ASSOCIAÇÃO E COOPERATIVA DE PRODUTORES RURAIS Wilson Pontes de Melo ASSOCIATIVISMO Associativismo é toda a ação ou iniciativa forma ou informal, onde pessoas, grupos ou entidades reúnem esforços, vontades e recursos, com o objetivo de superar dificuldades, resolver problemas e gerar benefícios comuns. Qual a origem do associativismo? Os homens primitivos viviam em bandos. Com a evolução o homem agrupou-se em pequenas tribos. A convivência favorecia a aprendizagem coletiva (criação de armas de pedra para a caça e domínio do fogo para cozinhar) O associativismo acompanha a evolução da humanidade e, com o passar do tempo, fez-se necessário estabelecer NORMAS para que as pessoas pudessem se sentir seguras por estarem participando de grupos e movimentos que respeitam a vontade e o desejo de todos. A sociedade democrática é fruto do aperfeiçoamento desse processo, pois a prosperidade de uma nação tem relação direta com o nível de esclarecimento de seu povo que, ao conhecer suas chances e oportunidades de participação, se organiza para viver numa sociedade que garanta a todos o direito a uma vida com maior dignidade. O associativismo se utiliza das ASSOCIAÇÕES, entidades constituídas pela união de pessoas físicas ou jurídicas que se organizam para fins não econômicos sejam eles sociais filantrópicos, esportivos científicos, culturais ou de trabalho. Existem muitos tipos de associações, que variam de acordo com o perfil, objetivos e necessidades dos seus associados: Ceplac/Cenex 221 Associações Filantrópicas - Congregam voluntários que prestam assistência social. Associações de Pais e Mestres - Representam a organização da comunidade escolar, integrando pais, alunos, dirigentes, professores e trabalhadores de unidades de ensino. Associações em Defesa da Vida - Delas participam pessoas e entidades que se unem em torno de questões sociais, políticas e culturais, próprias de grupos sociais marginalizados, tais como os grupos dos alcoólatras anônimos, de prevenção da AIDS, diabéticos, entre outros. Associações de Moradores - Formados por grupos de moradores de determinada localidade, visando o fortalecimento da comunidade na conquista de bens comuns. Associações Culturais, Desportivas e Sociais - Caracterizam-se pela união de pessoas ligadas às atividades literárias, artísticas, desportivas, etc. Associações de Consumidores - União de consumidores que, ao se organizarem, exigem produtos de melhor qualidade e preços mais justos. Geralmente lideradas por donas de casa, vêm se fortalecendo em vista dos crescentes avanços na legislação brasileira. Associações de Classe - São os conselhos de classe dos profissionais liberais, federações e confederações que representam os interesses de suas categorias empresariais ou de trabalhadores. Por outro lado, os sindicatos e as centrais trabalhistas reivindicam junto ao patronato e ao governo melhores salários e benefícios, objetivo cada vez mais essencial para uma maior participação nos resultados obtidos pelo trabalho coletivo. Associações Ambientais/Ecológicas - Caracterizam-se pela ação em defesa de questões ambientais, congregando grupos de ecologistas. Associações de Interesse Econômico - São entidades que buscam o fortalecimento econômico de seus associados, tornando-os mais competitivos, como forma de garantir a sua sobrevivência no mercado. Diferente de uma cooperativa, como veremos adiante, a associação também admite pessoas jurídicas no seu quadro social. Uma associação é uma sociedade de fins não econômicos, o que significa dizer que ela não pode realizar operações comerciais em seu nome, mas é um excelente instrumento de defesa dos interesses dos seus associados, auxiliando no acesso ao mercado, estimulando a melhoria técnica, profissional e social e promovendo a qualidade de vida e desenvolvimento integrado e sustentável das comunidades e regiões. 222 A forma mais usual de associações para a defesa de interesses econômicos é a associação de trabalho. Nelas se associam profissionais e trabalhadores, organizados para a viabilização de suas atividades produtivas. A prestação de serviços ou trabalho de produção, apoio na comercialização de mercadorias e capacitação de forma associativa, entre outras iniciativas, são alternativas de qualificação e de expansão no mercado. Exemplos dessa iniciativa são as associações de produtores rurais, artesãos, taxistas, médicos, costureiras, etc. Associativismo de interesse econômico – vantagens competitivas • aumento do poder de barganha • preços mais competitivos • ausência de intermediários • menor custo de estocagem, frete e administração • acesso a grandes fornecedores • auxílio em campanhas de divulgação • facilidade de crédito • qualificação empresarial Cada associação, dependendo dos seus objetivos e do tipo de associados que representam, tem suas particularidades. Entretanto, em todas elas observam-se características comuns, tais como: ; • reúnem duas ou mais pessoas físicas e/ou jurídicas para a realização de objetivos comuns; • têm seu patrimônio constituído por cotas, frações ideais ou taxas pagas pelos seus associados, doações, fundos, reservas, subvenções, etc. • não possuem capital social; • têm seus fins alterados pelos associados, em assembléia geral; • seus associados deliberam livremente em assembléia geral, tendo cada associado direito a um voto. • as possíveis sobras das operações financeiras não são divididas entre os associados, sendo aplicadas na própria associação; • têm personalidade jurídica de direito privado; • uma vez dissolvida a associação, as cotas ou frações poderão ser devolvidas aos associados e a sobra do patrimônio líquido será destinada à instituição de fins idênticos ou semelhantes. 223 OBJETIVOS E ATIVIDADES DAS ASSOCIAÇÕES DE TRABALHO DE PRODUTORES RURAIS OBJETIVOS A Associação de trabalho tem por objetivo incentivar, auxiliar, orientar, reivindicar, defender e representar os associados nas suas atividades como produtor rural, com vistas à melhoria da organização, produtividade e qualidade de sua produção visando o seu desenvolvimento sócio-econômico. Atividades • congregar os produtores estimulando o associativismo • prestar orientação técnica • orientar a venda da produção • adquirir máquinas e equipamentos para uso coletivo • cadastrar a produção com vistas à informação de mercado • manter um cadastro de compradores da produção • realizar pesquisa de mercado para os produtos e insumos • orientar sobre preços de insumos • orientar sobre preços de produtos e eventuais compradores • transportar ou fazer transportar a produção para suas dependências • registrar as marcas • classificar, padronizar, industrializar, beneficiar e embalar a produção • armazenar a produção coletiva • padronizar a produção com garantia de selo de qualidade • criar marcas que tornem a produção conhecida na comunidade em geral • promover cursos, congressos, seminários reuniões técnicas e expo sições • participar de campanhas de expansão do associativismo • adquirir construir ou alugar os imóveis necessários às suas instalações • celebrar convênios com entidades púbicas ou privadas • filiar-se a entidades associativas ou cooperativas •racionar as atividades econômicas, estimulando formas de cooperação • reivindicar dos órgãos públicos melhoria nas comunidades 224 • desenvolver ações/projetos que tragam melhoria nas condições de trabalho • promover parcerias com instituições públicas e/ou privadas • promover a obtenção de crédito, individual ou comunitário • desenvolver quaisquer outras atividades de interesse da Associação • sustentar e defender, perante os poderes públicos e onde quer que se façam necessários, os direitos, interesses e reivindicações de seus associados • desenvolver e estimular o espírito associativista e a franca e efetiva colaboração • prestar assistência jurídica, contábil e administrativa, • colaborar com movimentos voltados para a preservação do meio ambiente • colaborar com os órgãos públicos no interesse restrito dos associados • preservar e proteger os ecossistemas interligados através do desenvolvimento sustentável publicar periodicamente um boletim informativo COOPERATIVISMO O surgimento da primeira cooperativa O surgimento do Cooperativismo como empreendimento sócio-econômico aconteceu na Inglaterra em 1844, na cidadezinha de Rochdale, perto de Manchester. Sob a crescente ameaça de serem substituídos pelas máquinas a vapor e com o agravamento do estado de extrema miséria da classe operária, 27 tecelões e uma tecelã reuniram-se para buscar outra alternativa de trabalho e sobrevivência. Baseados na experiência dos precursores do Cooperativismo e tentando evitar seus erros, esses pioneiros traçaram o seguinte plano de ação: a) fundação de um armazém para fornecimento de alimentos e vestuários aos cooperados; b) construção ou compra de boas casas para os cooperados; 225 c) montagem de uma linha de produção que garantisse trabalho aos cooperados sem emprego ou com salários irrisórios; d) compra e arrendamento de terrenos para cultivo, pelos desempregados, para posterior divisão da terra em propriedades individuais; e) destinação de parte das sobras (excedentes financeiros) à criação de um estabelecimento para a instrução e o desenvolvimento mora dos cooperados; f) dentro das possibilidades, organização do trabalho e da educação, além de ajuda a outros grupos, visando a fundação de novas cooperativas. O idealismo desses tecelões e, sobretudo, o realismo de adequar o projeto às suas possibilidades de execução, constituindo uma pequena cooperativa de consumo no então chamado “Beco do Sapo” (Toad Lane), foi que deu alicerce ao movimento cooperativista. Apenas dois cooperados atendiam na cooperativa. Um entregava os produtos enquanto o outro recebia o dinheiro. Essa nova forma de organização foi motiva de deboche por parte dos comerciantes vizinhos, que previam vida curta para essa iniciativa. Para surpresa geral, a união dos operários em torno da cooperativa prosperou. No final do primeiro ano de atividades, a cooperativa aumentou seu capital integralizado de 28 para 180 libras. Em 1855 ela já contava com 1.400 cooperados. Foi a partir de 1860, porém, que essa experiência se multiplicou de forma vertiginosa, a tal ponto que em 1881 já existiam mil cooperativas de consumo e cerca de 550 mil cooperados. Simultaneamente o ideal cooperativista se espalhou pelos cinco continentes, bem como por todos os setores da economia, e hoje o Cooperativismo é reconhecido e aceito em todos os países do mundo como fórmula mais adequada para atender às necessidades e interesses específicos das pessoas. Por causa desse movimento, até hoje, o cooperativismo se utiliza dos seus princípios para norteá-lo. Os princípios do cooperativismo devem ser conhecidos e praticados por todas as cooperativas de qualquer ramo. Princípios do cooperativismo De acordo com a redação adotada pela ACI, Aliança Cooperativa Internacional, em congresso internacional (Manchester, 1996), os Princípios 226 do Cooperativismo atualmente são os seguintes: I) ADESÃO VOLUNTÁRIA E LIVRE As cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviços e assumir as responsabilidades como membros, sem discriminações de sexo, sociais, raciais, políticas e religiosas. II) GESTÃO DEMOCRÁTICA E LIVRE As cooperativas são organizações democráticas, controladas pelos seus membros, que participam ativamente na formulação das suas políticas e na tomada de decisões. Os homens e as mulheres, eleitos como representantes dos demais membros, são responsáveis perante estes. Nas cooperativas de primeiro grau, os membros têm igual direito de voto (um membro, um voto); as cooperativas de grau superior são também organizadas de maneira democrática. III) PARTICIPAÇÃO ECONÔMICA DOS MEMBROS Os membros contribuem eqüitativamente para o capital das cooperativas e controlam-no democraticamente. Parte desse capital é, normalmente, propriedade comum da cooperativa. Os membros recebem, habitualmente, se houver, uma remuneração limitada ao capital integralizado, como condição de sua adesão. Os membros destinam os excedentes a uma ou mais das seguintes finalidades: a) desenvolvimento das suas cooperativas, eventualmente através da criação de reservas, parte das quais, pelo menos, será indivisível. b) beneficio aos membros na proporção das suas transações com a cooperativa; c) apoio a outras atividades aprovadas pelos membros. IV) AUTONOMIA E INDEPENDÊNCIA As cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua, controladas pelos seus membros. Se firmarem acordos com outras organizações, incluindo instituições públicas, ou recorrerem a capital externo, devem fazê-lo em condições que assegurem o controle democrático pelos seus membros e mantenham a autonomia da cooperativa. V) EDUCAÇÃO, FORMAÇÃO E INFORMAÇÃO. As cooperativas promovem a educação e a formação dos seus mem227 bros, dos representantes eleitos e dos trabalhadores, de forma que estes possam contribuir, eficazmente, para o desenvolvimento das suas cooperativas. Informam o público em geral, particularmente os jovens e os líderes de opinião, sobre a natureza e as vantagens da cooperação. VI) INTERCOOPERAÇÃO As cooperativas servem de forma mais eficaz os seus membros e dão mais força ao movimento cooperativo, trabalhando em conjunto, através das estruturas locais, regionais, nacionais e internacionais. VII) INTERESSE PELA COMUNIDADE As cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado das suas comunidades através de políticas aprovadas pelos membros. OBJETIVOS E ATIVIDADES DAS COOPERATIVAS DE PRODUTORES RURAIS Objetivo A Sociedade Cooperativa de produtores rurais tem por objetivo a defesa econômica e social dos seus cooperados, através da prestação de serviços voltados para a venda em comum da produção, aquisição e fornecimento de insumos e materiais usados para a produção. Atividades • congregar os produtores estimulando o cooperativismo • prestar orientação técnica • promover a venda coletiva da produção • adquirir máquinas e equipamentos para fornecimento aos cooperados • cadastrar a produção com vistas à informação de mercado • manter um cadastro de compradores da produção • realizar pesquisa de mercado para os produtos e insumos • orientar sobre preços de insumos • orientar sobre preços de produtos e eventuais compradores • transportar ou fazer transportar a produção para suas dependências 228 • registrar as marcas • classificar, padronizar, industrializar, beneficiar e embalar a produção • armazenar a produção coletiva • padronizar a produção com garantia de selo de qualidade • criar marcas que tornem a produção conhecida na comunidade em geral • promover cursos, congressos, seminários reuniões técnicas e exposições • participar de campanhas de expansão do cooperativismo • adquirir construir ou alugar os imóveis necessários às suas instalações • celebrar convênios com entidades púbicas ou privadas • filiar-se a entidades associativas ou cooperativas • racionar as atividades econômicas, estimulando formas de cooperação • reinvidicar dos órgãos públicos melhoria nas comunidades • desenvolver ações/projetos que tragam melhoria nas condições de trabalho • promover parcerias com instituições públicas e/ou privadas • promover a obtenção de crédito, individual ou comunitário • desenvolver e estimular o espírito associativista e a franca e efetiva colaboração • prestar assistência técnica, jurídica, contábil e administrativa, • colaborar com movimentos voltados para a preservação do meio ambiente • colaborar com os órgãos públicos no interesse restrito dos associados • preservar e proteger os ecossistemas interligados através do desenvolvimento sustentável • publicar periodicamente um boletim informativo Podemos observar que as atividades de uma associação são de representação e defesa dos interesses dos associados enquanto que a cooperativa age defendendo os interesses econômicos com reflexo no social. Dessa forma a associação não pode vender a produção dos associados e nem comprar insumos para fornecimento aos mesmos. Esta é uma tarefa da cooperativa. Nada impede, no entanto, que a associação atue orientando os associados ou mesmo prestando serviços coletivos voltados para a produção. 229 Manutenção A associação é mantida pelos associados através da contribuição social, um valor fixo, definido em assembléia geral e pago mensalmente indistintamente por todos os associados, excetuando-se os serviços individuais que é pago somente pelos que se beneficiaram do mesmo. Quanto maior o número de serviços prestados pela a associação, isto é, quanto maior for a sua despesa, e quanto menor for o número de associados maior será o valor dessa contribuição, por isso ela não pode deixar de ser paga sob pena de onerar os demais associados. Caso a associação, durante o ano, não gaste toda a contribuição arrecadada o excedente passa para o ano seguinte. A sociedade cooperativa, por outro lado, cobre os custos da prestação de serviços através de uma taxa denominada taxa de administração cujo valor é pago somente pelos cooperados que se beneficiaram dos serviços. Assim, se o cooperado não participou, no ano, das vendas em comum ou do fornecimento de insumos, considerando somente estes dois serviços, ele não paga nenhuma taxa. Ao contrário da associação, caso a cooperativa não gaste os recursos arrecadados na forma de taxa de administração ela promove a devolução do excedente, denominada de sobras, de acordo com a participação dos cooperados. Evidentemente o cooperado que não operou no ano não contribuiu com a taxa de administração e, conseqüentemente não terá direito à devolução. Organização Administrativa Tanto na associação quanto na cooperativa a assembléia geral é o principal órgão social, constituída pela reunião dos associados convidados pela diretoria através de edital de convocação. A assembléia geral delibera sobre qualquer assunto de interesse social e suas decisões devem ser obedecidas por todos mesmo aqueles que não participaram ou que discordaram da decisão. Dentre os principais assuntos podemos citar: aprovação da prestação de contas da diretoria, reforma do estatuto social, eleição da diretoria e conselho fiscal e destituição dos eleitos. No caso de cooperativa a assembléia geral compete decidir sobre a remuneração dos dirigentes e conselheiros e dar destino aos excedentes financeiros referentes ao exercício social findo. 230 A associação deve ter uma estrutura administrativa mínima, composta de um presidente, um vice-presidente, um tesoureiro e um secretário, cada um com um suplente, ou apenas um suplente para ambos os cargos. Isso não quer dizer que a diretoria assim constituída trabalhe sozinha. Para prestar os serviços a associação organiza os associados em comissões de trabalho de duas ou mais pessoas, encarregadas de coordenar cada atividade da associação. Dessa forma, teremos comissão de assistência técnica, de pesquisa de mercado, de cadastro da produção e assim por diante. Com essa estrutura todos os associados terão tarefas a desempenhar, deixando de responsabilizar a somente a diretoria pelo que acontece na associação. A sociedade cooperativa, por sua vez, apresenta uma estrutura administrativa mais complexa, constituída de um conselho de administração eleito pela assembléia geral para um mandato de, no máximo quatro anos, composto de uma diretoria executiva (presidente, vice-presidente e secretário) e três ou mais conselheiros vogais, sendo obrigatória renovação de pelo menos 1/3 do total. O conselho de administração rege-se pelos dispositivos do estatuto social e tem a responsabilidade de administrar a cooperativa elaborando as normas de funcionamento em todos os seus aspectos, cabendo aos diretores a incumbência da execução. O conselho fiscal na cooperativa é composto de três membros efetivos e três suplentes eleitos pela assembléia geral para um mandato de um ano, sendo obrigatória a renovação de pelo menos quatro conselheiros. No caso das associações, fica a critério dos associados o número de conselheiros, o mandato e a renovação, podendo adotar o mesmo critério utilizado para as cooperativas. Organização do quadro social A organização do quadro social é grande importância para o sucesso de uma cooperativa porque é através dela que se consegue a capacitação em cooperativismo dos cooperados o que contribui para aumentar a participação de todos nos aspectos econômicos e sociais da cooperativa de maneira consciente. O trabalho é feito, organizando os associados em núcleos, comissões, comitês, etc de maneira que possam atuar em grupos com as mesmas 231 características. Cada grupo, tenha a denominação que tiver, elege um representante ou coordenador que passa a ser a pessoa que serve como elo entre os associados e a administração da cooperativa, levando e trazendo informações sugestões etc, tornando a vida societária dinâmica e participativa. Para a criação de uma cooperativa forte e atuante é imprescindível que o montante dos negócios seja suficiente para cobrir os seus custos. De nada adiante querer criar cooperativas cujo quadro social detém uma produção que não compense o empreendimento. 232 PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE PALMITO DE PUPUNHA (BACTRIS GASIPAES KUNTH) IN NATURA NO SISTEMA DE INTEGRAÇÃO DA INACERES AGRÍCOLA Manoel Aboboreira Neto1 José Marcelo O. Pimentel2 1. INTRODUÇÃO O cultivo da Pupunheira com o objetivo de comercializar as hastes de palmito é uma atividade que está se consolidando no Brasil e principalmente na Bahia. Em países como Costa Rica esta atividade foi desenvolvida a partir do final da década de 70 e no Brasil só na última década com a implantação de várias áreas, principalmente nos estados do Pará, Bahia e São Paulo. Esta nova estratégia de produção, aliada a outras ações fruto da rigorosa legislação ambiental e sanitária fez com que negócio palmito começasse a perder o caráter de atividade extremamente extrativista e o transformou em um agronegócio viável. O cultivo de palmito para a produção de hastes é um negócio que precisa ter uma correta planificação visando, principalmente, adequar-se ao sistema de comercialização. Não basta apenas ter um excelente produto, é necessário também ter opções onde vender sua produção por um preço remunerador e assegurar uma constância na entrega, pois neste cultivo, realiza-se a colheita periodicamente com intervalos de 20 a 45 dias. Existe na Bahia, um novo modelo que busca atender a todos os que desejam incluir a exploração do palmito cultivado de Pupunha como mais uma atividade na sua fazenda e na busca de aumento de sua renda, sem necessidade de implantar as etapas de industrialização, logística, comercialização e marketing. É o sistema de Integração, onde produtores e indústria formam a cadeia produtiva do palmito, que tem também, outros importantes participantes como Bancos, Governo do Estado e Empresas de Pesquisa e de Projetos e Assistência Técnica. 1 2 Eng. Agro - Gerente Agrícola da INACERES – [email protected] Eng. Agro - Supervisor de Integração da INACERES [email protected] 233 2. SISTEMA DE INTEGRAÇÃO NO CULTIVO DE PALMITO 2.1. Principais ações das indústrias e produtores 2.1.1. Indústria Comprar toda a produção de palmito dos Produtores Integrados, assegurando-lhe o pagamento por haste nos preços do mercado regional e nos prazos acertados. Prestar Assistência Técnica durante todas as etapas do cultivo. 2.1. 2. Produtores Implantar sua lavoura de palmito e comercializar sua produção junto a Indústria Integradora. A base fundamental é a produtividade e a qualidade. 2. 2. Processos do sistema de Integração 2. 2.1. Sementes Para facilitar a disponibilidade de sementes em qualidade e quantidades adequadas, a INACERES adquire as sementes, realiza o processo de germinação e repassa as plântulas selecionadas e classificadas para os Integrados. Estima-se uma oferta de sementes de palmito de Pupunheira sem espinhos, produzidas no Sul da Bahia, superior a 10 toneladas por ano. Além disso, no Norte do Brasil (Acre, Rondônia e Pará) pode-se adquirir quantidades superiores a 30 toneladas de sementes certificadas, por ano. 2.2.2. Capacitação Produtores e trabalhadores recebem treinamento sobre todas as etapas de produção do cultivo. Esta capacitação é realizada, principalmente, pela INACERES para os seus integrados. 2. 2. 3. Assistência Técnica Este processo é um dos pilares do sistema. A INACERES fornece Assistência Técnica periódica para seus produtores Integrados em todas as etapas de produção (preparação do solo, plantio, manejo, colheita). As empresas que realizam os projetos também fornecem assistência técnica para os produtores. 234 2. 2. 4. Práticas culturais Como toda atividade agrícola faz-se necessário à realização de práticas culturais como controle de ervas, adubação, replantio, controle de pragas e desbrota. Estas atividades são realizadas pelos funcionários dos Integrados sob orientação dos Técnicos que assessoram o projeto. 2. 2. 5. Colheita Os Integrados realizam a colheita nas datas acertadas com a Indústria. 2. 2. 6. Coleta de palmito na propriedade Coletar o palmito na propriedade do Integrado é uma ação da INACERES. O processo é organizado de tal forma que o palmito seja coletado a tempo suficiente de ser processado, sem que haja perdas de qualidade. 2. 2. 7. Cronograma de implantação As atividades são programadas em função da oferta de sementes ou mudas. As sementes oriundas da região Sul da Bahia estão disponíveis para serem germinadas entre os meses de junho e setembro. As sementes provenientes do Norte do Brasil estão disponíveis entre fevereiro e abril. Sabendo que são necessários entre 5 e 6 meses para a obtenção de mudas a partir da repicagem para os saquinhos, as mudas formadas com sementes oriundas do Sul da Bahia ficam disponíveis para o plantio no primeiro semestre do ano, enquanto as que são provenientes do Norte do Brasil estão prontas na metade do segundo semestre. 2. 2. 8. Financiamento Os Bancos oficiais dispõem de linhas de crédito para financiar os produtores que desejam implantar suas lavouras de palmito. Logicamente, atendendo as regras básicas do sistema de crédito vigente no país. As indústrias integradoras assessoram o produtor na busca do crédito junto aos Bancos oficiais para implantação de sua lavoura. Preocupados com a dificuldade de crédito para pequenos e micro produtores, a cadeia Produtiva do Palmito criou com recursos das indústrias integradoras um FUNDO DE AVAL para garantir o financiamento de projetos destes agricultores. Isso dispensa as garantias reais, uma vez que na 235 sua grande maioria, estes produtores já não dispunham de lastro para financiar novas atividades. A INACERES tem um sistema de financiamento próprio. Com este sistema todas as mudas são financiadas, o que representa a maior parte do financiamento, e também financia as adubações do 1º e 2º ano, sobrando apenas o preparo do solo e manejo do cultivo. O pagamento é sempre feito em palmito, e esta amortização só inicia 1 ano após o início da colheita, em parcelas cuja quantidade de hastes entregues não interferem no custeio da produção. 2. 2. 9. Contrato Produtores e indústria firma contrato de integração que visa disciplinar os processos descritos anteriormente. 3. ASPECTOS TÉCNICOS DA PRODUÇÃO DE PALMITO CULTIVADO O palmito cultivado de Pupunheira se desenvolve muito bem nas regiões onde a precipitação pluviométrica é superior a 1.600 mm e bem distribuída ao longo do ano. Altitudes inferiores a 900 msm; solos de textura franca arenosa; franca argilosa ou arena argilosa; pH acima de 4,5 e máximo de 6,5; boa drenagem e profundidade superior a 0,50 m. O local de plantio deve possuir ramal de acesso que permita o escoamento da produção durante todo o ano. 3. 