TRATO DIGESTIVO
A SAÚDE DO
TRATO DIGESTIVO
62
Batuque Dreamstime
FUNCIONAIS & NUTRACÊUTICOS
Constipação, indigestão, aerofagia, flatulência e
outros, não são assuntos comumente discutidos e
ainda menos agradáveis para quem sofre desses
problemas. Até pouco tempo atrás, a saúde
digestiva não era uma fonte de preocupação para
as pessoas. Contudo, a realização de diversos
estudos que comprovam que a função digestiva é
uma condição prévia para uma boa saúde global,
especialmente interligada ao sistema imune,
mudou esta visão.
TRATO DIGESTIVO
De acordo com informações
levantadas pela National Digestive
Diseases Information Clearinghouse
- NDDIC , os distúrbios do trato
digestivo, incluindo a síndrome do
intestino irritável (em inglês, Irritable
Bowel Syndroma, IBS) e úlceras,
afetam entre 60 e 70 milhões de
pessoas nos Estados Unidos. Por
isto, o mercado de remédios para o
trato digestivo tem crescido de forma
acelerada. Estilos de vida estressantes e hábitos alimentares pobres têm
contribuído para o desenvolvimento
de problemas digestivos, desde a
indigestão ocasional até doença
digestiva grave.
O sistema digestivo pode ser
considerado como sendo a porta
de entrada do organismo e problemas com o seu funcionamento
podem repercutir por todo o corpo.
Uma diminuição do ácido gástrico,
por exemplo, pode promover o
desenvolvimento de um ambiente
favorável para a proliferação de
patógenos oportunistas, como Helicobater pylori (causa de algumas
úlceras gástricas e duodenais) ou
Clostridium difficile (responsável por
diarréias agudas); inversamente,
uma superabundância de ácido
gástrico pode conduzir a doença
de refluxo gastro-esofágico - DRGE
(Gastro Esophageal Reflux Disease
- GERD).
O trânsito intestinal lento também se tornou uma fonte de real
desconforto para grande parte da
população, com conseqüências físicas e fisiológicas que não podem ser
subestimadas. Um resultado comum
de um trânsito intestinal lento é a
constipação. Só nos Estados Unidos
estima-se que a constipação é motivo
de dois milhões de visitas ao médico,
por ano. Ademais, muitas pessoas
recorrem a automedicação, sem
passar por consulta médica, como
comprovam os US$ 725 milhões gastos pelos americanos, anualmente,
em laxativos.
Enfim, a digestão incompleta dos
alimentos pode não somente causar
SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL - SII
A síndrome do intestino irritável é um distúrbio intestinal funcional comum
caracterizado por desconforto abdominal recorrente e função intestinal
anormal. O desconforto freqüentemente se inicia após a alimentação e
desaparece após a evacuação. Os sintomas podem incluir cólicas, náuseas,
distensão abdominal, gases, constipação, diarréia e uma sensação de evacuação incompleta. Pode estar associado a graus variados de depressão ou
ansiedade. Estudos demonstram que cerca de 20% das pessoas apresentam a
síndrome em algum momento de sua vida, predominando entre as mulheres,
principalmente jovens. Já foi conhecida como indigestão, diarréia nervosa,
colite espástica, colite nervosa e neurose intestinal. Não existem anormalidades estruturais como infecção ou úlceras, por isso é chamada de funcional,
e não evolui para qualquer tipo de doença orgânica ao longo da vida.
esses distúrbios menores como, também, levar a doenças mais graves. Se
grandes moléculas de alimento não
digeridas completamente atravessam
a parede intestinal, elas podem gerar
uma resposta do sistema imune que
pode eventualmente levar a uma
desordem na auto-imunização. A
digestão inadequada também pode
impedir que importantes nutrientes
sejam absorvidos pelo organismo.
Além disso, existem especulações de
que a digestão incompleta de proteí-
nas pode causar o desenvolvimento
de alguns tipos de cânceres.
O sistema digestivo
A digestão é o conjunto das transformações, mecânicas e químicas,
que os alimentos orgânicos sofrem ao
longo do sistema digestivo, para se
converterem em compostos menores
hidrossolúveis e absorvíveis.
