UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS CORÉIA DO SUL: ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL E DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO (1960 - 1990) Espartaco Madureira Coelho Orientador: Prof. Achyles Barcelos da Costa Monografia apresentada como requisito à obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas Porto Alegre, novembro de 1994 Ao meu filho IVAN. AGRADECIMENTOS À equipe da Biblioteca da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS pela colaboração, pelo esforço e paciência demonstrados. À professora Otília Beatriz Kroeff Carrion e aos professores Octávio Augusto Camargo Conceição e Carlos Henrique Horn pelos ensinamentos, pela competência e pela paixão transmitida pela ciência econômica. E um agradecimento especial ao professor orientador Achyles Barcelos da Costa pela dedicação, cooperação e espírito crítico que tanto aprimoraram este trabalho. "A força é a parteira de toda sociedade antiga, grávida de uma sociedade nova." Karl Marx SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 10 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA ........................................................................................ 14 1.1 - A Situação Após a Segunda Guerra Mundial ............................................................. 14 1.2 - O Processo de Industrialização Tardia ........................................................................ 16 1.3 - Substituição de Importações e Ênfase nas Exportações .............................................. 17 2 - ESTRATÉGIAS DE INDUSTRIALIZAÇÃO ............................................................ 21 2.1 - O Estado e os Planos Qüinqüenais de Desenvolvimento ............................................ 21 2.2 - As Fontes de Financiamento do Investimento ............................................................ 28 2.3 - As Políticas de Alocação de Subsídios ....................................................................... 30 2.4 - O Controle Sobre Importações e Exportações ............................................................ 32 3 - A ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL ........................................................................... 34 3.1 - As Zonas de Processamento de Exportações .............................................................. 34 3.2 - "Chaebols" - Os Conglomerados Econômicos ............................................................ 35 3.3 - A Parceria Entre o Estado e a Iniciativa Privada ........................................................ 40 3.4 - A Força de Trabalho e o Sistema Educacional ........................................................... 42 4 - O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO ............................................................ 47 4.1 - Políticas de Transferência de Tecnologia ................................................................... 47 4.2 - Os Institutos de Pesquisa e Desenvolvimento ............................................................. 53 4.3 - As Cidades de C&T .................................................................................................... 55 4.4 - A Indústria de Semi-Condutores ................................................................................. 57 4.5 - A Indústria Robótica ................................................................................................... 61 CONCLUSÃO .................................................................................................................... 65 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 74 RELAÇÃO DE TABELAS TABELA 1 PIB E PIB PER CAPITA DA CORÉIA DO SUL -- 1958/90 ..................... 19 TABELA 2 EXPORTAÇÕES DA CORÉIA DO SUL -- 1960/91 ................................ 23 TABELA 3 PAUTA DE EXPORTAÇÕES DA CORÉIA DO SUL POR CATEGORIA DE PRODUTOS -- 1962/86 ................................................ 24 TABELA 4 ATIVIDADES DOS CINCO MAIORES CONGLOMERADOS DA CORÉIA DO SUL -- 1981 .................................................................... 36 TABELA 5 VALOR DAS EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES POR COMPANHIA DA CORÉIA DO SUL -- 1981 ........................................... 37 TABELA 6 HORAS DE TRABALHO POR SEMANA NAS INDÚSTRIAS SUL-COREANAS -- 1987/92 ...................................................................... 43 TABELA 7 45 TABELA 8 49 INDICADORES EDUCACIONAIS COMPARADOS: CORÉIA DO SUL, BRASIL E JAPÃO -- 1990 .......................................................... QUANTIDADE DE CIENTISTAS E ENGENHEIROS DE C&T EM ALGUNS PAÍSES -- 1970/88 ............................................................... TABELA 9 GASTOS COM PESQUISA E DESENVOLVIMENTO NA CORÉIA DO SUL -- 1965/85 .................................................................... 50 TABELA 10 EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS DE APROVAÇÃO DE IMPORTAÇÃO DE TECNOLOGIA NA CORÉIA DO SUL -- 1978/88 .................................................................................................... 52 TABELA 11 AS MAIORES EMPRESAS DE SEMI-CONDUTORES NO MUNDO -- 1983/93 .................................................................................... 58 TABELA 12 OS MAIORES FABRICANTES DE SEMI-CONDUTORES DO HEMISFÉRIO SUL -- 1988 .................................................................. 59 TABELA 13 PRODUÇÃO E EXPORTAÇÃO DOS MAIORES FABRICANTES DE SEMI-CONDUTORES SUL-COREANOS -- Janeiro/1989 ............................................................................................. 61 TABELA 14 QUANTIDADE DE ROBÔS POR ORIGEM E TIPO NA CORÉIA DO SUL -- 1977/87 ..................................................................... 62 TABELA 15 QUANTIDADE DE ROBÔS POR TIPO DE INDÚSTRIA NA CORÉIA DO SUL -- 1977/87 ..................................................................... 63 RELAÇÃO DE MAPAS MAPA 1 ÁSIA ............................................................................................................ 72 MAPA 2 ÁSIA ORIENTAL ....................................................................................... 73 10 INTRODUÇÃO Este trabalho pretende mostrar como o processo de industrialização na Coréia do Sul conseguiu transformar um país, que no início dos anos sessenta era essencialmente agrícola, em uma economia que nos últimos anos vem apresentando persistentes e altas taxas de crescimento econômico e que é conhecida mundialmente pelas suas elevadas exportações de produtos eletrônicos, têxteis, químicos, navios e, recentemente, automóveis completos. Em função desse país apresentar uma pauta de exportação de produtos industrializados de alto valor agregado, será enfatizado o papel desempenhado pela organização industrial sul-coreana e pelo seu processo de capacitação tecnológica. Os rápidos e expressivos resultados do "milagre econômico" da Coréia do Sul (país onde a média de crescimento anual do seu PIB, entre 1958 e 1990, foi de aproximadamente 8,5% e onde as exportações, no mesmo período, cresceram a taxas anuais de mais de 40%), juntamente com desempenhos econômicos semelhantes de Formosa (Taiwan), Cingapura e Hong Kong, fizeram com que fosse popularizada a expressão "Tigres Asiáticos", termo em que é enfatizada a agressividade em busca de novos mercados destes "NICs - Newly Industrializing Countries". A Coréia do Sul, além de apresentar uma excelente performance industrial, também conseguiu protagonizar situações extremamente peculiares na economia mundial, tais 11 como, apresentar uma distribuição de renda menos concentrada que a maioria dos outros países em desenvolvimento, obter uma melhoria em vários indicadores sociais, acabar com o analfabetismo, quitar a sua dívida externa em 1988 (quando também foi sede dos Jogos Olímpicos), produzir mais navios que os estaleiros japoneses em 1992, e ser, atualmente, o maior produtor mundial de memórias RAM de microcomputadores. Uma constatação do atual desempenho da economia sul-coreana é a de que os cinco maiores conglomerados coreanos (Samsung, Daewoo, Ssangyong, Sunkyong e Hyundai) obtiveram em 1993 um faturamento conjunto em torno de US$ 121,8 bilhões. Conforme dados da revista Fortune, em 1991, 1992 e 1993, das 500 maiores corporações industriais do mundo, doze eram sul-coreanas, sendo que dos 27 tipos de indústrias catalogados, temos uma empresa sul-coreana - a Hyundai Heavy Industries - ocupando a primeira colocação no ramo de equipamentos de transporte, com US$ 6,7 bilhões em vendas no ano de 1993. Outros motivos relevantes em um estudo sobre a Coréia do Sul referem-se à importância de um estudo sobre as políticas econômicas e industriais adotadas na Coréia do Sul, como forma de embasar um debate sobre possíveis caminhos para o desenvolvimento da economia brasileira. Este trabalho analisa as características do processo de rápido desenvolvimento econômico da Coréia do Sul, bem como avalia as estratégias de industrialização, onde estudam-se os seguintes elementos: os planos qüinqüenais de desenvolvimento; as políticas industriais adotadas; os conglomerados econômicos (formas de organização industrial conhecidas como "chaebol"); as políticas de transferência e de capacitação tecnológica; além do levantamento de dados sobre o sistema educacional e algumas características do mercado de trabalho. 12 O presente trabalho está subdividido em quatro capítulos. No primeiro, são apresentados os antecedentes históricos e as principais características do processo de industrialização tardia sul-coreana, que inicialmente adotou o modelo de substituição de importações, mas logo passou a dar maior ênfase na produção de manufaturados voltados para as exportações. No segundo capítulo, é abordada a políticas industrial implementada pelo Estado sul-coreano, onde destacam-se os planos qüinqüenais, as políticas de proteção à indústria nascente, os instrumentos de incentivos fiscais e de crédito subsidiado, bem como do controle estatal sobre o nível das importações e exportações. No terceiro capítulo, é discutida a importância do modelo de organização industrial patrocinado pelo Estado sul-coreano, onde o elevado nível de concentração econômica, característico dos "chaebol", é um dos pressupostos básicos do processo de industrialização da Coréia do Sul. Além disso, são apontados alguns aspectos relevantes do atual sistema educacional e do mercado de trabalho, considerados fatores essenciais para o desenvolvimento de um parque industrial competitivo a nível mundial. No quarto capítulo, são analisadas as características do constante processo de aprendizado, de capacitação e de desenvolvimento tecnológicos desse país. São avaliadas quais as políticas de transferência de tecnologia adotadas, a importância dada ao desenvolvimento endógeno de tecnologias e mostra-se também o caso do desenvolvimento de dois setores de avançada tecnologia e de destaque internacional: a indústria de semicondutores e a da robótica. Na Conclusão, resumem-se as principais características das políticas industriais e do processo de industrialização adotado na Coréia do Sul e chama-se a atenção para os 13 aspectos relativos à especificidade da intervenção estatal, da organização industrial e do desenvolvimento tecnológico sul-coreano. 