PAINEL AS GARATUJAS NO DESENVOLVIMENTO DE VISUALIDADES NA EDUCAÇÃO INFANTIL EM JUAZEIRO/BA Nayanne Ferreira Damacena Josiane da Silva Siqueira Cristiane Crispim Bezerra Discentes da Licenciatura em Artes Visuais Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) Mnda. Flávia Maria de Brito Pedrosa Vasconcelos Professora Orientadora responsável pela disciplina Metodologia e Didática do Ensino de Arte Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) Resumo As garatujas apresentam-se como primeiras experiências interventivas e metodológicas em Artes Visuais de competência simbólico/estrutural da criança no seu desenvolvimento. Entendendo o contexto escolar da educação básica, optamos por investigar atividades visuais da infância, percebendo como o incentivo didático ao exercício das garatujas possibilita à criança o desenvolvimento de formas de visualidades e expressão artística em uma escola municipal de Educação Infantil em Juazeiro/BA. Observamos algumas aulas de Artes Visuais com intuito de compreender de que forma a prática das garatujas pode se constituir como apropriação construtivo/contextual da criança e, por conseguinte, da percepção estética, da criação artística e da compreensão de visualidades. Para tecer tais reflexões, nos embasamos em textos acadêmicos que tratam de concepções/práticas didático/metodológicas do ensino de Artes Visuais e de visualidades na infância. Ao final, consideramos os resultados encontrados, apresentando desdobramentos e entendimentos da pesquisa realizada assim como reflexões sobre algumas análises em leitura das visualidades de atividades com garatujas em ensino de Artes Visuais a partir da escola investigada. PALAVRAS-CHAVE: Educação Infantil; Garatujas; Ensino de Artes Visuais. 1.Introdução e considerações históricas do ensino de arte para infância Na Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) atuamos como discentes vinculadas á Licenciatura em Artes visuais, juntamente com a primeira oferta da disciplina de Metodologia e Didática do Ensino de Arte com concepção metodológica e epistemológica que nos foi ministrada em sala de aula. Acreditando que todo o corpo educacional é imbuído de intencionalidades definidas ou não, mas sempre presentes e determinantes na metodologia empregada pelo educador, procuramos traçar um breve perfil histórico da relação entre arte, educação e infância como meio de instrumentalizar nossas reflexões sobre como é trabalhado o desenho infantil na escola observada, e ainda para pensarmos as práticas educacionais dentro das demandas atuais do ensino artes visuais na infância. Somente a partir do século XX a concepção de criança é discutida com maior amplitude pela sociedade; é onde ela passa a ser reconhecida com sujeito em desenvolvimento de atribuições e necessidades específicas. A popularidade da instituição escolar levou à diferenciação de faixas etárias, o que resultou na separação das crianças do mundo adulto e, por conseguinte, à elaboração de uma didática que atendesse a nova demanda. Também nesse período as concepções em educação e psicologia voltam-se ao universo infantil e a arte é inserida nesse contexto a priori pelo seu caráter lúdico e criativo e como elemento propulsor da capacidade criadora como ponto de coesão entre os estudos realizados e o ensino vigente. Entrementes, a produção artística da época vive um momento de renovação em que se questionaram as idéias tradicionais da escola de belas artes e valoriza-se a expressão da individualidade, são os movimentos artísticos de vanguarda que se aproximam da arte primitiva e pelo reconhecimento das qualidades estéticas dessas manifestações. Podemos dizer que todos esses acontecimentos convergiram e participaram das discussões sobre a arte-educação que fizeram correlação com o desenvolvimento da criança. Dentre os pensadores da educação no período destacam-se as ideias de John Dewey, que reforça o novo posicionamento perante a infância, centrando os esforços das novas tendências pedagógicas na compreensão da criança, conforme Dewey (1978) a criança deve ser vista como ponto de partida no seu desenvolvimento social que só será bem utilizado assim que necessário para o seu crescimento na educação. E a respeito da finalidade dos métodos na educação reforça, “Personalidade e caráter são muito mais que matérias de estudo. O ideal não é a acumulação de conhecimentos, mas o desenvolvimento de capacidades” (Dewey, 1978). Seus estudos apresentavam-se como oposição às correntes tradicionais que viam na criança apenas um indivíduo a ser “treinado” pela escola. Defendia a livre expressão da individualidade que favorecesse a espontaneidade da criança e a aprendizagem pela experiência do presente. Começa a surge varias vertentes da concepção de livre expressão