UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I
GISELE FADIGAS MACHADO
OS CONTOS DE FADAS E A
FORMAÇÃO MORAL DA CRIANÇA
SALVADOR
2011
GISELE FADIGAS MACHADO
OS CONTOS DE FADAS E A
FORMAÇÃO MORAL DA CRIANÇA
Monografia apresentada como requisito parcial
para obtenção da graduação em pedagogia com
habilitação em Educação infantil da Universidade
do Estado da Bahia – UNEB, sob orientação da
Profª. Maria de Fátima V. Noleto
SALVADOR
2011
FICHA CATALOGRÁFICA : Sistema de Bibliotecas da UNEB
Machado, Gisele Fadigas
Os contos de fadas e a formação moral da criança / Gisele Fadigas Machado . – Salvador,
2011.
64f.
Orientadora: Profª.Drª. Maria de Fátima V. Nolêto.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade do Estado da Bahia.
Departamento de Educação. Colegiado de Pedagogia. Campus I. 2011.
Contém referências e apêndices.
1. Educação de crianças. 2. Contos de fadas. 3. Prática pedagógica. 4. Atividades
criativas
na sala de aula. I. Nolêto, Maria de Fátima V. II.Universidade do Estado da
Bahia, Departamento de Educação.
CDD: 372.2
GISELE FADIGAS MACHADO
OS CONTOS DE FADAS E A
FORMAÇÃO MORAL DA CRIANÇA
Monografia apresentada como requisito parcial
para obtenção da graduação em pedagogia com
habilitação em Educação infantil da Universidade
do Estado da Bahia – UNEB, sob orientação da
Profª. Maria de Fátima V. Noleto
Avaliado em 18 de Março de 2011
Conceito:_______________________
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________
Profª. Maria de Fátima V. Noleto
(UNEB-SALVADOR/BA)
____________________________________________________________
Profª. Adelaide Rocha Badaró
(UNEB-SALVADOR/BA)
____________________________________________________________
Profª. Rilza Cerqueira Santos
(UNEB-SALVADOR/BA)
SALVADOR
2011
Dedico esse trabalho aqueles que acreditam e se esforçam para a
literatura infantil assuma seu lugar nas salas de aula, não só como um
“calmante” ou como uma simples tarefa com fins pedagógicos, mas
sim com uma libertadora de mentes e criadora de pensadores.
AGRADECIMENTOS
Hoje se encerra mais um circulo da minha vida e outro se inicia cheio de alegria, esperança e
tantas outras coisas que nem consigo descrever. Quero agradecer primeiro a Deusa por me
acompanhar e guiar por todo percurso. Aos meus filhotes Vítor e Sophia, por me
proporcionarem momentos fantásticos junto ao mundo dos contos maravilhosos, e
principalmente pela paciência, por me aturar mal humorada e estressada. Vocês são minha
vida e mamãe ama muito vocês! Ao meu avô Jayme e aos meus pais Abílio, Marly e Nadir
por incentivarem sempre a leitura e despertarem em mim o amor pelos Contos de Fadas e pela
literatura em geral. A meus irmãos Otávio José e Sonia Cristina, meus sobrinhos Daniel e
Vinicius e minha cunhada Andrea. A todos meus queridos e amados amigos, principalmente
Gina, Fernanda, Daniela Teixeira, Daniela Freitas, Pâmyla, Larissa, Arisméia, Neilza, Daniele
e Caio pelos dias e noites de estudo e pela diversão dentro e fora da UNEB. E especialmente a
Edu, sem você eu enlouqueceria. Aos mestres que me guiaram ao longo dessa jornada, em
especial a Sebastião Heber, Adelaide Badaró, Heloisa Lopes e minha orientadora Fátima
Noleto, exemplos de como quero ser quando crescer. E talvez as pessoas mais importantes e
que sem elas nunca conseguiria desenvolver esse trabalho, Charles Perrault, Irmãos Jacob e
Wilhelm Grimm, Hans Christian Andersen por trazerem para as paginas dos livros os contos
da tradição oral de diversos povos. . Enfim, meu muito obrigado aqueles que estiveram e
estão presentes na minha vida. Amo incondicionalmente e irrevogavelmente todos vocês!
“Se a educação é a arte de cada um se relacionar com outrem
e a pedagogia a arte de ensinar as letras, o sonho é a arte de
relacionar os outros com os fantasmas e os fantasmas com
as palavras. Se o sonho não nos ensinasse a fabricar dragões
e a matar dragões, como havíamos de aprender as palavras e
as letras que nos explicam que não há dragões para matar?
Não se pode ensinar a arte de matar dragões porque não há
dragões para matar....mas quando a nossa fantasia nos diz
que eles existem, não temos outro remédio senão
aprender a matá-los....”
(João dos Santos, O falar das letras)
RESUMO
Este trabalho busca verificar a importância dos contos de fadas na formação moral da criança,
bem como seu uso e sua importância nas salas de aula de educação infantil, tendo como
referência os diversos teóricos estudados, como Coelho, Bettelheim, Amarilha, Abramovich
entre outros. Visando assim fazer um passeio pelo assunto e dessa forma repensar os contos
de fadas, como instrumento auxiliar nas diversas práticas pedagógicas. Assim, a pesquisa
propôs-se a analisar de que forma esse gênero contribui no processo de construção da
formação moral das crianças, bem como sua relação com o processo de escolarização. A
abordagem metodológica foi qualitativa e quantitativa, fundamentada na pesquisa de campo
realizada com as professoras da rede publica e privadas de Salvador e Lauro de Freitas, alem
das entrevistas realizadas com crianças de cinco a oito anos de idade, e na revisão de
literatura. Os resultados obtidos foram satisfatórios, pois foi possível constatar-se que em grau
maior ou menor, o trabalho com os contos de fadas tem a capacidade de influenciar e
enriquecer o conhecimento de mundo das crianças, garantindo assim, a construção dos valores
morais pelas mesmas. Esperam-se, com os resultados dessa pesquisa, gerar conhecimentos
acerca da amplitude de se trabalhar os contos de fadas com as crianças de forma lúdica e
criativa, e no campo acadêmico, estabelecer uma reflexão entre os professores de educação
infantil, e com os pais, sobre a abrangência e importância dos contos de fadas na formação de
nossas crianças.
Palavras-chave: Educação Infantil - Contos de fadas - Formação Moral - Práticas
pedagógicas.
ABSTRACT
This paper seeks to verify the importance of fairy tales the moral development of children, as
well as its use and its importance in the classroom in kindergarten, with reference to several
theoretical studies, such as Coelho, Bettelheim, Amarilho Abramovich among others. Thus
aiming to make a tour of subject and thereby rethink the fairy tales as an aid in education
practices. Thus, the survey aimed to examine how this kind contributes in the building process
of moral formation of children as well as its relationship with the school process. The
methodological approach was qualitative and quantitative, based on field research conducted
with teachers from public and private Salvador and Lauro de Freitas, apart from interviews
with children aged five to eight years old, and literature review. The results were satisfactory,
since it was established that in greater or lesser degree, work with the fairy tales have the
ability to influence and enrich the knowledge of the world of children, thus guaranteeing the
construction of moral values for the same . Are expected, with the results of this research,
generate knowledge about the extent of working fairy tales with children in a playful and
creative, and in the academic field, to establish a debate between kindergarten teachers, and
parents on the scope and importance of fairy tales in the formation of our children.
Key Words: Kindergarten - Fairy Tales - Moral Formation - Pedagogic Practices.
SUMARIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 12
1
OS CONTOS DE FADAS ....................................................................................... 15
1.1 A GÊNESE DOS CONTOS DE FADAS .................................................................... 16
1.2 A MORFOLOGIA DO CONTO ...............................................................................
20
1.3 A RELAÇÃO DA CRIANÇA COM O CONTO DE FADAS ................................. 22
1.4 OS CONTOS DE FADAS E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS .............................. 25
2 A FORMAÇÃO ÉTICA E MORAL NA CRIANÇA ........................................... 27
2.1 CONCEITO DE ÉTICA E MORAL ........................................................................
2.2 A FORMAÇÃO ÉTICA E MORAL SEGUNDO PIAGET .....................................
27
28
2.3 A CRISE ETICA E MORAL NO MUNDO MODERNO ........................................ 31
2.4
3
3.1
ÉTICA E MORAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL SEGUNDO OS
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS E O REFERENCIAL
CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL ..................... 33
OS CONTOS DE FADAS COMO AGENTE DA FORMAÇÃO MORAL NA
CRIANÇA ................................................................................................................ 36
ANÁLISE DOS DADOS ....................................................................................... 37
CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................................
57
REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 58
APÊNDICE ..................................................................................................................... 61
APÊNDICE I - QUESTIONARIO APLICADO COM AS PROFESSORAS ...........
62
APÊNDICE II - ENTREVISTA COM AS CRIANÇAS .............................................. 64
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
ILUSTRAÇÃO 1 – Ariel - Desenho de Angélica, 5 anos .................................................
50
ILUSTRAÇÃO 2 – Ariel e Eric - Desenho de Vinicius, 5 anos ......................................
51
ILUSTRAÇÃO 3 – A Bela e a Fera dançando - Desenho de Sophia, 6 anos ..................
52
ILUSTRAÇÃO 4 – A Bela e a Fera dançando - Desenho de Karine, 8 anos ................... 53
ILUSTRAÇÃO 5 – Rapunzel e o príncipe - Desenho de Camila, 8 anos ........................
54
12
INTRODUÇÃO
Tratar da aprendizagem da criança começa quando ela nasce e segue por toda sua
vida, mas é nos primeiros anos que a personalidade e o caráter delas começam a serem
moldados, é a partir dos 4 anos que elas começam a procurar entender o que esta acontecendo
com elas e com o mundo a sua volta e é nessa questão que a literatura infantil pode ser
utilizada como instrumento, pois os contos utilizam como base de suas histórias os maiores
conflitos da humanidade, falando sobre amizade, amor, solidariedade, ética, medo, desejo,
ódio, perigos, morte, luta entre o bem e o mal, etc. e muitas outras questões que formam um
indivíduo.
Sendo assim, compartilhar um conto de fadas significa deixá-lo fluir,
possibilitando que o professor e o aluno experimentem emoções novas. Significa também um
outro modelo de educação que acolha o maravilhoso, a fantasia e a criatividade, para que os
professores possam dividir com as crianças seu conhecimento e enfrentar a incerteza e o
desconhecido tendo a literatura infantil e os contos de fadas como um meio de socialização,
um instrumento que os ajude a inserir as crianças no mundo.
O objetivo desse trabalho é analisar a importância dos contos de fadas como
instrumento de formação moral e autoconstrução, procurando identificar nos contos de fadas
seu caráter plurifuncional, enumerar os diversos campos onde podem ser empregados e como
eles estão sendo utilizados na educação, descrever a relação ficção-realidade para as crianças,
além de apontar as relações entre a leitura dos contos de fadas e a constituição moral, ética e
emocional da criança.
A escolha do tema literatura infantil e conto de fadas foi baseado em experiências
pessoais da infância, onde estavam sempre presentes no ambiente familiar e escolar e foram
um dos principais pontos de partida para a autoconstrução e formação pessoal, pois eram
extremamente ricos de informações, mostrando problemas e indagações do dia a dia, tudo isso
de forma fantasiosa e até fantástica, mas sempre dando uma base para aprendermos a entender
como viver e como funciona a vida em sociedade.
A preocupação com essa temática surgiu no ano de 2007, quando cursava o 1º
semestre do curso de pedagogia e seguiu nos semestres seguintes, principalmente após o
primeiro contato com a sala de aula e notar a falta de interesse de alguns dos educadores e dos
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educandos pela literatura infantil ou quando os mesmo os utilizavam na sala de aula como um
instrumento de controle sobre as crianças, isso ocorre porque os contos de fadas são sempre
bem recebidos pelas crianças, então eles recorrem aos contos, ou quando o tratavam apenas
como um suporte didático para as aulas de linguagem, transformando-os em tarefas escolares,
perdendo assim toda sua função lúdica e estética, deixando de lado toda sua magia fazendo
com que as crianças associassem sua leitura com as tarefas escolares e passassem a não gostar
de ler e também impedindo que as emoções proporcionadas pelos contos sejam vivenciadas
plenamente pelas mesmas.
Outro fator que levou a escolha dessa temática foi o censo escolar de 2000 do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP onde mostra
que os livros de literatura infantil são utilizados em 58% das creches do país e que seu
percentual aumenta nos estabelecimentos da pré-escola para 64%, sendo assim podemos
perceber que mesmo sabendo da importância da literatura infantil na aprendizagem e
formação da criança, e que o incentivo a leitura deve ocorrer desde cedo tanto em casa quanto
na escola, sendo dever dos pais e dos professores estimularem a criança a descobrir o mundo
imaginário e fantástico dos livros, estes ainda buscam seu espaço nas casas e nas salas de
aula.
Essas situações inquietantes sugiram como ponto de partida para o
desenvolvimento desse trabalho, onde pretende-se tratar a seguinte questão, a literatura
infantil e principalmente os contos de fadas continuam a ser instrumento de formação cultural
e autoconstrução para as crianças? Diante disso ainda podemos questionar qual a relação da
criança com a literatura infantil e principalmente os contos de fadas? E como os mesmos estão
sendo utilizados nas escolas de educação infantil?