14 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA 1.1 - A Situação Após a Segunda Guerra Mundial A península da Coréia possui uma história de mais de dois mil anos de disputas e invasões territoriais, principalmente por parte da China e do Japão. Os períodos de dominação estrangeira sempre foram muito predatórios e estão marcados na consciência do povo coreano, tanto pela frequência e duração dos períodos de ocupação estrangeira, como por fatos históricos incomuns (como o seqüestro de ceramistas coreanos para o desenvolvimento da cerâmica japonesa no século VII). Em 1993, inclusive, quando o primeiro-ministro japonês Morihiro Hosokawa esteve em visita à Coréia do Sul, foram realizados pedidos de desculpas oficiais e voluntariamente oferecido o pagamento de compensações pelos crimes cometidos pelo Exército Imperial Japonês durante a Segunda Guerra Mundial. Entre o final da guerra Russo-Japonesa (1905) e o fim da Segunda Guerra Mundial (1945), a região tornou-se uma colônia, ou "província" do império japonês. Ao final da Segunda Grande Guerra, os japoneses foram expulsos da Coréia, e a região foi dividida em duas partes: o norte, que ficou sob intervenção soviética e, que mais tarde iria transformarse na Coréia do Norte, e o sul, sob influência dos norte-americanos, como a área que iria dar origem à Coréia do Sul. Em agosto de 1948, foi proclamada a República da Coréia, com capital em Seul, e em setembro do mesmo ano foi formada a República Democrática Popular da Coréia, com 15 sede em Pyongyang. Em junho de 1950, como resultado da "guerra-fria" entre EUA e URSS, a Coréia do Norte, apoiada pela URSS e pela República Popular da China, invadiu a Coréia do Sul, dando início à Guerra da Coréia, conflito que durou até julho de 1953 e que teve como principais consequências, a criação de uma zona desmilitarizada e a manutenção da fronteira entre as duas Coréias no paralelo 38. Com a divisão da Coréia em dois países, rompeu-se a complementaridade econômica entre as duas regiões, sendo que o norte, influenciado pelo planejamento econômico soviético e rico em recursos hídricos e minerais, buscou o crescimento industrial; e o sul, ocupado militarmente pelos EUA, pobre em recursos minerais e energéticos, e com uma pequena área geográfica densamente povoada (atualmente, a densidade demográfica média ultrapassa 400 hab./Km2, uma das maiores do mundo), voltou-se para uma agricultura de subsistência baseada no cultivo do arroz. Assim, o governo sul-coreano, pressionado pelos graves problemas sociais de uma população numerosa e pobre, e pela tensão existente no meio rural, realizou reformas que hoje são reconhecidas como as responsáveis pela criação das pré-condições para a industrialização da Coréia do Sul, quais sejam: a reforma agrária, que foi comandada por influência dos EUA e realizou-se de 1949 a 1958; e a reforma educacional, que constituiuse de um programa de alfabetização de massas, que resgatava princípios de valorização da instrução e do conhecimento oriundos da tradição confucionista, e que obteve resultados concretos e positivos na futura qualificação da mão-de-obra coreana. Para ilustrar a importância dada ao ensino e à educação em geral, tanto por parte do governo, como por parte da própria população, atualmente existe um feriado nacional denominado Dia do Alfabeto. 16 1.2 - O Processo de Industrialização Tardia Entre 1948 e 1961, o país foi governado de forma autoritária pelo líder nacionalista Singman Rhee, que apoiado pelos EUA, foi eleito o primeiro presidente da República da Coréia. Neste período, mais precisamente entre 1953 e 1961, apesar da economia coreana ainda ser essencialmente agrícola, ocorreu o que passou a ser considerada a fase de reestruturação econômica do país, mediante a intensificação da industrialização. Este processo foi caracterizado pela elevada intervenção do Estado nas decisões econômicas e pelos significativos investimentos estrangeiros, principalmente dos EUA, que ainda estavam envolvidos na chamada "guerra-fria" e preocupados com a influência dos regimes socialistas no Sudeste Asiático. Em função de sua importância geopolítica, da desestruturação da burguesia nacional e da pressão exercida pelos sentimentos nacionalistas, coube ao governo sul-coreano desempenhar o principal papel no processo de reconstrução da base industrial. Esta base foi direcionada, naquele momento, para o atendimento das demandas do mercado interno quando, então, foi feita a opção pelo caminho da industrialização através da substituição de importações. Apesar de, inicialmente, adotarem um modelo de industrialização por substituição de importações, mais tarde mudaram esta estratégia por outra, que enfatizou a promoção da exportação de manufaturas e a atração de investimentos estrangeiros para projetos produtivos direcionados ao mercado externo. 17 1.3 - Substituição de Importações e Ênfase nas Exportações Com o grande poder do Estado e a conseqüente definição centralizada de políticas econômicas, verificou-se um processo de industrialização com forte presença estatal, baseado nos setores de bens intermediários e de consumo não-duráveis. Em função de pressões dos EUA, interessados em estabelecer uma nação capitalista com predomínio do setor privado e com menor intervenção do Estado, a partir de 1954, foram privatizados umas poucas empresas e bancos estatais, sem deixar de existir, no entanto, um elevado controle do Estado sobre essas empresas. Esta característica centralizadora e também autoritária do governo coreano, provocou uma excessiva centralização do poder econômico, que favoreceu o surgimento de escândalos de corrupção, que provocaram uma série de protestos contra o regime ditatorial. Em abril de 1960 Rhee renuncia e, após um ano de instabilidade política, em maio de 1961 deu-se um golpe militar assumindo o poder o general Park Chung-Hee, que permaneceria governando até 1979, quando é assassinado e substituído por outro militar, o general Chun Du Huan. Em 1988, após eleições diretas, e por divisão dos partidos de oposição, outro militar assume o poder, Roh Tae-Woo. Durante o período dos regimes militares, que se prolongou por vinte e seis anos, foi quando se materializou uma nova política de industrialização, baseada também na centralização do poder por parte do Estado, mas com ênfase na concentração econômica (dando origem aos conglomerados industriais, ou "chaebol", como também são denominados), e na produção voltada para o mercado exportador. 18 A substituição de importações, por si só, foi incapaz de impor maior dinamismo industrial a uma economia com pequeno mercado interno e com uma grande escassez de recursos naturais. Daí a perda de importância daquela estratégia como base para o crescimento. Os esforços foram então direcionados para o estabelecimento de uma infraestrutura produtiva e de indústrias exportadoras. Para isso foram adotadas algumas medidas, tais como, a obtenção de volumosos empréstimos dos EUA; a estatização do sistema financeiro (a fim de garantir créditos em quantidade e condições adequadas ao fomento dos setores exportadores considerados relevantes); e a execução de seis planos quinquenais de desenvolvimento econômico, elaborados através de intenso planejamento governamental. Estes planos de desenvolvimento ainda continuam a ser elaborados e são considerados os propulsores do extraordinário desempenho econômico da Coréia do Sul. O sucesso desta estratégia pode ser constatado pelo expressivo crescimento da economia sul-coreana nas últimas três décadas. Conforme dados constantes na Tabela 1, entre 1958 e 1990, o PIB cresceu 79,34 vezes, passando de aproximadamente US$ 3 bilhões para um valor em torno de US$ 244 bilhões. 19 TABELA 1 - PIB E PIB PER CAPITA DA CORÉIA DO SUL -- 1958/90 ANOS PIB (Bilhões de US$) PIB per capita (US$) 1958 3.076 132 1963 3.633 135 1967 4.362 146 1969 7.108 228 1973 12.380 376 1975 19.089 551 1976 25.369 707 1977 34.615 962 1978 47.583 1.298 1980 58.246 1.534 1981 64.570 1.671 1982 68.183 1.714 1983 76.833 1.921 1984 81.814 2.012 1985 86.792 2.104 1986 98.307 2.342 1987 121.315 2.842 1988 171.311 4.079 1989 212.970 5.023 1990 244.043 5.626 Fonte dos dados brutos: UNITED NATIONS. Handbook of International Trade and Development Statistics, Nova Iorque, vários anos. 20 Neste mesmo período, o PIB apresentou uma taxa média anual de crescimento de aproximadamente 8,5% e a renda per capita cresceu 42,62 vezes, passando de US$ 132 para US$ 5.626. 1 Outros indicadores do desenvolvimento econômico, social e tecnológico da Coréia do Sul serão mostrados nos capítulos seguintes. Cabe, no entanto, ressaltar uma característica fundamental do processo de industrialização sul-coreano, qual seja, o rápido aprendizado tecnológico apresentado pelas suas indústrias, fato este que possibilitou a sua inserção no comércio internacional em setores considerados "nobres", tais como a indústria de semi-condutores, navios e carros completos. ____________ 1 Além dos dados sobre o PIB e o PIB per capita, apresentados acima, sabemos que em 1991 o PIB era de US$ 283,5 bilhões e a renda per capita de US$ 6.117 (Fortune Interna tional, v.126, n.7, p. 23, out. 1992). 21 2 - ESTRATÉGIAS DE INDUSTRIALIZAÇÃO 2.1 - O Estado e os Planos Qüinqüenais de Desenvolvimento O esforço de planejamento econômico do Estado sul-coreano, associado ao sistema político autoritário e centralizador do longo período de regimes militares (de 1961 a 1987), são reconhecidos como as bases para a formulação e o cumprimento dos planos qüinqüenais de desenvolvimento econômico, que por sua vez, foram os responsáveis pela transformação de uma economia subdesenvolvida em uma nação que vem apresentando uma das mais altas taxas de crescimento entre as economias mundiais, conforme demonstra a Tabela 1 no capítulo anterior. No início dos anos 60, a estratégia adotada pelo governo, de industrialização voltada para as exportações de produtos intensivos em mão-de-obra, foi obtida através de um sistema de subsídios, incentivos fiscais e créditos direcionados a algumas empresas, o que gerou uma situação de elevada concentração industrial, sendo característico da organização industrial sul-coreana a existência de grandes conglomerados empresariais, denominados "chaebol". O Primeiro Plano Qüinqüenal de Desenvolvimento Econômico, de 1962 a 1966, priorizou o estabelecimento de indústrias têxteis, de vestuário e de calçados - todas intensivas em mão-de-obra - além da construção de estradas, ferrovias e de usinas geradoras de eletricidade. 22 Neste período as exportações apresentaram um taxa média de crescimento de 43,91% ao ano, sendo que passaram de US$ 54,80 milhões em 1962 para US$ 250,3 milhões em 1966. Em 1962, foi criado o "Economic Planning Board", uma espécie de superministério, que funcionou até a década de 80, que tinha como objetivos planejar e coordenar as medidas de intervenção econômica por parte do governo. Algumas das medidas adotadas na época foram: a desvalorização da moeda nacional em aproximadamente 100%; a elevação das taxas de juros, a liberalização do crédito, a criação de subsídios para as exportações e a isenção de tarifas para a importação de bens intermediários utilizados na produção destinada à exportação (mecanismo conhecido como "draw-back"). O Segundo Plano Qüinqüenal de Desenvolvimento Econômico, de 1967 a 1971, consolidou o estabelecimento da indústria leve, fundada durante o Primeiro Plano, que acrescido de indústrias de madeira compensada, comprovou o acerto da utilização da farta disponibilidade e do baixo custo da mão-de-obra, como a grande vantagem comparativa do país. Neste período verificou-se uma queda nas taxas de desemprego e um aumento nos salários reais. O valor das exportações passou de US$ 320,2 milhões em 1967 para US$ 1.067,6 milhões em 1971, o que significou uma taxa média de crescimento anual de 33,77%. 