PRÁTICA PEDAGÓGICA E CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO PROFISSIONAL: NOVAS REALIDADES, NOVOS DESAFIOS CARVALHO, Maria de Lurdes Dias de – IE-UM [email protected] Eixo Temático: Práticas e Estágios nas Licenciaturas Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo As exigências económicas, políticas, sociais e culturais, e especialmente educacionais do mundo contemporâneo fazem emergir uma nova concepção de aluno, de escola e, consequentemente, um novo perfil de professor. Mas, exigir dos professores uma mudança na sua acção educativa, exige, também, a reconstrução de modelos de formação. O Processo de Bolonha implicou mudanças significativas na formação de educadores de infância e de professores do ensino fundamental. Para cumprir Bolonha é indispensável que existam mudanças substanciais no processo de ensino e de aprendizagem, diversificando os modos de trabalho e de relação pedagógica de forma que os estudantes se tornem cada vez mais autónomos sendo capazes de recolher, e tratar informação de modo a irem contruindo os seus saberes. Por consequência, também o papel dos docentes sofre mudanças, dando mais relevo à missão de aconselhamento e tutoria do que à simples transmissão de informação. Pretende-se reflectir sobre as unidades curriculares de Projectos de Investigação e Acção Pedagógica (I e II) do 3.º ano da licenciatura em Educação Básica enquanto espaço privilegiado de integração entre as propostas oriundas das diversas áreas curriculares e as exigências dos contextos da prática educativa, permitindo aos estudantes uma apropriação gradual das competências que definem o seu perfil profissional, baseada em processos de investigação-acção-reflexão colaborativa. Simultaneamente, pretende-se analisar esta unidade curricular enquanto momento onde o aluno tem oportunidade de experenciar os conhecimentos adquiridos na sua formação, mas imbuídos de hábitos de reflexão sobre a actividade docente e a compreensão das problemáticas existentes no decorrer do desempenho profissional. Estes espaço e momento constituem situações que permitem aos estudantes uma apropriação gradual das competências que definem o seu perfil profissional através de processos de investigaçãoacção-reflexão colaborativa. Evidencia-se que a formação não é resultante da acumulação de conhecimentos, mas sim da sua integração significativa através da reflexão crítica sobre as diversas experiências e interacções que constituem o currículo. Palavras-chave: Pratica profissional. Conhecimento profissional. Formação e conhecimento. 16569 Introdução A formação de professores tem-se caracterizado pela junção de diferentes componentes que se aglutinam em torno das ciências da educação, das ciências da especialidade e da própria prática profissional. Considerando a complexidade particular que caracteriza a formação de professores generalistas, torna-se relevante a existência de um Projecto de Formação baseado no Perfil Profissional, fundamentado num modelo de professor investigador, reflexivo, colaborador, aberto à inovação, participante activo e crítico em diferentes contextos educativos. A construção deste Projecto de Formação tem com principais pilares a articulação das diferentes componentes da formação, representativas da diversidade de saberes teórico-práticos que caracterizam o desempenho profissional neste nível de ensino, bem como o desenvolvimento de um currículo formativo fundamentado na compreensão e estímulo à inovação e à mudança nas escolas. Um modelo integrado, articulado e flexível de formação de professores, sustenta-se na construção conjunta de contextos coerentes que permitam aos estudantes atribuir um significado pessoal e profissional às diferentes componentes e experiências que integram o currículo de formação. Torna-se evidente a necessidade de um diálogo constante entre todos os intervenientes, no sentido da conjugação de sinergias, da valorização dos processos desenvolvidos e da partilha de pressupostos acerca do perfil de professor a formar, do modelo de desenvolvimento pessoal e profissional a construir, como forma de dar coerência às opções dos componentes do currículo nos diferentes contextos de formação. Formação e Construção de um Perfil Profissional: o papel da Iniciação à Prática Pedagógica A formação inicial de professores está imersa num conjunto de múltiplos problemas que estão relacionados com a complexidade inerente à natureza epistemológica e organizacional da formação dos professores (Alonso, 1994). A diversidade de desafios que se colocam às dinâmicas da formação de professores é parte integrante da configuração de um projecto de formação adequado e capaz de dar respostas às necessidades e aspirações de cada sociedade. Em primeiro lugar, a abrangência do saber profissional, entendida numa lógica 16570 complexa, aberta e estruturada distante dos saberes disciplinares, desarticulados e das realidades e, em segundo lugar, a necessidade de se pensar e acreditar em abordagens integradoras do currículo, permitem dar sentido à complexidade do real e à integração dos saberes. A lógica da construção de um projecto de formação integrado que permita a articulação das diferentes componentes da formação exige a explicitação de princípios orientadores que estruturem e sustentem a formação de professores. Neste sentido, a Iniciação à Prática Pedagógica da licenciatura em Educação Básica do Instituto de Educação da Universidade do Minho (Braga, Portugal) sustenta-se nos seguintes princípios: • Ligar a formação com a mudança da escola (investigação-acção colaborativa); • Promover aprendizagens significativas e relevantes através de processos contínuos de planificação-acção-reflexão; • Trabalhar de forma integrada todas as dimensões do perfil profissional, incidindo nos diferentes contextos de intervenção educativa; • Criar um clima de comunicação e colaboração aberta e democrática entre todos os intervenientes na formação; • Disponibilizar contextos construtivos de supervisão, favorecendo a emergência de um projecto profissional e pessoal; • Apostar na inovação de modo a que a formação contribua, simultaneamente, para a melhoria das práticas da escola e da instituição formadora (Dossier da Licenciatura em Educação Básica, 2008). Em coerência com estes princípios orientadores, os princípios de organização curricular permitem observar a Iniciação à Prática Profissional como uma componente transversal e vertical do currículo capaz de, em primeiro lugar, gerir e integrar a diversidade de conhecimentos provenientes das diferentes componentes de formação e das experiências pessoais. Cada aluno é portador de um conjunto de conhecimentos vivenciados ao longo da sua história de vida, mas é, simultaneamente, portador de uma bagagem de conhecimentos científicos construídos/adquiridos ao longo da sua formação. A integração deste conjunto de conhecimentos permite a reconstrução progressiva e transversal dos seus saberes pessoais e profissionais. O conhecimento profissional é resultante de um processo dinâmico, dialéctico e reflexivo entre os conhecimentos académicos, o conhecimento experiencial e as crenças 16571 ideológicas em contextos determinados (ALONSO e SILVA, 2005) tal como esquematizado CONTEXTO CONTEXTO CONHECIMENTO ACADÉMICO CONHECIMENTO PROFISSIONAL VALORES CONHECIMENTO IDEOLOGIAS EXPERIENCIAL REFLEXÃO ACÇÃO CURRICULAR O R G A N IZ A C I O N A L na Figura1. INVESTIGAÇÃO (Alonso, 2001) Fig. 1 – Construção do Conhecimento Profissional (Alonso, 2001) Por outro lado, pretende-se fazer a mediação entre os desafios da prática e os conhecimentos profissionais pertinentes. A este respeito Leitão e Alarcão (2006:64-65) referem responder de forma profissional a questões como ‘o que fazer, como fazer e quando decidir o que fazer?’ nos contextos educativos, implica a capacidade de mobilização de respostas concretas que, na maioria dos casos, consubstanciam competências construídas através da interacção entre saberes provenientes da investigação, é certo, mas também da reflexão sobre a acção e da experiência e, por isso, dificilmente compagináveis com políticas centralizadoras de formação. Canário (2001:38) considera que é “na escola que os professores aprendem … é no contexto de trabalho, e não na escola de formação inicial, que se decide o essencial da aprendizagem profissional”. Neste sentido, pretende-se desenvolver competências profissionais através da mobilização e integração de conhecimentos, atitudes e procedimentos pertinentes para a prática. Para Alarcão (2001:103), hoje, ser professor 16572 pressupõe um conceito de formação permanente, contínua, especializada e em acção. Este perfil de formação inacabado traz consigo novas formas de trabalhar em equipa, de ser próactivo, de identificar as próprias necessidades de formação e os meios para consegui-la, de usar novas tecnologias e assumir riscos. Pretende-se, também, construir uma identidade e um perfil profissional para enfrentar os desafios da mudança social e educacional. Para Garcia (1996:213) face à crescente complexidade da profissão docente, o professor pode “correr o risco da normalização” se, face às constantes metamorfoses sociais e educacionais, “não for capaz de confrontar as dificuldades inerente à sua realização profissional e pessoal, procurando o seu bem estar como base do exercício da sua profissão, mas também procurando dar sentido à sua acção”. O perfil profissional do professor a formar fundamenta-se num modelo de professor investigador, reflexivo, colaborador, aberto à inovação, participante activo e crítico em diferentes contextos educativos. Este perfil profissional integrado exige, então, quatro áreas de competências interrelacionadas, nomeadamente: i) competências de investigação e reflexão; ii) competências curriculares e pedagógico-didácticas: iii) competências que levam à tomada de decisões sobre princípios e valores que sustentam as relações entre os vários elementos da comunidade educativa e iv) competências relacionais e profissionais, especialmente a colaboração, a abertura e flexibilidade, a ética e o entusiasmo. Para Alonso (1998) a qualidade profissional de um currículo de formação de professores depende da forma como as diferentes componentes se articulam e são coerentes, que permita encontrar um significado pessoal e profissional, de forma a, progressivamente, os alunos irem construindo as teorias práticas que poderão orientar a sua acção. Iniciação à Prática Profissional: Novas realidades… A unidade curricular de Projectos de Investigação e Acção Pedagógica (I e II) do 3.º ano, e último, do curso de licenciatura em Educação Básica pretende ser um espaço e um momento que constituem situações que permitem aos estudantes uma apropriação gradual das competências que definem o seu perfil profissional através de processos de investigaçãoacção-reflexão colaborativa. Nesta linha de pensamento a unidade curricular desenvolve-se em fases que permitem uma imersão progressiva no terreno, o que pressupõe a alternância entre sessões de formação e reflexão no IE e sessões de intervenção nos contextos, pelo que está organizada em sessões/aulas teórico-práticas na universidade, seminários temáticos 16573 orientados por docentes (internos ou convidados) especializados em diferentes temáticas ou áreas do saber, sessões no terreno e tutorias. Esta metodologia será precedida de uma fase de observação participante que permita um conhecimento alargado e aprofundado dos contextos de intervenção. No primeiro semestre (PIIAP-I) os alunos realizarão sessões de observação participante nos contextos onde no 2º Semestre (PIIAP-II) desenvolverão o trabalho de projecto de intervenção. Os grupos de alunos alocados em instituições cooperantes serão acompanhados por um docente-orientador responsável. Cabe aos docentes-orientadores o acompanhamento da construção, desenvolvimento e avaliação do trabalho realizado pelo grupo de alunos e, o tempo de tutória deverá ser realizado semanalmente, proporcionando momentos de reflexão e de desenvolvimento da identidade profissional. No terreno, os grupos de alunos são acompanhados por educadores ou professores cooperantes. Entende-se esta prática profissional como um espaço privilegiado de integração entre as propostas oriundas das diversas áreas curriculares e as exigências dos contextos da prática educativa. Simultaneamente, entende-se como o momento onde o aluno tem oportunidade de experienciar os conhecimentos adquiridos na sua formação, mas imbuídos de hábitos de reflexão sobre a actividade docente e a compreensão das problemáticas existentes no decorrer do desempenho profissional. Neste tempo e espaço, a unidade curricular Projectos Interdisciplinares de Investigação e Acção Pedagógica, inserida na componente de Iniciação à Prática Profissional, procura contactar com a realidade (dificuldades, problemas, potencialidades) da educação básica, através de uma estratégia investigativa e de uma intervenção no terreno. Ou seja, o estudante experiencia e promove oportunidades através da acção e da interacção em diversos contextos educativos, adquirindo e desenvolvendo gradualmente competências pessoais e profissionais, mobilizando de forma interrelacionada conhecimentos atitudinais, procedimentais e conceptuais, que dependem, simultaneamente, do empenho pessoal e da existência de um contexto favorável (LEITÃO e ALARCÃO, 2006). O projecto de investigação e intervenção no terreno incide num contexto de educação básica (creche, jardim de infância, escola do 1º ciclo, escola do 2º ciclo) - ou na articulação ou transição entre contextos. Através de metodologias que garantem um contacto directo com alunos e com professores, e sempre a partir de uma intervenção no terreno, procura chegar-se a uma compreensão mais ampla das problemáticas educativas que envolvem os alunos e os seus profissionais. 