1. Formação de Mudas O viveiro deve ser projetado considerando que 1 m2 de área permite a formação de 70 a 80 mudas. Devido à forma de desenvolvimento do sistema foliar, faz-se necessário uma separação entre os saquinhos dentro do canteiro. Uma forma prática é ordenar os saquinhos em dois grupos de tríplices fileiras separadas por um vão de 20 cm. Na região do Sul da Bahia, as plântulas (sementes germinadas) precisam de sombreamento na sua etapa inicial de desenvolvimento. Isto ocorre até o terceiro ou quarto mês após o transplante para os saquinhos. O uso de telas tipo ráfia que permitem um sombreamento de 30% tem sido muito eficiente, permitindo um rápido crescimento das mudas. Após este período inicia-se o processo de aclimatação, ou seja, a retirada gradativa da sombra permitindo no final a completa exposição das mudas ao sol. 236 De forma geral o substrato deve ter a seguinte composição: • 20 a 30 % de material orgânico de qualidade (esterco, composto, etc); • 10 % de casca de café, arroz ou outro material seco; • 60 a 70 % de solo (preferencialmente de textura franca, arenosa ou arenosa-argilosa); • Calcário Dolomítico (4,5 kg/m3); • Fertilizante Osmocote (2 kg/m3) ou a Fórmula A (1,2 kg/m3); • Superfostato Triplo (1,2 kg/m3); Para preparar este substrato é necessário que os materiais de grande volume estejam secos. Os saquinhos devem ter as dimensões 14 cm X 20 cm X 0,10 mm. A aplicação de água pode ser realizada através de regador ou sistema de irrigação. Estima-se um consumo de até 3 mm/dia em períodos de alta evapotranspiração, na fase final de produção das mudas. Algumas enfermidades que podem ocorrer em plantas enviveiradas: Podridão do talo e raízes (Fusarium sp); Podridão de plântulas (Pythium sp. e Rizoctonia sp.); Antracnose (Colletotrichum spp.); Mancha parda (Mycosphaerella spp.); Podridão da flecha (Phytophthora sp. e Erwinia sp.). Entretanto, são controladas com ações preventivas como: • O viveiro deve ser construído em local de fácil drenagem e entre os canteiros devem ser construídos drenos para a retirada completa do excesso de água; • As sementes germinadas devem ser tratadas antes de serem transplantadas; • Após o transplante, usar serragem grossa (maravalha), desde que seja nova, para proteger o substrato de salpicado da chuva e o desenvolvimento de ervas; • Realizar aplicações preventivas de fungicidas. As principais pragas que atacam as mudas nos viveiros são os ratos e eventualmente os gafanhotos. O controle é realizado mediante a utilização de iscas para ratos e a catação de gafanhotos. Durante o desenvolvimento das mudas pode-se aplicar um fertilizante foliar completo (macro e micronutrientes) e bioestimulantes. As mudas estão aptas para serem plantadas definitivamente no campo quando apresentarem um diâmetro do coleto superior a 1 cm, tenham um bom vigor e livres de enfermidades e pragas. 237 3. 2. Preparo da Área A legislação ambiental deve ser respeitada e o plantio deve ser realizado em áreas onde não seja necessária a supressão de espécies arbóreas e preferencialmente em áreas de pastagens ou de cultivos anteriores. Por tratar-se de uma espécie heliófila não deve ser cultivada em áreas com sombreamento. 3. 3. Densidade de plantio Os primeiros trabalhos relacionados com a busca de uma densidade ideal para palmito de Pupunheira, ocorreram na Costa Rica no início da década de oitenta. (Zamora y Vargas 1985). A evolução para novas densidades de plantio surgiu a partir da demanda do mercado consumidor que optava por consumir palmitos mais finos. Além disso, segundo Vargas, 2000, as opções de maior rentabilidade estavam associadas às maiores densidades. Na região Sul da Bahia, a densidade de 7.200 plantas por hectare tem produzido bons resultados econômicos e é hoje a mais utilizada para a implantação de novas áreas. O espaçamento usado é 1,85 m (entre linhas) x 0,75 m (entre plantas). 3. 4. Implantação O preparo da área pode ser manual ou mecanizado. As principais atividades são: • Limpeza da área (roçar ou arar e gradear); • Aplicação de corretivo do solo (fosfatos, calcários); • Balizamento (utilizam-se apenas 160 balizas por hectare) • Trilhamento (apenas nas linhas de plantio); • Coveamento (25 cm x 30 cm); • Distribuição de mudas; • Aplicação de fertilizante (Superf. Triplo ou Fórmula A). A dosagem varia de acordo ao solo. • Plantio; • Recoleta de sacos plásticos 3. 5. Manutenção Após a implantação as principais atividades são o controle de ervas, fertilização, monitoramento e controle de pragas e enfermidades 238 3. 6. Controle de ervas As principais técnicas utilizadas no controle de ervas são: coberturas vivas, uso localizado de herbicidas, roçagem e capina. Sendo esta última, apenas nos três primeiros meses após a implantação do cultivo. Após o início da colheita, ocorre uma redução significativa no controle de ervas, uma vez que as folhas e parte das cascas do palmito formam uma cobertura morta. A densidade de plantio é outro fator importante que contribui na redução da incidência de ervas. Atualmente o uso de coberturas vivas tem sido implementado e os resultados tem sido significativos com (Hydrocotile leucocephala), Mucuna spp (arbustiva). 3. 7. Fertilização Deve ser realizada de acordo com resultado das análises de solo. A aplicação pode ser fracionada em quatro vezes por ano. O local de aplicação do fertilizante varia de acordo ao desenvolvimento do cultivo. Inicia-se com a aplicação ao redor da planta, aproximadamente 20 cm. Após um ano de desenvolvimento, pode-se aplicar o fertilizante na área total da planta, uma vez que as raízes absorventes encontram-se amplamente distribuídas nesta área. Os principais fertilizantes utilizados são Cloreto de Potássio, Superfosfato Simples/Triplo, Uréia e micronutrientes. É importante ressaltar que a fertilização deve contemplar o equilíbrio nutricional da planta. Excesso de fertilizantes aplicados no solo ou mal quantificados provoca desequilíbrio entre os nutrientes e conseqüentemente induzem perdas tanto para a nutrição da planta quanto no aumento dos custos. 3. 8. Controle de pragas As principais pragas que atacam a lavoura estabelecida são: Falsa Broca da bananeira (Metmasius hemipterus Sericeus); A larva e o adulto atacam as touceiras (cepas) e plantas em desenvolvimento. Neste mesmo local ocorre o desenvolvimento das outras etapas do ciclo de vida do inseto, como ovo e pupa. O controle desta praga é realizado conjuntamente contra o Rhynchophorus. Bicudo do Coqueiro (Rhynchophorus palmarum Linne); A larva ataca principalmente o rizoma sob a superfície ou na região do coleto das plantas fazendo galerias em direção ao centro do rizoma pro239 vocando a perda do palmito e a morte da planta. Além disso, são transmissores de enfermidades fúngicas. O adulto ataca a touceira após o corte, depositando ovos e sugando a seiva. Tem sido registrada a presença do adulto atacando entre as inserções das folhas com o talo. Ambos os insetos são controlados mediante dois métodos: • O uso de armadilhas com feromônio: As armadilhas são semelhantes àquelas usadas na cultura do coqueiro. Utiliza-se um galão plástico com duas aberturas laterais (5 cm x 10 cm) amarrado em uma estaca à altura de 0,80 cm do solo. Na parte interna do galão prende-se o feromônio. No seu interior acrescentam-se pequenos pedaços de palmito ou canade-açúcar e finalmente aplica-se um inseticida (Sevin a 1%) sobre este material. Semanalmente troca-se o material no interior da armadilha. O feromônio tem duração média de 60 a 90 dias. A quantidade de armadilhas varia de acordo ao grau de infestação, podendo ter 4 armadilhas para cada hectare até 1 para cada 5 hectares. • A aplicação dos fungos Beauveria e Metarrizium deve ser realizada no período de baixa temperatura e alta umidade. Realizar a seguinte operação para cada produto: colocar 1 kg do produto comercial em 10 litros de água. Misturar e após 15 minutos retirar a parte líquida e colocar em outro recipiente. No balde com o resíduo deve ser novamente acrescentar água e coar com uma peneira plástica e também ser colocado junto do recipiente. Após esta ação aplicar o resíduo na própria lavoura. Usar desta solução, 200 ml para cada 20 litros de água. A aplicação deve ser direcionada para o toco colhido, bainhas e restos de colheita no campo. Realizar duas aplicações por ano em cada área. A transmissão do fungo ocorre também através das moscas do gênero Drosophila (mosca presente nos processos de fermentação natural). Besouro Rinoceronte (Strategus spp.); A larva é facilmente encontrada em madeira em decomposição. O adulto perfura o solo abrindo galerias e ataca o rizoma. Pode ser controlado cavando as galerias e eliminando o adulto. 3. 9. Manejo de enfermidades Podridão Basal (Phytophthora palmivora) Produz morte das folhas centrais e apodrecimento do meristema apical. A principal medida de controle é evitar o uso de substrato cujo solo tenha 240 sido oriundo de áreas de cacau, além disso, manter as plantas bem nutridas e livres de ervas. Podridão mole (Erwinia chrysanthemi) Causa o apodrecimento do meristema apical, provocando a morte das folhas centrais. A lesão apresenta-se úmida e com forte cheiro de podridão. Algumas medidas de controle são: drenagem e nutrição equilibrada. 3. 10. Colheita A partir dos 14 meses após o plantio no campo começa a colheita. Esta é realizada a cada intervalo de 20 a 45 dias em uma mesma área. A planta deve ser colhida quando estiver no seu melhor estado de maturação. Esta condição se observa através do diâmetro basal (verificado entre 10 a 15 centímetros do solo, devendo esta planta ter um diâmetro mínimo de 10 centímetros) e das disposições das três últimas folhas a uma altura de aproximadamente 1,70 metros. A haste colhida deve ter um comprimento final mínimo de 65 e máximo de 75 centímetros e apresentar uma base (maçã ou gema) com 10 cm de comprimento e ter duas capas protetoras. O palmito não deverá permanecer exposto ao sol depois de colhido. A produtividade média por hectare é de 8,5 mil hastes/ano, podendo superar 10 mil hastes/ha/ano, de acordo ao manejo realizado. A produtividade média por touceira de 1,5 hastes/planta. É uma realidade nos cultivos bem manejados no Sul da Bahia. 4. BREVE ANÁLISE FINANCEIRA • Investimento médio inicial por hectare (Ano 1): R$: 7.013,12. • Custo médio anual por hectare (a partir do Ano 2): R$ 1.684,85. • Receita bruta média anual por hectare (a partir do 3º ano de colheita): R$ 4.821,00. Uma análise direta permite expressar que se trata de uma atividade com alto rendimento por hectare, superior a muitas atividades que hoje são exploradas comercialmente. É sem dúvida um importante cultivo que pode gerar renda e liquidez, inclusive para os produtores de cacau que tem durante o ano uma entressafra muitas vezes superior a cinco meses ficando descapitalizados e tendo que obter recursos externos neste período. 241 Uma maior profundidade na análise financeira dependerá de variáveis como taxa de juros e prazo de carência. Entretanto, o cultivo de palmito é viável e destaca-se por apresentar durante todo o ano um bom e regular fluxo de caixa. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Atualmente no Sul da Bahia existem empresas que industrializam palmito e são credenciadas pela ANVISA. A área de produção estimada de palmito é de 2.983 hectares. (Rodrigues, 2003). Apesar destes dados, houve um incremento de área superior a 450 hectares, influenciado principalmente pelo sistema de Integração da INACERES. A meta da INACERES, que faz parte da Cadeia Produtiva do Palmito, é comprar e industrializar palmito de 4 mil hectares oriundos de produtores INTEGRADOS. Na cidade de Uruçuca, no estado da Bahia, está instalada e em funcionamento uma das mais modernas fábricas de processamento de palmito do mundo. O programa de Integração da INACERES teve início no ano de 2002 com apenas quatro produtores integrados. Após quatro anos, em maio de 2006, a empresa registra parceria com 92 produtores que juntos totalizam uma área de 365 hectares de palmito. O sistema de Integração da Cadeia Produtiva do Palmito visa atender: • Pequenos, médios e grandes produtores. • Associações de produtores oriundas dos programas de assentamento do Governo; • Associações de pequenos produtores; Trata-se de uma alternativa para o Sul da Bahia e difere de muitas outras por ter os distintos processos coordenados para que os envolvidos (Integrados e Empresa Integradora) possam produzir e obter seus lucros a partir de seus investimentos, ter constância na entrega e principalmente no recebimento dos pagamentos pela produção comercializada ao longo de todo o ano. 242 CONCEITOS E ASPECTOS LEGAIS SOBRE ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE Elias Leal Veloso1 AS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APPS) São áreas de grande importância ecológica e social, que têm a função de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico da fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem estar das populações humanas. Conceitos e aspectos Legais No artigo 2º do Código Florestal são consideradas de preservação permanente, as seguintes áreas, cobertas ou não por vegetação nativa, localizadas nas áreas rurais e urbanas: a) ao longo de cada lado dos rios ou de outro qualquer curso de água; b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios de água naturais ou artificiais; c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados “olhos de água”, qualquer que seja a situação topográfica; d) no topo de morros, montes, montanhas e serras; e) nas encostas ou parte destas com declividade superior a 45°; f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadores de mangues; g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas; h) em altitudes superiores a 1.800 metros, qualquer que seja a vegetação. O Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, levando em consideração que: a função sócio-ambiental da propriedade prevista nos artes. 5º, inciso XXIII, 170, inciso VI, 182, § 2º, 186, inciso II e 225 da 1 CEPLAC / Centro de Extensão. [email protected] 243 Constituição e os princípios da prevenção, da precaução e do poluidorpagador; a necessidade de regulamentar o art. 2º da Lei nº 4.771/65, no que concerne às APP’s; as responsabilidades assumidas pelo Brasil por força da Convenção da Biodiversidade, de 1992, da Convenção Ramsar, de 1971 e da Convenção de Washington, de 1940, bem como os compromissos derivados da Declaração do Rio de Janeiro, de 1992; as APP’s e outros espaços territoriais especialmente protegidos, como instrumentos de relevante interesse ambiental, integram o desenvolvimento sustentável, objetivo das presentes e futuras gerações. Revogou da Resolução CONAMA nº 004/85, e regulamentou a Resolução CONAMA nº 303/02, da qual relacionamos abaixo os artigos que estabelecem os parâmetros, definições e limites referentes as APP’s. Art. 2º Para os efeitos desta Resolução, são adotadas as seguintes definições: I - nível mais alto: nível alcançado por ocasião da cheia sazonal do curso d’água perene ou intermitente; II - nascente ou olho d’água: local onde aflora naturalmente, mesmo que de forma intermitente, a água subterrânea; III - vereda: espaços brejosos ou encharcados, que contém nascentes ou cabeceiras de cursos d’água, onde há ocorrência de solos hidromórficos, caracterizado predominantemente por renques de buritis do brejo (Mauritia flexuosa) e outras formas de vegetação típica; IV - morro: elevação do terreno com cota do topo em relação à base entre 50 e 300 trezentos metros e encostas com declividade superior a 30% (aproximadamente 16º) na linha de maior declividade; V - montanha: elevação do terreno com cota em relação à base superior a 300 metros; VI - base de morro ou montanha: plano horizontal definido por planície ou superfície de lençol d’água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota da depressão mais baixa ao seu redor; VII - linha de cumeada: linha que une os pontos mais altos de uma seqüência de morros ou de montanhas, constituindo-se no divisor de águas; VIII - restinga: depósito arenoso paralelo à linha da costa, de forma geralmente alongada, produzido por processos de sedimentação, onde se encontram diferentes comunidades que recebem influência marinha, também consideradas comunidades edáficas por dependerem mais da natureza do substrato do que do clima. A 244 cobertura vegetal nas restingas ocorre em mosaico, e encontra-se em praias, cordões arenosos, dunas e depressões, apresentando, de acordo com o estágio sucessional, estratos herbáceos, arbustivos e abóreo, este último mais interiorizado; IX - manguezal: ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos, sujeitos à ação das marés, formado por vasas lodosas recentes ou arenosas, às quais se associa, predominantemente, a vegetação natural conhecida como mangue, com influência flúvio-marinha, típica de solos limosos de regiões estuarinas e com dispersão descontínua ao longo da costa brasileira, entre os estados do Amapá e Santa Catarina; X - duna: unidade geomorfológica de constituição predominante arenosa, com aparência de cômoro ou colina, produzida pela ação dos ventos, situada no litoral ou no interior do continente, podendo estar recoberta, ou não, por vegetação; XI - tabuleiro ou chapada: paisagem de topografia plana, com declividade média inferior a 10%, aproximadamente 6º e superfície superior a 10 hectares, terminada de forma abrupta em escarpa, caracterizando-se a chapada por grandes superfícies a mais de 600 metros de altitude; XII - escarpa: rampa de terrenos com inclinação igual ou superior a 45º, que delimitam relevos de tabuleiros, chapadas e planalto, estando limitada no topo pela ruptura positiva de declividade (linha de escarpa) e no sopé por ruptura negativa de declividade, englobando os depósitos de colúvio que se localizam próximo ao sopé da escarpa; Art. 3º Constitui Área de Preservação Permanente a área situada: I - em faixa marginal, medida a partir do nível mais alto, em projeção horizontal, com largura mínima, de: a) 30 metros, para o curso d’água com menos de 10 metros de largura; b) 50 metros, para o curso d’água com 10 a 50 metros de largura; c) 100 metros, para o curso d’água com 50 a 200 metros de largura; d) 200 metros, para o curso d’água com 200 a 600 metros de largura; e) 500 metros, para o curso d’água com mais de 600 metros de largura; II - ao redor de nascente ou olho d’água, ainda que intermitente, com raio mínimo de 50 metros de tal forma que proteja, em cada caso, a bacia hidrográfica contribuinte; III - ao redor de lagos e lagoas naturais, em faixa com metragem mínima de: a) 30 metros, para os que estejam situados em áreas urbanas consolidadas; b) 100 metros, para as que estejam em áreas rurais, exceto os corpos 245 d’água com até 20 hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 metros; IV - em vereda e em faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima de 50 metros, a partir do limite do espaço brejoso e encharcado; V - no topo de morros e montanhas, em áreas delimitadas a partir da curva de nível correspondente a 2/3 da altura mínima da elevação em relação à base; VI - nas linhas de cumeada, em área delimitada a partir da curva de nível correspondente a 2/3 da altura, em relação à base, do pico mais baixo da cumeada, fixando-se a curva de nível para cada segmento da linha de cumeada equivalente a 1.000 metros; VII - em encosta ou parte desta, com declividade superior a 100% ou 45% na linha de maior declive; VIII - nas escarpas e nas bordas dos tabuleiros e chapadas, a partir da linha de ruptura em faixa nunca inferior a 100 metros em projeção horizontal no sentido do reverso da escarpa; IX - nas restingas: a) em faixa mínima de 300 metros, medidos a partir da linha de preamar máxima; b) em qualquer localização ou extensão, quando recoberta por vegetação com função fixadora de dunas ou estabilizador de mangues; X - em manguezal, em toda a sua extensão; XI - em duna; XII - em altitude superior a 1.800 metros, ou, em Estados que não tenham tais elevações, a critério do órgão ambiental competente; XIII - nos locais de refúgio ou reprodução de aves migratórias; XIV - nos locais de refúgio ou reprodução de exemplares da fauna ameaçadas de extinção que constem de lista elaborada pelo Poder Público Federal, Estadual ou Municipal; XV - nas praias, em locais de nidificação e reprodução da fauna silvestre. Parágrafo único. Na ocorrência de dois ou mais morros ou montanhas cujos cumes estejam separados entre si por distâncias inferiores a 500 metros, a Área de Preservação Permanente abrangerá o conjunto de morros ou montanhas, delimitada a partir da curva de nível correspondente a 2/3 da altura em relação à base do morro ou montanha de menor altura do conjunto, aplicando-se o que segue: I - agrupam-se os morros ou montanhas cuja proximidade seja de até 500 metros entre seus topos; 246 II - identifica-se o menor morro ou montanha; III - traça-se uma linha na curva de nível correspondente a 2/3 deste; e IV - considera-se de preservação permanente toda a área acima deste nível. A Constituição do Estado da Bahia, além de estabelecer a obrigação do Estado e Municípios preservarem a diversidade e a integridade do patrimônio biológico e genético, bem como definirem espaços territoriais e seus componentes a serem protegidos, considera como Áreas de Preservação Permanente as nascentes e margens de rios, as matas ciliares e áreas que abriguem exemplares raros da fauna, da flora e de espécies ameaçadas de extinção - (art. 214, V e VI c/c art. 215, VI, VII e VIII). Adiante no art. 215, define como Áreas de Preservação Permanente, os manguezais; as áreas estuarinas; os recifes de corais; as dunas e restingas; os lagos, lagoas e nascentes existentes em centros urbanos, mencionados no Plano Diretor do respectivo Município; as áreas de proteção das nascentes e margens dos rios, compreendendo o espaço necessário à sua preservação; as matas ciliares; as áreas que abriguem exemplares raros da fauna, da flora e de espécies ameaçadas de extinção, bem como aquelas que sirvam como local de pouso ou reprodução de espécies migratórias; as reservas de flora apícola, compreendendo suas espécies vegetais e enxames silvestres; as áreas de valor paisagístico; as áreas que abriguem comunidades indígenas, na extensão necessária a sua subsistência e manutenção de sua cultura; as cavidades naturais subterrâneas e cavernas; as encostas sujeitas à erosão e deslizamento. Funções ecológicas das Áreas de Preservação Permanente A vegetação ciliar, também conhecida como mata ripária, ou de galeria, está contemplada nas alíneas “a”, “b” e “c” do art. 2º do Código Florestal. Chama-se ciliar porque, tal e qual os cílios que protegem os olhos, essa mata resguarda as águas, depurando-as, filtrando-as. Essas matas funcionam como controladoras de uma bacia hidrográfica, regulando os fluxos de água superficiais e subterrâneas, a umidade do solo e a existência de nutrientes. Além de auxiliarem, durante o seu crescimento, na absorção e fixação de carbono, os principais objetivos dessas matas são: a) reduzir as perdas do solo e os processos de erosão e, por via reflexa, 247 evitar o assoreamento (arrastamento de partículas do solo) das margens dos corpos hídricos; b)garantir o aumento da fauna silvestre e aquática, proporcionando refúgio e alimento para esses animais; c)manter a perenidade das nascentes e fontes; d)evitar o transporte de defensivos agrícolas para os cursos d’água; e)possibilitar o aumento de água e dos lençóis freáticos, para dessedentação humana e animal e para o uso nas diversas atividades de subsistência e econômicas; f)garantir o repovoamento da fauna e maior reprodução da flora; g)controlar a temperatura, propiciando um clima mais ameno; h)valorização da propriedade rural; e i) formar barreiras naturais contra a disseminação de pragas e doenças na agricultura. Além de funcionar como filtro, protegendo o corpo d’água de fontes poluidoras localizadas no ambiente terrestre lindeiro, a vegetação marginal é responsável pela criação de micro-ambientes que são essenciais para a manutenção de muitas espécies animais. Diversos grupos de invertebrados e mesmo vertebrados, como os anfíbios, possuem hábitos terrestres quando adultos, mas apresentam formas jovens que dependem de ambientes aquáticos. Uma margem nua, desprovida de vegetação, via de regra não oferece condições adequadas para a manutenção desses animais. Além disso, é sabido que as áreas de margem funcionam como berçários de muitas espécies aquáticas, que encontram nos pequenos nichos localizados entre a vegetação ribeirinha à proteção que necessitam nas primeiras fases da vida. Nas alíneas “d” a “h”, o art. 2º do Código Florestal elenca hipóteses de proteção à flora que recobre espécies de relevo, destinada ao combate da erosão. Conquanto esse Código silencie sobre as faixas de proteção das encostas e elevações, com exceção das altitudes superiores a 1.800 metros, a Resolução CONAMA nº 4/85 as define na alínea “b”, incisos IV, VI, X e XI. Essas coberturas vegetais, especialmente as previstas nas alíneas “d” e “e”, são por demais importantes na preservação dos morros. Além disso, a deterioração dessas áreas resulta em danos paisagísticos, associados à alteração da morfologia das encostas afetadas, e prejuízos ao desenvolvimento do turismo, especialmente do ecoturismo, hoje tão explorado em propriedades dotadas de morros recobertos por vegetação. 248 No meio rural, não são menos importantes as funções dessa vegetação, assim como não é menos intensa a sua degradação para propiciar a prática da agricultura e da pecuária sobre os topos dos morros e nas encostas. A exploração econômica dessas áreas pode até render dividendos para os seus responsáveis num momento inicial. Mas, considerando os efeitos sinérgicos e de longo prazo verificáveis no meio ambiente, sem a cobertura vegetal, a chuva leva os sedimentos do solo descoberto, acentuando a erosão e o assoreamento de rios, arroios e lagoas. Ademais, essa vegetação também é responsável pela manutenção do microclima de sua área de influência, regulando a vazão dos cursos d’água e garantindo a captação de água para as populações que vivem nessas regiões. Recuperação de Áreas de Preservação Permanente Mediante uma parceria Estado-Coletividade, firmada para formulação, implementação e gestão de políticas públicas ambientais, instituídas pelo art. 225, “caput”, da Constituição Federal vigente, compete aos movimentos sociais rurais buscar, formal e informalmente, em parceria com o Poder Público, Organizações Não - Governamentais, Universidades, Sindicatos, dentre outras instituições, alternativas para a recuperação de áreas degradadas. Cumpre ressaltar importante avanço da legislação e da política florestal baiana - Lei nº 6.569/94, que tem por objetivo, dentre outros, promover a recuperação de áreas degradadas, por meio de fomento. Além disto, a legislação florestal baiana obriga, a partir de 10.1.94, os proprietários rurais recomporem, em sua propriedade, a reserva legal, mediante plantio ou regeneração em cada ano de, ao menos, 1/30 da área da reserva - (art. 10, § 2º). No intuito de incentivar a recuperação de áreas degradadas o Estado da Bahia instituiu o Programa de Fomento Florestal - Florestas para o Futuro, mediante a Lei nº 7.396, de 4.8.98. Conforme o disposto no art. 10, dessa lei, qualquer produtor rural interessado deverá inscrever-se no Programa Florestas para o Futuro, sendo beneficiado com o reflorestamento de até 50 ha e de até 500 ha de manejo florestal. Pequenos e médios proprietários são prioritariamente beneficiários do Programa. Por meio desse Programa de Fomento Florestal torna possível aos movimentos sociais rurais, aqui representados pelo recorte especifico dos 249 assentamentos de trabalhadores rurais, implementar ações de recuperação de áreas degradadas, seja utilizando espécies nativas, seja utilizando espécies ecologicamente adaptadas, visando uma melhoria nas condições sócio-econômicas e ambientais das áreas de assentamentos. Nessas áreas é necessário que se assegure de ampla participação da comunidade local e da sociedade que civil organizada, atendendo ao principio da participação popular, previsto no direito e na legislação ambiental, a exemplo do art. 225, da C.F. /88. Somente com envolvimento, democratização das relações e efetiva participação podem-se manusear com eficácia os instrumentos jurídico-políticos disponíveis para a recuperação de áreas de preservação degradadas, edificando uma ordem de justiça social no campo. 