Marcelo Henrique Meneses Fiuza A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA E DO PROFESSOR NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM Orientador Prof. Dr. Celso Sánchez Rio de Janeiro 2005 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS – GRADUAÇÃO “LATU SENSU” PROJETO VEZ DO MESTRE CAMPUS CENTRO – RJ A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA E DO PROFESSOR NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM Apresentação de monografia a UCAM - Universidade Candido Mendes – Campus Centro/RJ - como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-graduação “Lato Sensu” em Psicopedagogia Institucional. OBJETIVOS: Estudar e analisar os processos envolvidos na relação família, professor e aluno na aprendizagem. Desenvolver um olhar crítico para as idéias que favorecem e defendem, que a aprendizagem é um processo que envolve a participação da família, professores e comunidade, tendo como base uma educação funcional, políticas de incentivos, laços de carinhos e boa vontade de todas as partes. Uma melhor capacitação dos professores, assim como, relações familiares sadias são os “pontos chaves” de uma educação concreta e funcional, inerente aos dias de hoje. 2 AGRADECIMENTOS Aos meus alunos, as minhas grandes companheiras do curso: Sônia Teixeira e Roberta Veran, a minha grande amiga Rosana de Freitas, aos amigos companheiros e todos, que direta e indiretamente contribuíram para a confecção desse trabalho. 3 DEDICATÓRIA Dedico essa monografia, a minha mãe Lúcia de Fátima, pelo esforço e dedicação em minha jornada educacional. Aos grandes amigos Raphael Chaves e Davis Juan, grandes incentivadores da realização e ao também amigo, Fábio de Castro Verçoza que gentilmente fez a revisão desse trabalho acadêmico. Marcelo Fiuza 4 RESUMO São comuns as queixas de professores, alunos e familiares sobre a atual situação das escolas brasileiras. É questionado, desde os currículos escolares a relação professor - aluno. Através da vivência como professor, nas conversas informais e pesquisa com docentes dos níveis fundamental e médio, percebeu-se dois questionamentos gerais: • A família não participa. • Não estamos preparados para determinados casos. O que isso nos remete? Dois caminhos: A má formação dos professores e a falta de zelo pela família no processo educacional. As famílias sofreram uma grande transformação em sua estrutura e valores. O dia-a-dia corrido, deveres e correrias semanais tornam os pais ausentes e negligentes nesse processo. Esse fato sobrecarrega os professores, que além dos repasses e mediações de conhecimentos, atuam agora no processo da formação cidadã de seus alunos, papel esse de responsabilidade da família. Os cursos de licenciatura não preparam para a nova demanda, o que gera nos profissionais da educação: descontentamento, sobrecargas, déficits de aprendizagem e traumas de alunos e professores. Uma reformulação dos currículos dos cursos de formação de professores, juntamente com a ação de profissionais especializados em dificuldades de aprendizagem e uma reeducação familiar são as chaves para a solução dos problemas de aprendizagem e de uma sadia relação entre os entes do processo educacional: professores, alunos e familiares. E o fim do jogo de repasses de responsabilidades, que hora culpa a família, professores, políticas de incentivos, diretores, sistema e Projetos Políticos Pedagógicos. 5 METODOLOGIA Com o desencadear do curso de especialização em Psicopedagogia, houve por parte de todos os acadêmicos uma necessidade de criação de medidas que pudessem ser utilizadas, para melhorias em seus locais de trabalho, fazendo desses, laboratórios práticos dos conhecimentos adquiridos no curso. Surge a idéia de desenvolver um trabalho lúdico sobre a tríade do aprendizado: Educador, Educando e Família. Após o levantamento dos tópicos deste ensaio, houve a necessidade de criar possibilidades para a realização de uma pesquisa detalhada, coerente à vida do educador e principalmente, elucidativa para os problemas familiares sofridas pelos educandos. O primeiro passo foi o levantamento dos problemas mais freqüentes nas escolas1, que forneciam o ensino fundamental. Tal pesquisa foi feita através de conversas informais com os docentes, leitura de atas, análises de COCs2 e reuniões com os pais. Após essa coleta de dados, foi elaborado um quadro de reclamações e sugestões3, que após um processo de triagem, chegou-se a um problema-chave: O processo educacional positivo é dado pela associação de uma família presente e ação de profissionais de educação com boa formação? O segundo foi formular uma cadeia de idéias, que viesse estabelecer uma relação entre tópicos teóricos, práticas e possíveis intervenções. Para isso houve uma procura por pensadores e educadores de renome, que tenham realizado ensaios, publicações, depoimentos e artigos sobre os assuntos levantados. Tais informações foram pareadas com teorias em diversas áreas, como: Pedagogia, Psicologia, Sociologia e Psicopedagogia. 1. 2. 3. Para delimitar a pesquisa foram escolhidas as escolas que fornecem os segmentos médio e fundamental, da rede particular de ensino. Conselhos de Classe. Os dados da pesquisa estão disponíveis nos anexos, no final desse ensaio. 