16574 É, ainda, no contexto desta unidade curricular que se desenvolvem as reflexões sobre a dimensão ética inerente a uma acção profissional envolvendo pessoas e a consequente aprendizagem de atitudes e práticas deontologicamente balizadas. Assim, ao longo do 1.º semestre os resultados de aprendizagem esperados são os seguintes: 1. Dominar metodologias de investigação educativa que permitam a pesquisa sobre a própria actividade educativa e a vida organizacional no quotidiano de uma escola; 2. Utilizar estratégias metodológicas que garantem um contacto directo com alunos (e suas famílias) e com professores, designadamente, entrevistas e observação; 3. Através desse contacto directo, compreender as problemáticas do quotidiano educativo e organizacional na sua complexidade; 4. Reflectir sobre as práticas observadas nos diferentes contextos de educação e atendimento à infância; 5. Formular um projecto de intervenção com vista a contribuir para resolver uma situação problemática identificada. No final do 2.º semestre espera-se que os alunos sejam capazes de: 1. Desenvolver, em colaboração, um projecto de intervenção com vista a contribuir para resolver uma situação problemática identificada; 2. Reflectir sobre as práticas observadas nos diferentes contextos de educação e atendimento à infância; 3. Experienciar os modos e compreender as vantagens do trabalho colaborativo no quotidiano Escolar; 4. Perspectivar, através de estudos de situações dilemáticas e de situações observadas ou reportadas, a dimensão ética inerente a uma acção profissional envolvendo pessoas; 5. Promover a aprendizagem e interiorização de atitudes e práticas deontologicamente balizadas; 6. Elaborar um relatório da intervenção. 16575 Iniciação à Prática Profissional: desafio ainda em construção As unidades de Projectos Interdisciplinares de Investigação e Acção Pedagógica (I e II) constituem, ainda hoje, um complexo e permanente desafio. Os estudantes desenvolvem a sua prática profissional em diferentes contextos escolares, com diferentes profissionais, em diferentes níveis etários e níveis de escolaridade. A integração e articulação curricular pretendida e defendida na licenciatura nem sempre é conquistada, dependendo, em grande parte pela cultura de saberes compartilhados e disciplinares nas metodologias utilizadas por alguns docentes. Na expectativa de reduzir ou eliminar tais fragmentações, a equipa de docentes supervisores é oriunda das diferentes áreas do conhecimento. Todavia, considero que ainda há um longo caminho a percorrer neste processo de articulação curricular, pensando a construção do conhecimento como um processo activo do aluno, experenciado em contexto de sala de aula, integrando a utilidade e funcionalidade das aprendizagens nas interacções com os alunos nos diferentes contextos. Para além disso, verificam-se, ainda, outros constrangimentos: • A falta de atenção ao interese motivação intrínsecos dos alunos já que, ao privilegiar a linguagem e estrutura lógica das disciplinas, não se levam em consideração os seus conhecimentos, capacidades e experiências prévias, os seus estilos e ritmos diversificados de aprendizagem, limitando as possibilidades de integração de todos os alunos no projecto global de educação, que define o currículo. • A prevalência de uma visão simplista, compartimentada e estática da realidade ("paradigma da simplicidade", Morin, 2001) impedindo de confrontar as questões e problemas mais vitais e significativos da sociedade actual, os quais são interdisciplinares e transversais por natureza, não suscitando nos alunos o questionamento e a procura, a iniciativa e a resolução de problemas, as atitudes críticas e de responsabilidade, perante a realidade cultural e social. • O desequilíbrio entre currículo e a educação integral que este deveria proporcionar, ao privilegiar os aspectos científicos da cultura em detrimento de outras dimensões, como a arte, a tecnologia, os sentimentos, a ética, a cultura popular, a linguagem corporal, ou seja, a metade do nosso cérebro ou da nossa personalidade. • A insuficiência do diálogo da escola com o meio envolvente num contexto de criação e crescimento de um território formativo com um projecto comum, que 16576 propicie a continuidade do processo de socialização e a rentabilização de uma diversidade de recursos educativos. • O impedimento de os alunos poderem estabelecer e compreender os nexos entre as disciplinas, que acabam por ser vistas como departamentos estanques ou como gavetas que se abrem e fecham sobre si mesmas, sem possibilidades de intercomunicação. A escola sempre deu por suposto que os alunos seriam capazes de, por si mesmos, realizar esta integração, o que não se tem verificado ao longo da história escolar e muito menos actualmente, em que os conteúdos dos programas se têm vindo a especializar e a ampliar progressivamente. • A inflexibilidade organizativa, própria da estrutura do currículo disciplinar, comprimido em espaços e tempos estandardizados, que obstaculiza a realização de actividades educativas integradoras, por exemplo: projectos, visitas de estudo, oficinas e ateliers, seminários e debates, trabalhos de grupo, experiências científicas e outras actividades que exigem uma maior flexibilização dos tempos e dos espaços. • O facto de o trabalho disciplinar se basear ainda prioritariamente na utilização dos manuais funciona também como um entrave à opção por propostas integradoras de currículo (GIMENO, 1995). As unidades curriculares de Projectos Interdisciplinares de Investigação e Acção Pedagógica (I e II) são, do ponto de vista dos alunos, o ponto forte da sua formação e lamentam o pouco tempo de permanência no terreno e a pouca experiência que adquirem apenas ao longo do último ano da licenciatura. Apontam a formação ao longo dos anos anteriores como disciplinares ou “sem interesse”, pois só quando vão para o terreno é que entendem a pertinência das aprendizagens anteriores. A descontextualização da aprendizagem, gera problemas de motivação (para que aprender o que a escola ensina?); problemas de transferência (percebe o aluno a aplicabilidade e a relevância do que aprende?); problemas de significatividade (qual o sentido e a funcionalidade da aprendizagem e como se vincula com os conhecimentos e a experiência prévios?), problemas derivados da ruptura entre o "saber que" e "saber como", etc. Este aspecto estará certamente relacionado com os desafios e constrangimentos já mencionados. Por fim, como desafio central temos a considerar a integração e inovação curricular, de forma a promover a mobilização dos saberes e a facilitar o desenvolvimento de competências. 16577 Considerações finais Ao longo desta comunicação apresento uma experiência profissional concreta de construção do conhecimento profissional através de uma unidade curricular (subdividida em dois semestres). Entendo que as modificações oriundas da implementação do Processo de Bolonha exigem a mudanças de mentalidades de alunos e docentes, mudanças de papéis de professor e de alunos, mudanças na construção activa do conhecimento. Torna-se, então, clara a necessidade de um abertura permanente entre todos os intervenientes, no sentido da conjugação de sinergias, da valorização dos progressos, da partilha dos pressupostos e constructos acerca do perfil de professor a formar, do modelo de desenvolvimento pessoal e profissional a construir. Ou seja, torna-se evidente a necessidade de um trabalho conjunto e articulado como forma inequívoca de dotar de coerência todas as opções dos diferentes componentes do currículo, nos diferentes contextos de formação. Como assinala Beane (2000:43), esta coerência permite a integração das experiências educacionais. Isto é, "quando o currículo oferece um sentido de finalidade, unidade, relevância e pertinência — quando é coerente—, é mais provável que os jovens integrem as experiências educativas nos seus esquemas cognitivos, o que, por seu lado, amplia e aprofunda o conhecimento de si próprios e do mundo". Ora, sendo a formação inicial uma fase importante neste processo de construção da profissionalidade é, sem dúvida, insuficiente. Neste domínio, como em todos os outros, a aprendizagem ao longo da vida é um dever que cada um deve transformar em direito pessoa, profissional e cívico. REFERÊNCIAS ALARCÃO, I. Professor-investigador: Que sentido? Que formação? In: B. 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