Este trabalho fundamenta-se nos estudos realizados por Sennett (2003) trás á analise das
mudanças que ocorreram entre as esferas da vida pública e da vida privada, como declínio de
uma vida pública traz problemas ao homem moderno e contribui para mudanças significativas
no meio urbano alem de quanto isso influencia na construção da própria noção de cidadania;
Piaget (1994) que através de analises das respostas de crianças pesquisadas, analisa as regras
do jogo social e a formação das representações infantis, além de traçar um perfil da formação
moral da criança, seus estagio e como ele acontece em cada estagio; Propp (2010) faz uma
analise morfológica dos contos maravilhoso, que nos identificar o conto maravilhoso e o
conto de fadas através de fatores comuns nas historias; Merege (2010) que faz uma gênese
14
dos contos de fadas, além de classificá-los como patrimônio universal da humanidade, pois
possui elementos comuns a diversas culturas; Bettelheim (2009) trás uma analise dos contos
de fadas mais famosos, seus verdadeiros significados e como eles podem ajudar as crianças a
lidar com o seu emocional e a construir seus valores, alem de que fazer a relação entre os
conceitos psicanalíticos e as historias que são contadas para crianças, fazendo um contraponto
entre o desenvolvimento da criança e os contos de fadas; Abramovich(2006) que faz uma
analise dos livros destinados as crianças e como trabalhar literatura infantil em sala de aula;
Amarilha (2004) que trás a importância dos contos de fadas na formação comunicativa,
cognitiva e psicológica da criança e a inserção de praticas pedagógicas prazerosas em sala de
aula; Coelho (2003) faz um apanhado histórico do contos de fadas, além de analisá-los como
auxiliadores na formação da criança e nos mostra que a importância dos livros ainda hoje no
mundo informatizado, como e por que ler os clássicos universais e que a imposição dos livro
como leitura obrigatória não forma leitores e nem ajuda na formação da criança, entre outros,
que nos mostram como a literatura infantil e principalmente os contos de Fadas podem ser
usados na saúde da criança, seja para ajudá-la com problemas psicológicos ou na educação,
seja para apenas ensiná-la a reconhecer o mundo em que esta inserida e com o qual divide
seus ganhos e suas perda, seus valores morais e éticos, ou simplesmente ensiná-las o prazer de
ler.
Este trabalho trata-se de uma pesquisa de campo nas escolas da rede publica,
situadas no município de Salvador e Lauro de Freitas, onde será aplicado um questionário
com os docentes, este questionário será composto de 15 perguntas referente à literatura
infantil com ênfase nos contos de fadas a pesquisa ocorrerá em um período de 30 dias. Serão
também realizadas entrevistas e oficinas de contos de fadas com crianças entre quatro e oito
anos de idade.
Organizo este trabalho em três itens. O primeiro tratará dos contos de fadas, sua
origem e criação, sua morfologia, o que faz da historia ser um conto de fadas, sua simbologia
e seus arquétipos, sua função, sua importância no passado e nos dias atuais. O segundo trará a
formação moral da criança, sua importância e necessidade nos dias atuais, como ocorrem o
processo de formação moral. No terceiro item veremos a importância dos contos de fadas e
formação moral da criança, os contos de fadas e as crianças, como elas lidam com as
situações encontradas nas historias, a importância do jogo ficcional que os contos
proporcionam, a visão do professor em relação ao conto de fadas e como ele o utiliza como
recurso pedagógicos em sala de aula.
15
1 OS CONTOS DE FADAS
Na Idade Média não existia a “infância”, não se escrevia para as crianças, não
havia livros para elas. As crianças viviam inseridas no mundo adulto. Segundo Stone:
Na sociedade antiga, não havia a “infância”: nenhum espaço separado do
“mundo adulto”. As crianças trabalhavam e viviam junto com os adultos,
testemunhavam os processos naturais da existência (nascimento, doença,
morte), participavam junto deles da vida publica (política), nas festas,
guerras, audiências, execuções, etc., tendo assim seu lugar assegurado nas
tradições culturais comuns: na narração de historias, nos cantos, nos jogos.
(STONE, 1979, p. 69-76)
Porém, no inicio do século XVII varias mudanças começaram a ocorrer, pois os
fundamentos políticos, econômicos, morais, culturais e sociais da sociedade antiga foram
sendo superados. Isto aconteceu devido à ascensão da família burguesa, que passa a
reivindicar formas mais concreta de vida, surgindo assim às primeiras preocupações com a
educação das crianças pequenas essas preocupações resultaram do reconhecimento e
valorização que a criança passou a ter no meio em que viviam, mudanças significativas
ocorreram nas atitudes das famílias em relação às crianças que, inicialmente, eram educadas a
partir de aprendizagens adquiridas junto aos adultos, isto ocorreu devido ao surgimento do
“sentimento de infância”, isto é “a sociedade passou a ter consciência da particularidade
infantil, particularidade essa que distingue essencialmente a criança do adulto.” segundo
Ariés, (1981, p. 156) concedendo assim um novo status à infância.
Com tudo isso precisava então haver mudanças, sendo que as duas mais
importantes que podemos destacar são a reorganização da escola e a criação de um gênero
literário especifica para as crianças, é em meio a todas estas transformações que nasce a
literatura infantil.
Podemos dizer que a literatura infantil é um dos gêneros literários mais recentes,
já que os primeiros livros infantis surgiram no final do século XVII e durante todo o século
XVIII e segundo Vitor Quelhas (2004) em sua entrevista “Viver com as fadas: A importância
do conto de fadas” foi também nesta época que surgiram na Europa um dos segmentos mais
importantes e significativos da literatura infantil: Os contos de fadas que surge do termo
francês conte de fée que logo torna-se o fairy tale inglês.
16
1.1 A GÊNESE DOS CONTOS DE FADAS
Narrar histórias é uma das praticas mais antigas do ser humano, tendo
provavelmente origens na pré-história e se desenvolvendo com o passar dos anos, segundo
Ana Lucia Merege:
Desde o surgimento da linguagem, essencial para a cooperação e a
sobrevivência dos primeiros grupos de caçadores e coletores, é provável que
já houvesse algum tipo de relato, uma troca de informações ao menos,
possivelmente fazendo não só o uso da palavra como de outros sons, gestos e
mímica. Mais tarde, a linguagem se tornaria cada vez mais elaborada na
medida em que o pensamento humano fosse crescendo em complexidade.
(MEREGE, 2010, p. 16)
Para Merege (2010) antes do surgimento da escrita as historias eram registradas através de
sua memorização e transmitidas oralmente por anciões de ambos os sexos em reuniões ou
ritos de passagem, algumas culturas tinham pessoas treinadas na arte da narrativa para passar
essas historias adiante, assim as perpetuando por diversas gerações. Os contos de tradição
oral, que eram parte das estórias e do folclore de vários povos, foram à base para os contos de
fadas como conhecemos hoje, os tornando universais e herança cultural de diversas nações
Segundo Nelly Novaes Coelho (2010, p.75) “foi na França, na segunda metade do
século XVII, durante a monarquia absoluta de Luis XIV, o Rei Sol, que se manifestou
abertamente a preocupação com uma literatura para crianças ou jovens” e que os contos de
fadas são propriamente tidos como literatura infantil.
Para Coelho (2010) a história dos contos de fadas começa com Charles Perrault
(1628-1703) que pode ser considerado como o primeiro a publicar uma coletânea de contos
infantis, em 1697 na França sobre o titulo de Contes de Ma Mére I’Oye, em português
“Contos da Mãe Gansa” cuja à autoria de inicio foi atribuída a seu filho mais novo, Pierre
Perrault D’Armancour que na época estava com dezenove anos. Vários historiadores ainda se
perguntam o motivo para Perrault não ter assumido a autoria do livro, Coelho (2010, p.90)
acredita na teoria que Perrault “[...] não quisesse mudar sua imagem de escritor culto e
membro da Academia Francesa, aparecendo ao grande publico como autor de uma literatura
frívola, como era considerada a literatura popular, da qual saíram tais contos.” Pois para a
Academia Francesa os contos de fadas não passavam de literatura vulgar, sendo desprezados
pelos escritores cultos que viam nele apenas um exemplo da tolice e ingenuidade feminina.
17
Os contos da Mãe Gansa são publicados com oito contos de fadas recolhidos por
Perrault, de acordo com Coelho (2010) são eles, “A Bela Adormecida no Bosque”,
“Chapeuzinho Vermelho”, O Barba Azul”, “O Gato de Botas”, “As Fadas”, A Gata
Borralheira ou Cinderela”, “Henrique, o Topetudo” e “O Pequeno Polegar” que
posteriormente juntou a estes mais três títulos: “Pele de Asno”, “Os Desejos Ridículos” e
“Grisélidis”. Foi através da publicação de Perrault que esses contos se disseminarão pela
França e por outros países, fazendo com que os mesmo ganhem mais espaço junto à
sociedade, cujas famílias os liam para suas crianças, tornando-os alicerces de uma nova
corrente literária.
Segundo Coelho (2010) além de Perrault, algumas autoras também se destacaram
durante o século XVII e XVIII na publicação desses contos, o que faz com que surja “a moda
das fadas” agora não apenas entre as crianças, mas entre os adultos também, entre elas
podemos destacar Marie Catherine D’Aulnoy e Marie-Jeanne L’Héritier, sendo a ultima
sobrinha do próprio Perrault. O gênero continua em alta até fins do século XVIII quando
eclodiu a Revolução Francesa, que tem o culto a razão como base onde qualquer forma de
pensamento mágico era condenado, para Coelho (2010, p101-102) “abre-se uma nova Era
para o mundo, onde um novo Sentimento ia gerar uma nova razão, e no qual as fadas passam
a segundo plano[...]”, mas apesar dos contos de fadas serem considerados durante alguns anos
um gênero menor ele conservou-se nos livros infantis e na narrativas de vários povos.
Ainda de acordo com Coelho (2010) é através dos estudos de Lingüística e
Folclore realizado pelos irmãos Jacob (1785-1863) e Wilhelm (1786-1859) Grimm, na
Alemanha no final do século XVIII e inicio do século XIX, que os contos de fadas retornam
ao seu status e foram definitivamente constituídos e se expandiram pela Europa e Américas.
Todo material folclórico reunido pelos Irmãos Grimm foram publicados em 1819 sobre o
titulo Kinder-und Hausmärchen em português “Contos de Fadas para Crianças e Adultos”.
Foi o sucesso dos contos coletados pelos Grimm que abriram caminho para o gênero:
Literatura infantil como conhecemos hoje, segundo Coelho (2010, p. 149) ”Buscando
encontrar as origens da realidade histórica nacional, os pesquisadores encontram a fantasia, o
fantástico, o mítico... e uma grande Literatura Infantil surge para encantar crianças do mundo
todo”
A publicação dos Irmãos Grimm “Contos de Fadas para Crianças e Adultos” trás
diversos contos da cultura alemã, como também de outras partes, incluindo historias já
18
recolhidas por Perrault na França, o que para Coelho(2010, p.150) ”prova a existência de uma
fonte comum [...]” sendo que podemos concluir com isso que os contos de fadas rompem
todas as barreiras geográficas, mostrando toda sua força literária, pois eles lidam com todos os
conteúdos essenciais da humanidade e é por isso que se perpetuam há milênios. Coelho (2003,
p. 21) afirma que “Os contos de fadas fazem parte desses livros eternos que os séculos não
conseguem destruir e que, a cada geração, são redescobertos e voltam a encantar leitores ou
ouvintes de todas as idades.”
De acordo com Coelho (2010) os Irmãos Grimm publicaram um total de sessenta
e oito contos no livro “Contos de Fadas para Crianças e Adultos” sendo que algumas das
historias recolhidas no são: “A Bela Adormecida”, “Os músicos de Bremen”, “Os sete Anões
e a Branca de Neve”, “O Chapeuzinho Vermelho”, “A Gata Borralheira”, “O Corvo”,
“Frederico e Catarina”, “Branca de Neve e Rosa Vermalha”, “O Ganso de Ouro”, “O Alfaiate
Valente”, “Os Sete Corvos”, “A Casa do Bosque”, “A Guardadora de ganso”, “O Príncipe
Rã”, “O Caçador Habilitado”, “Olhinho, Doisolhinhos, Tresolhinhos”, “O Príncipe e a
Princesa”, “A Luz Azul”, “Margarida, a espertalhona”, “A Alface Mágica”, “As três
Fiandeiras”, “A Velha do Bosque”, “Joãozinho e Maria”, “O Senhor Compadre”, “João, o
felizardo”, “O Pequeno Polegar” e “Rapunzel”, entre outros. Como já foi dito anteriormente
algumas das historias de Perrault fazem parte também do livro publicado pelos Irmãos
Grimm, contudo devido ao surgimento do Romantismo, os contos ganham uma nova
roupagem, para Coelho:
[...] a violência (patente ou latente dos Contos de Perrault) cede agora a um
humanismo, em que se mescla o sentido do maravilhoso da vida. A despeito
dos aspectos negativos que continuam presentes nessas estórias, o que
predomina sempre é a esperança e a confiança na vida. Para exemplificar,
confrontem-se os finais da historia do Chapeuzinho Vermelho em Perrault
(que termina com o lobo devorando a menina e a avó) e nos Grimm(em que
o caçador chega e abre a barriga do lobo, deixando que as duas saiam vivas e
felizes, enquanto o lobo morria com a barriga cheia de pedras que o caçador
ali colocou)[...] (COELHO, 2010, p.151)
Assim sua forma de escrita foi redefinida para estar de acordo com o novo
movimento, onde as crianças começam a deixar de serem vistas como adultos em miniaturas e
uma preocupação quanto ao que deve ser destinado a sua leitura surge, os Irmãos Grimm são
os primeiros a mostrarem essa a clara preocupação quanto às crianças ao retirarem alguns
contos da publicação final do livro e reescreveram vários outros contos de fadas visando a
19
mentalidade e o desenvolvimento infantil, isso sem perder suas características encontradas na
tradição popular.
Mais tarde no século XIX a literatura infantil clássica teria seu acervo completado
com os contos de fadas do poeta e novelista dinamarquês Hans Christian Andersen (1805 –
1875), que é considerado por muitos como o primeiro autor “romântico” a escrever historias
destinadas às crianças, segundo Coelho:
[...] todas as narrativas recolhidas e adaptadas pelos Irmãos Grimm
pertenciam à variada tradição oral, na qual eles a foram descobrir. Já com
Andersen não aconteceu o mesmo. Duas foram as fontes de que ele se
utilizou: a da literatura popular conservada pela tradição oral ou em
manuscritos, e a da vida real que se oferecia aos seus olhos. Seus inúmeros
contos mostram que ele “inventou” muito mais do que seus antecessores.