6 SUMÁRIO INTRODUÇÃO pág. 09 CÁPITULO I - A Visão da sociedade sobre o sucesso da aprendizagem pág. 11 CAPITULO II - Fatores prioritários para o desenvolvimento da capacidade de aprender pág. 19 CAPITULO III – Aprendizagem em um novo foco para os cursos de formação de professores pág. 21 CAPITULO IV - A Teoria do Vínculo pág. 27 CAPITULO V - Dificuldade de aprendizagem: Alertas externos e internos da falta ou excesso do vínculo familiar. pág. 26 CAPITULO VI - Psicopedagogia Sistêmica e abordagem psicopedagógica pág. 31 CONCLUSÃO pág. 34 ANEXOS pág. 36 FOLHA DE AVALIAÇÃO pág. 41 BIBLIOGRAFIA pág. 42 ÍNDICE pág. 44 7 Introdução O fracasso escolar é hoje um grande problema para o sistema educacional. Muitas vezes, para se livrar da responsabilidade deste déficit, busca-se um culpado. Alguém que possa assumir sozinho esta situação. Esta monografia acadêmica vem questionar esta atitude e propõe discutir o fracasso escolar a partir da importância da família e do professor no processo de aprendizagem e a atual necessidade de uma reestruturação da escola, assim como um novo currículo para os cursos de licenciatura. A partir disso, procurase pensar no papel do psicopedagogo com relação aos problemas escolares. A atuação deste profissional pode servir tanto para determinar “o culpado” que se procura, ou seja, diagnosticar patologias do aprendente, quanto para ampliar este foco, buscando outras variáveis que influenciam no processo de aprendizagem. O déficit na aprendizagem aparece hoje entre os problemas de nosso sistema educacional mais estudados e discutidos. Porém, o que ocorre muitas vezes é a busca pelos culpados de tal problema e, a partir daí, percebe-se um jogo onde ora se culpa a criança, ora a família, ora uma determinada classe social, ora todo um sistema econômico, político e social. Mas será que existe mesmo um culpado para a não - aprendizagem? Se a aprendizagem acontece em um vínculo, se ela é um processo que ocorre entre subjetividades, nunca uma única pessoa pode ser culpada. Alicia Fernández nos lembra que “a culpa, o considerar-se culpado, em geral, está no nível imaginário” (FERNANDEZ, 1994) e coloca que o contrário da culpa é a responsabilidade. Para ser responsável por seus atos, é necessário poder sair do lugar da culpa. Não pretendo aqui, portanto, expurgar a responsabilidade de um fracasso escolar. O propósito é discuti-lo como um elemento resultante da integração de várias “forças” que englobam o espaço institucional (a escola), o 8 espaço das relações (vínculos do ensinante e aprendente), a família e a sociedade em geral. Este ensaio pretende mostrar a importância do vínculo entre professor, família e aluno. O resgate de uma educação funcional voltada para a inserção social, a valorização dos vínculos afetivos, a importância da família e a sua ação no sucesso escolar, assim como uma reestruração nos cursos de licenciatura, para suporte dos resgates pretendidos e a importância do psicopedagogo nesse processo, 9 CÁPITULO I A visão da sociedade sobre o sucesso da aprendizagem Quando se fala em fracasso, supõe-se algo que deveria ser atingido. Ele é definido por um mau êxito, uma ruína. Porém mau êxito em quê? De acordo com que parâmetro? O que a nossa sociedade atual define como sucesso? Daí a necessidade de analisar o fracasso escolar de forma mais ampla, considerando-o como peça resultante de muitas variáveis. A sociedade busca cada vez mais o êxito profissional, a competência a qualquer custo e a escola também segue esta concepção. Aqueles que não conseguem responder às exigências da instituição podem sofrer com um problema de aprendizagem. A busca incansável e imediata pela perfeição leva à rotulação daqueles que não se encaixam nos parâmetros impostos. Assim, torna-se comum o surgimento em todas instituições educativas de crianças problemas, de “crianças fracassadas”, disléxicas, hiper-ativas, agressivas, etc. Esses problemas tornam-se parte da identidade da criança. Perde-se o sujeito, ele passa a ser sua dificuldade. Desta forma, ao passar pelo portão da escola, a criança assume o papel que lhe foi atribuído e tende a correspondê-lo. Porém, ao conceder este rótulo à criança, não se observa em quais circunstâncias ela apresenta tais dificuldades (ele está assim e não é assim). Isso não é apenas uma diferença terminológica, ela revela uma possibilidade de mudança. A sociedade do êxito educa e domestica. Seus valores, mitos relativos à aprendizagem muitas vezes levam muitos ao fracasso. Em nosso sistema 10 educacional, o conhecimento é considerado conteúdo, uma informação a ser transmitida. As atividades visam a assimilação da realidade e não possibilitam o processo de autoria do pensamento tão valorizada por Alicia Fernandez. Ela define como autoria “o processo e o ato de produção de sentidos e de reconhecimento de si mesmo como protagonista ou participante de tal produção” (Fernandez, 2001). Este caráter informativo da educação se manifesta até mesmo nos livros didáticos, nos quais o aprendente é levado a memorizar conteúdos e não a pensá-los, não ocorrendo de fato uma aprendizagem. É preciso distinguir aquilo que é próprio da criança, em termos de dificuldades, daquilo que ela reflete em termos do sistema em que se insere. Ao ensinar em turmas de 3o. do ensino médio, percebo a preocupação pelos tópicos e dicas que porventura, possam cair nos exames de vestibular. O que esse fato nos remete? Será que todos os conteúdos assimilados pelas crianças servem apenas como passaporte para o ensino superior, ou servem para a formação do cidadão e cultura pessoal e com isso, a inserção do educando no mundo competitivo atual? Ou até mesmo, se pensarmos nas fases epistemológicas de Piaget, os conteúdos servem para serem conflitados e com isso a assimilação e acomodação de conhecimentos para ai sim, o aprimoramento e construção dos saberes acadêmicos. Vivemos num país globalizado, onde a graduação não mais é sinônimo de sucesso profissional e certeza de ganhos financeiros. Os concursos públicos são cada vez mais procurados e competitivos, nessas seleções não são avaliadas a carga cultural do concursando e sim, a quantidade de informações decoradas por ele. Logo, qual é a verdadeira finalidade dos cursos de ensino fundamental e médio? É preparar um cidadão consciente ou um dicionário ambulante? O que vale mais: a técnica ou a teoria? Se os segmentos de ensino básico são iguais em qualquer estabelecimento de ensino, por que a necessidade de cursos pré-vestibulares? 11 Em resumo, seja qual for a resposta das questões anteriores, o necessário é preparar nossos alunos e filhos para o mundo competitivo cheio de choques de valores e caminhos tortos. Para isso é necessária uma base sólida onde a família, escola e docentes andem juntos e culminem em um resultado: O desenvolvimento epistemológico do discente. 