XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA A CADEIA DE RECICLAGEM DO PLÁSTICO André Ourivio Nieckele Massa (PUC-Rio) [email protected] Sílvio Hamacher (PUC-Rio) [email protected] A partir da constatação de que a cadeia produtiva de reciclagem do plástico não vem acompanhando a crescente demanda por resina plástica, este artigo busca traçar os desafios, oportunidades e problemas estruturais relacionados à cadeia reveersa do plástico. Para atingir estes objetivos, foi realizada uma pesquisa através de fontes primárias e secundárias, que se somaram a um estudo de caso desenvolvido numa empresa de reciclagem de resíduos plásticos. Através da pesquisa, concluiu-se que o modelo organizacional existente entre os primeiros elos da cadeia reversa do plástico aqueles entre o descarte do material e as primeiras etapas da reciclagem - configura um fator inibidor para esta indústria. Conforme observado ao longo do trabalho, caso o modelo logístico e comercial entre estes elos não se desenvolva, haverá um aumento no impacto ambiental desta indústria no Brasil decorrente do aumento no consumo de artefatos plásticos. A partir do estudo realizado buscou-se também traçar tendências para a configuração desta cadeia, tanto no médio prazo quanto no longo prazo. A definição das variáveis que mais influenciam nos cenários traçados levou à conclusão de que a informalidade, a ausência de legislação bem definida e a ausência de um plano diretor nacional para a destinação racional dos resíduos de alto valor comercial atrasam o desenvolvimento do comércio de sucatas e inibem a entrada de investimentos nesta indústria, tanto nas atividades principais de reciclagem quanto nas atividades relacionadas de transporte e logística. Sendo assim, o desenvolvimento de um modelo de cadeia em circuito fechado que siga os preceitos do desenvolvimento sustentável para esta indústria requer definições legislativas do poder público, assim como investimentos do setor privado no desenvolvimento de soluções estratégicas, operacionais e tecnológicas específicas para o setor. Palavras-chaves: Reciclagem, plástico, logística reversa, desenvolvimento sustentável XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 1. Introdução e Objetivos Os desafios da logística reversa, campo da logística empresarial relacionado aos fluxos dos canais de distribuição reversos, exigem que conceitos específicos dessa área sejam sugeridos, testados e desenvolvidos. A simples aplicação de conceitos da logística dos fluxos produtivos diretos em situações específicas de fluxos reversos leva a prejuízos na solução final obtida, que pode assim ser inviável, ou ao menos apresentar uma considerável lacuna se comparado ao resultado ótimo que poderia ser alcançado com a aplicação de conceitos especificamente desenvolvidos para a área. Este trabalho tem seu foco no campo da logística reversa de pós-consumo ligada à indústria de reciclagem de plásticos. Escolheu-se o plástico dentre os diversos materiais recicláveis, visto a combinação de dois fatores principais: o elevado e crescente volume desse material nos fluxos diretos de produção, e a existência de consideráveis desafios – logísticos, legais e tecnológicos - encontrados para aumentar a atratividade deste setor do ponto de vista empresarial. O objetivo e a motivação principais do trabalho consistem na identificação dos problemas relacionados ao suprimento da indústria de reciclagem de plástico, os quais vêm sendo apontados como principais fatos inibidores no desenvolvimento da mesma. A primeira seção deste trabalho consiste numa revisão bibliográfica sobre a base de conhecimento existente no campo da logística reversa e da reciclagem de plástico. A segunda seção busca revisar o panorama da indústria de reciclagem de plástico através da exposição dos principais indicadores do setor. Na terceira seção é apresentado um estudo de caso com uma empresa de reciclagem de resíduos plásticos de médio porte localizada no Rio de Janeiro, no qual são abordados os principais problemas de suprimento enfrentados pela mesma. A quarta seção foca-se no estudo da configuração da cadeia de reciclagem de plástico, assim como na identificação de tendências para os diferentes elos desta cadeia. Por fim, a última seção consiste na conclusão da pesquisa apresentada neste trabalho, assim como na sugestão de temas para futuras pesquisas nesta área. 2. Revisão Bibliográfica Um dos conceitos diretamente relacionados à idéia de desenvolvimento sustentável é chamado de Cadeia de Suprimento em Circuito Fechado (DIAS E TEODÓSIO, 2006). Este conceito implica na gestão dos fluxos diretos e reversos dos materiais extraídos e beneficiados pela sociedade, de forma a administrar todo o ciclo de vida destes materiais. Bowersox e Closs (2001: 51,52) afirmam que a logística moderna deve incluir o conceito de “Apoio ao Ciclo de Vida”, de forma a considerar não só o fluxo direto dos materiais, mas também os fluxos reversos dos produtos. Observa-se que atualmente existe um grande esforço para o desenvolvimento conceitual e prático da logística reversa. Por ser um campo de estudo em fase inicial de desenvolvimento a logística reversa é um termo ainda bastante genérico. Neste artigo será, portanto, adotada a definição de Leite (2003), segundo a qual a logística reversa pode ser entendida como a “área da logística empresarial que visa equacionar os aspectos logísticos do retorno dos bens ao ciclo produtivo ou de negócios através da multiplicidade de canais de distribuição reversos de pós–venda e de pós–consumo, agregando-lhes valor econômico, ecológico, legal e de localização”. 2 XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 Stock (1998) afirma que a logística reversa inicialmente foi considerada um instrumento de minimização de custos e só mais recentemente vem sendo considerada como uma fonte adicional de lucros para as organizações. Em seu trabalho, Stock cita diversos exemplos de firmas que investiram na logística reversa no contexto da reciclagem de materiais e tiveram acréscimos nos lucros, não só por redução de custos, mas pelo aumento de vendas decorrente do posicionamento ecologicamente correto frente à sociedade. Segundo Fuller e Allen (1995) existem duas formas básicas pelas quais um produto retorna ao ciclo produtivo: com pouco/nenhum tempo de uso, e ao término do ciclo de vida. No primeiro caso, seriam considerados produtos logísticos de pós-venda, já no segundo caso seriam considerados produtos logísticos de pós-consumo. Por outro lado, Liva et al (2003) subdividem a Logística Reversa em três diferentes campos de estudo: logística reversa de pós-venda, logística reversa de pós-consumo e logística reversa de embalagens. O interesse pelo desenvolvimento conceitual e prático da logística reversa vem crescendo não só no meio acadêmico, mas também nas esferas governamentais, no meio empresarial e na sociedade consumidora de bens e serviços. Brito e Dekker (2002) dividem os motivos que promovem o fluxo reverso de embalagens sob dois prismas: perspectiva do fabricante e perspectiva do consumidor. A partir da visão do fabricante existem três forças que podem direcionar suas ações: a economia, a legislação e a responsabilidade estendida. Já em relação aos consumidores, afirmam que, de forma geral, é difícil envolvê-los no retorno do produto ao fabricante. Como incentivos que podem estimular o consumidor na devolução ao fabricante os autores citam: retribuição com taxas de depósito e incentivo a doações para instituições filantrópicas. Neste trabalho será considerada a subdivisão em logística reversa de pós-venda e logística reversa de pós-consumo utilizada por Fuller e Allen (1995). Sendo assim, este trabalho considera que a logística reversa de embalagens está contida na logística reversa de pósconsumo. Vale também observar que este artigo busca analisar a cadeia reversa de materiais plásticos. Dessa forma, este trabalho estará focado nos conceitos da logística reversa de pósconsumo, sempre de forma fortemente relacionada à reciclagem de materiais plásticos. Reciclagem pode ser definida como sendo o canal reverso de revalorização, em que os materiais constituintes dos produtos descartados são extraídos industrialmente, transformando-se em matérias-prima secundárias ou recicladas que serão reincorporadas à fabricação de novos produtos. Para que a reintegração se realize, são necessárias as etapas de coleta, seleção e preparação, reciclagem industrial e reintegração ao ciclo produtivo (CLM, 1993). Segundo Calderoni (2003), para se chegar ao ganho total proporcionado pela reciclagem de bens de pós-consumo deve-se considerar diferentes componentes como: energia, matéria prima, água, controle ambiental, assim como custos de coleta e disposição final do lixo. Segundo seu trabalho, a reciclagem do lixo é mais econômica que a produção a partir de matérias-primas virgens, visto que a produção a partir da reciclagem utiliza menos energia, matéria-prima e recursos hídricos, além de reduzir os custos de controle ambiental, assim como os de disposição final do lixo. Calderoni (2003) propõe que a contribuição do plástico para a viabilidade econômica do lixo em geral é potencialmente muito elevada, principalmente devido à economia de matéria- 3 XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 prima que proporciona. No entanto, a relação preço-volume desfavorável faz com que não seja considerado tão atrativo para carrinheiros e catadores. A baixa densidade do plástico (relação massa-volume) constitui fator essencial para a análise do desenvolvimento da indústria de reciclagem de plástico. Também entre os desafios existentes na reciclagem de plástico, existe o problema das impurezas, misturas de diferentes plásticos em um mesmo produto, o que limita a reciclabilidade do plástico, fato que se reflete nos preços da sucata plástica, que alcança baixos valores quando comparados ao preço da resina virgem. A disponibilidade de matéria prima reciclável depende do grau de organização e eficiência da cadeia reversa. Esta se inicia na coleta dos produtos junto aos clientes em diferentes elos da cadeia de suprimento. Em seguida acontece a fase de inspeção ou testes realizada no local da coleta ou no centro de consolidação de recebimentos. Na etapa seguinte o produto retornado será destinado a uma das diversas possibilidades de recaptura de valor (LEITE et al, 2005). O retorno de produtos de pós-venda é geralmente heterogêneo em sua natureza, qualidade, forma e embalagem, com relações peso x volume e preço x peso baixas. Além disso, as fontes de coleta costumam estar dispersas e com alto grau de capilaridade, o que gera uma necessidade de consolidação para adensamento de carga. Todas estas condições levam a um gerenciamento especializado e pouco automatizado (ROGERS & TIBBEN-LEMBKE, 1999; LEITE et al, 2005). Segundo Leite (2003), as empresas que formam as diversas cadeias produtivas reversas costumam apresentar alta dispersão geográfica e consequentemente porte muito inferior ao das empresas das cadeias produtivas diretas. Dois setores em que tal panorama mostra-se claro são os de reciclagem do ferro/aço e do plástico. Um dos principais motivos dessa característica é de natureza logística, uma vez que o retorno dos bens de pós-consumo se dá pela coleta em pontos dispersos e por sucessivas consolidações até chegar até chegar à fase de reintegração do material reciclado, normalmente em empresas produtoras de matérias-primas virgens ou produtoras do bem de utilidade. Essa configuração dispersa da cadeia reversa, quando comparada à cadeia direta, justifica a existência de mercados de materiais secundários ou reciclados com características de monopsônios ou oligopsônios, o que leva a uma situação desproporcional na barganha comercial entre empresas das cadeias direta e reversa. Dias e Teodósio (2006) se propõem a discutir as possibilidades, limites e desafios da reciclagem de PET. Realizam uma pesquisa de caráter exploratório com utilização de fontes secundárias e entrevistas de roteiro semi-estruturado com especialistas da área. Segundo a pesquisa realizada, os atores envolvidos na estrutura da cadeia reversa do PET não conseguiram organizar-se para o alcance da efetividade operacional e ambiental desejável no cenário brasileiro. Verifica-se uma lacuna referente ao estudo de casos de empresas da cadeia reversa de produtos pós-consumo. Desta forma, este trabalho busca verificar a realidade vivida por uma empresa do setor de reciclagem de plástico cuja matéria prima constitui-se de resíduos de pósconsumo. Neste contexto, além do ambiente interno, será analisado o relacionamento desta empresa com os demais elos da cadeia reversa, de forma a identificar os fatores que mais influenciam no resultado do negócio e nas perspectivas futuras para as empresas do setor. 3. A Indústria de Reciclagem de Plástico no Brasil 4 XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 Nesta seção encontram-se informações sobre o consumo de plástico no Brasil, assim como dados referentes aos dois tipos básicos de matéria-prima para a indústria do plástico: resina termoplástica e plástico reciclado. 3.1. Indústria do Plástico A seguir são apresentados os principais indicadores da indústria de plástico no Brasil. Tais indicadores visam mostrar o comportamento desta indústria ao longo dos últimos anos. 6.000 R$ 20.000 R$ 18.000 R$ 16.000 R$ 14.000 R$ 12.000 R$ 10.000 R$ 8.000 R$ 6.000 R$ 4.000 R$ 2.000 R$ 0 Mil toneladas 5.000 4.000 3.000 2.000 1.000 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 U$ (Milhões) O gráfico a seguir expõe o crescimento da demanda por artefatos plásticos, o que, por conseqüência, leva ao aumento da demanda por matéria prima. Cosumo Aparente de Artefatos Plásticos Faturamento do Setor 2007 Ano Fonte: Abiplast, 2007 Figura 1 – Consumo e Faturamento do Setor de Artefatos Plásticos Como se pode observar, o consumo de artefatos plásticos cresceu 24,5% entre os anos de 2000 e 2007. Já o faturamento desta indústria teve um crescimento de 86,2%. Pode-se inferir que esta diferença deve-se à alta no preço do barril de petróleo, insumo básico para a produção de resinas termoplásticas. Verifica-se, portanto um crescimento em duas dimensões: quantidade e valor. Este panorama demonstra a atratividade desta indústria para investimentos do setor privado. 4 3,5 3 Cosumo de Resinas Termoplásticas 2,5 2 PIB Brasil 1,5 1 0,5 0 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 Valor Observado / Valor Inicial da Série A figura 2 permite verificar que o crescimento do consumo de artefatos plásticos no Brasil vem ocorrendo a taxas consideravelmente superiores ao crescimento do PIB Ano Fontes: 1. Banco Central do Brasil; 2.SIRESP Figura 2 – Crescimento Relativo do PIB brasileiro e do Consumo de Resinas Termoplásticas no Brasil 5 XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 As taxas de crescimento do consumo de artefatos plásticos - consideravelmente superiores às taxas de crescimento do PIB nacional - somados à expectativa de crescimento do PIB nacional para os próximos anos e à forte correlação entre PIB e consumo de artefatos plásticos, permitem prever que o consumo de plástico deverá continuar aumentando, e, por conseqüência, deverá haver um aumento também no consumo das matérias-primas necessárias: resina termoplástica e plástico reciclado. 3.2. A Cadeia da Reciclagem A indústria transformadora de plástico possui hoje duas formas de obter a matéria-prima que necessita. Pode-se adquirir matéria-prima virgem oriunda da cadeia direta de resinas termoplásticas ou pode-se adquirir plástico reciclado oriundo da cadeia reversa de reciclagem. Para alguns produtos, o uso de plástico reciclado depende de leis específicas – como embalagens de bebidas e alimentos –, no entanto a grande maioria de artefatos plásticos pode ser fabricada com ambas as opções de matéria-prima. Sendo assim, os fatores decisivos de escolha são: disponibilidade e preço. O ponto crítico da indústria de reciclagem é a escassez de matéria prima – sucata plástica – o que torna seu preço bastante volátil, e, dependendo da cotação, pode encarecer o produto reciclado a ponto de torná-lo menos atraente. A figura 3 representa a interação das cadeias direta e reversa com a indústria de transformação de materiais plásticos. Fonte: Autor do trabalho Figura 3 - Suprimento da Indústria de Transformação do Plástico 4. Estudo de Caso Nesta seção é apresentado o estudo de caso de uma empresa de médio porte que atua no mercado de reciclagem de plásticos há 20 anos e que constitui um bom exemplo do ambiente ao qual as empresas deste setor estão submetidas. Este estudo de caso tem como principal objetivo identificar as variáveis mercadológicas e operacionais que apresentam maior impacto no resultado operacional de uma empresa de porte médio do setor de reciclagem de plástico. A partir da definição destas variáveis, pretende-se identificar os fatores inibidores e/ou promotores do desenvolvimento da empresa em questão de forma permitir uma generalização analítica, e não estatística, para as demais 6 XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 empresas do setor. A análise realizada busca identificar tendências relacionadas aos diferentes elos da cadeia reversa da indústria de reciclagem de plástico conforme pode ser observado na seção 5 do presente trabalho. A pesquisa foi realizada entre outubro e dezembro de 2007 seguindo um modelo qualitativo descritivo. Com este objetivo, foram realizadas visitas técnicas, assim como entrevistas com os principais gestores da empresa através de questionários semi-estruturados. A empresa estudada atua no setor de reciclagem de plástico em duas frentes principais: reciclagem e prensagem de resíduos plásticos. A reciclagem é realizada com plásticos dos tipos PEAD (Polietileno de alta densidade) e PP (Polipropileno), já a prensagem é realizada com plástico do tipo PET (Tereftalato de Etilenoque) que é posteriormente revendido para recicladores. O foco deste estudo de caso estará na unidade de reciclagem de Polietileno e Polipropileno. 6.1 - Apresentação da empresa A empresa trabalha com plásticos dos tipos Polietileno e Polipropileno devido à grande disponibilidade destes materiais para compra e à grande demanda existente para venda do produto final reciclado. Tais facilidades existem visto que estes materiais são largamente consumidos em diversos tipos de embalagens descartáveis, fato este que gera grande quantidade de descarte, assim como necessidade de material para a produção das novas embalagens – um ciclo virtuoso que gera tanto matéria-prima quanto demanda. A seguir encontram-se alguns indicadores operacionais da firma ao longo de 2006 e 2007, assim como as projeções para 2008. 7.000 6.000 Toneladas 5.000 4.000 Toneladas de flake vendido 3.000 Toneladas de sucata comprada 2.000 1.000 2006 2007 2008* Ano * Projeção para 2008 Fonte: Entrevista com os gestores da empresa Figura 4 – Indicadores da tonelagem de materiais comprados e vendidos na empresa estudada O faturamento no ano de 2007 foi de R$ 3.060.000, sendo que a previsão é dobrar este valor no ano de 2008. Segundo os entrevistados, a demanda é elevada e não constitui uma restrição para o crescimento da empresa. As variáveis que determinam o crescimento da empresa são disponibilidade de matéria prima – qualidade e localização - e capital disponível para investimento. Para alcançar o crescimento projetado, a empresa pretende investir nos processos de logística inbound e na expansão de capacidade da linha de produção. 7 XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 6.2 - O contexto na cadeia de suprimentos O insumo básico da empresa é a sucata de material plástico. Seu conjunto de fornecedores é constituído por ferros-velhos e por um aterro sanitário localizado próximo à empresa, sendo 30% dos insumos comprados de ferros-velhos e 70% comprados do aterro sanitário. O transporte dos suprimentos é de responsabilidade da empresa estudada, que possui um caminhão próprio e aluga outros quando necessário. Hoje tais custos não constituem um grande problema, visto que a maior parte do material comprado (70%) vem do aterro sanitário localizado a aproximadamente 4 km da empresa. No entanto, em pouco tempo este custo será extremamente relevante, uma vez que o aterro deverá ter suas operações encerradas pela prefeitura. A partir deste momento o custo de transporte inbound será relevante a ponto de levar os gestores da empresa a rever a localização da mesma. O produto final da empresa é o flake de PP ou PEAD, os quais servem de matéria-prima para a indústria de transformação. No entanto, para algumas aplicações ainda é necessária uma etapa de pigmentação do flake antes que este seja de fato utilizado. Sendo assim, existem 3 tipos de compradores do produto final produzido pela empresa: os transformadores de grãos pigmentados, os transformadores finais e os revendedores. A participação destes 3 tipos de clientes nas vendas da empresa se comporta da seguinte forma: 40% revendedores, 10% transformadores de grãos pigmentados e 50% de transformadores finais. Preço / ton Prazo para pagamento Tipo de venda Ferro Velho R$ 0,50 a R$ 0,85 2 dias FOB Menos impurezas Pontos Positivos Vende separado Contaminação por outros tipos de plástico Pontos Negativos Grandes distâncias Transporte ineficiente (1 caçamba transportada = 1 tonelada) Fonte: Entrevista com Gestores da Empresa Aterro Sanitário R$ 0,35 (fixo) 1 dia FOB Regularidade de fornecimento Exclusividade Preço baixo Contaminação por diversos materiais Vida útil do fornecedor limitada Tabela 1 - Análise dos Fornecedores da empresa estudada Em relação ao transporte do produto, a empresa estudada é responsável pelo frete na venda realizada para 10 % dos clientes e vende no modelo FOB para os outros 90%. O valor do flake vendido pela empresa no ano de 2007 variou de R$ 1,20 a R$ 2,50 por kg. Vale observar que, segundo os entrevistados, o preço do flake em São Paulo mantém-se em média 10% superior ao praticado no Rio de Janeiro. 6.3 - Processo produtivo O processo produtivo praticado na empresa é dividido em 2 linhas de produção. A primeira possui baixo nível de automação, enquanto a segunda é altamente automatizada. Na Linha I acontece a separação manual da sucata nos diferentes tipos de materiais segundo os critérios: tipo de plástico e cor do material. 8 XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 Já na Linha II acontecem as etapas de moagem, lavagem e secagem - todas de forma automatizada. Na Linha I, a empresa conta com 2 (duas) esteiras nas quais a sucata é transportada enquanto os operadores, que encontram-se posicionadas ao longo das mesmas, retiram a sucata manualmente e depositam nos sacos apropriados aos diferentes tipos e cores de material. Para o volume atual de sucata processada, são necessários 10 operadores por esteira a cada turno. No panorama atual, a Linha I pode ser considerada o gargalo do sistema produtivo, uma vez que existe grande ociosidade na Linha II. Com o objetivo de atingir as metas de crescimento para o ano de 2008, será instalada mais 1 esteira na Linha I. A jornada de trabalho na Linha I também será alterada, passando de 2 para 3 turnos por dia. A figura 5 resume o fluxo do material através das duas linhas de produção citadas. Fonte: Autor do trabalho Figura 5 – Linhas de Produção do Estudo de caso 6.4 - Os Problemas do suprimento O suprimento de sucata constitui o maior problema e o maior desafio para a empresa estudada. A demanda por material reciclado existe e é grande, no entanto a matéria prima é escassa e concorrida, além de possuir uma relação peso-volume que encarece consideravelmente a etapa de transporte da sucata. O custo de compra da sucata é função dos fatores: qualidade, localização, preço-base e ágio negociado. A volatilidade no preço-base (R$/kg) pode ser considerado o principal desafio para o suprimento da empresa em questão. Diferentemente do que acontece em outras indústrias, a empresa estudada afirma pagar mais caro quando compra grande quantidade de sucata do mesmo fornecedor. Segundo os entrevistados esta situação não é restrita à empresa. Toda a indústria de reciclagem se comporta desta forma, e, segundo os mesmos, tal situação ocorre devido a uma taxa de “exclusividade” cobrada pelo fornecedor quando um reciclador pede uma fatia muito grande da sucata disponível no fornecedor. Além destes desafios, dentro de alguns anos a empresa contará com um grande problema que afetará significativamente seu fluxo de suprimentos. O aterro sanitário já venceu sua vida útil e só continua funcionando por falta de opção da prefeitura do Rio de Janeiro. Assim, dentro de pouco tempo a fonte de cerca de 70% dos suprimentos da empresa será desativada. 6.5 - Possíveis soluções Para enfrentar parte dos problemas citados, a empresa possui ações estratégicas planejadas para o ano de 2008. Como a quantidade de sucata proveniente do aterro sanitário vem decaindo com o tempo, devido à extrapolação da vida útil deste aterro, será necessário aumentar a quantidade de suprimento comprado junto aos ferros-velhos. Com este objetivo, planeja-se a compra de caçambas de caminhão que deverão ser depositadas nos principais ferros-velhos de forma a melhorar o processo e garantir a compra destes fornecedores. 9 XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 Outra medida importante será o treinamento dos compradores para que estes adquiram material com pouca contaminação, seja por outros tipos de plástico, por cores indesejáveis, ou mesmo por sujeira em geral. Segundo os entrevistados, é extremamente importante que o comprador saiba negociar o ágio justo correspondente ao índice de contaminação do material comprado. 5. Análises e Perspectivas A partir do estudo de caso, assim como dos dados quantitativos disponíveis relacionados ao setor do plástico e da literatura científica disponível, foram traçadas perspectivas para a indústria de reciclagem de plástico. Nesta seção, portanto, são analisados o panorama atual e as tendências futuras para os diferentes elos da cadeia reversa da indústria do plástico. 5.1 - Descarte (indústrias, comércio e domicílios) Este elo da cadeia apresenta uma forte tendência de desenvolvimento nas atividades de gestão de resíduos. No caso de resíduos comerciais e domiciliares, a gestão pode ser realizada tanto pelo poder público, quanto pelos próprios responsáveis pelo descarte, ou ainda por uma terceira parte contratada para esta atividade. Já no caso das indústrias, estas são legalmente responsáveis pelos resíduos que geram (Lei No 9.605, de 12 de fevereiro de 1998), e, portanto, devem responsabilizar-se pela gestão dos mesmos ou terceirizar esta atividade. Segundo Alves (2000), em maio do ano de 2000, o mercado de gestão de resíduos no Brasil já movimentava 50 milhões de dólares ao ano. De acordo com Campos (2007), esta indústria teve uma receita agregada de 1,5 bilhão de reais no ano de 2007. Convertendo este valor para dólares, e comparando com o ano de 2000, verifica-se um crescimento de cerca de 1.500% em sete anos. Vale ressaltar que o foco deste trabalho consiste na cadeia de reciclagem de plásticos, cujos resíduos são classificados pela norma NBR 10004 da ABNT como resíduo Classe II B (não inertes e recicláveis para outras destinações), enquanto grande parte da gestão de resíduos industriais é voltado para o tratamento de resíduos Classe I (perigosos) e Classe II A (nãoinertes e reutilizáveis ou recicláveis como agregados). No entanto, faz-se importante notar que a firma responsável pela gestão dos resíduos, na grande maioria dos casos, é responsável por todo o resíduo gerado pelo contratante. Desta forma, a firma gestora de resíduos tem a responsabilidade de oferecer tratamento adequado aos resíduos que requerem cuidados especiais, Classe I, mas pode também comercializar diretamente aqueles que não necessitam de tratamento, como é o caso do plástico, pertencente à Classe II B. Vale observar que o interesse das empresas de atuação nacional e global em posicionarem-se como ecologicamente corretas vem aumentando. Por este motivo, a busca por certificações do tipo ISO 14001 vem aumentando, e consequentemente a adoção de práticas de gestão dos resíduos também vem aumentando, independentemente da classe a qual pertençam. Tal cenário impacta na cadeia de reciclagem de plástico, visto que modifica a dinâmica de venda de parte do plástico disponível para reciclagem – a fatia gerada pelo setor industrial. No entanto, vale ressaltar que grande parte do plástico pós-consumo utilizado para reciclagem vem dos resíduos domésticos e do comércio - como garrafas PET e embalagens em geral - o que limita o impacto da gestão de resíduos industriais no setor de reciclagem de plástico. Desta forma, pode-se afirmar que o impacto na configuração da cadeia será maior quando as práticas de gestão de resíduos e coleta seletiva intensificarem-se nos setores de descartes domésticos e comerciais. 10 XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 5.2 - Coleta e Triagem Conforme citado por Leite (2003), o elo identificado como Coleta e Triagem deve ser subdividido em três classes no caso da reciclagem de plásticos, assim como de outros materiais de pós-consumo: coletores locais, consolidação regional e consolidação definitiva. Atualmente a atividade de coleta é essencialmente realizada por coletores informais e cooperativas. Excluindo-se o caso do plástico tipo PET, que apresenta elevados índices de reciclagem, este modelo de coleta vem mostrando-se inadequado para sustentar o crescimento da indústria de reciclagem de plástico, que ainda possui índices de reciclagem de apenas 19,8 % (PLASTIVIDA, 2005). Por um lado, pode-se afirmar que o Brasil possui um bom índice quando comparado a outros países, no entanto esta comparação reduz diferentes ambientes sob a análise de um mesmo indicador, o que pode levar a conclusões inconsistentes. A análise correta deve ser feita com base no potencial local. Desta forma, verifica-se que o preço da resina termoplástica vem aumentando consideravelmente em decorrência do aumento no preço do barril de petróleo, que o Brasil apresenta elevado crescimento no consumo e produção de artefatos plásticos, e que, no entanto, a indústria de reciclagem de plástico não vem acompanhando as taxas de crescimento esperadas. A estrutura de coleta e triagem, portanto, precisa estruturar-se adequadamente, de forma a permitir o desenvolvimento desta indústria. As perspectivas futuras para este elo dependem essencialmente das soluções logísticas que sejam encontradas para os maiores desafios da coleta de resíduos plásticos: a relação peso-volume somada à capilaridade das fontes de resíduos. Existem iniciativas voltadas para a integração vertical desta coleta, como é o caso do grupo Tomra Latasa. A firma investiu na instalação de postos de recolhimento automatizados nos principais supermercados do Rio de Janeiro, nos quais o PET recolhido já é automaticamente separado pela cor, e acondicionado de forma a melhorar a utilização do espaço de armazenagem e transporte. Em seguida a firma consolida a carga no seu centro de coleta e encaminha para as centrais de reciclagem próprias ou terceirizadas (MALINVERNI, 2002). Apesar desta solução utilizar a estratégia de integração vertical, é possível que outras soluções não sigam o mesmo caminho. Pode haver soluções que mantenham a cadeia com certo nível de fracionamento. Ainda é cedo para afirmar como será configurado este setor no futuro. O que se pode afirmar é que o problema central desta questão é um problema logístico e que, mesmo que o fracionamento deste elo da cadeia se mantenha, este deverá diminuir de forma aumentar a eficiência das atividades de transporte e triagem. 5.3 - Reciclagem Neste elo da cadeia existem dois fatores principais que devem ser considerados para a projeção de tendências: legislação e tecnologia. Dependendo destes fatores, poderá existir uma tendência de consolidação em grandes recicladores ou de pulverização em pequenos e médios. Por um lado existe uma concorrência acirrada que gera gargalos no fluxo de suprimentos, o que leva a uma situação de desequilíbrio na relação entre demanda e disponibilidade de resíduos plásticos recicláveis. Dessa forma, o preço do resíduo plástico reciclável sofre aumentos de preço até o limite suportado – pelos recicladores - que garanta a viabilidade econômica na operação de reciclagem. Por conseqüência, o mercado torna-se extremamente competitivo e dois fatores começam a ser grandes diferenciais neste ambiente: a economia de 11 XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 escala (referente a custos operacionais e logísticos) e a produtividade dos equipamentos utilizados. Este panorama, caso se mantenha, indica uma tendência de consolidação em grandes recicladores de resíduos plásticos, uma vez que a concentração de grandes quantidades traz grande economia de escala nos custos e que elevados investimentos em tecnologia de ponta aumentam a produtividade. Como a margem praticada é baixa, o aumento de produtividade - permitido por tecnologias caras - torna-se um ponto crítico para a atratividade da atividade. Em relação ao fator tecnológico, vale também observar que a legislação brasileira somente permite o uso de plástico reciclado em alguns segmentos específicos, como o de embalagens alimentícias, caso a tecnologia utilizada no processo de reciclagem satisfaça os padrões internacionais de pureza adequada exigida pelo Codex Alimentarius (Código para alimentos), ILSI (Instituto Internacional das ciências da Vida) e FDA (Administração de Alimentos e Drogas) (SANTOS et al, 2004). Uma vez que tais processos exigem maiores investimentos em tecnologia, este cenário fortalece o impacto do fator tecnológico no futuro desta indústria. Por outro lado, a informalidade dos pequenos e médios recicladores de plástico, leva a outro tipo de economia. Neste caso, existe uma economia tributária que permite a manutenção no mercado e equilibra a falta de economia de escala, assim como a utilização de equipamentos de menor produtividade. Pela pesquisa realizada, portanto, conclui-se que a tendência de longo prazo neste elo da cadeia depende de dois fatores principais: tributário e tecnológico. Dependendo da política tributária e da política de fiscalização que venha a ser adotada para o setor, os pequenos e médios recicladores poderão ou não manter-se no mercado. Em relação ao fator tecnologia, existe a possibilidade da tecnologia de alta produtividade ter seu custo reduzido ao longo do tempo. Caso esta redução ocorra, e caso o surgimento de tecnologias de produtividade ainda maior não aconteça de forma relevante, pequenos e médios recicladores de plástico teriam uma maior chance de se manterem no mercado. Este elo está sujeito a variáveis cujas perspectivas futuras são incertas, uma vez que dependem de fatores políticos e do desenvolvimento tecnológico. 5.4 - Transformação Este elo da cadeia é, de forma geral, o mesmo da cadeia direta do plástico, visto que os transformadores podem comprar matéria-prima virgem ou matéria-prima reciclada. Atualmente este setor encontra-se extremamente pulverizado, devido a dois fatores principais: o baixo custo da tecnologia de injetoras necessárias à transformação, e a informalidade existente no setor. No entanto, existe uma pressão das empresas nacionais fornecedoras de resina plástica virgem – elo já bastante consolidado em poucas e grandes firmas - para que o setor de transformação também se consolide, de forma a aumentar a produtividade e competitividade do setor. Segundo DCI (2007), existem hoje aproximadamente 8 mil empresas transformadoras de plástico no país, enquanto o número ideal, segundo os fabricantes de resinas, seria entre 1 mil e 1,5 mil. A preocupação por produtividade existe visto que as importações de material plástico transformado no Brasil vêm aumentando, e que também existe uma perspectiva de aumento na importação de resinas graças a acordos bilaterais assinados entre o Brasil e paises do Oriente Médio. Em alguns setores específicos, pode haver um movimento de verticalização que permita aumentar a eficiência da cadeia. No caso da reciclagem do PET, por exemplo, no qual tanto os 12 XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 agentes de descarte quanto os consumidores do PET reciclado são bem definidos, esta verticalização torna-se mais provável. Esta integração vertical pode não ocorrer pela atuação de uma empresa em todos os elos, mas a partir de associações estratégicas, parcerias e adoção de conceitos do supply chain management na cadeia reversa. A seguir encontra-se exposto um quadro resumo das tendências identificadas durante o estudo. Fonte: Autor do trabalho Figura 5 - Tendências na Cadeia de Reciclagem de Plástico 6. Conclusão Durante a elaboração deste trabalho buscou-se identificar os principais problemas de suprimento das empresas do setor de reciclagem de plástico. Como conclusão principal deste trabalho ficou a evidência de que parte dos fatores essenciais (qualidade, escala e mercado) e fatores necessários (econômicos, tecnológicos) apontados por Leite (2003) favorecem o desenvolvimento da indústria de reciclagem de plástico, enquanto outros, como o fator logístico, precisam desenvolver-se, visto que atualmente têm papel inibidor nesta indústria. A logística do plástico entre os primeiros elos da cadeia reversa – aqueles entre o descarte do material e as primeiras etapas da reciclagem – é pouco desenvolvida, assim como o comércio entre os mesmos elos. Afirma-se aqui que o comércio é pouco desenvolvido em comparação com potencial existente, uma vez que apenas 19,8% do plástico descartado no Brasil é reciclado (PLASTIVIDA, 2005) e contraditoriamente a escassez de sucata de material plástico é um fator inibidor da indústria de reciclagem. Propõe-se aqui que a informalidade, ausência de legislação bem definida e de um plano diretor nacional para a destinação racional da sucata de alto valor comercial atrasam o desenvolvimento do comércio de sucatas e inibem a entrada de investimentos nesta indústria, tanto nas atividades principais de reciclagem quanto nas atividades relacionadas de transporte e logística. Algumas definições legais quanto ao uso de plástico reciclado em embalagens de alimentos e bebidas constituem outras variáveis importantes a serem consideradas na futura relação entre oferta e demanda de sucata plástica. Caso a utilização de plástico reciclado seja aprovada em novos segmentos de mercado, poderá haver uma forte pressão de alta no preço da sucata plástica. Este panorama corrobora a necessidade de haver um esforço público e privado em 13 XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008 direção à melhora do índice nacional de reciclagem de material plástico, de forma a permitir o abastecimento, desenvolvimento e manutenção da viabilidade econômica desta indústria. Referências ALVES, F. Resíduos Industriais: gerenciamento é o filão do mercado. Saneamento Ambiental, São Paulo, n. 65, maio 2000. 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