(COELHO, 2010, p.151)
Seus contos de fadas foram embasados nos ideais românticos da época e
buscavam sempre a consolidação dos valores populares, visando passar padrões
comportamentais que deveriam ser seguidos pela nova sociedade que se organizava, os ideais
de fraternidade, generosidade e solidariedade eram uma constante em suas obras, que também
apontavam os confrontos entre "poderosos" e "desprotegidos", "fortes" e "fracos",
"exploradores" e "explorados" demonstrando a defesa da idéia de que todos os homens
deveriam ter direitos iguais, “Andersen foi, portanto, a primeira voz autenticamente romântica
a contar historias para crianças” (Coelho, 2010, p. 161).
Segundo Coelho (2010) alguns contos presentes nos livros publicados de
Andersen são: “O Patinho Feio”, “Os Sapatinhos Vermelhos”, “Nicolau Grande e Nicolau
Pequeno”, “O Soldadinho de Chumbo”, “A Pequena Sereia”, “A Roupa Nova do Rei”, “A
Princesa e o Grão de Ervilha”, “A Pequena Vendedora de Fósforos”, “A Pastora e o Limpador
de Chaminés”, “A Polegarzinha”, entre outros. Contudo, apesar de Andersen ter seus contos
consagrados no mundo da literatura infantil, muitos acreditam que ao contrario dos seus
antecessores, sua forma de escrever possa ter uma papel negativo na formação das crianças,
para Coelho:
Nos dos Irmãos Grimm (e nos contos maravilhosos em geral) a violência e o
mal passam quase despercebidos do leitor por que, alem de serem penetrados
de magia que domina espaço todo, acabam totalmente vencidos em um
“final feliz”, que os “neutraliza” (tal como acontece hoje nas estórias dos
“super-homens” de toda espécie). Nos de Andersen, porem, a derrota final
da personagem é quase regra, não só nos conto “realistas”, como nos
“maravilhosos”. Se procedermos a uma estatística, veremos que as estórias
20
com fim negativo são em numero superior às de desenlace feliz. [...] Pode-se
concluir que grande parte de suas historias (por se tratar de literatura para
crianças – seres em formação), hoje, apresenta aspectos que podem ter
influencia negativa sobre o espírito infantil [...] E negativos, não por que a
idéia de sofrimento não deva existir n universo infantil (quem o pode evitar
durante a vida), mas devido à passividade das personagens, à
impassibilidade, à resignação e ao fatalismo com que se submetem a tudo
quanto lhes acontece. (COELHO, 2010, p. 164 – 168)
Como podemos perceber essa preocupação acontece devido à passividade das
personagens de Andersen, que aceitam todos os males e injustiças que surgem na vida delas
sem lutar, o que vai contra a forma de educação dos dias atuais, onde a criança deve ser
incentivada a sempre buscar uma solução para os problemas do cotidiano de forma ativa e
dinâmica. Para Coelho “em uma época em que precisamos, mais do que nunca, incentivar o
dinamismo vital da criança e sua participação ativa na vida, uma literatura que aponta como
única saída à passividade e resignação não estará ajudando em nada” (Coelho, 2010, p. 168).
Porém, as obras de Andersen não devem ser descartadas das prateleiras infantis, pois algumas
de suas obras não tem nada de negativo e as que tem ainda mostram problemas humanos de
caráter universal, então talvez a solução não seja retira-las da literatura para as crianças e sim
uma questão de reescrevê-las como aconteceu aos contos recolhidos pelos Irmãos Grimm.
De acordo com Coelho (2010) podemos ainda destacar três autores de grande
importância dentro da literatura infantil, são eles os autores ingleses Charles Lutwidge
Dodgson(1832-1898) conhecido pelo seu pseudônimo Lewis Carroll, com seus livros Alice's
Adventures in Wonderland e Alice Througth the Looking Glass and what Alice Found there,
respectivamente em português, “Alice no País das Maravilhas” e “Alice através do Espelho e
o que Alice encontrou lá” e James M. Barrie (1860 – 1937) com seus contos “Peter Pan, o
menino que não queria crescer” - 1904, “Peter Pan nos Jardim de Kessington”- 1907 e “Peter
Pan e Wendy” – 1911. E o escritor italiano Carlos Lorenzini (1826 – 1890), conhecido pelo
seu pseudônimo Collodi com seu livro “As Aventuras de Pinóquio” de 1883. Esses autores
juntamente com Perrault, os Irmãos Grimm e Andersen contribuíram diretamente para a
permanência dos contos de fadas até os dias atuais.
1.2 A MORFOLOGIA DO CONTO
Os contos de fadas são comumente confundidos com outros gêneros de narrativas,
principalmente com os contos maravilhosos, alguns autores como Todorov (1992) defende
que os contos de fadas são “uma das variedades do maravilhoso, do qual se distingue por uma
21
certa escritura e não pelo estatuto do sobrenatural” (TODOROV, 1992, p. 60), outros autores,
como Coelho (2000) acreditam que há duas diferenças básicas entre os gêneros: A Origem e o
propósito.
Segundo Coelho (2000) a origem dos contos maravilhosos tem suas raízes nos
contos vindos do Oriente, enquanto os contos de fadas têm como base as narrativas da
tradição popular da Europa. Ela destaca também que assim como a origem dos contos difere o
seu propósito também é distinto entre eles, sendo que os propósitos dos contos maravilhosos
são de natureza material enquanto os dos contos de fadas seriam de natureza existencial.
Contudo, a discussão sobre as diferenças ou semelhanças entre os contos de fadas
e os contos maravilhosos podem ser melhor entendidas a partir dos estudos sobre a
morfologia do conto realizados pelo russo Vladimir Iakovlevitch Propp (1895 – 1970)
Segundo Vladimir Propp (2010) os contos podem ser caracterizados através da
analise da sua estrutura narrativa. Assim, o mesmo afirma que essa analise pode ser feita
através de alguns elementos, com base em sua obra podemos destacar os cinco elementos
principais que podem ser analisados nos contos e que independente do que sejam
acrescentados à narrativa eles não se modificam.
Esses elementos são: aspiração ou
desígnio, viagem, desafio ou obstáculo, mediador ou doador, conquista do objetivo
1. Aspiração ou desígnio:
É o motivo primordial que leva o herói ou heroína a ação, pode ser uma tarefa, um
dever, um ideal ou uma aspiração. É o ponto de partida da narrativa dos contos;
2. Viagem:
De uma forma geral, o herói ou heroína empreende uma jornada, que pode ser
real, isto é, ele abandona seu lar, seu reino, sua família. Ou interior, isto é, ele é despojado de
seus direitos e ou identidade e passa a viver num ambiente pouco amistoso, apesar de não
haver realmente ocorrido uma mudança de cenário. Assim, a viagem pode ser entendida com
a jornada empreendida pelo personagem em busca do cumprimento da aspiração;
3. Desafio ou obstáculo:
Este pode aparecer de diversas formas, sendo caracterizada como a prova que o
herói ou heroína passa para alcançar e merecer sua recompensa, ela pode apresentar-se em
22
forma física, como uma floresta, uma torre, uma fera; ou como algo subjetivo, como uma
maldição, uma profecia, uma tarefa impossível de ser realizada; ou ainda como um
antagonista, como uma bruxa ou uma madrasta malvada;
4. Mediador ou doador:
É um ser ou objeto mágico que auxilia o herói durante a sua jornada ajudando-o
na conquista dos seus objetivos;
5. Conquista do objetivo:
É quando o herói chega ao fim da jornada realizada, cumprindo todos os desafios
impostos e saindo vitorioso dos mesmos, obtendo assim a tão esperada recompensa. È a hora
do conhecido ‘“Felizes para Sempre”
A partir desses cinco elementos básicos, outros diversos elementos podem surgir
como variante, sem que com isso a estrutura básica da narrativa se modifique. Com base
nesses cinco elementos Propp (2010) afirma que o conto maravilhoso ou o conto de fadas é:
[...] aquele que possui um desenrolar da ação que parte de uma malfeitoria
ou de uma falta, e que passa por funções intermédias para ir acabar em
casamento ou em outras funções utilizadas como desfecho. A função limite
pode ser a recompensa, alcançar o objeto da demanda ou, de uma maneira
geral, a recuperação da malfeitoria, o socorro e a salvação durante a
perseguição, etc. Chamamos a este desenrolar da ação uma sequência. Um
conto pode ter várias sequências. (PROPP, 2010, P. 90)
Assim, ao analisarmos as sequências que levam ao desfecho da historias nos
contos de fadas e nos contos maravilhosos com base nesses cinco elementos principais
levantados por Propp (2010) notaremos que a estruturas narrativas de ambos são idênticas,
assim sendo, podemos perceber que os contos de fadas estão inseridos ou são uma vertente
dos contos maravilhosos.
1.3 A RELAÇÃO DA CRIANÇA COM O CONTO DE FADAS
Mas porque os contos de fadas são tão importantes na aprendizagem e formação
da criança? Isso ocorre “porque os contos de fadas estão envolvidos no maravilhoso, um
universo que denota a fantasia, partindo sempre duma situação real, concreta, lidando com
emoções que qualquer criança já viveu...” (ABRAMOVICH, 1994, p. 120).
23
Os contos de fadas, ao se iniciarem com seu clássico “Era uma vez um reino
distante...” são tão atemporais. O reino do qual o conto fala pode ser qualquer um, em
qualquer lugar e seus personagens têm determinadas características que despertam assim a
identificação imediata da criança com o conto. Podemos ver bem sobre esse processo de
identificação com os personagens do conto de fadas no livro Estão mortas as Fadas? Onde
segundo Amarilha:
Através do processo de identificação com os personagens, a criança passa a
viver o jogo ficcional projetando-se na trama da narrativa. Acrescenta-se à
experiência o momento catártico, em que a identificação atinge o grau de
elação emocional, concluindo de forma liberadora todo o processo de
envolvimento. Portanto, o próprio jogo de ficção pode ser responsabilizado,
parcialmente, pelo fascínio que (o conto de fadas) exerce sobre o receptor.
(AMARILHA, 1997, p. 18):
As historias dos contos de fadas idealizam enredos que demonstram situações de
uma determinada época, com um determinado contexto de vida adulta de uma forma que as
crianças possam idealizá-las, colocando-se no lugar das personagens e apreendendo assim as
“lições” que a historia subjetivamente passa e assim compará-las com a sua vida e o seu
próprio dia-a-dia. E por se tratar de algo tão subjetivo, mesmo nos dias atuais em que não se
tem cavaleiros valentes ou príncipes em cavalos brancos, elas podem ser encaixadas em
outras situações diversas de acordo com o grau de abstração e associação da criança em
relação a historia vivenciada.
Sendo assim os contos contribuem para a formação da personalidade, para o
equilíbrio emocional, isto é para o bem estar da criança, pois através de suas personagens boas
e más, dos obstáculos que estas enfrentam e os desfechos que nem sempre são felizes para
todos, as crianças começam a perceber o mundo em que esta inserida e todas as dores e
prazeres contidos nele, estes contos falam-nos das verdades universais e individualmente de
cada assunto que as crianças podem vir a se preocupar em cada fase da vida.
A história proporciona ao indivíduo viver além de sua vida imediata, vivenciar
outras experiências. Por isso seduz, encanta e embriaga. Quando ouvimos uma história e nos
envolvemos com ela, há um processo de identificação com alguns personagens. Isso faz com
que o indivíduo viva um jogo ficcional, projetando-se na trama.
O jogo que o texto proporciona é de natureza dramática. Ao entrar na trama
de uma narrativa, o ouvinte ou leitor penetra no teatro. Mas, do lado do palco
ele não só assiste ao desenrolar do enredo como pode encarnar um
personagem, vestir sua máscara e viver suas emoções, seus dilemas. Dessa
24
forma, ele se projeta no outro através desse jogo de espelho, ganha
autonomia e ensaia atitudes e esquemas práticos necessários a vida adulta
(AMARILHA, 1997, p.53).
Ao ouvir um conto de fadas é preciso que se dê tempo às crianças, é preciso que
as crianças tenham a oportunidade de “mergulhar” na atmosfera do conto, que possam falar
sobre ele, sobre assuntos e sentimentos despertados. Só assim o conto terá desempenhado sua
função emocional e intelectual. Não se deve ocupá-las logo em seguida com outra atividade
ou outra história.
Quando um conto fala aos seus problemas e dificuldades interiores, a criança
freqüentemente pede que lhe contem a história outra vez. Isso ocorre porque a criança precisa
ouvir muitas vezes uma história para acreditar nela. Essa atitude poderá indicar que a história
ouvida, de alguma forma está sendo importante e lhe trazendo respostas.
A criança “sente” qual dos contos de fadas é verdadeiro para sua situação
interna no momento (com a qual é incapaz de lidar por conta própria) e
também sente onde a história lhe fornece uma forma de poder enfrentar um
problema difícil (BETTELHEIM, 2009, p.74).
As crianças identificam-se com os contos de fadas porque sua visão de mundo
assemelha-se a ao mundo imaginário que os contos de fadas trazem para elas, e através desse
mundo imaginário que as crianças encontram a solução para os seus conflitos, isto é, um
consolo ou uma lição de vida, e isso ocorre de maneira bem mais significativo do que se o
ouvissem da boca de um adulto, pois na maioria das vezes elas não conseguem confiar nos
adultos por causa de suas atitudes para com elas, já com os contos, essa relação acaba caindo
na cumplicidade, só ela e o personagem sabem o que se passa e nele elas podem confiar.
Mesmo que o adulto consiga entender porque um determinado conto está
encantando uma criança, não deve tentar explicar os motivos a ela, pois, por mais certo que
ele esteja de suas interpretações, dizê-las à criança seria como privá-la da oportunidade de
entender e enfrentar por ela mesma seus problemas, de sentir que é capaz de alguma forma,
amenizar seus anseios. Segundo Bettelheim:
Explicar a uma criança por que um conto de fadas é tão cativante para ela,
destrói, acima de tudo, o encantamento da história, que depende, em grau
considerável, da criança não saber absolutamente por que está
maravilhada.(...) Nós crescemos, encontramos sentido na vida e segurança
em nós mesmos por termos entendido e resolvido problemas pessoais por
nossa conta, e não por eles terem sido explicados por outros .