250 CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA NA REGIÃO CACAUEIRA DA BAHIA Quintino Reis de Araújo1, 2 Arlicélio Queiroz Paiva2 REFLEXÃO INICIAL A relação que existe entre solo e planta é de completa dependência um do outro. O solo serve para dar sustentação às plantas e funciona como um reservatório de água e nutrientes necessários para a vida das plantas. Por outro lado, as plantas promovem a cobertura do solo e fornecem matéria orgânica que é importante para a formação e conservação do solo. O solo é composto por pequenos espaços vazios, chamados de poros. Os poros de tamanho maior são conhecidos como macroporos e os de menor tamanho, de microporos. Eles desempenham funções específicas no solo, os microporos servem para armazenar água, enquanto que os macroporos são responsáveis pela drenagem da água, pela entrada e saída dos gases no solo e pela penetração das raízes das plantas. Assim sendo, é de extrema importância que as técnicas adotadas para o cultivo de plantas não promovam a alteração na porosidade do solo. No entanto, sempre ocorrem mudanças, a mais comum é o aumento da quantidade de microporos e a diminuição de macroporos. Com isso, a velocidade de infiltração da água no solo fica mais lenta e a água passa a se acumular na superfície, provocando o escoamento que é conhecido como enxurrada. Esse escoamento superficial é um importante fator que provoca erosão. 1 CEPLAC / Centro de Pesquisa do Cacau. E-mail [email protected] Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais. E-mail [email protected] 251 2 UESC / A erosão é o processo de desgaste acelerado do solo, provocado pela utilização de técnicas inadequadas para o cultivo. Ela provoca o empobrecimento do solo e a perda da capacidade produtiva com o passar dos tempos. Além disso, ela é responsável por importantes desajustes ambientais. Um deles é o transporte de terra para dentro dos rios que, muitas vezes, provoca a sua morte. Outro impacto importante é a poluição dos mananciais, que compromete a qualidade da água para consumo humano e animal. Observa-se que existe uma interação intrínseca e muito importante entre o solo e a água, o conhecimento que se tem deles, o “valor” que se dá aos mesmos, os usos que se aplicam, os cuidados adotam quanto a esses componentes essenciais do ambiente. A água, assim como o solo, é um elemento vital para a sustentabilidade do homem na natureza, e passa a se constituir como um bem de planejamentos, legislações, disputas, mercados decisivos quanto à qualidade de vida e o equilíbrio entre os povos e as comunidades. Conservação do Solo e da Água O solo é um recurso natural que deve ser utilizado como patrimônio da coletividade, independente do seu uso ou posse. É um dos componentes vitais do meio ambiente e constitui o substrato natural para o desenvolvimento das plantas. A ciência da conservação do solo e da água preconiza um conjunto de medidas, objetivando a manutenção ou recuperação das condições físicas, químicas e biológicas do solo, estabelecendo critérios para o uso e manejo das terras, de forma a não comprometer sua capacidade produtiva. Estas medidas visam proteger o solo, prevenindo-o dos efeitos danosos da erosão, aumentando a disponibilidade de água, de nutrientes e da atividade biológica do solo, criando condições adequadas ao desenvolvimento das plantas. Do ponto de vista da conservação do solo, a ocorrência de chuvas fortes em uma determinada região é preocupante, pois essas chuvas têm um alto potencial de desgaste dos solos. Na região cacaueira da Bahia é muito comum a ocorrência de chuvas intensas, donde se pode concluir que é uma região onde pode ocorrer erosão, dependendo apenas do tipo de uso do solo. O impacto das gotas das chuvas fortes sobre a superfície de um solo sem cobertura vegetal, provoca a separação das partículas de 252 argila, silte e areia. As partículas individualizadas que são transportadas pela água para dentro do solo, estacionam no interior dos macroporos e provocam o entupimento. Como os macroporos são responsáveis pela infiltração da água, começa a ocorrer um acúmulo de água na superfície, resultando em enxurrada e conseqüente erosão. Portanto, as aparentemente inofensivas gotas de chuva são as principais responsáveis pelo desgaste dos solos sem cobertura vegetal. Diante disso, o agricultor deve se empenhar ao máximo para manter a cobertura vegetal do solo, uma vez que ela amortece o choque das gotas de chuva contra a superfície do solo, diminuindo os riscos de ocorrência de erosão. Essa cobertura pode ser feita por intermédio da preservação das florestas, pelas culturas agrícolas, pelas plantas de cobertura e/ou pela adição de restos de plantações. Outro componente importante na ocorrência de erosão é a topografia do terreno. Em locais muito declivosos, a possibilidade de ocorrer erosão é muito maior do que em locais mais planos. A região cacaueira da Bahia tem extensas áreas declivosas, as quais são susceptíveis à erosão. O declive acentuado favorece a uma maior velocidade de escoamento das águas e conseqüente aumento da capacidade de transporte de terras para as partes mais baixas do relevo. Nesse contexto, pode-se afirmar que, por apresentar a maior parte das terras ocupadas por sistemas agroflorestais, nos quais o cacau é a cultura de interesse econômico principal, a região cacaueira da Bahia possui uma boa estratégia para evitar a erosão, uma vez que as plantas que compõem o agroecossistema funcionam como amortecedores do choque das gotas de chuva sobre o solo. No entanto, isso não significa que o cacauicultor possa ficar despreocupado com a erosão. Em visitas freqüentes feitas em diversas fazendas de cacau da região, engenheiros agrônomos que trabalham com manejo e conservação do solo, têm observado a ocorrência de erosão laminar em áreas declivosas. Nessas áreas, as coberturas do solo proporcionadas pelo cacau, juntamente com as demais plantam que compõem os sistemas agroflorestais, não é suficiente para evitar a erosão. Desse modo, o cacauicultor deverá introduzir uma técnica de conservação do solo para aumentar a resistência do solo contra a erosão, evitando assim o seu empobrecimento. Faz-se necessário conhecer e adotar algumas técnicas conservacionistas que são eficientes para o controle da erosão. Nos últimos tempos, a região sul da Bahia passou por uma mudança 253 muito importante no uso de seus solos, em decorrência da crise estabelecida na lavoura cacaueira. A alteração mais significativa foi à substituição da cabruca por áreas de pastagem, de fruteiras e de café, entre outros. Essas modificações ocorridas têm gerado preocupações com relação à conservação do solo, pois, até então, os agricultores não viam necessidade de se adotar técnicas conservacionistas, uma vez que a proteção do solo promovida pelo sistema cabruca é mais eficiente do que os outros tipos de usos que surgiram. As pastagens bem manejadas, nas quais se utiliza o sistema de rotação de pastos, a associação com plantas leguminosas, à calagem e a adubação, contribuem para a conservação dos solos, pois promovem a cobertura dos solos por intermédio das gramíneas e pelo fornecimento de matéria orgânica. No entanto, em boa parte das terras ocupadas por pastagens na região cacaueira, o que se observa é o pastoreio excessivo, no qual, os animais cortam o capim rente à superfície do solo, levando a uma completa degradação dos pastos e deixando o solo exposto à erosão. Para piorar a situação, a técnica mais utilizada no manejo de pastagens degradadas é o uso indiscriminado do fogo. Com a diversificação dos cultivos ocorrida na região, houve um aumento das áreas ocupadas por fruteiras e café. Como essas plantações naturalmente promovem uma menor cobertura do solo quando comparadas com o sistema cabruca, ocorreu, possivelmente, um aumento das perdas de solo por erosão. Entretanto, essas perdas podem ser minimizadas com a adoção de técnicas eficientes de controle da erosão. Alguns dados sobre a água Torna-se essencial para o futuro social, econômico e ambiental das Nações, e suas comunidades, a adoção de programas mais coerentes quanto ao uso da água. As informações seguintes registram aspectos primordiais para o entendimento da importância da água: Cerca de 70% do corpo humano consiste em água; Aproximadamente 34.000 pessoas morrem diariamente em conseqüência de doenças relacionadas com a água; 65% das internações hospitalares no Brasil se devem a doenças de veiculação hídrica. O homem consegue O homem pode ficar até 28 dias sem comida, mas não suporta três dias sem água. Uma pessoa necessita de no mínimo cinco litros de água por dia para beber e cozinhar e 25 litros para higiene pessoal; Uma família média consome 254 cerca de 350 litros de água por dia no Canadá, 20 litros na África, 165 litros na Europa e 200 litros no Brasil; As perdas de água na rede de distribuição no Brasil variam de 30% a 65% do total aduzido; Aproximadamente 1,4 bilhão de litros de água são necessários para produzir um dia de papel para a imprensa mundial; Um tomate contém 95% de água; 9400 litros de água são necessários para produzir 4 pneus de carro; Abastecimento e saneamento adequados reduzem a mortalidade infantil em 50%; Uma pessoa sobrevive apenas uma semana sem água; Mulheres e crianças em muitos países em desenvolvimento viajam em média de 10 a 15 km todos os dias para obter água; No mundo, hoje, 1.00 milhões de pessoas não têm acesso à água potável, mas a indústria de água engarrafada movimenta 22.000 milhões de dólares ao ano. Outros dados importantes: 97% da água do planeta está nos oceanos; 2% nos pólos congelados; 0,89% nos subterrâneos; 0,03% nos lagos; e 0,01% nos rios; ou seja, cerca de 1% está disponível para consumo. Nos últimos 50 anos, as reservas de água doce foram reduzidas em 62% no mundo. Segundo dados da OMS e de ONGs, cada 1.000 litros de água utilizada pelo homem resultam em 10.000 litros de água poluída. Na terra, 25 mil pessoas morrem por dia por falta de água ou contaminadas por ela. Cada R$ 1,00 investido em saneamento básico equivale à economia de R$ 5,00 gastos na saúde. A água é fundamental para todas as espécies e não deve ser um recurso a ser apropriado. Planejamento Conservacionista A solução dos problemas decorrentes da erosão não depende da ação isolada de um produtor. A erosão produz efeitos negativos para o conjunto dos produtores rurais e para as comunidades urbanas. Um plano de uso, manejo e conservação do solo e da água deve contar com o envolvimento efetivo do produtor, do técnico, dos dirigentes e da comunidade. Dentre os princípios fundamentais do planejamento de uso das terras, destaca-se um maior aproveitamento das águas das chuvas. Evitando-se perdas excessivas por escoamento superficial, podem-se criar condições para que a água pluvial se infiltre no solo. Isto, além de garantir o suprimento de água para as culturas, criações e comunidades, previne a erosão, evita inundações e assoreamento dos rios, assim como abastece os lençóis freáticos que alimentam os cursos de água. 255 Uma cobertura vegetal adequada assume importância fundamental para a diminuição do impacto das gotas de chuva. Há redução da velocidade das águas que escoam sobre o terreno, possibilitando maior infiltração de água no solo e, diminuição do carregamento das suas partículas. Principais Técnicas de Conservação do Solo Práticas Vegetativas Práticas Edáficas Práticas Mecânicas ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ √ Cultivo de acordo com a √ Preparo do solo e plantio √ Florestamento e capacidade de uso da terra reflorestamento em nível √ Plantas de cobertura √ Controle do fogo √ Distribuição adequada √ Adubação: verde, química, dos caminhos √ Cobertura morta √ Sulcos e camalhões em √ Rotação de culturas orgânica pastagens √ Formação e manejo √ Calagem de pastagem √ Enleiramento em contorno √ Cultura em faixa √ Terraceamento √ Faixa de bordadura √ Quebra vento e bos√ Subsolagem √ Irrigação e drenagem que sombreador √ Cordão vegetativo permanente √ Manejo do mato e alternância de capinas ○ ○ A Bacia Hidrográfica como unidade de estudo, pesquisa, planejamento e gerenciamento Os rios agem como integradores de processos biogeoquímicos (a água atua como veículo energético, catalisador, aglomerador, modelador da paisagem, solvente universal, “ALMA” da paisagem). Pensar em bacia hidrográfica requer a consideração da mesma como um sistema (que é um conjunto de elementos que se inter-relacionam, coordenados entre si, e que funcionam como estrutura organizada). As bacias, como sistemas dinâmicos, são constituídas de ecossistemas semifechados à favorecem implantação de sistemas intergados de desenvolvimento rural sustentável. O enfoque da bacia como Unidade de Estudo requer grande diversidade multidisciplinar, isto é, de conhecimentos múltiplos dos agentes sociais que convivem com a mesma. Os maiores avanços da atuação humana, quanto aos planos de conservação do solo e da água, têm sido verificados quando os programas de traballho tomam por base o manejo ambiental com base em bacias hidrográficas. 256 Palavras Finais A história da humanidade está intimamente ligada à história de uso da terra. A conservação do solo e da água mantém a riqueza (capacidade produtiva) das terras, melhora o rendimento das culturas e garante um ambiente equilibrado, para a atual e as futuras gerações. É responsabilidade de todos os cidadãos a “convivência” racional com os recursos solos e água, e os agricultores, como um dos protagonistas desta história, têm um papel fundamental na construção de uma vida saudável. 257 CULTIVO DE FLORES TROPICAIS NA REGIÃO SUL DA BAHIA Narciso Bezerra de Freitas 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS A Região Sul da Bahia, notadamente a Região Cacaueira, vem atravessando nas duas últimas décadas, uma forte crise econômica, com significativos reflexos sociais e ambientais. A doença “vassoura-de-bruxa”, causada pelo fungo Crinipellis perniciosa (Stahel) Singer, sem dúvida, foi a grande causadora desta situação, tendo como aliados o baixo preço da arroba de cacau e as adversidades climáticas, levando os cacauicultores a descapitalização e até ao abandono da lavoura. No ano de 1990, estimava-se em 25.000 o número de cacauicultores, os quais empregavam aproximadamente 130.000 trabalhadores rurais. Sendo a lavoura cacaueira a principal fonte de renda, emprego regional e atrativa de segmentos agroindustriais, o impacto social negativo foi muito grande. A crise, sem uma perspectiva de solução a curto e/ou médio prazo, levou as instituições e dirigentes regionais pela busca de alternativas no agronegócio, as quais se adequassem às características de clima e solo, dentro de um programa de diversificação de cultivos, introduzindo-se a pupunheira, cafeeiros, intensificação da exploração da piaçaveira, ampliação das áreas de produção de coco, expansão das áreas de pastagens, incentivo à produção de camarões e peixes, dentre outros. Mais recentemente surgiu uma nova oportunidade dentro do agronegócio, grande agregadora de mão-de-obra, perfeitamente adaptável às condições de clima e solo regionais – a “floricultura tropical”, que vem despontando de forma rápida e ganhando espaço, notadamente nas proximidades do eixo Ilhéus/Itabuna e no Baixo Sul, com apoio das instituições públicas e Engenheiro Agrônomo, MSc. Em Agronomia/Fitotecnia, Fiscal Federal Agropecuário do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, lotado na Superintendência Federal de Agricultura de Pernambuco (SEPDAG/SFA-PE/MAPA). 258 privadas afetas ao setor. É muito importante salientar que a floricultura tropical é um negócio como qualquer outro dentro do agronegócio. Tem suas vantagens, mas também tem os seus riscos. O floricultor deve ter em mente sempre alguns objetivos, tais como: Estar sempre antenado na busca de novos mercados; Estabelecer parcerias para produção e comercialização; Agregar-se a outros produtores; Estabelecer um programa de melhoria permanente da qualidade de seus produtos e/ou serviços; Sempre que possível, ampliar sua oferta de produtos e/ou serviços; Agregar valor ao seu produto e/ou serviço; Buscar sempre soluções coletivas. 2. O AGRONEGÓCIO DA FLORICULTURA A floricultura compreende a produção de sementes e propágulos, flores de corte e em vaso, mudas de plantas ornamentais, para arborização e recomposição florestal, forrações e grama, implantação de bancos ativos de germoplasma (BAG) e coleção de espécies e variedades, paisagismo e jardinagem, arte floral, topiária, bonsai e biotecnologia vegetal. 3. ESTATÍSTICA MUNDIAL DA FLORICULTURA A área mundial cultivada pela floricultura é de 380.735 hectares, onde a Ásia e Oceania compreendem 65% desse total, a América 19%, a Europa representa 15% e a África detém apenas 1%. O mercado internacional se aproxima dos US$ 100 bilhões anuais e o fluxo internacional de comércio (exportações) estão estimado em US$ 9,4 bilhões. Os principais países exportadores são Holanda, Colômbia, Itália, Dinamarca, Bélgica, Quênia, Zimbabwe, Austrália, Costa Rica, Equador, Tailândia, Israel, Estados Unidos (Hawaii) e outros. A participação brasileira é de apenas 0,22% desse total. São 84 países que exportam produtos da floricultura, mas o Brasil é que tem o maior mercado interno. 4. ESTATÍSTICA DA FLORICULTURA BRASILEIRA O Brasil tem 5.560 municípios, dos quais apenas 304 têm produção no agronegócio da floricultura, totalizando uma área de 5.200 hectares, onde 259 o tamanho médio das propriedades em produção é de 3,5 hectares. A distribuição da área cultivada com flores e plantas ornamentais no Brasil está estimada em 50,4% para mudas; 13,2% para flores envasadas; 28,8% para flores de corte; 3,1% para folhagens em vasos; 2,6% para folhagens de corte e 1,9% para outros produtos. São gerados, em média, quatro empregos para cada hectare cultivado, onde existem cerca de 4.000 produtores. Estima-se uma geração de 120.000 empregos diretos, assim distribuídos: 58 mil no setor produtivo, 4 mil na distribuição, 51 mil no varejo e 7 mil no apoio. Existem 28 centros atacadistas e 20 mil pontos de venda no varejo, com faturamento anual da ordem de R$ 2 bilhões. Os rendimentos econômicos na produção de flores e plantas ornamentais podem atingir de R$ 50 mil a R$ 100 mil, para cada hectare cultivado. Com todo esse cenário favorável, a de se convir que o setor deve ser essencialmente profissional, notadamente quando se deseja vender para o mercado internacional e/ou exportar para os grandes centros consumidores brasileiros. Assim sendo, se faz necessário o uso intensivo de tecnologia, mão-de-obra bem qualificada e uma cadeia produtiva profissional. O consumo brasileiro de flores e plantas ornamentais é muito baixo, da ordem de US$ 4,70 por pessoa/ano, principalmente quando comparado com os dos países como a Suíça e Noruega, que corresponde respectivamente a US$ 170,00 e US$ 143,00/pessoa/ano. Até mesmo a Argentina supera significativamente o nosso consumo per capita, consumindo em média US$ 25,00/pessoa/ano. O Instituto Brasileiro de Floricultura (IBRAFLOR), instituiu no ano de 2000 o Programa Brasileiro de Exportação de Flores e Plantas Ornamentais (Flora Brasilis), objetivando implementar ações para o incremento das exportações internacionais, cuja meta é passar dos atuais 0,22% para 1,50% até o ano de 2007. Os mercados-alvo prioritários são a Alemanha, Holanda, Estados Unidos, Itália, França, Inglaterra, Japão e Argentina. Para o mercado interno o IBRAFLOR criou recentemente o Projeto Pólen, que tem como objetivo aumentar as vendas de flores e plantas ornamentais. Este projeto foi iniciado experimentalmente em Campinas/SP, devendose estender para todo o país. As exportações brasileiras de flores e plantas ornamentais em 2004 foram de US$ 23,5 milhões, correspondendo a um aumento de 20% em relação ao ano anterior, no entanto contribui inexpressivamente para com o mercado mundial. 260 O consumidor, notadamente o europeu, está cada vez mais exigente, fazendo com que o produtor tenha um maior controle de qualidade, use métodos limpos em seus processos produtivos e tenha senso máximo em relação à preservação ambiental, ou seja, que sua propriedade seja economicamente viável, socialmente justa e ecologicamente correta. O mercado internacional é ávido por produtos de elevado padrão de qualidade, exóticos, com maior vida útil e preferencialmente com certificação. Este fato abriu espaço significativo para as flores tropicais. As extraordinárias condições de clima e solo, bem como a infra-estrutura regional que o Sul da Bahia dispõe, trabalhando de forma organizada, profissional e com apoio institucional e das entidades privadas afetas ao setor, sem dúvida alguma fará com que esta região se torne num dos maiores pólos de floricultura tropical do mundo. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), criou o Programa Proflores, com o objetivo de apoiar o desenvolvimento e a profissionalização do setor de flores e plantas ornamentais, estabelecendo parcerias com instituições competentes da cadeia produtiva. A abrangência desse programa compreende todo o território nacional e as metas visam à incorporação de 2.500 hectares na produção de flores, geração de 25 mil empregos diretos, capacitação técnico-gerencial de 5.000 profissionais e produtores, implantação de normas de produção integrada de flores e plantas ornamentais, estabelecimento inicial da proteção de 10 espécies de tropicais e 10 espécies de temperadas, e finalmente ampliar as exportações para US$ 80 milhões/ano até o final do ano de 2007. As ações desse programa compreendem: pesquisa e desenvolvimento, assistência técnica aos produtores de flores e plantas ornamentais, sistema de informações gerenciais e tecnologias do setor florícola e produção integrada de flores e plantas ornamentais. 5. CARACTERÍSTICAS DA REGIÃO SUL DA BAHIA 5. 1. Infra-estrutura A Região Sul da Bahia, com foco principal para a Região Cacaueira, dispõe de excelente infra-estrutura para o desenvolvimento da floricultura tropical: Aeroporto e porto marítimo com saídas para conexões internacionais; 261 Malha viária interligada às demais unidades da federação; Centros oficiais de pesquisas, extensão rural e ensino, com convênios institucionais em níveis nacional e internacional e corpo técnico de elevado nível técnico e pedagógico; Universidades e escolas de nível médio profissionalizantes; Instituições de comércio exterior; Mídia televisiva, falada e escrita de excelentes padrões de qualidade; Agentes financeiros oficiais e privados. 5. 2. Edafoclimáticas 5. 2. 1. Solo O levantamento pedológico realizado pelo Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC/CEPLAC/MAPA), tem toda a identificação e caracterização dos solos da Região Sul da Bahia onde, com base nas exigências para o cultivo de flores tropicais, pode-se identificar as áreas destinadas à produção dessas espécies. De uma maneira geral são encontrados solos de relevo plano a fortemente ondulado; tipos arenosos, próximos ao litoral, até argilosos, localizados mais afastados da parte costeira; fertilidade natural variando desde muito pobres, como as areias quartzosas até os de alta fertilidade, como os solos do “tipo Cepec”; Com relação à drenagem, existem desde os localizados em áreas alagadas até os excelentemente bem drenados. 5. 2. 2. Clima A temperatura média anual varia entre 25º a 27º C. A umidade relativa do ar é superior a 70%. As chuvas são superiores a 1.200 mm/ano, com excelente distribuição ao longo do ano. A intensidade luminosa é superior a 1.500 horas de luz/ano. Os ventos são amenos na maioria dos meses do ano. 6. EXIGÊNCIAS TÉCNICAS DO CULTIVO DE FLORES TROPICAIS As características a seguir são consideradas as ideais, no entanto apenas a necessidade de água é que não pode ser ajustada. É necessário que haja grande disponibilidade de água de boa qualidade. Trata-se de um fator limitante para o cultivo das flores tropicais. 262 De uma maneira geral, em relação ao solo para a produção de flores tropicais necessário se faz ter: Solo de textura arenosa a argilo-arenosa, tendo em vista que as plantas produtoras de flores tropicais são rizomatosas e necessitam de solos mais leves para o seu desenvolvimento e expansão das touceiras; Relevo preferencialmente plano, para facilitar todas as operaçõesde preparo da área, coveamento, transporte aplicação de corretivos e adubos, tratos culturais, colheita e transporte das flores, fazendo com que o rendimento da mão-de-obra seja baixo e os custos sejam altos. No entanto, em caso de declive, realizar o plantio utilizando-se os métodos de conservação do solo. Devem ser evitadas as áreas de declive acentuado; Naturalmente férteis, no entanto nas adubações de correção de fertilidade e/ou suplementares, basicamente são utilizados adubos orgânicos de qualquer origem, podendo ser complementado com adubação química por via foliar ou com adubos granulados. Vale salientar que se deve realizar análise do solo previamente; Bem drenados, pois as flores tropicais não suportam solos encharcados; pH de 4,5 a 6,5. Em caso de estar fora desta faixa, deve-se proceder à devida correção; As flores tropicais, por serem originárias de regiões de climas tropical e sub-tropical, apresentam algumas exigências em relação aos fatores climáticos, tais como: Temperaturas médias em torno de 26º C; Chuvas superiores aos 1.200 mm/ano e com boa distribuição, não dispensando com isso as irrigações suplementares, notadamente nos períodos em que a ocorrência entre uma chuva e outra se prolongue por muito. O sistema de irrigação ideal para as flores tropicais é o de microaspersão, por ser localizado, econômico e eficiente; Umidade relativa do ar em torno de 70 a 80%; Luminosidade superior a 1.200 horas/luz/ano; Ventos amenos, para que não ocorra tombamento das plantas. No entanto pode-se implantar cerca viva com planta de crescimento rápido, resistente e de porte alto, para formar uma cortina vegetal que funcionará como “quebra-ventos”. 263 7. CARACTERIZAÇÃO DAS FLORES TROPICAIS As flores tropicais são originárias das regiões intertropicais (Trópicos de Câncer e de Capricórnio), compreendendo a faixa localizada entre as linhas imaginárias à altura de Miami (Estados Unidos) e o Norte de Santa Catarina (Brasil). De uma maneira geral apresentam maiores desenvolvimentos em regiões de clima quente e úmido, e como sombreamento parcial. Botanicamente, as flores tropicais estão classificadas e distribuídas em oito famílias, as quais constituem a Ordem Zingiberales, a saber Cannaceae – Canna indica; Costaceae – Costus barbatus; Heliconiaceae – Heliconia bihai; Lowiaceae – Orchidantha sp.; Marantaceae – Calathea burle-marxii; Musaceae – Musa coccínea; Strelitziaceae – Strelitzia reginae; Zingiberaceae – Zingiber spectabilis. 8. SUGESTÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DA FLORICULTURA TROPICAL NA REGIÃO SUL DA BAHIA A Região Sul da Bahia tem potencial climático e edáfico que atende plenamente todos os requisitos técnicos para o cultivo de flores tropicais, como também a infra-estrutura existente servirá como excelente suporte para o escoamento da produção. Também outros segmentos da floricultura podem ser explorados, ampliando assim o leque de opções de produtos e serviços no segmento da floricultura, possibilitando uma grande oportunidade de geração, tais como a produção de flores em vaso, plantas ornamentais, orquídeas, bonsai, plantas suculentas e cactáceas, forrações e grama em tapetes e em plugs, plântulas por cultura de tecidos, paisagismo, jardinagem e arte floral. Carece aqui se evidenciar algumas sugestões de ordem técnicoorganizacional, para que se consiga êxito nesse segmento do agronegócio: Criar e instalar uma Câmara Setorial Integrada Regional, para atuar em consonância com os programas estadual e nacional da floricultura; 264 Identificar, catalogar e multiplicar as espécies de potencial econômico; Inserir a floricultura nos ensinos fundamental, médio e superior; v Incentivar o desenvolvimento de trabalhos científicos e acadêmicos em níveis de Doutorado, Mestrado, Especialização e de Estágio Supervisionado Orientado (ESO); v Realizar cursos de capacitação técnico-administrativa para toda a cadeia produtiva, buscando apoio nas instituições públicas e entidades privadas afetas ao setor; Participar de missões técnicas nacionais e internacionais, objetivando a transferência de tecnologias e abertura de fronteiras comerciais; Estimular o associativismo e cooperativismo; Implantar um Banco Ativo de Germoplasma (BAG) no Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC/CEPLAC/MAPA); Instalar uma coleção de espécies e variedades de flores tropicais no Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC/CEPLAC/MAPA), com os objetivos de realização de pesquisas multi-setoriais, multiplicação e fomento, além de se constituir num local de visita técnico-pedagógica e de divulgação; Inserir a floricultura num programa de agro-ecoturismo regional; Adequação do imposto sobre circulação de mercadorias (ICMS), que servirá de incentivo aos floricultores; Incentivar permanentemente o consumo de flores tropicais, através de um plano de marketing; Apoiar as exportações; Usar adequadamente todos os meios de comunicação, objetivando a popularização dos produtos e serviços relacionados com a floricultura tropical. 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHAGAS, A. J. da; FREITAS, N. B. de – Características do cultivo de flores tropicais na região da mata atlântica de Pernambuco. Recife/PE, 1999; CHAGAS, A. J. da. Floricultura tropical na zona da mata de Pernambuco. Série Empreendedor. Edição Sebrae, 2.000; 265 CASTRO, C. E. F. de. Helicônias para exportação – aspectos técnicos da produção. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Brasília, EMBRAPA – SPI, 1995; CASTRO, C. E. F. de. Projeto de implantação de cultivo de flores de corte de origem tropical para a AFLORAL. Maio de 1997; GARCES, L. A. Aves del paraíso (Strelitzia), ginger (Alpinia), heliconias (Heliconia). Ediciones HortiTecnia Ltda. Santa-fé de Bogotá, D. C. Colombia, 1998; LWITÃO, A. P. de S. Custos de produção de flores tropicais, FLORTEC Consultoria e Treinamento. Holambra/SP. Agosto de 2000; LAMAS, A. da M. Floricultura tropical – técnicas de cultivo. Sebrae/PE. Novembro de 2000. 266 A OBTENÇÃO DE BEZERROS DE BOA QUALIDADE E A PRODUÇÃO DE LEITE Marcos Almeida Sousa INTRODUÇÃO Um sistema de produção de leite, por definição, é aquele cuja principal finalidade da exploração é a produção de leite. Os bezerros são, predominantemente, comercializados após a apartação. Portanto, no conjunto das receitas de uma exploração de Bovinocultura Leiteira, além da venda do leite, observa-se a importante participação da venda de animais para reprodução (novilhas excedentes e tourinhos) e para recria, engorda e abate (bezerros, novilhas e vacas de descarte). É importante salientar que mesmo em um rebanho de alto nível de especialização leiteira (matrizes puras de raças européias especializadas), haverá receita com a venda de animais para abate (vacas de descarte) e que quanto menor for o nível de especialização leiteira do rebanho, tanto maior será a importância da venda de animais no conjunto de suas receitas. Há um entendimento comum entre os pecuaristas de corte da Região Sul da Bahia, compradores de bezerros para recria e engorda, de que os bezerros azebuados, ditos “bezerros brancos”, procedentes de rebanhos zebuínos comerciais de corte, comuns nesta região, são muito superiores aos bezerros procedentes de rebanhos mestiços euro-zebuínos leiteiros, ditos pejorativamente ”bezerros de leite”, “sorados”, “goelas-secas” ou “gabirus”, os quais são depreciados no mercado e comercializados com um deságio em torno de 10% a 15%. Diagnósticos de situação da Pecuária leiteira desta região têm demonstrado que, de fato, o bezerro produtos desta exploração apresenta alto índice de mortalidade, baixo peso vivo à apartação, baixa performance na recria e engorda e baixo rendimento de carcaça. Será que esta situação é imutável? Será que os bezer- Eng.º Agr.º, CEPLAC/CENEX/SERAT, Km 22 Rodovia Ilhéus/Itabuna - Ilhéus-BA. E-mail: [email protected] 267 ros procedentes de rebanhos mestiços euro-zebuínos leiteiros são necessariamente ruins, por uma condição genética? Ou será que podemos obtê-los com uma boa qualidade, adotando-se um melhor manejo? Estes mesmos diagnósticos referidos acima sugerem as prováveis causas principais para esta situação: falta de higiene, inobservância dos cuidados ao nascimento, subnutrição, carência mineral, alta infestação de endo e ectoparasitos e negligência das vacinações. Acreditamos que com a adoção de um manejo adequado da reprodução, alimentação e sanidade, podemos mudar esta realidade regional e produzirmos bezerros de boa qualidade em rebanhos mestiços eurozebuínos leiteiros, capazes de agregar receitas importantes à atividade leiteira através da recria e engorda, caso a propriedade tenha área disponível, ou pela venda após a apartação a pecuaristas de corte. Em 1996, foi implementado na Granja Experimental Carlos Brandão (GECAB), Ilhéus-BA, de propriedade da CEPLAC, um Sistema de Produção de Leite que pudesse servir de referência a uma parcela considerável de fazendas que exploram a atividade leiteira ou que tenham bom potencial para fazê-lo, especialmente na Região Cacaueira Baiana, como alternativa concreta de diversificação agroeconômica. Neste presente trabalho, este Sistema será apresentado dando-se ênfase à criação de bezerros, um dos seus aspectos mais fortes. OBJETIVOS - Avaliar técnica e economicamente um Sistema de Produção de Leite alternativo aos tradicionais; - Auxiliar na indicação de projetos de pesquisa para a solução de problemas identificados; - Servir como instrumento de validação e difusão de tecnologias geradas pela pesquisa; Proporcionar o treinamento de técnicos, produtores e mão-de-obra. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA A GECAB possui uma área total de 122 ha, dos quais 87 ha foram ocupados com o Sistema de Produção, está localizada a 50 m de altitude, 14º45‘15” de latitude sul e 39º13’59” de longitude oeste, segundo Koppen, o clima é do tipo AF (clima das florestas tropicais, quente e úmido, sem 268 estação seca definida e com pluviosidade total superior a 1.300mm/ano). A precipitação média é de 1.741 mm/ano, bem distribuída. A temperatura média é de 23,3ºC. Os solos predominantes são Alfisois e hidromórficos, num relevo plano e levemente ondulado, apresentando má drenagem em sua maior parte. A área total destinada ao Sistema de Produção esteve assim distribuída: - 86,00 ha de pastagens, predominando Brachiaria arrecta e Brachiaria mutica; - 0,50 ha de cana-de-açúcar (Saccarum officinarum L.); - 0,50 ha de capim elefante (Pennisetum purpureum Schum). RESUMO DA TECNOLOGIA UTILIZADA O rebanho do Sistema de Produção constitui-se de animais mestiços euro-zebuínos das raças européias Holandesa e Schwyz e da raça zebuína Gir, com grau de sangue variando de 1/4 a 3/4 EZ. A base da alimentação é a forragem produzida nas pastagens, coletada através de pastejo direto. Às vacas em lactação são destinados os piquetes mais próximos ao curral sob pastejo rotacionado, demais piquetes são destinados às vacas secas, bezerros e animais em recria sob pastejo alterno, de acordo com a disponibilidade de forragem. Todos os piquetes têm acesso a cocho saleiro e bebedouro. As vacas com produção até 10 kg de leite/dia não recebem concentrado, acima disso, recebem 1 kg de concentrado para cada 3 kg de leite produzidos acima deste patamar. As vacas secas e novilhas de recria só recebem ração de concentrado se houver necessidade. Durante o período de escassez de forragem, os animais, especialmente as vacas em lactação, recebem uma suplementação volumosa constituída de capim-elefante picado e/ou canade-açúcar picada com 1% da mistura uréia: sulfato de amônio (9:1). Ao nascimento, faz-se o corte e desinfecção do cordão umbilical com solução de iodo a 10% (1º ao 3º dia), promove-se a imediata ingestão do colostro, identifica-se o bezerro com brinco na orelha esquerda com o número de ordem da matriz e procede-se a sua pesagem, o que também é realizado aos 4 meses e à apartação. A descorna, com ferro quente, é realizada entre o 15º e 30º dia de vida. Durante a primeira semana de vida, os bezerros permanecem com a vaca mamando o colostro à vontade e o excesso é ordenhado duas vezes 269 ao dia (manhã e tarde), a partir da segunda semana até 120 dias de idade, mamam um teto mais o resíduo dos outros três tetos por ocasião das ordenhas, após têm acesso à forragem de piquetes e, em cocho coberto recebem, à vontade, concentrado para bezerros até o limite de 300 g/ cabeça/dia e suplemento mineral. Dos 121 dias até a apartação, mamam apenas o leite residual por ocasião das ordenhas, após têm acesso à forragem de piquetes e, em cocho coberto recebem, à vontade, concentrado para bezerros até o limite de 500 g/cabeça/dia e suplemento mineral. Os bezerros têm o seguinte esquema de vacinação: Paratifo – Vacinar vacas no 8º mês de gestação e bezerros no 15º dia de vida. Febre aftosa – Vacinar em março e setembro. Brucelose – Vacinar as fêmeas entre 3 e 8 meses de idade. Clostridioses – Vacinar entre 4 a 6 meses de idade. Reforço após 30 dias. Raiva – Vacinar entre 4 a 6 meses de idade. Os bezerros são everminados aos 30 dias de idade e, a partir daí, bimestralmente, até a apartação. Os carrapatos são combatidos sistematicamente a intervalos de 15 a 21 dias com produtos de multiação, que também atuam sobre bernes e moscas do chifre. Os bezerros são marcados a fogo com o número de ordem e o ferro “CG” da CEPLAC/GRANJA na perna direita, à apartação, quando são vendidos todos os todos os machos e fêmeos excedentes. As novilhas de reposição são recriadas em regime exclusivo de pasto até atingir o peso vivo de 300 kg, a partir do qual entram em reprodução. O método de reprodução é a inseminação artificial, sem estação de monta, sem repasse com touro e usando-se sêmen de touros provados. Para detectar o cio são utilizados rufiões que auxiliam o trabalho dos vaqueiros. As fêmeas com grau de sangue abaixo de 1/2 EZ são inseminadas com sêmen de touro Holandês. As fêmeas com grau de sangue acima de 1/2 EZ são inseminadas com sêmen de touro Gir. As fêmeas com grau de sangue 1/2 EZ são inseminadas com sêmen de touros das raças Holandês, Schwyz e Gir (1/3 para cada); entretanto, nos últimos três anos, utilizamos apenas Schwyz. Com isso conseguimos manter o padrão zootécnico do rebanho entre 1/4 e 3/4 EZ. 270 A ordenha é mecânica e realizada duas vezes ao dia (às 06:00 horas e às 14:30 horas) para as vacas com produção igual ou superior a 5 kg no somatório das duas ordenhas. O controle leiteiro é feito duas vezes ao mês, com intervalo de l5 dias. As vacas gestantes em lactação são secadas 60 dias antes do parto. Vacas com produção diária de até 2 kg de leite são soltas com suas crias até a apartação. O controle sanitário preventivo se inicia desde os cuidados com os recém-nascidos e continua com um calendário de vacinações e testes para as principais doenças, controle de endo e ectoparasitos, além de limpeza e desinfecção das instalações e cuidados de higiene da ordenha. O controle zootécnico é rigoroso e garantido pela identificação individual de todo o rebanho. RESULTADOS ALCANÇADOS A implantação efetiva do Sistema de Produção foi iniciada a partir de outubro/95, com uma duração de quatro anos, portanto, encerrando-se em outubro/99. Apresentamos, na tabela abaixo, as metas e os resultados alcançados neste período: Índices Zootécnicos Natalidade Mortalidade de 0 a 1 ano Mortalidade acima de l ano Vacas em lactação Taxa de lotação Produção/vaca/dia Período de lactação Produção/vaca/lactação Produção/ha/ano(vacas lactantes) Peso líquido à apartação - M/F Peso vivo de fêmeas - 12 meses Peso vivo ao 1º serviço Idade ao 1º serviço Idade ao 1º parto Intervalo entre partos Unidade % % % % U.A kg dia kg kg @ kg kg mês mês mês Metas 85 5 2 71 2,0 10 300 3.000 6.000 7,0/6,0 200 300 18 27 14 Resultados 76,85 <5 <2 64 1,44 7,8 266 2.075 2.988 7,0/6,5 210 308 20 30 14,63 Em apenas quatro anos de implantação do Sistema de Produção, foram obtidos expressivos índices de desempenho, comparativamente às estimativas regional e nacional, em que pese à simplicidade da tecnologia utilizada e o pequeno investimento necessário: 271 O índice de natalidade de 76,85% obtido é bom comparando-se ao estimado para a região em torno de 60%; A taxa de lotação média anual das pastagens de 1,44 U. A é o dobro da média regional; A produção de 7,8 Kg de leite/vaca/dia com um período de lactação de 266 dias é muito superior à média do rebanho regional, estimada em 2,5 Kg de leite/vaca/dia com um período de lactação de 210 dias; A produção de 2.075 kg de leite/vaca/dia é 2,6 vezes superior à média nacional e 4,2 vezes superior à média regional; A produtividade de 2.988 kg de leite/ha/ano é muito superior às médias nacional e regional, inferiores a 1.000 Kg/ha/ano; O intervalo entre partos de 14,63 meses, próximo à meta preconizada (14 meses), pode ser considerado muito bom, comparando-se com o nacional e o regional, estimados entre 18 a 20 meses. Quanto aos resultados diretamente relacionados à criação de bezerros, destacamos: Os índices de mortalidade de 0 a 1 ano (< 5%) e acima de 1 ano (< 2%) são muito bons em relação às estimativas médias regionais de 15 e 5%, respectivamente; Os pesos líquidos ao desmame de 7 @ para machos e 6,5 @ para fêmeas são, respectivamente, 40% e 62,5% superiores às médias regionais; As idades médias obtidas a 1ª inseminação (20 meses) e ao 1º parto (30 meses) são excelentes, comparadas às médias nacionais e regionais, estimadas em 33 e 42 meses, respectivamente. A análise destes resultados mostra que, com um manejo correto, bezerros procedentes de rebanhos mestiços euro-zebuínos leiteiros apresentam baixo índice de mortalidade, excelente peso vivo à apartação e, em função disso, desde que seja mantido o bom manejo, uma ótima performance na recria e engorda, podendo superar os bezerros procedentes de rebanhos zebuínos de corte em quesitos como precocidade e rendimento de carcaça. Com relação às fêmeas, especificamente, observamos que, por apresentarem uma boa performance nas fases de cria e recria, atingem mais precocemente o peso vivo ideal para entrada na fase reprodutiva, reduzindo a idade ao primeiro parto, o que é extremamente vantajoso. 272 O Sistema ora apresentado foi revisado e aperfeiçoado por seus autores e está previsto um segundo período de teste de mais quatro anos. A julgar pelo melhoramento genético já obtido, aliado à adoção de técnicas de manejo intensivo de pastagens, tais como pastejo rotacionado e adubação (até então se explorou somente a fertilidade natural do solo), além da conservação de forragem através da ensilagem para suplementação do rebanho nos períodos de escassez, os índices de desempenho reprodutivo e de produtividade animal e por área melhorarão significativamente, reduzindo os custos de produção e aumentando a receita líquida mensal. Este Sistema de Produção é perfeitamente viável e poderá ser bastante útil à grande massa de produtores de leite da Região Cacaueira Baiana. A tecnologia preconizada no Sistema já está sendo implementada por produtores regionais, os demais interessados devem procurar o Serviço de Assistência Técnica ou os Escritórios Locais do Centro de Extensão da CEPLAC. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Sistemas de Produção para a Pecuária Regional/Áreas Sul e Sudeste da Bahia. CEPLAC/DEPEX. 1981. Nascimento, E. C. do. A Bacia Leiteira do Pólo Itabuna. Ilhéus-BA. CEPLAC/DEPEX (Série Extensão Rural, Nº 3). 1985. Diagnóstico das Principais Explorações Agropecuárias da Área de Atuação do Departamento de Extensão. CEPLAC/DEPEX/APLAN. 1989. Sistema de Produção de Gado Leiteiro. CEPLAC/CEPEC. 1989. Projeto para o Desenvolvimento da Pecuária na Região Cacaueira do Sul da Bahia. CEPLAC. 1992. Sistema de Produção de Gado Leiteiro. CEPLAC/CEPEC. 1992. Sistema de Produção de Gado Leiteiro. CEPLAC/CENEX. 1992. Sistema de Produção de Gado Leiteiro para o Agrossistema Cacaueiro. CEPLAC/ CENEX/NUTEA. 1998. O Leite a Pasto da Embrapa. Noticiário Tortura. Edição de Setembro/Dezembro. 1998. Sistema de Produção de Leite com Gado Mestiço a Pasto.CEPLAC/CENEX/NUTEA. 2002. 273 O AGROPOLO VALE DO RIO DAS CONTAS NO ESTADO DA BAHIA COMO INSTRUMENTO DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL Antônio Carlos de Araújo1 Leonardo Ventura de Araújo2 Marcelo de Quadros Sampaio3 INTRODUÇÃO A criação de agropolos, também chamados de projetos de desenvolvimento integrado com base nas cadeias agroindustriais, tem sido uma das estratégias utilizadas no sentido de promover o crescimento econômico e social de uma determinada região. Os agropolos passaram a ser implantados em várias partes do mundo através de iniciativas de instituições governamentais e/ou outros atores sociais. No Brasil, os agropolos têm sido utilizados para alavancar regiões pobres, principalmente no Nordeste, e para fortalecer alguns nichos de agricultura em regiões mais desenvolvidas (ARAUJO et al., 2004). Os agropolos estão surgindo em razão das condições naturais favoráveis para o desenvolvimento do agronegócio sub-regional e, também devido à expressiva descentralização da agroindústria para as áreas produtoras beneficiadas com obras de infra-estrutura (transporte, energia, irrigação, etc.) e serviços tecnológicos. Os agropolos poderiam ser considerados clusters de empresas e instituições interconectadas, de 1. Economista, MSc., Pesquisador do Centro de Pesquisas do Cacau– CEPLAC/CEPEC, Km 22 da rodovia Ilhéus/Itabuna. Caixa Postal 07 - Itabuna-BA, Email: [email protected]. 2.Graduando do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC. Km 16 da rodovia lhéus/Itabuna. Cep: 45662-000 – Ilhéus – BA. Email: [email protected]. 3.Graduando da Faculdade de Tecnologia e Ciências de Itabuna – FTC, Praça José Bastos, nº 55 - Itabuna-BA. Email: [email protected]. 274 caráter complementar entre si, concentradas em uma dada região geográfica e trabalhando em um determinado setor econômico. Esses setores estariam relacionados ao sistema agroindustrial (VIEIRA ,1998; HADDAD, 1998; e PORTER ,1998). No Estado da Bahia, os agropolos têm se multiplicado em várias regiões a exemplo do Oeste do Estado, merecendo destaque a região do submédio Rio São Francisco, no qual os produtores dos municípios de Juazeiro, Curaçá, Sento Sé e Casa Nova cultivam vários tipos de frutas e são grandes exportadores de manga e uva, possuindo aproximadamente 100.000 ha irrigados entre projetos públicos e privados, com potencial para atingir 200.000 hectares, que requerem, estudos ambientais preventivos (EMBRAPA, 2005). A região Sudeste da Bahia teve o seu desenvolvimento sustentado na economia do cacau, cujo modelo econômico-social, contribuiu, no passado, para uma forte concentração de renda e dos fatores de produção. Com a crise causada pelos baixos preços do produto no mercado internacional e a ocorrência danosa, a partir de 1989, da enfermidade conhecida por vassoura-de-bruxa, doença de origem amazônica que ataca o cacaueiro e causa enormes prejuízos, está ocorrendo a busca de novas alternativas de geração de emprego e renda (ARAUJO et al., 2004). Segundo SAMPAIO (2005), o surgimento do agropolo do Vale do Rio das Contas foi resultado de um movimento realizado pela comunidade regional na busca da retomada do processo de desenvolvimento, em uma região penalizada com a crise da cacauicultura que atingiu com mais vigor os maiores produtores. Esta situação contribuiu para a redução do índice de Gini, já que a diminuição da riqueza dos mais abastados implicou em uma sociedade menos desigual do ponto de vista da distribuição da renda, e, também na redução expressiva da população rural. O Agropolo tem também recebido importante incentivo de pesquisadores da CEPLAC – Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira, instituição pertencente ao Ministério da Agricultura, e do Departamento de Economia Agrícola da Universidade Federal do Ceará, que através de estudos comprovaram o potencial da região para a fruticultura, além de observarem a existência de um parque agroindustrial dinâmico de polpa e sucos de frutas. Maiores detalhes encontram-se em ARAÚJO et. al, (1999). Neste estudo foi realizada a descrição de algumas características da região, além de explicitar as principais estratégias para a consolidação do agropólo. 275 PRODUTO INTERNO BRUTO Com base na Tabela 1 verifica-se o grau de empobrecimento dos municípios integrantes do agropolo do Vale do Rio das Contas. A soma das riquezas geradas (PIB) por esses municípios no ano de 1991 alcançou 1.445 milhões de reais, enquanto em 2000 foi reduzido para 735 milhões, ou seja, decresceu para quase a metade em um período de nove anos. Nesse mesmo período, a cacauicultura, considerada a principal fonte de renda da região, apresentou, segundo ARAUJO et. al. (2004), uma redução expressiva do valor da produção e um comportamento de destruturação da base produtiva. O PIB per capita da região, no mesmo período, caiu de R$ 3.828,00 para R$ 2.019,00, o que mostra que cada habitante, em média, ficou mais pobre. O município de Jequié, considerado como a principal economia do Agropolo, com maior grau de diversificação da agricultura, algumas indústrias, além de um setor terciário mais dinâmico, produziu em 1991, 44,24% da riqueza da região, evoluindo em 2000 para 48,31%. O município de Ipiaú vem em segundo lugar no ranking, embora a participação relativa do seu PIB, em relação aos demais municípios, tenha reduzido de 13,50% para 12,90% no período. Tabela 1 – Produto Interno Bruto dos municípios do agropólo do Vale do Rio das Contas nos anos de 1991 e 2000. Valores monetários em reais de 2004. Municípios Aiquara Apuarema Barra do Rocha Dario Meira Ibirapitanga Ibirataia Ipiaú Itagi Itagibá Itamari Jequié Jitaúna Nova Ibiá Ubatã Total PIB (em R$ 1.000) Total 1991 2000 24.912 21.152 27.971 42.241 98.710 57.954 193.403 64.997 96.151 43.598 639.299 64.096 22.239 48.401 1.445.124 19.771 15.668 22.221 22.833 29.912 37.202 94.893 25.999 43.705 13.305 355.166 20. 030 6. 739 27.675 735.120 Fontes dos dados básicos: SAMPAIO, 2005. 276 PIB (em R$ 1,00) Participação no PIB da região (%) per capita 1991 2000 1991 2000 3.768 2.766 2.886 3.127 3.685 2.554 4.578 4.466 4.828 4.937 4.416 3.077 2.118 1.869 3.828 3.720 2.105 2.752 1.500 1.349 1.504 2.175 1.777 2.542 1.594 2.413 951 940 1.269 2.019 1,72 2,69 1,46 2,13 1,93 3,02 2,92 3,10 6,83 4,07 4,01 5,06 13,5 12,9 4,50 3,54 6, 65 5,95 3, 01 1,81 44,24 48,31 4, 43 2,72 1, 54 0, 93 3, 35 3, 73 100,00 100,00 ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO A utilização desse índice é uma forma de mensurar o grau de desenvolvimento dos municípios integrantes do agropolo do Vale do Rio das Contas e permite também a comparação com outras regiões fornecendo um instrumental importante para a implementação de ações de melhoria da qualidade de vida da população estudada. Através da Tabela 2 verifica-se o IDH dos municípios que compõem o Agropolo nos anos de 1991 e 2000. A análise revelou que no ano de 1991 o município a apresentar o maior índice de desenvolvimento foi Jequié com 0,603, enquanto Barra do Rocha apresentou o menor, ou seja 0,419, estando, respectivamente, nas faixas de médio e baixo IDH. Em 2000, o município de Jequié continuou com o maior IDH. Dário Meira, apesar de ter aumentado o valor do índice (0,549) passou a ocupar o último lugar no conjunto dos municípios, tomando o lugar de Barra do Rocha no ranking. Todos os municípios apresentaram maiores valores do IDH em 2000 quando comparado com 1991. O município de Barra do Rocha foi o que teve o maior incremento relativo, com um crescimento de 38,19%, enquanto Jequié apresentou o menor incremento, apenas 15,09% . Através dos dados da Tabela, observa-se que um número expressivo de municípios apresentava, no ano de 1991, baixo Índice de Desenvolvimento Humano, inferior a 0,500. Em 2000 ocorreu uma mudança positiva nos indicadores de todos os municípios superando o índice 0,500, o que significa uma mobilização de baixo para médio IDH. Essa mudança foi, em parte, influenciada pela implementação de políticas públicas nas áreas de saúde e educação, já que nesse período ocorreu um declínio acentuado do produto regional. Deve-se mencionar que o Estado da Bahia, no ano 2000, apresentou um índice de 0,688 e o Brasil, no mesmo ano 0,766. O que significa que ambos apresentaram um Índice de Desenvolvimento Humano considerado médio (PNUD, 2005). Observa-se, portanto, que com exceção de Jequié, os municípios que fazem parte do agropolo do Vale do Rio das Contas apresentam índices de Desenvolvimento Humano inferiores à média do Estado. 277 Tabela 2 – Índice de Desenvolvimento Humano dos municípios que compõem o agropolo do Vale do Rio das Contas nos anos de 1991 e 2000. Municípios Aiquara Apuarema Barra do Rocha Dário Meira Ibirapitanga Ibirataia Ipiaú Itagí Itagiba Itamari Jequié Jitaúna Nova Ibiá Ubatã 1991 0,507 0,48 0,419 0,426 0,458 0,537 0,572 0,472 0,5 0,495 0,603 0,492 0,466 0,526 2000 0,627 0,617 0,579 0,549 0,601 0,642 0,662 0,586 0,615 0,635 0,694 0,619 0,616 0,64 Variação 23,67 28,54 38,19 28,87 31,22 19,55 15,73 24,15 23 28,28 15,09 25,81 32,19 21,67 Fonte: PNUD, 2005. INSTITUCIONALIZAÇÃO DO AGROPÓLO DO VALE DO RIO DAS CONTAS Com o envolvimento de um número crescente de produtores na cadeia agroindustrial da fruticultura, tornou-se necessária a institucionalização do agropólo do Vale do Rio das Contas, o que ocorreu, no mês de dezembro de 2006, na cidade de Salvador, em solenidade no auditório da Secretária de indústria, Comércio e Mineração do Governo do Estado, a assinatura do documento que reconhece a existência do agropólo e instrumentaliza os meios para a sua consolidação. Participaram da assinatura desse instrumento, as seguintes instituições: CEPLAC SENAR SEBRAE Consórcio dos Municípios do Vale do Rio das Contas Prefeituras Municipais Governo do Estado da Bahia: Secretaria de Indústria, Comércio e Mineração, da Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária e EBDA Centro Internacional de Negócios da Bahia – PROMO Instituto Biofábrica Organizações de Produtores 278 MISSÃO DO AGROPÓLO • Dinamizar a atividade rural através de investimentos na fruticultura e agregação de renda à cacauicultura; • Proporcionar o crescimento dos setores agroindustrial e de serviços; • Criar emprego e renda em nível compatível com as necessidades de desenvolvimento regional; • Contribuir na melhoria da qualidade de vida da população regional. SITUAÇÃO ATUAL DO SETOR AGRÍCOLA Com base em informações da Tabela 3 verifica-se que o agropólo do Vale do Rio de Contas vem expandindo a área cultivada com fruteiras, já tendo alcançado em 2005 uma produção de 3.943 toneladas de fruteiras em uma área de 372,5 ha, gerando 1.118 empregos diretos e um valor da produção de 2 milhões de reais. Atualmente toda a produção de frutas é direcionada ao parque agroindustrial de polpa de frutas existe na região. Tabela 3 – Situação do setor agrícola do agropólo do Vale do Rio das Contas no ano de 2005. Discriminação 2005 Número de Associações Produtores envolvidos Área plantada (ha) Produção (t) Empregos Diretos Valor da produção (milhões de reais) 22,0 180,0 372,5 3.943,0 1.118,0 2,0 Fonte dos dados básicos: CEPLAC, 2006 SITUAÇÃO ESPERADA PARA O SETOR AGRÍCOLA As projeções para os anos de 2006 e 2007 (Tabela 4) indicam um importante crescimento da área cultivada com reflexos positivos nos demais indicadores, a exemplo de 2.940 novos empregos e uma renda adicional de 5,1 milhões de reais. 