1.1– A epistemologia genética de Piaget Piaget defende que o desenvolvimento cognitivo é resultado de uma maturação fisiológica, dividida em fases: Sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e abstrato. Onde o ser epistemológico adquire informações ao longo de seu ciclo-vital (assimilação). Através de choques de informações (desequilibrarão), construímos nosso conhecimento (equilibração) pertinente e formal (acomodação). Este processo é vinculado à população, que nos remete, a idéia de que o conhecimento é gerado pela associação das fases epistemológicas (descritas acima) e o contato com outros seres da mesma espécie. Com isso, percebe-se a necessidade da ajuda dos seres que fazem parte do ciclo familiar para maturação cerebral e a ação do aprender. A importância dos pais nesse processo é fundamental para o desenvolvimento cognitivo, já que o Homo sapiens, possui como característica filogênica a total dependência dos parentais nos primeiros anos de vida (alimentação, proteção, locomoção etc.). Para Piaget o pensamento se constrói através da ação e, o desenvolvimento infantil, se dá a partir das relações que possa a criança estabelecer com o mundo, mediante a ação da família e o meio social, onde a mesma está inserida. Piaget afirma: “O aprendizado com os outros... O sujeito é construtivo... Não sei agora, mas saberei depois” (Piaget, 1978). 12 1.2 - Um relato sobre a atual situação da família brasileira Quando se fala em “famílias possibilitadoras de aprendizagem” tem-se uma tendência a excluir as famílias de classes baixas já que estas não podem fornecer uma qualidade de vida satisfatória, uma alimentação adequada, acesso a diversas formas de cultura (cinema, teatro, cursos, computador, etc). Entretanto é possível a existência de facilitadores de autoria de pensamento mesmo convivendo com carências econômicas. Desde a Revolução Industrial o conceito de família vem sendo modificado. Os papéis dos entes da chamada célula-máter da sociedade modificam a cada década e com isso, a imagem da família perfeita dá entrada a um retrato da situação sócio-econômico de nosso país. Hoje, observamos famílias destituídas de seus componentes importantes, de seus valores e de seu convívio. Com isso, temos a perda do mais importante fator social: O amor à família e a vontade de construí-la. É dessa forma que encontramos a infância sem família no Brasil. Insatisfação dos pais que não possuem condições para criar os seus filhos. Omissão das autoridades que poderiam e deveriam fazer mais e melhor. Omissão de muitos dos agentes promotores da igualdade. E o pior das omissões, o da sociedade que, fechada cada vez mais em guetos protetores de suas superficialidades, cala na não realização de suas responsabilidades. Felizmente isto não é uma verdade absoluta, apesar de ser ainda maioria. A parcela da população infantil brasileira que vive privada de um convívio familiar saudável, conta hoje com iniciativas das mais variadas frentes, que lutam sem descanso, para lhes restituir esse direito. São autoridades exercendo seus papéis e, em muitos casos, indo além deles. São especialistas focando seus estudos e seus trabalhos para municiar a prática, são cidadãos que se envolvem e desenvolvem trabalhos de apoio à vida em família. Para 13 estes a vergonha seria não tentar. Podemos falar de crianças e de direito à vida em família sem falar de família? Então, quem são estas famílias? Toda família começa pela união de duas pessoas, nem sempre por amor, às vezes por conveniência, mas ainda existem aqueles que planejam e sonham em viverem juntas. Sem generalizações, hoje contamos com famílias que possuem como chefes mães, pais, tias e avós. Os casamentos não são duradouros, e é comum em uma única família terem filhos de pais diferentes. Os pais trabalham diariamente, por isso deixam seus filhos nas mãos de empregadas domésticas, que pelo ciclo, acabam deixando seus próprios filhos, nas mãos de parentes ou até mesmo sozinhas. Isso quer dizer que alguns pais deixam seus filhos nas mãos de outras mães, que para sustentar os seus, abdicam da criação dos próprios em função da criação dos filhos de seus patrões. Esse depósito diário dos deveres da criação dos filhos, além das domésticas, é passado para outras pessoas e parentes, que pela luta pela subsistência abdicam dessa obrigação e prazer. A figura paterna se transformou em algo adicional até mesmo irrelevante. Surgem então a influência dos estepes: padrastos, tios etc, o mesmo acontecendo, por vezes, a figura da mãe. A atenção dos pais, tão importante na formação do caráter, valores e educação, fica reclusa a poucas horas noturnas e aos finais de semana. O zelo pelos exercícios escolares, o relato da vida da criança, os medos e anseios do surgimento “do descobrir” da vida, sociedade e sexualidade ficam comprometidos, e os pais abrem espaços para a educação passada por pessoas fora do ciclo familiar e/ou pela escola. As condições de vida são por vezes deficientes, e a noção de um lar confortável e feliz vai dando espaço a uma criação do “jeitinho brasileiro”: Compra-se o que pode, tem-se o que é possível, valoriza-se o necessário e denomina de fútil o que não pode comprar. Quando possível, os pais compram 14 para seus filhos tudo o que pedem, na intenção de minimizar a falta de suas presenças. Relevam atitudes erradas de seus filhos e omitem os seus erros. Investem nas escolas na eminência dessas instituições resgatarem o zelo, atenção, educação e formação cidadã, ações estas, negligenciadas pela vida capitalista e de subsistência de seu cotidiano. Um exemplo dessas mudanças bruscas que a família brasileira vem sofrendo com o passar das décadas, e o quanto às referências mudaram, é a nova versão do programa da Rede Globo do Sítio do pica-pau amarelo. Um programa que fez parte da infância das crianças da década de 80, baseado na obra de Monteiro Lobato. Hoje adaptada para a nova geração mostra, uma visão de família e educação não mais existente em nosso país. A avó como figura experiente, idosa, cheia de cuidados e carinhos com seus netos, que vive na função diária de mimos, confecção de guloseimas, paciência para contar e representar histórias da carochinha. Seus netos vivem de fantasiar histórias, correm e brincam livremente por um mundo encantado onde só há problemas em suas brincadeiras. A única mudança da nova versão do programa, realmente condizente com a atual situação tecnológica, é o fato da avó ter acesso à internet e os avanços de edição de imagens fazerem verdadeiras mágicas para dar vida aos contos e aventuras da fábula. Hoje as avós trabalham para ajudarem no sustento das casas, são mais jovens, envelhecem sem qualidade de vida, e o pouco tempo que as restam, descansam para mais dias de trabalho. E as crianças de hoje? Lidam com jatos de informações, querem brincadeiras rápidas, sem faz de conta. Acessam a internet, possuem Tv a cabo e várias estações de rádio. Já não acreditam em papai-noel, tão pouco em bonecas que falam. O que aconteceu com as nossas famílias e crianças? Este é o pontapé inicial para uma avalanche de porquês e de seus respectivos silêncios. 