na educação infantil. Uns mais radicais, que negavam até o contato da criança com outras produções artísticas como maneira de manter a “pureza” e individualidade da mesma, e outros mais conciliadores, como o próprio Dewey que buscava uma interação entre a criança com suas experiências, mas também com a experiência do adulto. A partir das décadas de 30 e 40 ganham notoriedade os discursos que pregavam a arte como a espinha dorsal da educação: “uma educação estética é a única que dá harmonia ao corpo e enobrece a alma” (READ, 1982). Firmava-se, então, a idéia de uma educação pela arte, que tem como principal teórico Herbert Read. Todas as expressões artísticas deveriam convergir para uma abordagem que segundo ele deveria se chamar “educação estética” a fim de promover desenvolvimento da criança de forma completa. A arte seria um instrumento para tornar as crianças e os jovens em adultos que conseguissem estabelecer uma boa relação consigo mesmo e com o mundo. A arte daria as ferramentas necessárias para o exercício dessa relação por meio de atividades que estimulassem a expressão pessoal, observação e crítica: “o objetivo de uma reforma do sistema educacional não é produzir mais obras de arte, mas pessoas e sociedades melhores” (READ, 1982). A idéia do educador nesse contexto seria mais de um auxiliar, de um guia, um inspirador que favorecesse a liberdade que a criança deveria ter. Seguindo uma perspectiva parecida, mas com enfoque diferenciado, Viktor Lowenfeld, propõe uma educação que se preocupe, sobretudo com a motivação da sensibilidade da criança em expressar suas experiências e com o desenvolvimento de uma personalidade autoconfiante e criativa. O papel do educador, para Lowenfeld (1977), também dos pais, seria compreender a crianças e provocá-las a aprender, e não ensiná-las simplesmente, pois muitos dos conceitos de arte entendidos pelos adultos em nada contribuiriam para percepção das crianças, pelo contrário, poderia inibi-las e deixá-las inseguras quanto a expressão pessoal e capacidade criadora. O foco está no educando e o conhecimento se daria pelo incentivo, conforme Lowenfeld (1977) quanto maior estimulo a aprendizagem o indivíduo tem maior será o seu desenvolvimento sensível e criador, e tendo assim uma educação equilibrada podendo então adquirir uma maior chance de desabrochar toda sua capacidade criadora e cognitiva em potencial. 2. A arte compreendida como elemento da cultura e da história da humanidade e as praticas pedagógicas do professor na educação infantil As ideias voltadas exclusivamente para expressão livre, sem interferências e a grande ênfase dada ao processo em detrimento do produto final ocasionaram leituras de que arte não teria conteúdos específicos a serem ensinados. A banalização da livreexpressão, a falta de entendimento do papel do professor de artes nesse processo, talvez pela fragilidade da metodologia nesse aspecto, e o próprio conceito de educação pela arte, suscitaram discussões acerca da arte na educação também como área de conhecimento, e não apenas instrumento de expressão. A partir questionamentos sobre o aprendizado o entendimento sobre arte e suas competências foi ganhando novos contornos na década de 50, sob perspectivas contemporâneas que não negavam o conhecimento acumulado pela humanidade, enfim, que considerassem a influência da história e da cultura no tempo presente para criação de novas produções e novos meios de relação com o contexto social do indivíduo. Passou-se a considerar no fazer artístico o conhecimento histórico e estético, segundo Gombrich (1983) a criatividade se baseia na tradição, ser criativo implica em um aprendizado continuo e persistente, a criatividade não é algo que é adquirido instantaneamente o individuo tem uma serie de acúmulos de conhecimentos para que de fato seja um ser pensante e conseguintemente criativo. Chegou-se ao pressuposto de que o ensino de arte para ser eficiente e de qualidade, seria necessária a interação entre quatro áreas distintas: a produção artística, a historia da arte, a estética e a crítica. A criança passou então a ser vista não apenas como um produtor espontâneo de uma arte pura que não contamina nem é contaminada, mas também como um fruidor em potencial, repleto de referenciais históricos de produção e discursos em arte. A produção artística das crianças tem que ser tida pelo professor como um instrumento de relevância na aprendizagem do aluno, nas aulas de arte, isso é importante para a formação social da criança enquanto cidadãos. O aporte teórico/metodológico que sustenta as concepções acerca do papel do profissional em arte que atua no contexto da educação infantil nesse constructo está na valorização das múltiplas maneiras de aprender, pois acreditamos que cada criança tem sua forma própria de interação com pessoas e o mundo, assim como necessidades diferenciadas nos processos de aprendizagem (PILLOTTO e MOGNOL, 2007). O papel do professor esta em respeitar o processo criativo dos alunos, para que a criança possa exercer sua criatividade, mais também é papel do professor da educação infantil propagar aos seus alunos a visão de ter a arte como conhecimento e não como total forma de ludicidade e momentos de lazer. A criança de quatro ou cinco anos esta em uma fase de libertação de sua criatividade se ela tem um professor que esta o tempo todo dando juízos de valor a suas criações isso pode intervir no crescimento cognitivo do aluno. 