PROCESSOS DE CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO ALGÉBRICO NO ENSINO FUNDAMENTAL Rosana de Oliveira – UERJ/USS [email protected] RESUMO Este trabalho tem origem na pesquisa que resultou em uma dissertação de mestrado já concluída. O objetivo foi identificar “marcas” nas falas dos alunos que identificassem a construção do conhecimento. Nossa premissa foi de que o conhecimento matemático não se constrói de forma linear. Nesse sentido, não é necessário em alguns casos esperar que os alunos avancem na escolaridade para produzir significados considerados mais sofisticados. O foco desse trabalho está na produção de significados para álgebra, cujo objeto matemático em questão é as seqüências numéricas. Como elementos de análise criaram-se uma tipologia e um modelo que retrata a dinâmica dos diálogos. Como fruto da fala e da interação entre os alunos identificou a construção de objetos matemáticos. Palavras-chave: pensamento algébrico, conhecimento, produção de significados. Considerações Teóricas A forma como concebemos a construção do conhecimento tem influência direta nas práticas pedagógicas dos professores e nas relações que se estabelecem na sala de aula. Todo professor tem uma concepção de conhecimento, consciente ou não e é essa concepção que norteia sua prática pedagógica. Para podermos falar de ensino e aprendizagem de Álgebra e de como os alunos constroem conhecimento ou produzem significado para Álgebra, precisamos dizer como concebemos conhecimento. Sob o nosso ponto de vista, a maneira de podermos avaliar o processo de produção de conhecimento do sujeito é através da linguagem, entendendo que não existe pensamento sem linguagem. Consideramos que a linguagem não é apenas a escrita ou a fala, mas também gestos, entonações, olhares., desenhos e OLIVEIRA, R. Processos de Construção do Pensamento Algébrico no Ensino Fundamental. In Anais do SIPEMAT. Recife, Programa de Pós-Graduação em Educação-Centro de Educação – Universidade Federal de Pernambuco, 2006, 12p 2 etc. Acreditamos que o objeto se constitui pela linguagem. Mesmo quando, aparentemente, o sujeito interage diretamente com um objeto, fazendo uso dos sentidos, estão presentes todos os mecanismos sociais que o envolvem. Significa dizer que mesmo quando a relação parece ser direta, na realidade estão presentes as convenções sociais, os sentimentos, as convicções, e todo este conjunto dá sentido a interação do indivíduo com o objeto. Usando de força de expressão, poder-se-ia dizer que a relação entre o sujeito e o objeto é, na realidade, uma relação entre sujeito e sujeitos. Concordamos com Lins (1993) quando, em seu Modelo Teórico dos Campos Semânticos, ele define conhecimento como o par (crença-afirmação, justificações). Para uma mesma crença e diferentes justificações teremos diferentes conhecimentos. O Modelo Teórico dos Campos Semânticos (MTCS), traz uma perspectiva diferente, admite que o conhecimento do aluno não é o mesmo do professor porém, ambos, são considerados legítimos e portanto é preciso saber sobre o conhecimento do aluno que objetos ele constitui para textos que o professor lhe oferece, como ele produz o seu conhecimento. Conhecimento é entendido como uma crença, algo que o sujeito acredita e expressa, e que se caracteriza portanto como uma afirmação junto com que o sujeito considera ser uma justificação para sua crença-afirmação (LINS, 1993). Esta concepção nos permite fazer a seguinte interpretação da situação a seguir. Um aluno de 5a série e um professor de Matemática, ao serem questionados sobre qual o próximo termo da seqüência 6,9,12,15..., ambos