(BETTELHEIM, 2009, p.27)
25
Os contos de fadas desenvolvem a capacidade de fantasia e imaginação infantil,
eles são para as crianças, o que há de mais real dentro delas. Os contos enquanto diverte a
criança, a esclarecem sobre si mesma e favorecem o desenvolvimento da sua personalidade.
Por isso, um conto trabalha o aspecto afetivo, psicológico e cognitivo.
Sendo assim, seria interessante os contos estarem presentes na vida da criança
desde a educação infantil, auxiliando-a na elaboração dos seus conflitos, auxiliando-os a
estruturar uma resposta positiva, um final feliz a seus problemas.
1.4 OS CONTOS DE FADAS E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
Os contos de fadas sempre tiveram a função de distrair e instruir, podendo ser um
valioso instrumento auxiliar na educação das crianças. Ao mesmo tempo em que os contos de
fadas aliviam pressões inconscientes, ajudam no processo de simbolização, podendo ser
considerado um rico instrumento pedagógico. A escola então não pode se restringir somente à
transmissão de conhecimentos ela pode e deve contribuir para a formação pessoal de cada
indivíduo.
Apesar disso os contos são utilizados com uma finalidade pedagógica, buscando
nivelar a criança e trazê-la à realidade concreta, racional. Os professores na maioria das vezes
apenas utilizam à literatura infantil na sala de aula como um instrumento de controle sobre as
crianças, isso ocorre porque os contos de fadas são sempre bem recebidos pelas crianças,
então eles recorrem aos contos “(...) para acalmar as crianças quando estão muito inquietas e
também para impor silêncio e disciplina ao caos que, as vezes, ocorre na sala de aula.”
(AMARILHA, 1997, pág. 17) ou então transformá-los em tarefas escolares, desta forma os
contos de fadas perdem sua função lúdica e estética e impedem que as emoções sejam
vivenciadas.
Sendo assim, compartilhar um conto de fadas significa deixá-lo fluir,
possibilitando que o professor e o aluno experimentem emoções novas. Significa também um
outro modelo de educação que acolha o maravilhoso, a fantasia e a criatividade, para que os
professores possam dividir com as crianças seu conhecimento e enfrentar a incerteza e o
desconhecido.
De acordo com Bettelheim em seu livro A psicanálise dos Contos de Fadas, o
conto de fadas é um espelho onde podemos nos reconhecer, descobrindo todos os problemas e
26
todas as propostas de soluções que só podem ser elaborados na imaginação e que os
educadores devem recorrer para poder entender melhor toda a complexidade e totalidade das
crianças que estão sob sua responsabilidade.
Segundo Amarilha os contos de fadas devem ser trazidos para o cotidianos escolar
das crianças de forma lúdica, sem toda a pressão e o desgastes de atividades planejadas com o
intuito de apenas ensinar a ler e a escrever, pois mesmo sem um objetivo técnico aparente,
eles são significativos para a formação da criança. Amarilha (1997) afirma que:
[...] mesmo sem tarefa, sem nota, sem prova, a literatura educa e que,
portanto, é importante pedagogicamente [...] deixo, então, este convite para
que brinquem com as palavras, brinquem de contar historias, de ler historias.
Brinquem com a literatura e sejam felizes. (AMARILHA, 1997, p. 56)
Sendo assim os educadores devem ter a literatura infantil e os contos de fadas
como um meio de socialização, um instrumento que os ajude a inserir as crianças no mundo
real de maneira lúdica, dando a ela a oportunidade de vivenciar seus medos e conflitos e que
os mesmo possam ser pensados, repensados e assim solucionados.
27
2. A FORMAÇÃO ÉTICA E MORAL NA CRIANÇA
2.1.CONCEITO DE ÉTICA E MORAL
Para que se entenda melhor a formação da ética e da moral na criança, faz-se
necessário, apontar algumas definições que recebem os termos, ética e moral, assim como
estabelecer a diferença entre os dois termos.
A dificuldade para conceituar tanto o tema ética como o tema moral, gera
diferentes opiniões. Muitas vezes, a ética e a moral são vistas e empregadas como sinônimos,
caracterizando a idéia de conjunto de princípios e ou padrões de conduta. Segundo os
Parâmetros Curriculares Nacionais, a ética e a moral tem suas origens no grego “ethos”, que
quer dizer o modo de ser, caráter, e no latim “mos”, ou no plural “mores” que quer dizer
costume e remetem ao comportamento propriamente humano adquirido histórica e
socialmente a partir das relações coletivas dos seres humanos nas sociedades onde nascem e
vivem.. No costume os sujeitos constroem valores, elaborando princípios e regras que
regulam seu comportamento.
Na ética podemos supor uma reflexão sobre os valores mais focados no individuo
e no inter-humano, isto é, as pessoas estão preocupadas com seu próprio “eu”. Enquanto que a
moral se dá tanto nas relações humanas, quanto nas de âmbito político, sempre nessas
relações, podemos observar os sentimentos que se pressupõem de caráter moral, nas relações
humanas, através das vivências cotidianas com seus amigos, familiares e na política na defesa
dos direitos humanos e de conceitos como democracia.
Para podermos estabelecer o conceito e a diferença de ética e moral nos
amparamos em Ferreira (1975) e Silva (2002).
De acordo com Ferreira (1975) ética é “o estudo dos juízos de apreciação que se
referem à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja
relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto” (Ferreira, 1975, p. 594).
Enquanto o mesmo define moral como “conjunto de regras de conduta consideradas como
válidas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para um grupo ou pessoa
determinada” (Ferreira, 1975, p. 950).
Segundo Silva (2002, p. 92), “a ética constitui o domínio de investigação a
respeito das noções de felicidade e infelicidade, bem e mal, justo e injusto e dos valores a que
28
os homens se submetem por tradição ou adesão”. Enquanto a moral é um conjunto de
condutas como respeitar os direitos alheios, buscar ter uma vida boa e merecer ser objeto de
admiração moral.
Diante desses questionamentos podemos deduzir que apesar de possuírem a
mesma origem etimológica, as palavras ética e moral têm significações diferentes, a ética tem
como base a integridade do ser humano frente a seus semelhantes, é uma reflexão crítica
sobre a moral. Enquanto a moral é vista como um conjunto de princípios, crenças e regras que
orientam o comportamento dos indivíduos nas diversas sociedades e culturas existentes, sendo
os mesmos capazes de distinguir entre o bem e o mal, o certo e o errado e o justo e o injusto;
2.2. A FORMAÇÃO ÉTICA E MORAL SEGUNDO PIAGET
Segundo o epistemólogo suíço Jean Piaget (1896 – 1980), a partir de seus estudos
e observações sobre o desenvolvimento da criança, concluiu que estas, ao contrário do que se
pensava na época, não pensam como os adultos: certas habilidades ainda não foram
desenvolvidas, incluindo a moralidade e a ética, estes não são valores intrínsecos aos seres
humanos, não nascemos pessoas morais.
Na sua obra “O juízo moral na criança”, Piaget (1994) destaca que a proposta de
suas pesquisas é “estudar o julgamento moral, e não os comportamentos ou sentimentos
morais” (PIAGET, 1994, p. 21), isto é, seus estudos baseiam-se no juízo da criança e não em
suas ações morais, o que importa é a intenção da mesma ao praticar suas ações, ou seja, os
valores que a motivaram a proceder daquela forma. Portanto, para Piaget a moralidade
pressupõe intenção, e o agir é orientado por valores e princípios éticos, que representam
julgamentos.
Piaget utilizou-se de métodos clínicos para entender a representação que a criança
faz da realidade, ele baseou sua teoria em dois tipos de dados: o juízo moral em situações
hipotéticas, estudado por meio de histórias contadas às crianças, onde as histórias continham
dilemas sobre desonestidade, mentira, injustiças, desastres materiais, alem de noções de
honestidade, justiça e dignidade. Essas histórias eram contadas as crianças, que em seguida,
deveriam dar suas opiniões emitindo, assim, juízos de valores sobre os conflitos. O outro se
dava através da analise da prática e consciência do jogo infantil. Piaget definiu o
desenvolvimento moral analisando as respostas das crianças diante de dilemas morais
29
propostos por ele e analisando a maneira pela qual a criança lidava com as regras nos jogos
infantis.
De acordo com os estudos de Piaget (1994), o desenvolvimento moral da criança
se dá através interação e para que estas interações aconteçam, há a ocorrência de processos de
organização interna e adaptação, isto é, assimilação e acomodação. Para Piaget os esquemas
de assimilação modificam-se de acordo com os estágios de desenvolvimento da criança e
consistem na tentativa destas em solucionar situações a partir de suas estruturas cognitivas e
conhecimentos anteriores, enquanto que a acomodação ocorre quando a criança ao deparar-se
com um novo fato retira dele informações consideradas relevantes e, a partir daí, há uma
modificação na estrutura mental antiga para dominar o novo objeto de conhecimento.
Sendo assim, para Piaget (1994), os valores morais são construídos a partir da
interação do sujeito com os diversos ambientes sociais e será durante a convivência diária,
principalmente com o adulto, só assim que ela irá construir seus valores, princípios e normas
morais. Segundo Piaget:
Toda ordem, partindo de uma pessoa respeitada, é o ponto de partida de uma
regra obrigatória. [...] A obrigação de dizer a verdade, de não roubar etc.,
tantos deveres que a criança sente profundamente, sem que emanem de sua
própria consciência: são ordens devidas ao adulto e aceitas pela criança. Por
conseqüência, esta moral do dever, sob sua forma original, é essencialmente
heterônoma. O bem é obedecer à vontade do adulto. (PIAGET, 1994, p.
154).
Piaget (1994) destaca três fases importantes para o desenvolvimento da moral da
criança, denominando-as: Anomia, heteronomia e autonomia.
a) Anomia
Piaget (1994) aponta que na fase da anomia, a moral não ocorre, pois as normas
de conduta são determinadas pelas necessidades básicas. Além de que, quando as regras são
obedecidas, são seguidas pelo hábito e não por uma consciência do que se é certo ou errado,
justo ou injusto e assim por diante.
b) Heteronomia
Segundo Piaget (1994) o correto é o cumprimento da regra e qualquer
interpretação diferente desta não corresponde a uma atitude correta. Sendo assim, nesta fase
as crianças interpretam a regra ao pé da letra, não percebendo o seu verdadeiro espírito. Sendo
30
assim, o julgamento final se dá pelas conseqüências da ação e não pela intencionalidade do
praticante da ação, pois as crianças baseiam seus julgamentos em um realismo moral, que é
definido como “a tendência da criança em considerar os deveres e os valores a eles
relacionados como subsistentes em si, independentemente da consciência e se impondo
obrigatoriamente, quaisquer que sejam as circunstâncias às quais o indivíduo está preso”
(PIAGET, 1994, p. 93). La Taille complementa que o realismo moral ocasiona concepção
objetiva da responsabilidade, isto é:
A criança em fase do realismo moral julga mais culpado alguém que tenha
quebrado dez copos sem querer do que alguém que somente tenha quebrado
um durante uma ação ilícita. Vale dizer que julga pelo aspecto exterior da
ação – o fato de ter quebrado muito ou pouco - e não pela intencionalidade
da mesma [...] a heteronomia, agora expressa pelo realismo moral,
corresponde a uma fase durante a qual as normas morais ainda não são
elaboradas, ou reelaboradas pela consciência. (LA TAILLE, 1992, p. 52).
Sendo assim, no realismo moral o dever é totalmente heterônomo, as crianças não
conseguem ainda entender a função social das normas que as cercam. Isto é, o dever não
passa de mera obediência às leis estabelecidas e impostas pelos adultos.
c) Autonomia
De acordo com Piaget (1994) a autonomia é a última fase do desenvolvimento da
moral. È nessa fase que as crianças começam a legitimação das regras. O respeito a regras é
gerado por meio de acordos mútuos e remete a uma progressiva conquista da moral autônoma.
O senso de justiça só desenvolve-se na “proporção dos progressos de cooperação e do respeito
mútuo; de início, cooperação entre as crianças, depois entre crianças e adultos, na medida em
que a criança caminha para a adolescência e se considera, pelo menos em seu íntimo, como
igual ao adulto” (PIAGET, 1994, p. 275).
Na fase autônoma a criança já é capaz de considerar a intenção dos atos e a
cooperação, isto é, as crianças devem compreender as razões das regras e criar o hábito de
avaliá-las. Portanto, para desenvolver a autonomia na criança, faz-se necessário o convívio
com colegas da mesma idade o que promove a justiça entre iguais, mas não se deve excluir a
autoridade adulta, está autoridade deve ocorrer sem posicionamentos autoritários, pois
provoca o respeito mútuo e conseqüentemente a autonomia moral da criança. Para Piaget:
A moral da consciência autônoma não tende a submeter às personalidades a
regras comuns em seu próprio conteúdo: limita-se a obrigar os indivíduos a
“se situarem” uns em relação aos outros, sem que as leis de perspectiva
31
resultantes desta reciprocidade suprimam os pontos de vista particulares
(PIAGET, 1994, p. 295).
Segundo Piaget (1994) é respeitando e exigindo que sejam respeitados que as
crianças constroem sua autonomia moral.