23 TABELA 2 - EXPORTAÇÕES DA CORÉIA DO SUL -- 1960/91 ANOS VALOR DAS EXPORTAÇÕES (Milhões US$) 1960 1961 1962 1963 1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 32,80 40,90 54,80 86,80 119,10 175,10 250,30 320,20 455,40 622,50 835,20 1.067,60 1.624,10 3.225,00 4.460,40 5.081,00 7.715,10 10.046,50 12.710,60 15.055,50 17.504,90 21.253,80 21.853,30 24.445,10 29.244,90 30.283,10 34.714,50 47.280,90 60.696,40 62.377,20 65.015,70 71.898,00 Fonte: UNITED NATIONS. International Trade Statistics Yearbook, Nova Iorque, 1993. 24 No início da década de 70, já verificavam-se mudanças estruturais significativas, tanto em relação à importância do setor industrial como pólo de dinamismo da economia, bem como na composição da pauta de exportações, que passou a apresentar uma maior predominância dos produtos manufaturados, conforme demonstrado na Tabela 3. TABELA 3 - PAUTA DE EXPORTAÇÕES DA CORÉIA DO SUL POR CATEGORIA DE PRODUTOS -- 1962/86 PRODUTOS ANOS TOTAL (%) Primários Industriais Leves Industriais Pesados 1962 73,0 27,0 - 100 1966 37,6 50,6 11,9 100 1971 14,0 63,9 22,1 100 1976 10,2 61,4 28,4 100 1981 9,1 47,6 43,3 100 1986 8,3 41,7 50,0 100 1987 3,9 41,1 55,0 100 1988 3,4 38,6 58,0 100 1989 3,1 38,6 58,3 100 1990 2,8 37,0 60,2 100 1991 2,7 35,2 62,1 100 1992 2.3 31,4 66,3 100 Fonte dos dados brutos: Dados até 1986 extraídos de Estudos BNDES - Coréia do Sul: A Importância de uma Política Industrial, jun. 1988. Dados de 1987 a 1992 extraídos de UNITED NATIONS - International Trade Statistics Yearbook, Nova Iorque, 1993. 25 O Terceiro Plano Qüinqüenal de Desenvolvimento Econômico, de 1972 a 1976, foi caracterizado pelo direcionamento dado à estruturação de uma indústria pesada e pela tentativa de buscar um maior equilíbrio entre o desenvolvimento do setor industrial e a agricultura, tendo sido criado um complexo programa de ajuda técnica e financeira para o setor rural. Neste Terceiro Plano, o valor das exportações cresceu de US$ 1,6 bilhões em 1972 para US$ 7,7 bilhões em 1976, o que representa uma taxa anual média de crescimento de 50,95%. Fato relevante é o de que entre os anos de 1972 e 1973, houve um salto de 98,57% no valor das exportações. Porém, mesmo com o excelente resultado obtido no comércio exterior, este também foi o período de conscientização dos limites do modelo de industrialização através de indústrias leves e intensivas em mão-de-obra, passando a ser incentivado o crescimento auto-sustentado, baseado no desenvolvimento da indústria pesada. A intervenção governamental se dá no sentido de atingir os objetivos definidos pela política industrial, que passam a ser os de fortalecimento da petroquímica, da siderurgia, de máquinas e equipamentos, da construção naval, do automobilismo e da indústria de defesa. Em 1973, o governo sul-coreano implantou o Plano de Desenvolvimento da Indústria Química e Pesada, ano em que também foi criado o Fundo Nacional de Investimentos, ambos concebidos de forma a propiciar crédito a baixas taxas de juros e reforçar incentivos para o desenvolvimento destes setores. Conseqüentemente, entre 1975 e 1979, 75% do investimento industrial realizado na Coréia do Sul foi direcionado para as indústrias química e pesada. 26 Durante o Quarto Plano Qüinqüenal de Desenvolvimento Econômico, de 1977 a 1981, o crescimento das indústrias química e pesada, que são intensivas em capital e em energia, associado à escassez de recursos naturais, provocou elevados gastos com a importação de petróleo, assim como de bens de capital, principalmente oriundos do Japão. Outra característica importante foi que o governo estabeleceu incentivos para o treinamento de mão-de-obra e para os gastos com pesquisa e desenvolvimento nas empresas privadas, tentando, desta forma, redirecionar o processo de industrialização para áreas com alto grau de qualificação tecnológica, que, por sua vez, exigem mão-de-obra treinada e especializada. Neste período, a taxa de crescimento das exportações situou-se em 22,57% ao ano (passando de US$ 10 bilhões em 1977 para US$ 21,2 bilhões em 1981). Sendo que esta queda no padrão do desempenho exportador teve como principais causas: a segunda crise do petróleo; as más colheitas do período; e a concorrência de outros NICs (Newly Industrialized Countries), que tornavam-se mais competitivos por possuírem mão-de-obra mais barata que a sul-coreana. Com o objetivo de manter a competitividade internacional, a partir da década de 80 são feitos investimentos maciços na indústria eletrônica, pois a vantagem comparativa passa a ser a existência de indústrias com elevado desenvolvimento tecnológico, ao invés de indústrias intensivas em trabalho e energia. No Quinto Plano Qüinqüenal de Desenvolvimento Econômico, de 1982 a 1986, a prioridade foi direcionada para o estabelecimento de indústrias de bens de capital, de produtos eletrônicos e de estaleiros. 27 Durante este plano, a taxa média de crescimento das exportações esteve situada em 10,5% ao ano. E, em função dos aumentos reais dos salários (acima da média dos outros países da Ásia Oriental), bem como das pressões da concorrência internacional, o governo passou a adotar nova estratégia, que ao mesmo tempo em que dava ênfase ao desenvolvimento tecnológico, alterava-se o discurso oficial onde enfatizava-se uma maior estabilização e liberalização da economia, com a possibilidade de maior autonomia do setor privado. No Sexto Plano Qüinqüenal de Desenvolvimento Econômico, de 1987 a 1991, a indústria de informação é definida como sendo estratégica e incentivos são direcionados para a produção de eletrônicos com alto grau de sofisticação tecnológica. Isso ocorre especialmente nas áreas de computação, de telecomunicações e de componentes microeletrônicos (atualmente a Coréia do Sul produz mais de 50% das memórias RAM utilizadas nos microcomputadores e responde por aproximadamente 40% da produção mundial de navios). Neste mesmo período, houve um processo de melhorias sociais, quando o governo, pressionado pela população (os trabalhadores tinham uma jornada de trabalho média de 54 horas semanais e 8 dias de férias por ano), promoveu um programa social onde destacamse: a criação em 1987 do salário mínimo; a implantação em 1988 de um plano de aposentadoria para os trabalhadores que venham a se aposentar a partir de 2.008; e a concessão a partir de 1989 de seguro-saúde subsidiado pelo Estado. Durante o Sexto Plano, o orçamento do governo sul-coreano manteve os percentuais históricos (isto é, desde a década de 70), de alocação de 40% para a rubrica "Gastos com Defesa e Administração Geral" e de 20% para a "Educação". Entretanto, transferiu 2% dos 28 gastos com "Desenvolvimento Econômico", que estavam situados em torno de 18,5%, para a rubrica "Desenvolvimento Social", que ultrapassaram os 10,5%. 2.2 - As Fontes de Financiamento do Investimento Um dos instrumentos de ação para a implantação dos Planos Qüinqüenais e para o êxito das políticas industriais subjacentes, foi aquele utilizado pelo Estado na intermediação financeira, de forma a direcionar investimentos subsidiados para os setores considerados estratégicos. Do final da Guerra da Coréia até o início dos anos 60, os EUA realizaram volumosos empréstimos a fundo perdido, recursos estes que o governo sul-coreano investiu na sua infra-estrutura e na criação do seu parque de indústrias de exportação. Em 1961, todos os bancos comerciais foram estatizados, e até o início dos anos 80, quando alguns bancos passaram para o setor privado, todos os empréstimos bancários eram criteriosamente analisados e sua alocação extremamente controlada pelo Estado. Neste aspecto, a Coréia do Sul é destaque em relação a outros países em desenvolvimento, pois este sistema estatal de créditos direcionados e subsidiados, que muitas vezes apresentou taxas de juros reais negativas, também mantinha um rígido controle em relação aos empréstimos externos. Esses créditos necessitavam de prévia autorização do governo e também tinham a sua utilização monitorada, de forma que quase todos os recursos financeiros foram captados no exterior através do governo e foram direcionados para a modernização tecnológica das empresas sul-coreanas e para a produção industrial em larga escala. 29 A fase de total estatização do sistema financeiro sul-coreano, permitiu que montantes elevados e com pequeno risco financeiro fossem colocados à disposição do setor privado, recursos estes que foram captados principalmente através de empréstimos de governo-a-governo, com taxas de juros reais muito baixas ou mesmo negativas. Também, diferentemente de outras economias em desenvolvimento, para ser beneficiado com empréstimos subsidiados, o setor privado da Coréia do Sul deveria comprometer-se em atingir níveis de produção e metas de exportação préviamente acordados com o governo. Além diso, foi estabelecida uma legislação especial relativa à fuga de capitais, que estipulava uma pena mínima de 10 anos de prisão e máxima de pena de morte, em casos de transferências ilegais de capitais. Desta forma, através de fluxos de capitais subsidiados e de uma legislação dura, foi impulsionado o desenvolvimento de sua indústria nascente, bem como a formação de conglomerados industriais vinculados ao Estado, sempre com o objetivo de estabelecer uma indústria com padrões internacionais de produtividade e de sofisticação tecnológica. Entre 1981-83, foi realizada uma reforma financeira, sendo que cinco bancos comerciais foram privatizados. No entanto, em função da constante preocupação do governo em manter baixo o custo do capital e de subordinar a atuação do mercado financeiro à política industrial, ainda existe uma forte presença governamental nestes bancos, que se manifesta através da nomeação dos seus principais dirigentes; da definição dos tipos de serviços oferecidos; do âmbito de atuação; da gestão de pessoal; e pelo fato que nenhum grupo privado pode deter mais do que 8% de ações de uma instituição bancária.. 30 Ainda como destaque do uso de instrumentos financeiros na implementação de políticas industriais, temos o papel desempenhado pelos dois maiores bancos de desenvolvimento da Coréia do Sul (ambos estatais): o Korea Development Bank (KDB) e o Korea Export-Import Bank (Eximbank). O KDB, está voltado para o financiamento de longo prazo de projetos de implantação e de expansão industriais, contemplados nos objetivos dos Planos Qüinqüenais. O financiamento provém de empréstimos externos, da emissão de títulos no mercado de capitais, de depósitos a prazo, de poupança e de capital próprio. O Eximbank, enfatizando a estratégia de industrialização orientada para as exportações, está voltado para o financiamento das exportações/importações. O financiamento ocorre mediante empréstimos para fornecedores locais e clientes estrangeiros através de recursos do governo e de empréstimos externos. O Eximbank também presta serviços de avalista em operações de comércio exterior. 