Marcelo Henrique Meneses Fiuza
A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA E DO PROFESSOR NO
PROCESSO DE APRENDIZAGEM
Orientador
Prof. Dr. Celso Sánchez
Rio de Janeiro
2005
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS – GRADUAÇÃO “LATU SENSU”
PROJETO VEZ DO MESTRE
CAMPUS CENTRO – RJ
A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA E DO PROFESSOR NO
PROCESSO DE APRENDIZAGEM
Apresentação de monografia a UCAM - Universidade Candido
Mendes – Campus Centro/RJ - como condição prévia para a
conclusão do Curso de Pós-graduação “Lato Sensu” em
Psicopedagogia Institucional.
OBJETIVOS:
Estudar e analisar os processos envolvidos na relação
família, professor e aluno na aprendizagem. Desenvolver um
olhar crítico para as idéias que favorecem e defendem, que a
aprendizagem é um processo que envolve a participação da
família, professores e comunidade, tendo como base uma
educação funcional, políticas de incentivos, laços de
carinhos e boa vontade de todas as partes. Uma melhor
capacitação
dos
professores,
assim
como,
relações
familiares sadias são os “pontos chaves” de uma educação
concreta e funcional, inerente aos dias de hoje.
2
AGRADECIMENTOS
Aos meus alunos, as minhas grandes companheiras do curso: Sônia Teixeira e
Roberta Veran, a minha grande amiga Rosana de Freitas, aos amigos
companheiros e todos, que direta e indiretamente contribuíram para a
confecção desse trabalho.
3
DEDICATÓRIA
Dedico essa monografia, a minha mãe Lúcia de Fátima, pelo esforço e
dedicação em minha jornada educacional. Aos grandes amigos Raphael
Chaves e Davis Juan, grandes incentivadores da realização e ao também
amigo, Fábio de Castro Verçoza que gentilmente fez a revisão desse trabalho
acadêmico.
Marcelo Fiuza
4
RESUMO
São comuns as queixas de professores, alunos e familiares sobre a atual
situação das escolas brasileiras. É questionado, desde os currículos escolares
a relação professor - aluno.
Através da vivência como professor, nas conversas informais e pesquisa
com
docentes
dos
níveis
fundamental
e
médio,
percebeu-se
dois
questionamentos gerais:
•
A família não participa.
•
Não estamos preparados para determinados casos.
O que isso nos remete?
Dois caminhos: A má formação dos professores e a falta de zelo pela
família no processo educacional.
As famílias sofreram uma grande transformação em sua estrutura e
valores. O dia-a-dia corrido, deveres e correrias semanais tornam os pais
ausentes e negligentes nesse processo. Esse fato sobrecarrega os
professores, que além dos repasses e mediações de conhecimentos, atuam
agora no processo da formação cidadã de seus alunos, papel esse de
responsabilidade da família.
Os cursos de licenciatura não preparam para a nova demanda, o que
gera nos profissionais da educação: descontentamento, sobrecargas, déficits
de aprendizagem e traumas de alunos e professores.
Uma reformulação dos currículos dos cursos de formação de
professores, juntamente com a ação de profissionais especializados em
dificuldades de aprendizagem e uma reeducação familiar são as chaves para a
solução dos problemas de aprendizagem e de uma sadia relação entre os
entes do processo educacional: professores, alunos e familiares. E o fim do
jogo de repasses de responsabilidades, que hora culpa a família, professores,
políticas de incentivos, diretores, sistema e Projetos Políticos Pedagógicos.
5
METODOLOGIA
Com o desencadear do curso de especialização em Psicopedagogia,
houve por parte de todos os acadêmicos uma necessidade de criação de
medidas que pudessem ser utilizadas, para melhorias em seus locais de
trabalho, fazendo desses, laboratórios práticos dos conhecimentos adquiridos
no curso.
Surge a idéia de desenvolver um trabalho lúdico sobre a tríade do
aprendizado: Educador, Educando e Família.
Após o levantamento dos tópicos deste ensaio, houve a necessidade de
criar possibilidades para a realização de uma pesquisa detalhada, coerente à
vida do educador e principalmente, elucidativa para os problemas familiares
sofridas pelos educandos.
O primeiro passo foi o levantamento dos problemas mais freqüentes nas
escolas1, que forneciam o ensino fundamental. Tal pesquisa foi feita através de
conversas informais com os docentes, leitura de atas, análises de COCs2 e
reuniões com os pais. Após essa coleta de dados, foi elaborado um quadro de
reclamações e sugestões3, que após um processo de triagem, chegou-se a um
problema-chave: O processo educacional positivo é dado pela associação de
uma família presente e ação de profissionais de educação com boa formação?
O segundo foi formular uma cadeia de idéias, que viesse estabelecer uma
relação entre tópicos teóricos, práticas e possíveis intervenções. Para isso
houve uma procura por pensadores e educadores de renome, que tenham
realizado ensaios, publicações, depoimentos e artigos sobre os assuntos
levantados. Tais informações foram pareadas com teorias em diversas áreas,
como: Pedagogia, Psicologia, Sociologia e Psicopedagogia.
1.
2.
3.
Para delimitar a pesquisa foram escolhidas as escolas que fornecem os segmentos médio
e fundamental, da rede particular de ensino.
Conselhos de Classe.
Os dados da pesquisa estão disponíveis nos anexos, no final desse ensaio.
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
pág. 09
CÁPITULO I - A Visão da sociedade sobre o sucesso da aprendizagem
pág. 11
CAPITULO II - Fatores prioritários para o desenvolvimento da capacidade de
aprender
pág. 19
CAPITULO III – Aprendizagem em um novo foco para os cursos de formação
de professores
pág. 21
CAPITULO IV - A Teoria do Vínculo
pág. 27
CAPITULO V - Dificuldade de aprendizagem: Alertas externos e internos da
falta ou excesso do vínculo familiar.
pág. 26
CAPITULO VI - Psicopedagogia Sistêmica e abordagem psicopedagógica
pág. 31
CONCLUSÃO
pág. 34
ANEXOS
pág. 36
FOLHA DE AVALIAÇÃO
pág. 41
BIBLIOGRAFIA
pág. 42
ÍNDICE
pág. 44
7
Introdução
O fracasso escolar é hoje um grande problema para o sistema
educacional. Muitas vezes, para se livrar da responsabilidade deste déficit,
busca-se um culpado. Alguém que possa assumir sozinho esta situação. Esta
monografia acadêmica vem questionar esta atitude e propõe discutir o fracasso
escolar a partir da importância da família e do professor no processo de
aprendizagem e a atual necessidade de uma reestruturação da escola, assim
como um novo currículo para os cursos de licenciatura. A partir disso, procurase pensar no papel do psicopedagogo com relação aos problemas escolares. A
atuação deste profissional pode servir tanto para determinar “o culpado” que se
procura, ou seja, diagnosticar patologias do aprendente, quanto para ampliar
este foco, buscando outras variáveis que influenciam no processo de
aprendizagem.