15 1.3 – A família para Freud Para Sigmund Freud, todos elaboram internamente um conjunto de características perfeitas de ordem pessoal e social, que impossibilitados de realizarem tais sonhos, repassam para a personalidade e postura dos possíveis filhos. Esse pensamento, muito se assemelha a Teoria do Vínculo de PichonRiviére, que será descrito no cáp.V. Tais teoria possuem como ponto principal à transferência de desejos e valores dos pais para seus filhos. Freud defende a idéia de um abismo entre os pais e seus filhos no decorrer das relações parentais no crescimento da prole. Gerando dessa forma conflitos, depósitos e frustrações na relação pais e filhos. Uma família sólida e bem estruturada remete uma educação sadia e propícia para o crescimento das crianças e sua inserção social. 1.4 – A relação social para Vygotsky Segundo Vygotsky (1984), o desenvolvimento intelectual da criança é resultante de sua relação com o mundo que, por sua vez, se compõe das interações e fornece, por meio dessa interação, as condições para o estabelecimento e desenvolvimento de todas as atividades do pensamento e do processo de construção de aprendizagem. Esse autor, também aponta para a necessidade das pessoas dialogarem, duvidarem, discutirem, compartilharem e questionarem saberes onde há espaço de transformação para as diferenças, para o erro, para as contradições, para a colaboração mútua e para a criatividade. A família aparece como principal veículo para esse desenvolvimento. O Aluno deve possuir todos os fatores que favoreçam a capacidade do aprender. É sabido, que tal processo, é resultado de fatores extrínsecos e 16 intrínsecos, assim como biológicos e psicológicos. Saber apontá-los é o primeiro passo para o sucesso escolar. 17 CÁPITULO II Fatores prioritários para o desenvolvimento da capacidade de aprender Muitos trabalhos e ensaios pedagógicos e psicopedagógicas foram feitos sobre a temática do aprender e suas formas intrínsecas e extrínsecas na execução desse processo. Em uma visão prática desse processo e principais fatores no processo cognitivos, podemos citar três fatores que influem no desenvolvimento da capacidade do aprender: • Primeiramente, a atitude de querer aprender. É preciso que a escola desenvolva, no aluno, o aprendizado ontológico dos verbos querer e aprender, de modo a motivar para conjugá-los assim: eu quero aprender. Tal comportamento exigirá do aluno, de logo, uma série de atitudes como interesse, motivação, atenção, compreensão, participação e expectativa de aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser pessoa. • O segundo fator diz respeito às competências e habilidades, no que poderíamos chamar, simplesmente, de desenvolvimento de aptidões cognitivas e procedimentais. Quem aprende a ser competente, desenvolve um interesse especial de aprender. No entanto, só desenvolvemos a capacidade de aprender quando aprendemos a pensar. Só pensamos bem quando aprendemos métodos e técnicas de estudo. É este fator que garante, pois, a capacidade de auto-aprendizagem do aluno. • O terceiro fator refere-se à aprendizagem de conhecimentos ou conteúdos. Para tanto, a construção de um currículo escolar, com disciplinas atualizadas e bem planificadas, é fundamental para que o aluno desenvolva sua compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade, 18 conforme o que determina o artigo 32 da LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Nº 9.394/96 (20/12/96). Além dos pontos acima, é necessária a consciência da importância do meio social, cultura e política de onde o aluno está inserido. 2.1 – Fatores sociais e biológicos da aprendizagem • Filogênese – História de uma espécie. Limites e possibilidades para o processo cognitivo (Anatômico e Fisiológico). • Ontogênese – Desenvolvimento dos ser (individualismo). Ciclo-vital (nascimento, crescimento, maturação, reprodução e morte). • Sociogênese – História da cultura de onde o sujeito está inserido. Cultura como alargador. Como cada cultura organiza suas potencialidades. • Microgênese – Cada fenômeno psicológico tem a sua própria história. Esse fato determina o não determinismo biológico. Esses fatores mostram que o meio social é de fundamental importância para o processo do aprendizado. Desde cedo é importante que haja a socialização das crianças com as normas, ética e leis da sociedade onde elas estão inseridas. Entra nesse processo o trabalho e dedicação essencial dos professores, diretores e família na demonstração e contextualização da realidade e a necessidade dos conhecimentos adquiridos na conscientização da verdadeira finalidade do aprender: “A modificação do mundo onde estamos inseridos”. 