2.3. A CRISE ETICA E MORAL NO MUNDO MODERNO
Vivemos uma crise de valores, hoje a valorização do privado em detrimento do
publico é a principal causa dessa crise, como afirma Sennett, “o eu de cada pessoa tornou-se o
seu próprio fardo; conhecer-se a si mesmo tornou-se antes uma finalidade do que um meio
através do qual se conhece o mundo” (Sennett, 1988, p.16), as pessoas deixaram de buscar o
“conhecer o outro” e priorizando assim a busca dos seus próprios interesses, fazendo com que
a relação com o outro seja concebida de maneira insatisfatória. Segundo Sennett:
Quanto mais regras de localização, mais as pessoas procuram detectar; ou
pressionam-se mutuamente para se despojar das barreiras dos costumes, das
boas maneiras e do gestual que se interpõem no caminho da franqueza e da
abertura mútuas. A expectativa é de que quando as relações são chegadas,
elas sejam calorosas; é uma espécie intensa de sociabilidade que as pessoas
buscam ter, tentando remover as barreiras do contato intimo, mas essa
expectativa é frustrada pelo ato. Quanto mais chegada são as pessoas, menos
sociáveis, mais dolorosas, mais fratricidas serão suas relações. (SENNETT,
1988, p. 412)
A sociedade moderna sente as conseqüências desse individualismo, pois nessa
busca pelos próprios interesses, o individuo não se preocupa em como pode estar afetando o
bem estar do outro. Sennett (1988) afirma que todas essas mudanças acontecem
principalmente por causa do capitalismo e da globalização, que visa o lucro e faz com que
questões de ordem pública, sejam vista e avaliadas visando apenas o interesse pessoal.
Costa (1988) aponta que o mundo moderno está sob a ótica de uma cultura
narcísica, onde valores que eram tidos com essenciais para os nossos antepassados, como
dignidade, honra, generosidade, honestidade, tornaram-se obsoletos para o sujeito que
compõem a sociedade moderna, essa falta de valores que visam à coletividade levou esses
indivíduos a não crerem no poder da lei e da justiça para a solução e negociação de interesse
coletivo. Estes valores deixaram assim de ser considerados e formulados. Para Costa:
[,,,] o cidadão viu-se, agora, despido do direito à justiça [...] Sem o exercício
perde-se o critério que permite o “cálculo de equivalência” na distribuição
dos bens. Diante das desigualdades, que são realidade de fato, a justiça e a
lei aparecem como valor. Por conseguinte, à perda do direito de participar,
32
soma-se agora a perda do direito de partilhar. Mais que isso, na ausência da
justiça, e não tendo mais como reivindicar o que é de “meu direito” ou de
“minha propriedade”, perde-se aos poucos a própria noção do que seja valor.
Entregues a uma espécie de “relativismo” prático e generalizado, os
indivíduos nada mais podem fazer, exceto sobreviver segundo a lei do mais
forte. Se não há mais como recorrer a regras supraindividuais,
historicamente estabelecidas pela negociação e pelo consenso, para dirimir
direitos e deveres privados, tudo passa a ser uma questão de força, de
deliberação ou decisão, em função de interesses particulares. Donde o
recurso sistemático à violência, à delinqüência, à mentira, à escroqueria, ao
banditismo “legalizado” e à demissão de responsabilidade, que caracterizam
a “cultura cínico-narcísica” dos dias de hoje (COSTA, 1989, p.30-31).
Para Silva (2002) outro importante fator que ocasiona à crise ética e moral que a
nossa sociedade vem enfrentando é: o processo educacional, no qual as crianças estão
inseridas, A sociedade atual vem ensinando as crianças desde muito cedo a preocuparem-se
com a própria imagem em detrimento da imagem do outro. Alem de que “a imagem que
temos de nós mesmos se constitui num valor a ser mantido, pois é vista como uma imagem
positiva de si” (SILVA, 2002, p.255), esse fato, acompanhado de todo o processo educacional
falho, e da influencia que os meios de comunicação passam para as crianças ao ensinarem
apenas valores materiais e se focarem no individualismo, na busca pelo próprio sucesso,
agravam ainda mais esse processo, pois a valorização excessiva dos valores não-morais leva a
criança a desvalorizar e esquecer os valores morais.
Yves Joel Jean Marie Rodolphe de La Taille (1998), professor do Instituto de
Psicologia da Universidade de São Paulo, afirma também que “a imagem positiva de si”
dependendo de como ela seja empregada, terá uma dimensão moral ou não-moral. Isto é,
dependendo de como a criança escolha qual valor seguir e o que quer obter com ele
determinará a que valores “a imagem positiva de si” será associada. Para La Taille:
De fato, alguém poderá ter uma imagem positiva de si que não inclua a
dimensão moral. Alguém poderá ter sua identidade associada a valores como
ser rico, bonito, bem-sucedido, enquanto outros permaneceriam periféricos.
Entre esses outros valores poderão estar, justamente, os valores morais,
como a honestidade, a coragem, a lealdade, etc. Para outras pessoas, poderá
ocorrer o contrário: os valores morais estarão no centro de sua identidade e
outros (como ser bonito ou rico) na periferia. É bem provável que o lugar
ocupado por estes valores seja forte determinante da conduta. Se alguém vê a
si próprio como essencialmente honesto, tenderá a agir de forma honesta
para preservar a identidade e sentirá forte vergonha quando suas ações
infringirem os imperativos desta virtude. Em compensação, outra pessoa que
vê a si própria, sobretudo como “bonita”, “melhor que os outros”, “gloriosa”,
certamente agirá de forma a preservar tais atributos, mesmo que, para isto,
infrações morais precisem ocorrer (LA TAILLE, 1998, p. 14-15).
33
Para La Taille (1998) além do problema da transformação e perda de valores dos
éticos e morais, uma das principais preocupações com relação às nossas crianças é o limite, ou
melhor, a falta dele que as mesmas demonstram diariamente não só em casa, mas também na
escola. Segundo La Taille:
Limite é uma palavra que tem voltado à tona ultimamente. É empregada com
freqüência, em geral de forma queixosa: “Essas crianças não tem limites!”;
ou então, com um quê de autoritarismo: “É preciso impor limites!”; ou
ainda, como crítica à família do vizinho ou dos alunos: “Esses pais não
colocam limites!” A obediência, o respeito, a disciplina, a retidão moral, a
cidadania, enfim, tudo parece associado a essa metáfora. Tudo talvez, mas
não todos. De fato, quem supostamente carece de limites é sempre uma
criança [..] Lembremos, porém, um fato importante e nunca suficientemente
enfatizado: os jovens são reflexos da sociedade em que vivem, e não de uma
tribo de alienígenas misteriosamente desembarcada em nosso mundo, com
costumes bárbaros adquiridos não se sabe onde. Se é verdade que eles
carecem disso que chamamos de limites, é porque a sociedade como um todo
deve estar privada deles (LA TAILLE, 1998, p. 11).
Por conta de todo esse quadro em que a sociedade moderna encontra-se, podemos
perceber que as questões éticas e morais têm resultado em diversas reflexões da nossa
sociedade, onde há uma preocupação em desenvolver uma educação onde as crianças possam
vivenciar o processo de construção de seus próprios valores morais e sociais.
2.4.ÉTICA E MORAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL SEGUNDO OS PARÂMETROS
CURRICULARES NACIONAIS E O REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL
PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL
A formação moral e a ética obteve um novo contexto no âmbito escolar devido à
inserção em sala de aula dos temas transversais propostos pelos Parâmetros Curriculares
Nacionais - PCNs, cujo conteúdo visa à formação de cidadãos comprometidos com a
construção de uma sociedade mais justa, e igualitária.
Publicado em 1997, pelo Ministério da Educação e do Desporto - MEC, por meio
da Secretaria de Educação Fundamental - SEF, os PCNS são compostos por dez volumes
contendo orientações curriculares para o desenvolvimento do ensino fundamental no país. , o
MEC também publicou o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – RCNEI,
sendo que este é parte integrante da série de documentos dos PCNs.
Os PCNs e RCNEI têm como objetivo, dentre outros, contribuir para que
pedagogos e outros profissionais ligados à área de educação desenvolvam uma intervenção
34
pedagógica mais voltada para os ideais democráticos. Assim, proporcionando um exercício da
cidadania mais efetivo. Para os PCNs e RCNEI ser cidadão é a participar efetivamente na
construção e manutenção de valores e bens de um determinado contexto, isto é:
Ser cidadão é participar de uma sociedade, tendo direito a ter direitos, bem
como construir novos direitos e rever os já existentes [...] O bem comum é
bem coletivo, bem público. O público é ‘o pertencente ou destinado à
coletividade, o que é de uso de todos, aberto a quaisquer pessoas’. É, então,
‘o campo da democracia’, como espaço de realização de direitos civis –
liberdade de ir e vir, de pensamento e fé, de propriedade; de direitos sociais
– de bem estar econômico, de segurança; e de direitos políticos – de
participação no exercício do poder – de todos os homens e mulheres. Ao
entender o poder como possibilidade de atuação, de interferência e
determinação de rumos na sociedade, verifica-se que, para haver uma
sociedade realmente democrática, o exercício do poder deve se dar numa
perspectiva de pluralidade (PARÂMETROS, 1998, p. 54 - 55).
Para isso, os PCNs e o RCNEI propõem que os professores trabalhem de forma
transversal, na educação infantil, os temas relacionados à moral e a ética. Tendo em vista o
desenvolvimento do exercício da cidadania, como uma forma de solucionar a atual crise de
valores morais e éticos que nossa sociedade está vivendo.
Segundo Goergen (2001) educação e ética são duas faces de uma mesma moeda,
pois para ele, a educação é capaz de “abrir aos alunos o mundo do agir moral por meio de um
processo pedagógico/ reflexivo/ comunicativo a respeito das proposições morais que integram
o ambiente cultural.” (GOERGEN, 2001, p. 153).
Assim, considerando, como objetivo principal da educação, a formação e o
desenvolvimento da criança, visando torná-la um individuo apto ao exercício da cidadania, o
modelo de educação proposto pelos PCNs e RCNEI sugere, que ao se trabalhar com os temas
Moral e Ética, um conjunto de conteúdos baseados nos princípios dos direitos humanos como:
dignidade, respeito mútuo, justiça, diálogo e solidariedade, que constituem a essência dos
valores morais e éticos necessários a uma sociedade democrática. Sendo que segundo
Goergen (2001):
A educação moral nos tempos modernos é um processo de familiarização
com um discurso moral a partir de princípios gerais, ligados a circunstâncias
concretas, pois a moral é constituída por regras limitadas, configuradas
concretamente no interior de um mundo de circunstâncias, mas à luz de
princípios éticos mais gerais. Estes princípios ou normas não especificam no
detalhe as condições de sua validade e observância, mas insinuam a
necessidade de uma aprendizagem de como, em determinadas
circunstâncias, estes princípios devem ser vividos ou mesmo
justificadamente transgredidos (GOERGEN, 2001, p. 153).
35
Sendo assim, os processos educativos podem e devem fomentar a autonomia
moral e ética na criança, em lugar do conformismo; possibilitando na criança a construção dos
valores morais e éticos, frente à internalização das normas convencionais a sociedade em que
estão inseridas.
36
3. OS CONTOS DE FADAS COMO AGENTE DA FORMAÇÃO MORAL NA
CRIANÇA
Este trabalho trata-se de uma pesquisa de campo realizada no período de 03 de
dezembro de 2010 á 26 de fevereiro de 2011, nas escolas da rede publica de Salvador e Lauro
de Freitas. A base, que subsidiará a discussão proposta neste trabalho, se dará a partir da
pesquisa de campo, que segundo Lakatos e Marconi pode ser definida como:
[...] a pesquisa em que se observa e coletam-se os dados diretamente no
próprio local em que se deu o fato em estudo, caracterizando-se pelo contato
direto com o mesmo, sem interferência do pesquisador, pois os dados são
observados e coletados tal como ocorrem espontaneamente (LAKATOS E
MARCONI, 1996, p. 75).
Sendo assim, para Lakatos e Marconi (1996) o interesse da pesquisa de campo está
voltado para o estudo de indivíduos, grupos, comunidades, instituições, entre outros campos.
Tendo como objetivo, compreender os diversos aspectos da sociedade, conseguir informações
e ou conhecimentos acerca de um problema e descobrir novos fenômenos e suas relações.
Os sujeitos que participaram desta pesquisa foram: professoras do grupo 04 e 05
da educação infantil e do 1º ano do fundamental I, bem como as crianças de quatro á oito
anos. Todas as docentes são formadas em Pedagogia e o tempo de atuação em sala de aula é
varia de dois a vinte e cinco anos.
O instrumento utilizado para a pesquisa foi o questionário estruturado e não
disfarçado, este questionário é composto de quinze perguntas abertas referentes ao tema
contos de fadas e a formação moral da criança. Foram entregue trinta questionários para as
professoras da rede publica de Salvador e Lauro de Freitas, mas devido ao período de férias
docentes e a paralisação logo após o inicio do ano letivo, apenas seis questionários foram
devolvidos.
Com as crianças foram realizados seis encontros para desenvolver a oficina.
Como será demonstrado nesse passo a passo:
1º Passo:
Nos dois primeiros encontros foram apresentados sete contos de fadas as crianças,
sendo eles “A Bela e a Fera”; “Cinderela”; “Branca de Neve”; “Chapeuzinho Vermelho”;
“Rapunzel”; “A pequena Sereia” e “A Bela Adormecida”, após a leitura dos contos os mesmo
foram discutidos informalmente pelas crianças, elas falavam o que mais gostavam e o que não
37
gostavam em cada conto, quem gostariam de ser, de quem tinham mais medo ou não
gostavam, etc.
2º Passo:
Ao final do segundo encontros, através de uma conversa, as crianças decidiram
juntas quais seriam os três contos de fadas a serem assistidos nos três encontros seguintes,
sendo os filmes escolhidos “A Bela e a Fera”; “A pequena Sereia” e “Rapunzel”, terminado a
exibição dos filmes, novamente as crianças conversaram sobre quais as diferenças entre o
conto lido e o filme assistido, qual forma do conto apresentado ela gostou mais, o que viam e
achavam das historias assistidas, demonstrando assim o que aprendiam indiretamente com ela.
3º Passo:
No ultimo dia de oficina foi pedido que cada criança escolhesse seu conto de
fadas preferido e desenhasse a cena mais significativa para ela, isto é, sua parte favorita da
historias. Enquanto as crianças desenhavam foi realizada uma entrevista individual com cada
uma delas, com um questionário não estruturado, contendo em media oito questões abertas,
buscando constatar o que a mesma apreendeu com os contos de fadas, as perguntas feitas as
crianças foram Você gotas de conto de fadas? Dos sete contos de fadas apresentados (A bela e
a fera; Cinderela; Branca de Neve; Chapeuzinho Vermelho; Rapunzel; A pequena Sereia e A
Bela Adormecida) quais você mais gosta? Por que você gosta dessa? E o que você aprende
com essa historia? E qual historia você não gosta? Por que você não gosta dessa historia? Mas
mesmo você não gostando da história, você aprendeu alguma coisa? Você algo parecido entre
essas historias?