279 Tabela 4 – Metas para o setor agrícola do agropólo do Vale do Rio das Contas para os anos de 2006 e 2007. Discriminação 2006 2007 Total Número de Associações 20 100 120 Produtores envolvidos 120 600 720 Área plantada (ha) 180 800 980 Produção (t) 1.890,00 8.400,00 10.290,00 Empregos esperados 540 2.400,00 2.940,00 Valor da produção (milhões de reais) 0,9 4,2 5,1 Fonte: dados da pesquisa. Para dar sustentabilidade ao agropólo, além da existência de um Grupo Gestor, responsável pela coordenação e execução das ações, o Presidente do Consórcio dos Municípios do Vale do Rio das Contas, através de portaria, criou um Grupo de Trabalho, constituído por técnicos de várias instituições no sentido de elaborar um Plano de Ação de médio e longo prazo para o agropólo. Esse Grupo deverá analisar toda a cadeia produtiva da fruticultura em um ambiente de cluster dando ênfase às questões de processamento e comercialização. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, A.C. de, MIDLEJ, R. R., os; GÓES, A. O. S.. Algumas Características do Agropolo do Vale do Rio das Contas. In: XLII CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 2004, Cuiabá. Dinâmicas Setoriais e Desenvolvimento Regional. – Brasília: Sober, 2004. ARAÚJO, A.C. de, KHAN, A. S., SILVA, L. M. R., VALENÇA, L. H. R. , CARVALHO, R. M. O agribusiness de polpa de frutas no Estado da Bahia. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 37, Foz do Iguaçu. Anais. –Brasília: SOBER, 1999. CEPLAC. Área e produção das principais culturas. Ilhéus: CEPLAC/CENEX (Setor de programação), 2006. 1 p. (Mimeo). EMBRAPA. A Região do São Francisco. Disponível em: <http://www.cnpma.embrapa.br>. Acessado em 10 de julho de 2005. HADAD, Paulo. R.A. A competitividade do agronegócio: estudo de cluster. In CALDAS, R de Araújo (EDITOR). Agronegócio Brasileiro: Ciências, tecnologia e competitividade. – Brasília: CNPq, 1998. PNUD. Desenvolvimento Humano. Disponível em: <http:// www.pnud.org.br.> Acessado em 08 de fevereiro de 2005. PORTER, M.E. Clusters and the new economics of competition. Havard Business Revew, novembro-dezembro, 1998. SAMPAIO, M. Q. Características Sócio-Econômicas do Agropolo do Vale do Rio das Contas. – Itabuna: FTC, 2005, 31 p. (Monografia de Graduação). VIEIRA, P.M. Caracterização básica desejável dos Agropólos. Workshop sobre políticas de implementação de Agropólos. – Brasília: ABIPTI, 1998 280 AGRICULTURA DE BAIXO USO DE INSUMOS EXTERNOS E AGROECOLOGIA João Antonio Firmato de Almeida A VISÃO AGROECOLÓGICA Os ecossistemas atualmente existentes são o resultado de milhões de anos de “ensaio e erro” no processo de coevolução de um enorme número de espécies. Nesse processo, as espécies não sustentáveis foram eliminadas, possivelmente por não se adaptarem às condições climáticas, por serem excessivamente suscetíveis a pragas e doenças, por não serem capazes de obter alimentos e energia suficiente ou simplesmente por que não puderam competir com as espécies mais eficientes. Assim, os ecossistemas estão sempre em mudança, à medida que prossegue esse processo de seleção natural. A ecologia, enquanto ciência biológica, é o estudo das relações entre os organismos e seu ambiente. Apesar da grande diversidade de ecossistemas que, felizmente, ainda existem, foi possível identificaremse alguns princípios e processos básicos comuns. A ecologia pode oferecer importantes percepções para o estudo dos sistemas agrícolas que, por força ou por escolha, também sofrem mudanças constantes e se adaptam a restrições em função do ambiente. A fusão de ciências que constitui a nova ciência da agroecologia procura combinar elementos tanto da ciência agrícola como da ecologia convencionais. Compreendendo os princípios que fundamentam essa nova ciência os princípios agroecológicos podem ser aplicados para criar sistemas agrícolas de baixo uso de insumos externos. Técnico em Agropecuária CEPLAC/CENEX-Núcleo de Agroecologia 281 NICHOS ECOLÓGICOS PARA A DIVERSIDADE FUNCIONAL Um dos conceitos centrais da ecologia é o de nicho: refere-se à função ou ao papel de um dado organismo no ecossistema, conjuntamente com os recursos de que esse organismo depende, que são também os fatores que vão determinar as suas chances de sobrevivência e seus efeitos positivos ou negativos sobre outros componentes. Um nicho pode ser ocupado por mais de uma espécie, e cada uma delas pode ajudar a criar as condições de sobrevivência para as outras. Pode também existir nichos vazios ou temporariamente vazios, o que significa que há recursos locais subutilizados e que existem oportunidades no sistema para o surgimento de novos componentes. Os agroecossistemas que abrangem muitos nichos distintos, cada um deles ocupado por muitas espécies diferentes – em outras palavras, agroecossistema com alto grau de diversidade – serão, provavelmente, mais estáveis do que aqueles compostos por apenas uma espécie (uma monocultura, por exemplo). Por conseguinte, redundam em maior segurança para o agricultor. No entanto, a diversidade não leva necessariamente à estabilidade: pode até causar instabilidade, se os componentes não forem bem escolhidos. É o caso, por exemplo, de algumas espécies arbóreas, que são hospedeiras de insetos e doenças prejudiciais à lavoura; ou o caso em que há competição entre culturas agrícolas, animais domésticos e árvores por mão de obra, nutrientes ou água (Dover & Talbot, 1987). No entanto, se for possível alcançar a diversidade funcional através da combinação de espécies animais e vegetais que tenham características complementares e que estejam envolvidas em interações sinérgicas positivas, então serão aprimoradas não apenas a estabilidade como também a produtividade dos sistemas agrícolas de baixo uso de insumos externos. A COMPLEMENTARIDADE NOS AGROECOSSISTEMAS Dentro do sistema de produção de um estabelecimento agrícola, os componentes se complementam quando realizam diferentes funções (produtivas, reprodutivas, de proteções, sociais) e quando preenchem diferentes nichos ecológicos, espaciais, econômicos ou organizacionais. É o caso, por exemplo, dos componentes que aproveitam: • diferentes camadas de solo (plantas com enraizamento superficial ou profundo); 282 • • • • • • • • • diferentes graus de absorção dos nutrientes (plantas com maior ou menor necessidade de determinados elementos, que absorvem ou não nutrientes residuais ou nutrientes com maior ou menor eficiência); diferentes intensidades de luz (plantas que preferem a sombra ou a claridade); diferentes níveis de umidade do ar (maior ou menor necessidade de umidade, maior ou menor resistência ao vento); diferentes graus de umidade do solo (maiores ou menores necessidades); solos de diferentes qualidades (mais ou menos pedregosos, profundos, declivosos, ou férteis; com maior ou menor umidade; com diferentes graus de resistência ao encharcamento); biomassa não diretamente utilizável pelos humanos (ervas infestantes, restos de cultura, insetos, folhas de plantas lenhosas); diferentes tipos de mão de obra, em diferentes períodos; diferentes mercados (culturas agrícolas com diferentes graus de risco no mercado, produtos fora de época, gado); diferentes necessidades da família. A SINERGIA NOS AGROECOSSITEMAS Diz-se que os componentes do sistema de produção do estabelecimento agrícola interagem sinergicamente quando eles, além de cumprirem sua função primária, levam à melhoria das condições para outros componentes do sistema, através, por exemplo: • • • • • • da produção de microclimas favoráveis; da produção de substâncias químicas que estimulem os componentes desejáveis ou suprimam os prejudiciais (efeitos alelopáticos das secreções das raízes ou das coberturas mortas); da redução das populações de pragas (por exemplo, plantios consorciados, plantas usadas como armadilha); do controle de ervas infestantes; da produção de medicamentos (tanto para os humanos como para os animais de criação) ou de pesticidas e repelentes de origem vegetal; da produção e da mobilização de nutrientes (por exemplo, fixação de nitrogênio ou simbiose das micorrizas); 283 • • • • da produção de biomassa ou resíduos vegetais que sirvam para alimentação animal ou para a nutrição mineral das plantas; da produção de cobertura sobre o solo ou de estruturas radiculares que aprimorem a conservação da água e do solo; dos sistemas radiculares profundos que aprimoram a reciclagem de água e nutrientes perdidos por causa da lixiviação ou que estejam fora do alcance das plantas cultivadas; do uso da tração animal. As funções sinérgicas dos componentes também podem ser exemplificadas através de: faixas de plantio em nível, que conservam o solo e a água, e que, ao mesmo tempo, produzem alimentos e forragem; quebra-ventos ao redor de campos de plantio, que os protegem contra os animais e o vento, e que, ao mesmo tempo, produzem combustível, alimentos, forragens e remédios. Plantas e animais que cumprem várias funções como, por exemplo, espécies de capim que são usados em terraço e também para produção de forragem ou animais que fornecem esterco, leite e tração servem também como reserva de capital, sendo muito importante nesse sentido. A exploração mais completa possível dessa diversidade de funções resulta em sistemas de produção de estabelecimentos agrícolas complexos e integrados, que fazem uso ótimo dos recursos e dos insumos disponíveis. O desafio é descobrir-se qual a combinação de plantas, animais e insumos levam à maior produtividade, segurança e conservação de recursos, dadas as restrições de terra, trabalho e capital. PRINCÍPIOS DA ECOLOGIA Redes Em todas as escalas da natureza, encontramos sistemas vivos alojados dentro de outros sistemas vivos – redes dentro de redes. Os limites entre esses sistemas não são limites de separação, mas limites de identidade. Todos os sistemas vivos comunicam-se uns com os outros e partilham seus recursos, transpondo seus limites. Ciclos Todos os organismos vivos, para permanecerem vivos, têm de alimentar-se de fluxo contínuo de matéria e energia tiradas do ambiente em que vivem: e todos os organismos vivos produzem resíduos continuamente. 284 Entretanto, um ecossistema, considerado em seu todo, não gera resíduo nenhum, pois o resíduo de uma espécie é o alimento da outra. Assim, a matéria circula continuamente dentro da teia da vida. Energia solar É a energia solar, transformada em energia química pela fotossíntese das plantas verdes, que move todos os ciclos ecológicos. Alianças (parcerias) As trocas de energia e de recursos materiais num ecossistema são sustentadas por uma cooperação generalizada. A vida não tomou conta do planeta pela violência, mas pela cooperação, pela formação de parcerias e pela organização em redes. Diversidade Os ecossistemas alcançam a estabilidade e a capacidade de recuperar-se dos desequilíbrios por meio da riqueza e da complexidade de suas teias ecológicas. Quanto maior a biodiversidade de um ecossistema, maior a sua resistência e capacidade de recuperação. Equilíbrio dinâmico Um ecossistema é uma rede flexível, em permanente flutuação. Sua flexibilidade é uma conseqüência dos múltiplos elos e anéis de realimentação que mantêm o sistema num estado de equilíbrio dinâmico. Nenhuma variável chega sozinha a um valor máximo; todas as variáveis flutuam em torno do seu valor ótimo. A Agroecológia tem sido definida na América Latina especialmente no Brasil, como sendo exatamente este padrão técnico agronômico, (assentado em pesquisa científica e gradativa participação popular), por certo capaz de orientar as diferentes estratégias de desenvolvimento rural sustentável, avaliando as potencialidades dos sistemas agrícolas através de uma perspectiva social, econômica e ecológica, que possa viabilizar a agricultura com baixo uso de insumos externos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALTIERE, M. Agroecologia. Rio de Janeiro, PTA/FASE, 1989. CAPRA, Fritjof. As Conexões Ocultas ciência para uma vida sustentável. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Editora Cultrix, 2002. 285 CHABOUSSOU, F. Plantas Doentes Pelo Uso de Agrotóxicos teoria da trofobiose. Tradução de Maria José Guazzelli. Porto Alegre: Editora L&PM, 1ª ed., 1987. GLIESSMAN, S. R. Agroecologia: Processos Ecológicos em Agricultura Sustentável. Porto Alegre: Editora da Universidade, 2ª ed., 2001. KHATOUNIAN, Carlos A. A Reconstrução Ecológica da Agricultura. Botucatu: Agroecológica, 2001. PASCHOAL, Adilson D. Produção Orgânica de Alimentos: agricultura sustentável para o século XX e XI. Piracicaba: PCLQ/USP, 1ª edição, 1994. PRIMAVESI, A. M. Manejo Ecológico do Solo: a agricultura em regiões tropicais. São Paulo, Editora Nobel, 1ª edição, 1979. REIJNTJES, Coen. Agricultura Para o Futuro: uma introdução à agricultura sustentável e de baixo uso de insumos externos. Coen Reijntjes, Bertus Haverkort, Ann Waters-Bayer. Tradução John Cunha Comeford. Rio de Janeiro: AS-PTA/ FASE, 1994. 286 AGROINDÚSTRIA COMO ALTERNATIVA DE AGREGAÇÃO DE VALORES Gilmar Vieira Com o avanço tecnológico no setor agrícola e os incentivos de produção em grandes áreas, surgiu uma pequena parcela de empresários rurais com grande concentração de terras e de renda. Este avanço tem provocado em geral resultados negativos, principalmente, na falta de emprego nas famílias de pequenos e médios agricultores, apesar do aumento da produção dos produtos agrícolas. Também tem provocado uma migração dos filhos ou de toda família para os centro urbanos, gerando índice elevado do desemprego. Além de muitos outros problemas, tais como: diminuição na qualidade de vida destas famílias, degradação do meio ambiente, devido à falta de um planejamento de ocupação das áreas agrícolas, e um fato muito importante, o desaparecimento das tradições e das técnicas artesanal de processamentos dos alimentos, no meio rural. Mas de todos estes problemas, o mais grave, são os índices elevados de perdas dos produtos agrícolas, principalmente frutas e hortaliças. No Brasil estas perdas são estimadas até 40%, deste a colheita ao consumidor. A maioria ocorre devido ao mau manuseio, a comercialização “in natura”, e a falta de conhecimento das boas práticas de produção, para evitar as perdas. Estas perdas poderiam estar alimentando e melhorando a vida dos agricultores familiares. Em vista de todos estes problemas, nos últimos anos, o governo vem incentivando a fixação dos agricultores no campo, através de programas de desenvolvimento de pequenas agroindústrias ou agroindústria familiar, com o aproveitamento e agregando valor em toda produção. A agroindústria é um segmento de elevada importância econômica, por sua participação na cadeia produtiva e pelas ligações que UESC- BA 287 mantém como os demais setores da economia. Nestas agroindústrias podem ser fabricados doces, geleias, desidratados, polpas, picles e os derivados do leite e da carne, além do aproveitamento de um processo de produção etc. Todas estas atividades possuem características comuns, no que se refere às tradições e métodos de industrialização dos produtos. Bem como, baixo desenvolvimento tecnológico e elevada aceitação pelos consumidores nos grandes centros urbanos. Um outro fator muito importante é o processo de fabricação dos produtos que é realizado em grande parte por mão-de-obra familiar, consequentemente, baixos custo de produção e melhoria na renda familiar, porém, com baixa controle sanitário. As agroindústrias rurais vêm crescendo nos últimos anos, e têm refletido um aumento na organização entre os agricultores em associações, que é muito importante na comercialização dos produtos. A comercialização de toda produção é realizada em feiras livres, lojas de produtos alimentícios ou em lojas da própria associação. Dentro do processo de industrialização, uma vertente muito importante são os cuidados com a higiene com a matéria prima e os produtos já elaborados. Numa unidade agro-industrial, as boas práticas de fabricação são muito importantes, e devem ser seguidas corretamente, pois, um produto produzido fora das boas práticas de fabricação não pode ser comercializado, além de trazer risco para o consumidor. Estes cuidados também são responsáveis pela aceitação e conservação dos produtos processados. 288 CONSTRUÇÃO COM SOLO CIMENTO Efren de Moura Ferreira Filho1 Eduardo César Almeida Lavinsky2 RESUMO O solo-cimento é um material alternativo de baixo custo, obtido pela mistura de solo, cimento e um pouco de água. No início, essa mistura parece uma “farofa” úmida. Após ser compactada, ela endurece e com o tempo ganha consistência e durabilidade suficiente para diversas aplicações no meio rural. Uma das grandes vantagens do solo-cimento é que o solo, um material local, constitui justamente a maior parcela da mistura. A solo-cimento é uma evolução de materiais de construção do passado, como o barro e a taipa. Só que as colas naturais, de características muito variáveis, foram substituídas por um produto industrializado e de qualidade controlada: o cimento. Este material de construção vem suprir boa parte das necessidades de instalações econômicas na maioria das regiões rurais e suburbanas no Brasil. O uso do solo-cimento no Brasil vem, desde 1948, ajudando na satisfação de tais necessidades, encontrando-se hoje já bastante difundido. A presente comunicação relata aspectos técnico-econômico-sociais de alguns anos de trabalho com esta modalidade de construção na CEPLAC/EMARC-UR. * Eng°. Agrimensor, Técnico em Assuntos Educacionais (Escola Média de Agropecuária Regional da CEPLAC/EMARC – URUÇUCA – BAHIA). 2 Tec. Agrimensor, Agente de Serviço de Engenharia (Escola Média de Agropecuária Regional da CEPLAC/EMARC – URUÇUCA – BAHIA). 289 Nesses quase 27 anos de experiência na região cacaueira, destacamse obras no meio rural e urbano, em particular a construção de uma creche com 1.240 m2 em Juçari-Ba, sendo a segunda maior obra de solocimento no Brasil. A tecnologia do solo-cimento é aplicada às construções das populações de baixa renda e foi introduzida na comunidade da região cacaueira porque tem como benefícios: a economia de tempo e material, bem como facilidade de execução atendendo a segmentos da população na faixa de pobreza, como é o caso dos “sem-terra”, permitindo o uso de mutirões. Palavras chaves: Construção (solo-cimento) Solo-cimento (Região cacaueira/Ba) MODOS DE UTILIZAÇÃO Há quatro modos de utilização do solo-cimento: tijolos ou blocos, pavimento, parede maciço e ensacado. Os tijolos ou blocos de solocimento são produzidos em prensas, dispensando a queima em fornos. Eles só precisam ser umedecidos, para que se tornem resistentes. Além de grande resistência, outra vantagem desses tijolos ou blocos é o seu excelente aspecto. Os pavimentos também são compactados no local, com o auxílio de formas, mas em uma única camada. Eles constituem placas maciças, totalmente apoiadas no chão. As paredes maciças são compactadas no próprio local, em camadas sucessivas, no sentido vertical, com o auxílio de formas e guias. O processo de produção assemelha-se ao sistema antigo de taipa de pilão, formando painéis inteiriços, sem juntas horizontais. O solo-cimento ensacado resulta da colocação da “farofa” úmida em sacos, que funcionam como formas. Depois de terem a sua boca costurada, esses sacos são colocados na posição de uso, onde são imediatamente compactados um a um. O processo de execução assemelha-se à construção de muros de arrimo com matacões de pedra. VANTAGENS O solo-cimento vem se consagrando como tecnologia alternativa por oferecer o principal componente da mistura - o solo – em abundância na natureza e geralmente disponível no local da obra ou próxima a ela. 290 O processo construtivo do solo-cimento é muito simples, podendo ser rapidamente assimilado por mão-de-obra não qualificada. Apresenta boas condições de conforto, comparáveis às construções de alvenarias de tijolos cerâmicos, não oferecendo condições para instalações e proliferações de insetos nocivos à saúde pública, atendendo às condições mínimas de habitabilidade. É um material de boa resistência e perfeita impermeabilidade, resistindo ao desgaste do tempo e à umidade, facilitando a sua conservação. A aplicação do chapisco, emboço e reboco são dispensáveis, devido ao acabamento liso das paredes monolíticas, em virtude da perfeição das faces (paredes) prensadas e a impermeabilidade do material, necessitando aplicar uma simples pintura com tinta à base de cimento, aumentando mais a sua impermeabilidade, assim como o aspecto visual, conforto e higiene. SOLO-CIMENTO – MATERIAIS CONSTITUINTES Solo Os solos adequados são os chamados solos arenosos, ou seja, aqueles que apresentam uma quantidade de areia na faixa de 60% a 80% da massa total da amostra considerada, conforme figura. A areia não é um solo arenoso, porque não tem nenhuma quantidade de argila. Portanto ela não é adequada para produzir solo-cimento. O solo argiloso, que contém mais argila do que areia, também não é adequado. Ele requer uma quantidade maior de cimento, e é difícil de misturar e de compactar. Mas ele pode ser corrigido, com a adição de areia. O solo adequado não deve conter pedaços de galhos, folhas, raízes ou qualquer outro tipo de material orgânico que podem prejudicar a qualidade final do solo-cimento. Solos com muito material orgânico devem ser descartados para a produção de solo-cimento, pois a sua limpeza é muito difícil. Quando este tipo de solo não for encontrado, pode-se fazer uma correção granulométrica no solo encontrado (70% de areia e 30% de silte e argila), misturando uniformemente e peneirando-os, obtendo-se o mesmo resultado. Nas misturas usuais, as quantidades variam na faixa de 12 a15 partes de cimento para 100 partes de solo seco, em massa, o que corresponde, em média, à proporção cimento: solo. Desta maneira, é facilmente notada 291 Solos adequados para a produção de solo-cimento a importância que a escolha de um solo adequado representa para a produção de um solo-cimento com qualidade. Na obtenção do solo, para grande volume de obras, a dosagem do cimento deve ser determinada em laboratório, atendendo não só a qualidade final, mas também à economia, pois um traço exageradamente rico em cimento poderia comprometer a construção. Escolhido o material e determinada a dosagem (traço), o construtor prepara a mistura de forma semelhante a que se faz para outras argamassas. Quando o volume de obras é pequeno, existem testes para a avaliação das características granulométricas de um solo. Alguns deles são feitos, como o Teste da garrafa e o da Retração do solo. PREPARO DA MISTURA Mistura manual do solo-cimento a) Passe o solo por uma peneira de malha (abertura) de 4cm a 6cm; b) Esparrame o solo sobre uma superfície lisa e impermeável, formando uma camada de 20cm a 30cm. Espalhe o cimento sobre o solo peneirado e revolva bem, até que a mistura fique com uma coloração uniforme, sem manchas de solo ou de cimento; 292 c) Espalhe a mistura numa camada de 20cm a 30cm de espessura, adicione água, aos poucos ( de preferência usando um regador com “chuveiro” ou crivo), sobre a superfície e misture tudo novamente. Os componentes do solo-cimento podem ser misturados até que o material pareça uma “farofa” úmida, de coloração uniforme, próxima da cor do solo utilizado, embora levemente escurecida, devido à presença da água. É muito importante que a quantidade de água da mistura esteja correta. O solo-cimento compactado com muita água perde resistência e pode até trincar. Se a mistura tiver pouca água, a compactação fica difícil e também haverá perda de resistência. Existem testes práticos para verificar se a quantidade da mistura está correta: - Encha bem a mão com a mistura e aperte com muita força. Logo em seguida, abra a mão. O bolo formado deve apresentar a marca dos seus dedos com nitidez. Se não apresentar essas marcas, há falta de água na mistura. Nesse caso, ponha aos poucos mais água na mistura, e repita o teste até aparecer a marca dos dedos; A seguir, deixe o bolo cair no chão, de uma altura de cerca de 1m. No impacto, o bolo deve se desmanchar. Se isso não ocorrer, há excesso de água na mistura. Nesse caso, esparrame e resolva a mistura, para que o excesso de água evapore. Repita o teste, deixando o bolo cair de novo, para verificar se a quantidade de água chegou ao ponto correto. A mistura do solo-cimento começa a endurecer rapidamente. Por isso, ela deve ser usada, no máximo, duas horas após o preparo. Portanto, evite preparar mais solo-cimento que possa utilizar nesse intervalo de tempo. FERRAMENTAS NECESSÁRIAS BÁSICAS: cavador, enxada, enxadete, pá, picareta, cordão de nylon, martelo, escala numérica, serrote, colher de pedreiro, balde, nível de bolha, mangueira de nível, esquadro, carro de mão, prumo, peneira, etc. ESPECIAIS: forma para estaca de concreto, forma para compactação de parede com parafusos específicos. COMENTÁRIOS FINAIS As possibilidades de aplicação do solo-cimento na área rural e urbana estão longe de serem esgotadas. 293 Por ser um processo de fácil assimilação por qualquer pessoa, utilizando somente materiais locais, não necessitando de energia de qualquer natureza para sua produção, nem mesmo animal, a tecnologia do solo-cimento certamente se constitui no processo que permitirá uma verdadeira revolução nas construções rurais e urbanas brasileiras, pois associa um baixo custo a uma elevada qualidade. A EMARC URUÇUCA dispõe de informações específicas sobre as diferentes aplicações do solo-cimento, disponibilizando-se para fornecer maiores detalhes das técnicas construtivas. 294 COMPOSTAGEM DE RESÍDUOS ORGÂNICOS Agamenon de Almeida Farias1 APRESENTAÇÃO A CEPLAC, através do CENEX/Núcleo de Agroecologia, vem conduzindo um trabalho técnico e cientifico voltado para a agroecologia, onde a pequena produção e a agricultura familiar estão sendo beneficiadas com conhecimento e aprendizagens em suas propriedades, visando um melhor entendimento dessas comunidades para que se faça uma reflexão sobre a agricultura convencional aplicada na região do cacau, que nos fizeram “ricos” e que também nos empobreceu. Uma agricultura que excluiu mais de 300.000 operários rurais desmatou a mata atlântica, poluiu nossos solos e rios, intoxicou nossos trabalhadores e provocou um inchaço humano de miseráveis em nossas cidades. O Núcleo de Agroecologia está introduzindo um novo conceito de produção de cacau e de outros cultivos por entender que é só através da diversificação com policultivo, utilização de resíduos orgânicos da propriedade como fertilizantes; manejo ecologicamente correto com adubação verde, cobertura morta, criação de pequenos animais, reflorestamento e outros, se pode garantir a tão sonhada sustentabilidade do nosso ambiente e melhor qualidade de vida do povo da região cacaueira. 