ANDRÉ MEHMARI - CANTEIRO CD 1 1 À BEIRA DA CANÇÃO ANDRÉ MEHMARI, CARLOS FERNANDO Lá onde eu moro Um som vem me assombrar O canto torto De um pássaro no ar Eu penso ouvir por dentro Ao ir buscar lá Um tom não tão ao centro Virá... verá A Bossa nos deu ouvidos novos Pra ver se renascemos também Escute, imploro Vem ver no que é que dá Este intervalo meu Que cante a celebrar! Um novo pássaro vem Pra copiá-lo Tão certo como ninguém Faz o que falo Na beira da areia um mar-canção dirá ‘Virá me decifrar mais alguém?’ Esfinge amada, musa fingida, má Eu te devoro Te ouvirei um dia... 2 APENAS O MAR ANDRÉ MEHMARI, TIAGO TORRES DA SILVA Trago a alma incompleta de palavras E silêncios ondas do mar Na margem sul de mim Bebo a água maldita das palavras As tempestades do alto mar Na margem norte de mim Quem virá do lado de lá Da minha triste solidão? Quem de nós será Lágrima, mar e chão? És tu, és tu Quem me virá salvar? És tu, és tu Ou apenas o mar? 3 BAIÃO DE REZA ANDRÉ MEHMARI, SÉRGIO SANTOS Nesse sertão que avermelha e seca Até quem mais peca implora ao Senhor Chora o cego e chora a rabeca Pra que a prece chegue até o Criador Não é graça que possa um santo Rezou-se tanto e nenhum valeu E é por força do desencanto Que agora o meu pranto é direto a Deus Sei que o mundo é grande em dor e devastação E que estar diante a tudo que clamar é demais pra Deus Mas não me resta outra maneira de tentar De suplicar, só meu baião: Olhai pro sertão! Deus nos escute com toda pressa E cobre a promessa a cada cristão Antes que a seca que começa Já arraste essa gente embora do chão Deus não repare essa intimidade Igual fosse eu padre ou inté sacristão Que a razão da proximidade Foi ter feito reza desse baião (segue reza, instrumental, vocalise) 4 O CÂNTICOS DOS QUÂNTICOS ANDRÉ MEHMARI, BERNARDO MARANHÃO No mais recente cântico dos quânticos…, nada há, além das reverberações nada há, além nada há, além… Foi dar toda a ciência, em seus confins…, nas ancestrais dicções, as mais remotas. Foi lá onde a razão perdeu as botas. nada há, além nada há, além… Não é à toa que o céu é azul e os planetas giram sem parar. A gravidade é lei, mas temos a alegria nada nos impede de dançar. (2x) 5 CLARA ANDRÉ MEHMARI, SILVIO MANSANI Valeu, sim, foi bom, foi bonito A medida de um ser aflito Foi um fio que vazou a fresta Da chama, só uma réstia Já valeu O cintilante cometa Desalinhou o planeta Bagunçou o meu astral Borrou meu mapa Depois se foi do nada Trilhando o breu da estrelada estrada E foi só, nada além Tudo simplesmente um sonho Que amanheceu De balançar o tino Ficar ao léu, leso e sem destino E ninguém no caminho para socorrer Valeu pelo grão, pelo sopro Pela gota que animou o broto Pelo mínimo se fez a festa Se agora nada resta Já valeu A larva da palavra no monturo A fibra ali que vibra e faz um furo No muro do silêncio e nasce uma canção Claro que valeu Clara que me deu esse dom Clara fez de mim o instrumento Desenhou seu som no espaço-tempo Tangendo as cordas do meu sentimento Depois deixou no ar pro vento levar Mas valeu, valeu, sim Valeu, sim, foi bom, foi bonito A medida de um ser aflito Foi um fio que vazou a fresta Da chama, só uma réstia Já valeu 6 CRUCE ANDRÉ MEHMARI, BERNARDO MARANHÃO En el hueco de esa tarde Redobló adentro mío La voz de otro corazón Y me dijo: “Cada paso, una lejanía” Y