2.3 - As Políticas de Alocação de Subsídios Uma das principais características da política industrial sul-coreana é a de apresentar um perfil de extrema flexibilidade e de seletividade no que se refere a alocação de subsídios e na utilização de instrumentos comerciais de proteção de segmentos escolhidos como prioritários. Em relação aos subsídios, o Estado sempre conseguiu adotar políticas "temporárias" de incentivo fiscal sendo que estes sempre estavam atrelados a metas de produção e de exportação. É importante ressaltar o fato de que tais medidas nunca foram perpetuadas e os 31 setores beneficiados ficavam comprometidos com sua capacitação tecnológica e inserção internacional. Até 1974, as empresas classificadas como indústrias-chaves (construção naval, siderurgia, refino de petróleo, fibras sintéticas, fertilizantes, química, geração de energia, papel e celulose, automóveis, máquinas e eletrônicos), foram beneficiadas com medidas de isenção de imposto de renda, créditos fiscais para investimentos em bens de capital e depreciação acelerada para máquinas e equipamentos destinados à produção. Em 1975, foi aprovada nova legislação que alterou os instrumentos de política tributária, sendo que as indústrias pertencentes aos setores estratégicos (construção naval, siderurgia, refino de petróleo, fertilizantes, geração de energia, petroquímica, máquinas, eletrônicos, material bélico e aeronáutica), passaram a utilizar o sistema de "draw-back", com o crédito correspondente aos impostos de importação sendo realizado após a efetivação das exportações. Além desse instrumento, fazia-se uso excludente entre a isenção de impostos nos três primeiros anos e redução de 50% nos dois anos subseqüentes, de crédito fiscal de até 10% para investimentos em equipamentos mecânicos e depreciação de 100% para máquinas de produção. A partir de 1982, um novo grupo de indústrias (construção naval, siderurgia, craqueamento de nafta, máquinas, eletrônicos e aeronáutica), passou a ser beneficiado com incentivos para os investimentos em ciência e tecnologia, isenção de impostos ou créditos fiscais e depreciação preferencial. Atualmente, existem subsídios governamentais para as despesas com desenvolvimento tecnológico, treinamento de mão-de-obra e para o pagamento de salários de engenheiros estrangeiros. 32 2.4 - O Controle Sobre Importações e Exportações A administração das importações é uma das peças fundamentais dos processos de industrialização voltados para as exportações, dado que devem ser implantadas políticas seletivas de restrição de importação para bens voltados para o uso doméstico e de liberação de importações para uso de exportadores (via instrumento tributário do "draw-back"). Neste sentido, a Coréia do Sul vem direcionando a sua pauta de importações no sentido de redução da importação de cereais e de bens de consumo, e de uma forte elevação das importações de bens de capital, de matérias-primas e de petróleo bruto. A política de proteção às indústrias sul-coreanas foi implementada através da adoção de uma legislação tributária (cujas alíquotas são alteradas de acordo com mudanças conjunturais), da utilização de licenças discricionárias de importação (adotando critérios de similaridade nacional e/ou de relevância do produto para uma empresa exportadora), bem como de controle das importações originárias do Japão, país com o qual possui um elevado déficit comercial. Em relação às exportações, o governo definiu com clareza quais setores e projetos deveriam ser impulsionados, através dos seus Planos Qüinqüenais. Proporcionou estímulos à formação das "General Trading Companies", que permitiram a exportação da produção das pequenas e médias indústrias (e que deram origem aos "chaebol" coreanos). Estabeleceu políticas de crédito subsidiado (apresentadas no item 2.2), um sistema de subsídios e de incentivos fiscais (já visto no item 2.3), bem como medidas de suporte administrativo e organizacional. 33 Nessa direção, podemos citar a criação do KDB, do Eximbank e da Korean Trade Promotion Corporation (Kotra), todos organismos estatais voltados para a promoção das exportações, sendo a Kotra responsável pela formação de pessoal especializado em comércio exterior, pela assistência em serviços de pesquisa, pela organização e pela participação em feiras internacionais bem como na manutenção de escritórios de representação em mais de 80 países, inclusive no Brasil. No próximo capítulo, é feito um histórico e uma análise da organização industrial da Coréia do Sul, onde destacam-se as características dos "chaebol" e da parceria entre o Estado e a iniciativa privada como fundamentos para o crescimento industrial sul-coreano. 34 3 - A ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL 3.1 - As Zonas de Processamento de Exportações Uma das características mais importantes do processo de industrialização orientada para as exportações da Coréia do Sul é o estabelecimento de zonas de processamento de exportações (ZPEs), que serviram como fator de atração de capitais e de tecnologias estrangeiros. O estabelecimento e o funcionamento de inúmeras ZPEs foi uma etapa inicial importante dentro do processo de rápida industrialização, pois nestes locais, o governo proporcionava o acesso ao terreno e a facilidades como estradas, portos, aeroportos, água, eletricidade, bancos, correios, e todos os demais itens de infra-estrutura necessários à implantação e operação de uma planta industrial. Em 1980, existiam aproximadamente 1.400 empresas operando em ZPEs, sendo que estas empregavam em torno de 300.000 trabalhadores e eram responsáveis por quase 20% do total das manufaturas exportadas. As atividades produtivas realizadas nas ZPEs, conhecidas como sendo de "montagem não qualificada", em pouco tempo tornaram-se subordinadas aos componentes e aos bens de capital produzidos pela "fabricação qualificada" da indústria metal-mecânica sul-coreana, graças ao rápido "aprendizado tecnológico" e aos processos de "aprendizado reverso" instaurados. 35 3.2 - "Chaebol" - Os Conglomerados Econômicos Inicialmente, a maioria das empresas sul-coreanas voltou-se para a produção em larga escala de artigos padronizados (têxteis, calçados, eletrônica de consumo e componentes de computador), utilizando-se de trabalhadores baratos e produtivos, dentro de instalações fabris que empregavam a mais avançada tecnologia japonesa. Este fatores, associado às políticas governamentais protecionistas e de crédito direcionado e subsidiado, deram origem às General Trading Companies, ou seja, aos conglomerados industriais privados, que também são conhecidos como os ultradiversificados "chaebol". Esta elevada diversificação produtiva pode ser vista na Tabela 4. As General Trading Companies (GTC) são versões modificadas dos "Sogo Shosha" japoneses, que por sua vez, também são companhias de comércio integradas nas atividades industrial e financeira. Cinco grandes grupos coreanos foram criados em 1975 (Samsung Co. Ltd., Daewoo Industrial Co., Ssangyong Corporation, Kukje Corporation e Hanil Synthetic Fiber Company), recebendo facilidades governamentais para o estabelecimento de subsidiárias em outros países ou de corporações locais que deveriam funcionar como pontas de lança para a conquista de novos mercados. Em contrapartida, estes grupos deveriam atingir metas definidas pelo governo, como a de atingirem individualmente um valor mínimo de exportações fixado em US$ 100 milhões no ano de 1976 e de US$ 500 milhões para 1981. Estas companhias também deveriam proporcionar um suporte financeiro, técnico e gerencial para indústrias menores, no sentido de atuarem como agentes exportadores dos produtos destas empresas. 36 TABELA 4 - ATIVIDADES DOS CINCO MAIORES CONGLOMERADOS DA CORÉIA DO SUL -- 1981 NOME DO CONGLOMERADO Samsung Hyundai Daewoo Lucky-Goldstar Sunkyong PRINCIPAIS ATIVIDADES Eletrônica e Comunicações Construção e Engenharia Química Construção Naval Têxteis e Vestuários Serviços e Finanças Eletrônica e Comunicações Automóveis Construção e Engenharia Química Eletrônica e Comunicações Construção Naval Construção e Engenharia Têxteis e Vestuários Eletrônica e Comunicações Construção e Engenharia Química Petróleo e Energia Química Têxteis e Vestuário Construção e Engenharia Comércio Geral e Varejista Papel e Celulose Produtos Alimentícios Hotéis Autopeças Construção Naval Siderurgia Serviços e Finanças Comércio Geral Automóveis Maquinaria Comércio Geral Serviços e Finanças Comércio Geral e Varejista Serviços e Finanças Transmissão de TV Indústria Gráfica Comércio Geral Fibras Sintéticas Fonte: SUZIGAN, W. et alli. Reestruturação industrial e competitividade internacional. São Paulo: SEADE, 1989. A boa performance dos hiper-diversificados conglomerados sul-coreanos permitiu que durante o ano de 1981, os valores das exportações já fossem bem maiores (conforme podemos ver na Tabela 5), sendo que o faturamento médio dos dez maiores grupos superou a faixa dos US$ 900 milhões, o que representava 43,6% das exportações totais da Coréia do Sul. 37 TABELA 5 - VALOR DAS EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES POR COMPANHIA DA CORÉIA DO SUL -- 1981 NOME DA COMPANHIA (General Trading Company) VALOR DAS IMPORTAÇÕES (Milhões de US$) VALOR DAS EXPORTAÇÕES (Milhões de US$) Daewoo 211 1.904 Hyundai 207 1.722 Samsung 204 1.607 Kukjo 104 846 Hyosung 91 786 Ssangyong 193 758 Bando Trading 69 622 Sunkyung 787 585 Kumho 51 185 Korea Trading 29 84 TOTAIS % Em Relação ao Resto da Economia 1.947 9.099 7,4% 43,6% Fonte dos dados brutos: UNCTAD/GATT - The export performance of the Republic of Korea, 1961-1982, Genebra, 1984. 38 Em 1987, os quatro maiores grupos (Hyundai, Daewoo, Samsung e Lucky-Goldstar) apresentaram faturamentos individuais em torno de US$ 20 bilhões e, em conjunto, obtiveram um desempenho correspondente a 50% das exportações. Durante os anos 70, a siderurgia e a construção naval passaram a ser os grandes pólos de exportação de produtos e de tecnologia. E nos anos 80, o "upgrading" das indústrias eletrônica, química e automobilística foi o responsável pelas inovações apresentadas na fabricação e na aceitação pelos mercados externos de "chips" de memória, de automóveis inteiros, de video-cassetes de circuito único e de produtos derivados da química fina. Os "chaebol" também são considerados um importante elemento estrutural de organização industrial sul-coreana, pelo fato de serem conglomerados econômicos que interligavam indústrias com uma grande diversificação produtiva, viabilizaram enormes ganhos de escala, além de terem direcionado elevados recursos para a área de P&D. A participação direta do Estado na economia, excluído o sistema bancário, limitouse à siderurgia (a empresa estatal Pohang Steel é a única integradora de ferro e aço) e à construção civil além-mar, sendo que posteriormente, as atividades desta última foram repassadas para os "chaebol", que através de incentivos e do protecionismo governamental, assumiram todos os empreendimentos industriais e comerciais na Coréia do Sul. Característica comum a todos os grandes grupos é o fato de serem controlados por empresários que possuem estreitos vínculos políticos com o governo e por apresentarem uma estrutura funcional extremamente hierarquizada e baseada em uma rígida disciplina do trabalho. 