1 CEPLAC/CENEX (73) 3214-3326/3328 E-mail: [email protected] 295 INTRODUÇÃO O conhecimento das propriedades físicas e químicas das substâncias húmicas, assim como da atividade microbiana (Adhikari e Mendel, 1970, Baker, 1973; Ghosh et al, 1983; Igue, 1984; Schelmitzer e Poapst, 1967; Tan, 1975; Tiessen et al, 1984) indica a necessidade de um melhor aproveitamento dos resíduos rurais (esterco, cama de aviário, restos de cultura, ervas daninhas, folhagem, etc.) utilizados num adequado manejo do solo, permitindo a manutenção e incremento da produtividade do mesmo. Isso porque a matéria orgânica fisicamente estabilizada é um reservatório importante, com um período de transformações intermediário, tendo grande participação no suprimento de nutrientes e na formação e estabilidade dos agregados em solos agrícolas (Cheshine et al, 1984, Lynch, 1984, Oades, 1984). De maneira geral a compostagem é uma técnica, relativamente simples, que pode ser utilizada por qualquer individuo (grandes, médios, pequenos e agricultores familiares), contudo, alguns princípios devem ser levados em consideração de modo a garantir qualidade em sua elaboração e no húmus produzido. A compostagem é um processo de decomposição aeróbica onde a ação e a interação dos microrganismos também dependem da ocorrência de condições favoráveis, tais como: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Temperatura; Umidade; Aeração; pH; Tipo de compostos orgânicos e concentração; Tipo de nutrientes disponíveis; Formato das leiras; Relação C/N O Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC) desenvolve trabalhos técnicos e científicos com compostos orgânicos de: casca de cacau e esterco bovino, casca de cacau e esterco suíno, vermicomposto da casca de cacau, esterco de curral e atualmente o composto da casca de cacau. Em nível da pequena produção a recomendação do composto da casca de cacau picotado, no mesmo lugar da quebra dentro da roça e obedecendo ao manejo recomendado reduz significativamente os custos de produção do composto com a mesma qualidade. 296 Vantagens do composto da casca de cacau picotado produzido na roça: • Elimina o transporte para a sede (redução nos custos); • Elimina o transporte do composto pronto para as roças (redução nos custos); • Associa a prática da quebra com a prática da compostagem (qualidade do composto); • Menor perda de nutrientes do composto; • Proximidade dos resíduos necessários para cobertura do composto (folha de banana, etc); • Redução do tempo de aplicação do composto; • Redução da fonte de patógenos (podridão parda e vassoura-debruxa); • Redução dos custos de adubação. Às propriedades que possuem agroindústria de beneficiamento de cacau e que obrigatoriamente recolhe os frutos até a sede se recomenda a trituração da casca de cacau com máquina, devido ao grande volume produzido, o que resultará um composto da casca de cacau com 105 dias, com revolvimentos a cada 21 dias. No campo de compostagem da CEPLAC foram executados experimentos com resíduos orgânicos, aguapé (baronesa), capim e lixo orgânico, de Itabuna. As recomendações para formação dos compostos e suas análises estão a seguir Composto Orgânico Casca de Cacau: Após a quebra do cacau nos primeiros dias (até o 7º dia), picotar com facão na roça em pedaços bem pequenos (3 cm) ou triturar com máquina apropriada, no caso de fazendas que beneficiam os frutos (polpa), depois faz-se um monte no formato de cupinzeiro até a altura máxima de 95 cm, depois cobrir com folhas. Revolvimento: a cada 21 dias durante 05 revolvimentos, totalizando 105 dias. Composto pH Ca Mg P2o5 Casca de Cacau 6,5 1,41 0,5 0,4 C/N N% K2O 12 1.3 1,64 M.O. Fe Zn Cu Mn - 10.513 102 53 422 Fonte: CEPEC Aplicação do Composto (Cacau): Recomendações: Segundo Chepote (2003), a aplicação de 8,8 t/ha/ ano de composto de casca do fruto de cacau promoveu um incremento 297 de 133% na produção de amêndoas secas de cacau em relação à testemunha. Os adubos orgânicos devem ser aplicados nas seguintes doses: 2 kg/cova de composto de casca de cacau e/ou esterco de gado no momento do plantio, e 4, 6 e 8 t/ha no 1º, 2º e 3º ano, respectivamente. 700 Testemunha 600 Adubo Mineral (340 kg/ha da fórmula 19-19-19) 500 Vermicomposto da Casca de Cacau (8,8 t/ha) 400 Vermicomposto da Casca de Cacau e esterco de curral (8,8 t/ha) 300 Composto de casca de Cacau (8,8 t/ha) 200 Vermicomposto de casca de Cacau(4,4 t/ha) + Adubo Mineral (70 kg/ha da fórmula 19-19-19) 100 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Vermicomposto de casca de Cacau e esterco de curral (4,4 t/ha) +Adubo Mineral (70 kg/ha da fórmula 19-19-19) Composto de casca de Cacau (4,4 t/ha) +Adubo Mineral (70 kg/ha da fórmula 19-19-19) FONTE: Chepote R.E. – CEPEC. O CEPEC mantêm um minhocário nas suas instalações para treinamentos de produtores que desejam produzir vermicomposto. Capim + Chorume: Deve-se colocar uma camada de 30 cm de capim e regar com chorume de esterco verde de curral e água (50 kg de esterco e 100 litros de água), após a rega colocar outra camada de capim e assim sucessivamente até a altura de 1,2 metros, revolvimento de 10 em 10 dias com 4 revolvimentos, largura de 1,50 a 2,0 m e comprimento máximo de 15 metros. (Fonte: Agamenon Farias, CEPLAC/CENEX). 298 Composto pH Ca M g P2o5 C/N Capim + 6 Esterco Bovino Fonte: CEPEC N% K2 O Fator M.O. Umid. Fe Zn Cu M n Umidade 0,81 14.573 43,38 31,18 12080 102 28 825 1,1 0,7 1,07 19,06 0,9 COMPOSTO ORGÂNICO ESTÁTICO Baronesa + Esterco Bovino: Deve-se 1º formar uma parede de capim de 30 cm de altura e 30 cm de largura e comprimento no máximo até 10 metros. Coloca-se uma camada de 30 cm de baronesa picotada com facão e a 2ª camada de esterco e assim sucessivamente até a altura de 1,0 metro, a camada de capim segue o comprimento e a altura do composto. A parte superior do composto deve ser de capim (30 cm), é feito o revolvimento não convencional por cima do composto de 10 em 10 dias, sendo 7 revolvimentos no total. (Fonte: Agamenon Farias, CEPLAC/ CENEX). Composto pH Ca Mg P2o5 C/N Baronesa (aguapé) - 0,8 0,3 0,4 18,92 N% K2O - Fator M.O. Umid. Umidade 0,15 2 54,24 50 Fe Zn Cu Mn 6.188 95 9 450 Fonte: CEPEC Metais Pesados: (mg/g) Cádmio < 15 Chumbo < 50 Cromo < 50 Molibdênio < 125 FONTE: CEPED/Camaçari O produtor deve dar um bom manejo as plantas aquáticas de seu imóvel, que além de melhorar a qualidade da água também produzem um excelente composto orgânico em grande quantidade. COMPOSTO ORGÂNICO ESTÁTICO Composto Orgânico: Lixo Orgânico + Esterco + Maravalha: Deve-se inicialmente colocar uma camada de 30 cm de capim formando as paredes laterais e do piso, depois de formada a parede, coloca-se a 1ª camada de 20 cm de maravalha, sobre a camada de maravalha coloca-se o lixo orgânico, a 3ª camada coloca-se uma camada de 10 cm de esterco verde, 299 a 4ª camada é de maravalha, a 5ª camada coloca-se o lixo orgânico e após o lixo orgânico coloca-se a maravalha, assim sucessivamente até a altura de no máximo 1,5 m. A largura máxima é de 2,0 m e o comprimento até 15 metros. Esse composto não é necessário o revolvimento e a irrigação. (Fonte: Agamenon Farias, CEPLAC/CENEX). Esse composto está sendo recomendado para locais com grandes aglomerados humanos, com produção de lixo orgânico diário de no mínimo 200 kg/dia. Ideal para assentamentos rurais, cooperativas e cidades. Composto pH Ca Lixo Orgânico + Esterco + Maravalha 7,2 1,10 Mg P2o5 C/N 0,30 0,40 43,69 N% K2O M.O. Umid. Fe 0,60 0,50 75,58 43,38 2.182 Zn Cu 65 Mn 21 203 Fonte: CEPEC Este resultado foi analisado com 4 meses de idade do composto, recomenda-se um período mínimo de 1 mês de repouso para que o composto possa ser aplicado na agricultura. Vantagens do composto estático do lixo orgânico Redução do lixo orgânico nos lixões. Redução de insetos nocivos ao homem (mosca, etc). Menor impacto ambiental Menor custo de produção Maximização da reciclagem Educação ambiental Os produtores rurais devem solicitar que as suas amostras de solo sejam também analisados os percentuais de matéria orgânica. Esse dado é muito importante para se analisar com mais segurança as recomendações para adubação. Segundo Primavesi – Compostos enterrados em 20 e 40 cm de profundidade sofrem decomposição anaeróbica que não contribui a agregação do solo que produz gases tóxicos como metano e gás sulfidrico, dos quais as raízes fogem, ficando superficiais, cheirando de pântano ou de ovos podres que prejudicam as raízes. “É a maior razão da produção orgânica baixa”. Ideal é colocar o composto entre 00 a 05 cm superficiais. 300 Enriquecimento dos compostos: A compostagem é apenas uma das técnicas recomendadas pelo Núcleo de Agroecologia da CEPLAC. O aumento da produtividade está relacionado ao manejo como um todo, poda, roçagem da área, fertilização com biocalda, controle biológico (trichoderma), inseticidas biológicos (caseiros) e fungicidas biológicos para o controle de pragas e doenças. Além do manejo agroecológico da propriedade. Evitando o desmatamento, queimada e a monocultura, interagindo com o produtor na busca de uma agricultura ecologicamente correta, economicamente viável e socialmente justa. Recomenda-se o enriquecimento dos compostos orgânicos com cinzas e fosfato natural para aplicação nas roças de cacau, nas leiras para produção de hortaliças, e outros. Recomendações para o enriquecimento dos compostos orgânicos com cinzas e fosfato natural para aplicação nas culturas (cacau, pomar e outras): Fertilizantes naturais Composto orgânico Cinzas Fosfato natural Quantidade/ha 09 toneladas 400 kg 600 kg Fonte: CENEX/SETEC O enriquecimento dos compostos com cinzas e fosfato natural se faz necessário, porém as dosagens recomendadas estão diretamente relacionadas com a amostra de solo da propriedade e as análises químicas e físicas dos compostos. BIOFERTILIZANTE Preparo para Tambor de 200 litros 100 l de água 1 carrinho de mão de esterco (microorganismo) 2 kg cinza (fonte de potássio) Matos diversos (nutrientes) 5 kg açúcar ou melaço (energia) 5 kg de terra de cupim (nutrientes) 01 Casa de cupim (microorganismo) 3 l de leite (microorganismo) 3 Kg Pó de rocha (fonte de fósforo) 301 Misturar todos os dias durante 10 minutos por um período de 21 dias. Aplicação em plantas perenes: 5 l para cada 100l de água Horticultura 1 l para cada 100 l de água Fertilização laminar: sempre após a roçagem ou a poda 1 l da calda/1 l água Só deve ser utilizado até 30 dias e sempre pela manhã, até às 9:00 horas. O composto orgânico, biocalda, fungicidas e inseticidas biológicos, adubação verde, cobertura morta e o policultivo são técnicas que os produtores podem praticar para produzir sem agredir o meio ambiente, garantir a sobrevivência de sua família e torna-se independente da agricultura agroquímica insustentável. 302 CULTIVO DA GRAVIOLA Enio Coêlho Junior I. ORIGEM: A Graviola provavelmente possui o seu centro de origem nos vales da floresta amazônica, no Peru e Brasil. II. BOTÂNICA: A gravioleira pertence à família Anonaceae, da qual fazem parte cerca de 75 gêneros e mais de 600 espécies. Todavia, somente os gêneros Anona, Rollinia, Uvária e Asimina produzem frutos comestíveis, embora os dois primeiros tenham maior importância comercial, em virtude da qualidade de seus frutos. A graviola (A. muricata L.) é uma planta que alcança uma altura média de 6 metros, podendo atingir quando adulta até 08 metros em condições ecológicas favoráveis. As folhas possuem pecíolo curto, são oblongolanceoladas ou elípticas, medem de 14 a 16 cm de comprimento e 5 a 7 cm na maior largura, coriáceas, aromáticas e reluzentes; suas nervuras são pouco perceptíveis. As flores são perfeitas ou hermafroditas, de formato subgloboso ou piramidal, de cor verde escuro quando em crescimento e verde clara quando próximas da antese. Em geral, as flores são distribuídas em pedúnculos curtos axilares ou diretamente no tronco, podendo estar solitárias ou agrupadas, como em alguns tipos ou indivíduos de gravioleira. O cálice é formado por três sépalas pequenas e a corola por seis pétalas côncavas e carnosas formadas por dois verticilos (3 + 3), sendo o CEPLAC/CENEX 303 externo de pré – floração valvar. Os estames são numerosos, com filetes curtos, cada um deles possui duas anteras que se abrem longitudinalmente, para lançar os polens; os carpelos, que também são numerosos e uniovulados, ajuntam-se em forma de abóbada acima dos estames. O fruto é uma baga composta ou sincarpo cujo peso oscila de 0,4 kg a 11 kg, podendo apresentar-se na forma ovóide, cordiforme, periforme ou irregular, em função dos óvulos que não foram fecundados, ocasionados por insuficiência de polinização, ou seja, a polinização não ocorre em todos os carpelos ou pelo menos na maioria deles, por apresentar o fenômeno da dicogamia protogínica, que consiste na diferença de período de receptividade do gineceu (órgão feminino de reprodução) e o amadurecimento do androceu (órgão masculino de reprodução), ou seja, não ocorrem simultaneamente entre os dois órgãos reprodutores. Outro problema fisiológico floral que ocorre na gravioleira é a heterostilia, refere-se à posição do gineceu acima do androceu o que também dificulta a polinização natural, é possível que a má formação dos frutos se deva a heterostilia. Como os insetos polinizadores não têm um contato uniforme com a área curva do gineceu ocorre à formação do fruto composto (sincarpo) irregularmente. A posição da flor e o odor do etil – acetato, emanado pelo estigma receptivo, que atua como atrativo para os insetos, durante a antese, evidencia que a polinização da gravioleira é feita por insetos, ou seja, é entomófila. Um dos poucos insetos citados como polinizador é um pequeno coleóptero Colatus truncatus (Wester, 1910). III. CLIMA E SOLO: A gravioleira é a mais tropical das anonáceas, com temperaturas variando de 21°C a 30°C, sendo o ideal a temperatura média em torno de 25°C a 28ºC e precipitações superiores a 1.200 mm anuais e bem distribuídas, porém as oscilações de temperaturas são os fatores climáticos que mais limitam o cultivo da graviola, que não suporta temperaturas abaixo dos 12°C. A umidade relativa do ar entre 70% a 80%. A altitude de até 1.000m, no momento não foi identificada problemas que inviabilizasse a implantação do cultivo. Com relação ao solo, a gravioleira adapta-se bem em diversos tipos de solo, desde as areias quartzosas do litoral nordestino, solos pobres e áci304 dos aos argilo-silicosos, contanto que sejam profundos bem drenados e ricos em matéria orgânica e com pH ligeiramente ácido, variando de 6,0 a 6,5. Apesar de não possuir um sistema radicular com raiz pivotante longa, o seu sistema radicular é abundante, por isso prefere solos profundos e de boa aeração e sem encharcamento. IV - ESCOLHA DA VARIEDADE: Não existe uma variedade de gravioleira que seja portadora de características botânicas e genéticas nitidamente definidas, principalmente devido ao fator da dicogamia apresentada pela planta. Nos principais Países produtores (Venezuela, Porto Rico e Costa Rica) os inúmeros tipos de gravioleira encontrados se diferenciam pela forma, sabor (ácidos, subácidos e doces) e consistência de seus frutos (polpas moles e sucosa, polpa firme, polpa comparativamente seca e polpa fibrosas). No Nordeste brasileiro predomina a gravioleira nordestina ou crioula e Bahia, são frutos cordiforme, pesando entre 1,0 a 3,0 kg, com polpa mole, doce a subácida. As gravioleiras Colombianas: Moradas, Lisa e Blanca, introduzidas pela EMBRAPA-CPAC em 1981, são excelentes. A Morada é das três a que apresenta as seguintes características desejáveis: melhor rendimento por planta e área, tamanho de frutos, forma cordiforme, polpa firme, e sabor subácido a ácido, ou seja, são frutos de qualidades muitos bons. V – PROPAGAÇÃO E FORMAÇÃO DE MUDAS: A propagação da gravioleira pode ser feita através método sexuado ou via seminal e método assexuado como: Alporquia; Estaquia; Enxertia e Cultura de tecido. Para qualquer dos processos a planta matriz, deve ser precoce, sadia, produtiva e produtora de frutos de qualidade de acordo com o propósito da fruta (indústria de polpas, refrescos, sorvetes, etc. ou fruto para consumo in natura.). VI – INSTALAÇÃO DO POMAR: Preparo do Solo – O preparo do solo pode ser manual ou mecanizado, com aração e gradagem, o importante é que se faça a analise do solo, no intuito da correção da acidez e mapa de adubação de plantio (fundação) e da planta em desenvolvimento. 305 O espaçamento pode variar de 5m X 4m até 8m X 8m, em áreas de topografia acidentada o é ideal que se faça a curva nível. As covas devem ter a dimensão de no mínimo 0,40m X 0,40m X 0,40m, realizando a adubação de acordo com a analise do solo, tanto à parte de adubação orgânica, quanto à fertilização mineral (fósforo e micronutrientes), misturando bem com a terra da parte de cima das covas e recolocandoas no lugar. Efetuar o plantio no período chuvoso. VII – TRATOS CULTURAIS: Manter a cultura livre de ervas daninhas sendo efetuado com a roçagem manual, mecânica ou química, além de manter o coroamento. A poda de formação inicial é feita cortando o broto terminal da planta quando se alcança aproximadamente a altura da cintura (aproximadamente entre 0,70m a 0,80m). A altura máxima da planta é a altura da mão do operador com o braço esticado, para facilitar os tratos culturais, aplicação de inseticida, fungicida, poda de limpeza e frutificação, ensacamento do fruto e colheita. A poda de limpeza consiste na tirada de ramos e galhos doentes, ramos indesejáveis (cupões e ladrões) e ramos secos. A poda de frutificação e de aeração consiste no estímulo a floração com a entrada de luz. A nutrição mineral de manutenção e produção de acordo com a analise do solo e o mais fracionado possível (no mínimo 06 aplicações ao ano). As pragas e doenças devem ser monitoradas e em caso de dano econômico devem ser controlados de acordo com a recomendação técnica, levando-se em conta o local e área afetada, o tipo de dano e qual o modo de aplicação se localizado ou geral na planta, e, o tipo de inseticida e ou fungicida, específicos, de baixo poder residual e baixa toxidez e conseqüentemente o período de carência. VIII – COLHEITA E BENEFICIAMENTO: A colheita da gravioleira inicia aproximadamente no 2º ano de implantação, as colheitas devem ser diárias, e o beneficiamento que consiste na descasca, ensacamento da massa e congelamento também deve ser realizado diariamente. A produtividade no município de Una, os agricultores estão conseguindo em torno de 25.000 kg de massa congelada por ha. 306 CONTROLE DE PRAGAS E DOENÇAS DA GRAVIOLEIRA Joaquim Raimundo Nunes Marinho DOENÇAS Antracnose 1. Agente causal: colletotrinchum gloesporioides Ataca as folhas jovens, ramos, frutos jovens e desenvolvidos e botões florais. 2. Controle: - Químico Pulverizações com fungicida protetores como Oxicloreto de cobre ou Mancozeb (2 a3g/litro de água) ou fungicida sistêmico como Benomil ou Derosal na dosagem de 1g ou ml/litro d’água a intervalos que variam de 7 a 30 dias. - Cultural Poda de limpeza e abertura da copa da planta para que haja maior penetração de luz e maior aeração. UTRA/SFA/BA 307 Podridão seca, podridão-da-casca, podridão-preta-do-tronco ou podridão-seca-do-fruto. 1. Agente causal: Lasiodiplodia theobromae 2. Controle Fazer o controle sistemático da broca-do-tronco, poda de limpeza, desinfecção dos instrumentos de poda e aplicação de pasta fungicida nas hastes decepadas. Podridão-parda-do-fruto 1. Agente causal: Rhizopus stolonifer 2. Controle - Químico Não existe fungicida eficaz que possa ser recomendo. - Cultural Retirar do pomar e destruir todos os frutos atacados. PRAGAS Broca-dos-Frutos 1. Agente causal: Cerconota Ononella É uma praga que ocorre em maior freqüência na época das chuvas. Ataca os frutos formando galerias no seu interior destruindo a polpa, como também botões florais ocasionando a sua queda. 2. Controle: - Químico: Fazer pulverizações a cada 15-20 dias, utilizando-se o inseticida turbo alternado com Trichlorfon ou Deltametrina, adicionando-se às soluções desses inseticidas o fungicida Derosal na proporção de 1ml do produto/ litro d’água. Uso de barreira física: Consiste no ensacamento dos frutinhos quando estes atingirem de 2 a 4 cm. de comprimento. 308 - Cultural: Retirada periódica do pomar, de frutos atacados, procedendo-se à queima ou enterrio dos mesmos. Broca-das-sementes: 1. Agente causal: Bephratelloides maculicollis Pode-se também fazer aplicação de substâncias tóxicas voláteis a base de DDVP, injetando nas perfurações abertas pela broca o produto com o auxílio de uma seringa e depois tampar as perfurações com sabão em barra ou argila. - Cultural Retirar após as podas de limpeza, galhos e demais materiais infestados e queima-los. Broca-do-tronco: Esta broca ataca ramos, galhos e tronco podendo causar a morte da planta. 1. Agente causal: Cratosomus bombina. 2. Controle: - Químico Pincelar os locais atacados, utilizando-se a seguinte mistura. 1 litro de óleo de dendê 40 ml do inseticida (Losban ou Clorpan) Pode-se também fazer aplicação de substâncias tóxicas voláteis a base de DDVP, injetando nas perfurações abertas pela broca o produto com o auxílio de uma seringa e depois tampar as perfurações com sabão em barra ou argila. - Cultural Retirar após as podas de limpeza, galhos e demais materiais infestados e queima-los. 309 Broca-do-coleto Ataca a região do coleto, principalmente de plantas adultas fazendo galerias. Ocorre com maior intensidade no período das chuvas. 1. Agente causal: Helipus catagraphus 2. Controle: - Químico Pulverizações direcionadas para o coleto da planta, utilizando inseticidas monocrotophós na proporção de 30 ml do produto para 100 litros de água. Também pode ser utilizado o mesmo tratamento indicado para broca-do-tronco com intervalo de 30 dias entre as aplicações. - Cultural Retirar do pomar plantas mortas ou severamente atacadas pela broca e queima-las. Soldadinho (Membracis foliata) OUTRAS PRAGAS QUE ATACAM A GRAVIOLEIRA Cochonilhas (Pinnaspis aspidistrae) São pragas de menor importância, mas que devem ser controladas dependendo do nível de ocorrência e danos causados a cultura. CUIDADOS A SEREM ADOTADOS DURANTE A APLICAÇÃO DE DEFENSIVOS QUIMICOS 1. Evite aplicar o produto durante as horas quentes do dia; 2. Não aplique produtos em dias chuvosos ou de ventos fortes; 3. Não fume, não beba e não coma durante a aplicação; 4. Conserve a barra das calças por fora das botas e os punhos da camisa por fora das luvas; 5. Caso sua pele seja atingida, lave imediatamente com água e sabão; se forem os olhos lave imediatamente com bastante água; 6. Mantenha crianças e animais domésticos afastados dos locais de manuseio e aplicação; 310 CUIDADOS A SEREM ADOTADOS DEPOIS DA APLICAÇÃO: 1. Não lave os equipamentos utilizados na aplicação ou de proteção individual e as embalagens vazias em rios, córregos, canais de irrigação, aguadas, poços etc; 2. Tome banho frio com bastante água e sabão e vista roupas limpas; 3. Não reutilizar as embalagens vazias para qualquer outro fim, por mais que tenha lavado; 311 TURISMO SUSTENTÁVEL COMO NEGÓCIO Antonia Marli V. da Encarnação Antonio Fontes de Faria Filho Do ponto de vista mercadológico, o turismo é o setor econômico que apresenta os mais elevados índices de crescimento no contexto mundial. Superou setores tradicionais, como a indústria automobilística, a petrolífera e a eletrônica. Em 2005, segundo dados da Organização Mundial de Turismo (OMT) o setor cresceu 5,5% ao ano, movimentando mais de US$ 4 trilhões com os 808 milhões de turistas que circularam no mundo, gastando 500 bilhões de dólares na economia internacional. Em termos mundiais, é irrefutável a importância da atividade turística a partir do momento em que se analisa a criação e manutenção de empregos. Os dados apontam que o setor é responsável pela criação de 170 milhões de postos de trabalho no mundo (OMT). O movimento da economia gerado por esse enorme fluxo de pessoas é extraordinário e difícil de ser dimensionado, pois o turismo produz efeitos nos mais diferentes setores produtivos. No Brasil, o turismo apresentou bons resultados que impulsionaram o crescimento da economia. A Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR) estima que 5,5 milhões de estrangeiros visitaram o país em 2005, gerando US$ 3,861 bilhões de divisas estrangeiras, e criando 250 mil novos empregos. O turismo brasileiro se destaca no cenário internacional como uma atividade altamente viável em decorrências das variadas paisagens naturais, de beleza e valor ecológico ímpar, aliada a um ambiente cultural, onde se vêem preservados o modo de vida simples, a arte e as crenças de Ceplac/Cepec 312 comunidades que vivem em harmonia com a natureza, tornando-se um enorme potencial para todas as modalidades de turismo. Atualmente, a destinação turística vem sendo direcionada com base na originalidade das atrações ambientais e no bem estar que proporcionam aos visitantes. Neste sentido, a natureza e todos os seus componentes, tornam-se pretextos para a descoberta, a iniciação, a educação e o espírito de aventura. Dessa forma, cria-se um novo mercado, o turismo que convive diretamente com a natureza e se preocupa com sua preservação. Do conjunto de atividades que se pode incluir como turismo voltado para a natureza, o segmento específico que mais cresceu foi o ecoturismo, que preserva o patrimônio natural e cultural, além de promover o bem estar das populações envolvidas. Pode ser compreendido como uma rede de serviços e facilidades oferecidas para realização do turismo em áreas com recursos turísticos naturais, sendo considerado como um modelo de turismo sustentável. No Brasil, onde o ecoturismo começa a despontar, a atividade se reveste de extrema importância para os esforços nacionais de promoção do desenvolvimento econômico e social, sendo exigente na qualificação da mão-de-obra, promovendo elevação dos padrões educacionais e culturais locais. O adequado aproveitamento dos variados ecossistemas existentes, ainda pouco explorados, pode propiciar a abertura de alternativas econômicas e as conseqüentes melhorias das condições de vida das populações diretamente envolvidas. No Sul da Bahia, o ecoturismo conta com belezas cênicas impressionantes, destacando-se áreas de florestas naturais, cachoeiras, rios, riachos, praias, detentora da maior biodiversidade vegetal do mundo, dispondo de grande número de espécies endêmicas, raras ou em extinção. Dotada de uma cultura diversificada, com populações indígenas e quilombolas, interagindo com outras comunidades tradicionais e recém chegados à região, como os da reforma agrária, promovem um enriquecimento cultural excepcional e evidencia-se a produção artística e artesanal. O valor turístico regional evidencia a religiosidade como fator promotor de eventos culturais em todos os municípios. Destacam-se as festas tradicionais como a Puxada do Mastro de São Sebastião, Festas Juninas, Candomblés, Vaquejadas; além das de natureza festiva como Carnaval e Micareta. Uma inovação na região tem se revelado as “Feiras da Agricultura Familiar e Economia Solidária” que se tornam itinerantes e, além de 313 mostrar e comercializar os produtos de derivados agropecuários está se tornando importante atração turística por evidenciar a produção cultural das famílias da região, promovendo ainda a troca de experiências entre os participantes, mostrando o valor artístico da população que nelas se esmeram em apresentar seu diferencial, com belíssimas exposições de artesanato, artes plásticas, balés, danças tradicionais (maculelê, capoeira, reisado, quadrilhas juninas). Tudo isto acrescido do valor do conhecimento técnico-científico e dos interesses dos atores da cadeia produtiva regional, formando um interessante conjunto para participação do turista, incluindo o expositor como turista no município vizinho. Outro segmento turístico de grande potencial na região é o turismo rural, onde os visitantes vivenciam o ambiente das fazendas de cacau e a lida dos animais e da terra, mantendo contato com a agricultura local e os costumes dos trabalhadores. O turismo rural reserva aos seus interessados a oportunidade de interação e integração com o meio rural produtivo. Com a crise da cultura do cacau, o turismo rural se apresenta para os agricultores como uma atividade, em um contexto de contribuição ao desenvolvimento sócio-econômico e ambiental para a região, usufruído e protegido pelo homem. Ao enumerar todos esses valores regionais, pretende-se destacar a necessidade de melhor organizar as oportunidades que a natureza e a cultura local oferece para a realização de negócios de sucesso. Falta maior disponibilidade técnica e de recursos financeiros para investimentos integrados às políticas públicas que auxiliem no seu gerenciamento, com o mínimo impacto negativo sócio-ambiental para as comunidades nativas. Para o agricultor familiar, a gestão ambiental na ótica da exploração do potencial regional, na modalidade interativa do turismo sustentável, servirá de agregador de renda e se planejado, poderá atingir cifras semelhantes às obtidas no Sul e Sudeste do Brasil, com índices em torno de 40% da renda da propriedade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÀFICAS DIAS, R. Turismo Sustentável e Meio Ambiente. São Paulo: Atlas, 2003. 