O déficit na aprendizagem aparece hoje entre os problemas de nosso
sistema educacional mais estudados e discutidos. Porém, o que ocorre muitas
vezes é a busca pelos culpados de tal problema e, a partir daí, percebe-se um
jogo onde ora se culpa a criança, ora a família, ora uma determinada classe
social, ora todo um sistema econômico, político e social. Mas será que existe
mesmo um culpado para a não - aprendizagem? Se a aprendizagem acontece
em um vínculo, se ela é um processo que ocorre entre subjetividades, nunca
uma única pessoa pode ser culpada. Alicia Fernández nos lembra que “a culpa,
o considerar-se culpado, em geral, está no nível imaginário” (FERNANDEZ,
1994) e coloca que o contrário da culpa é a responsabilidade. Para ser
responsável por seus atos, é necessário poder sair do lugar da culpa.
Não pretendo aqui, portanto, expurgar a responsabilidade de um
fracasso escolar. O propósito é discuti-lo como um elemento resultante da
integração de várias “forças” que englobam o espaço institucional (a escola), o
8
espaço das relações (vínculos do ensinante e aprendente), a família e a
sociedade em geral.
Este ensaio pretende mostrar a importância do vínculo entre professor,
família e aluno. O resgate de uma educação funcional voltada para a inserção
social, a valorização dos vínculos afetivos, a importância da família e a sua
ação no sucesso escolar, assim como uma reestruração nos cursos de
licenciatura, para suporte dos resgates pretendidos e a importância do
psicopedagogo nesse processo,
9
CÁPITULO I
A
visão
da
sociedade
sobre
o
sucesso
da
aprendizagem
Quando se fala em fracasso, supõe-se algo que deveria ser atingido. Ele
é definido por um mau êxito, uma ruína. Porém mau êxito em quê? De acordo
com que parâmetro? O que a nossa sociedade atual define como sucesso? Daí
a necessidade de analisar o fracasso escolar de forma mais ampla,
considerando-o como peça resultante de muitas variáveis.
A sociedade busca cada vez mais o êxito profissional, a competência a
qualquer custo e a escola também segue esta concepção. Aqueles que não
conseguem responder às exigências da instituição podem sofrer com um
problema de aprendizagem. A busca incansável e imediata pela perfeição leva
à rotulação daqueles que não se encaixam nos parâmetros impostos.
Assim, torna-se comum o surgimento em todas instituições educativas
de crianças problemas, de “crianças fracassadas”, disléxicas, hiper-ativas,
agressivas, etc. Esses problemas tornam-se parte da identidade da criança.
Perde-se o sujeito, ele passa a ser sua dificuldade. Desta forma, ao passar
pelo portão da escola, a criança assume o papel que lhe foi atribuído e tende a
correspondê-lo. Porém, ao conceder este rótulo à criança, não se observa em
quais circunstâncias ela apresenta tais dificuldades (ele está assim e não é
assim). Isso não é apenas uma diferença terminológica, ela revela uma
possibilidade de mudança.
A sociedade do êxito educa e domestica. Seus valores, mitos relativos à
aprendizagem muitas vezes levam muitos ao fracasso. Em nosso sistema
10
educacional, o conhecimento é considerado conteúdo, uma informação a ser
transmitida. As atividades visam a assimilação da realidade e não possibilitam
o processo de autoria do pensamento tão valorizada por Alicia Fernandez. Ela
define como autoria “o processo e o ato de produção de sentidos e de
reconhecimento de si mesmo como protagonista ou participante de tal
produção” (Fernandez, 2001). Este caráter informativo da educação se
manifesta até mesmo nos livros didáticos, nos quais o aprendente é levado a
memorizar conteúdos e não a pensá-los, não ocorrendo de fato uma
aprendizagem.
É preciso distinguir aquilo que é próprio da criança, em termos de
dificuldades, daquilo que ela reflete em termos do sistema em que se insere.
Ao ensinar em turmas de 3o. do ensino médio, percebo a preocupação
pelos tópicos e dicas que porventura, possam cair nos exames de vestibular. O
que esse fato nos remete? Será que todos os conteúdos assimilados pelas
crianças servem apenas como passaporte para o ensino superior, ou servem
para a formação do cidadão e cultura pessoal e com isso, a inserção do
educando no mundo competitivo atual? Ou até mesmo, se pensarmos nas
fases epistemológicas de Piaget, os conteúdos servem para serem conflitados
e com isso a assimilação e acomodação de conhecimentos para ai sim, o
aprimoramento e construção dos saberes acadêmicos.
Vivemos num país globalizado, onde a graduação não mais é sinônimo
de sucesso profissional e certeza de ganhos financeiros. Os concursos
públicos são cada vez mais procurados e competitivos, nessas seleções não
são avaliadas a carga cultural do concursando e sim, a quantidade de
informações decoradas por ele. Logo, qual é a verdadeira finalidade dos cursos
de ensino fundamental e médio? É preparar um cidadão consciente ou um
dicionário ambulante? O que vale mais: a técnica ou a teoria? Se os segmentos
de ensino básico são iguais em qualquer estabelecimento de ensino, por que a
necessidade de cursos pré-vestibulares?
11
Em resumo, seja qual for a resposta das questões anteriores, o
necessário é preparar nossos alunos e filhos para o mundo competitivo cheio
de choques de valores e caminhos tortos. Para isso é necessária uma base
sólida onde a família, escola e docentes andem juntos e culminem em um
resultado: O desenvolvimento epistemológico do discente.
1.1– A epistemologia genética de Piaget
Piaget defende que o desenvolvimento cognitivo é resultado de uma
maturação fisiológica, dividida em fases: Sensório-motor, pré-operatório,
operatório concreto e abstrato. Onde o ser epistemológico adquire informações
ao longo de seu ciclo-vital (assimilação). Através de choques de informações
(desequilibrarão), construímos nosso conhecimento (equilibração) pertinente e
formal (acomodação).
Este processo é vinculado à população, que nos remete, a idéia de que o
conhecimento é gerado pela associação das fases epistemológicas (descritas
acima) e o contato com outros seres da mesma espécie. Com isso, percebe-se
a necessidade da ajuda dos seres que fazem parte do ciclo familiar para
maturação cerebral e a ação do aprender. A importância dos pais nesse
processo é fundamental para o desenvolvimento cognitivo, já que o Homo
sapiens, possui como característica filogênica a total dependência dos
parentais nos primeiros anos de vida (alimentação, proteção, locomoção etc.).