sí porque sí me ocurren A menudo tales distancias De hallar en cada palabra De humana comunidad Un campo que hay que cruzar Allí donde no hay camino, Un abismal remolino En cada gota del amar 7 MEIA LÁGRIMA ANDRÉ MEHMARI, TIAGO TORRES DA SILVA Que horas são? Talvez seja meio-dia O tempo faz tic-tac, tic-tac Faz sol ou chuva? Tá frio ou faz calor? Será que o tempo já mudou? Tudo mudou? Você mudou? Adeus Maria Um dia vou voltar Me espere perto do meio-dia Vou voltar Eu cansei, vou voltar Numa manhã qualquer Adeus Maria Um dia vou voltar Se Deus quiser E Deus quer Caia no samba Pegue um tambor E suba no Cristo Redentor Saia prá rua Ouça no rádio Uma música de amor Solte risada Fique bonita Tente evitar o mau humor que horas são? Talvez seja meia-lágrima! 8 DESALVORADA ANDRÉ MEHMARI, BERNARDO MARANHÃO Lá vem chegando o nosso dia Depois de tantas madrugadas Vou derramar na poesia Um adeus sem lágrimas Sem diplomática, sem demora, Em silêncio se apaga o sonho Na luz da aurora Uma tristeza se anuncia Mas logo o samba se levanta Bate em sinal de rebeldia Contra as tramas trágicas Quem samba duro de pé no chão Sabe bem que o amor perfeito É a flor da ilusão Se meu coração se endurece, Não perde a ternura jamais: Torna sempre aos jardins da vida Se ao partir você deixa Em meu peito tantas feridas, As flores hão de ser muitas mais. 9 GUARDAR ANDRÉ MEHMARI, MAKELY KA Tardei voltar Mais de uma semana Também tentei falar Faltava-me o ar Custei imaginar Um nada pra te dizer Mas a oratória não veio salvar Tardei a crer A gente se engana Até andei sem sono Assim não sei sonhar Ficava sem lugar Não soube nem responder Se nossa história é ver... Sem nunca se revelar Tá guardada na memória Em algum lugar Ver Só pra reter no olhar A nossa trajetória é contraditória Ver Como um voyeur, velar Um quadro de Guignard ou Goya Ou um Renoir (2x) 10 AMOR DA TERRA ANDRÉ MEHMARI, BERNARDO MARANHÃO Lá, onde carta não chega Onde acaba a estrada Foi que deu de esconder Minha brava gente Quase gente braba Foi por amor de cegueira Que deixei meu canto Por quimeras Só mirando as primaveras Eu, que jamais divaguei Vi nos olhos do meu amor Luar, no ar, no mar Ah, se juízo eu tivesse Me faltava nada Hoje eu posso dizer: Parecia um anjo E era um desarranjo Mas entre mares e amores Naveguei no sonho Encantada No romper da madrugada, eu fui Fui... Sem luar, sem lugar, na longa viagem Sem nem dar adeus, a meu irmão menor Sem tomar a ‘bença’ ao pai, à mãe, à avó De mar, inda guardo uma velha estrela De amar, nem me lembro do quanto que eu chorei, Um mar, o mar Inda tenho um desejo Abraçar de novo Meu amor de menina Um amor da terra Que deixei na serra Lá, onde carta não chega Onde acaba a estrada Quem me dera Escutar do verdadeiro bem: “Chega, vem”. 11 INSISTO ANDRÉ MEHMARI, CARLOS FERNANDO Tantas ruas Se perdem E me pedem razão Pra ficar aqui Insisto em dar vazão ao não Sem você...! Tentação das Canções de amor que há Tantas são As que hão De tentar Me levar Insisto em te buscar em mim: Não vou...! Prefiro mergulhar em espiral Pra te ver Preciso resistir a viver Sem você...! 12 PRA AMADA IMORTAL ANDRÉ MEHMARI, BERNARDO MARANHÃO (PRESTO AGITATO DA SONATA AO LUAR) É... não bastasse eu te amar esse tanto, Você vive querendo que eu cante esse amor, Que eu invente canções Pra durar no tempo Pra