O processo digestivo é realizado
por enzimas e os principais nutrientes
DOENÇA DO REFLUXO GÁSTROESOFÁGICO DRGE
Ocasionalmente pode-se sentir, geralmente depois de uma refeição
abundante ou com muita gordura, o refluxo do ácido do estômago para o
esôfago, o que nos dá uma sensação de queimadura, de ardor, de azedo,
que pode ir do estômago até à garganta. Esse refluxo esporádico, ocasional,
do conteúdo do estômago (ácido clorídrico, pepsina, bílis etc.) é considerado
normal, mas pode tornar-se incomodativo, anormal, transformar-se numa
doença e necessitar de tratamento. A DRGE é a afecção mais freqüente do
esôfago e uma das doenças mais freqüentes do aparelho digestivo, embora
só tenha sido melhor conhecida nos últimos anos. O sintoma mais freqüente
é a sensação de queimadura por detrás do externo (a palavra pirose que
os médicos utilizam, para traduzir essa sensação, deriva do grego pyrosis
que significa ação de queimar). A regurgitação do conteúdo do estômago
para o esôfago é quase sempre uma sensação evidente, que acompanha
a sensação de queimadura. A DRGE pode causar outros sintomas além da
sensação de queimadura e da regurgitação, como dor no epigastro ou no
tórax. Com alguma freqüência a DRGE manifesta-se com sintomas da orofaringe ou sintomas respiratórios: ardor, sensação desagradável na garganta,
rouquidão, tosse, asma. Em alguns casos, se houver aperto do esôfago, pode
haver dificuldade na passagem dos alimentos para o estômago (disfagia)
ou essa passagem ser dolorosa (odinofagia).
FUNCIONAIS & NUTRACÊUTICOS
Introdução
63
FUNCIONAIS & NUTRACÊUTICOS
TRATO DIGESTIVO
64
tiza enzimas que
facilitam a digestão
luminal. A α-amilase pancreática atua
sobre as
molé-
Eti Swinford Dreamstime
obtidos são os ácidos graxos, aminoácidos, glicose, frutose e glicerol.
O sistema digestivo é constituído
pelo tubo digestório e pelas glândulas anexas (salivares, fígado e
pâncreas). Já o aparelho digestório é
formado por boca, faringe, esôfago,
estômago e intestino. Na boca, há a
presença da língua e dos dentes, que
têm a função de triturar os alimentos para facilitar a sua posterior
digestão.
A digestão química por
ação de enzimas (ptialina) tem
início na boca. Os alimentos
impulsionados pela língua
seguem para a faringe e
em seguida para o esôfago,
que têm paredes musculares
cujas contrações resultam
nos movimentos peristálticos, os quais permitem aos
alimentos movimentar-se em
direção ao estômago.
A passagem dos alimentos
do esôfago para o estômago ocorre
através da válvula cárdia, que tem
a função de impedir o refluxo do
alimento para o esôfago durante as
contrações estomacais. Os alimentos
no estômago sofrem a ação do suco
gástrico (composto por muco, enzima
pepsina e ácido clorídrico), formando-se o bolo alimentar ou quimo. Do
estômago, o alimento segue para o
intestino, passando pela válvula piloro que, como a cárdia, impede o seu
fluxo. Os alimentos sofrem ação do
suco pancreático, do suco entérico
e da bile, no intestino. A ação da
bile e dos sucos ocorre no duodeno
(intestino delgado), onde se completa
a digestão. Os nutrientes produzidos
são absorvidos pela parede intestinal. Os restos vão para o intestino
grosso; no final dele chegam, sob
forma de fezes, ao meio externo,
através do ânus.
A digestão dos carboidratos tem
início na boca quando o alimento sofre a ação da α-amilase. O pâncreas,
responsável pela excreção de várias
substâncias importantes para a digestão, que são lançadas no duodeno
através do canal de Wirsung, sinte-
culas de maltose, maltotriose e
dextrinas. As
dissacarídases e trissacarídases são
responsáveis pela digestão dos dissacarídeos. A sucrase e lactase são
encontradas em maior concentração
no jejuno, enquanto a maltase é mais
abundante no íleo.
No estômago, o ácido clorídrico
desnatura proteínas na intenção de
expor as ligações peptídicas à posterior ação das enzimas, como pepsina
e lipase. A digestão das proteínas
necessita da presença de diferentes
enzimas pancreáticas lançadas na
forma de pró-enzimas e ativadas no
lúmen intestinal. Entre elas, destacamse as peptidases, incluindo a tripsina,
quimotripsina e carbopeptidases A
e B. O produto restante da digestão
enzimática das proteínas divide-se em
aminoácidos (40%) e oligopeptídeos
(60%).