Para
Piaget
o
pensamento
se
constrói
através
da
ação
e,
o
desenvolvimento infantil, se dá a partir das relações que possa a criança
estabelecer com o mundo, mediante a ação da família e o meio social, onde a
mesma está inserida.
Piaget afirma: “O aprendizado com os outros... O sujeito é construtivo...
Não sei agora, mas saberei depois” (Piaget, 1978).
12
1.2 - Um relato sobre a atual situação da família brasileira
Quando se fala em “famílias possibilitadoras de aprendizagem” tem-se
uma tendência a excluir as famílias de classes baixas já que estas não podem
fornecer uma qualidade de vida satisfatória, uma alimentação adequada,
acesso a diversas formas de cultura (cinema, teatro, cursos, computador, etc).
Entretanto é possível a existência de facilitadores de autoria de pensamento
mesmo convivendo com carências econômicas.
Desde a Revolução Industrial o conceito de família vem sendo
modificado. Os papéis dos entes da chamada célula-máter da sociedade
modificam a cada década e com isso, a imagem da família perfeita dá entrada
a um retrato da situação sócio-econômico de nosso país.
Hoje,
observamos
famílias
destituídas
de
seus
componentes
importantes, de seus valores e de seu convívio. Com isso, temos a perda do
mais importante fator social: O amor à família e a vontade de construí-la.
É dessa forma que encontramos a infância sem família no Brasil.
Insatisfação dos pais que não possuem condições para criar os seus filhos.
Omissão das autoridades que poderiam e deveriam fazer mais e melhor.
Omissão de muitos dos agentes promotores da igualdade. E o pior das
omissões, o da sociedade que, fechada cada vez mais em guetos protetores de
suas superficialidades, cala na não realização de suas responsabilidades.
Felizmente isto não é uma verdade absoluta, apesar de ser ainda
maioria. A parcela da população infantil brasileira que vive privada de um
convívio familiar saudável, conta hoje com iniciativas das mais variadas frentes,
que lutam sem descanso, para lhes restituir esse direito. São autoridades
exercendo seus papéis e, em muitos casos, indo além deles. São especialistas
focando seus estudos e seus trabalhos para municiar a prática, são cidadãos
que se envolvem e desenvolvem trabalhos de apoio à vida em família. Para
13
estes a vergonha seria não tentar. Podemos falar de crianças e de direito à
vida em família sem falar de família? Então, quem são estas famílias?
Toda família começa pela união de duas pessoas, nem sempre por
amor, às vezes por conveniência, mas ainda existem aqueles que planejam e
sonham em viverem juntas. Sem generalizações, hoje contamos com famílias
que possuem como chefes mães, pais, tias e avós. Os casamentos não são
duradouros, e é comum em uma única família terem filhos de pais diferentes.
Os pais trabalham diariamente, por isso deixam seus filhos nas mãos de
empregadas domésticas, que pelo ciclo, acabam deixando seus próprios filhos,
nas mãos de parentes ou até mesmo sozinhas. Isso quer dizer que alguns pais
deixam seus filhos nas mãos de outras mães, que para sustentar os seus,
abdicam da criação dos próprios em função da criação dos filhos de seus
patrões. Esse depósito diário dos deveres da criação dos filhos, além das
domésticas, é passado para outras pessoas e parentes, que pela luta pela
subsistência abdicam dessa obrigação e prazer.
A figura paterna se transformou em algo adicional até mesmo
irrelevante. Surgem então a influência dos estepes: padrastos, tios etc, o
mesmo acontecendo, por vezes, a figura da mãe.
A atenção dos pais, tão importante na formação do caráter, valores e
educação, fica reclusa a poucas horas noturnas e aos finais de semana. O zelo
pelos exercícios escolares, o relato da vida da criança, os medos e anseios do
surgimento
“do
descobrir”
da
vida,
sociedade
e
sexualidade
ficam
comprometidos, e os pais abrem espaços para a educação passada por
pessoas fora do ciclo familiar e/ou pela escola.
As condições de vida são por vezes deficientes, e a noção de um lar
confortável e feliz vai dando espaço a uma criação do “jeitinho brasileiro”:
Compra-se o que pode, tem-se o que é possível, valoriza-se o necessário e
denomina de fútil o que não pode comprar. Quando possível, os pais compram
14
para seus filhos tudo o que pedem, na intenção de minimizar a falta de suas
presenças. Relevam atitudes erradas de seus filhos e omitem os seus erros.
Investem nas escolas na eminência dessas instituições resgatarem o zelo,
atenção, educação e formação cidadã, ações estas, negligenciadas pela vida
capitalista e de subsistência de seu cotidiano.
Um exemplo dessas mudanças bruscas que a família brasileira vem
sofrendo com o passar das décadas, e o quanto às referências mudaram, é a
nova versão do programa da Rede Globo do Sítio do pica-pau amarelo. Um
programa que fez parte da infância das crianças da década de 80, baseado na
obra de Monteiro Lobato. Hoje adaptada para a nova geração mostra, uma
visão de família e educação não mais existente em nosso país. A avó como
figura experiente, idosa, cheia de cuidados e carinhos com seus netos, que
vive na função diária de mimos, confecção de guloseimas, paciência para
contar e representar histórias da carochinha. Seus netos vivem de fantasiar
histórias, correm e brincam livremente por um mundo encantado onde só há
problemas em suas brincadeiras. A única mudança da nova versão do
programa, realmente condizente com a atual situação tecnológica, é o fato da
avó ter acesso à internet e os avanços de edição de imagens fazerem
verdadeiras mágicas para dar vida aos contos e aventuras da fábula.
Hoje as avós trabalham para ajudarem no sustento das casas, são mais
jovens, envelhecem sem qualidade de vida, e o pouco tempo que as restam,
descansam para mais dias de trabalho.
E as crianças de hoje? Lidam com jatos de informações, querem
brincadeiras rápidas, sem faz de conta. Acessam a internet, possuem Tv a
cabo e várias estações de rádio. Já não acreditam em papai-noel, tão pouco
em bonecas que falam. O que aconteceu com as nossas famílias e crianças?
Este é o pontapé inicial para uma avalanche de porquês e de seus
respectivos silêncios.
15
1.3 – A família para Freud
Para Sigmund Freud, todos elaboram internamente um conjunto de
características perfeitas de ordem pessoal e social, que impossibilitados de
realizarem tais sonhos, repassam para a personalidade e postura dos possíveis
filhos. Esse pensamento, muito se assemelha a Teoria do Vínculo de PichonRiviére, que será descrito no cáp.V. Tais teoria possuem como ponto principal
à transferência de desejos e valores dos pais para seus filhos.
Freud defende a idéia de um abismo entre os pais e seus filhos no decorrer
das relações parentais no crescimento da prole. Gerando dessa forma
conflitos, depósitos e frustrações na relação pais e filhos.
Uma família sólida e bem estruturada remete uma educação sadia e
propícia para o crescimento das crianças e sua inserção social.
1.4 – A relação social para Vygotsky
Segundo Vygotsky (1984), o desenvolvimento intelectual da criança é
resultante de sua relação com o mundo que, por sua vez, se compõe das
interações e fornece, por meio dessa interação, as condições para o
estabelecimento e desenvolvimento de todas as atividades do pensamento e
do processo de construção de aprendizagem. Esse autor, também aponta para
a necessidade das pessoas dialogarem, duvidarem, discutirem, compartilharem
e questionarem saberes onde há espaço de transformação para as diferenças,
para o erro, para as contradições, para a colaboração mútua e para a
criatividade.
A
família
aparece
como
principal
veículo
para
esse
desenvolvimento.
O Aluno deve possuir todos os fatores que favoreçam a capacidade do
aprender. É sabido, que tal processo, é resultado de fatores extrínsecos e
16
intrínsecos, assim como biológicos e psicológicos. Saber apontá-los é o
primeiro passo para o sucesso escolar.
17
CÁPITULO II
Fatores
prioritários
para
o
desenvolvimento
da
capacidade de aprender
Muitos trabalhos e ensaios pedagógicos e psicopedagógicas foram feitos
sobre a temática do aprender e suas formas intrínsecas e extrínsecas na
execução desse processo.
Em uma visão prática desse processo e principais fatores no processo
cognitivos, podemos citar três fatores que influem no desenvolvimento da
capacidade do aprender:
•
Primeiramente, a atitude de querer aprender. É preciso que a escola
desenvolva, no aluno, o aprendizado ontológico dos verbos querer e aprender,
de modo a motivar para conjugá-los assim: eu quero aprender.
Tal comportamento exigirá do aluno, de logo, uma série de atitudes
como interesse, motivação, atenção, compreensão, participação e expectativa
de aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser pessoa.
•
O segundo fator diz respeito às competências e habilidades, no que
poderíamos chamar, simplesmente, de desenvolvimento de aptidões cognitivas
e procedimentais. Quem aprende a ser competente, desenvolve um interesse
especial de aprender. No entanto, só desenvolvemos a capacidade de
aprender quando aprendemos a pensar. Só pensamos bem quando
aprendemos métodos e técnicas de estudo. É este fator que garante, pois, a
capacidade de auto-aprendizagem do aluno.
•
O terceiro fator refere-se à aprendizagem de conhecimentos ou
conteúdos. Para tanto, a construção de um currículo escolar, com disciplinas
atualizadas e bem planificadas, é fundamental para que o aluno desenvolva
sua compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da
tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade,
18
conforme o que determina o artigo 32 da LDB - Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional Nº 9.394/96 (20/12/96).
Além dos pontos acima, é necessária a consciência da importância do meio
social, cultura e política de onde o aluno está inserido.
2.1 – Fatores sociais e biológicos da aprendizagem
•
Filogênese – História de uma espécie. Limites e possibilidades para o
processo cognitivo (Anatômico e Fisiológico).
•
Ontogênese – Desenvolvimento dos ser (individualismo). Ciclo-vital
(nascimento, crescimento, maturação, reprodução e morte).
•
Sociogênese – História da cultura de onde o sujeito está inserido.
Cultura
como
alargador.
Como
cada
cultura
organiza
suas
potencialidades.
•
Microgênese – Cada fenômeno psicológico tem a sua própria história.
Esse fato determina o não determinismo biológico.
Esses fatores mostram que o meio social é de fundamental importância
para o processo do aprendizado. Desde cedo é importante que haja a
socialização das crianças com as normas, ética e leis da sociedade onde
elas estão inseridas. Entra nesse processo o trabalho e dedicação essencial
dos professores, diretores e família na demonstração e contextualização da
realidade
e
a
necessidade
dos
conhecimentos
adquiridos
na
conscientização da verdadeira finalidade do aprender: “A modificação do
mundo onde estamos inseridos”.
19
CÁPITULO III
Aprendizagem e um novo foco para os cursos de
formação de professores
O processo de aprendizagem é cercado pela seguinte dualidade: Um
dos entes com vontade de aprender (aprendente) e o outro, que queira ensinar
(ensinante). Dessa forma, podemos observar algumas lacunas que dificultam o
processo de aprendizado, tais como:
Escolas sem a infra-estrutura mínima necessária à acomodação dos
•
alunos;
•
Instituições de ensino com super lotações;
•
Escolas sem professores;
•
Estabelecimentos de ensino sem recursos necessários para o
seguimento das aulas: Laboratórios, bibliotecas, salas de vídeos, quadras
esportivas e etc;
•
Professores sem a menor classificação docente;
•
Currículos que fogem à realidade dos discentes;
•
Projetos Políticos Pedagógicos que não atendem a demanda da
comunidade e profissionais da educação.
A outra extremidade dessa lacuna, se encontra a família, essa célulamáter degradada pelos fatores já citados anteriormente, se torna ausente em
muitos casos fazendo com que o papel do professor fuja de sua real função, o
ensino acadêmico.
Por meio de pesquisas e vivências escolares minhas e de outros colegas
de profissão, pude recolher alguns dados da nova função dos docentes do
ensino
médio
e
fundamental:
Educação
sexual,
formação
cidadã,
20
aconselhamento emocional, orientação vocacional, análise e psicologia. Essas
várias ações, dentre outras que possivelmente tenha deixado passar, surgem
da negligência familiar e da sobrecarga de funções da escola e logicamente
dos professores.
Os cursos de licenciatura, geralmente ministrados em três anos, trazem
em seus currículos acadêmicos, disciplinas que deixam bem clara a função de
orientação, mediação e repasses de saberes científicos. Porém essa formação
não atende a atual demanda escolar, o que gera em muitos casos: Frustração
profissional, mão de obra desqualificada, fracasso escolar, abandono de
emprego, estresse profissional, dentre outros.
Logo, quais os pontos de foco para os cursos de Licenciatura?
•
Orientação, capacitação e treinamento de professores sobre como
trabalhar em sala de aula levando em consideração aspectos educacionais
implementando a metodologia de ensino que favoreça a aprendizagem e o
desenvolvimento intelectual, social e emocional do aluno;
•
Desenvolver orientação vocacional e profissional aplicando sondagem
de aptidões a fim de contribuir com a melhor adaptação do aluno no mercado
de trabalho e sua conseqüente auto-realização;
•
Coordenar grupo operativo com família e equipe de profissionais da
Escola;
•
Executar oficinas pedagógicas em sala de aula, elaboradas e realizadas
em conjunto com outros professores de acordo com a demanda de cada sala
de aula;
•
Trabalhar questões da adaptação dos alunos;
•
Auxiliar na construção e execução de projetos de ordem multidisciplinar
realizados na escola;
•
Realizar tarefas de ordem institucional como recrutamento e seleção de
pessoal, elaboração de planos de cargos e salários, avaliação de desempenho,
21
entre outros; Atuar como facilitador das relações interpessoais da equipe
escolar.
É sabido, que a aprendizagem é um processo vincular, ou seja, que se
dá no vínculo entre ensinante e aprendente, ocorre, portanto entre
subjetividades. Para aprender, o ser humano coloca em jogo seu organismo
herdado, seu corpo e sua inteligência construídos em interação e a dimensão
inconsciente. A aprendizagem tem um caráter subjetivo, pois o aprender
implica em desejo que deve ser reconhecido pelo aprendente. “O desejar é o
terreno onde se nutre a aprendizagem” (Fernandez, 2001).
A figura do ensinante é de total importância para o fundamento tanto da
vontade de aprender como na estruturação do processo epistemológico. Por
isso a formação profissional é imprescindível, o que remete em uma nova
versão para os currículos acadêmicos de licenciatura.
De acordo com Paulo Freire em sua obra titulada A pedagogia da
Autonomia, enfatiza que:
“O papel do magistério e das instituições de ensino é de
fundamental importância na construção de um indivíduo
consciente de que é um ser inacabado, tendo sempre
algo mais aprender, e que tenha condições de possuir
autonomia e autoria do seu conhecimento”.
(Paulo Freire, 1996).
Além da formação básica, o currículo deve conter disciplinas, com
conteúdos funcionais nas seguintes áreas: Psicanálise, Psicopedagogia,
Psicologia, Biologia, Sociologia e Filosofia.
“Encontramos no meio do caminho vários tipos de
ensinantes, com suas lideranças próprias: uns bem
22
autoritários, outros democráticos, e ainda outros laissezfaire. Estes deixavam os alunos fazerem o que
quisessem, sem regras, sem limites que lhes permitissem
construir estruturas morais, éticas firmes e coerentes,
distorcendo assim os princípios de atividade, criatividade,
autoridade e liberdade”.
(Borges, 1989).
O que seria mais importante: Estabelecer uma relação positiva com os
alunos, ou esgotar o conteúdo programático daquele ano letivo sem se criar um
espaço para a construção de vínculos adequados?
Com certeza, a resposta para as questões acima é o “bom senso”. Cada
profissional, com o desenrolar de sua vida profissional, vai se moldando para
que com isso desenvolva da melhor forma possível o seu trabalho, sem perder
com isso a ética e a sua formação acadêmica.
Para ensinar é necessária a construção de um vínculo de amizade e
confiança entre o ensinante e o aprendente, pois afinal, além de orientadores e
mediadores do conhecimento, os professores são formadores de opiniões e
muitas das vezes exemplos de vida e padrões a serem seguidos.
23
CÁPITULO IV
A Teoria Vínculo: Professor, aluno e família
O professor necessita ser um construtor de vínculos positivos. A partir de
vínculos construídos, podemos perceber, através das sinalizações dos alunos,
como o fenômeno da comunicação está acontecendo em sala de aula. Dessa
forma, os vínculos serão os indicadores, “os pontos chaves” para o
desenvolvimento de uma atuação psicopedagógica.
Pichon Rivière (1992), através da sua Teoria do Vínculo dá uma
contribuição notável para a educação: permite analisar a relação professor,
aluno e família em três dimensões: mente, corpo e mundo exterior que se
integram dialeticamente, levando em
consideração a dimensão mais
importante: a humana, portanto, estudar este ser humano na sua totalidade,
configurando um perfil próprio para cada sujeito.
Com base na Teoria do Vínculo, podemos perceber a complexidade de
ações e reações que podem acontecer numa sala de aula e o aparato dado
pela família, nesse processo epistemológico. Se o professor não tiver
conhecimento, para saber lidar com tais situações, poderá contribuir, sem
desejar, para a construção de vínculos negativos com ele, com a matéria, com
o processo educacional e epistemológico1. O apoio dos responsáveis e entes
integrantes do vínculo familiar do educando é de total importância para o
sucesso da incorporação do conhecimento e a formação de um ser autônomo,
consciente e apto ao convívio social.
Essa Teoria, conhecida também como 3Ds, é um indicador para a
construção de uma atuação psicopedagógica, estar aberto para receber os
depósitos de seus alunos, diminui a ansiedade excessiva, tanto do grupo como
a do professor.
1 – Alusão ao cap. III.
24
Em contrapartida, a questão da responsabilidade do fracasso escolar,
geralmente, aparece como percebida fora da dinâmica familiar, como algo
intrínseco ao indivíduo. A família pode estar “depositando” na criança e
adolescente
seus
fracassos
e
imperfeições,
tornando-a
“depositária”,
impedindo seu acesso ao conhecimento (Pichon-Rivière, 1992). Essa teoria
recebe também o nome de três 3Ds, pois para o autor, existe uma relação
social de trocas de encargos, culpas e depósitos: depositante, depósito e
depositário. Estas podem ser entendidas como estruturas nas quais estão
incluídas sujeito e objeto, com papéis por eles definidos, estabelecendo uma
relação particular entre os mesmos.
Nessa teoria, cada indivíduo (depositário) cumpre e aceita um papel
(depósito) que ele é atribuído pelo outro (depositante).
Como exemplo do conteúdo anteriormente exposto, com a situação
familiar em que os membros (depositantes) projetam em um dos filhos
(depositado) suas franquezas, seus temores e ou suas ansiedades (depósito).
Este, por sua vez, introjeta as deficiências familiares, por não se encontrar de
posse de estruturas psicopedagógicas que lhe permita rechaçar essas
projeções, gerando dessa forma, dentre outros problemas, a dificuldade de
aprendizagem.
25
CÁPITULO V
Dificuldade
de
aprendizagem:
alertas
externos
e
internos, da falta ou excesso do vínculo familiar
Dificuldade de Aprendizagem é um termo genérico que se refere a um
grupo heterogêneo de desordens, manifestadas por dificuldade na aquisição e
no uso da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas.
Estas desordens são intrínsecas ao sujeito, presumidamente devido a
uma disfunção no sistema nervoso central ou no processo de ensinagem, pode
ocorrer apenas por um período na vida.
Problemas de controle de comportamento, percepção social e interação
social podem existir junto com as dificuldades de aprendizagem, mas elas não
constituem por si só uma desordem de aprendizagem.
Embora
dificuldades
de
aprendizagem
possam
ocorrer
concomitantemente a outras condições desfavoráveis (retardo mental, séria
desordem emocional, problemas sensórios - motores) ou influências externas
(como diferenças culturais, instrução insuficiente ou inapropriada) elas não são
o resultado dessas influencias ou condições.
A dificuldade de aprendizagem, quando de origem biológica, pode ser
bastante definida e clara, nos levando a supor que a área emocional e o
ambiente familiar não tiveram nenhuma participação no seu aparecimento e
determinação. Boa parte dos problemas que esbarramos nesta área - lentidão
de raciocínio falta de atenção, desinteresse, etc., encontra suas origens na
biologia e, sobretudo na biologia exposta ao meio ambiente.
26
Mesmo as teorias mais organicistas e baseadas na neuropsicologia,
como afirma Ratey & Johnson (1997), admitem que os distúrbios mentais,
mesmo brandos, podem se tornar muito piores em respostas a um ambiente
cheio de ruídos, a uma família ruidosa. Este é um dos importantes motivos
pelos quais responsabilizam os pais pelos problemas dos filhos, porque o nível
de funcionamento dos pais sempre altera o problema. Com base biológica ou
não a do filho. A criança hiperativa se tornará mais hiperativa, a deprimida mais
deprimida, a autista mais autista, quando a família funciona desta forma.
Alícia Fernandez (1990), em vários momentos do seu livro A Inteligência
Aprisionada,
nos
traz
uma
visão
mais
global
das
Dificuldades
de
Aprendizagem, onde existe a articulação entre inteligência e desejo; entre
família e sintoma. Ela diz:
”Se pensarmos no problema de aprendizagem como só
derivado do organismo ou só da inteligência, para sua
cura não haveria necessidade de recorrer à família. Se,
ao contrário, as patologias no aprender surgissem na
criança ou adolescente somente a partir de sua função
equilibradora do sistema familiar, não necessitaríamos,
para seu diagnóstico e cura, recorrer ao sujeito
separadamente de sua família”.
Ao considerar o sintoma como resultante da articulação construtiva do
organismo, corpo, inteligência e a estrutura do desejo, incluído no meio familiar
(e determinado por ele) no qual seu sintoma tem sentido e funcionalidade, é
que podemos observar o possível "atrape" da inteligência.
Souza (1995), refere-se à Dificuldade de Aprendizagem , como sendo
um
impedimento
de
um
bom
desempenho
intelectual,
vinculado
a
problemáticas emocionais associados a conflitos familiares não explicitados.
27
É preciso, também se considerar, os efeitos emocionais que essas
dificuldades acarretam, agravando o problema. Se seu rendimento escolar for
sofrível, a criança talvez seja vista como um fracasso pelos professores ou
colegas, e até pela própria família. Infelizmente, muitas dessas crianças
desenvolvem uma auto-estima negativa, que agrava em muito a situação, e
que poderia ser evitada, com o auxílio da família e de uma escola adequada.
Dessa
forma,
a
dificuldade
de
aprendizagem
tem
causas
e
desenvolvimentos múltiplos, exigindo pesquisas em diversos campos do
conhecimento, para que se tenha uma visão mais ampla sobre esse tema. Ela
pode ter uma origem orgânica, intelectual/cognitiva, emocional (incluindo-se aí
a estrutura familiar/relacional), sócio-cultural; porém, o que se percebe na
maioria dos casos é que há um entrelaçamento destes fatores, responsável
pela complexidade da situação.
As
dificuldades
de
aprendizado
também
podem
ocorrer
em
concomitância com outras condições desfavoráveis (retardo mental, séria
desordem
emocional,
problemas
sensório-motores)
ou,
ainda,
serem
acentuadas por influências externas (como, por exemplo, diferenças culturais,
instrução insuficiente ou inapropriada) não sendo, necessariamente, o
resultado dessas condições.
Por isso, tanto nas considerações caso a caso, como numa casuística
mais ampla, encontrar um fio condutor para explicar a multiplicidade de
sintomas é, às vezes, impossível, mesmo para os especialistas. O que
responde por este fato é que esta complexa e ampla sintomatologia corre
paralela a igualmente complexa rede de possibilidades que a originam.
A criança com dificuldade de aprendizagem está na maior parte das
vezes situada numa família onde seu discurso não encontra um sentido. A ela,
muitas vezes cabe a função de carregar o peso da história do grupo. Esta
função pode ser demasiado difícil e ela não conseguir dar conta. É quando
28
surgem os sintomas: notas baixas, falta de atenção, dificuldade ou lentidão de
raciocínio. "Ele fica nas nuvens"; “Nunca traz as lições, seus cadernos estão
incompletos"; Não faz nada durante as aulas, parece que eu falo com as
paredes" ; comentam os professores.
Crianças tolhidas por uma dificuldade de aprendizagem, na maior parte
das vezes, tem o seu desempenho escolar comprometido. Sabe-se que nunca
há uma causa única para o fracasso escolar, mas uma conjunção de fatores
que, num determinado momento, interagem, imobilizam o desenvolvimento do
sujeito e do sistema familiar/escolar/social. É importante não confundir
dificuldade de aprendizagem com fracasso escolar.
Em resumo, a dificuldade de aprendizagem encontra-se inserida num
conjunto de sinais, de origem bio-psico-social, calcados em algumas
constituintes básicas: a criança, a família, a escola e o meio social (Polity,
2001).
Muitos são os fatores depositados pelos pais em seus filhos: Sociais,
econômicas, laborais, frustrações pessoais, excesso de zelo ou a falta dele,
ausência de vínculo familiar, excesso de proteção etc.
Como já dito anteriormente, nesse ensaio, a nova formação familiar
brasileira nos remete a uma reformulação dos ideais, padrões e normas na
relação pais e filhos, Caso contrário, outros sinais fora à dificuldade de
aprendizagem, podem aparecer.
29
CÁPITULO VI
Psicopedagogia
Sistêmica
e
abordagem
psicopedagógica nos casos relacionados à família
A criança em idade escolar sabe que precisa ter sucesso nos estudos.
Isso é exigido por seus pais, familiares, colegas, professores, pela sociedade
como um todo. O sucesso opõe-se ao fracasso, e este implica num juízo de
valor, num julgamento que deve corresponder a um ideal.
Esse ideal normalmente é ditado por valores familiares que são
transmitidos de geração em geração.