3. As garatujas e a sua importância para a criança A partir das atividades realizadas em uma escola municipal em Juazeiro-BA com as turmas de Maternal I e Jardim II, mostraremos o quanto é importante para a criança as suas garatujas, pois elas são as suas primeiras demonstrações de intervenção no mundo e uma liberdade de expressar os sentimentos vividos. O desenho da criança, especificamente as garatujas a qual estamos analisando são de extrema importância, pois além de aumentar a criatividade ajuda no desenvolvimento motor melhorando assim o processo de alfabetização da criança. Então quando a criança passa a desenhar ela começa a ter uma melhor percepção do ambiente, passa a ter interesse por coisas que ainda não tinha desenhado e assim suas dimensões de espaço e de mundo aumentam. O desenvolvimento criador tem início logo que a criança traça os primeiros riscos; e o faz inventando suas próprias formas e pondo nelas algo de si mesma, do modo que lhe é peculiar (LOWENFELD e BRITTAIN, 1974, p.49). As primeiras garatujas são desenhadas a partir de um ano de idade, nesse momento ela ainda não possui a sua coordenação motora formada e esses traços são apenas uma demonstração de alegria e prazer para a criança, sendo que esses desenhos já são traços de sua personalidade e uma das formas de ela expressar as suas emoções, o desenho passa a ser um demonstrativo de expressões onde a criança externa as suas intenções e desejos, momento em que ela se torna única diante do mundo. Para a criança desenhar é algo bom e que lhe garante momentos felizes, tenta retratar o que lhe interessa, quando ela desenha sua mãe sem braços é porque naquele momento não tem importância para ela, mais com o tempo ela ganhara maturidade e conseguirá representar graficamente esses desenhos. Na escola visitada percebemos que as crianças são bem criativas e tem grande facilidade de desenhar, se expressão com facilmente mostrando que é segura de si mesma essa segurança é um reflexo do seu desenvolvimento, ela consegue concretizar os seus pensamentos no desenho e isso a deixa feliz, por isso cremos que o desenho possibilita a autoconfiança, pois a criança se sente livre para demonstrar o que pensa. Fig.1 Garatuja de uma criança da Escola Municipal de juazeiro-BA Dessa forma percebemos a grande importância do desenho para as Artes Visuais e para a educação, pois ele nos dá resultados da ação criadora da criança e nos mostra assim a capacidade de retratar a sua realidade. As crianças têm ideias próprias, interpretações, representações ou teorias sobre a produção de arte e o fazer artístico, tais construções são edificadas a partir de experiências que tem ao longo de sua vida, tudo isso envolve relações, mediada ou não por educadores e agentes educativos, vivenciando o contato com a produção de arte, com o mundo físico e com seu próprio fazer (LOWENFELD e BRITTAIN, 1974). Enfim o conhecimento adquirido na disciplina de Metodologia e Didática no Ensino de Arte contribuiu para melhor analise das praticas pedagógicas aplicadas em sala de aula no ensino infantil, ter o olhar e a concepção de que as garatujas são importantes para o desenvolvimento da criança é um ponto positivo para os discentes de Licenciatura em Artes Visuais, que serão os futuros educadores de arte na região do Vale do São Francisco. 4. Referências DEWEY, Jonh. Vida e educação. São Paulo, Melhoramento, 1978. Arte historia e ensino: uma trajetória/ Dulce Regina Baggio Osinski- 2 ed.- São Paulo, Cortez 2002. GOMBRICH, Emest. Entrevista concedida a Ana Mae Barbosa. Londres, 13 de jan. 1983. In BARBOSA, Ana Mae (org.). Arte educação: leitura no subsolo, São Paulo, Cortez, 1997. In Arte historia e ensino: uma trajetória/ Dulce Regina Baggio Osinski- 2 ed.- São Paulo, Cortez 2002. PILLOTTO, Silvia Sell Duarte. MOGNOL, Letícia Coneglian. A arte no contexto da educação infantil. In Marilda Oliveira de Oliveira (org.), Arte Educação e Cultura, Editora UFSM Santa Maria: Ed. da UFSM- 2007. LOWENFELD, V. e BRITTAIN, W.L. Desenvolvimento da capacidade criadora. Tradução: Álvaro Cabral. São Paulo: Mestre Jou, 1970.