MOBILIZAÇÃO DE CONSERVAÇÃO DO SOLO 1
Henrique Chia2 & Vasco Correia3
2 Engº Agrónomo - Ecotill Consultores de Agricultura de Conservação - Rua Distrito de Évora, 48 7000Évora; [email protected]
3 Engº Agrónomo - Ecotill Consultores de Agricultura de Conservação - Rua Distrito de Évora, 48 7000 Évora; [email protected]
1. INTRODUÇÃO: MOBILIZAÇÃO DE CONSERVAÇÃO
A necessidade de redução de custos de exploração, na actividade agrícola, associada aos
problemas relacionados com a conservação dos recursos naturais (nomeadamente água e solo),
conduziram ao desenvolvimento de tecnologias alternativas de mobilização do solo,
vulgarmente designadas por técnicas de Mobilização de Conservação do Solo.
Conceptualmente, a Mobilização de Conservação do Solo, pode ser classificada em três
grupos:
Ø a Mobilização Mínima,
Ø a Mobilização na Zona,
Ø e a Sementeira Directa.
O que há em comum relativamente a cada um destes tipos de mobilização é o facto de,
após a sementeira, deixarem pelo menos 30% da superfície do solo coberta com matéria vegetal
(Foto 1). Essa cobertura pode ser constituída:
Ø por resíduos vegetais (triturados ou não) da cultura anterior,
Ø por uma cultura viva, constituída por infestantes (cobertura espontânea),
Ø ou por uma cultura viva, semeada propositadamente com a finalidade de proteger a
superfície do solo.
A manutenção da superfície do solo protegida é determinante na diminuição do efeito
dos fenómenos erosivos. Nas nossas condições, é a erosão hídrica que assume maiores
proporções na delapidação da camada arável, decorrente principalmente das características do
regime anual de precipitação, da inadequação de algumas práticas agrícolas tradicionais e do
deficiente dimensionamento de alguns sistemas de rega.
O efeito do impacto directo das gotas de água (da chuva ou da rega) sobre a superfície do
terreno consiste, numa primeira fase, na destruição dos agregados do solo, dando origem a uma
diminuição da taxa de infiltração da água no solo. Quando a taxa de precipitação ultrapassa a
taxa de infiltração, ocorre escorrimento ao longo da linha de maior declive do terreno. Quanto
mais comprida e inclinada for a parcela, mais forte se torna o poder erosivo deste escoamento.
Qualquer técnica que permita aumentar a estabilidade dos agregados e aumentar a
infiltração de água no solo é um contributo para a sua protecção contra a erosão. Assim se
explica o interesse da manutenção de matéria vegetal à superfície do terreno, já que ao mantêla protegida contra o impacto directo das gotas de água, impede-se o início do processo de
erosão hídrica e simultaneamente contribui-se para aumentar a infiltração de água no solo,
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Projecto AGRO 217 – “Tecnologia da rega e conservação do solo e da água nos Regadios do Alentejo”
decorrente do aumento da rugosidade da superfície do terreno e da criação de uma porosidade
mais estável e duradoura.
FIGURA 1 – Aspecto da cultura do milho num sistema de Mobilização na Zona
Apesar das características comuns aos três tipos de mobilização de conservação referidos,
há outros aspectos que determinam a sua separação em três grupos:
Ø A Mobilização Reduzida caracteriza-se por uma mobilização em toda a superfície
do terreno do terreno, mas garantindo a manutenção de uma quantidade apreciável
de resíduos à superfície. Este tipo de mobilização está muito associado à utilização
do chisel e escarificador;
Ø A Mobilização na Zona (Figura 1, Figura 2 e Figura 3) é um sistema de mobilização
em que se intervém apenas parcialmente sobre o terreno, coexistindo zonas
mobilizadas e zonas não mobilizadas. A largura das faixas mobilizadas depende do
tipo e sazão do solo e das alfaias utilizadas;
Ø A Sementeira Directa caracteriza-se por não haver qualquer tipo de mobilização do
solo antes da sementeira. A mobilização que existe é apenas a necessária para a
introdução e enterramento da semente, sendo efectuada pelo próprio semeador (com
características próprias).
FIGURA 2 – Sementeira de uma parcela cultivada num sistema de Mobilização na Zona
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O que conservam, então, os Sistemas de Mobilização de Conservação?
O Solo - a menor intensidade de mobilização do solo que caracteriza estes sistemas, quer
por via da opção por alfaias de mobilização vertical quer por via da não utilização de alfaias
“activas” (com ligação à tomada de força, como por exemplo a fresa), contribui decisivamente
para a protecção do solo contra os fenómenos erosivos e, portanto, para a sua conservação. A
escolha criteriosa e fundamentada das operações e alfaias de mobilização do solo, procura dar
resposta à necessidade de garantir boas condições para o desenvolvimento das plantas
(particularmente importante na fase de instalação) e, simultaneamente, garantir que a estrutura
do solo não é afectada.
A Água – a diminuição da fracção da superfície do terreno directamente exposta ao ar,
contribui para a diminuição das perdas de água por evaporação. Por outro lado, o aumento da
rugosidade da superfície do terreno, associada à manutenção da matéria vegetal, contribui para o
aumento da quantidade de água que se infiltra no solo e que pode vir a ser utilizada pelas
plantas.
Os Recursos Financeiros – por via da diminuição de encargos com a preparação do solo
- menor número de passagens sobre o terreno, menor consumo de gasóleo e menos tempo de
preparação da terra.
Sob o ponto de vista agronómico, para além das já referidas virtudes dos sistemas de
mobilização de conservação, relativamente aos fenómenos de erosão do solo, há a acrescentar
algumas outras vantagens, decorrentes do aumento do teor de matéria orgânica do solo,
nomeadamente a melhoria gradual da sua estrutura e o aumento progressivo da sua fertilidade,
resultando em solos mais produtivos e mais fáceis de trabalhar.
Sob o ponto de vista económico, as vantagens da utilização dos Sistemas de
Mobilização de Conservação fazem-se sentir ao nível da redução de custos de preparação do
solo, nomeadamente por via:
Ø da redução do tempo de trabalho. A escolha criteriosa das operações de
mobilização permite eliminar algumas operações desnecessárias. A menor
intensidade de mobilização traduz-se, normalmente, na possibilidade de aumentar a
velocidade de trabalho;
Ø da redução do consumo de combustível, consequência do menor número de
passagens sobre o terreno;
Ø da diminuição de custos com a aquisição, manutenção e reparação de
equipamento (menor diversidade e quantidade de alfaias).
O sucesso na implementação dos Sistemas de Mobilização de Conservação, para além do
necessário acompanhamento técnico, depende da consciencialização de que a melhoria das
características físicas e químicas do solo se fazem sentir depois de alguns anos de utilização
continuada de tecnologias conservacionistas. Por outro lado, a disponibilidade no mercado de
alfaias que respeitem os princípios da mobilização de conservação é outra das garantias
fundamentais para a viabilidade da implementação destes sistemas.
2. DESENVOLVIMENTO DE UMA MÁQUINA PARA MOBILIZAÇÃO NA
ZONA
Com o propósito de colmatar alguma deficiência no mercado Português de alfaias para
mobilização de conservação, foi desenvolvida por uma equipa que engloba membros de várias
instituições, nomeadamente a Universidade de Évora, Galucho e Ecotill, uma alfaia que se
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enquadra na definição de Mobilização na Zona. Tecnicamente, esta alfaia consiste naquilo a que
poderíamos designar por um subsolador-adubador (Foto 3). Para além da operação de
subsolagem e adubação de fundo (com adubos líquidos ou sólidos), a alfaia permite fazer,
simultaneamente, a preparação da cama de sementeira, tudo numa única passagem.
