obtidos contatou-se que todas as combinações de solventes testadas foram eficazes na permeabilização das células da levedura Kluyveromyces marxianus CCT 7082, em relação à atividade da enzima βgalactosidase. Os melhores resultados foram obtidos para a acetona 35% (p/v) e para o isopropanol 50% (p/v), usando como diluentes acetato de etila. Os resultados de ambos os tratamentos foram considerados estatisticamente iguais. Definiu-se a acetona 35% (p/v) como sendo o melhor agente permeabilizante, dentre os testados, resultando em uma atividade enzimática média de 1,4 U/mg. INCHAURRONDO, V.A.; YANTORNO, O. M.; VOGET, C. E. Yeast growth and beta-galactosidase production during aerobic batch cultures in lactose-limited synthetic medium. Process Biochemistry. Argentina, v. 29, n. 1, p. 47-54, 1994. perdas significativas enzimática. 4. na CONSIDERAÇÕES FINAIS Agradecimentos Ao Programa de Bolsas de Desenvolvimento Acadêmico da Universidade Federal do Pampa (PBDA), pela bolsa de iniciação científica. Ao Laboratório de Microbiologia e Toxicologia de Alimentos da Universidade Federal do Pampa – Campus Bagé, pelo local de realização dos experimentos. 5. REFERÊNCIAS BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Resolução RDC n° 2, de 15 de janeiro de 2007. Brasília: Diário Oficial da União, 2007. BON, E. P. S.; FERRARA, M. A.; CORVO, M. L. Enzimas em biotecnologia: produção, aplicações e mercado. Editora Interciência Ltda, Rio de Janeiro, Brasil, 2008. COELHO, M. A. Z.; SALGADO, A. M.; RIBEIRO, B. D. Tecnologia enzimática. Editora EPUB, Rio de Janeiro, Brasil, 2008. KAUR, G.; PANESAR, P. S.; BERA, M. B.; KUMAR, H. Hydrolysis of whey lactose using CTAB-permeabilized yeast cells. Bioprocess and Biosystems Engineering. India, v. 32, n. 1, p. 63-67, 2009. KONDO, A. et al. Preparation of high activity whole cell biocatalyst by permeabilization of recombinant flocculent yeast with alcohol. Enzyme and Microbial Technology. Japan. v. 27, n. 10, p. 806-811, 2000. MANERA, A. P. et al. Optimization of the Culture Medium for the Production of βgalactosidase from Kluyveromyces marxianus CCT 7082. Food Technology and Biotechnology. Rio Grande. v. 46, n. 1, p. 66-72, 2008. MENA, L. P. et al. Influência da concentração de solventes orgânicos na permeabilização de células de Kluyveromyces marxianus. Congresso Regional De Iniciação Científica E Tecnológica Em Engenharia - CRICTE, v. 1, 2013. PANESAR,P.S. et al. Permeabilization of Yeast Cells with Organic Solvents for βgalactosidase Activity. Research Journal of Microbiology. India, v. 2, n. 1, p. 34-41, 2007. SISO, M.I.G.; DOVAL, S.S. Kluyveromyces lactis immobilization on corn grits for milk whey lactose hydrolysis. Enzyme Microb. Technology, v. 16, p. 303-310, 1994. XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil