Segue o relato de nossa primeira velejada no Mar.
LEVANTE ESSE MASTRO !!!
Havíamos deixado o Kiwi na
própria fábrica para alguns
ajustes incluindo a instalação
de luzes de navegação e
fundeio, então não fomos
diretamente para a praia, mas
antes voltamos cerca de 82km
para o interior.
Na Kraftec fomos recebidos
pelo sempre muito atencioso
Fábio e depois de muitos novos
mimos instalados no barco,
partimos apenas por volta do meio dia.
Resultado, apenas chegamos a Paraty às 17h45. Mal paramos, já descobrimos que o
pessoal de terra parava as atividades às 18h e depois não teríamos ninguém para nos
ajudar a lançar o Kiwi na água.
Então a Cris veio com uma boa:
- vamos montar o barco para já colocar n’água e dormirmos a bordo....
- mas, Cris, leva mais ou menos 3 horas para montar o barco
- mas não dá só para colocar na água, ai a gente coloca o mastro e monta o
barco, dá uma lavada e vamos dormir, amanha a gente termina de montar?
- o Cris, não dá para instalar o mastro dentro d’água
- então não dá só para colocar o mastro, depois a gente monta o resto?
- já são 10 para as 6, os caras param as 6!
- Tide, LEVANTE ESSE MASTRO DUMA VEZ!!!!
Depois de uma intimada
dessas da “muié”, não teve
como, levantei o mastro,
coloquei a retranca e fomos
para o pier e não é que
dormimos no barco logo na
primeira noite.
Os meninos da marina também
foram muito atenciosos e
deram uma colher de chá e
nos esperaram até quase
19h – UFA.
O DESCANSO DOS JUSTOS
Embora eu nem consiga explicar o que tanto fizemos, o fato é que no dia seguinte
ficamos muito tempo montando o barco e arrumando as coisas, deu até tempo de o
Werner chegar e montar o dele também.
Detalhe que não posso deixar de contar é que o Werner trouxe o seu motor (4hp),
bem mais potente que o meu (2hp), muito mais seguro caso o Kiwi precisasse rebocar
o Jacaré (o que de fato aconteceu). Assim retiramos nosso motor e instalamos o do
Werner, misturamos o combustível e enfim “- vamos à partida”. Todos prontos, só
faltava ligar o motor para dar segurança e zarpar. Então, logo depois de umas 300
bombadas no bichinho, decidimos verificar novamente se a válvula do combustível
estava no lugar certo e seguimos com mais umas 2000 bombadas revezando entre o
Werner e eu, ai.... depois de ambos suadíssimos, o Werner já irritado, a ponto de
arremessar o motor por cima de um Delta 32 que estava ao lado, eu depois de uma
nova observação muito “perspicaz” percebi que o pininho de segurança do motor não
estava no lugar – ele nunca iria dar a partida!
Mostrando que a gente pentelha, mas aprende, usamos a tecnologia ensinada pelo
Ricardo Amatucci e botamos um enforca gatos para o plugue do motor que finalmente
funcionou.
Enfim fomos velejando
até
uma
prainha
acolhedora.
Águas
muito calmas, local
abrigado e muito bonito
– finalmente o descanso
dos justos.
Ficamos um pouco a
contra-bordo para uma
boa conversa e um
ótimo lanche, logo em
seguida fomos dormir.
SACO DA VELHA
No dia seguinte, nem ligamos o
motor, saímos diretamente na
vela. É claro que eu tinha que
fazer alguma trapalhada, recolhi a
âncora, calmamente lavei a lama
da corrente e da âncora... quando
caiu a ficha e olhei para os lados, com o vento o Kiwi estava perigosamente derivando
para a praia, foi um corre-corre para abrir a mestra e entrar na orça que deu, qualquer
orça estava valendo, no fim deu tudo certo.
Fizemos uma velejada bem
tranqüila com ventos amenos
até uma prainha muito pequena,
mas muito bacana – o SACO
DA VELHA. O Werner ainda não
conhecia essa praia, mas depois
de alguma argumentação ele
sentiu segurança para arriscar a
visita.
Aproveitando da
habilidade do Kiwi em levantar a
quilha, deixamos o Jacaré ancorado e fomos todos no Kiwi. Encontramos uma praia
gostosa, com um bom restaurante a preços justos, bons banheiros e ainda água doce
para um banhinho e também para encher os tanques se necessário.
Uma
observação
–
eu
arrogantemente me achava muito
bom
para
me
localizar
e
acompanhar mapas, mas o Werner
tem uma habilidade absurda de se
localizar apenas com a carta
náutica. Vamos ponderar que o
GPS mostrava as pedras submersas
que o Werner desconhecia, mas no
Mamanguá em certo momento o
GPS informava que nós estávamos
navegando “em terra seca”... Além disso as pilhas do Werner não acabam no meio da
navegação.
Almoçamos muito bem, descansamos do sol mais forte e no meio da tarde
continuamos na vela até a ilha da Cotia onde pernoitamos.