208p. LEMOS, I. G. de. Turismo: Impactos socioambientais. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1999. 305p. www.turismo.gov.br , acessado em 02 de maio de 2006 www. Sebraeep.com.br, acessado em 02 de maio de 2006. 314 ECOTURISMO: PLANEJAMENTO PARA A SUSTENTABILIDADE Maurício Guimarães Guedes ECOTURISMO – CONCEITO A atividade turística, principalmente nas últimas décadas, tem assumido um papel importante no desempenho econômico de muitas regiões e paises em diferentes partes do globo. No Brasil, é observado um grande aumento no fluxo de turistas que procuram os locais que têm a natureza como principal atrativo e motivação na escolha do próximo destino a ser visitado. Nesse contexto, o ecoturismo pode ser uma boa alternativa para o desenvolvimento de ações que promovam a inclusão social das comunidades que vivem próximas aos atrativos turísticos, bem como para a conservação desses ambientes naturais. Esse texto procura demonstrar, mesmo que rapidamente, que o desenvolvimento do ecoturismo, não é tão simples como alguns podem pensar. Uma atividade que traz consigo o compromisso com inclusão social de comunidades, muitas vezes carentes, que habitam em regiões de grandes riquezas culturais e ambientais e beleza cênica surpreendente exige um prévio conhecimento e planejamento por parte daqueles que a desenvolverão. Os assuntos aqui abordados referem-se ao significado da palavra ecoturismo, seu sentido teórico e seu uso prático, a importância do planejamento da atividade e seu primeiro passo que é a realização do inventário ecoturístico. Vale ressaltar que esses são apenas alguns elementos, brevemente descritos, que devem ser considerados na concepção do produto ecoturístico. Para um maior aprofundamento no assunto, as publicações apresentadas na bibliografia poderão ser importantes ferramentas. O QUE É ECOTURISMO? Apesar de toda controversa envolvendo a origem do termo ecoturismo, alguns estudiosos especulam que o termo foi utilizado pela primeira vez em 1965, por W. Hetzer, que o utilizou para identificar os quatro princípios 315 para o turismo responsável: respeitar as culturas locais, minimizar impactos ambientais, maximizar a satisfação do visitante e maximizar os benefícios para as comunidades locais (Mourão, 2004). Em 1994, a Embratur definiu o ecoturismo como “Um segmento de atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas.” Analisando essa definição, é observado que três grandes eixos sustentam o conceito brasileiro de ecoturismo: sustentabilidade, a educação do visitante e os benefícios às comunidades locais (Salvati, 2002). A utilização de forma sustentável diz respeito ao desenvolvimento da atividade turística em ambientes naturais minimizando os impactos inerentes à visitação nesses locais, envolvendo a comunidade tradicional e obtendo um retorno financeiro, permitindo a viabilidade econômica do produto turístico. Trocando em miúdos, se fizéssemos uma fórmula para o ecoturismo poderíamos obter: E= CA+IS+VE Onde: E= Ecoturismo IS = inclusão social CA = conservação do ambiente natural VE= viabilidade econômica Quando estamos nos referindo à viabilidade econômica, isso quer dizer que devemos tratar o ecoturismo como uma atividade econômica que possui a característica de apresentar como principais patrimônios os recursos naturais, históricos e culturais. Ou seja, o principal investimento para o desenvolvimento do ecoturismo se refere à conservação cultural e ambiental e melhoria da qualidade de vida da comunidade tradicional. E como toda atividade econômica, o ecoturismo necessita de investimentos e deve ser desenvolvido de forma organizada. Os responsáveis pela visitação nesses locais devem ser parceiros da inteligência no uso dos recursos naturais, históricos e culturais para a continuidade da atividade, o que só se torna possível com o seu planejamento. 316 ECOTURISMO, UMA ATIVIDADE SIMPLES? Aqueles que acham que o ecoturismo é somente uma atividade de visitação em ambientes naturais, também acreditam que esse tipo de turismo é muito simples de ser desenvolvido se apresentando como mais uma oportunidade de negócios. Desenvolver o ecoturismo é uma tarefa muito mais complexa do que algumas pessoas podem ou querem achar. Todos os envolvidos precisam saber a importância do desenvolvimento da atividade, sejam eles representantes da comunidade tradicional, dos setores públicos, empresários ou visitantes. Como escrito anteriormente, o ecoturismo precisa ser viável economicamente, mas, devido às especificidades dos seus principais patrimônios, é preciso ter cuidado para que os interesses econômicos não sobrepujem os interesses ambientais, o que geralmente acontece se não houver um planejamento do local a ser visitado, acarretando em degradação ambiental, descaracterização cultural e fracasso econômico. Por isso, na concepção do produto ecoturístico, alguns elementos devem ser considerados, como: A atividade só pode ser desenvolvida quando o potencial de impactos ambientais do ecoturismo é valido e considerado aceitável; Qualquer área natural que receba visitação ecoturística deve possuir mecanismos para monitoramento e controle de impactos ambientais; Os rendimentos econômicos do ecoturismo devem colaborar para a proteção da área como um todo1 . Para que a sustentabilidade do ecoturismo seja efetiva, devemos nos ater às suas próprias características gerais que, ao final, se confundem com os resultados almejados. São elas: Conservação ambiental; Inclusão social; Geração de renda e emprego; Viabilidade econômica; Planejamento; Ser informativo e educacional; Respeito às características sócio-culturais e ambientais do local visitado; Transformação e renovação do indivíduo; Desenvolvimento da compreensão e conscientização da natureza, da história e da cultura; 317 Mudança de postura do visitante; Capacitação dos envolvidos; Preocupação com os benefícios locais1 ; REALIDADES E DESAFIOS Se por um lado, a atividade turística alavanca a economia trazendo uma série de benefícios, por outro também é geradora de impactos negativos, principalmente quando a mesma acontece nos espaços naturais, onde os ambientes são extremamente sensíveis (Salvador Ribeiro, 2005). Por ser ainda uma atividade recente, o ecoturismo no Brasil é feito de forma desordenada, tendo como principal objetivo à obtenção do lucro. É normal ver operadoras e agências concentrarem todo tipo de serviços de um roteiro ecoturístico deixando de gerar os benefícios sociais, econômicos e ambientais que a atividade requer. O modelo de ecoturismo instalado no Brasil, sobretudo no nordeste, é um modelo que evidencia os impactos negativos, o que provoca a degradação ambiental e a exclusão social, o desemprego e a marginalização da comunidade tradicional. Por outro lado, é observado que alguns destinos turísticos estão se organizando e já se apresentam como referência nacional no que diz respeito ao desenvolvimento do ecoturismo. Mas para que isso aconteça, é de fundamental importância planejar o destino para que o mesmo possa alcançar seus objetivos de conservação e desenvolvimento local. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO O planejamento é uma atividade interdisciplinar, dinâmica, contínua e presente em todas as diversas fases de desenvolvimento do turismo (Salvati, 2002). É através do planejamento que são definidas as estratégias e os meios para transformar uma situação atual inadequada em uma situação desejada. Para que o ecoturismo apresente o resultado almejado de conservação dos seus principais patrimônios - os recursos naturais e culturais –, promova a melhoria de qualidade de vida da população local e seja viável 1(Dados transcritos do Manual de Ecoturismo de Base Comunitária, organizado pela WWF – Brasil): 318 economicamente, é primário que seja feito um planejamento “construído sob uma base bem delimitada de princípios e características desejáveis para o seu desenvolvimento responsável” (Salvati, 2002). A exemplo do ecoturismo que se apresenta como uma atividade dinâmica que implica na visitação em ambientes naturais, sendo os mesmos suscetíveis a mudanças que podem ser de origem antrópica ou natural, o planejamento deve ter o atributo de ser dinâmico e contínuo, de caráter flexível que pode e deve ser re-planejado conforme novos elementos, oportunidades e problemas venham surgindo no decorrer da atividade. Contudo, para planejar a atividade, é preciso conhecer bem a potencialidades e os pontos fracos do produto turístico: quais as principais características históricas, culturais ou ambientais; qual o grau de conservação do produto; que tipos de capacitação para os envolvidos são necessários; quais são os serviços, equipamentos e infra-estrutura imprescindíveis; quais são as empresas competentes para operar o produto; como é o percurso até o atrativo; quais as atividades mais recomendadas (trekking, rapel, contemplação, etc.); como a comunidade enxerga o ecoturismo e o meio ambiente; quais são os maiores problemas enfrentados, etc. Ou seja, para que o produto ecoturístico seja bem planejado, é preciso ter a compreensão mínima das suas características e necessidades, para tal, o primeiro passo é realizar o levantamento do potencial ecoturístico. LEVANTAMENTO DO POTENCIAL ECOTURÍSTICO O levantamento do potencial ecoturístico é a primeira e principal etapa do processo de planejamento da atividade, através dessa ferramenta, é possível obter informações importantes a respeito dos pontos fortes e dos pontos fracos do local ou comunidade onde se pretende desenvolver o ecoturismo. Sob forma de um questionário a ser aplicado no local, têm-se informações sócio-culturais que traçam o perfil das famílias que vivem no local a ser visitado, como por exemplo, o grau de instrução, a média e a principal fonte de renda do povoado, o principal sistema produtivo, as manifestações culturais ainda praticadas ou que podem ser resgatadas. As informações referentes ao acesso ao atrativo, grau de conservação, segurança, tipo de fauna e flora encontradas, localização do posto de saúde e tipo de problemas mais enfrentados são colhidas nesse momento e vão 319 nortear todo o planejamento de desenvolvimento do produto final. Segue abaixo um modelo de questionário que foi aplicado em comunidades rurais da APA Itacaré/Serra Grande realizado por técnicos do Instituto Floresta Viva com o objetivo de realizar um diagnóstico das potencialidades turísticas no entorno do Parque Estadual Serra do Conduru. DADOS PESSOAIS Nome: Estado Civil: 1 Grau de Escolaridade: Origem da renda: Idade: Nº de Dependentes: Renda Média Mensal: Nº de Filhos : DADOS DA PROPRIEDADE Área Total: Área de Mata: APP: Área Cultivada: Estado de Conservação: Estado de Conservação: INFRA-ESTRUTURA BÁSICA Produção Agrícola: Espécies Frutíferas: Forma de Produção: Criação de Animais: Animais Silvestres Constantemente Encontrados na Propriedade: DADOS DE LOCALIZAÇÃO E ACESSO Energia Elétrica: Sanitário: Condições Habitacionais: Destinação do Lixo: Água Encanada: Tratamento de Efluentes: DADOS DE LOCALIZAÇÃO E ACESSO Município: Povoado: Localização do Acesso (BA 001): Distância da Rodovia Ilhéus Itacaré: Distância de Serra Grande: Localização da Sede da Propriedade (UTM): Descrição de Acesso: Duração do Percurso: Grau de Dificuldade: Conflitos Potenciais: Distância de Itacaré: 1 A (analfabeto); EFI (ensino fundamental incompleto); EFC (ensino fundamental completo); EMI (ensino médio incompleto); EMC (ensino médio completo); ESI (ensino superior incompleto); ESC (ensino superior completo). 320 Continuação da tabela DADOS SOBRE TURISMO Visitação Atual: Interesse do Proprietário para o Turismo: Grau de Capacitação do Proprietário: Infra-estrutura Turística Existente: Atrativos (Recursos) Existentes no Imóvel: Atrativos (Recursos) Existentes no Entorno do Imóvel: Principais Atividades Turísticas que podem ser Nível de Ordenamento e Controle: Descrição e Localização (UTM): Descrição e Localização (UTM): Realizadas na Propriedade: AVALIAÇÃO PRELIMINAR DO POTENCIAL TURÍSTICO DA PROPRIEDADE Item Bom Regular Inexistente Dimensão Diversidade de atividades Número de atrativos Beleza cênica dos atrativos Conjunto paisagístico Vegetação local Condições de acesso Equipamentos turísticos Infra-estrutura básica Conservação e limpeza Informação e sinalização Possibilidade de integração Hierarquia da Propriedade com relação ao mercado local: Hierarquia da Propriedade com relação ao mercado regional: Ruim Caso o município já apresente algum fluxo de visitantes, é importante que um pequeno questionário seja aplicado aos visitantes ou às agências e meios de hospedagem para se obter informações a respeito do perfil do turista e da oferta do mercado. Com a coleta de todos esses dados, torna-se viável estabelecer um plano estratégico com o objetivo de estruturar o produto, identificando os tipos de intervenções estruturais, de capacitação e treinamento necessários, o plano de marketing, localização do mercado emissor, os parceiros e a definição dos valores CAPACITAÇÃO COMUNITÁRIA A capacitação dos envolvidos na operação do passeio é de fundamental importância, uma vez que quem está em contato direto com o visitante 321 pode tornar o passeio maravilhoso, superando até as expectativas do turista, como pode pôr tudo a perder devido à falta ou a um mau treinamento. Para se alcançar eficiência, qualidade e diversidade nos produtos oferecidos, a comunidade tem que se capacitar, profissionalizando seus serviços e produtos (Borges, 2002). Como o ecoturismo possui o caráter de melhorar a qualidade de vida da população local, incluindo-as nas atividades, é preciso ter cuidado para não descaracterizar a identidade das pessoas que trabalharão com o turismo, ao contrário, deve-se utilizar a cultura (sem maquiagem ou automatização) e o conhecimento nato dos habitantes do povoado enriquecendo assim a experiência do visitante. A originalidade nas atividades produtivas, nos aspectos culturais e até no modo de falar são elementos fundamentais que agregam valor ao produto. CONCLUSÃO No início de suas atividades, o turismo não era visto como uma atividade fundamental para a economia local, sendo feito de forma amadora tanto pelos viajantes quanto pelo local que os acolhia. Hoje o turismo é visto como uma das principais molas propulsoras da economia de uma região, aumentando as oportunidades de emprego, melhorando o nível salarial, entre outros benefícios. Empreendimentos sofisticados concebidos unicamente para receber turistas não são mais novidade em nenhum lugar turístico do mundo. Com a crescente exigência da demanda, investimentos em infra-estrutura, profissionalização e equipamentos de apoio se tornaram regra básica para a consolidação de um local como destino turístico. Contudo, como toda atividade econômica, o turismo também apresenta seus efeitos negativos, como, por exemplo, aumento na produção de lixo, degradação do patrimônio histórico e ambiental, exclusão social e aumento da violência. Por estarem localizados geralmente em pequenas cidades ou povoados, nos destinos com potencial para o desenvolvimento do ecoturismo, esses elementos se tornam ainda mais visíveis. Hoje, pode ser observado um maior compromisso dos segmentos envolvidos com a atividade visando minimizar esses problemas e garantir a viabilidade do destino. Esse fato tem propiciado possibilidades concretas para conservar e valorizar o patrimônio natural e cultural das regiões, com reflexos diretos na melhoria da qualidade de vida das populações locais e da conservação do patrimônio natural e cultural. Com isso, a atividade 322 torna-se mais equilibrada e as chances são muito maiores para que o produto seja um sucesso e se consolide por muitos e muitos anos como destino ecoturístico. BIBLIOGRAFIA WWF Brasil. Manual de Ecoturismo de Base Comunitária – Ferramentas para um Planejamento Responsável/ Organizadora: Sylvia Mitraud 2002. WWF Brasil. Turismo Responsável. Manual para Políticas Locais/ Organizador: Sérgio Salazar Salvati, Brasília DF, 2004. MPE – Manual de Melhores Práticas para o Ecoturismo. Ecoturismo e Turismo Sustentável/ Organizador: Roberto M. F. Mourão, Rio de Janeiro: FUNBIO: Instituto Ecobrasil, 2004. MPE – Manual de Melhores Práticas para o Ecoturismo. Gestão de Empreendimentos Turísticos/ Organizador: Roberto M. F. Mourão, Rio de Janeiro: FUNBIO: Instituto Ecobrasil, 2004. 323 PRONAF, SISTEMAS AGROFLORESTAIS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO BAIXO SUL DA BAHIA Alicia Ruiz Olalde 1 Eloina Neri de Matos2 O Ministério do Meio Ambiente, diante da grave situação de degradação da Mata Atlântica, fez uma avaliação da biodiversidade e identificou as áreas prioritárias e estratégias para a conservação deste bioma. Um dos mecanismos propostos é a implementação de corredores ecológicos com planejamento e manejo da paisagem dentro de um contexto mais amplo de desenvolvimento sustentável regional. Os sistemas agroflorestais (SAFs) são um dos componentes do manejo da paisagem diretamente ligado à implementação de corredores ecológicos e ao desenvolvimento sustentável. Funcionam como estratégia de união dos objetivos da produção agropecuária com a conservação do solo, da água, do clima local e da biodiversidade. Em uma perspectiva atual, os SAFs são considerados sistemas que incluem árvores e arbustos lenhosos diversificando a produção para aumento de benefícios sociais, econômicos e ambientais (SCHROTH et al., 2004). Um dos corredores em fase de implementação é o Corredor Central da Mata Atlântica que tem o seu limite norte no Vale do Jiquiriçá na Bahia, alcançando o Sul do Espírito Santo. A região do Baixo Sul da Bahia está localizada na porção Norte deste Corredor, constituindo uma das áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade (MMA, 2000). 1 Universidade Federal da Bahia e-mail: [email protected]; Sociedade de Estudo dos Ecossistemas e 2Desenvolvimento Sustentável e-mail: [email protected] 324 O Baixo Sul corresponde a uma sub-espacialização da Região Sul, uma das 15 regiões econômicas definidas pelos órgãos de planejamento do Governo da Bahia (SEPLANTEC e CAR). Está formado por 11 municípios: Cairu, Camamu, Igrapiúna, Ituberá, Maraú, Nilo Peçanha, Pirai do Norte, Presidente Tancredo Neves, Taperoá e Valença. Ocupa 6.138 km2, contando com uma população 259.191 pessoas, no ano 2000. Segundo a pesquisa FAO/INCRA, nos municípios do Baixo Sul há 17.856 agricultores familiares, que correspondem a 82,9% das propriedades rurais e ocupam 37,5 % da área. As condições do Baixo Sul revelam um cenário de dificuldades, onde 50 % das famílias são consideradas pobres, especialmente na área rural[1]. Destaca-se a importância do fortalecimento da agricultura familiar e da pesca artesanal, como atividades geradoras de ocupação e renda para uma proporção importante das famílias que habitam a região. No caso do Baixo Sul, um elemento favorável à difusão dos SAFs é que estes sistemas já constituem uma prática desenvolvida por muitos agricultores familiares da região, que realizam cultivos bastante diversificados nas mais variadas combinações, e em muitos casos estabelecendo conexões entre os remanescentes florestais. O projeto “Sistemas Agroflorestais no Baixo-Sul da Bahia: Potencial Econômico e Ecológico para a Conservação da Mata Atlântica”, desenvolvido pela organização não governamental Sociedade de Estudo dos Ecossistemas e Desenvolvimento Sustentável, está avaliando sob o ponto de vista econômico, social e ambiental, os sistemas agroflorestais já desenvolvidos pelos agricultores familiares. Este projeto é financiado pelo CEPF - Fundo de Parceria para os Ecossistemas Críticos e se encontra no período final de execução. O projeto tem uma orientação etnoecológica. Segundo MARQUES (2001), “Etnoecologia é o campo de pesquisa (científica) transdisciplinar que estuda os pensamentos (conhecimentos e crenças), sentimentos e comportamentos que intermediam as interações entre as populações humanas que os possuem e os demais elementos dos ecossistemas que as incluem, bem como os impactos ambientais daí decorrentes”. Para o projeto a utilização deste enfoque significa que foi feito todo esforço de ter como foco a família rural, de compreender sua percepção, sua lógica de produzir, de manejar e conservar os recursos naturais. É necessário se despir da visão tecnicista para compreender como famílias de pequenos produtores de sistemas agroflorestais podem se relacionar com as políticas públicas. 325 Os sistemas agroflorestais possuem diversos benefícios largamente citados na literatura (GOMES 1992). Neste estudo os agricultores identificaram 20 vantagens e apenas oito desvantagens. As principais vantagens foram: aproveitamento do terreno, venda de vários produtos, aproveitamento dos adubos, produção distribuída no ano, aproveitamento da mãode-obra, conforto do trabalho e beleza do sistema. Como observa um agricultor da Colônia: “Quem tiver uma cultura ou duas vai passar fome, mais quem tem várias se vira. Eu plantei a seringueira, mas pensei: eu não posso zelar só da seringa, então plantei cupuaçu e ainda achei pouco e plantei cacau”. Os benefícios dos SAFs percebidos pelos agricultores estão relacionados com as características da agricultura familiar: aproveitamento do terreno associa-se com os minifúndios muito freqüentes na região, venda de vários produtos e a produção distribuída durante o ano estão ligados com a diversificação agrícola em oposição à monocultura. O aproveitamento da mão de obra está ligado com o fato se contar principalmente com o trabalho familiar. O conforto do trabalho e a beleza do sistema podem se relacionar com “as dimensões intangíveis do desenvolvimento sustentável”, neste caso valorizado pelos agricultores, mas muitas vezes não percebidas pelos técnicos. Outros benefícios apontados coincidem exatamente com as vantagens mencionadas por especialistas: melhoria do solo, diminuição das ervas daninhas, conservação da umidade do solo e proteção contra erosão. As principais desvantagens citadas pelos agricultores foram: menor produtividade e incompatibilidade de alguns cultivos, especialmente palmeiras, principalmente o dendê, pela expansão do sistema radicular. “Tem que aproveitar a pouca área que tem para plantar muitos cultivos. Não adianta botar um mundo de roça e não dar conta de zelar” (agricultor do Marimbondo). Além dos benefícios percebidos pelos agricultores, outros são citados na literatura para os sistemas agroflorestais como: fixação de carbono (contribuindo para a minimização dos efeitos da mudança global climática), conservação da biodiversidade já que os sistemas agroflorestais funcionam como corredores ecológicos locais permitindo muitas vezes a conexão entre fragmentos florestais e propiciando principalmente o fluxo genético animal e vegetal. Este benefício pode ser evidenciado neste estudo pelo alto índice da presença de espécies florestais nativas presentes 326 nos SAF´s (82%), como pelo grande número de agricultores (71%) que afirmaram ver animais silvestres com freqüência nestes sistemas. Estes benefícios talvez não sejam percebidos pelos agricultores porque ainda não obtiveram nenhuma vantagem econômica com eles. A pesquisa registrou as estratégias dos agricultores familiares em comunidades que desenvolvem diversos tipos de SAFs. Discute-se o papel do PRONAF, constatando que o mesmo tem atendido a uma parcela restrita de agricultores e que o modelo empregado para a elaboração e avaliação de projetos é igual ao da agricultura convencional. Registram-se as dificuldades das entidades que prestam assistência técnica para elaborar e acompanhar os projetos e o limitado impacto das atividades financiadas para o fortalecimento da agricultura familiar na região. Para analisar o funcionamento do crédito rural no seu papel de promotor do desenvolvimento sustentável foram realizadas entrevistas com agricultores familiares em três comunidades selecionadas. Também se efetuaram 10 entrevistas com técnicos e agentes bancários que estão diretamente envolvidos na elaboração e avaliação de projetos de crédito rural na região. Estes técnicos atuam nas instituições públicas de extensão rural presentes na região (EBDA e CEPLAC), em ONGs ou prestam assessoria aos movimentos e organizações de agricultores familiares (MST e FETAG). Após o processamento das respostas obtidas nas entrevistas individuais foi convocada uma oficina para debater a questão do crédito e propor medidas que viabilizem a expansão da utilização do crédito para SAFs. Esta oficina contou com a presença de mais de 40 participantes das comunidades e das instituições citadas, além de alguns representantes do poder público local. A maioria dos técnicos e agentes bancários entrevistados considera que existem várias restrições para generalizar o acesso ao crédito para a maioria dos agricultores familiares. Entre as restrições, foi identificado o endividamento, o limitado acesso à informação e a carência de documentação. Em função do baixo nível de escolaridade e das condições de pobreza em que vivem os pequenos agricultores, os mesmos muitas vezes carecem de documentos pessoais, como CPF, por exemplo, além de não ter a informação necessária sobre o funcionamento do crédito rural. Na questão do endividamento, existe o problema do aval cruzado, que foi apontado por vários entrevistados como uma dificuldade, pois muitos agricultores estão impossibilitados de tomar novos empréstimos porque outros 327 agricultores não pagaram suas dívidas. Observa-se que, em vários casos, os agricultores que participaram dessa modalidade não se conheciam suficientemente e só entraram nos grupos para ter acesso aos recursos. Mas, a maior dificuldade que se observa é que a maioria das atividades em que foram aplicados os recursos do crédito na região não foram bem sucedidos e conseqüentemente os agricultores tiveram dificuldades para devolver os empréstimos. A principal causa identificada para o fracasso dos investimentos foi à evolução negativa dos preços com relação