FIGURA 3 – Subsolador–adubador para mobilização de conservação, em trabalho
A utilização desta alfaia e o respectivo apoio técnico, está ao alcance de qualquer
agricultor. A opção poderá ser a aquisição da alfaia (com a ressalva que é essencial a utilização
de um semeador com características especiais) ou a aquisição do serviço de mobilização e
sementeira. Em qualquer dos casos, o acompanhamento técnico na utilização do sistema de
mobilização na zona, é uma necessidade nos primeiros anos por forma a garantir a adequada
utilização da tecnologia.
3. EXPANSÃO DO SISTEMA E RESULTADOS
Este projecto deu os primeiros passos em 2000, ano em que foi desenvolvimento o
primeiro protótipo, nesses primeiro ano realizámos cerca de 40 ha de milho que funcionaram
essencialmente como teste do equipamento e aferição da tecnologia, que entretanto já tinha sido
devidamente ensaiada no decorrer de outros projectos de investigação, quer no âmbito do
PAMAF, quer do programa PRAXIS XXI. Em 2001, com apenas uma máquina de 4 linhas
equipada com adubos sólidos foram realizados cerca de 300 ha, distribuídos por várias zonas do
País, dos quais cerca de 200 ha de milho e 100 ha de girassol de sequeiro e regadio. Em 2002 a
procura desta tecnologia superou largamente as nossas melhores expectativas, tendo-se
verificado que a área total realizada com 4 máquinas, três de 4 linhas e uma de 6 linhas foi de
aproximadamente 1100 ha, dos quais apenas cerca de 100 ha de girassol e os restantes 1000 de
milho. Para a campanha de 2003 prevê-se neste momento que a área a realizar seja superior a
2000 ha, havendo indicação de que pelo menos dois agricultores já adquiriram o sistema.
Relativamente aos valores das produções, parâmetro ao qual os agricultores são
particularmente sensíveis pensamos que a elevada adesão ao sistema seja o melhor indicador da
satisfação dos mesmos, a título de exemplo podemos referir que a melhor produção registada até
ao momento se cifrou nos 16500 kg / ha a 14,5% de humidade, para uma área semeada de 18 ha.
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RESUMO
A necessidade de redução de custos de exploração, na actividade agrícola, associada aos
problemas relacionados com a conservação dos recursos naturais (nomeadamente água e solo),
conduziram ao desenvolvimento de tecnologias alternativas de mobilização do solo,
vulgarmente designadas por técnicas de Mobilização de Conservação do Solo.
Dentro das várias técnicas de Mobilização Conservação disponíveis (mobilização
mínima, sementeira directa e mobilização na zona) aquela que, em nosso entender, melhor se
adapta às condições de regadio na cultura do milho é a mobilização na zona.
As vantagens apontadas a este sistema de mobilização são de vária ordem, podendo
destacar-se a natureza económica, agronómica e ambiental. No entanto, a sua expansão
encontra-se condicionada pela inexistência no País de equipamento adequado à sua prática.
Com o propósito de colmatar alguma deficiência no mercado Português de alfaias para
mobilização de conservação, foi desenvolvida por uma equipa que engloba membros de várias
instituições, nomeadamente a Universidade de Évora, Galucho e Ecotill, uma alfaia que se
enquadra na definição de Mobilização na Zona. Tecnicamente, esta alfaia consiste naquilo a que
poderíamos designar por um subsolador-adubador. Para além da operação de subsolagem e
adubação de fundo (com adubos líquidos ou sólidos), a alfaia permite fazer, simultaneamente, a
preparação da cama de sementeira, tudo numa única passagem.
A elevada adesão dos agricultores à utilização do sistema nos dois últimos anos são para
nós o melhor indicador da viabilidade do projecto, dado que este indicador é particularmente
sensível aos resultados práticos decorrentes das várias demonstrações realizadas. A título de
curiosidade podemos referir que a melhor produção registada até ao momento se cifrou nos
16500 kg / ha a 14,5% de humidade, para uma área semeada de 18 ha.
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