19 CÁPITULO III Aprendizagem e um novo foco para os cursos de formação de professores O processo de aprendizagem é cercado pela seguinte dualidade: Um dos entes com vontade de aprender (aprendente) e o outro, que queira ensinar (ensinante). Dessa forma, podemos observar algumas lacunas que dificultam o processo de aprendizado, tais como: Escolas sem a infra-estrutura mínima necessária à acomodação dos • alunos; • Instituições de ensino com super lotações; • Escolas sem professores; • Estabelecimentos de ensino sem recursos necessários para o seguimento das aulas: Laboratórios, bibliotecas, salas de vídeos, quadras esportivas e etc; • Professores sem a menor classificação docente; • Currículos que fogem à realidade dos discentes; • Projetos Políticos Pedagógicos que não atendem a demanda da comunidade e profissionais da educação. A outra extremidade dessa lacuna, se encontra a família, essa célulamáter degradada pelos fatores já citados anteriormente, se torna ausente em muitos casos fazendo com que o papel do professor fuja de sua real função, o ensino acadêmico. Por meio de pesquisas e vivências escolares minhas e de outros colegas de profissão, pude recolher alguns dados da nova função dos docentes do ensino médio e fundamental: Educação sexual, formação cidadã, 20 aconselhamento emocional, orientação vocacional, análise e psicologia. Essas várias ações, dentre outras que possivelmente tenha deixado passar, surgem da negligência familiar e da sobrecarga de funções da escola e logicamente dos professores. Os cursos de licenciatura, geralmente ministrados em três anos, trazem em seus currículos acadêmicos, disciplinas que deixam bem clara a função de orientação, mediação e repasses de saberes científicos. Porém essa formação não atende a atual demanda escolar, o que gera em muitos casos: Frustração profissional, mão de obra desqualificada, fracasso escolar, abandono de emprego, estresse profissional, dentre outros. Logo, quais os pontos de foco para os cursos de Licenciatura? • Orientação, capacitação e treinamento de professores sobre como trabalhar em sala de aula levando em consideração aspectos educacionais implementando a metodologia de ensino que favoreça a aprendizagem e o desenvolvimento intelectual, social e emocional do aluno; • Desenvolver orientação vocacional e profissional aplicando sondagem de aptidões a fim de contribuir com a melhor adaptação do aluno no mercado de trabalho e sua conseqüente auto-realização; • Coordenar grupo operativo com família e equipe de profissionais da Escola; • Executar oficinas pedagógicas em sala de aula, elaboradas e realizadas em conjunto com outros professores de acordo com a demanda de cada sala de aula; • Trabalhar questões da adaptação dos alunos; • Auxiliar na construção e execução de projetos de ordem multidisciplinar realizados na escola; • Realizar tarefas de ordem institucional como recrutamento e seleção de pessoal, elaboração de planos de cargos e salários, avaliação de desempenho, 21 entre outros; Atuar como facilitador das relações interpessoais da equipe escolar. É sabido, que a aprendizagem é um processo vincular, ou seja, que se dá no vínculo entre ensinante e aprendente, ocorre, portanto entre subjetividades. Para aprender, o ser humano coloca em jogo seu organismo herdado, seu corpo e sua inteligência construídos em interação e a dimensão inconsciente. A aprendizagem tem um caráter subjetivo, pois o aprender implica em desejo que deve ser reconhecido pelo aprendente. “O desejar é o terreno onde se nutre a aprendizagem” (Fernandez, 2001). A figura do ensinante é de total importância para o fundamento tanto da vontade de aprender como na estruturação do processo epistemológico. Por isso a formação profissional é imprescindível, o que remete em uma nova versão para os currículos acadêmicos de licenciatura. De acordo com Paulo Freire em sua obra titulada A pedagogia da Autonomia, enfatiza que: “O papel do magistério e das instituições de ensino é de fundamental importância na construção de um indivíduo consciente de que é um ser inacabado, tendo sempre algo mais aprender, e que tenha condições de possuir autonomia e autoria do seu conhecimento”. (Paulo Freire, 1996). Além da formação básica, o currículo deve conter disciplinas, com conteúdos funcionais nas seguintes áreas: Psicanálise, Psicopedagogia, Psicologia, Biologia, Sociologia e Filosofia. “Encontramos no meio do caminho vários tipos de ensinantes, com suas lideranças próprias: uns bem 22 autoritários, outros democráticos, e ainda outros laissezfaire. Estes deixavam os alunos fazerem o que quisessem, sem regras, sem limites que lhes permitissem construir estruturas morais, éticas firmes e coerentes, distorcendo assim os princípios de atividade, criatividade, autoridade e liberdade”. (Borges, 1989). O que seria mais importante: Estabelecer uma relação positiva com os alunos, ou esgotar o conteúdo programático daquele ano letivo sem se criar um espaço para a construção de vínculos adequados? Com certeza, a resposta para as questões acima é o “bom senso”. Cada profissional, com o desenrolar de sua vida profissional, vai se moldando para que com isso desenvolva da melhor forma possível o seu trabalho, sem perder com isso a ética e a sua formação acadêmica. Para ensinar é necessária a construção de um vínculo de amizade e confiança entre o ensinante e o aprendente, pois afinal, além de orientadores e mediadores do conhecimento, os professores são formadores de opiniões e muitas das vezes exemplos de vida e padrões a serem seguidos. 23 CÁPITULO IV A Teoria Vínculo: Professor, aluno e família O professor necessita ser um construtor de vínculos positivos. A partir de vínculos construídos, podemos perceber, através das sinalizações dos alunos, como o fenômeno da comunicação está acontecendo em sala de aula. Dessa forma, os vínculos serão os indicadores, “os pontos chaves” para o desenvolvimento de uma atuação psicopedagógica. Pichon Rivière (1992), através da sua Teoria do Vínculo dá uma contribuição notável para a educação: permite analisar a relação professor, aluno e família em três dimensões: mente, corpo e mundo exterior que se integram dialeticamente, levando em consideração a dimensão mais importante: a humana, portanto, estudar este ser humano na sua totalidade, configurando um perfil próprio para cada sujeito. Com base na Teoria do Vínculo, podemos perceber a complexidade de ações e reações que podem acontecer numa sala de aula e o aparato dado pela família, nesse processo epistemológico. Se o professor não tiver conhecimento, para saber lidar com tais situações, poderá contribuir, sem desejar, para a construção de vínculos negativos com ele, com a matéria, com o processo educacional e epistemológico1. O apoio dos responsáveis e entes integrantes do vínculo familiar do educando é de total importância para o sucesso da incorporação do conhecimento e a formação de um ser autônomo, consciente e apto ao convívio social. Essa Teoria, conhecida também como 3Ds, é um indicador para a construção de uma atuação psicopedagógica, estar aberto para receber os depósitos de seus alunos, diminui a ansiedade excessiva, tanto do grupo como a do professor. 