Análise in vitro da Resistência à Fratura de Dois Compósitos Odontológicos com Partículas Nanométricas Programa de Engenharia Metalúrgica e de Materiais MAYWORM, C. D.1; ROCHA-LEÃO, M. H. M.2; BASTIAN, F. L.1 (1Laboratório de Compósitos, Programa de Engenharia Metalúrgica e de materiais – PEMM, COPPE, UFRJ; 2Escola de Química - Universidade do Estado do Rio de Janeiro ) E-mail: [email protected] Resumo Esse trabalho objetivou caracterizar e comparar a resistência à fratura de dois compósitos odontológicos (EsthetX® – Dentsply e Filtek Supreme® – 3M), devido à presença de partículas nanométricas (apresentam grande área de superfície específica e alta energia de superfície) em sua composição, o que promete melhoras significativas em suas propriedades mecânicas. Avaliou-se também a influência da armazenagem desses materiais em saliva artificial. Doze amostras de cada material (dimensões-4x8x35mm – ASTM E-399) foram polimerizadas de acordo com as especificações dos fabricantes. Essas amostras possuíam um entalhe de 4mm de altura (W=8mm, B=4mm, S=32mm, a=4mm) e foram submetidas à flexão em três pontos). Metade das amostras foi armazenada em saliva artificial por 62 dias, a 36ºC, e o ensaio foi refeito. Os resultados foram analisados através da ANOVA e teste-t de student (p≤0,05). Foram obtidos os valores de tenacidade à fratura dos materiais através do cálculo de KC (fator de intensidade de tensões crítico). Os valores de tenacidade à fratura do EsthetX® antes e após o envelhecimento em saliva foram de 1,41 e 1,33Mpa.m1/2 respectivamente. E do Filtek Supreme® foram de 1,00 e 0,82 MPa.m1/2. Tanto antes como após o envelhecimento em saliva artificial, o compósito EsthetX® apresentou valores significativamente maiores de tenacidade à fratura comparado ao Filtek Supreme®. A saliva não causou nenhuma alteração significativa no valor de KC dos materiais estudados. Esse resultado pode ser explicado pelo fato de que a absorção de saliva ocorre apenas na superfície do material. Introdução A resistência à fratura de uma restauração descreve sua capacidade de resistir à propagação catastrófica de trincas sob as cargas de mastigação. Uma maior resistência à fratura implica numa menor taxa de degradação marginal (ZHAO et al,1997) . PILLIAR et al (1987) afirma que o KIC é uma propriedade intrínseca do material. Entretanto, quaisquer mudanças na estrutura do material – resultantes, por exemplo, da estocagem em soluções (causando absorção ou perda de constituintes moleculares) – pode acarretar em mudanças no seu valor de KIC. Foi verificado experimentalmente por vários grupos de pesquisa de todo mundo que somente o reforço de polímeros com nanopartículas aumenta o módulo de elasticidade sem prejudicar a resistência à flexão. Esse efeito vem acompanhado por um aumento na tenacidade à fratura e na energia de impacto (WETZEL et al, 2003) . Resultados e Discussão Metodologia As amostras (4x8x35mm) foram confeccionadas a partir de um molde de silicone. Os materiais foram preparados em duas camadas horizontais, cada camada foi sucessivamente polimerizada em períodos de 20 segundos (de acordo com as especificações dos fabricantes, para uma espessura máxima de 2mm) (fig. 1). Figura 4 - Corpo de prova após a ruptura. Figura 3 - Amostra no momento do ensaio. 4mm 4mm 32mm Figura 1 - Molde sendo preenchido com os materiais. Figura 2 - Esquema do ensaio de tenacidade à fratura. Norma ASTM E-399 (1999): W=8mm, B=4mm, S=32mm, a=4mm (fig. 2). Metade das amostras de cada compósito foram envelhecidas em saliva artificial (SAGF medium – Gal et al, 2000) por 62 dias a 37°C, pH 6. Equação utilizada para o cálculo de KIC: ⎛ PQ × S ⎞ ⎟ × f (a / W ) K IC = ⎜⎜ 3/ 2 ⎟ ⎝ B ×W ⎠ Conclusão 1. O material Esthet X® apresentou valores de tenacidade à fratura superiores antes e após o envelhecimento em saliva artificial. 2. O valor de tenacidade à fratura dos materiais não se alterou de forma significativa com o envelhecimento em saliva artificial. 3. Apesar da presença das nanopartículas, as propriedades mecânicas dos compósitos estudados não apresentaram valores significativamente superiores comparados aos de compósitos microhíbridos já existentes no mercado há mais tempo. Referências Bibliográficas BONILLA, E. D., MARDIROSSIAN, G., CAPUTO, A. A., “Fracture toughness of posterior resin composites”. Quintessence International, v.32, n.3, pp 206-210, 2001. GAL, J., FOVET, Y., ADIB-YADZI, M., “About a Synthetic Saliva for in vitro Studies”. Talanta, v.53, p. 1103-1115, Out. 2000. PILLIAR, R. M., VOWLES, R., WILLIAMS, D. F., “The effect of environmental aging on the fracture toughness of dental composites”. J. Dent. Res., v.66, n.3, pp 722-726, 1987. WETZEL, B., HAUPERT, F., ZHANG, M. Q., “Epoxy nanocomposites with high mechanical and tribological performance”. Composites Science and Technology, v.63, pp 2055-2067, Mar. 2003. ZHAO, D., BOTSIS, J., DRUMMOND, J. L., “Fracture studies of select dental restorative composites”. Dental Materials, v.13, pp 198-207, Mai. 1997. Material Tratamento 1 Esthet X® Tratado 2 Esthet X® 3 Filtek Supreme® {1} {2} {3} 0,464183 0,000086 0,004653 Não tratado 0,464183 Tratado {4} 0,000016 0,000826 0,000086 0,000016 0,101095 4 Filtek Supreme® Não tratado 0,004653 0,000826 0,101095 (Em vermelho p<0,05) 1,50 KC (MPa.m1/2) 4mm Tabela 1 (LSD Fisher) – nessa tabela podem ser encontrados todos os valores-p possíveis para cada combinação das variáveis material/tratamento para o KC dos materiais estudados. 1,41 (0,22 ) 1,33 (0,19 ) (0,19 ) 1,00 1,00 (0,10 ) 0,82 Esthet X - A Filtek Supreme - A 0,50 Esthet X - B 0,00 Filtek Supreme - B Compósitos Figura 5 – Resumo dos valores de KC para os materiais em estudo nas duas situações estudadas (Grupo A – amostras não envelhecidas e Grupo B – amostras envelhecidas). De acordo com a 3M, a tenacidade à fratura dos materiais estudados está em torno de 1,2MPa.m1/2, valor próximo aos encontrados nesse estudo. Esse valor está acima dos estimados para compósitos microparticulados – partículas com tamanho de 0,04µm (Durafill® - 0,68MPa.m1/2, Heliomolar® - 0,7MPa.m1/2, Renamel Microfill® - 0,75MPa.m1/2), porém, se aproxima dos compósitos microhíbridos – combinação entre partículas com 0,04µm e 2µm (TPH® - 1,38MPa.m1/2, Filtek Z250® - 1,4MPa.m1/2, Renamel Hybrid® - 1,5MPa.m1/2). BONILLA et al (2001) encontraram maiores valores de KC para os compósitos com maior quantidade de partículas de tamanho pequeno. O valor mais alto foi de 1,4 MPa.m1/2, para o compósito Surefill® (Dentsply – com 82% em peso de partículas de tamanho 0,01-1µm). Agradecimentos: CNPq, CAPES, FAPERJ