lançar ao vento Pois eu tento de monte, É uma luta, uma briga E, no entanto, reluta Esse amor em tornar-se cantiga. (POUR ELISE EM F#m – ad lib) Fiz, bem ou mal, a primeira e, apesar de clara, era meio blasée. Pra dizer às claras, era debochada. Mas você foi compreendendo as desventuras de um poeta quando ama de verdade. Sim, quanto mais eu me empenho, menos dá em nada. É que o amor que eu lhe tenho já não tem palavra, de tão verdadeiro. (BIS) (PRIMEIROS COMPASSOS DA SONATA AO LUAR) Vê, meu refrão derradeiro é silencioso. Eu não ouso uma linha além de amar você. (BIS) 13 IDA E VOLTA ANDRÉ MEHMARI, RITA ALTÉRIO O caminho que me leva de casa É de mata, de areia e água Meu caminho tem nevoeiro Assobio, é passarinheiro Tem história essa minha estrada O caminho que me leva pra casa Tem um cheiro de arvoredo e sereno Meu caminho tem cerca viva Tem os versos de Patativa Em comunhão com a terra e a vida Carijó cantou eu acordo Me aprumo e vou trabalhar Quando a noite vem eu volto Ouvindo a coruja piar 14 NINGUÉM COMPREENDE ANDRÉ MEHMARI, SIMONE GUIMARÃES Ninguém compreende, meu Deus! O que tens em teus cabelos Serão sargaços do mar... O que tens em teus cabelos Teu olhar Entre os jasmins Aves Marias nos teus olhos, o sorriso em festa. Escorpiões de areia entre os desertos a ternura gesta A voz. Ninguém pergunta, meu Deus! O que tens em teus cabelos Serão conchinhas do mar O que tens em teus cabelos 15 VELHA INQUIETUDE ANDRÉ MEHMARI Bruma, areia que vem e vai no vento bravo Mata virgem, aflora depurando dentro a luz Bem mais além e ao Deus dará, deitar e aproveitar Ir mais além e ao Deus dará E lá, e lá, e lá, e lá, e lá… Ê, cidade, montagem vertical de ferro Chão ardente, o espelho turvo empena o céu Encolhe o tempo, o espaço, o ar Abre suas asas de concreto E não pode decolar E lá não vai, não vai chegar… Mar, vereda, canoa sobre a correnteza Cantareira, sertão imenso interior, de mim Ir mais além e ao Deus dará De mar em mar em mar Bem mais além e ao Deus dará E lá, e lá, e lá, e lá, e lá, e lá, e lá… Chegar! Quem vai fazer parar um sonho sem lugar, Indo mergulhar no mar do sempre querer? Voar, de mar em mar Pra mais e mais Cantar, cantar e lá, e lá, e lá, e lá, e lá … Respirar, paz se fez em mim! Onde quer chegar, enfim A alma de um cantador ? Lugar nenhum parece ser o seu melhor lugar Onde quer pousar e descansar O olhar de um nômade? Muito melhor seguir a procurar E nunca encontrar! Minas Geraes, Ê, as Geraes... Onde eu ouvi Um mar de serra cantar Ê! as Geraes, Minas Geraes, Te conhecer Me fez pousar no ar 16 BRILHA O CARNAVAL ANDRÉ MEHMARI, LUIZ TATIT Sim (2x: e fica assim) Vamos unir Nossos clarins E combinar Que o carnaval somos Nós no cordão Nós multidão E o colorido Nós deixamos para o sol Desse verão E fica assim Vamos juntar Nossos metais E os imortais Que conhecemos De outros carnavais Mas bem que desta vez Comemoramos mais Toque das baquetas Giram as piruetas Caras e caretas Vêm atrás E a quarta-feira não será mais Quarta-feira não Não tem fim a diversão E o som da banda Ai, meu Deus, que lindo! No fundo o Brasil vem se ouvindo De norte a sul E o verde mar E o céu azul E os blocos de maracatu Batucando e dançando na Pista que vai Pista que vem e que Vista daqui é Maravilha! Maravilha! Veja como brilha o carnaval CD 2 1 FESTA DOS PÁSSAROS ANDRÉ MEHMARI, BERNARDO MARANHÃO Quem quer virar cantador tem que aprender Roubar um azul da noite sem aparecer Cruzar o céu sem pisar no sereno que cai Colher a flor da manhã na barra do dia Sabendo que tem valor no bem dizer A quem quisesse aprender, meu canto revelei Falei da festa no céu, ninguém deu fé Ninguém acredita mais em alegria Voei pelo ar, na asa do vento Pra festa no céu, mandaram me chamar A festa durou dois anos e meio Cantando adoidado co a passarinhada, vaguei Tive vida de rei, quando adentrei o reino da cantoria Tinha uma sabiá me olhando ressabiada Desabamos no ar, caídos de amor, no Itatiaia Do Arroio Chuí, fui pra Mantiqueira Veredas varei, Jequitinhonha e mais Mas no Ceará não vi Patativa Saudade doeu, toquei pras Gerais Agora não sei onde vai no vento o meu cantar Só sei que do fundo do interior pra beira do mar voei... voei... 2 VIAGEM DE VERÃO ANDRÉ MEHMARI, ARTHUR NESTROVSKI (sobre temas de Franz Schubert) Vem de algum lugar Tão pra lá Tão distante que nem sei se há Como um som no ar Um sopro só Ou um tom na viola cresce Um pulso a mais no coração Me faz lembrar De algum lugar Num sem-lugar Onde espaço e tempo é um canto só Vem do nunca mais Um sempre aqui Tão presente agora, dentro, assim Um pulso a mais no coração Uma alegria, uma aflição E eu vou morrendo em mim [instrumental] Noite de verão Solidão e paz Vi você cantando Pra você, pra ninguém Rádio na estação Schubert no sertão Vi você me amando Enquanto o amor não vem [instrumental] Vem do não-lugar A tua voz Que esse realejo faz lembrar Me faz lembrar Me dói demais 3 VALSA RUSSA ANDRÉ MEHMARI, LEANDRO MAIA Dormindo a dor se vai Num doce sono teu Difícil acreditar Que aquilo aconteceu Depois de até chorar Depois de escurecer Sonhar, chorar, chorar, sonhar, sonhar, não chora Sonhar, chorar, chorar, sonhar, sonhar, adormeceu... E viu o navio zarpar O gran navio azul E viu o azul do mar O mar não tem razão A caravela vai Enfrenta o brado do trovão Tempestade O tempo ataca atroz a trucidar O seu convés Tormentas túrgidas e descomunais O rato general Avança a tropa dos ladrões Mercenários E abate o pelotão Do Quebra-nozes Que levanta a espada no céu como a lua faz Anunciar em plena batalha Que morrer é menor Menor, menor, menor, menor, enorme É norma, é norma, é norma, é norma marcial Depois de naufragar Depois que aconteceu Difícil acreditar Que o príncipe perdeu “Menina vai dormir E o sono despertar É tarde, é tarde, é hora, é hora, é tarde agora É quase dia já O sol já quase apareceu” 4 SAL SAUDADE ANDRÉ MEHMARI, LEANDRO MAIA Chega e cheira areia à beira mar devagar Deixa o mar de Itapuã marejar Beira mar é da morena Dor e vau na correnteza Nem a areia clara desistiu de esperar Nem a margem imaginou te perder Quem não tem saudade? Quem não tem saudade e dor? E lá na praia o teu amor onde está? Foi pro mar e não voltou Onde a onda ainda quebra no mar A garganta dá um nó É uma voz vagando Alguém já cantou na varanda “Maracangalha, Anália, agora é que eu vou” E foi numa luz de farol Na beira amarga e marota do mar, Partiu, adeus Sal e saudade ele deixou E agora, José? E agora, Iemanjá? Em que praia andará Dorival? 