A digestão lipídica é mais complicada pela natureza hidrofóbica das
moléculas de triglicérides de cadeia
longa (TCL). Para que ocorra a
interação com enzimas intraluminais, os lípides são primeiramente
submetidos ao processo de emulsificação iniciado pela atividade
trituradora do antro gástrico. No
duodeno, substâncias como a
lipase e a colipase, ligam-se à
superfície das partículas emulsificadas e hidrolisam as ligações
éster de triglicérides. Este processo
exige a ação detergente de ácidos
biliares conjugados produzidos no
fígado. Os ácidos graxos produzidos são incorporados em micelas,
podendo se mover por meio do
quimo até a superfície mucosa
para que ocorra absorção. Os
triglicérides de cadeia média
(TCM) são menos hidrofóbicos e
apresentam maior superfície para
a hidrólise intraluminal. São mais
rapidamente hidrolisados e melhor
absorvidos. Os ácidos graxos de
seis a 10 carbonos resultantes da
hidrólise apresentam grande solubilidade em água, não necessitando da
presença da bile. A presença de enzimas pancreáticas não é essencial, já
que aproximadamente 30% do TCM
é absorvido de forma intacta.
A absorção dos nutrientes, ou
seja, carboidratos, proteínas e gorduras, ocorre através da passagem do
alimento pelo intestino delgado. Os
carboidratos são absorvidos como
monossacarídeos em sítios adjacentes à borda em escova. A galactose
e a glicose são absorvidas por transporte ativo, e frutose é absorvida por
meio de difusão facilitada, processo
este não dependente de energia. A
glicose é transportada por uma proteína
carreadora de membrana contra o
gradiente de concentração.
As proteínas são absorvidas como
pequenos peptídeos (jejuno e íleo)
e aminoácidos (primariamente no
íleo), sendo mais efetivo o transporte
para os dipeptídeos. No enterócito,
os peptídeos são novamente hidrolisados a aminoácidos livres. Existem
mecanismos carreadores específicos
para grupos de aminoácidos que
TRATO DIGESTIVO
Os probióticos e o
trato digestivo
Há muito tempo os probióticos
são reconhecidos na Europa e no
Japão como essenciais à boa saúde;
nos Estados Unidos, tiveram seus
benefícios reconhecidos apenas há
alguns anos.
As cepas específicas de probióticos podem ajudar a manter um equilíbrio saudável de bactérias essenciais
no trato digestivo, onde está situado
aproximadamente 70% do sistema
imune. As pesquisas mostram que
determinados probióticos ajudam a
otimizar o funcionamento do sistema
imune do organismo e fortalecem
suas defesas.
Uma população saudável de
bactérias normais no intestino ajuda
a reduzir infecções e riscos de doenças através de múltiplos mecanismos.
Primeiro, porque ocupando todo o espaço disponível, os organismos normais da flora diminuem a habilidade
dos organismos prejudiciais de se locomoverem e colonizarem. Segundo,
porque segregam substâncias, como
o ácido acético e o ácido láctico, que
inibem o crescimento de organismos
indesejáveis. A flora intestinal ajuda
na simples digestão e na assimilação
de nutrientes e, como indicam as
pesquisas, assiste na sintetização
de várias vitaminas, principalmente
a vitamina K, biotina, B12 e outras
vitaminas do complexo B.
A tendência atual é de suprir o
organismo em probióticos através
de alimentos, bebidas e suplementos.
Uma das fontes mais comumente utilizadas são os iogurtes, cujo consumo
tem crescido de forma extraordinária.
Para muitos consumidores ainda
existe uma grande dúvida: é melhor
suprir o organismo em probióticos
através de suplementos ou através
de alimentos e bebidas? Qual é a
quantidade ideal a ser absorvida
diariamente? Alguns defendem o uso
de suplemento, alegando que é a
única maneira do consumidor saber
exatamente a quantidade absorvida,
porém, existem algumas evidências
que os probióticos supridos por fontes alimentícias são mais eficientes,
porque os outros componentes dos
alimentos ajudam na neutralização
do ácido estomacal, permitindo aos
probióticos continuarem vivos após
a passagem pelo estômago.
Recentes pesquisas clínicas sugerem que para proporcionar benefícios ao trato digestivo, é necessário
um consumo mínimo diário de um
bilhão de unidades formadoras de
colônias (UFC) de probióticos. Embora a presença de prebióticos (fonte
de alimento dos probióticos) seja
variada, a maioria dos especialistas
clínicos sugere que um indivíduo
consuma dois gramas de prebióticos
por dia para obter benefícios no trato
digestivo.
É importante entender também
que diferentes cepas de probióticos
têm efeitos diferentes em certos tipos
de distúrbios. Por exemplo, estudos
mostram que a Bifidobacterium lactis
é muito efetiva contra SII (Síndrome
do Intestino Irritável) e que a Lactobacillus rhamnosus é útil no tratamento
de diarréia em crianças.
Infelizmente, existem no mercado
muitas fontes de probióticos de baixa qualidade. Não é porque uma
embalagem declara que o produto
contém probióticos, que o mesmo
traz necessariamente algum benefício
para a saúde. A palavra probiótico
em si não tem nenhum significado,
a menos que o produto contenha
a cepa adequada, na quantidade
adequada (potência), nas condições
adequadas (viabilidade) e na formulação adequada.
Entre os benefícios à saúde
conferidos pelos probióticos estão
o controle da microbiota intestinal;
estabilização da microbiota intestinal
após o uso de antibióticos; promoção
da resistência gastrintestinal à colonização por patógenos; diminuição da
população de patógenos através da
produção de ácidos acético e lático,
de bacteriocinas e de outros compostos antimicrobianos; promoção da
digestão da lactose em indivíduos
intolerantes à lactose; estimulação do
sistema imune; alívio da constipação;
aumento da absorção de minerais
e produção de vitaminas. Embora
ainda não comprovados, outros
efeitos atribuídos a essas culturas são
a diminuição do risco de câncer de
cólon e de doença cardiovascular.
As fibras alimentares
As fibras alimentares constituemse em remanescentes de partes comestíveis de plantas e carboidratos
análogos que são resistentes a digestão e absorção no intestino delgado,
com fermentação no intestino grosso
( American Association of Cereal
Chemists, 1999). Essas fibras podem
ser divididas em fibras alimentares
insolúveis (FAI) ou fibras alimentares
solúveis (FAS).
As fibras solúveis têm a propriedade de reduzir o índice glicêmico
dos alimentos e possuem efeito hipocolesterolêmico. Esse efeito se deve à
capacidade de aumentar a excreção
de ácidos biliares e à produção de
ácidos graxos de cadeia curta que
podem inibir a síntese de colesterol
no fígado. São alimentos fonte de fibras solúveis: cereais (aveia, cevada,
milho, centeio), frutas, leguminosas
(feijões, ervilha), hortaliças (cenoura,
entre outras).
As fibras insolúveis diminuem o
FUNCIONAIS & NUTRACÊUTICOS
dividem características químicas
semelhantes.
A gordura é absorvida predominantemente no duodeno e jejuno
proximal por meio de eficiente
mecanismo de difusão passiva.
A proteína carreadora de ácidos
graxos encontrada nos vilos auxilia
o transporte destes para o retículo
endoplasmático do enterócito para
a re-esterificação. O transporte de
triglicérides de cadeia longa (TCL)
ocorre por meio dos vasos linfáticos, enquanto o dos triglicérides de
cadeia média (TCM) são transportados diretamente pela veia cava.
Esta característica dos TCM assume
importância à medida que o fluxo
linfático estiver comprometido.
65
TRATO DIGESTIVO
TABELA 1 - PRINCIPAIS COMPONENTES DA FIBRA DIETÉTICA
Classificação Química
Componente
Substâncias não-glicídicas
Proteínas
Cutina
Cera
Silício
Suberina
Lignina
Quitina
Polissacarídios não-amido
Celulose
Hemiceluloses
Substâncias pécticas
Gomas
Mucilagens
FUNCIONAIS & NUTRACÊUTICOS
66
Polissacarídeos de origem vegetal
Polissacarídeos de origem bacteriana
Amido
Amido resistente
tempo de trânsito intestinal, aumentam o bolo fecal e tornam as fezes
mais macias, diminuindo a constipação, tendo assim, efeito positivo sobre alguns males como hemorróidas,
varizes e diverticulite. Estão presentes
principalmente nos cereais (farelo de
trigo, alguns cereais matinais, pães
integrais), frutas e hortaliças.
Alguns componentes dessas fibras são denominados prebióticos,
chegando intactos ao intestino grosso, sem ter sofrido nenhum tipo de
degradação ou absorção, e lá são
metabolizados seletivamente por um
número limitado de bactérias denominadas benéficas. Estas são assim
chamadas, pois alteram a microbiota
do cólon, gerando uma microbiota
bacteriana saudável, capaz de induzir efeitos fisiológicos importantes
para a saúde. Melhora as funções do
intestino grosso por meio de redução
de tempo de trânsito, aumento do
peso e freqüência das fezes.
Pesquisas realizadas nos últimos
25 anos demonstraram que os efeitos
das fibras, sobre o trato gastrintesti-
nal, têm importantes conseqüências
metabólicas que podem resultar em
redução do risco de doenças, como
câncer, diabetes mellitus (tipo 2) e
doenças cardiovasculares. De fato, a
fibra alimentar atua na redução dos
níveis de colesterol plasmático e das
lipoproteínas de baixa densidade
(LDL – colesterol), sendo que somente
as fibras com alta viscosidade apresentam essa característica.
Reduzem a velocidade de esvaziamento gástrico pelo aumento do
nível de um hormônio chamado colecistoquinina (CCK), auxiliam numa
menor absorção da glicose e das
gorduras, pois essa absorção é feita
de modo mais lento, sendo associado
a um melhor controle glicêmico, em
pacientes diabéticos.
Os ácidos graxos de cadeia curta
(AGCC), produzidos pela fermentação da fibra alimentar no intestino,
estão associados à manutenção
da mucosa do intestino, sendo um
fator de proteção contra o câncer
de cólon.
Auxiliam também o tratamento
da obesidade por aumentar a mastigação e o tempo de ingestão dos
alimentos, além de retardar o esvaziamento gástrico, fazendo que a
saciedade ocorra mais rapidamente
e perdure por períodos mais prolongados. Em prol de tais benefícios, as
indústrias alimentícias têm cada vez
mais demonstrado maior interesse
em oferecer ao consumidor opções
enriquecidas com fibras, tornando
fácil o acesso a produtos integrais,
tais como: pães, biscoitos, bolos,
arroz e massas em geral. Tais produtos objetivam facilitar o alcance
da recomendação diária de ingestão
de fibra que é de 20-30g/dia (OMS,
2003). Veja os componentes da fibra
dietética na Tabela 1.
A conscientização da importância
das fibras na dieta nunca foi tão alta
quanto hoje e os consumidores procuram avidamente fibras em todos os
alimentos consumidos. A inulina é a
mais versátil fonte de fibra, não apenas porque provê benefícios à saúde,
mas também por apresentar muito
boa aplicabilidade na formulação de
produtos, deixando-os completamente inalterados com relação ao gosto
e a textura.
Estudos demonstram os efeitos
positivos da inulina na regulação digestiva, absorção mineral (crescente
absorção de cálcio), doenças agudas, como distúrbios do estômago,
diarréia e vomito, bem como doenças
gastrintestinais crônicas, como câncer de cólon. Novos estudos sobre a
doença de Crohn, SII e a contribuição da inulina para a saúde global
e bem-estar continuam apresentando
resultados positivos.
Um ingrediente que está também chamando bastante atenção
neste contexto é o amido resistente.
Amido resistente é definido como a
soma do amido e seus produtos de
degradação que não são absorvidos
no intestino delgado de indivíduos
sadios. Por ser resistente às enzimas
digestivas e não ser absorvido no
intestino, o amido resistente tem
baixo valor calórico e se caracteriza
por efeitos fisiológicos semelhantes
FUNCIONAIS & NUTRACÊUTICOS
TRATO DIGESTIVO
67
TRATO DIGESTIVO
OS EFEITOS DOS AGCC NO INTESTINO
HUMANO
FUNCIONAIS & NUTRACÊUTICOS
Os efeitos dos AGCC são variados. O acetato, principal produto da quebra
da pectina, é utilizado por muitos tecidos para a recuperação de energia de
carboidratos não digeridos e não absorvidos no intestino delgado. O butirato, cuja maior produção advém da fermentação do amido, ocasiona efeitos
diversos sobre o cólon: estímulo ao trofismo da mucosa, fornecimento de
70% da energia utilizada pelos colonócitos, regulação da diferenciação e do
crescimento celulares. O propionato está envolvido no metabolismo hepático
de lipídeos e de glicose. O butirato é consumido quase completamente pela
mucosa colônica, enquanto o acetato e propionato entram na circulação portal,
estendendo os efeitos da fibra alimentar além do trato intestinal. Os AGCC
são produzidos no cólon numa razão de aproximadamente 60% de acetato,
25% de propionato e 15% de butirato. No entanto, as concentrações podem
variar de acordo com a porção do intestino onde ocorre a fermentação da
fibra e com o tipo de fibras.
Os AGCC modulam a síntese de colesterol com o acetato funcionando
como estimulador e o propionato como inibidor. Também melhoram a absorção
colônica de cálcio.
Os AGCC são absorvidos para o interior da célula colônica por um mecanismo no qual sódio e cloro são carregados para o interior do colonócito e
bicarbonato é excretado. Na diarréia, podem haver perdas fecais consideráveis
de água, sódio e potássio devido à aceleração exagerada do trânsito intestinal,
que dificulta a absorção dos eletrólitos. Portanto, a prevenção da diarréia é
importante para a manutenção da saúde e da boa hidratação.
68
ao das fibras alimentares, sendo
freqüentemente considerado como
tal. Existem basicamente três tipos
de amido resistente:
Tipo I - Amido fisicamente preso
dentro da matriz do alimento. É
resistente simplesmente porque as
enzimas amilolíticas não têm acesso. Este tipo de amido é afetado
amplamente pela mastigação e pelo
processamento dos alimentos, como
a trituração e a moagem;
Tipo II - Amido granular nativo.
Sua resistência é dada por sua compactação e estrutura parcialmente
cristalina, que pode ser alterada pela
gelatinização;
Tipo III - Resistência adquirida com
a retrogradação, principalmente da
amilose. Existem também indicações
de resistência em amilopectina retrogradada e em complexos amiloselipídios.
O amido resistente do Tipo III pode
ser formado através de processamento, por métodos que utilizam teor de
umidade alta, cozimento e/ou autoclavagem, podendo ser usado como
ingrediente para reduzir o teor calórico, reduzir o índice glicêmico e/ou
aumentar o teor de fibras alimentares
de alimentos processados.
Não há, até o momento, um consenso em relação à inclusão ou não
do amido resistente na definição de
fibras alimentares. Porém, existem algumas implicações técnicas quanto
a isso, pois o método enzimáticogravimétrico atualmente aceito para
determinar fibras alimentares não
detecta a maior parte do amido
resistente presente nos alimentos.
Os amidos resistentes naturais
produzem mais butirato, um ácido
graxo de cadeia curta (AGCC) do
que qualquer outra fibra. Os AGCC
apresentam múltiplas funções que
promovem a saúde no intestino grosso. Uma delas é promover a redução
do pH, o que auxilia na redução das
bactérias ruins. O produto Natural
Hi-maize 5-in1- Fiber, da National Starch Food Innovation, é um
exemplo típico de amido resistente
natural; essa fibra insolúvel possui
mais de 120 estudos nutricionais
atestando sua ação benéfica na
promoção da saúde intestinal/colônica. O aumento de produção de
butirato, via fermentação, é um dos
fatores mais importantes pelo fato
do butirato ser a fonte de energia
preferida pelas células saudáveis
do cólon.
Diversos estudos mostram o impacto do butirato no intestino grosso
para potencial tratamento de colite,
SII e vários distúrbios intestinais.
Mas nem todas as fibras são
iguais. Outras, como as fibras solúveis que são fermentadas, podem
apresentar alguns problemas de
tolerância, limitando seu consumo
conforme a sensibilidade de cada
pessoa.
As enzimas essenciais
ao trato digestivo
Uma enzima é uma proteína
que catalisa ou acelera uma reação biológica. Portanto, pode ser
definida como um biocatalisador,
cuja natureza protéica determina a
presença de certas propriedades,
tais como especificidade de substrato, dependência da temperatura e
dependência do pH.
Pelo fato de serem proteínas com
estrutura terciária ou quaternária, as
enzima são dotadas de dobramentos tridimensionais em suas cadeias
polipeptídicas, o que lhes confere
uma forma característica e exclusiva.
Assim, diferentes enzimas têm diferentes formas e, portanto, diferentes
papéis biológicos.
Uma importante função das enzimas tem lugar no sistema digestivo.
Enzimas como as amilases e proteases
quebram grandes moléculas, como o
amido e proteínas, respectivamente,
em moléculas de menores dimensões,
de maneira a que estas possam ser
absorvidas no intestino. O amido
não é absorvível no intestino, mas
as enzimas hidrolisam as cadeias
de amido em moléculas menores,
tais como a maltose e a glucose,
podendo desta maneira ser absorvidas. Diferentes enzimas atuam sobre
Lactose: uma pedra para a saúde do
sistema digestivo
Cerca de 40% da população brasileira possui intolerância a lactose, em algum
nível. Essa intolerância, que afeta diretamente o sistema digestivo, pode se manifestar de diversas formas: náusea, dores abdominais, diarréia, gases e desconforto.
Muitas vezes, o problema não é resolvido por falta de conhecimento, já que a
solução é simples. Alguns fabricantes do segmento lácteo começam a enxergar
essa oportunidade de mercado e desenvolvem produtos com baixo teor ou sem
lactose em suas linhas. No entanto, ainda são poucos produtos e, normalmente
restrito ao leite, enquanto uma extensa linha de derivados, como iogurtes, creme
de leite e leite condensado, e de produtos com leite adicionado, como biscoitos,
pães e bolos, ficam de fora.
Uma grande oportunidade para o mercado brasileiro é o oferecimento da
lactase para ser ingerida via oral. Altamente vendida nos mercados europeu e
americano, a lactase pode ser comercializada como um suplemento, em forma de
comprimido, sachê ou cápsula. Trata-se de uma forma muito simples para que as
pessoas intolerantes a lactose possam consumir os derivados lácteos e aproveitar
seus benefícios sem ter os efeitos indesejados da intolerância.