4º Passo:
Para encerrar a oficina foi feito no final do sexto encontro, uma exposição dos
desenhos das crianças, onde as mesmas contavam para todos sobre o desenho feito e o que o
mesmo significava para ela.
3.1. ANÁLISE DOS DADOS
Para facilitar a analise dos dados foram definidas seis categorias com base nas
respostas das professoras: 1º - espaço físico para leitura; 2º - A importância dos contos de
fadas no mundo moderno; 3º - Atividades trabalhadas em sala de aula; 4º - Identificação das
38
crianças com os contos; 5º - Contos recorrentes em sala de aula; 6º - A influencia dos contos
de fadas na formação moral e ética. Enquanto que com base nas respostas das crianças foram
definidas quatro categorias: 7º - Gosta dos contos de fadas; 8º - Conto que mais gosta; 9º Conto que menos gosta; 10º - O que aprenderam com os contos de fadas; E articulando as
respostas das professoras com as das crianças foram desenvolvidas mais três categorias: 11º Os contos mais apreciados entre as crianças; 12º - Os contos menos apreciados entre as
crianças; 13º - Valores adquiridos com os contos de fadas.
3.1.1
Espaço físico para leitura
No quadro nº 01, contata-se que para 33,34% das professoras que participaram da
pesquisa o espaço físico para a leitura não existe e também para 33,34% das professoras há
um espaços específicos para essa finalidade, que é a biblioteca e o cantinho da leitura,
enquanto que 16,66% a escola possui biblioteca, mas os alunos não possuem permissão para
utilizá-la, juntamente com 16,66% que não possuem, mas a professora busca formas de levar
a leitura para a sala de aula.
Quadro nº 01: Espaço físico para leitura
Espaço físico para leitura
Quantidade
%
Não
2
33.34
Sim
2
33.34
Sim, mas não tem acesso
1
16.66
Não, mas leva os livros para a sala
1
16.66
Total
6
100
No quadro nº 01, as professoras nº 01 e nº 05 nos mostram duas situações
contrarias, mas que as obriga ter a mesma atitude. A professora nº 01 aponta que não há
bibliotecas ou cantinho para a leitura na escola, “mas eu estou diariamente lendo historias em
sala e deixando-os manusear estes livros” enquanto que a professora nº 05 nos fala que “Na
escola [...] tem biblioteca, mas, os alunos não tinham acesso a ela, então as leituras eram feitas
na sala de aula” As demais limitaram-se a responder apenas sim e não sem justificar sua
resposta. Assim, podemos verificar que apesar de existir a LEI 12.244/2010, que determina
que as instituições de ensino públicas e privadas de todos os sistemas de ensino do País
devem ter uma biblioteca, com um acervo de livros de, no mínimo, um título para cada aluno
39
matriculado, não é isso que ocorre nas escolas da rede publica e privada de Salvador e Lauro
de Freitas.
3.1.2
A importância dos contos de fadas no mundo moderno
As professoras pesquisadas foram unânimes em afirmar que os contos de fadas
ainda têm espaço no mundo moderno, pois ajuda a desenvolver o raciocínio critico, adéqua à
realidade, resgata valores, desenvolve a formação moral e ética.
Percebemos claramente essa opinião na fala da professora nº 05, onde ela expressa
que:
[...] os contos de fada têm a capacidade de interagir com o imaginário
infantil fazendo com que as crianças se identifiquem com a história e dali
possa tirar lições ou exemplos de soluções para conflitos internos que
estejam lhe afligindo. Bem como, podem ser um refúgio saudável da sua
própria realidade, um meio de imaginar, um exercício de imaginar uma
sociedade melhor e pessoas felizes, qual menina nunca se viu como uma
princesinha amada e aceita por todos, e qual menino nunca se comparou a
um príncipe forte e corajoso?! É nesse exercício de se imaginar nas histórias
que a criança experimenta suas “vivências” fantasiosas e começa a se
relacionar com os valores de bem e mal, certo e errado, do porque aquele
personagem é do mal e porque o outro é o bonzinho. Na nossa sociedade
atual esses valores às vezes se misturam, se invertem, se confundem, é muito
fácil para uma criança do morro ou invasão ver a polícia como os malvados
porque usam de violência nas abordagens ou porque agrediu um pai de
família inocente, outras vezes esse papel de vilão é dado aos malfeitores,
traficantes, como é convencionado na sociedade.
Fica evidenciada a posição da professora nº 05 em relação à importância dos
contos de fadas no mundo moderno, quando Bettelheim (2009) afirma que:
Ao contrário do que acontece em muitas estórias infantis modernas, nos
contos de fadas o mal é tão onipresente quanto à virtude. Em praticamente
todo conto de fadas, o bem e o mal recebem corpo na forma de algumas
figuras e de suas ações, já que bem e mal são onipresentes na vida e as
propensões para ambos estão presentes em todo homem. É esta dualidade
que coloca o problema moral e requisita a luta para resolvê-lo.
(BETTELHEIM, 2009, p.16)
Assim, com base na resposta da professora e na afirmação de Bettelheim podemos
verificar que os contos de fadas ainda têm espaço no mundo moderno devido a sua narrativa
atemporal em que as virtudes e os defeitos, o bem e o mal, o certo e o errado, o justo e o
injusto, a verdade e a mentira, entre outros tantos pontos conflitantes para a criança em
formação são postos lado a lado para que a mesma veja e possa discorrer sobre eles de forma
lúdica.
40
3.1.3
Atividades trabalhadas em sala de aula
No quadro nº 03, contata-se que para 66,66% das professoras pesquisadas os
contos de fadas são trabalhados em atividades de literatura, produção de texto e reconto,
enquanto que para 33,34% das professoras os contos de fadas são trabalhados em todos os
eixos visando principalmente desenvolver a criatividade e imaginação das crianças.
Quadro nº 03: Atividades trabalhadas em sala de aula
Atividades trabalhadas em sala de aula
Quantidade
%
Literatura, produção de texto e reconto
4
66,66
Todos os eixos e conteúdos
2
33,34
Total
6
100
As professoras de nº 01, 03, 04 e 05 são unânimes quando falam sobre a forma
que trabalham os contos de fadas na sala de aula, visando sempre à produção de texto e ou a
oralidade como vemos nas falas das professoras:
A professora nº 01 diz que utiliza os contos de fadas “na hora da historia, após
contá-los desenvolvo a interpretação oral da historia, trabalhando assim, a oralidade e a
interpretação”
Já a professora nº 03 afirma que trabalha os contos de fadas “[...]nas atividades de
produção de texto - conto e reconto”,
A professora nº 04 fala que utiliza os contos de fadas nas atividades de ”[...]
conto, reconto e produção textual”
E a professora nº 05 afirma que:
Trabalhei os contos de fadas junto com outras literaturas infantis nas aulas
de Literatura e Produção de Textos (Redação), era um meio de conhecer
melhor meus alunos e saber da realidade em que viviam, bem como
despertar o gosto deles pela leitura e incentivá-los a escrever, fazendo
exercícios de criação de histórias a partir de um tema ou livre, ou
recontagem da história acrescentando outros personagens, e discussões em
sala de aula sobre situações problema, tipo, o ridículo, o que é ridículo para
você, por quê?
Enquanto podemos perceber que as professoras nº 02 e nº 06 trabalham os contos
em sua totalidade, apesar de também trabalharem com eles ligados a aula de literatura.
41
A professora nº 02 afirma que trabalha os contos de fadas “[...] dentro de todos os
eixos desenvolvidos no cotidiano, oferecendo a criança desenvolverem sua imaginação [...]
E a professora nº 06 afirma que trabalha os contos de fadas:
[...] em atividades diversas, em geral, fechando com alguma
atividade artística como dramatização, pinturas em telas ou painéis
individuais ou em grupos, teatrinho de dedoches com a confecção dos
personagens feita pelas crianças [...].
Podemos perceber assim que a maior parte das professoras utiliza o conto de fadas
na sala de aula como um instrumento para tarefas escolares, o que segundo Amarilha (1997)
faz com que os contos de fadas percam sua função lúdica e estética e impeçam que as
emoções sejam vivenciadas.
3.1.4
Identificação das crianças com os contos
No quadro nº 04 verifica-se que para 50,02% das professoras entrevistadas as
crianças se identificam com os heróis e para 16,66% essa identificação se dá através dos
heróis e dos valores morais da historia, enquanto que para 16,66% elas s identificam apenas
com os valores e ainda para 16,66% a identificação se dá através das musicas, figuras e
demais personagens da historia.
Quadro nº 04: Identificação das crianças com os contos
Identificação das crianças com os contos
Quantidade
%
Com os heróis
3
50,02
Com os heróis e com valores
1
16.66
Com valores
1
16.66
Figuras, musicas, etc.
1
16.66
Total
6
100
Percebemos claramente a opinião das professoras quanto à identificação das
crianças com os contos de fadas de heróis na fala da professora nº 02, quando ela afirma que
essa identificação se dá “em sonhos de herói ou heroína” também podemos ver isso na
afirmação da professora nº 03, onde ela expressa que “eles se identificam com o herói, bom e
belo, não é pela sua beleza ou bondade, mas por sentir que ele tem os mesmos problemas que
o seu”, enquanto a professora nº 06 afirma que ”eles são sempre os príncipes e as princesas,
42
sendo assim os heróis e a as heroínas das historias”, demonstrando assim que é a maior
identificação com os contos se dá através dos personagens que são heróis.
Isso nos remete a Bettelheim (1980) onde no seu livro “A Psicanálise dos Contos
de Fadas” afirma que o conto de fadas é tido pela criança como um espelho onde ela pode se
reconhecer, pois ali ela descobre que os heróis têm os mesmos problemas que elas e todas as
possíveis soluções se encontram também na historia, ainda que de forma subjetiva, pois tudo
isso é elaborado na sua imaginação. Sendo que os educadores podem e devem recorrer ao
conto de fadas como instrumento para poder entender melhor toda a complexidade e
totalidade das crianças que estão sob sua responsabilidade, podendo através do mesmo
auxiliá-las a resolver seus problemas e mediar conflitos que possam a vir surgir em sala de
aula.
3.1.5
Contos recorrentes em sala de aula
No quadro nº 05 constata-se que para 66,66% das professoras entrevistadas o
conto mais recorrente em sala de aula é Chapeuzinho Vermelho, enquanto que para 16,67% o
mais pedido é a Bela e a Fera e ainda para 16,67% Cinderela é o mais pedido.
Quadro nº 05: Contos recorrentes em sala de aula
Quantidade
%
Chapeuzinho vermelho
4
66,66
A Bela e a Fera
1
16,67
Cinderela
1
16,67
Total
6
100
Contos recorrentes em sala de aula
As professoras de nº 01, 02, 03 e 04 foram unânimes ao dizer que o conto mais
recorrente em sala de aula era o da “Chapeuzinho vermelho”, enquanto a professora nº 06
afirma que em sua sala o mais pedido é “A Bela e a Fera” e a professora nº 05 afirma ser
“Cinderela”.
De acordo com Bettelheim (1980) ao falar dos problemas e dificuldades uma
historia auxilia as crianças a enfrentarem os seus próprios dilemas e medos, lhes dando
soluções para problemas que antes pareciam insolúveis, por isso uma determinada historia
passa ser frequentemente pedida pelas crianças. Isso ocorre porque a criança precisa ouvir
muitas vezes uma história para acreditar nela, para internalizá-la, indicando assim que a
43
história ouvida, de alguma maneira está sendo importante e lhe trazendo respostas as suas
perguntas.
3.1.6
A influência dos contos de fadas na formação moral e ética.
As professoras pesquisadas foram unânimes em afirmar que os contos de fadas são agentes
importantes na formação moral e ética da criança. Sendo que para a professora nº 01 fala que:
Quando as crianças ouvem historias percebem sentimentos de forma mais
clara em relação ao mundo. [...] Os contos de fadas abordam varias maneiras
de viver e mostra o resultado de cada escolha de vida. [...] Por que a
depender de como a historia é contada, o narrador poderá levar a criança a
questionar-se sobre seus próprios atos e problemas de existência como:
sentimentos de inveja, ciúme, medo, carinho, dor, curiosidade, alem de
ensinar sobre vários assuntos
Para a professora nº 02 “[...] o conto de fadas é uma narrativa com funções de
levar pessoas a descobrirem suas falhas quando se refere à vaidade, ódio, inveja, mas porem
explicita também o amor e diversas outras mediações”
Enquanto que a professora nº 03 afirma que:
As crianças necessitam de educação moral, não em termo de conceitos
abstratos, mas daquilo que faz parte do seu mundo que seja correto e
significativo. E elas encontram esse significado através dos contos de fadas
[...] Os contos de fadas ensinam que a luta contra os problemas são
inevitáveis e que as pessoas não devem se intimidar, e sim enfrentar de
forma decisiva para vencer a injustiça, morte, velhice, fome, separação,
violência domestica, etc.
Já para a professora nº 04 é “através dos contos de fadas que elas aprendem os
valores morais”, ela ainda afirma que “as crianças se espelham nos contos e aprendem a amar
e respeitar. [...] elas querem imitar os personagens bons por que terão um final feliz”
Para a professora nº 05 os contos de fadas “estão repletos de valores que
independente da época ainda são relevantes, como bem e mal, certo e errado, causa e
conseqüência.” E complementa sobre a importância dos contos da fada na formação moral da
criança quando afirma que:
Durante a nossa formação moral nos deparamos com vários dilemas de o que
é certo e errado na nossa sociedade, bem e mal, ser o bonzinho ou o vilão na
vida, que conseqüências positivas e/ou negativas isso pode acarretar. E
dentro dos contos de fadas aparecem várias situações problemas com suas
respectivas conseqüências e que interagem com o leitor/ouvinte e lhes
transmite suas experiências de forma a interagir com esse leitor/ouvinte e a
levá-lo a solucionar seus próprios conflitos internos referentes à sua
44
formação moral e questionamentos quanto a vida na sociedade em que estão
inseridos.[...] Os contos de fadas transmitem uma história que se passou em
um lugar, num determinado tempo e com determinadas pessoas, e essas
pessoas passaram por conflitos sociais e conflitos morais de decisões
pessoais (coisa que todos temos que fazer até hoje), e ao acompanhar essa
história a criança entra em contato com essa vivência e interage com os
personagens tirando lições das situações vividas pelos personagens
(situações essas que podem ser associadas a seu cotidiano), aprendendo com
elas e servindo como uma aprendizagem para solucionar seus próprios
conflitos e a ir construindo sua formação moral.