1 – Alusão ao cap. III. 24 Em contrapartida, a questão da responsabilidade do fracasso escolar, geralmente, aparece como percebida fora da dinâmica familiar, como algo intrínseco ao indivíduo. A família pode estar “depositando” na criança e adolescente seus fracassos e imperfeições, tornando-a “depositária”, impedindo seu acesso ao conhecimento (Pichon-Rivière, 1992). Essa teoria recebe também o nome de três 3Ds, pois para o autor, existe uma relação social de trocas de encargos, culpas e depósitos: depositante, depósito e depositário. Estas podem ser entendidas como estruturas nas quais estão incluídas sujeito e objeto, com papéis por eles definidos, estabelecendo uma relação particular entre os mesmos. Nessa teoria, cada indivíduo (depositário) cumpre e aceita um papel (depósito) que ele é atribuído pelo outro (depositante). Como exemplo do conteúdo anteriormente exposto, com a situação familiar em que os membros (depositantes) projetam em um dos filhos (depositado) suas franquezas, seus temores e ou suas ansiedades (depósito). Este, por sua vez, introjeta as deficiências familiares, por não se encontrar de posse de estruturas psicopedagógicas que lhe permita rechaçar essas projeções, gerando dessa forma, dentre outros problemas, a dificuldade de aprendizagem. 25 CÁPITULO V Dificuldade de aprendizagem: alertas externos e internos, da falta ou excesso do vínculo familiar Dificuldade de Aprendizagem é um termo genérico que se refere a um grupo heterogêneo de desordens, manifestadas por dificuldade na aquisição e no uso da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Estas desordens são intrínsecas ao sujeito, presumidamente devido a uma disfunção no sistema nervoso central ou no processo de ensinagem, pode ocorrer apenas por um período na vida. Problemas de controle de comportamento, percepção social e interação social podem existir junto com as dificuldades de aprendizagem, mas elas não constituem por si só uma desordem de aprendizagem. Embora dificuldades de aprendizagem possam ocorrer concomitantemente a outras condições desfavoráveis (retardo mental, séria desordem emocional, problemas sensórios - motores) ou influências externas (como diferenças culturais, instrução insuficiente ou inapropriada) elas não são o resultado dessas influencias ou condições. A dificuldade de aprendizagem, quando de origem biológica, pode ser bastante definida e clara, nos levando a supor que a área emocional e o ambiente familiar não tiveram nenhuma participação no seu aparecimento e determinação. Boa parte dos problemas que esbarramos nesta área - lentidão de raciocínio falta de atenção, desinteresse, etc., encontra suas origens na biologia e, sobretudo na biologia exposta ao meio ambiente. 26 Mesmo as teorias mais organicistas e baseadas na neuropsicologia, como afirma Ratey & Johnson (1997), admitem que os distúrbios mentais, mesmo brandos, podem se tornar muito piores em respostas a um ambiente cheio de ruídos, a uma família ruidosa. Este é um dos importantes motivos pelos quais responsabilizam os pais pelos problemas dos filhos, porque o nível de funcionamento dos pais sempre altera o problema. Com base biológica ou não a do filho. A criança hiperativa se tornará mais hiperativa, a deprimida mais deprimida, a autista mais autista, quando a família funciona desta forma. Alícia Fernandez (1990), em vários momentos do seu livro A Inteligência Aprisionada, nos traz uma visão mais global das Dificuldades de Aprendizagem, onde existe a articulação entre inteligência e desejo; entre família e sintoma. Ela diz: ”Se pensarmos no problema de aprendizagem como só derivado do organismo ou só da inteligência, para sua cura não haveria necessidade de recorrer à família. Se, ao contrário, as patologias no aprender surgissem na criança ou adolescente somente a partir de sua função equilibradora do sistema familiar, não necessitaríamos, para seu diagnóstico e cura, recorrer ao sujeito separadamente de sua família”. Ao considerar o sintoma como resultante da articulação construtiva do organismo, corpo, inteligência e a estrutura do desejo, incluído no meio familiar (e determinado por ele) no qual seu sintoma tem sentido e funcionalidade, é que podemos observar o possível "atrape" da inteligência. Souza (1995), refere-se à Dificuldade de Aprendizagem , como sendo um impedimento de um bom desempenho intelectual, vinculado a problemáticas emocionais associados a conflitos familiares não explicitados. 27 É preciso, também se considerar, os efeitos emocionais que essas dificuldades acarretam, agravando o problema. Se seu rendimento escolar for sofrível, a criança talvez seja vista como um fracasso pelos professores ou colegas, e até pela própria família. Infelizmente, muitas dessas crianças desenvolvem uma auto-estima negativa, que agrava em muito a situação, e que poderia ser evitada, com o auxílio da família e de uma escola adequada. Dessa forma, a dificuldade de aprendizagem tem causas e desenvolvimentos múltiplos, exigindo pesquisas em diversos campos do conhecimento, para que se tenha uma visão mais ampla sobre esse tema. Ela pode ter uma origem orgânica, intelectual/cognitiva, emocional (incluindo-se aí a estrutura familiar/relacional), sócio-cultural; porém, o que se percebe na maioria dos casos é que há um entrelaçamento destes fatores, responsável pela complexidade da situação. As dificuldades de aprendizado também podem ocorrer em concomitância com outras condições desfavoráveis (retardo mental, séria desordem emocional, problemas sensório-motores) ou, ainda, serem acentuadas por influências externas (como, por exemplo, diferenças culturais, instrução insuficiente ou inapropriada) não sendo, necessariamente, o resultado dessas condições. Por isso, tanto nas considerações caso a caso, como numa casuística mais ampla, encontrar um fio condutor para explicar a multiplicidade de sintomas é, às vezes, impossível, mesmo para os especialistas. O que responde por este fato é que esta complexa e ampla sintomatologia