sabem responder e afirmam ser 18. Porém, se pede para justificarem suas crençasafirmações, o aluno justifica, dizendo que a seqüência caminha de 3 em 3 logo o próximo termo é, 15 mais 3 igual a 18, e o professor justifica dizendo que, como o termo geral da seqüência é 3n +3, onde n é a posição dada, como o próximo termo é o 5º, então 3 vezes 5, 15, mais 3 igual a 18. Enquanto o aluno se apoia no que está “vendo”, nas relações ali estabelecidas, o professor estabelece uma regra geral para encontrar qualquer termo da seqüência. Segundo o MTCS, os dois, possuem conhecimentos diferentes, porque apesar de partilharem da mesma crença, utilizaram justificações diferentes. OLIVEIRA, R. Processos de Construção do Pensamento Algébrico no Ensino Fundamental. In Anais do SIPEMAT. Recife, Programa de Pós-Graduação em Educação-Centro de Educação – Universidade Federal de Pernambuco, 2006, 12p 3 Quando um sujeito se depara com um texto, no nosso caso o texto matemático das seqüências, ele começa a dirigir sua atenção para aquele texto, pensa e fala sobre este texto, produz significado para esse texto. O sujeito constitui objetos a partir desse texto. O objeto para nós será sempre um objeto de pensamento i . Vale ressaltar que, nesse processo, se estabelece uma relação dinâmica entre o sujeito e o objeto, que sob o nosso ponto de vista, traduz - se numa relação íntima entre o pensamento do sujeito e o seu objeto de pensamento. Quando o aluno entra em contato com seus interlocutores (ou de alguma forma é cobrado por outros colegas, pelo professor, ou por ele mesmo) e é posto a falar sobre determinado texto, o aluno estará produzindo significados e, portanto constituindo objetos. À medida que o aluno produz significados para um objeto, constituindo objetos de pensamento, este se modifica passando a ser outro, num processo que é dinâmico. O que queremos dizer com isso é que o texto, que foi posto a disposição do sujeito, vai dar origem a construção de conhecimentos num processo dinâmico que recria algumas das suas características, abandona outras, podendo mesmo haver resgate de características abandonadas, sem que isso obedeça a nenhuma hierarquia. Quando o sujeito volta a sua atenção para o texto, no nosso caso o texto matemático das seqüências, ele produz significado para esse texto e constitui objetos. Quando o sujeito, a partir desses objetos, enuncia crenças e as justifica então produz conhecimento. Sob este ponto de vista, o conhecimento não está no texto, e sim no sujeito que se propõe a falar sobre determinado texto. Procedimentos Metodológicos A pesquisa teve caráter qualitativo e foi realizada da seguinte forma: o primeiro momento aconteceu nos meses de março, abril, maio e junho, em uma turma de 5ª série, formada por 35 alunos divididos em sete grupos em escola pública municipal situada na cidade de Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro durante o ano letivo de 1996. A segunda etapa aconteceu nos meses de agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro, com um grupo de três alunos, escolhidos aleatoriamente. A análise do segundo momento foi realizada através de material escrito, de gravações das falas dos alunos e gravações em vídeo. OLIVEIRA, R. Processos de Construção do Pensamento Algébrico no Ensino Fundamental. In Anais do SIPEMAT. Recife, Programa de Pós-Graduação em Educação-Centro de Educação – Universidade Federal de Pernambuco, 2006, 12p 4 As discussões foram feitas em grupo, porém o registro dos alunos e as justificações foram coletados individualmente. O quadro abaixo mostra um resumo da categorização dos problemas e das seqüências: Formação Seqüências da Escada(SE) 2ª ETAPA Episódio III: 1, 2, 3, 4, 5, ... 