Por fim a professora nº 06 afirma que “os contos de fadas trazem sempre uma
mensagem de fundo emocional ou/e moral como a amizade, respeito, obediência, cumprir as
promessas etc. As vezes isso fica muito visível e as crianças percebem sem ao menos
pedirmos para ela identificarem a mensagem.”
Com base nas respostas dadas pelas professoras, podemos constatar que os contos
de fadas são importantes para a formação moral da criança, pois “os contos de fadas
enriquecem a vida da criança e lhe dão uma dimensão encantada exatamente por que ela não
sabe absolutamente como as historias levam a cabo seu encantamento sobre ela” (Bettelheim,
2009, p. 28) Ainda segundo Bettelheim (2009) para que os contos de fadas sejam agentes da
formação moral da criança eles não podem apenas prender a atenção delas, eles devem
despertar sua curiosidade, estimulando assim sua imaginação e criatividade o que ajudará no
desenvolvimento afetivo, psicológico e cognitivo. Sendo que enquanto diverte a criança, a
esclarecem sobre si mesma, auxiliando assim na mediação dos sentimentos infantis, na
solução de problemas e conflitos, alem de ajudar a formar sua identidade, desenvolvendo
também sua percepção de mundo e de valores.
3.1.7
Gosta dos contos de fadas
No Quadro nº 07 constata-se que 80% das crianças entrevistadas gostam de conto
de fadas enquanto que 20% gostam pouco, pois acredita ser coisa de menina.
No Quadro nº 07: Gosta dos Contos de fadas
Quantidade
%
Sim
4
80
Não muito, por que é coisa de menina
1
20
Total
5
100
Gosta dos Contos de fadas
45
Durante a entrevista pode-se constatar também que 80% das crianças que
apreciam contos de fadas são do sexo feminino e 20% que gostam pouco, são do sexo
masculino e gostam apenas por causa da aventura contidas nos contos, onde se identificam
sempre com o herói que salva a princesa. Pode-se verificar também que todas as crianças têm
contato com os contos de fadas em casa ou na escola, confirmando assim o que é averiguado
na categoria dois, onde as professoras afirmam que os contos de fadas ainda têm um grande
espaço na sociedade moderna.
3.1.8
Conto que mais gosta
No quadro nº 08 constata-se que das crianças entrevistadas, 40% escolheram o
conto de fadas A Bela e a Fera como seu conto preferido, sendo também que 40% escolheram
A pequena sereia como o conto que mais gosta, enquanto 20% escolheram Rapunzel.
Podemos verificar também que os contos de fadas mais apreciados pelas crianças
segundo 66,66% das professoras pesquisadas são os contos “Cinderela” e “A Bela e a Fera”,
enquanto que 33,34% das professoras afirmam que as crianças mais apreciam são
Chapeuzinho Vermelho e Os Três Porquinhos
Quadro nº 08: Conto que mais gosta / Os contos mais apreciados entre as crianças
Crianças
Conto que mais
gosta
A bela e a Fera
Professoras
Quantidade
%
2
40
A pequena Sereia
2
40
Rapunzel
1
Total
5
Os contos mais apreciados
entre as crianças
Quantidade
%
A Bela e a Fera
Cinderela
4
66,66
20
Chapeuzinho Vermelho
Os Três Porquinhos
2
33,34
100
Total
6
100
No quadro nº 08 ao confrontarmos as respostas das crianças com a das
professoras, podemos verificar que as preferências dos contos de fadas são semelhantes em
apenas um conto, sendo este “A Bela e a Fera”, ainda constata-se que enquanto as professoras
pesquisadas apontam “Cinderela”, “Chapeuzinho Vermelho” e “Os Três Porquinhos” como os
mais apreciados pelas crianças, as crianças entrevistadas afirmam que seus contos preferidos
são “A Bela e a Fera”, “A Pequena Sereia” e “Rapunzel”, como podemos ver nas falas das
mesmas:
46
Angélica de 5 anos, afirma gostar do conto “A pequena Sereia” por que:
Na historia ela tem a Ariel, ela mora no mar, com o pai e as irmãs e tem o
Eric que é um príncipe muito bonito e bonzinho, e a Ariel é uma sereia que
vira princesa, ela gosta do Eric e ela salva ele quando ele cai na água, depois
os dois se casam, eu gosto mais do filme, no livro ela vira espuma e não fica
com o príncipe e eu não gosto
Vinicius também de 5 anos, diz apesar de não gostar muito de contos de fadas por
que achar que são historias de meninas, ele gosta das historias onde tem o príncipe que salva a
princesa e de todas, a sua preferida também é “A Pequena Sereia” por que:
Ela é legal, tem o príncipe que tem um navio, eu quero ser o
príncipe, ele sai para passear no navio e ele salva a princesa e casa com ela
[...] é... Eu só não gostei muito do livro, ele não casa com a sereia, casa com
outra princesa e a sereia vira espuma, o filme é mais legal por que o príncipe
mata a bruxa do mar que é muito malvada e queria pegar a Ariel e roubar o
pai da Ariel e mas o príncipe vai lá e salva ela e no final ele casa com ela.
Enquanto Sophia de 6 anos, afirma gostar do conto “A Bela e a Fera” por que:
A historia é bonita, tem a Bela que é boazinha, ajuda todo mundo e vira
amiga da Fera que não é malvada, só é feia, mas não faz mal para ninguém.
A bruxa também não é ruim, ela só faz o príncipe virar fera para ensinar ele
a ser bonzinho com os outros também. Quando a Bela vê que ele não é ruim
ele começa a gostar dele e por isso beija ele e acaba com o feitiço da bruxa e
no final a Bela e a Fera se casam e são felizes para sempre. O livro é igual ao
filme, por isso que eu gosto dessa historia também.
Karine de 8 anos, também afirma gostar do conto “A Bela e a Fera” por que:
Eu tinha o filme e quando aprendi a ler minha avó me deu o livro, foi meu
primeiro livro de contos de fadas [...] eu gosto da historia por que é uma
historia legal, tem aventura, a Bela fica amiga da Fera mesmo ele sendo um
monstro por que descobre que ele é legal, só é estranho e feio, mas não é mal
e ela acaba gostando dele e quebra o feitiço quando da um beijo nele, mesmo
ele sendo um monstro e ele vira um príncipe lindo e os dois se casam e
vivem felizes para sempre.
Enquanto Camila de 8 anos, afirma gostar do conto Rapunzel por que:
Ela é linda, tem a Rapunzel que mora trancada na torre e tem o príncipe que
se apaixona por ela, mas o que eu gosto mais é que o príncipe tenta salvar ela
e não consegue e acaba se machucando, ele fica cego e quem acaba salvando
ele é a Rapunzel, quando chora e cura ele e por que a bruxa má que deixa ela
trancada no final quando derruba o príncipe acaba ficando presa sozinha na
torre.
Analisando as falas das crianças, podemos ver que as duas primeiras, Angélica e
Vinicius, não tiveram uma boa aceitação do livro “A Pequena Sereia”, dando preferência ao
47
filme, pois no mesmo há o final feliz, onde a pequena sereia e o príncipe, após enfrentarem e
superarem vários problemas, eles conseguem terminar casados e felizes.
Isso ocorre por que segundo Bettelheim (2009), as crianças buscam no conto de
fadas as soluções para os seus conflitos, elas se vêem, se imaginam na historia, colocam-se no
lugar da personagem e quando a mesma falha na sua jornada pela felicidade elas sentem
inconscientemente acreditam que poderão falhar também.
Enquanto que na falas das outras três crianças, Sophia, Karine e Camila, constatase a aceitação do livro, pois o mesmo é semelhante ao filme, onde as personagens se
envolvem em aventuras em busca de um final feliz, resolvendo problemas que no principio
pareciam sem solução.
Enquanto podemos verificar o motivo da preferência dos contos de fadas pelas
crianças entrevistadas, as professoras pesquisadas apenas citaram os contos que acreditam ser
os preferidos de seus alunos, mas não justificam essa preferência, confrontando o as respostas
do quadro nº 08 com as respostas dadas no quadro nº 03, onde elas falam como trabalham os
contos em sala de aula, levantamos a seguinte indagação, como esses contos estão sendo
tratados em sala de aula, estarão sendo usados como instrumentos lúdicos na ajuda pelo
desenvolvimento social, psicológico e intelectual da criança, ou as professoras estarão usando
os contos de fadas apenas como simples instrumento de controle sobre as crianças ou ainda
complemento das tarefas escolares.
Segundo Amarilha (1997) no seu livro “Estão mortas as fadas?” apesar da
importância dos contos de fadas estarem sendo cada vez mais discutido entre pedagogos e
psicólogos, o que ocorre em sala de aula é o oposto do ideal, a escola tem abandonado o
caráter lúdico e comunicativo dos contos, tratando-os
apenas
como atividades
complementares para as praticas pedagógicas. Amarilha (1997, p. 45) afirma que “[...] muitos
professores julgaram que, não tendo um objetivo técnico preciso de obter algum
conhecimento, a leitura da literatura era uma atividade sem significado”, esses professores ao
tratarem o caráter lúdico do conto dessa maneira, esquecem a importância educativa do jogo
ficcional que os contos de fadas proporcionam para as crianças em formação. Amarilha
afirma que:
[...]a narrativa, através desse jogo dramático, proporciona modelos
antecipatórios de situações que a criança poderá vir a vivencia como criança
ou como adulto. Ler é, então participar e um teatro intimo, ser ator e
48
espectador ao mesmo tempo e não ter outra platéia que não a si mesmo. È
por isso que a narrativa proporciona autonomia. No muno imaginado, o
leitor ou ouvinte é senhor absoluto e isso se dá pelo jogo. [...] Quando a
criança veste a máscara de um personagem, ela faz o mesmo trajeto das
brincadeiras, ela faz de conta que é a Cinderela, faz de conta que é a bruxa e,
assim brincando vivencia dramas que podem ser seus agora, mas que
também são antecipatórios do destino humano. [...] mesmo sem tarefa, sem
nota, sem prova, a literatura educa e que, portanto, é importante
pedagogicamente (AMARILHA, 1997, p.53-56)
Podemos perceber assim toda a amplitude da narrativa dos contos e como saber
utilizá-lo em sala de aula é fundamental para um bom aproveitamento do mesmo pelos
professores e alunos, assim questionamos como as professoras podem afirmar que
determinado conto é apreciado por seus alunos, sem dizer como e por que da escolha dos
mesmos que esses são
3.1.9
Conto que menos gosta / Os contos menos apreciados entre as crianças
No Quadro nº 09 constata-se que 60% das crianças entrevistadas não gostam
historia da Branca de Neve, enquanto que 20% não gostam da Bela Adormecida e também
20% escolheu Chapeuzinho Vermelho como o conto que menos gosta. Enquanto que cada
professora pesquisada escolheu um conto diferente e apenas duas não escolheram nenhum
conto especifico, sendo que uma delas afirmou que nenhum dos contos lidos por ela haviam
sidos rejeitados pelos alunos..
Quadro nº 09: Conto que menos gosta / Os contos menos apreciados entre as crianças
Crianças
Conto que
menos gosta
Branca de neve
Professoras
Quantidade
%
3
60
Os contos menos apreciados
entre as crianças
Quantidade
%
Barba azul
1
16.67
Mágico de Oz
1
16.67
1
16.67
1
16.67
1
16.66
Nenhum
1
16.66
Total
6
100
Branca de Neve
A Bela
Adormecida
1
20
A Bela Adormecida
Peter Pan
Todos que a magia não
Chapeuzinho
Vermelho
Total
1
5
20
100
esteja explicita
49
Confrontando a resposta das crianças e professoras, pode-se verificar que
enquanto as professoras escolheram cada uma o conto de fadas menos apreciados por seus
alunos, mas sem justificar o motivo da escolha, 60% das crianças são unânimes em escolher A
Branca de Neve como o conto de fada que menos gostam, afirmando que o motivo maior para
essa escolha seria a burrice da personagem como podemos verificar na fala de Karine “os
anões eles ajudam ela e mandam ela não falar com ninguém e não abrir a porta para ninguém
e mesmo assim ela abre, e ela aceita a fita e a maçã da mão da velha, que é a madrasta dela e
ela só faz coisa errada, deixando os amigos tristes..” .
As outras duas historias (A bela adormecida e Chapeuzinho Vermelho) escolhidas
pelas crianças entrevistadas como as que menos gostam também foram pelo mesmo motivo, a
burrice e mal criação das personagens principais, como podemos observar nas falas de Sophia
“Por que a bela adormecida não sabe de nada, é muito burra, só faz coisa errada e o príncipe
sempre tem que lutar para salvar ela [...]Por que quando as madrinhas dela falam para ela não
falar com estranhos [...], mas ela segue a bruxa e fura o dedo no treco com agulha” e de
Camila “Ela desobedece a mãe e vai pelo caminho perigoso, fala com o lobo mal e conta para
ele que a vovó ta doente e onde ela mora e que ela ta indo levar doces para ela, e a mãe dela
falou pra ela ter cuidado e não falar com ninguém.” Segundo Bettelheim (2009) isso acontece
por que:
[...]as escolhas das crianças são baseadas não tanto no certo versus o errado
mas em quem desperta a sua simpatia e quem a sua antipatia. Quanto mais
simples e direta é uma personagem boa, tanto mais fácil para a criança
identificar-se com ela e rejeitar a outra má [...] A questão para a criança não
é: “Será que quero ser bom?”, mas “Com quem quero me parecer?”. Ela
decide isso com base em sua projeção entusiástica numa personagem.