corre paralela a igualmente complexa rede de possibilidades que a originam. A criança com dificuldade de aprendizagem está na maior parte das vezes situada numa família onde seu discurso não encontra um sentido. A ela, muitas vezes cabe a função de carregar o peso da história do grupo. Esta função pode ser demasiado difícil e ela não conseguir dar conta. É quando 28 surgem os sintomas: notas baixas, falta de atenção, dificuldade ou lentidão de raciocínio. "Ele fica nas nuvens"; “Nunca traz as lições, seus cadernos estão incompletos"; Não faz nada durante as aulas, parece que eu falo com as paredes" ; comentam os professores. Crianças tolhidas por uma dificuldade de aprendizagem, na maior parte das vezes, tem o seu desempenho escolar comprometido. Sabe-se que nunca há uma causa única para o fracasso escolar, mas uma conjunção de fatores que, num determinado momento, interagem, imobilizam o desenvolvimento do sujeito e do sistema familiar/escolar/social. É importante não confundir dificuldade de aprendizagem com fracasso escolar. Em resumo, a dificuldade de aprendizagem encontra-se inserida num conjunto de sinais, de origem bio-psico-social, calcados em algumas constituintes básicas: a criança, a família, a escola e o meio social (Polity, 2001). Muitos são os fatores depositados pelos pais em seus filhos: Sociais, econômicas, laborais, frustrações pessoais, excesso de zelo ou a falta dele, ausência de vínculo familiar, excesso de proteção etc. Como já dito anteriormente, nesse ensaio, a nova formação familiar brasileira nos remete a uma reformulação dos ideais, padrões e normas na relação pais e filhos, Caso contrário, outros sinais fora à dificuldade de aprendizagem, podem aparecer. 29 CÁPITULO VI Psicopedagogia Sistêmica e abordagem psicopedagógica nos casos relacionados à família A criança em idade escolar sabe que precisa ter sucesso nos estudos. Isso é exigido por seus pais, familiares, colegas, professores, pela sociedade como um todo. O sucesso opõe-se ao fracasso, e este implica num juízo de valor, num julgamento que deve corresponder a um ideal. Esse ideal normalmente é ditado por valores familiares que são transmitidos de geração em geração. Em atendimentos de famílias, por psicopedagogos, cuja queixa é a Dificuldade de Aprendizagem de um de seus membros, em geral um dos filhos, faz-se necessário construir um espaço de escuta respeitosa, onde se possa observar o processo de um plano mais amplo. Neste momento tem-se a necessidade de questionamentos dos seguintes pontos: • Estrutura Familiar, isto é, qual a composição da família, organização fraterna (a ordem, o sexo, as idades), quais as pessoas significativas para o grupo, que convivem, ou não na mesma casa; • Adaptação ao Ciclo Vital, isto é, quais os eventos relacionados à evolução natural do grupo, como a família reage a eles, como cada membro enfrenta essas mudanças, eventos externos e internos ao grupo que tem alguma significação; 30 • Alianças e afinidades existentes no grupo, quem é leal a quem, quem se une com quem, contra quem, quais as alianças e triangulações existentes no sistema familiar; • Padrões de Repetição que determinam a formação e/ou rompimento de vínculos afetivos, influenciando sobremaneira no funcionamento e na hierarquia familiar; • Equilíbrio e Desequilíbrio considerando-se seu funcionamento regular, ou seja, quais as expectativas para cada um de seus membros, papéis, estilo de funcionamento, padrões de comunicação e temas recorrentes, que pertencem ao imaginário do grupo; como manejam os segredos, o que é visto e como é permitido o crescimento e a diferenciação; • Significado que a família confere às crenças, aos valores, aos mitos, que geram mandatos relativos ao saber. Ao entender a família como um todo, a psicopedagogia, estará valorizando o aspecto de Globalidade do sistema, que difere do somatório das partes (teoria Geral dos Sistemas) e o aspecto de Reciprocidade, onde cada membro influencia e é influenciado pelo comportamento dos outros. Desta forma, pode-se aproximar daquelas questões familiares que interferem de maneira contundente no desenvolvimento da criança ou do jovem. A colocação do indivíduo no espaço familiar, dentro de uma perspectiva geracional (vertical) e dentro de um contexto atual (horizontal), permitem a formação de um quadro mais amplo para o entendimento das dificuldades de aprendizagem. De acordo com Polity (1998): ”Quando um indivíduo nasce, ele não vem ao mundo como uma tela em branco, mas sim, inserido numa história familiar que compreende várias gerações e 31 recebe uma série de missões e projeções dos pais avós e família extensiva”. O conceito de missão está ligado aos conceitos de legado e lealdade desenvolvidos por Boszormenyi & Sparks (1983), que evidenciam o quanto forte e poderosa pode ser o legado destinado à criança, impedindo-a muitas vezes de se relacionar com o conhecimento e com o saber. Minuchin & Michael (1993) diz que a família é o contexto natural para crescer e receber auxílio, onde cumpre o seu papel de garantir a pertença e ao mesmo tempo promover a individualização do sujeito. Aprender requer que possamos nos separar, pelo menos em parte, dos nossos pais e construir um saber próprio, que ao mesmo tempo, que nos dá pertencimento, pois o compartilhamos com outros membros do grupo. Isso demanda de nós um certo grau de autonomia e individualidade, que por sua vez nos permitem elaborar nossa própria identidade. 