39 A elevada concentração da propriedade industrial em um número reduzido de grandes grupos, apesar da enorme diversificação de áreas produtivas, tanto em setores relacionados tecnológica e comercialmente, como em ramos distintos, constituiu-se em um elemento favorável para a realização do rápido crescimento industrial orientado para as exportações, particularmente através: 1) de ganhos de produtividade decorrentes de uma maior internalização de externalidades entre atividades distintas; 2) da elevada interação técnica adquirida entre processos produtivos não contínuos e que envolvam habilidades diversificadas (podemos citar desde o exemplo clássico da Hyundai, onde a aprendizagem na pintura de automóveis foi desenvolvida pelo deslocamento de uma equipe com experiência em anticorrosão de navios, até a transferência da capacidade de gerência de sistemas complexos da indústria pesada para a construção naval); 3) do baixo custo dos investimentos iniciais em ramos distintos, decorrente da capacidade dos grandes grupos em desenvolver e transferir habilidades em estudos de viabilidade econômica, na formação de grupos de trabalho, na negociação com fornecedores externos de equipamentos e de tecnologia e no treinamento de mão-de-obra; 4) da eliminação da duplicação de esforços entre empresas e da redução dos tempos ociosos com alterações de processos produtivos não especializados; e 5) dos ganhos de escopo asssociados à redução dos riscos e da garantia de fornecimento e de vendas entre as empresas. 40 Uma característica dos "chaebol", distinta das empresas dos outros "tigres asiáticos", é de, desde cedo, buscarem o desenvolvimento de modelos próprios e a comercialização no mercado internacional com suas próprias marcas. Sob este aspecto, aproximam-se das empresa japonesas, sendo uma constante na literatura a respeito, o caso da Sony, que no início de sua trajetória, recusou uma encomenda para fabricar rádios transistorizados para a já famosa RCA norte-americana. Outra característica das empresas sul-coreanas, diretamente relacionada às estratégias de incentivo governamental, é de possuírem uma intensa rivalidade interna e uma enorme disposição de crescerem e de correrem riscos. Neste sentido, temos que a Hyundai e a Daewoo realizaram enormes investimentos na construção de grandes estaleiros, sem possuírem uma única encomenda; um outro exemplo nesta direção refere-se às empresas Sachan, SKC, Lucky-Goldstar e Kolon que possuem 25% do mercado mundial de video-cassetes e recentemente investiram na duplicação de suas fábricas. 3.3 - A Parceria Entre o Estado e a Iniciativa Privada O Estado sul-coreano tem desempenhado um importante papel no processo de desenvolvimento econômico e de capacitação tecnológica da indústria, basicamente através de empréstimos, subsídios e proteção do mercado interno concedidos à iniciativa privada, mas também através dos mecanismos de desvalorização cambial e de pesados investimentos em infra-estrutura, educação e na intermediação de recursos externos e nos licenciamentos de tecnologia. Durante todos os Planos Qüinqüenais de Desenvolvimento, o Estado foi o responsável pela definição dos setores-chave da economia, pelo estabelecimento de uma 41 infra-estrutura básica, bem como pela concessão de empréstimos, subsídios e licenças de importação. É de se notar que a característica de flexibilidade e de seletividade apresentadas pelo planejamento estatal foi original em relação a outros países em desenvolvimento, e alcançou resultados positivos ao exercer uma política de premiação da boa performance e de penalização dos maus desempenhos ("picking winners and punishing losers"). Esta política baseou-se nos contratos firmados com as empresas, onde a concessão de empréstimos e subsídios estava atrelada ao atingimento de metas tais como: aumento de produtividade; ampliação da capacidade produtiva; elevação de quotas de exportação; diversificação da produção; redução de preços locais; melhoria da qualidade e/ou de modernização tecnológica por parte dos grandes grupos. Se o Estado considerasse que um determinado "chaebol" não estava obtendo um desempenho industrial ou comercial condizente com o esperado, este perdia o apoio do governo e, principalmente, face ao controle estatal do crédito, caía em rápida decadência. Exemplos mais conhecidos são os dos conglomerados Kukje e Korea Shipbuilding & Enterprises cujos ativos foram divididos entre os demais "chaebol". O Estado sul-coreano apresentou um padrão de intervenção na economia que propiciou um rápido aprendizado tecnológico da estrutura industrial, tanto pelo estabelecimento de um sistema dinâmico de prêmios e castigos, associado a patamares de ocupação de mercado e de desenvolvimento tecnológico, bem como pelos elevados gastos estatais e privados em P&D. Outro fator preponderante no rápido aprendizado tecnológico das empresas sulcoreanas foi a intensa participação do governo nas negociações de "joint-ventures" com capitais estrangeiros, bem como na regulamentação e controle de todos os contratos de 42 transferência de tecnologia, onde sempre houve uma grande pressão governamental pelo ingresso massivo de novas tecnologias. O relacionamento Estado-capital estava calcado na estratégia do crescimento a qualquer custo. Se houvesse crescimento industrial, através da ocupação de mercados e do investimento tecnológico, a empresa poderia contar com todo o apoio do governo, caso contrário, poderia contar os dias para a sua exclusão do mercado. 3.4 - A Força de Trabalho e o Sistema Educacional O desenvolvimento de uma indústria exportadora de produtos de alta tecnologia não poderia estar baseado em indústrias intensivas em trabalho, mas primordialmente em setores produtivos intensivos em capital e em novas tecnologias produtivas e organizacionais. Assim, tornou-se necessária uma correspondente elevação dos níveis de educação e do treinamento técnico da mão-de-obra sul-coreana, com o intuito de qualificála e torna-lá altamente produtiva, capaz de gerar produtos competitivos a nível internacional. Neste sentido, a reforma educacional iniciada na década de 60 cumpriu um papel fundamental no sentido de elevar o nível de escolaridade e de qualificar uma mão-de-obra reconhecidamente disciplinada, de baixo custo e com um elevado número de horas de trabalho. Em 1992, o trabalhador sul-coreano possuia uma jornada média de aproximadamente 49 horas semanais (sendo extensiva até 60 horas por semana, desde que estabelecido em contrato de trabalho, e mediante o pagamento de horas-extras). Também existem férias remuneradas de 1 dia de folga por mês e mais 8 dias de férias por ano. 43 TABELA 6 - HORAS DE TRABALHO POR SEMANA NAS INDÚSTRIAS SUL-COREANAS -- 1987/92 ANOS HORAS DE TRABALHO POR SEMANA 1987 54,0 1988 52,6 1989 52,6 1990 50,7 1991 49,3 1992 48,7 Fonte: UNITED NATIONS / STATISTICAL DIVISION - Monthly Bulletin of Statistics, v.48, n. 5, mai. 1994. O desenvolvimento de ramos industriais, tais como, da indústria pesada, química e eletrônica, que dependem de um grande número de outras indústrias em função de seus inter-relacionamentos e de seus efeitos de interligação ("linkage effects"), criou uma demanda por uma mão-de-obra altamente especializada nos diversos ramos industriais instalados. Esta necessidade de trabalhadores qualificados foi satisfeita através do desenvolvimento de um sistema educacional que encorajava a especialização nas diversas áreas da engenharia, mediante a criação de escolas técnicas e de universidades, mantidas tanto pelo governo como por empresas privadas. 44 A Tabela 7, abaixo, fornece alguns dados relativos ao sistema educacional da Coréia do Sul (considerado na classificação do F.M.I. como um país em desenvolvimento de altas rendas), comparados com a situação do Brasil (exemplo de país em desenvolvimento com baixas rendas) e do Japão (país desenvolvido). Como podemos observar, os indicadores educacionais situam a Coréia do Sul em patamares superiores mesmo em relação a alguns países desenvolvidos, tal é a sua determinação em priorizar uma educação de elevada qualidade. Acrescente-se, ainda, que atualmente a rede de ensino da Coréia do Sul pode atender 9,6 milhões de estudantes, isto é, em torno de 20% da sua população. Um dos traços culturais sul-coreanos mais importantes, que é constantemente reforçado pelo processo de concorrência e de crescimento industrial, é o da dedicação à educação, e tanto o governo como a população mantêm a educação como uma das suas principais prioridades. Atualmente o país apresenta um alto índice de alfabetização e praticamente toda a população estuda até o nível secundário. Em relação ao ensino superior, distingue-se dos demais países em desenvolvimento pela ênfase dada à qualidade dos cursos técnicos e de engenharia, além de existirem fundos especiais para a realização de cursos de graduação, pós-graduação e doutorado no exterior, principalmente nos EUA. TABELA 7 - INDICADORES EDUCACIONAIS COMPARADOS - CORÉIA DO SUL, BRASIL E JAPÃO -- 1990 45 ITENS CORÉIA DO SUL BRASIL JAPÃO 43.582 150.368 123.457 440 18 327 4.400 2.550 23.730 3,7 18,9 0 Duração Educ. Compulsória (anos) 6 8 9 Duração Educação 1o. Grau (anos) 6 8 6 Duração Educação 2o. Grau (anos) 6 3 6 Qtde. Alunos/Professor 1o. Grau 36 24 22 Qtde. Alunos/Professor 2o. Grau 28 11 18 Qtde. Alunos 3o Grau/100.000 hab 3.781 1.031 2.117 Percentual Estudantes Área Humana 57 68 67 Percentual Estudantes Área Ciências 38 22 26 Percentual Estudantes Área Médica 05 10 07 23,2 17,7 16,8 População Total (milhões) Densidade Populacional (hab/km2) PNB per capita (US$) Índice de Analfabetismo (%) Percentual Gasto Públi. em Educação Fonte dos dados brutos: UNESCO. World Education Report - 1991, Paris, 1991. O processo de rápida absorção de tecnologia e a elevação da produtividade desta economia são creditados em grande parte ao aumento generalizado do nível educacional da população. Cabe ressaltar, no entanto, que o desenvolvimento da habilidade e da qualificação técnica da força de trabalho sul-coreana só pôde se transformar em uma componente de inovação tecnológica através do que se costuma denominar de "learning-bydoing". 46 Um melhor treinamento e uma maior qualificação do trabalhador passam por um aprendizado operacional adquirido em práticas concretas de produção, que na sua forma mais moderna, possui características inéditas de cooperação e de gestão da produção, bem como da constante internalização de novos conhecimentos tecnológicos e de técnicas de trabalho. Destacam-se entre as novas técnicas, a utilização da microeletrônica na instrumentação e no controle de processos, o uso de instrumental estatístico para a monitoração e controle da qualidade, além da aplicação dos métodos de organização da produção que venham a aumentar a flexibilidade e a produtividade industrial. Exemplos da elevada produtividade do trabalho, da qualidade e da disciplina da mão-de-obra sul-coreana manifestam-se nas freqüentes entregas antecipadas da produção, onde o caso mais comum é o da construção de petroleiros que, pela média mundial, possui um prazo de 30 meses para a sua construção, mas que os estaleiros da Hyundai, Samsung e Daewoo concluem em 18 meses. No próximo capítulo é feito uma avaliação de como o desenvolvimento tecnológico foi importante para o crescimento industrial sul-coreano, sendo analisadas as políticas de transferência de tecnologia e os incentivos à criação de institutos de C&T, bem como a evolução de dois setores industriais de alta tecnologia: a indústria de semi-condutores e a de robótica. 