(Bettelheim, 2009, p. 17)
Sendo assim podemos perceber que as crianças não se identificam com
determinados contos devido a passividade ou desvio de caráter, mesmo que momentâneo, da
personagem principal, que apesar de todos os avisos dados, insistem em ir contra a sabedoria
de um amigo ou familiar que lhes mostrou que aquele gesto não seria bom para ela.
3.1.10 O que aprenderam com os contos de fadas
Todas as crianças foram unânimes ao afirmar que aprenderam muito com todos os
contos de fadas mesmo os que elas menos gostaram, todas afirmam que aprenderam a
respeitar os mais velhos, não fazer mal criação, não falar com estranhos, que é errado
50
desobedecer e mentir, entre outras coisas, mostrando assim que mesmo não gostando da
historia essa pode lhes ensinar algo.
Foi pedido que cada uma das crianças desenhasse a cena favorita do seu conto de
fadas preferido e também explicassem qual cena era. Assim, através dos desenhos dos contos
de fadas que mais gostavam realizados pelas crianças durante a entrevista, em conjunto com a
sua fala sobre o mesmo, podemos verificar a aprendizagem subjetiva dos valores morais e
éticos que as crianças retiraram desses contos durante o período da oficina.
Angélica, como podemos verificar no quadro nº 08, tem a historia “A Pequena
Sereia” como seu conto de fadas preferido. Ela escolheu desenhar a Ariel do filme a pequena
sereia, durante a exposição do desenho ela explicou que:
Essa é a Ariel, ela ta feliz por que o príncipe salvou ela da bruxa do mar, ela
ta apaixonada pelo príncipe e o pai dela vai deixar ela virar humana para
casar como ele[...] eu gosto do final do filme por que todo mundo termina
amigo e feliz.
Ilustração 1 – Ariel - Desenho de Angélica, 5 anos.
Ao conversar com Angélica sobre a pequena sereia e seu desenho constata-se que
um dos valores morais mais apreendidos por ela, é o bem e o mal, o certo e o errado, alem do
respeito pela diferença, quando ela nos diz que “foi errado ela fugir de casa e acreditar na
51
bruxa do mar, ela é uma bruxa má, o Sebastião e o Linguado falaram para ela” e que “foi
errado o pai da Ariel brigar com ela por que ela estava gostando do príncipe só porque ele
vivia na terra e era diferente dela, o príncipe era bom”, nessas duas falas podemos destacar
que mesmo inconscientemente Angélica percebeu que ao fugir de casa e confiar na bruxa que
não conhecia ao invés do amigo Sebastião e Linguado, ela agiu errado, que o certo seria ela
ouvir os amigos que ela conhecia, alem de mostrar que deve haver respeito pela diferença e
que isso não caracteriza diferente não determina se ela é boa ou má, isso fica bem evidenciado
quando ela fala que a bruxa do mar que é da mesma espécie da sereia é má, enquanto que o
príncipe que era de outra espécie era bom.
Enquanto Vinicius, ao escolher a cena preferiu retratar o príncipe Eric e a Ariel
juntos no final da historia
Ilustração 2 – Ariel e Eric - Desenho de Vinicius, 5 anos
52
Ao observar a fala de Vinicius, contata-se que um dos valores que ele mais
aprendeu foi o bem e mal, percebemos isso quando ele fala que:
Eu desenhei o Eric e a Ariel no final por que é quando eles casaram e estão
felizes, por que antes eles brigaram com a bruxa do mar que era malvada e
queria fazer mal para todo mundo e venceram ela. O Eric conseguiu matar a
bruxa e salvar a Ariel e o pai da Ariel deixou ela casar com o Eric por que
ele era bom.
Assim como Angélica, Vinicius demonstrar ter aprendido sobre a superação das
dificuldades e a vitoria do bem sobre o mal, podemos verificar isso na sua fala quando ele diz
que a bruxa do mar é derrotada pelo herói que salva a princesa e casa com ela tendo assim o
seu final feliz.
Sophia escolheu a cena onde a Bela e a Fera dançam juntos pela primeira vez,
constata-se que o amor e o respeito e a união são os valores mais aprendidos por ela com a
história, ao analisarmos a fala de Sophia enquanto explica o seu desenho:
Eu acho legal essa parte no filme, por que eles não brigam mais e eles
dançam juntos e estão alegres, a Bela ta feliz com a Fera, [...]eu acho que os
dois já estão se gostando apesar de serem muito diferentes e a fera ser feia, a
Bela não liga para isso.
Ilustração 3 – A Bela e a Fera dançando - Desenho de Sophia, 6 anos
53
Assim como Sophia, Karine também escolheu a cena da dança e explicou que:
Eu gosto dessa parte da historia por que a Bela e a Fera já estão amigos, ele
já não é mais chato e mal educado e ela já não tem mais medo dele e ta feliz
por que esta dançando com ele. Ele já ta apaixonado por ela e ela por ele só
que nenhum dos dois quer falar[...] é depois da dança que a Fera mostra pra
bela como gosta dela, por que ele deixa ela ir pra casa tomar conta do pai
que ta doente e isso é muito fofo. A Fera pode ser um monstro, mas é boa
para a Bela, já o Gastón é bonito, mas só faz maldade.
Ilustração 4 – A Bela e a Fera dançando - Desenho de Karine, 8 anos
Ao compararmos as fala de Sophia e Karine verifica-se que o amor, a amizade, a
bondade são as características mais marcantes para as crianças nesse conto e que esses valores
não estão agregados a valores físicos como a beleza. As duas falas demonstram que a Bela se
apaixonou pela Fera, por essa ter mudado sua atitude, tornando-se mais amigo e mais
compreensivo, demonstrando assim que não é necessário ter uma beleza exterior para ser
bom, amigo, companheiro. Karine ainda vai alem, quando compara a Fera com o Gastón, nos
mostrando que enquanto o primeiro é um monstro e é bom o segundo é bonito, mas é mal.
Camila, ao escolher a historia de Rapunzel explicou desenhou o primeiro encontro
entre Rapunzel e o príncipe, por que:
54
Eu acho uma das partes mais bonitas quando o príncipe vê a Rapunzel pela
primeira vez, antes ele só ouvia sua voz e mesmo assim já gostava dela e
quando os dois se encontram um passa a gostar do outro e é nessa hora
também que a Rapunzel descobre a bondade e a maldade ao vai ganhar, que
as coisas podem melhorar, minha avó diz que é só acreditar nos sonhos que
isso acontece.
Ilustração 5 – Rapunzel e o príncipe - Desenho de Camila, 8 anos
Analisando a fala de Camila podemos constatar que o valor mais importante para
ela na historia é a vitoria do bem sobre o mal, onde o amor e a bondade são recompensados
55
com a liberdade e a felicidade e o mal é punido com a prisão e a solidão, como a própria
Camila já falou anteriormente.
Já as professoras entrevistadas apenas duas responderam a questão, sendo que as
mesmas foram unânimes também ao responder que as crianças aprenderam vários valores
com a historia como podemos verificar na fala da professora nº 05:
Ao promover ou elucidar no meio da história discussões sobre certo e errado,
bem e mal, conduta certa e errada, conseqüências de suas ações, questões
sobre ter inveja, orgulho, avareza e o que isso levou cada personagem a
sofrer no final. Que apesar das dificuldades sempre tem um ponto positivo
no amanhã, que ninguém certo/bonzinho fica injustiçado no final, que o bem
prevalece, o que incentiva o leitor a adotar essa conduta correta do ser o
bonzinho (pois no final o vilão sempre se dá mal).
E na fala da professora nº 06 quando a mesma afirma que o conto de fadas auxilia
na formação moral por que “as crianças apreendem as mensagens trazidas pelos contos, elas
transmitem para sua vivencia, [...], às vezes lembram aos colegas ou as pessoa a sua volta
quando percebem alguma atitude que julga errada, fazendo a comparação com algum conto”
Analisando e comparando a fala das crianças entrevistadas, constatamos que a
valores universais como amor, amizade, respeito, tolerância, bondade, união são aprendidos
mesmo que inconscientemente enquanto as crianças brincam de faz de conta, desenham ou
conversam com outras crianças ou mesmo com um adulto sobre a historia que ela gosta, pois
dessa forma ela estará internalizando todos os valores por ela “ouvidos” durante a leitura ou
narração de um conto de fadas.
Assim, a formação moral da criança ocorrer através dos contos de fadas de forma
não intencional e lúdica, pois segundo Piaget, as crianças adquirem valores morais não só por
internalizá-los ou observá-los de fora, mas por construí-los interiormente através da interação
com o meio em que vivem. Assim, nesta fase do desenvolvimento da criança, ouvir os contos
de fadas, entre outras atividades, é uma possibilidade real e de grande importância para a
formação e o desenvolvimento moral da criança.
Com base nas respostas das crianças e da professoras podemos constatar que os
contos de fadas são um valioso instrumento para auxiliar na educação das crianças. Pois ao
mesmo tempo em que aliviam os problemas e trazem as soluções de forma subjetiva para a
criança, ainda ajudam no processo de simbolização da mesma, o que poder ser considerado
um rico instrumento pedagógico, pois os educadores devem ter os contos de fadas como um
56
meio de socialização, um instrumento que os ajude a inserir as crianças no mundo em que
vivem de maneira criativa e lúdica.
57
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta deste trabalho foi contribuir com o debate a respeito da importância
dos contos de fadas na formação moral da criança, mesmo que por diversas vezes, os mesmos
tenham sido alvos de críticas sendo rebaixados a literatura sem valor.
Hoje ele retoma o seu lugar no gênero, sendo reconhecido como uma das
principais formas literárias destinadas ao público infantil, e por se tratar de obras atemporais e
amplamente simbólicas os contos de fadas ganharam status de literatura tradicional e
atingiram caráter de plurifuncionalidade, tornando-se referência quando trata-se de uma
literatura voltada para o público infantil, além de cânones literários, são instrumentos de
trabalho de várias áreas do conhecimento científico, como a educação e a psicologia.
Sendo que tornou-se objeto de análise de vários pesquisadores e, sobretudo, sobre
a ótica da psicologia e da psicanálise, é considerado um poderoso instrumento de intervenção
terapêutica, pois a sua linguagem simbólica, que possibilita interpretações significativas em
relação à formação e desenvolvimento da criança.
Sendo assim, são considerados o que mais fala e desperta a sensibilidade de
crianças. Para os estudiosos, a estrutura narrativa apresentada nos contos de fadas, onde se
encontram personagens, sentimentos, valores universais e desafios que correspondem às
principais medos e conflitos infantis, possibilitando à criança lidar com seus sentimentos mais
internos e, de acordo com sua necessidade, encontrar novas dimensões para a expressão e
possível resolução de dos mesmos, alem de colaborarem na transmissão de valores morais e
éticos de forma lúdica para a criança em formação, pois com suas situações fictícias e
personagens imaginários tornam-se um importante mediador entre a criança e os seus
sentimentos mais profundos.
Baseando-se em todas as colocações acima apresentadas, esse trabalho alcança o
objetivo proposto, confirmando a importância dos contos de fadas como agentes da formação
moral e ética, alem do seu caráter plurifuncional. Desta maneira, tornando-se possível reforçar
a idéia de que os contos de fadas, com seu universo ficcional, além de eficiente instrumento
de formação cultural é elemento importante de autoconstrução para a criança e mais do que
nunca encontra espaço nas salas de aula onde os professores devem utilizá-los para a
sensibilização da consciência humana a transmissão de valores universais e a para a expansão
da capacidade de análise do mundo e de conflitos interiores em seus alunos.
58
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61
APÊNDICES
62
APÊNDICE A – QUESTIONARIO APLICADO COM AS PROFESSORAS
1. Há biblioteca ou cantinho da leitura na escola onde as crianças possam ler os contos de
fadas?
2. Para você qual a importância dos contos de fadas nos mundo moderno? Ainda há espaço
para os contos na vida das crianças?
3. Você trabalha com os contos de fadas em sala de aula? Em quais atividades?
4. Quais são os contos de fadas mais apreciados pelas crianças?
5. Como se dá a identificação das crianças com os contos de fadas favoritos?
6. Quais são os contos de fadas que as crianças menos apreciam?
7. Você sabe o porquê das crianças rejeitarem esses contos?
8. O que você observa nos contos mais apreciados pelas crianças?
9. E nos menos apreciados?
10. As crianças pedem a repetição de algum conto com freqüência? Qual?
63
11. Você acha que os contos de fadas ajudam na formação moral da criança?
12. A uma corrente psicanalítica que afirma que os significados simbólicos dos contos de
fadas estão ligados aos eternos dilemas que o ser humano enfrenta ao longo de seu
amadurecimento emocional e formação moral. Você concorda com esta afirmação?
Justifique.
13. Segundo Bruno Bettelheim, psicanalista e estudioso do tema, os contos de fadas são a
chave para ajudar as crianças a desvendar os mistérios da realidade contribuindo assim para
sua formação moral. Comente sua compreensão sobre isso.
14. Você concorda que um conto de fadas narrado de forma criativa e lúdica desencadeia toda
uma série de experiências na criança que contribuíram para sua formação moral? Por quê?
15. Em que aspectos você acredita que os contos de fadas contribuam com a formação moral
da criança?
64
APÊNDICE B - ENTREVISTA COM AS CRIANÇAS
1. Você gotas de conto de fadas?
2. Dos sete contos de fadas apresentados (A bela e a fera; Cinderela; Branca de Neve;
Chapeuzinho Vermelho; Rapunzel; A pequena Sereia e A Bela Adormecida) quais
você mais gosta?
3. Por que você gosta dessa?
4. E o que você aprende com essa historia?
5. E qual historia você não gosta?
6. Por que você não gosta dessa historia?
7. Mas mesmo você não gostando da história, você aprendeu alguma coisa?
8. Você algo parecido entre essas historias?
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