32 Conclusão O aprendizado é resultado de uma série de fatores disseminados na Biologia e Psicologia. O aprender nos inclui socialmente e a cada dia, há a necessidade da busca por mais informações e construção de conhecimentos que nos permitam adquirir um lugar ao sol de nossa competitiva sociedade. A escola é hoje o principal ponto de partida de todo o processo cognitivo. A ausência dos pais, originada por diversos fatores morais, sociais e econômicos está a cada dia, se ausentando desse processo. A sobrecarga de funções para os professores gera uma necessidade de uma busca por alternativas que consigam atender a nova demanda social. As várias pesquisas sobre o assunto aponta como indispensável à presença do meio familiar para o incentivo, educação, contextualização dos conhecimentos prévios e os futuros. A união sadia e harmônica entre a escola e a família gera uma relação tranqüila e concreta onde a criança confiável, se sente apta e preparada para a jornada acadêmica, montando dessa forma uma personalidade forte e madura, pronta para os tempos modernos do séc. XXI. Ao mesmo tempo, o excesso de zelo pode gerar a criação, por parte da criança, de um mundo exclusivo e utópico, dificultando sua relação com o mundo e o discernimento entre o certo e o errado. Para acompanhar o processo, é necessária a conscientização de uma escola preparada para receber essa demanda de crianças com excesso e falta de apoio familiar, assim como as crianças que não possuem tal déficit. Essa preparação deve ser realizada com uma equipe de discentes preparados e 33 profissionais direcionados para esses problemas como pedagogos, psicólogos e psicopedagogos. A função dos professores deverá ultrapassar a simples ação de mediação de conhecimento. Esse fato exige uma formação mais diversificada e apta a atuar nos possíveis problemas de aprendizado. Uma equipe multidisciplinar, interdisciplinar e unida constitui a base para a formação de uma escola moderna e preparada para a demanda social do nosso século. A conscientização desde cedo, que prioriza a vida familiar e a importância de um vínculo sentimental e afetivo por parte dos pais é uma alternativa para a restauração da família e conseqüentemente de sua importância social. Feita essa ponte e conscientização, com certeza teremos a formação de pessoas preparadas e inseridas socialmente e aptas a participarem de um mundo criterioso e exigente. 34 Anexos Índice de anexos Anexo 1 – Entrevista com professores de Ensino Fundamental e médio Anexo 2 – Atividade cultural extra-classe 35 Anexo I 1.1 - Pesquisa A pesquisa foi feita para levantar os possíveis problemas educacionais de praxe nas turmas do ensino fundamental e médio. Tais dados foram utilizados na escolha do tema e realização desse trabalho acadêmico. Foi feita com aproximadamente vinte professores, licenciados que possuíam em média de três a dez anos de magistério. O local escolhido foi o Centro Educacional Pinheiros, localizado no município de Nova Iguaçu. Tal escola atende desde o ensino infantil ao prévestibular. O período de coleta foi de dois meses, entre os meses de janeiro a março de 2005. Para efeito de conteúdo prático foi escolhida das 20 entrevistas, seis para edição. 1.2 – Perguntas I – Quantos anos de magistério? II – Quantos anos de estudo para iniciar o trabalho como professor? III – Quais os principais problemas encontrados nas salas de aula? IV - Está feliz profissionalmente? V – Como você a participação da escola em seu trabalho? 36 1.3– Dados coletados Nome: Valéria dos Santos Disciplina: Português/Inglês Respostas: I – 07 anos II – 18 anos III – Falta de atenção dos alunos e interesse dos alunos e dos pais; avaliações arcaicas e falta de infraestrutura da escola. IV – Sim V – Ausente Nome: Adilson Muniz Disciplina: Ciências/Biologia Respostas: I – 5 anos II – 19 anos III – Falta de atenção dos alunos; dificuldades de aprendizagem; falta de interesse dos alunos e famílias ausentes; avaliações pouco criteriosas. IV – Não V – Ausente Nome: Elane Cerqueira. Disciplina: História/Geografia Repostas I – 9 anos II – 18 anos III – Falta de atenção e interesse dos alunos; ausência da família e excesso de conteúdo. IV – Sim V – Presente 37 Nome: Eliseu Haron. Disciplina: Matemática Respostas: I – 10 anos II – 17 anos III – Falta de interesse, atenção e vínculo com os alunos; Falta de apoio familiar e direção. IV – Não V – Ausente Nome: Roseli Machado. Disciplina: Português/Literatura Respostas: I – 3 anos II – 18 anos III – Falta de interesse, atenção e educação cidadã; Falta de apoio familiar. IV – Sim V – Presente Nome: Angelisson Nunes. Disciplina: Educação Física Repostas: I – 4 anos II – 19 anos III – Falta de estimulo, atenção e interesse; Falta do apoio familiar. IV – Sim V - Presente 38 Anexo II 1.1 – Atividades Extra-classes 39 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE Pós-graduação “Lato Sensu” Psicopedagogia Institucional Título da Monografia: A IMPORTÂNCIA DA FAMILIA E DO PROFESSOR NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM Autor: Marcelo Henrique Meneses Fiúza Curso: Latu Sensu em Psicopedagogia Institucional Data da entrega: 23/07/2005 Avaliado por: Conceito: UCAM - Campus Centro – Rio de Janeiro – 1o. semestre de 2005 40 Bibliografia ABNT. Apresentação de relatórios técnico-científicos. Rio de Janeiro, 2001. AJURIAGUERRA, J. Manual de psiquiatria infantil. 2a.Ed.São Paulo: Ateneu, 1981. BORGES, L.S.J.C. Deméter, a deusa-mãe: a origem e a permanência do papel na busca da felicidade. Dissertação (Mestrado) – Instituto Metodista de Ensino Superior, São Bernardo do Campo, 1989. BOSSA, N. A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 2ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. BOSZORMENYI & SPARKS, I. Lealtades Invisibles. 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São Paulo: Editora Brasiliense, 1973. 43 ÍNDICE FOLHA DE ROSTO 2 AGRADECIMENTO 3 DEDICATÓRIA 4 RESUMO 5 METODOLOGIA 7 SUMÁRIO 8 INTRODUÇÃO 9 CAPÍTULO I - A Visão da Sociedade sobre o sucesso da aprendizagem 11 1.1 – A Epistemologia Genética de Piaget 13 1.2 – Um relato sobre a atual situação da Família Brasileira 14 1.3 – A Família para Freud 17 1.4 – A Relação Social para Vygotsky 17 CAPÍTULO II – Fatores Prioritários para o Desenvolvimento da Capacidade do Aprender 19 44 2.1 – Fatores Sociais e Biológicos do Aprendizado 20 CAPÍTULO III – Aprendizagem e um Novo Foco para os Cursos de Formação de Professores 21 CAPÍTULO IV – A Teoria do Vínculo: Professor, Aluno e Família 27 CAPÍTULO V – Dificuldade de Aprendizagem: Alertas Externos e Internos da Falta ou excesso do Vínculo Familiar 26 CAPÍTULO VI – Psicopedagogia Sistêmica e Abordagem Psicopedagógica nos Casos Relacionados à Família e ao Professor 31 Conclusão 34 Anexos 36 Anexo 1 37 1.1 Pesquisa 37 1.2 – Perguntas 37 1.3 – Dados Coletados 38 Anexo 2 – Atividades Extra-classe 40 Avaliação 41 Bibliografia 42 45