Em atendimentos de famílias, por psicopedagogos, cuja queixa é a
Dificuldade de Aprendizagem de um de seus membros, em geral um dos filhos,
faz-se necessário construir um espaço de escuta respeitosa, onde se possa
observar o processo de um plano mais amplo. Neste momento tem-se a
necessidade de questionamentos dos seguintes pontos:
•
Estrutura Familiar, isto é, qual a composição da família, organização
fraterna (a ordem, o sexo, as idades), quais as pessoas significativas para o
grupo, que convivem, ou não na mesma casa;
•
Adaptação ao Ciclo Vital, isto é, quais os eventos relacionados à
evolução natural do grupo, como a família reage a eles, como cada membro
enfrenta essas mudanças, eventos externos e internos ao grupo que tem
alguma significação;
30
•
Alianças e afinidades existentes no grupo, quem é leal a quem, quem se
une com quem, contra quem, quais as alianças e triangulações existentes no
sistema familiar;
•
Padrões de Repetição que determinam a formação e/ou rompimento de
vínculos afetivos, influenciando sobremaneira no funcionamento e na hierarquia
familiar;
•
Equilíbrio e Desequilíbrio considerando-se seu funcionamento regular,
ou seja, quais as expectativas para cada um de seus membros, papéis, estilo
de funcionamento, padrões de comunicação e temas recorrentes, que
pertencem ao imaginário do grupo; como manejam os segredos, o que é visto e
como é permitido o crescimento e a diferenciação;
•
Significado que a família confere às crenças, aos valores, aos mitos, que
geram mandatos relativos ao saber.
Ao entender a família como um todo, a psicopedagogia, estará
valorizando o aspecto de Globalidade do sistema, que difere do somatório das
partes (teoria Geral dos Sistemas) e o aspecto de Reciprocidade, onde cada
membro influencia e é influenciado pelo comportamento dos outros. Desta
forma, pode-se aproximar daquelas questões familiares que interferem de
maneira contundente no desenvolvimento da criança ou do jovem.
A colocação do indivíduo no espaço familiar, dentro de uma perspectiva
geracional (vertical) e dentro de um contexto atual (horizontal), permitem a
formação de um quadro mais amplo para o entendimento das dificuldades de
aprendizagem.
De acordo com Polity (1998):
”Quando um indivíduo nasce, ele não vem ao mundo
como uma tela em branco, mas sim, inserido numa
história familiar que compreende várias gerações e
31
recebe uma série de missões e projeções dos pais avós
e família extensiva”.
O conceito de missão está ligado aos conceitos de legado e lealdade
desenvolvidos por Boszormenyi & Sparks (1983), que evidenciam o quanto
forte e poderosa pode ser o legado destinado à criança, impedindo-a muitas
vezes de se relacionar com o conhecimento e com o saber.
Minuchin & Michael (1993) diz que a família é o contexto natural para
crescer e receber auxílio, onde cumpre o seu papel de garantir a pertença e ao
mesmo tempo promover a individualização do sujeito. Aprender requer que
possamos nos separar, pelo menos em parte, dos nossos pais e construir um
saber próprio, que ao mesmo tempo, que nos dá pertencimento, pois o
compartilhamos com outros membros do grupo. Isso demanda de nós um certo
grau de autonomia e individualidade, que por sua vez nos permitem elaborar
nossa própria identidade.
32
Conclusão
O aprendizado é resultado de uma série de fatores disseminados na
Biologia e Psicologia. O aprender nos inclui socialmente e a cada dia, há a
necessidade da busca por mais informações e construção de conhecimentos
que nos permitam adquirir um lugar ao sol de nossa competitiva sociedade.
A escola é hoje o principal ponto de partida de todo o processo cognitivo.
A ausência dos pais, originada por diversos fatores morais, sociais e
econômicos está a cada dia, se ausentando desse processo. A sobrecarga de
funções para os professores gera uma necessidade de uma busca por
alternativas que consigam atender a nova demanda social.
As várias pesquisas sobre o assunto aponta como indispensável à
presença do meio familiar para o incentivo, educação, contextualização dos
conhecimentos prévios e os futuros. A união sadia e harmônica entre a escola
e a família gera uma relação tranqüila e concreta onde a criança confiável, se
sente apta e preparada para a jornada acadêmica, montando dessa forma uma
personalidade forte e madura, pronta para os tempos modernos do séc. XXI.
Ao mesmo tempo, o excesso de zelo pode gerar a criação, por parte da
criança, de um mundo exclusivo e utópico, dificultando sua relação com o
mundo e o discernimento entre o certo e o errado.
Para acompanhar o processo, é necessária a conscientização de uma
escola preparada para receber essa demanda de crianças com excesso e falta
de apoio familiar, assim como as crianças que não possuem tal déficit. Essa
preparação deve ser realizada com uma equipe de discentes preparados e
33
profissionais direcionados para esses problemas como pedagogos, psicólogos
e psicopedagogos.
A função dos professores deverá ultrapassar a simples ação de
mediação de conhecimento. Esse fato exige uma formação mais diversificada e
apta a atuar nos possíveis problemas de aprendizado.
Uma equipe multidisciplinar, interdisciplinar e unida constitui a base para
a formação de uma escola moderna e preparada para a demanda social do
nosso século.
A conscientização desde cedo, que prioriza a vida familiar e a
importância de um vínculo sentimental e afetivo por parte dos pais é uma
alternativa para a restauração da família e conseqüentemente de sua
importância social.
Feita essa ponte e conscientização, com certeza teremos a formação de
pessoas preparadas e inseridas socialmente e aptas a participarem de um
mundo criterioso e exigente.
34
Anexos
Índice de anexos
Anexo 1 – Entrevista com professores de Ensino Fundamental e médio
Anexo 2 – Atividade cultural extra-classe
35
Anexo I
1.1 - Pesquisa
A pesquisa foi feita para levantar os possíveis problemas educacionais
de praxe nas turmas do ensino fundamental e médio. Tais dados foram
utilizados na escolha do tema e realização desse trabalho acadêmico.
Foi feita com aproximadamente vinte professores, licenciados que
possuíam em média de três a dez anos de magistério.
O local escolhido foi o Centro Educacional Pinheiros, localizado no
município de Nova Iguaçu. Tal escola atende desde o ensino infantil ao prévestibular.
O período de coleta foi de dois meses, entre os meses de janeiro a
março de 2005.
Para efeito de conteúdo prático foi escolhida das 20 entrevistas, seis
para edição.
1.2 – Perguntas
I – Quantos anos de magistério?
II – Quantos anos de estudo para iniciar o trabalho como professor?