5 TENTAR DORMIR ANDRÉ MEHMARI, LUIZ TATIT Canto pra mim Cai o tom Noite profunda Nunca amanhece Som que me soa Traidor Nem me desperta Nem me adormece Canto o que sei de cor Pois se mistura na voz E sai Se me acalento Perco o que penso Sono que é bom Não, não vem não Faço o que posso Marco compasso Quero descanso Não tem Tarde demais Meu corpo diz Ouve a canção E dorme Não tenho paz Minha alma diz Té o coração Dói-me Se me acalento... 6 ÚLTÍMA VALSA ANDRÉ MEHMARI, SÉRGIO SANTOS O tudo que eu de mim pensei te dar Voou, voou Se desfazendo pelos ares Feito o som e a bruma em cada um dos mares E o que do nada aconteceu Pra eu te dar Desaconteceu Eu que te fechava os olhos e esperava pra te ver sonhar De olhar pra ti Me vi Quis te dar o sonho meu O sempre em que eu te imaginei pra ter Passou, passou, E o que eu já tive em teus olhares Nunca mais, nem que eu te veja em mil lugares E o quando em mim que anoiteceu Pro teu luar Desanoiteceu Quis surrupiar do tempo cada instante em que te vi sorrir Pra me fingir Feliz E o eterno da ilusão Permanecer Eu te dei o que há de imenso nos meus olhos densos, cada amanhecer Fiz teu cada prazer Que eu pude conhecer Me despi no fim do mundo pra ser tão profundo quanto eu possa ser Pra ti O quanto existirá em mim de ti Ficou, ficou E sei que quando me lembrares Tu terás o que há de mim nos teus pensares E é certo que o que apareceu Depois do amor Desapareceu Eu, ainda vou te dar pra ter bem perto do teu coração Essa canção Pra que eu Ainda possa estar Ao lado teu 7 FLORBELA ANDRÉ MEHMARI, SILVIO MANSANI Ah meu amor Eu não lhe trouxe uma flor Ah venha ver A flor que eu não colhi pra você Daquelas amarelas Uma amarela alí Nem mais nem menos bela Foi ela que eu escolhi Ah meu grande amor Eu lhe ofereço esta flor É de coração Apenas não ousei pôr as mãos Não há o que explicar Não há o que entender Somente o bom do olhar E nada mais a ver 8 LUZIDIA ANDRÉ MEHMARI, LEANDRO MAIA Lua linda já luziu agora Não é hora de sair, guria Luzidia vai bater na porta Não demora, baixa a noite fria Passarinha, minha asa branca Salamanca, planta ribeirinha Labareda, Morena Olha a lua refletida na vereda Arteira, faceira Olha a lua te espiando pelo vão Na varanda toda noite nua Sarabanda moça dançadeira Quem me dera um pedaço de paixão 11 MODULAR PAIXÕES ANDRÉ MEHMARI, LUIZ TATIT Sim Dentro de mim Já modulei Paixões A paixão é assim Tem muitos graus Varia Se crescer demais Pode causar imensa comoção Em vão Dentro de mim Já modulei Paixões A paixão no fim Pode apostar Esfria Se não volta mais Por que deixar bater o coração Em vão? 12 e 13 instrumental 13 VENTO BOM ANDRÉ MEHMARI, SÉRGIO SANTOS Chega, escorrega, assovia do nada, Na chapada onde o nada é o que mais cega. Resfolega a rajada do vento arrasador Se começa ninguém sabe onde acaba, E desaba varrendo o que lhe impeça. Atravessa a queimada onde o céu se avermelhou, rodopiou Virou pro mar Alonga a onda a quebrar, vento que é bom Na direção de escapulir Vento que é bom Quando rugir Quando vagar, quando o vento fugir Num semitom, canta com o vento, que é bom Quando dobra a serra, num sopro vertical Lá que o vento tem seu final E quando se encerra na brisa original Desliza um fim de melodia Onde some o vento, de lá sou natural Do alto, sou de Mairiporã Quando beija a renda no canto do varal Roçando na romã, no bambuzal Só resta um assovio: a brisa por um fio, foi vento bom www.andremehmari.com.br venda proibida – todos os direitos reservados - © Estúdio Monteverdi, 2011