47 4 - O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO 4.1 - Políticas de Transferência de Tecnologia Desde 1962, a Coréia do Sul tem apresentado constantes melhoras nos seus indicadores de desenvolvimento econômico, desempenho este que está baseado na adoção de políticas governamentais que privilegiaram a industrialização, a capacitação tecnológica local e a exportação de produtos manufaturados intensivos em tecnologia. A década de 60 foi o período de formação dos alicerces para o desenvolvimento da Ciência e Tecnologia, quando foram criados o Instituto Coreano de C&T e o Ministério de C&T, além de ser o período onde se consolidaram as melhorias do padrão educacional (resultado do grande programa de alfabetização realizado no final dos anos 50), da formação de capital para a implantação das indústrias leves (intensivas em mão-de-obra), e das indústrias intensivas em tecnologia. Nesta década, os investimentos anuais em tecnologia representavam, aproximadamente, 0,3% do PIB, sendo prioritários o treinamento e a formação da mão-de-obra. Porém, esta época ainda estava marcada por um desenvolvimento tecnológico essencialmente dependente da imitação, da compra de "fábricas prontas" ("turn-key plants"), e da absorção de tecnologias embutidas nos produtos gerados por bens de capitais importados, principalmente do Japão. 48 Nos anos 70, com a maturação dos investimentos em infra-estrutura, da consolidação das indústrias de base e da expansão da base tecnológica, houve uma alteração do processo de industrialização baseado na substituição de importações por uma industrialização voltada para as exportações de bens de consumo manufaturados e para setores intensivos em capital e tecnologia, como as indústrias química e metal-mecânica. Nesta década, os gastos anuais em C&T variaram de 0,4% a 0,7% do PIB, tendo sido importantes as políticas de desenvolvimento da mão-de-obra, só que agora, voltadas para o desenvolvimento dos trabalhadores mais qualificados e dos engenheiros. Na década de 80, temos a consolidação das políticas de P&D, com desenvolvimento quantitativo e qualitativo de uma variada gama de tecnologias, onde as metas de estabilização do crescimento da economia e fortalecimento da competitividade internacional manifestaram-se nas elevadas exportações de semi-condutores, navios e carros completos. Neste período, houve incentivo governamental para a aplicação e criação de novas tecnologias por parte da iniciativa privada, sendo que foram realizados gastos correspondentes de 0,6 a 2% do PIB em C&T. Com a acelerada perda de vantagens produtivas baseada no baixo custo da sua mãode-obra (também em função de disputas trabalhistas), das condições adversas dos contratos de licenciamento de tecnologias e das crescentes barreiras comerciais, as empresas sulcoreanas têm buscado a inserção em mercados cujos produtos sejam tecnologicamente mais sofisticados e que possuam valores agregados mais elevados. Neste sentido, tem-se observado um crescimento no número de pesquisadores e um incremento acelerado dos gastos com C&T, tanto por parte do governo, quanto da iniciativa privada. A Tabela 8 permite que se faça uma comparação da evolução do quantitativo de pesquisadores entre alguns países, sendo que a Coréia do Sul é a nação que apresenta 49 maiores crescimentos percentuais nos períodos considerados e possui valores absolutos semelhantes aos dos paises desenvolvidos. TABELA 8 - QUANTIDADE DE CIENTISTAS E ENGENHEIROS DE C&T EM ALGUNS PAÍSES -- 1970/88 CIENTISTAS E ENGENHEIROS DE C&T (por milhão de habitantes) PAÍSES Taxa de Crescimento 1970-80 (%) 1970 1980 176 484 175,0 1.325 173,8 Alemanha 1.492 2.019 35,3 2.724 34,9 Argentina 271 336 23,9 352 4,76 Espanha 173 366 111,6 536 46,4 EUA 2.679 2.892 7,9 3.317 14,7 Itália 513 833 62,4 1.233 48,0 Japão 2.864 3.777 31,9 5.029 33,1 Coréia do Sul 1988 Taxa de Crescimento 1980-88 (%) Fonte dos dados brutos: UNITED NATIONS. World Education Report 1991. Nova Iorque, 1993. A Tabela 9 mostra o crescimento dos investimentos em C&T e a troca de posições entre governo e iniciativa privada, em relação aos percentuais de recursos investidos nestas atividades. 50 Uma característica dos investimentos realizados com P&D é de que estes recursos têm crescido anualmente em volume e em relação ao PIB, sendo que durante as décadas de 60 e 70, era o Estado quem desembolsava a maioria dos recursos alocados para estas atividades (chegando a representar 90% dos gastos totais em 1965). A partir da década de 80 há uma inversão desta situação, quando a iniciativa privada passa a ocupar esta função (participando com 81% dos gastos totais em 1985). TABELA 9 - GASTOS COM PESQUISA E DESENVOLVIMENTO NA CORÉIA DO SUL -- 1965/85 ANOS GASTOS (Bilhões de Wons) % DO PIB SETOR PÚBLICO / SETOR PRIVADO 1965 2,1 0,26 90 / 10 1970 10,5 0,38 71 / 29 1975 42,7 0,42 67 / 33 1980 211,7 0,57 52 / 48 1983 621,7 1,06 27 / 73 1985 1.155,2 1,59 19 / 81 Fonte: Estudos BNDES. Coréia do Sul: A Importância de uma Política Industrial, jun. 1988. Característica importante do desenvolvimento tecnológico sul-coreano foi a seletividade e elevada interferência governamental em relação aos processos de aquisição de tecnologias do exterior, sempre orientados conforme as metas de industrialização estabelecidas nos Planos de Desenvolvimento. 51 Além do governo sul-coreano participar ativamente das negociações com os fornecedores externos, outros fatores também concorreram para o êxito desta estratégia: a existência de uma legislação sobre licenciamentos de tecnologia que proibia as cláusulas contratuais restritivas ao uso de tecnologia ou com restrições às exportações; o estabelecimento de limites para o envio de "royalties" (que não poderiam exceder a 3% do valor das vendas); a prioridade aos projetos voltados para a exportação; o estabelecimento de prazos máximos para a vigência de contratos (duração máxima era de 3 anos); e a exigência de comprovações de repasse de conteúdos significativos dos processos industriais. Esta legislação levou o governo a monitorar os ingressos de tecnologia, de tal forma, que até mesmo as atividades de "aprendizado reverso" eram controladas pelo Estado. Entretanto, houve uma evolução neste processo, conforme podemos observar na Tabela 10, onde a partir do final dos anos 70, há uma maior liberalização e simplificação dos processos de aprovação de licenciamentos de tecnologia. 52 TABELA 10 - EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS DE APROVAÇÃO DE IMPORTAÇÃO DE TECNOLOGIA NA CORÉIA DO SUL -- 1978/88 ESTÁGIO TIPO DE APROVAÇÃO INDÚSTRIAS ENVOLVIDAS Estágio 1 - 1978 Aprovação automática para: Maquinarias - menos de US$ 30 mil de remessa de lucros Construção Naval - menos de 3% de taxa de royalties - menos de 3 anos de duração do contrato - menos de US$100 mil de retorno de Elétricas Eletrônicas Têxteis e Químicas capital Estágio 2 - 1979 Aprovação automática para: Exceto Energia Nuclear - menos de US$ 500 mil de remessa lucros - menos de 10% de taxa de royalties - menos de 10 anos de duração do contrato Estágio 3 - 1980 Aprovação automática para: Todas as Indústrias - menos de 10% de taxa de royalties - menos de 10 anos de duração do contrato Estágio 4- 1982 A autoridade sobre a aprovação foi totalmente transferida para o ministro do respectivo Ministério envolvido Todas as Indústrias Estágio 5 - 1984 Os procedimentos de aprovação foram substituídos por procedimentos de notificação. Todas as Indústrias Estágio 6 - 1986 Permitida a introdução de marcas registradas Todas as Indústrias Estágio 7 - 1988 Exceto para aqueles projetos com mais de 3 anos de duração, US$ 100 mil de retorno de capital e 2% de taxa de royalties. Todas as Indústrias Fonte: UNCTAD. Technology Transfer in a Changing International Environment: Policy Challenges and Options For Cooperation. Nova Iorque, 1992. 53 4.2 - Os Institutos de Pesquisa e Desenvolvimento Outro fator de destaque da regulação do governo sobre os investimentos de P&D foi a criação no final dos anos 60 de institutos de pesquisa estatais. Estes institutos sempre estiveram voltados para o desenvolvimento tecnológico em áreas relacionadas com a produção dos "chaebol", sendo que esta estreita colaboração advinha do fato de que significativas parcelas de recursos provinham dos conglomerados privados. Todos os produtos desenvolvidos nos centros de pesquisa eram resultado da tentativa de promover a capacidade técnica das indústrias sul-coreanas, sendo que aqueles produtos desenvolvidos com tecnologia própria recebiam incentivos governamentais adicionais durante a sua etapa de produção para o mercado mas, para tanto, deveriam obedecer alguns critérios, tais como: a tecnologia e a patente deveriam ser sul-coreanos; deveria haver uma utilização mínima de 60% de componentes de origem local; não poderiam ser utilizados componentes estrangeiros nas funções críticas; e a qualidade destes produtos deveria ser atestada por órgão independente. Em 1993, as duas instituições de financiamento de P&D mais importantes da Coréia do Sul eram a Korea Technology Development Corporation (KTDC) e a Korea Technology Finance Corporation (KTFC). A KTDC é uma empresas privada cujo principal critério para o financiamento de um projeto é o da lucratividade, e cujas prioridades estão nas áreas de máquinas e equipamentos, eletroeletrônicos, química fina e engenharia genética. Já, a KTFC é uma empresa pública, subordinada ao Banco de Desenvolvimento da Coréia, que realiza estudos de viabilidade técnica, investimentos e empréstimos para as atividades ligadas à C&T. 54 Conforme estipulado pelo 6º. Plano Qüinqüenal de Desenvolvimento, os gastos com P&D para 1991 ficaram situados em torno de 3% do PIB, e as áreas de destaque foram aquelas relacionadas com a: a) microeletrônica, b) telecomunicações, c) tecnologias de informação, d) informática, e) robótica, f) química fina, g) novos materiais, h) engenharia genética, i) ciências médicas, j) tecnologias de controle ambiental, l) tecnologias de energia e recursos naturais, e m) tecnologias industriais. Os diversos institutos de pesquisa e desenvolvimento criados pelas empresas sulcoreanas (atualmente a Hyundai possui mais de 30 centros de P&D), não se localizam apenas na Coréia do Sul, mas também em alguns países desenvolvidos onde se originam as tecnologias mais modernas, como o s EUA, Japão, Alemanha e França, aonde já apresentaram resultados significativos nas áreas de engenharia genética, automação da produção e novos materiais. Esta estratégia de promoção da cooperação técnica internacional visa a suprir algumas das reconhecidas lacunas tecnológicas e de investimentos, e está inserida nos limites da pesquisa da ciência e da tecnologia, que cada vez mais requer investimentos de larga escala, deve ser sistemática e possuir uma estrutura 55 complexa e interdisciplinar. Associado a este item, o governo sul-coreano utiliza os mesmos incentivos que estão à disposição das empresas nacionais para atrair institutos de pesquisa e desenvolvimento de países desenvolvidos. Com o objetivo de facilitar a promoção e a difusão de novas tecnologias, principalmente entre as pequenas e médias indústrias, o governo sul-coreano criou o Small and Medium Industry Promotion Corporation que tem por objetivo prestar assistência técnica e viabilizar consultorias técnicas estrangeiras. Como forma de tornar disponíveis informações sobre patentes domésticas e estrangeiras, bem como publicações técnicas, foi criado o Korea Institute for Economics and Technology, que é o centro nacional de referência sobre informações técnicas e industriais. Este instituto possui a mais completa base de dados informatizada nacional, onde as pesquisas e as recuperações de informações são feitas de forma "on-line" (com retorno imediato dos dados localizados no computador), além de possuir interligação com redes de comunicação de dados internacionais. 