A Ilha da Cotia é ponto
conhecidíssimo
da
ABVC,
abrigada ao extremo, tem uma
prainha bem simpática, só falta
um ponto de água doce para
completar. Depois de explorar
a praia de um lado a outro da
ilha, colocamos os barcos a
contra-bordo
para
uma
belíssima macarronada com
direito a azeitonas, castanhas e outros quitutes. Para comemorar a navegação bem
sucedida abrimos um vinho Shiraz – uma delícia.
Ah, ao contrário dos encontros da ABVC, só estávamos na ilha o Kiwi e o Jacaré.
A MANADA
Amanheceu com uma brisa
muito, muito leve, tão leve a
ponto de o Werner sugerir que
partíssemos no motor - é claro
que o dia ainda nos escondia
grandes surpresas e fortes
emoções.
Decidimos explorar a baia de
Paraty Mirim, assim, sempre
no motor, fomos margeando as praias até o fundão e retornamos. Na volta, já
tínhamos um bom vento bem na cara. Nosso destino era o saco do Mamanguá, como
a baia de Paraty Mirim e o Mamanguá são praticamente paralelos, concluí que o vento
seria o mesmo em ambas as baias, logo sairíamos orçando de P Mirim e entraríamos
num popa feroz e veloz no Mamanguá - é impressionante como se pode errar.
Continuamos subindo no motor
até estarmos quase na mesma
linha da praia de Paraty Mirim, e o
vento apertando, então o que
acontece?
Ali, bem perto das
pedras, bem onde não queríamos
perder a propulsão o motor
morreu E NÃO PEGAVA DE JEITO
NENHUM!
Imediatamente
abrimos a buja do Kiwi e entramos
num popa ainda rebocando o
Jacaré de volta para a baia de P Mirim até estarmos num ponto seguro, então
separamos os barcos e seguimos à vela para o Mamanguá.
O vento continuou a apertar e mesmo com toda sua habilidade, o Werner tinha
dificuldades de controlar o Jacaré, nesse ponto o Kiwi tomou a dianteira e sempre de
olho no progresso do Jacaré, fomos entrando no saco do Mamanguá.
Para minha surpresa o vento simplesmente fez a curva, não é força de expressão, de
um lado ele vinha norte, de outro vinha sul, e vamos lembrar que o ventão sul
encanado pelas montanhas do Mamanguá é famoso.
Vamos explicar melhor, não eram apenas alguns carneirinhos, toda a manada deles
estava lá para nos receber, o Werner sabiamente percebendo que aquele não era o
momento para contar carneirinhos correu de volta a Ilha da Cotia. Lembrem-se que
ele estava com o pequeno Jacaré II que vira e destombar o barco naquelas condições
seria muito chato (e perigoso).
Nós nos distraímos brigando com as ondas numa orça bem emocionante e quando
olhamos para o lado – CADÊ O JACARÉ???? Naturalmente demos um bordo e
voltamos à caça do Werner, só quando despontamos na beirada do morro vimos as
velas bem ao longe retornando à Cotia – UFA....
Todos bem, retornamos à praia
onde fizemos um delicioso
lanche.
Decidimos esperar,
comer e relaxar por umas horas
até às 15h e seguir para o
Mamanguá no motor.
Assim o fizemos, descansamos
do sol mais forte e ainda deu
tempo de o vento dar uma
acalmada. Depois de mais umas
600 bombadas o motor pegou e
seguimos até a Vila Cruzeiro na margem oeste do Mamanguá.
A vila Cruzeiro é uma típica comunidade de pescadores e já conta com alguma
estrutura, incluindo um ótimo e bem servido restaurante – por mais incrível que
pareça – barato!
VIVA AS LUZES DE FUNDEIO
Os planos originais eram de pernoitar
bem no fundo do Mamanguá, onde é
mais abrigado, mas passamos tanto
tempo pegando água, conversando e
dando aquele relax que ficou tarde
para navegarmos até o fundo do
saco, então decidimos dormir perto
da vila. Acontece que o lugar mais
seguro para fundear, também era
bem próximo ao ponto onde os pescadores costumam parar seus próprios barcos, que
vão e voltam a qualquer hora. Nesse ponto, ter instalado as luzes de fundeio fez toda
a diferença.
Novamente juntamos os barcos
para o jantar que dessa vez foi
uma bela sopa com legumes,
ervilhas e macarrão redondinho.
Também tomamos o restinho do
vinho e lastimamos não ter
levado mais...
No dia seguinte, deixamos o Jacaré
fundeado
e
fizemos
uma
maravilhosa
velejada
de
exploração dentro do Mamanguá,
retornamos para um almoço muito
bem servido de lulas e peixes na
vila – uma delícia.