A Prozyn possui uma tecnologia exclusiva para a produção de lactases específicas para o trato intestinal, disponível em diversas atividades enzimáticas. A base
do processo consiste em produzir uma enzima que possibilita a decomposição
do açúcar do leite em carboidratos mais simples, para melhor absorção no sistema digestivo. Empresas de suplementos, indústrias farmacêuticas e farmácias de
manipulação devem ficar atentas para as inúmeras possibilidades de crescimento
desse mercado.
diferentes tipos de alimentos. Assim,
as enzimas digestivas, tais como a
amilase, protease e lipase, reduzem
os alimentos em componentes menores que são mais facilmente absorvidos no trato digestivo. As enzimas
papaína, bromelina e lactase podem
melhorar o processo de digestão,
servindo como catalisadoras deste
processo. A lactase é uma enzima
intestinal responsável pela digestão
da lactose (açúcar do leite), facilitando o processo de quebra da
lactose em açúcares mais simples
e mais facilmente absorvíveis. A
bromelina é uma enzima proteolítica
encontrada no abacaxi. Além de
facilitar a digestão da proteína, tem
propriedades antiinflamatórias, ajudando no processo de recuperação
e cicatrização de músculos e tecidos
lesionados. A papaína é uma enzima encontrada no látex do mamão
papaia, sendo capaz de hidrolisar
diferentes tipos de proteínas de origem vegetal ou animal, diminuindo
o tempo e facilitando a digestão.
Nos últimos anos, nos Estados Unidos, houve um aumento no consumo de
combinações de enzimas - de origem
vegetal, fúngica e/ou animal -, decorrente de uma procura crescente
pelos consumidores, os quais estão
cada vez mais conscientes das
opções e dos benefícios oferecidos
pelos produtos funcionais. Como
já mencionado acima, no sistema
digestivo, as enzimas digerem as
proteínas, gorduras e carboidratos
em seus componentes mais simples
(gorduras essenciais, açúcares e
aminoácidos). As enzimas também
ajudam na extração de vitaminas e
minerais. A deficiência de produção de enzimas digestivas conduz,
freqüentemente, a reclamações
digestivas comuns. Com relação à
saúde do trato digestivo, as enzimas proporcionam uma digestão
mais eficiente, evitando indigestão,
azia, refluxo ácido, gases, inchaço
e fadiga depois de comer.
As enzimas absorvidas na forma
de suplemento podem ser de fontes
animais ou vegetais, porém as
enzimas à base de plantas provêm
maior suporte para uma aproximação puramente digestiva. Contudo,
se o pâncreas está inflamado, lento
ou doente, devem ser combinadas
enzimas animais com enzimas vegetais, como parte de uma dieta
regular. As enzimas de fonte animal
fortalecerão o pâncreas, enquanto
as enzimas à base de plantas,
literalmente, quebrarão o alimento
consumido.
Nos últimos cinco anos, as
fórmulas que combinam enzimas
pelo menos dobraram de potência.
A potência ou eficiência real das
enzimas é um ponto fundamental.
Todas as enzimas produzidas laboratorialmente têm seu potencial
medido através de ensaios para
determinar o seu potencial digestivo,
em determinado pH e temperatura,
com relação a um substrato específico. Ao contrário da maioria dos suplementos dietéticos, estas enzimas
não são medidas através de peso
em miligramas, e sim em termos de
“unidades ativas”; torna-se difícil,
para os fabricantes transmitir esse
fator de potência de forma compreensível para os consumidores!
Tradicionalmente, os produtos à
base de enzimas comercializados
para a saúde digestiva eram for-
FUNCIONAIS & NUTRACÊUTICOS
TRATO DIGESTIVO
69
TRATO DIGESTIVO
mulados para manutenção geral
ou para distúrbios específicos,
como intolerância à lactose. Hoje,
o mercado está definitivamente
mais consciente e informado e já
existem produtos dirigidos a regimes dietéticos específicos, como as
dietas de alta proteína ou nutrição
esportiva.
FUNCIONAIS & NUTRACÊUTICOS
O poder dos
chás e suas ervas
70
A vida vegetal tem sido sustento
e remédio para todas as espécies
animais, em todos os tempos.
A busca e o uso de plantas com
propriedades terapêuticas é uma
prática milenar, atestada em vários
tratados de fitoterapia das grandes
civilizações há muito desaparecidas.
O grande número de espécies medicinais hoje conhecidas é reflexo do
grau de antiguidade dos conhecimentos fitoterápicos e resultado de
incontáveis erros e acertos.
O chá não deve ser tomado
apenas para tratar doenças, mas
também como preventivo, fortalecendo o organismo, aliviando o sistema
digestivo e as demais funções. O
chá digestivo favorece as secreções
salivares e gástricas e o peristaltismo
do tubo digestivo.
Entre os chás com propriedades
digestivas reconhecidas pode-se
mencionar o boldo, camomila,
capim-limão, carqueja, erva-doce,
hortelã, sene, etc.