4.3 - As Cidades de C&T Ainda na área de C&T, é destaque a programação do governo sul-coreano em criar mais duas "cidades de P&D", onde a exemplo da Daeduk Science Town (localizada a 80 Km ao sul de Seul), existiriam centros de pesquisa básica onde a mais atualizada literatura científica e tecnológica estaria disponível para os pesquisadores, juntamente com empresas de base tecnológica e alguns poucos fornecedores essenciais. 56 Estas cidades de incubação tecnológica têm como modelo os parques tecnológicos dos EUA (como o Vale do Silício na Califórnia, o Complexo da Rota 128 em Boston e o Parque de Pesquisa Triângulo na Carolina do Norte), que reúnem institutos de pesquisa governamentais, universidades e empresas privadas com o objetivo de desenvolverem produtos de alta tecnologia para os mercados mundiais. O parque de C&T denominado Daeduk Science Town ocupa uma área de 57 Km2, onde estão instalados 13 institutos de pesquisa governamentais, 3 institutos de pesquisa privados, 3 universidades e 3 escolas profissionais. As empresas que pretendem usufruir das vantagens da proximidade com estas instituições dedicadas à P&D e da cooperação em projetos de pesquisa a custos relativamente baixos, devem adquirir uma área mínima de 4.300 m2, investir um determinado percentual das vendas em P&D e empregar um percentual específico da mão-de-obra com cientistas e engenheiros. Com o objetivo de obter maiores resultados com a exportação de produtos e serviços criados pelas companhias aí instaladas, este centro tecnológico busca criar um ambiente propício ao desenvolvimento de tipos específicos de tecnologia, também sendo responsável pela transferência de tecnologia para as pequenas empresas atraídas para o local. Outra característica deste centro tecnológico é o esforço em estimular a transferência de tecnologia externa através do retorno de cientistas e engenheiros sul-coreanos que obtiveram a sua formação no exterior (principalmente nos EUA), e que não retornaram à Coréia do Sul. Com estas cidades de C&T a Coréia do Sul pretende terminar com a era da cópia de tecnologias e desenvolver técnicas e tecnologias próprias que permitam a geração de produtos inteiramente novos para os mercados internacionais. 57 4.4 - A Indústria de Semi-Condutores A indústria de semi-condutores está intimamente relacionada com a revolução da microeletrônica e da computação (sendo considerado um setor cuja tecnologia faz parte dos novos paradigmas tecnológicos, juntamente com a biotecnologia, os novos materiais e a robótica). Essa indústria apresenta como principal característica uma elevada concentração industrial, com o predomínio de empresas norte-americanas e japonesas (Intel, Motorola, NEC, Toshiba, etc), além de apresentar uma dinâmica própria, onde as maiores empresas têm se revesado na ocupação dos primeiros lugares em termos de produção mundial. Conforme podemos verificar na Tabela 11, este também é um setor onde as empresas sul-coreanas têm apresentado um desempenho significativo, considerando que esta é uma "tecnologia de ponta" e sabendo que a Coréia do Sul é responsável, hoje em dia, por mais da 50% da produção mundial de DRAM (Dynamic Random Access Memory), um componente essencial da eletrônica digital. O destaque da área fica por conta da Samsung, que têm investido maciçamente neste setor e teve um faturamento de US$ 1 bilhão em 1989. Conforme dados da Integrated Circuits Engineering Corporation, ocupou o décimo lugar na lista das 10 maiores empresas em 1993. Vindo a ocupar o lugar da Phillips, único representante europeu que constava desta relação. 58 TABELA 11 - AS MAIORES EMPRESAS DE SEMI-CONDUTORES NO MUNDO -- 1983/93 (Vendas em Milhões de US$) 1983 1988 1993 (previsão) Ranking Companhia País Vendas Companhia País Vendas Companhia País Vendas 1º. Texas Instr. EUA 2.350 NEC Japão 4.650 Toshiba Japão 7.400 2º. Motorola EUA 1.255 Toshiba Japão 4.545 NEC Japão 7.300 3º. NEC Japão 1.985 Hitachi Japão 3.610 Hitachi Japão 5.700 4º. Hitachi Japão 1.690 Motorola EUA 2.900 Texas Instr. EUA 4.100 5º. Toshiba Japão 1.460 Texas Instr. EUA 2.750 Motorola EUA 3.900 6º. National EUA 1.270 Intel EUA 2.330 Mitsubishi Japão 3.700 7º. Intel EUA 1.170 Matsushita Japão 2.080 Fujitsu Japão 3.600 8º. Phillips Holanda 1.150 Fujitsu Japão 2.075 Intel EUA 3.400 9º. AMD EUA 930 Phillips Holanda 2.010 Matsushita Japão 3.300 10º. Fujitsu Japão 815 Mitsubishi Japão 1.940 Samsung Coréia Sul 3.200 Fonte: UNIDO. Industry and Development Global Report. Viena, out. 1989. 59 As maiores companhias produtoras de semi-condutores, do hemisfério sul, são todas sul-coreanas, sendo que em 1992 a Goldstar investiu US$ 2,2 bilhões na construção de uma nova fábrica e a Hyundai anunciou investimentos de US$ 1,5 bilhões neste setor para o período 1990-1995. E esta última empresa apresenta percentuais cada vez maiores de recursos investidos em C&T (em 1988 investia 25% do valor das vendas em desenvolvimento de tecnologia própria). A produção destas três empresas está detalhada na Tabela 12, onde podemos observar que o rápido progresso e o sucesso de vendas está baseado em componentes básicos da cadeia da microeletrônica, não participando com tanto destaque na área de microprocessadores e de circuitos integrados de aplicações específicas, considerados o "estado-da-arte" do setor. TABELA 12 - OS MAIORES FABRICANTES DE SEMI-CONDUTORES DO HEMISFÉRIO SUL -- 1988 COMPANHIA PAÍS VENDAS (Milhões de US$) PRODUTOS Samsung Coréia do Sul 955 Hyundai Coréia do Sul 200 Goldstar Coréia do Sul 190 Semi-condutores discretos, CMOS, EEPROMs, SRAMs, DRAMS e MPUs SRAMs, DRAMs e EPROMs Semi-condutores discretos, CIs Lineares, TTLs, Z80 MPUs, CMOS, ROMs, SRAMs e DRAMs Fonte: UNIDO. Industry and Development Global Report. Viena, out. 1989. 60 Cabe ressaltar, no entanto, que a Coréia do Sul ocupa um lugar intermediário, entre os EUA, Japão e alguns países do Oeste Europeu (que dominam a fabricação dos "waffers"de silício), e todos os outros países, que na maioria dos casos, estão limitados a realizar etapas de testes, montagem e encapsulamento dos semi-condutores. Em virtude das recentes e crescentes dificuldades impostas pelos fabricantes norteamericanos e japoneses aos processos de licenciamento e de transferência de tecnologia neste setor, as empresas sul-coreanas têm investido na ampliação de seu corpo de pesquisadores de C&T, bem como na formação de consórcios (patrocinados pelo governo), para que a cooperação e a união de esforços entre as empresas possam reduzir os elevados custos de pesquisa, permitindo elevar o seu nível de competitividade. Estes projetos possuem uma orientação comercial de curto prazo e envolvem a maioria dos fabricantes de manufaturas eletrônicas do país. Tais projetos receberam investimentos governamentais de US$ 226 milhões, no período de 1986 a 1990, contando com a participação dos principais "chaebol", como Daewoo, Goldstar, Hyundai, Korea Electronics Company e Samsung, bem como do Instituto de Pesquisa em Tecnologia Eletrônica. A produção de semi-condutores sul-coreanos está voltada tanto para o abastecimento do mercado interno quanto para a exportação. A tabela 13, mostra como estava estruturada a produção e a exportação de semi-condutores em Janeiro/1989 na Coréia do Sul. 61 TABELA 13 - PRODUÇÃO E EXPORTAÇÃO DOS MAIORES FABRICANTES DE SEMI-CONDUTORES SUL-COREANOS -- JANEIRO/1989 COMPANHIA PRODUÇÃO PERCENTUAL EXPORTADO DESTINO DAS EXPORTAÇÕES Samsung 7 milhões de DRAMs 400 mil SRAMs 40% EUA 60% 450 mil SRAMs 6 milhões DRAMs 80% 100% 2,7 milhões SRAMs 100% Europa (30%) Sudeste Asiático (20%) Argentina, Brasil e Japão (10%) EUA EUA (90%) Europa (10%) Ásia (47%) EUA (29%) Europa (24%) Goldstar Hyundai Fonte: UNIDO. Industry and Development Global Report. Viena, out. 1989. 4.5 - A Indústria Robótica Em 1976 a Coréia do Sul iniciou o emprego de robôs nos seus processos industriais, tanto através da compra direta, como pela fabricação própria mediante a transferência de tecnologia. O Japão é o seu principal fornecedor, sendo também o único país de onde provém um fluxo de tecnologia nesta área. Este fato, associado à capacidade de rápido aprendizado tecnológico das empresas sul-coreanas, permitiu que em 1987 houvesse a instalação de 155 robôs fabricados na própria Coréia do Sul. A Tabela 14, abaixo, nos fornece um panorama sobre o número de robôs instalados, além de uma visualização do perfil da origem e dos tipos de robôs. É de se destacar que os 62 88 robôs sul-coreanos foram desenvolvidos através de capacitação tecnológica própria, não só com robôs de sequência fixa (que não são incluídos, juntamente com os de operação manual, na classificação de robôs industriais pela ISO - International Standard Organization), mas também das classes mais avançadas, como os de tipo "play-back", "numeric-control" e, inclusive, robôs inteligentes. TABELA 14 - QUANTIDADE DE ROBÔS POR PAÍS DE ORIGEM E TIPO NA CORÉIA DO SUL -- 1977/87 PAÍS DE ORIGEM TIPO DE ROBÔ Japão EUA Coréia do Sul Outros TOTAL Op. Manual 6 - - 4 10 Seq. Fixa 202 140 24 3 369 Seq. Variável. 23 - - 3 26 Play-Back 259 - 53 - 312 Num. Control 52 10 9 20 91 Inteligente 22 - 2 - 24 Total 564 150 88 30 832 Fonte: Brandão, Marco A. L. & SELEGHIN, Paulo. Robótica na Coréia do Sul. Revista de Economia Política, v. 12, n. 1, jan./mar. 1992. Como podemos constatar na Tabela 15, os robôs industriais têm sido utilizados em larga escala basicamente nas indústrias automobilística e eletroeletrônica. 63 TABELA 15 - QUANTIDADE DE ROBÔS INSTALADOS POR TIPO DE INDÚSTRIA NA CORÉIA DO SUL -- 1977/87 QUANTIDADE DE ROBÔS INSTALADOS POR TIPO DE INDÚSTRIA ANOS Automobilística EletroEletrônica Instrum. Precisão Todas as Outras Total Acumulado 1977 - - 19 - 19 1978 - - - - 19 1979 2 - - - 21 1980 - 13 - - 34 1981 - - 1 1 36 1982 4 106 13 57 216 1983 3 16 - 1 236 1984 29 51 8 5 329 1985 65 220 62 6 682 1986 146 38 16 55 937 1987 239 14 4 53 1.247 TOTAL 488 458 123 178 1.247 Fonte dos dados brutos: Brandão, Marco A. L. & SELEGHIN, Paulo. Robótica na Coréia do Sul. Revista de Economia Política, v.12, n. 1, jan./mar. 1992. 64 Em 1988 94% da produção de robôs estava restrita a sete países (Japão, EUA, Inglaterra, Alemanha, França, Itália e Suécia), portanto, é destaque a produção de robôs sulcoreana, que no ano de 1987 representou quase 13% das sua base instalada. Conforme dados do Ministério da Indústria e Comércio da Coréia do Sul em 1990 estavam sendo utilizados 3.500 robôs pelas diversas indústrias sul-coreanas. Assim, vimos que o desenvolvimento tecnológico da Coréia do Sul é resultado de políticas industriais de longo prazo, sendo que apresenta um elevado nível de diversificação e uma crescente endogeneidade tecnológica, constituindo-se em um dos fundamentos do crescimento industrial sul-coreano. 