2, 4, 6, 8, 10,... 3, 5, 7, 9, 11,... 6, 9, 12, 15,... Problemas das escadas ⎣, ⎤ , ⎣, ⎤ , ⎣, ⎤,... Seqüências de Bloco(SB) 1, 5, 7, 1, 5, 7,... Episódio I: Seqüências Iniciais(SI) Em Busca por Lei de Episódio II: Tipologia O nosso objetivo é buscar compreender como os alunos constroem uma rede de significados para seqüências. Não estaremos preocupados com o fato de eles chegarem ou não ao termo geral esperado. Chegar ou não ao termo geral de uma seqüência é apenas mais uma possibilidade nessa rede de significados que eles produzem. A nossa procura será pelas “marcas” que indicam como os alunos estão produzindo significados para seqüências, como os alunos constituem objetos de pensamento, e como a linguagem revela esses objetos, envolvidos numa atividade algébrica. Essa procura não será aleatória e levará em conta algumas premissas. A nossa conjectura, que pretendemos mostrar através deste trabalho, é que os alunos, ao buscarem o termo geral para uma seqüência, percorrem caminhos não lineares. Criamos para isso uma tipologia de processos de produção de conhecimento. Dependendo da seqüência proposta, eles se apropriam de alguns tipos de conhecimentos, e quando são propostas novas seqüências eles utilizam-se, ou não, desses tipos de conhecimentos, não necessariamente numa mesma ordem. É importante observar que o nosso olhar estará dirigido para dois focos distintos: um deles estará voltado para a análise da relação entre uma crença e sua respectiva justificação, o outro para a relação dinâmica que se estabelece entre crenças e justificações, no calor do debate. Em ambos os casos o interesse estará voltado para a produção de significados. OLIVEIRA, R. Processos de Construção do Pensamento Algébrico no Ensino Fundamental. In Anais do SIPEMAT. Recife, Programa de Pós-Graduação em Educação-Centro de Educação – Universidade Federal de Pernambuco, 2006, 12p 5 Para análise do primeiro foco estabelecem-se quatro tipos pelos quais os alunos transitam na busca do termo geral de uma seqüência. A seguir descrevemos cada um dos tipos de processo de produção de conhecimento e quais suas principais características. Termo Seguinte. Neste tipo o aluno identifica a relação que se estabeleceu entre os termos dados. Identifica o próximo termo enunciando através da fala ou da escrita o próximo termo e a razão da seqüência. Escreve a seqüência termo por termo em busca de uma posição pedida. Relação entre Posição e Termo. Neste tipo o aluno busca relações entre os termos e suas respectivas posições. Para isso precisava visualiza o termo pedido na seqüência para criar enunciados que relacionam o termo geral com a posição. Algumas vezes, usa algumas relações conhecidas (que se tornaram crenças), como ponto de partida para descoberta de novas relações. Termo Geral. O aluno enuncia através da fala uma regra. Verifica seu funcionamento e procura argumentos para convencer a si mesmo ou aos outros de que a regra funciona para todos os termos da seqüência (esse convencimento vem a partir de algumas tentativas bem sucedidas).Utiliza esta regra para encontrar qualquer termo e enuncia através da escrita. Isomorfismo de Estrutura de Objetos O aluno consegue identificar numa seqüência uma regra de formação isomorfa à de outra seqüência. Ele estabelece a relação entre as regras de formação para buscar o termo geral de uma seqüência. Faremos um levantamento das crenças e justificações produzidas pelos alunos, portanto estaremos enunciando conhecimentos. A noção que estamos trazendo de conhecimento difere da visão tradicional, sob o nosso olhar o conhecimento não é abrangente. É comum as pessoas usarem expressões como “conhecimento matemático”, “conhecimento científico”, “conhecimento médico”, essas expressões atribuem certa universalidade ao conhecimento. A noção que estamos trabalhando diz que o conhecimento é do sujeito, naquele momento e no interior da atividade em que ele está envolvido. OLIVEIRA, R. Processos de Construção do Pensamento Algébrico no Ensino Fundamental. In Anais do SIPEMAT. Recife, Programa de Pós-Graduação em Educação-Centro de Educação – Universidade Federal de Pernambuco, 2006, 12p 6 Acreditamos que a função do professor seja buscar perceber quais são os objetos de pensamento sobre os quais os alunos estão produzindo significado em suas salas de aula e promover situações que possibilitem novas significações e novas estratégias de construção do conhecimento. Para análise do segundo foco, estabelecemos quatro modelos que indicam como acontece essa relação entre crenças e justificativas. Modelo A elaboração dos modelos que visam relacionar a dinâmica entre crenças e justificações tem origem no trabalho de pré-análise do material coletado na pesquisa. Num primeiro olhar confundia-se crenças e justificações. Um segundo olhar mostrou que a qualidade de ser crença ou justificação dependia do lugar que a afirmativa ocupava na enunciação. Uma mesma afirmativa apareceu ora como crença, ora como justificação. Além disso, uma mesma crença se repetia em outra situação quando produzia um conhecimento que convencia, mesmo que a situação não a comportasse. A forma como essas afirmativas se relacionavam, revelando uma estratégia argumentativa, é que possibilitou dar coerência ao debate. A própria maneira como o aluno organiza sua argumentação a forma como a réplica se manifesta em relação à estratégia utilizada por ele (ou seja, o encadeamento do debate) permitiram a localização de uma crença ou de uma justificação. Modelo Frant - Rabello - Oliveira Dinâmica dos Processos de Construção do Conhecimento (A1 , J1) Modelo A (Crenças diferentes, justificações diferentes) (A2 , J2) (A3 , J3) (A1 , J1) Modelo B (Crenças iguais , justificações diferentes) (A1 , J2) (A1 , J3) (A1 , J1) Modelo C (Crenças diferentes, justificações iguais) (A2 , J1) (A3 , J1) OLIVEIRA, R. Processos de Construção do Pensamento Algébrico no Ensino Fundamental. In Anais do SIPEMAT. Recife, Programa de Pós-Graduação em Educação-Centro de Educação – Universidade Federal de Pernambuco, 2006, 12p (A1 , J1) ou 7 (A1 , J1) Modelo D (J1 , J2) (A2 , A1) (Crenças tornam-se justificações ou justificações tornam-se crenças) (J2 , J3) (A3 , A2) Os quadros a seguir exemplificam um trecho de um dos episódios, onde aplicamos os modelos de análise e os objetos matemáticos constituídos pelos alunos através de suas falas. Crenças Seqüência CE1R - A seqüência caminha de 3 em 3. CE2N - Se a seqüência começasse com 3 o 4º termo seria 3 x 4 = 12. CE3V - O quinto termo é cinqüenta e quatro. CE4N - O quinto termo é dezoito. CE5N - O centésimo termo é o vinte e cinco. CE5N CE5N CE6N - Não vai existir o centésimo termo, vai vai ser maior ou menor que cem. CE7N - O décimo segundo termo é 42. CE8R - O décimo segundo termo não é 42. CE9V - O 16º termo que vai ser 50. Justificações 6, 9, 12, 15,... JE1N - Contar nos dedos. JE2N - 3 x1, 3, 3 x 2, 6, 3 x 3, 9, 3 x 4, 12, 3 x 5, 15, 3 x 6, 18, 3 x 7,21. Crença Conhecimentos (CE1R , JE1N) (CE2N , JE2N) Tipos Termo Seguinte Relação entre Posição e Termo. abandonada JE3N - Se nesta seqüência (3, 6, 9, 12,...) o quinto termo é quinze na outra (6, 9, 12, 15...) o quinto termo vai dar dezoito. JE4N - Peguei a 4a posição que era 15 peguei a 8a, aí eu peguei 15 + 15 não dava o número da 8a posição que é o 30. JE5R - Tem que pegar o dobro da seqüência e somar 3. JE6N - Ele falou que a gente pegou a 4a posição com a idéia de que dava a 8a e a gente somou 15 + 15 que dava 30, dava a 9a posição aí diminuiu mais 3 para dar a 8a . JE7N - Eu peguei a metade de 100 e um a menos, dois a menos, que era o número que estava antes do 50, eu somei 48 + 48 não chegou a dar a centésima posição, eu peguei o número que estava depois do 50 o 51, 51 + 51, 102. Deu para ver que a centésima posição não tem, a centésima seqüência não tem. Crença abandonada JE8R - O décimo terceiro termo é 42. (CE8R , JE8R) JE9V - Fazendo aqui na cabeça. (CE9V , JE9V ) (CE4N , JE3N) Isomorfismo de Estrutura (CE5N , JE4N) Relação entre Termo e Posição (CE5N , JE5R) Termo Geral (CE5N , JE6N) Relação entre Termo e Posição (CE6N , JE7N) Relação entre Termo e Posição Termo Seguiinte Termo Seguinte OLIVEIRA, R. Processos de Construção do Pensamento Algébrico no Ensino Fundamental. In Anais do SIPEMAT. Recife, Programa de Pós-Graduação em Educação-Centro de Educação – Universidade Federal de Pernambuco, 2006, 12p CE10N - Pega a seqüência, da metade do número, soma e depois diminui 3. CE11N - O décimo quinto termo é 48. CE12N - Se para os números que tem metade diminui 3, então para os que não tem metade diminui dois. Problema CE13R - Para construir uma escada de dois degraus serão gastos 10 pedaços de madeira. CE14N - Para construir uma escada de dois degraus serão gastos 8 pedaços de madeira. CE15R - Para construir uma escada de oito degraus serão gastos 28 pedaços de madeira. CE16N - Para construir uma escada de oito degraus serão gastos 26 pedaços de madeira. CE17N - Para fazer uma escada de 6 degraus gastará 20 pedaços de madeira. CE17N - JEX JE10N - Então é só você pegar 24 mais 24 e não diminuir quando não tiver metade JEX das (CE10N , JEX) (CE11N , JE10N) (CE12N , JEX) (CE13R, JE14R) JE13N - Constrói a escada de dois andares. (CE14N - JE13N) JE18N - Cinco vezes cinco, vinte e cinco, menos cinco, que ele joga os cinco da primeira, dá certo, só não sei se vale para todos. Termo Geral Relação entre Posição e Termo Termo Geral escadas JE14R JE14R - Para construir a escada de quatro andares gastou quatorze pedaços de madeira, então, para construir uma escada com o dobro de degraus gastará vinte e oito pedaços de madeira que é o dobro de quatorze. JE15N - A escada de 4 degraus gasta 14 pedaços de madeira, a de 5 gastará 17, a de 6 degraus 20, a de 7 degraus 23 e a de 8 degraus gastará 26 pedaços de madeira. JE17N - Porque 5 vezes 6 é 20. 8 (CE15R - JE14R) Relação entre Posição e Termo. Termo seguinte Relação entre Posição e Termo. (CE16N, JE15N) Termo seguinte (CE17N - JE17N) Termo Geral (CE17 N- JE18N) Termo Geral Considerações Finais Neste episódio não foi detectada nenhuma hierarquia dos tipos de conhecimento. Na seqüência 6, 9, 12, 15....os alunos iniciam o diálogo com um conhecimento do tipo Termo Seguinte. A maior incidência são conhecimentos do OLIVEIRA, R. Processos de Construção do Pensamento Algébrico no Ensino Fundamental. In Anais do SIPEMAT. Recife, Programa de Pós-Graduação em Educação-Centro de Educação – Universidade Federal de Pernambuco, 2006, 12p 9 tipo Relação entre Termo e Posição. As ocorrências dos conhecimentos do tipo Termo Seguinte se estabelecem nas justificações que indicam ações de “Contar nos dedos” e “Fazendo aqui na cabeça”. O tipo Isomorfismo de Estrutura de Objetos pode ser identificado quando os alunos comparam duas