Espiritualidade e Internet
Semana Teológica – ITESC
Florianópolis, 26-30/09/2011
Prof. Dr. Pe. Pedro Gilberto Gomes,sj
Roteiro
• I. Globalização, Comunicação e Tecnologia
• II. Processos Midiáticos e Construção de
Novas Religiosidades
• III. Espiritualidade e Internet
1. O problema
– o mundo assiste a uma verdadeira revolução no
sistema de comunicação
– Frente ao problema, as opiniões divergem
– Essa existência se impõe de maneira violenta e
definitiva para todos aqueles que, na Igreja,
dedicam-se ao trabalho pastoral.
– A inculturação exige que se compreenda o que
está acontecendo
2. A Globalização
• Pensar em termos “globais”
• A passagem do “internacional” para o “global”
efetuou-se rapidamente
• Globalização e regionalização são as duas faces
de um mesmo fenômeno
3. Os desafios da tecnologia
– pensar o problema no interior de uma sociedade
de informação
– o avanço tecnológico e o impacto econômico
– desafios de ordem ética, política, jurídica e de
sociedade
4. Conseqüências em nível de
sociedade e de indivíduos
– conseqüências são de duas ordens: em nível do
indivíduo e em nível da comunidade
– uma nova forma de interface entre o homem e a
máquina
– controle da informação possibilita a integridade
nacional; a ausência desse controle abre a porta à
infopoluição, à infotoxicação e ao assédio
informacional.
4. Conseqüências em nível de
sociedade e de indivíduos(cont.)
– Características do novo paradigma da
informação:
• A matéria prima é a informação
• As novas tecnologias têm efeito sobre nossa
existência individual
• A lógica é de uma complexidade de interação
crescente
• Sistema flexível
• Convergência das distintas tecnologias num sistema
integrado.
4. Conseqüências em nível de
sociedade e de indivíduos(cont.)
– É um sistema onde a realidade é capturada por
completo, submersa num cenário de imagens
virtuais, no mundo de fazer crer, no qual as
aparências não estão só na tela, através da qual
a experiência é comunicada, mas que se
converte na experiência.
– O sistema de multimídia reproduz a lógica
binária: aparecer ou não aparecer dos meios
tradicionais.
5. Conseqüências em nível de
sociedade e de indivíduos(cont.)
– O preço que se paga pela inclusão no sistema é
adaptar-se a sua lógica, a suas linguagens, a
seus pontos de entrada, a sua codificação e
decodificação.
– Um dos elementos fundamentais que se deve
analisar para entender esta década é a
identidade.
– As identidades organizam o sentido.
5. Conseqüências em nível de
sociedade e de indivíduos(cont.)
– A ascensão da sociedade em rede questiona os
processos de construção da identidade durante
este período, com o qual se induz novas formas
de mudança social.
– Enquanto a identidade legitimadora entre em
crise, as identidades de resistência são a forma
atual de construir identidade.
– As identidades de projeto parecem surgir das
identidades de resistência.
II. Processos Midiáticos e
Construção de Novas
Religiosidades
• O problema
• A situação atual
1. O problema
• Um fenômeno bastante comum hoje: a
apropriação de campos midiáticos pelo espaço
religioso.
• Deslocamento do espaço tradicional dos templos
para um campo aberto e multidimensional.
• Mudanças de duas ordens: do ministro e seus
acólitos, e dos fiéis.
1. O problema(cont.)
• O deslocamento identificado parece ter a sua
explicação no desencanto moderno com as formas
tradicionais das Igrejas Históricas.
• Seus cultos e ações perdem espaço no coração do
homem contemporâneo.
• Criam-se novas formas de chegar a ele. Se as
pessoas não vêm ao templo, o templo vai até elas.
1. O problema(cont.)
• Entretanto, esse deslocamento do centro para a
margem, via processos midiáticos, tem o seu
preço.
• É preciso fazer concessões aos padrões de
comportamento ditados pelos meios.
• Tanto no que diz respeito à lógica de produção de
mensagens quanto no que se refere à do consumo
dos bens culturais, no caso, culturais religiosos.
1. O problema(cont.)
• O consumo é individual e solitário.
• Como mostrar o engajamento? Pelo consumo dos
produtos anunciados e pela esmola parta que o
programa permaneça no ar.
• Cria-se uma nova Igreja: universal e virtual.
• Os templos são os próprios lares; os púlpitos são
os aparelhos de televisão.
• Somente é fiel dessa Igreja aqueles que são
capazes de consumir.
3. A situação atual
• Deve-se entender o fenômeno na sua
dinâmica histórica,como fruto da
preocupação das instituições eclesiais em
luta pelo domínio de corações e mentes dos
fiéis telespectadores.
3. A situação atual(cont.)
• O importante, dentro do mercado religioso,
é anunciar a boa nova para todos.
• Numa sociedade pluaralista, com disputas
cada vez mais acirradas em termos de
mercado, a religião tornou-se um mercado
de bens religiosos.
• Nesse momento, as religiões voltam-se para
a mídia eletrônica.
3. A situação atual(cont.)
• Desse modo, o modelo de uma Igreja
Eletrônica, gestado ao longo da história,
encontra sua plena realização nesse início
de milênio.
O problema em questão
• Os dispositivos tecnológicos são apenas
uma mínima parcela, a ponta do iceberg, de
um mundo novo, configurado pelo processo
de midiatização da sociedade.
• Hoje, há uma mudança epocal, com a
criação de um bios midiático.
• Surge uma nova ecologia comunicacional.
Um bios virtual.
O problema em questão (cont.).
• A midiatização é um novo modo de ser no mundo.
• Estamos numa nova ambiência. Deu-se um salto
qualitativo.
• Superamos o conceito de mediação, tanto de
Serrano quanto de Barbero.
• A midiatização é um modelo e uma atividade de
operação de inteligibilidade social.
O problema em questão (cont.).
• É a chave hermenêutica para a compreensão
e interpretação da sociedade.
• Na sociedade do grande irmão, a tecnologia
midiática é uma ambiência que trabalha na
construção de sentido, induzindo uma forma
de organização social.
A contribuição deMarshall
McLuhan
• A midiatização nos coloca numa outra
galáxia que supera a chamada Aldeia
Global.
• A Galáxia Midiática (ou midiatizada) cria o
fenômeno da glo(tri)balização.
• Ela está, talvez, configurando a
possibilidade da busca de uma visão
unificada da sociedade.
Marshall McLuhan (cont.).
• A unificação do mundo aconteceria no
âmbito da prática, via midiatização da
sociedade.
• A unidade surge como princípio de
inteligibilidade social no processo de
midiatização.
III. Espiritualidade e Internet
• Dentro desta perspectiva, insere-se a
questão da espiritualidade na Internet.
• Existem vários sites de organizações
católicas ou não, que usam a Internet como
um espaço de interação, de congregação das
pessoas. Essas instituições consideram, por
exemplo, a Internet um meio importante
para passar a sua mensagem.
III. Espiritualidade e Internet
(cont.)
• Essa é uma concepção de dispositivo tecnológico, ou
seja, antigamente, determinadas atividades eram
realizadas na Igreja e, hoje, também estão disponíveis
na Internet.
• A partir disso, me pergunto: que tipo de
espiritualidade está sendo criada, gestada?
• Não estou pensando na instituição Igreja, mas sim que
a vivência religiosa, a espiritualidade como um todo, é
uma produção simbólica fundamental na vida do
homem
III. Espiritualidade e Internet
(cont.)
• Essa religiosidade é importante. Agora, quando as
instituições religiosas fazem uso massivo desses
novos ambientes, temos de nos perguntar que tipo
de religiosidade, espiritualidade está surgindo
desse processo.
• Que diferença existe entre acender uma vela para
o padre Reus num site, ou ir até o santuário? Esse
é o questionamento. É um desafio que se tem de
responder.
III. Espiritualidade e Internet
(cont.)
• É esse ambiente de midiatização que está
trazendo desafios para nós.
• Então, não se deve perguntar como uma
instituição usa um portal para fomentar a
espiritualidade. Isso não importa.
• Tenho de perguntar: ao fazer isso, que
forma de espiritualidade está sendo
formada?
III. Espiritualidade e Internet
(cont.)
• Todas as instituições perceberam e estão usando a
Internet.
• Só que elas estão colocando nos portais,
simplesmente, a transcrição do que elas já vinham
fazendo.
• As instituições perceberam a importância desses
meios para divulgar a sua mensagem e promover
as suas ações.
III. Espiritualidade e Internet
(Cont.)
• Entretanto, o que elas não se perguntam – e
que é o grande desafio –, é se, ao fazer essa
transposição de suas ações milenares para
um site de relacionamento, estão criando
uma nova forma de espiritualidade
independente do desejo delas, ou uma forma
diferente de fazer e viver religião.
III. Espiritualidade e Internet
(Cont.)
• Pergunto: uma criança que, desde pequena, desenvolve a
sua consciência religiosa de espiritualidade via Internet
terá a mesma vivência religiosa de uma criança que
participa da catequese, que vai à missa com os pais?
• Essas são formas iguais ou diferentes de fazer religião? De
ter espiritualidade?
• Não afirmo que uma é boa e outra é ruim. Aponto a
existência de dois níveis de diferença. Que tipo de
espiritualidade emerge de um portal? Isso vai além do
conteúdo
III. Espiritualidade e Internet
(Cont.)
• McLuhan já dizia, na década de 60: o que muda o
comportamento das pessoas não é o conteúdo da
televisão, mas o simples fato de ver televisão.
• Na vivência das espiritualidades, é essa realidade que
as instituições religiosas não estão percebendo
porque, para elas, o importante sempre foi a
mensagem.
• Tudo aquilo que ajuda a levar a mensagem para um
maior número de pessoas é bom. Então, o que muda
é a mensagem.
III. Espiritualidade e Internet
(Cont.)
• O instrumento é completamente neutro.
Se questionarmos mais profundamente para
além do instrumento, vamos perceber que,
independente do conteúdo, o fato de ele
entrar no relacionamento já está criando um
novo tipo de religião, de espiritualidade,
porque mesmo a religiosidade não é
unívoca.
III. Espiritualidade e Internet
(Cont.)
• O ambiente atual está exigindo outra coisa e nos
faz considerar que, independente da mensagem de
extrema esquerda ou da extrema direita, o simples
fato da pessoa se relacionar via portal já está
criando uma forma de espiritualidade ou uma
forma de ver religião diferente. Isso é o que deve
ser questionado. Esses são os desafios e
perspectivas.
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