65 CONCLUSÃO Nos últimos anos, tanto nos meios de comunicação de massa, quanto no meio acadêmico, têm surgido referências ao ajustamento e conseqüente desenvolvimento econômico de alguns países latino-americanos (como México, Argentina e Chile), dos "Tigres Asiáticos" (Coréia do Sul, Cingapura, Taiwan e Hong-Kong), e mais recentemente dos "Novos Tigre Asiáticos" (Indonésia, Malásia e Tailândia). Associado a estas referências, assiste-se a tentativas de obter possíveis "lições" para o Brasil, no sentido de que a cópia ou a adaptação de pontos da experiência sul-coreana poderiam direcionar o Brasil para um novo caminho de desenvolvimento, rumo à "modernidade" e à "competitividade industrial". Em alguns meios acadêmicos e políticos freqüentemente se credita o desempenho econômico destas nações a fatores tais como: a redução do Estado, a privatização de empresas, a liberalização comercial e a aplicação de regras ortodoxas na gestão da economia. Porém, ao analisarmos o processo de industrialização da Coréia do Sul, podemos verificar que o seu "milagre econômico" foi estruturado principalmente a partir de uma complexa estratégia de desenvolvimento industrial e de uma intensa intervenção estatal. A estratégia de desenvolvimento industrial foi implementada através dos Planos Qüinqüenais, elaborados e postos em ação pelo Estado sul-coreano, além deste também ser 66 o agente responsável pela definição de setores-chaves, de proteção à indústria nascente, de subsídio à aprendizagem tecnológica e de incentivo à inserção internacional através da prioridade às exportações. Apesar de alguns autores defenderem a posição de que o desempenho da economia sul-coreana poderia ter sido superior se a intervenção estatal fosse em menor escala, ou mesmo, se não tivesse existido, o presente trabalho deixa evidente as ligações entre o crescimento econômico e as políticas de desenvolvimento industrial implementadas e monitoradas pelo Estado. Com o objetivo de organizar os argumentos que sustentam a análise do modelo de desenvolvimento econômico sul-coreano, é oportuno enumerar as principais características do processo de organização industrial e de desenvolvimento tecnológico desse país: Em primeiro lugar, a experiência sul-coreana demonstra a viabilidade de políticas industriais e de modelos de industrialização que contemplam a proteção às indústrias nascentes, desde que limitadas a algumas indústrias e por um determinado período de tempo (conforme demonstrado nos Planos Qüinqüenais). A ausência de temporalidade leva ao risco destas permanecerem indefinidamente protegidas e incapazes de enfrentar a concorrência internacional. Em segundo lugar, o Estado sul-coreano adotou políticas seletivas e temporárias de promoção industrial, onde os incentivos fiscais, de crédito subsidiado e de licenças de importações sempre estavam atrelados ao cumprimento de metas de exportação e de internacionalização de padrões de produtividade e de qualidade da produção. 67 Em terceiro lugar, a Coréia do Sul que iniciou o seu processo de industrialização a partir do tradicional modelo de substituição de importações, passou a atrair o capital e tecnologias estrangeiros através da implantação de ZPEs e, depois, deu ênfase à exportação de manufaturas a partir de seus conglomerados econômicos Adotou ainda uma política seletiva em relação às importações, com o intuito de proporcionar o acesso a insumos internacionais baratos àquelas indústrias exportadoras consideradas "vitais" em determinado período. Em quarto lugar, a definição e a implantação de políticas industriais eficazes na Coréia do Sul está intimamente relacionada à existência de uma burocracia estatal altamente competente, motivada, não corrupta e com conhecimentos de economia industrial e de processos de transferência de tecnologia. Este corpo técnico foi capaz de monitorar os resultados obtidos a partir das políticas temporárias de promoção setorial e de realizar os ajustes provocados por mudanças nos cenários internacionais e locais. Em quinto lugar, o Estado sul-coreano fomentou uma inovação organizacional que, baseada nos "Keiretsu" (grupos industriais) e nos "Sogo Shosha"(companhias trading) do Japão, deu origem aos "Chaebol", as conhecidas e ultra-diversificadas corporações industriais e comerciais sul-coreanas, de forma a superar as deficiências de capital e de viabilizar um rápido aprendizado tecnológico (pela aquisição de vantagens comparativas dinâmicas). Os principais "chaebol", Daewoo, Hyundai e Samsung, produzem uma gama variada de produtos, onde destacam-se na produção de navios, automóveis, computadores, satélites de comunicações, circuitos integrados, "turn-key plants" para outros países asiáticos, além de também investirem em projetos petroquímicos, em hidrelétricas, na robótica e em novos materiais. 68 Em sexto lugar, a Coréia do Sul pôde realizar uma política de investimentos e de subsídios, além de evitar grandes flutuações cambiais, através do controle sobre os fluxos de capitais estrangeiros (a grande maioria dos empréstimos externos eram de governo a governo), e da estatização dos bancos comerciais e de desenvolvimento, em escala superior e por um maior período de tempo do que outros países da região; Em sétimo lugar, o governo sul-coreano promoveu uma excepcional melhoria nos padrões educacionais e de treinamento profissional da população, de forma a obter vantagens comparativas na produção de bens de alto valor agregado (de alta tecnologia), intensivos em tecnologia e mão-de-obra qualificada; Em oitavo lugar, os incisivos incentivos à capacitação tecnológica, constantes nos últimos Planos Qüinqüenais, conduziram à uma reestruturação industrial com "upgrading" na eletrônica e na automobilística. Esses incentivos garantiram a inserção das indústrias sulcoreanas em mercados internacionais, baseadas em um dinamismo tecnológico e de mercado próprios e não, simplesmente, na existência de matérias-primas (no caso, raras) ou na mão-de-obra de baixa qualificação e barata; Em nono lugar, soube aproveitar as barreiras comerciais impostas ao Japão pelos EUA, durante toda a década de 80, quando obteve investimentos e grandes repasses de tecnologia japoneses com o objetivo de estabelecer um comércio triangular entre estes países; Em décimo lugar, um fator que deve ter facilitado a lucratividade e competitividade das empresas sul-coreanas foi a promoção pelo Estado sul-coreano de um rígido controle da mão-de-obra, disciplinando duramente o trabalho, proibindo greves e exigindo longas jornadas de trabalho; 69 Tanto as políticas industriais adotadas, quanto as medidas complementares (de incentivos fiscais e de subsídios ao crédito) existentes na Coréia do Sul, só podem ser compreendidas se analisadas as suas componentes internas, quais sejam: a) políticas - governos militares autoritários, implantados após uma guerra civil que envolveu as grandes nações da época (EUA e URSS), que exerceram um rígido controle, tanto do Capital (pela definição e monitoração de recursos), quanto do Trabalho (baixos salários e legislação trabalhista incipiente), e existência de movimentos pró-unificação das duas Coréias; b) sociais - mercado interno reduzido (apesar da existência de alta densidade demográfica), total homogeneidade racial e elevados padrões educacionais; c) culturais - tradição confucionista de valorização da educação e do trabalho e da supremacia da harmonia sobre a discussão; d) dinâmica industrial interna - atrativa para os investimentos externos de longo prazo, principlamente japoneses e norte-americanos; e com características modernas de administração da produção (tipo Just-in-Time, Kanban, CCQ, etc), absorvidas basicamente através dos investimentos japoneses; e) situação geo-política - no caso, destacam-se a divisão da Coréia em dois países e a ocupação militar norte-americana, consequências da Guerra da Coréia; a permanente tensão com a Coréia do Norte (crise nuclear), e as políticas de empréstimos a fundo perdido resultantes do período de "Guerra Fria". 70 Desta forma, podemos afirmar que o atual processo de abertura e de liberalização econômico na Coréia do Sul está sustentado por um elevado nível de desenvolvimento econômico e social, pela existência de grandes grupos industriais modernos, ocupando significativas fatias de mercados internacionais considerados "nobres", e pela existência de um Estado competente e promotor ativo do desenvolvimento em P&D. O desempenho exportador de uma nação não é um referencial para medirmos o seu crescimento econômico, visto que o dinamismo exportador de algumas economias latinoamericanas está fundado em seguidas desvalorizações cambiais, em uma produção industrial "maquiadora", em uma exacerbada exploração da mão-de-obra e/ou na dilapidação de seus recursos naturais. Estas nações, diferentemente da Coréia do Sul, não possuem nenhuma preocupação com a criação de uma base industrial auto-sustentada, isto é, com o estabelecimento de uma dinâmica inter-industrial e de uma base tecnológica própria. Finalmente, também podemos concluir que não existem "lições" diretas a serem tomadas com as experiências de "ajustamento" ou de "modernização" de outras economias, sem que seja feito uma análise prévia das ideologias e dos interesses subjacentes às análises sobre políticas de desenvolvimento econômico e sem que sejam definidas as peculiaridades e as especificidades de cada economia A partir do estudo da organização industrial e do desenvolvimento tecnológico sulcoreano nas últimas três décadas pode-se afirmar que: Os "chaebol" (grandes conglomerados privados industriais) são uma forma de organização peculiar à Coréia do Sul, sendo que tornaram-se competitivos internacionalmente graças à atuação interventora do Estado, que através da coordenação de 71 ativas políticas industriais e do controle sobre todas as formas de crédito, permitiu que estas empresas obtivessem enormes economias de escala e proporcionassem a expansão das exportações, a diversificação da produção industrial e a absorção de tecnologias estrangeiras. O processo de capacitação tecnológica foi extremamente rápido e bem-sucedido, sendo que este foi sustentado pelas políticas industriais e de transferência de tecnologia implantadas pelo Estado sul-coreano e por um estratégia de investimentos em C&T e de desenvolvimento de recursos humanos que produziram os elevados níveis de adaptação de tecnologias estrangeiras e de desenvolvimento endógeno de tecnologia. 72 MAPA 1 - ÁSIA 73 MAPA 2 - ÁSIA ORIENTAL 74 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGOSIN, Manuel R.. Política comercial en los paises dinamicos de Asia: Aplicaciones a America Latina. Desarollo Economico. Buenos Aires, v.33, n.131, out./dez. 1993, p.355-375. AMSDEN, Alice H. A difusão do desenvolvimento: o modelo de industrialização tardia e a grande Ásia oriental. Revista de Economia Política, v.12, n.1, jan./mar. 1992, p. 133140. ----------. Why isn't the whole world experiencing with the East Asian model to develop?: Review of the East Asian miracle. 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