seqüências e suas relações. O problema das escadas caracterizou-se por ter uma estrutura diferente dos demais textos propostos, os alunos tinham uma situação problema a ser resolvida e tinham palitos para usarem como pedaços de madeira. Em vários momentos do diálogo a professora pede que eles registrem o que estão fazendo, em nenhum momento a representação que usamos nas seqüências (termos alinhados e as posições sobre os termos) apareceu. Praticamente durante todo o diálogo os conhecimentos construídos pelos alunos estavam relacionados ao tipo Termo Seguinte, aqueles conhecimentos produzidos que tratavam do tipo Relação entre Posição e Termo foram construídos com o uso de justificações que não se aplicavam àquele caso. A partir de certo momento do diálogo os alunos levantaram algumas conjecturas mas a professora não gerou perguntas que de alguma forma os fizessem modificar sua linguagem e portanto constituir novos objetos. Só posteriormente, durante a análise pudemos perceber a riqueza das conjecturas que os alunos traziam. Verificamos que, assim como disse Lins (1997), os significados são produzidos no interior das atividades.Neste problema os alunos produziram significados diferentes daqueles em que o texto eram seqüências numéricas. Os alunos levantaram a seguinte conjectura para criar um termo geral, a solução do problema: Construir escadas de um degrau e colocá-las umas sobre as outras, uma certa quantidade de pedaços de madeira deveria ser retirada para que ficassem o número total a ser gasto. Estas conjecturas levariam, também, a criação de um termo geral para a seqüência de madeiras. Para uma escada de um degrau seriam gastos 5 pedaços de madeira, seguindo a suposição dos alunos uma escada de dois degraus seriam gastos 5 vezes 2 degraus que totalizam 10 degraus, porém ao conferirem com a escada construída com os palitos apenas 8 pedaços foram necessários. Portanto 2 OLIVEIRA, R. Processos de Construção do Pensamento Algébrico no Ensino Fundamental. In Anais do SIPEMAT. Recife, Programa de Pós-Graduação em Educação-Centro de Educação – Universidade Federal de Pernambuco, 2006, 12p 10 pedaços de madeira deveriam ser retirados, se seguirmos este tipo de raciocínio para 3, 4, 5, ...degraus teremos a seguinte tabela abaixo. d n 5n t t-p S p 1 1 5x1 5 5 -0 5 0 2 2 5X2 10 10-2 8 2 3 3 5x3 15 15 - 4 11 4 4 4 5x4 20 20 - 6 14 5 5 5 5x5 25 25 - 8 17 6 6 6 5x6 30 30 - 10 20 8 d = Número de degraus n = Quantidade de escadas de um degrau (n) t = Quantidade de pedaços de madeira gastos ao se sobrepor as escadas. p = Quantidade de pedaços de madeira a serem retirados. S = Número de pedaços de madeira gastos Dessa tabela poderia ser retirada uma série de relações, como por exemplo: t = 5n, S = 5n - p, S = t - p. Observe que a questão é saber como obter o valor de p em função do número de degraus para poder encontrar o valor de S, número de pedaços de madeira a ser gasto. Podemos escrever p = 2(d -1), podemos dizer também que S = 5n - 2(d - 1). Sendo n=d então podemos deduzir que a relação acima se reduz a S = 3d - 2. Esta relação só tem validade se o número de degraus for igual ao número de degraus sobrepostos, se tivéssemos que produzir significado para a seqüência 5, 8, 11, 14, 17,... Esta última relação será sempre verdadeira. Quando os alunos falaram sobre esses possíveis significados, suas falas demonstraram uma grande confusão. Este quadro ilustra o quanto o pensamento algébrico deve ser explorado com alunos ainda jovens, os significados produzidos farão com que os alunos constituam um leque de objetos matemáticos bastante sofisticados. Neste