O boldo (Peumus boldus). Empregado em casos de desconforto
digestivo e do fígado, o seu princípio ativo é a boldina, um alcalóide,
principal responsável pelas suas
propriedades hepatoprotetoras e
coleréticas. O boldo traz benefícios
principalmente para o fígado. Ajuda-o a trabalhar melhor e é ótimo
para quem tem hepatite ou problemas freqüentes ligados ao fígado,
como dor de cabeça, suores frios
e mal-estar. O boldo, tomado antes
das refeições, ajuda na digestão e
nas funções do aparelho digestivo.
É ótimo para quem tem intestino
preso, cálculos biliares e gastrite.
Estimulante da digestäo e secreção
biliar, atua nos distúrbios intestinais
e hepáticos. Auxilia na cura de ressaca. O chá combate a prisão de
ventre, gases intestinais e transtorno
do fígado, atua na degradação de
gorduras, é indicado em intoxicações
alcoólicas.
A camomila (Matricaria chamomilla). Alivia gases intestinais, desintoxica o fígado, auxilia no tratamento de reumatismo e da excitação
nervosa, alivia enxaqueca, dores
de dente, insônia, enjôos e é tônico
para pele. Usado para cólicas em
lactentes, regula os intestinos. É antiinflamatório e calmante, utilizado
em crises histéricas, depressivas e
febres intermitentes. Externamente
utilizado para queimaduras do sol
e irritação nos olhos. Os egípcios a
usavam no tratamento da malária e,
devido a sua ação antiinflamatória,
é indicada para má digestão, cólica
uterina, sedativa (infusão das flores
ou chá da flor de camomila); para
queimaduras de sol (ajuda a refrescar a pele e evita o vermelhidão da
pele), conjuntivite e olhos cansados
(compressas com infusão do preparado das flores). Para criança ajuda
a combater vermes. Como chá,
usado diáriamente, diminui as dores
musculares, tensão menstrual, stress
e insônia, diarréia, inflamações das
vias urinárias; misturado ao chá de
hortelã com mel combate gripes e
resfriados; banho com sachê de
camomila é sedativo e restaurador
de forças e especial para hemorróidas. Na forma de infusão é útil
para o fígado, antialérgico, dores
de reumatismos, nevralgias; ajuda
a purificar o organismo e aliviar a
irritação causada pela poluição.
Age como sudorífico
O capim-limão (Cymbopogon
citratus). Indutor do sono, alivia
dores de cabeça e gases intestinais.
Indicado para digestão, cólicas
menstruais e intestinais, distúrbios renais, conjuntivites, tosse, espasmos,
febres, diarréias, reumatismos, histerias, afecções do estômago, nervos
e palpitações do coração. É sedativo, analgésico, calmante, diurético,
hipotensor, depurativo, expectorante
e antiálgico. Os compostos químicos
a que se devem estas propriedades
são o citral, geraniol, metileugenol,
mirceno, citronelal, ácido acético e
ácido caprioco. Tais componentes,
e mais especificamente o citral,
dão-lhe um aroma semelhante à
lúcia-lima, bela-luísa ou limonete
(Aloysia triphylla).
O carqueja (Baccharis triptera ).
Indicado para má digestão, cansaço físico, vermes intestinais, prisão
de ventre, gastrite, azia, anemia,
fígado, rins, diabetes, inflamações urinárias, próstata, colesterol,
gota, gastrite, afecções do baço
e angina. Auxilia no processo de
desintoxicação e emagrecimento.
É revigorante das funções genitais,
diurético, antiasmática, antibiótica
e depurativa.
A erva doce (Pimpinella anisum).
Calmante dos nervos, elimina mau
hálito, toxinas da pele, gases intestinais, cólicas intestinais infantis.
Estimula o apetite, digestão, secreção biliar, restaura fluxo menstrual e
aumenta o leite das lactantes. Bom
contra azia, também utilizado na
culinária como aromatizante.
A hortelã (Mentha piperita). Indicada para o tratamento da febre,
vermes, espasmos, gases intestinais, sistema nervoso, inflamações
uterinas, resfriado, faringite, tosse,
afecções da garganta, coceiras,
sarampo, inchaços, dor de cabeça,
rinite, conjuntivite, cólicas, diarréia,
problemas estomacais, intestinais
e respiratórios. O chá é lactante,
estimulante digestivo, anti-séptico,
descongestionante nasal, perspirante, anestésico e analgésico.
O sene (Cassia angustifolia).
Laxante, depurativo, vermífugo e
elimina manchas brancas do corpo.
Indicado para o mau funcionamento
intestinal, alivia os problemas de
hemorróidas e fissuras anais por
facilitar as evacuações. Não é recomendado para crianças e durante
a gravidez.
Download

A SAÚDE DO TRATO DIGESTIVO