III – Quais os principais problemas encontrados nas salas de aula?
IV - Está feliz profissionalmente?
V – Como você a participação da escola em seu trabalho?
36
1.3– Dados coletados
Nome: Valéria dos Santos
Disciplina: Português/Inglês
Respostas:
I – 07 anos
II – 18 anos
III – Falta de atenção dos alunos e interesse dos alunos e dos pais; avaliações
arcaicas e falta de infraestrutura da escola.
IV – Sim
V – Ausente
Nome: Adilson Muniz
Disciplina: Ciências/Biologia
Respostas:
I – 5 anos
II – 19 anos
III – Falta de atenção dos alunos; dificuldades de aprendizagem; falta de
interesse dos alunos e famílias ausentes; avaliações pouco criteriosas.
IV – Não
V – Ausente
Nome: Elane Cerqueira.
Disciplina: História/Geografia
Repostas
I – 9 anos
II – 18 anos
III – Falta de atenção e interesse dos alunos; ausência da família e excesso de
conteúdo.
IV – Sim
V – Presente
37
Nome: Eliseu Haron.
Disciplina: Matemática
Respostas:
I – 10 anos
II – 17 anos
III – Falta de interesse, atenção e vínculo com os alunos; Falta de apoio familiar
e direção.
IV – Não
V – Ausente
Nome: Roseli Machado.
Disciplina: Português/Literatura
Respostas:
I – 3 anos
II – 18 anos
III – Falta de interesse, atenção e educação cidadã; Falta de apoio familiar.
IV – Sim
V – Presente
Nome: Angelisson Nunes.
Disciplina: Educação Física
Repostas:
I – 4 anos
II – 19 anos
III – Falta de estimulo, atenção e interesse; Falta do apoio familiar.
IV – Sim
V - Presente
38
Anexo II
1.1 – Atividades Extra-classes
39
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Pós-graduação “Lato Sensu”
Psicopedagogia Institucional
Título da Monografia: A IMPORTÂNCIA DA FAMILIA E DO PROFESSOR NO
PROCESSO DE APRENDIZAGEM
Autor: Marcelo Henrique Meneses Fiúza
Curso: Latu Sensu em Psicopedagogia Institucional
Data da entrega: 23/07/2005
Avaliado por:
Conceito:
UCAM - Campus Centro – Rio de Janeiro – 1o. semestre de 2005
40
Bibliografia
ABNT. Apresentação de relatórios técnico-científicos. Rio de Janeiro, 2001.
AJURIAGUERRA, J. Manual de psiquiatria infantil. 2a.Ed.São Paulo: Ateneu,
1981.
BORGES, L.S.J.C. Deméter, a deusa-mãe: a origem e a permanência do papel
na busca da felicidade. Dissertação (Mestrado) – Instituto Metodista de Ensino
Superior, São Bernardo do Campo, 1989.
BOSSA, N. A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 2ª
ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
BOSZORMENYI & SPARKS, I. Lealtades Invisibles. Buenos Aires: Amorrotur
Editores, 1983.
CHAMAT, I. S. J. Ajude-me a crescer... São Paulo: Editora Panorâmica, 1995.
CHAMAT, L. S. J. Técnicas de Diagnóstico Psicopedagógico: o diagnóstico
clínico na abordagem interacionista. São Paulo: Vetor, 2004.
FERNANDEZ, A. A inteligência aprisionada. Tradução Iara Rodrigues. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1990.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa.
24ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
FREUD, S. Além do princípio do prazer. Rio de Janeiro. Imago, 1972.
41
GOULART, I.B. Piaget: Experiências básicas para utilização do professor.
Petrópolis: Vozes, 1987.
LDB – Leis de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira - LEI Nº 9.394/96
(20/12/96). Publicado no Diário Oficial da União em 23/12/96, pp. 27833-27841.
MINUCHIN, S. & MICHAEL, P. A cura da Família. Porto Alegre: Artes Médicas
Sul. 1993.
PAÍN, S. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem. 4ª ed.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.
PIAGET, J. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro. Zahar, 1978.
POLITY, E. Dificuldade de aprendizagem e família: Construindo novas
narrativas. São Paulo: Editora Vetor, 1998.
POLITY, E. Ensinando a Ensinar. São Paulo: Editora Vetor, 2001.
RATEY, J.M.D. & JOHNSON, C. Síndromes Silenciosas. São Paulo: Artes
Médicas, 1997.
REGO, T. C. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
RIVIÉRE, Pichon. Teoria do Vínculo. São Paulo. Martins Fontes, 1992.
SOUZA, J. O. Clínica psicanalista de crianças e adolescentes. Rio de Janeiro:
Revinter, 1995.
VEIGA, I. P. A. Projeto Político e Pedagógico da Escola - Uma Construção
Possível. 6a. ed. Papirus, s/d.
42
VISCA, J. Clínica psicopedagógica: epistemologia convergente. Porto Alegre.
Artes Médicas, 1987.
VYGOTSKY. L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes,
1984.
WATZLAWICK, P. A Realidade Inventada. Psy Editorial: São Paulo, 1994.
WOLPE, J. Prática de terapia comportamental. São Paulo: Editora Brasiliense,
1973.
43
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO
2
AGRADECIMENTO
3
DEDICATÓRIA
4
RESUMO
5
METODOLOGIA
7
SUMÁRIO
8
INTRODUÇÃO
9
CAPÍTULO I - A Visão da Sociedade sobre o sucesso da aprendizagem
11
1.1 – A Epistemologia Genética de Piaget
13
1.2 – Um relato sobre a atual situação da Família Brasileira
14
1.3 – A Família para Freud
17
1.4 – A Relação Social para Vygotsky
17
CAPÍTULO II – Fatores Prioritários para o Desenvolvimento da Capacidade do
Aprender
19
44
2.1 – Fatores Sociais e Biológicos do Aprendizado
20
CAPÍTULO III – Aprendizagem e um Novo Foco para os Cursos de Formação
de Professores
21
CAPÍTULO IV – A Teoria do Vínculo: Professor, Aluno e Família
27
CAPÍTULO V – Dificuldade de Aprendizagem: Alertas Externos e Internos da
Falta ou excesso do Vínculo Familiar
26
CAPÍTULO VI – Psicopedagogia Sistêmica e Abordagem Psicopedagógica nos
Casos Relacionados à Família e ao Professor
31
Conclusão
34
Anexos
36
Anexo 1
37
1.1 Pesquisa
37
1.2 – Perguntas
37
1.3 – Dados Coletados
38
Anexo 2 – Atividades Extra-classe
40
Avaliação
41
Bibliografia
42
45
Download

Marcelo Henrique Meneses Fiuza