Episódio os alunos usam os objetos constituídos no Episódio anterior e constituem novos objetos. Acreditamos que a constituição de um objeto não seja algo pronto e estático, ao constituírem novos objetos, que de uma certa forma OLIVEIRA, R. Processos de Construção do Pensamento Algébrico no Ensino Fundamental. In Anais do SIPEMAT. Recife, Programa de Pós-Graduação em Educação-Centro de Educação – Universidade Federal de Pernambuco, 2006, 12p 11 giravam em torno das Seqüências, o objeto Seqüências se modifica e este foi um processo dinâmico vivido pelos alunos através das atividades. Novos usos da linguagem ocorreram e estaremos associando esses novos usos aos objetos. Objetos Constituídos Usos dos Alunos • O que vem antes • O que vem mais antes Sucessor e Antecessor • Contar nos dedos • Um a menos • Número que não tem metade Par e Ímpar • Número que tem metade • O termo é igual ao dobro da posição Função menos 3. • Se par ... e Se ímpar... Neste episódio, é constituído um novo objeto: o antecessor. O objeto Sucessor nessa seqüência gera dois significados diferentes, algumas vezes os alunos falavam na escada com um degrau, com dois degraus, mas falando de um único objeto que era uma escada onde está sendo acrescentado mais um degrau e, portanto mais três pedaços de madeira. O outro significado abordado referia-se a escadas distintas, ou seja, eu construo uma de cinco andares, depois construo uma de seis andares, portanto a relação se estabelece entre duas escadas. Para Par e Ímpar os alunos falam de “ter ou não metade”, falam levando em conta o universo dos números Naturais. Apesar de constar nos currículos escolares o estudo dos números racionais positivos, os textos matemáticos envolvendo estes números são muito pouco discutidos com os alunos. Sobre a ocorrência dos Modelos neste Episódio temos a seguinte tabela. Modelo A (CE1R , JE1N) (CE2N , JE2N) CE4N , JE3N) (CE5N , JE4N) (CE14N , JE13N) (CE15R ,JE14R ) Modelo B (CE5N , JE4N) (CE5N , JE5R) (CE5N , JE6N) (CE17N ,JE17N) (CE17 N, E18N) Modelo C (CE10N , JEX) (CE12N , JEX) (CE13R,JE14R) (CE15R JE14R) Modelo D OLIVEIRA, R. Processos de Construção do Pensamento Algébrico no Ensino Fundamental. In Anais do SIPEMAT. Recife, Programa de Pós-Graduação em Educação-Centro de Educação – Universidade Federal de Pernambuco, 2006, 12p 12 A maior ocorrência é do Modelo A, os conhecimentos foram abandonados na dinâmica do diálogo, talvez por não ser simples falar sobre o conhecimento do outro. As crenças CE3V e CE7N foram enunciadas e abandonadas, nos dois casos eram respostas erradas. Acreditamos que a justificação não foi enunciada pelos outros participantes do grupo porque não compartilharam aquela crença. No caso da CE7N fica evidente, pois logo a seguir Jairo enuncia uma nova crença que diz que a resposta da Angélica está errada. As ocorrências dos Modelos B e C indicam mais uma vez que “boas” crenças e justificações são apropriadas pelos sujeitos e eles fazem uso delas, sendo ou não apropriadas à atividade. Referências LINS, R. C. Epistemologia, História e educação Matemática: Tornando mais sólidas as Bases da Pesquisa. Revista de Educação Matemática da SBEM: São Paulo, 1993 __________ Modelo Teórico dos Campos Semânticos: Uma análise epistemológica da álgebra e do pensamento algébrico. Blumenau: Revista Dunamis, 1994. LINS, R. C. e GIMENEZ, J. - Perspectivas em Aritmética e Álgebra para o Século XXI - Papirus, 1997. OLIVEIRA, R. - Pensando Algebricamente antes da 7ª série: Uma Outra Perspectiva sobre os Processos de Construção do Conhecimento - Dissertação de Mestrado ,USU - RJ, defendida em dezembro de 1997.