Depois daquele relax, como estava entrando uma frente fria, por segurança decidimos
retornar rebocando Jacaré. Ai... novamente MOMENTOS DE DESESPERO para dar
partida naquela joça!!! Sem contar na parte que abrimos o motor, limpamos a vela,
perdemos a chave de vela no mar, recuperamos a chave mergulhando na raça apenas
com a máscara – olha só, dava para escrever mais umas 6 folhas apenas dessa novela,
só para resumir, eu nunca vi o Werner tão vermelho e acho que nem na academia eu
puxei tanto peso – hahaha.
Com o motor em operação
retornamos ao Pier 46 tomando
muito cuidado para que ele não
morresse e para não acabar o
combustível – todo o cuidado
era
pouco...
Naturalmente
chegando à marina, ao diminuir
a rotação o pentelho morreu de
novo, o Werner teve que
terminar a jornada no remo e eu
agarrar a primeira bóia que
estava na frente.
Barcos seguros e atracados no píer, aproveitamos para tomar aquele banho doce e
adoçar o barco(*), depois fomos para um ótimo jantar em Paraty e voltamos para uma
merecida noite de sono.
(*) – para a Cris adoçar o barco significa nada menos que tirar TUDO de dentro do
barco, incluindo o colchonete e lavar muito bem com bastante sabão. E ai de quem
entrar com os pés sujinhos de volta - minhas orelhinhas ainda estão doendo depois
dos puxões.
Enquanto isso, eu também providenciei um “arranjo inventivo” para ligar minha
extensão no raio daquela tomada náutica de 3 pontos. Os mais maldosos poderiam
classificar a situação como uma baita gambiarra, mas como eu já disse isso seria
apenas maldade.
NOVAS DESCOBERTAS
Amanheceu e.... A CHUVA NÃO
VEIO!!!
Então decidimos sair
todos no Kiwi para uma velejada
até a Ilha Sapeca. Providência
fundamental, trocamos o motor
do Werner para o nosso velho
“poderoso” 2hp e zarpamos,
abrimos as velas e ganhamos o
horizonte.
No caminho
cruzamos com alguns veleiros, o
Werner até fez uns bordos de
regata com o Vento, um esplêndido Aladim 30, gigante perto do Kiwi.
O vento foi variando para mais e
menos, de qualquer forma, bem
o suficiente para empurrarmos o
destino até a Ilha do Araújo, o
que foi uma ótima descoberta.
Na praia que faz face para o
continente, encontramos um povoado
muito simpático que além da igreja e das
casinhas bonitas ainda dispõe de uma
biblioteca modelo.
Na volta retornamos a maior parte no
motor, pois queríamos chegar a tempo
de encontrar o pessoal de apoio para retirar os barcos, uma vez que o tempo prometia
mesmo mudar para o dia seguinte.
Chegamos bem a tempo de
encarretar os barcos, nessa
noite dormimos no Kiwi preso na
carreta e engatado no carro.
Que tristeza, como faz falta
aquele balançinho da água e a
expectativa da velejada no dia
seguinte!
VAI MOLHAR !!!!
Já no seco estávamos organizando o
barco, guardando parte das coisas e
a Cris seriamente preocupada com a
chuva que poderia vir e molhar tudo
– grande tragédia! Um verdadeiro
estresse!!!
E nós estávamos no
seco, com o carro ao lado e todo o
suporte da marina logo ao alcance,
nem parecia a mesma pessoa que
enfrentou todo aquele perrengue no
Mamanguá:
- você está bem amorrrrr, quer que eu rize as velas agora?
- não está tudo bem, vamos seguir assim mesmo!
E as ondas passando por cima do costado, é, vai entender as mulheres...
A PARTIDA.
Fizemos novos amigos velejadores e fomos todos jantar em Paraty. O prato da noite
anterior estava tão bom que repetimos a mesma opção, além dos novos amigos que
também embarcaram na mesma, um peixe ao molho de camarão delicioso. Depois do
jantar começou uma boa chuva e retornamos.
Por fim, no dia seguinte terminamos de arrumar e encapar o barco, fomos convidados
a visitar o lindíssimo veleiro clássico Malagô, um 40 pés de madeira.
No finalzinho da tarde, retornamos debaixo de chuva, mas com uma imensa vontade
de voltar para novas aventuras.
Nossos mais especiais agradecimentos:
- à Krafetc(estaleiro que constrói os veleiros Flash) que nos deu todo suporte para
instalação de diversos itens que o Kiwi ainda não dispunha, incluindo as luzes de
navegação e fundeio;
- ao Werner que foi nosso tenaz companheiro de viagem;
- aos Amatucci que nos ensinaram a consertar o motor; e
- aos novos amigos que nos acolheram tão bem
O álbum de fotos mais completo está no link:
https://picasaweb.google.com/trekertide/ParatyDez2011?authuser=0&authkey=Gv1sRgCOOn
kMeiwMCxeQ&feat=directlink
Obs.: por alguma razão o link não funciona bem no pdf, então sugiro copiar e colar diretamente na barra
de endereços do seu navegador.
Abraços a todos e até a próxima.
Tide
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Diario de Bordo v06