às previsões realizadas quando o projeto foi elaborado (caso do guaraná e do coco, por exemplo). Também ocorre com freqüência um aumento dos custos de produção superior ao previsto, que não é acompanhado pelo aumento no preço do produto, comprometendo a rentabilidade da atividade. Em geral, os rendimentos previstos nos projetos são calculados a partir de coeficientes técnicos distantes da realidade do pequeno agricultor. Há também casos em que os rendimentos previstos no projeto não foram alcançados devido à quebra de safra por fatores climáticos ou por problemas fitossanitários (como no caso do cacau, do coco-da-bahia e da pimenta do reino). Também foi apontado, na oficina organizada para discutir o tema, que o tamanho do corpo técnico das instituições oficiais de assistência técnica, que é quem elabora a quase totalidade dos projetos, é claramente insuficiente para dar orientação individualizada aos agricultores. Os escritórios locais contam com dois ou três técnicos para dar orientação a uma área de abrangência de vários municípios, com um público alvo de mais de 5.000 agricultores. Soma-se a isto a falta de renovação do corpo técnico, pois quase não ocorreram contratações nas últimas décadas, e as restrições orçamentárias para o normal cumprimento das funções dessas instituições. O resultado é a padronização dos projetos e o escasso acompanhamento técnico, restrito na maioria dos casos a visitas de fiscalização para a liberação de novas parcelas, além de algumas atividades de capacitação. Foi citado pelos técnicos que o agricultor enfrenta dificuldades no gerenciamento dos recursos do crédito. Em alguns casos, os recursos não são aplicados integralmente na atividade programada. O agricultor realiza economias na adubação e tratos culturais, por exemplo, seja porque existem muitas carências de investimentos em outras atividades pro- 328 dutivas na mesma propriedade agrícola ou porque ele não tem como sustentar a família até que o projeto comece a dar retorno, e acaba tirando parte do sustento do crédito rural. Este último caso se observa com mais freqüência nos assentamentos de Reforma Agrária, quando os agricultores não têm outras fontes de rendimento. Uma vez esgotados os recursos do crédito, os produtores começam a ter que “vender o dia”, para sustentar a família e pagar a dívida, com o que os lotes deixam de ter o cuidado necessário, chegando em alguns casos a comprometer o resultado do projeto. Apesar das dificuldades, a maioria dos agricultores tem interesse e procura tomar novos empréstimos. Concluiu-se que o crédito é muito importante para os agricultores da região, porque a maioria deles está longe de pertencer à categoria dos agricultores familiares “consolidados”, como definida na pesquisa FAO/ INCRA (1994) e sem a injeção de recursos externos têm dificuldades para manter e/ou expandir as atividades da propriedade. Contudo, por ser a agricultura uma atividade de alto risco, com grande variabilidade de preços e sujeito a múltiplos fatores ambientais, além das carências de assistência técnica e da falta de agregação de valor (por exemplo, no caso das polpas de frutas) e de organização na comercialização, o crédito não está servido como fator de capitalização para a maioria dos agricultores familiares da região. Assim, aos problemas que eles já tinham soma-se agora um novo problema que é o endividamento. Tabela 7: Avaliação da utilização do crédito rural pelos agricultores das comunidades rurais Colônia Marimbondo Boa 33% 21% 26% Mais ou menos 11% 43% 30% Ruim 56% 36% 43% 329 Mais ou menos 11% 43% 30% Ruim 56% 36% 43% Tem interesse em tomar empréstimo novamente? Sim 83% 75% Não 17% 25% As atividades em que foram aplicados os recursos foram sucedidas? Sim 7% 4% Mais ou menos 11% 7% 8% Não 89% 86% 88% Fonte: pesquisa de campo. Nas agências bancárias visitadas disseram que os bancos não têm nenhum tipo de restrição ao cultivo consorciado. De acordo com os entrevistados, os bancos não financiaram este tipo de projeto porque não teria 330 sido apresentado. Um agente bancário expressou que para o banco seria até melhor o cultivo consorciado, porque ao reduzir o risco do agricultor reduz também o risco do banco. No entanto, durante a oficina foi demonstrado que os agentes financeiros não teriam capacidade técnica para avaliar os projetos de agrofloresta, especialmente por sua complexidade (grande número de cultivos em diversos estágios produtivos e com variabilidade de arranjos). Esta dificuldade também foi constatada em estudo de avaliação dos sistemas agroflorestais na região Amazônica (SMITH et al., 1998). Foi apontada pelos técnicos a ausência de pesquisas e resultados experimentais que permitam corroborar a eficiência produtiva e econômica de certos sistemas produtivos. Na maioria dos casos, há carência de coeficientes técnicos para elaborar projetos de SAFs, principalmente na perspectiva agroecológica. SMITH et al. (1998) no mesmo estudo revela que outra restrição para consolidação dos sistemas agroflorestais, além da escassez de pesquisa é o fato de que quando realizadas, os experimentos são conduzidos de cima para baixo, sem a participação dos agricultores. Considera-se que a maior restrição para o financiamento de SAFs é o predomínio do paradigma da agricultura intensiva, fundamentado no modelo agroindustrial de monocultura e uso intensivo de insumos, muito mais apropriado para a agricultura patronal e distante da lógica do pequeno agricultor familiar. Este modelo tem consolidado rotinas na elaboração e avaliação de projetos, que parecem reforçadas pela sobrecarga de trabalho e ausência de investimentos na capacitação do corpo técnico das instituições. A lógica do crédito ainda é a monocultura, no sistema convencional, mas hoje há vários modelos alternativos sendo testados. A articulação das instituições de ATER, agricultor e ONGs poderão permitir a troca de experiências e informações. Há interesse de quase todos os agentes em relação a essa mudança, mas a articulação e incentivos das políticas públicas são ainda necessários. Vale ressaltar, que apesar dos projetos serem elaborados para culturas “solteiras”, o agricultor da região acaba introduzindo outras lavouras nos espaços livres. Esta prática está sujeita ao parecer dos técnicos com relação aos possíveis prejuízos que os novos cultivos possam vir a provocar na lavoura financiada. Se o agricultor fizer um consórcio não previsto, o técnico pode dar um laudo desfavorável. Observa-se que alguns técni331 cos têm maior preocupação em cumprir estritamente as cláusulas contratuais, enquanto outros são mais flexíveis. Existe certa divergência entre a avaliação feita pelos técnicos e a prática dos agricultores: “O técnico não queria que plantasse nada com o guaraná, só ele purinho. Se tivesse plantado outro cultivo no meio, bem que a gente estava feliz” (agricultor da comunidade Marimbondo). Ou, nas palavras de outro agricultor da mesma comunidade: “A CEPLAC não aceitou plantar nada dentro, depois que a pimenta começou a morrer foi que eles mandaram plantar coisa dentro. Estou replantando tudo com seringa e cacau. Já era para estar replantado”. De fato existiriam dificuldades para o planejamento dos SAFs, porque para o agricultor os consórcios são bastante dinâmicos e vão mudando em função da evolução dos preços, dos custos das lavouras, do desempenho agronômico e aparecimento de problemas fitossanitários, entre outros fatores. Cabe destacar que o PRONAF Florestal contempla a possibilidade de financiamento de SAFs. Embora seja conveniente flexibilizar sua aplicação, para os casos que não se incluem espécies madeiráveis, como os sistemas implementados pelos agricultores, que apesar de não incluir espécies florestais plantadas, cumprem um papel na conservação da Mata Atlântica ao manter os remanescentes florestais, permitir a circulação da fauna e principalmente pelo alto índice de espécies nativas pioneiras presentes junto com os cultivos agrícolas. Isto não exclui a possibilidade do plantio de espécies nativas, que também interessa aos agricultores da região, fato constatado nas entrevistas. A concessão da “bolsa verde”, prevista no PRONAF Florestal, pode ser um mecanismo interessante para incentivar o agricultor familiar a preservar e expandir os componentes florestais nos sistemas, sendo que esse recurso poderá ser investido nos outros componentes do SAF, evitando o endividamento excessivo. Conclui-se que a política de crédito, associada a um novo modelo de ATER será um instrumento importante, desde que integrada nesse modelo de desenvolvimento regional que terá no desenvolvimento dos SAFs um dos instrumentos mais promissores. Para ampliar o acesso ao crédito para sistemas agroflorestais é necessário capacitação dos técnicos que elaboram projetos e daqueles que os avaliam. O mais interessante é que os agricultores já desenvolveram uma rica e ampla experiência no manejo destes sistemas. Agora compete aos gestores “correr atrás do prejuízo” no sentido de valorizar e incorporar as experiências bem sucedidas nas políticas públicas. 332 BIBLIOGRAFIA FAO/INCRA Diretrizes de Política Agrária e Desenvolvimento Sustentável. Brasília, Versão resumida do Relatório Final do Projeto UTF/BRA/036, março, 1994. GOMES, A. R. S. Sistemas Agrossilviculturais do Sudeste da Bahia. Encontro Brasileiro de Economia e Planejamento Florestal. Anais. Volume I: Sistemas Agroflorestais no Brasil: Aspectos Técnicos e Econômicos. Colombo: EMBRAPA-CNPF, 1992. MARQUES, J. G. W. Pescando Pescadores. In: Ciência e etnociência em uma perspectiva ecológica. 2a. ed. São Paulo: NUPAUB-USP, 2001. MMA Ministério do Meio Ambiente. Avaliação e ações prioritárias para a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica e Campos Sulinos. Brasília: MMA/ SBF, 2000. SCHROTH, G. et al. Agro forestry and Biodiversity Conservation in Tropical Landscapes. Washington: Island Press, 2004. SMITH, N. et al. Agro forestry Experiences in the Brazilian Amazon: Constraints and Opportunities. The Pilot Program to Conserve the Brazilian Rain Forest, Brasilia, 1998. [1] Levantamento realizado pela Secretaria de Assistência Social em 2002 para o projeto Alvorada. 333 A PIAÇAVA DO LITORAL DA BAHIA Luiz Alberto Mattos Silva 1 Carlos Alex Lima Guimarães 2 INTRODUÇÃO A palavra piaçava, que no tupi-guarani significa amarrar, nó, vínculo, é um termo aplicado internacionalmente a várias fibras produzidas por palmáceas. Dentre elas, podemos citar as brasileiras Attalea funífera (Bahia) e Leolpodinia piassaba, L. major, Aphandra natalia e Barcela odora (Norte do país), as africanas Raphia hookeri e R. gracilis e a piaçava de Madagascar Vonitra fibrosa. A piaçava da Bahia é responsável por 90% da produção nacional. Nas pesquisas sobre o extrativismo vegetal no Brasil, verificou-se que as palmeiras contribuem com 36% do total explorado. Dentre as palmeiras que produzem fibra, a piaçaveira é considerada como a de maior importância econômica, sobretudo pela qualidade da fibra e a boa aceitação no mercado internacional (Pinto e Bautista, 1985). A palmeira Attalea funifera Martius, conhecida por piaçava, piassava ou piaçaba, é uma espécie nativa e endêmica, ou seja, de ocorrência limitada ao litoral da Bahia. Estendese desde a região do Prado até a fronteira com o Estado de Sergipe, afastando-se no máximo 65 km do litoral. A maior concentração encontrase no município de Cairu. Em 2004, somente este município tinha uma participação de 37,47% da produção total de piaçava, seguido pelos municípios de Nilo Peçanha, Ilhéus e Canavieiras (IBGE, 2004). Estudos realizados por Silva e Vinha (1982; 1985) e Vinha e Silva (1998), mostraram 1 Biólogo, Professor Assistente e Pesquisador da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) – [email protected]. 2Engenheiro Agrônomo, Agricultor - [email protected] 334 que essa palmeira ocupa áreas significativas nos municípios litorâneos, associada à vegetação secundária, ou sob mata ou mesmo em áreas abertas. Uma de suas características importantes é ser uma planta bem adaptada a solos de baixa fertilidade, considerados impróprios para outras culturas. Apesar de ser uma espécie de valor econômico para a Bahia, o método utilizado para a sua exploração é o extrativismo. Sua implantação, em geral, é feita empiricamente, sem o auxílio de qualquer norma técnica pré-estabelecida, encontrando-se palmeiras com diferentes estádios de desenvolvimento, competindo com espécies arbóreas e um sub-bosque herbáceo-arbustivo denso. Como não há um cultivo perfeitamente racionalizado, grandes áreas com as condições edafo-climáticas ideais para o plantio dessa palmeira ainda não são aproveitadas. Até agora, poucos são os trabalhos científicos que respaldem a difusão e racionalização de técnicas sobre o cultivo da piaçaveira. Os mais recentes estão relacionados com o levantamento de densidade populacional, biologia floral, comercialização e melhoramento genético. Visando atender a expectativa dos agricultores, já que se trata de uma excelente alternativa para a diversificação do litoral baiano, a CEPLAC e a UESC buscam o melhor método de germinação em condições de laboratório e de campo e realizam coletas de material botânico para a formação do banco de germoplasma, visando uma futura seleção do material para estabelecer, através de trabalhos de melhoramento genético da espécie, a raça mais produtiva. USO POTENCIAL E VALOR ECONÔMICO Por serem longas, não elásticas, com alta flexibilidade e impermeáveis, as fibras retiradas das folhas das piaçaveiras são usadas, tanto no mercado interno como externo, para a fabricação de vassouras de uso caseiro e industrial (mecânicas), isolante térmico e cordas para amarração de navios. Um subproduto da extração da fibra - a borra - que geralmente gira em torno de 20% da colheita da piaçava, é bastante procurada para a cobertura de casas e choupanas e atinge, em algumas épocas, valor comercial maior que a própria fibra. O mercado interno utiliza cerca de 95% 335 da produção. Os principais países importadores de fibras da piaçaveira são Portugal, Alemanha e Holanda, seguidos dos Estados Unidos, Inglaterra e Bélgica. Além da fibra, o fruto pode apresentar algum valor econômico, em função da quantidade de óleo presente nas sementes. Hoje, porém, apresenta pouca utilidade, já que outros produtos de origem vegetal são facilmente adquiridos. Uma outra opção de grande importância do fruto, no que se refere à produção de biomassa cultivada, para produção de energia na nova política de Agroenergia, seria sua utilização para carvão vegetal, atualmente muito procurada devido à escassez de madeira e, sobretudo, ao alto teor calorífico. ASPECTOS BOTÂNICOS No gênero Attalea são conhecidas 69 espécies de palmeiras que ocorrem desde a América Central ao centro sul do Continente Sul Americano. Das 36 espécies encontradas no Brasil, pelo menos 10 são citadas por Pinto e Bautista (1985) para o Estado da Bahia: A. acaulis, A. barreirensis, A. borgesiana, A. burretiana, A. compta, A. concentrista, A. funifera, A. humilis, A. pindobassu e A. seabrensis, além do híbrido A. x piassabossu. Com base nas coletas de palmeiras realizadas em todo o Estado da Bahia, e no levantamento das espécies da família Arecaceae (=Palmae) depositadas nos acervos dos herbários deste Estado, Noblick (1991) relatou a existência de 8 espécies de Attalea (A. barreirensis, A. burretiana, A. funifera, A. geraensis, A. humilis, A. pindobassu, A. salvadorensis e A. seabrensis), além de dois hí-bridos A. x piassabossu e A. x voeksii, sendo este último descrito recentemente como novo para a literatura. Entre todas, a mais importante é a Attalea funifera, descrita por Martius em 1825. A piaçaveira é uma palmeira solitária, sem espinhos, caulescente no sul da Bahia e praticamente sem caule (estipe) no norte do Estado. A altura média varia entre 8 e 15 m e o diâmetro em torno de 20 e 25 cm. Apresentam 8 a 10 folhas, cerca de 9 m de comprimento; a face interna do pecíolo apresenta fibras rígidas de até 3,5 m de comprimento. As inflorescências podem ser hermafroditas (constituídas por flores femininas e masculinas na mesma ráquis) ou podem apresentar apenas flores masculinas (estaminadas) ou somente femininas (pistiladas). As primeiras flores aparecem quando as plantas têm aproximadamente 10 anos de idade e estão no período de “coqueiro”. A floração pode ocorrer durante todos os meses do ano, porém, com maior incidência, durante os meses 336 de verão. A liberação do pólen das flores masculinas ocorre logo após a abertura da espádice. Pela quantidade de pólen produzido, acreditava-se que a polinização era anemófila (pelo vento). No entanto, Voeks (1985), observou uma grande quantidade de insetos que visitavam regularmente as flores, principalmente Apis mellifera, Trigona sp., Drosophila sp. e duas espécies de Curculionidae. Os frutos quando maduros são de cor esverdeado no ápice a dourado na base, medem 10 a15 cm de comprimento, 5 a 9 cm de diâmetro e pesam entre 200 e 270 g; o endocarpo é ósseo, 15 a 18 mm de espessura e o nº de sementes varia de 1 a 3. Segundo Bondar (1942) são reconhecidos tres períodos de desenvolvimento da piaçaveira. No primeiro, denomina-do “patioba”, as palmeiras são novas, o caule ainda está totalmente subterrâneo e quando produzem fibras, estas são poucas e curtas. No segundo, chamado de “bananeira”, as fibras são longas, de boa qualidade, porém ainda apresentam caule subterrâneo. No terceiro, o de “coqueiro”, o caule se encontra totalmente acima da superfície do solo. O período de bananeira é o que apresenta maior produção de fibras, e com maior comprimento, que pode atingir mais de 2 metros. As fibras produzidas têm grande resistência à ruptura, variam de 2,5 a 7,5 kg por planta (valor médio de 5,3 kg) e a elasticidade varia entre 1,75 e 9,0%, sendo o valor médio de 4,25% e o diâmetro em torno de 1,1 mm. SOLOS, CLIMA E VEGETAÇÃO Em seu estado nativo, a piaçaveira é normalmente encontrada ao longo da faixa litorânea, formada basicamente por quatro unidades de solos, a saber: a) solo variação Cururupe - pobre, com teor de argila abaixo de 10% no horizonte A, aumentando para 25-35% nos horizontes abaixo, pH está em torno de 5,0 e do total da área ocupada com esse tipo de solo, 5% está apta para a cultura da piaçaveira; b) solo variação Tabuleiro pobre, de textura mediana à argilosa, profundos e bem drenados, o conteúdo de argila é superior a 60% nos horizontes inferiores, pH varia de 4,5 a 5,5 e cerca de 80% desta área está apta para o cultivo da piaçaveira; c) solo com horizonte spódico - pobre, de textura arenosa, drenagem rápida, pH inferior a 4,0 e 10% da área serve para o cultivo da piaçaveira; e d) solo variação Cairú - arenoso, muito pobre, com mais de 85% de areia, baixo teor de matéria orgânica, com pH acima de 5,5 e menos de 1% da área com piaçaveiras. Sobre eles estão os maiores maciços desta palmeira. 337 O clima da região onde se cultiva a piaçaveira é do tipo Af, caracterizado por ser quente e úmido, sem estação seca definida. A temperatura média mensal está entre 20 e 26 ºC, com média anual em torno de 24 ºC, e a umidade relativa do ar está freqüentemente acima de 80%. A precipitação é relativamente uniforme ao longo do ano e varia de 1.600 a 2.000 mm. A piaçaveira é encontrada predominantemente na faixa de transição da Restinga para a Mata Higrófila. Ambas as vegetações são pertecentes ao bioma Mata Atlântica. Na mata de restinga, a piaçaveira forma o dosel superior da vegetação, enquanto que na mata sobre os tabuleiros, vai aos poucos desaparecendo, não sendo mais encontrada nas partes densas dessa vegetação. Dentre as espécies herbáceas e arbustivas associadas a piaçaveira, predomina a tiririca (Rhynchospora splendens), cuja biomassa representa cerca de 77% da biomassa total dessa vegetação. As espécies arbóreas mais comuns, com DAP acima de 5 cm, são o mundururu e a quaresmeira, além de várias espécies de Myrtaceae. As espécies associadas são características da vegetação secundária o que mostra, juntamente com a ausência de espécies nobres de madeira, que a área de ocorrência natural da piaçaveira já foi bastante manejada (Silva e Vinha 1982; 1985). TECNICAS AGRONOMICAS A ciência só considera 4 espécies de palmáceas domesticadas: o coco, o dendê, a tâmara e a pupunha. O processo de domesticação é lento podendo demorar décadas ou mesmo séculos (Coradin e Lleras, 1978). Para se qualificar uma planta considerada até o momento uma espécie extrativista e transformá-la em uma cultura agrícola, uma serie de praticas agronômicas devem ser criadas a fim de que se tenha o seu ciclo biológico dominado. Dentre estas práticas agronômicas podemos citar: escolhas de frutos para plantio, formação de mudas, plantio, combate às pragas e doenças, nutrição, roçagens, limpeza, colheita etc. GERMINAÇÃO E PROPAGAÇÃO A germinação da piaçava tem uma característica própria que é o lançamento de uma raiz vertical que pode atingir 40 a 50 cm de comprimento. Daí a dificuldade de se transportar para o campo. Pelo fato de apresentar esta dificuldade, o problema foi resolvido com o advento 338 das mudas pet, provenientes da semeadura em vasos de refrigerantes usados. Estas mudas podem ser levadas a campo com quase um metro de altura. Até bem pouco tempo, se acreditava que a propagação da piaçaveira era provocada pela ação do fogo – após a derruba e queima da capoeira - induzindo a germinação através da quebra da dormência das sementes. Trabalhos realizados por Voeks e Vinha (1988) na ESPAB, em Porto Seguro, mostrou que o fogo tem pouco ou nenhum efeito sobre a quebra de dormência das sementes desta espécie. Naquela Estação foram plantadas sementes em quatro tipos de tratamentos. No primeiro, as sementes despolpadas foram plantadas em uma capoeira de aproximadamente 12 anos de idade; no segundo, após a derrubada de parte da mesma capoeira, toda a vegetação foi retirada manualmente, deixando o solo exposto ao sol e, logo após, foram plantadas as sementes; no terceiro, após a derruba, plantaram-se as sementes e queimou-se a capoeira; no quarto tratamento, a capoeira previamente derrubada foi queimada e em seguida plantaramse as sementes. Observou-se, que as sementes plantadas na capoeira tiveram índice de germinação de aproximadamente 60%, bem superior aos outros tratamentos, onde esse índice não atingiu 40%, sendo que o tratamento onde se plantaram as sementes antes da queima foi o que apresentou pior resultado, pois, além de retardar a germinação, esse índice foi inferior a 30%. No caso da piaçaveira, o período desde o início da germinação, até o aparecimento da primeira folha na superfície do solo, pode demorar até 7 meses. Nesse estágio, o sistema radicular já se encontra bastante desenvolvido, com mais de 20 cm de comprimento. Com o objetivo de aumentar o índice de germinação, efetuaram-se alguns testes em casa-de-vegetação, utilizando frutos com e sem o mesocarpo (casca), submetidos a uma temperatura constante de 40 ºC durante 7, 14, 21, 28 e 35 dias. Os resultados mostraram que a exposição a 40 ºC durante 7 dias foi o que apresentou melhor resultado. A distribuição da piaçaveira em condições naturais sempre foi atribuída a pequenos roedores (pacas e cotias) que utilizam o mesocarpo na sua alimentação ou por enxurradas que transportam os frutos. Afim de comprovar tal fato, Voeks (1985) coletou vários frutos maduros e colocouos, devidamente marcados, em vários locais. Após algum tempo, retornou ao local de origem e constatou que os frutos não tinham sido removidos. Atribuiu o fato ao desaparecimento dos referidos roedores. Por isto, e pelo ataque normal que sofre os frutos maduros pelos bruquídeos, destruindo as sementes, a dispersão natural da piaçaveira é, hoje, bem pequena e só pode ocorrer com a intervenção do homem. 339 DENSIDADE DOS POVOAMENTOS Por ser uma espécie espontânea, o número de piaçaveiras por unidade de área varia consideravelmente de um local para outro. Essa variabilidade está relacionada com a distribuição natural da espécie como, também, com o grau de interesse dos proprietários rurais na sua exploração. Com o objetivo de conhecer o número de piaçaveiras por unidade de área nas regiões tradicionais de produção, bem como caracterizar os ecossistemas onde as piaçaveiras ocorrem, foram feitas prospecções nos municípios de Ilhéus, Canavieiras e Cairu. No município de Cairu, tradicional produtor de fibras, foi encontrado o maior povoamento - com 2.690 palmeiras por hectare - seguido pelo município de Ilhéus com 1.626 e o de Canavieiras com 700. PRODUÇÃO Os dados de produção de piaçaveira são desencontrados, muitas vezes obtidos através de informações, nem sempre muito confiáveis, junto aos proprietários. Bondar (1942) indica uma produção de 8 a 10 kg de fibras/planta/ano. Visando obter mais informações sobre a produção, foi conduzido um experimento na Fazenda Barra do Manguinho, município de Ilhéus. Neste experimento foram marcadas 25 palmeiras consideradas jovens, ou seja, na fase “patioba”, sem nunca terem apresentado floração e outras 25 consideradas adultas, isto é, que já lançaram inflorescências e apresentam estipe com altura superior a 1,5 m (fase “coqueiro”). A produção média das 25 plantas jovens foi de 1.8l5 g/planta, 40% acima das plantas adultas, as quais alcançaram uma produção média de 1.282 g/ planta. O comprimento das fibras também foi superior nas plantas jovens em cerca de 36%, porém o diâmetro não apresentou diferenças significativas. Como a produção de fibras está diretamente relacionada com a produção das folhas, a maior e melhor quantidade de fibras nas plantas jovens foi atribuída ao fato de que nestas, toda a energia é alocada na produção vegetativa, enquanto na planta adulta uma grande parte da energia obtida é alocada para a produção de flores e frutos. Vale salientar que a propriedade apresenta solo de baixa fertilidade e não se pratica qualquer manejo agronômico. PRAGAS E DOENÇAS Com uma distribuição geográfica bastante restrita, e no clima favorável no seu local de origem, é possível que o equilíbrio biológico impeça o apa340 recimento de pragas que venham a inviabilizar a sua sobrevivência. Este equilíbrio, entretanto, pode ser rompido se o povoamento da espécie e o rápido desaparecimento da vegetação a ela associada forem descontrolados. Todos os insetos encontrados nas piaçaveiras são comuns a outros tipos de palmeiras regionais, principalmente nos coqueiros e dendezeiros. Dentre as principais pragas que atacam as piaçaveiras podemos citar: Brocão-do-solo (Strategus aloeus) e Brocão-do-ar, nas piaçaveiras novas e o último transmite a doença “anel-vermelho”; Brocada-ferida (Rhychophorus palmarum), que ataca através dos ferimentos feitos pelo homem na estipe e pode causar a morte da palmeira; Serrador (Macrodontia cervircornis) , nas palmeiras adultas e o Pachymerus nucleorum, que ataca os frutos. Moura et al. (1991) apresentam algumas medidas baseadas no controle comportamental, químico, mecânico, cultural e biológico de algumas pragas. Dentre as doenças podemos citar: Murcha-de-Phytomonas, Murchade-Phythophtora e Anel-vermelho. PRODUTIVIDADE A produtividade da piaçava foi medida por Moreau (1997) em quatro sistemas de manejo: mata, sistema agroflorestal, pastagem e área plantada. A maior produtividade foi das palmeiras vegetando em pastagem e em área plantada e a menor em mata densa, isto é, em ambiente fechado. Se agregarmos os rendimentos de outras culturas presentes no sistema agroflorestal, provavelmente este será o mais rentável, por unidade de área, além de preservar os recursos naturais como água e solo. Ressalva-se que a mata com piaçaveiras, apesar de apresentar menor produtividade, é de grande importância, pois pode tornar rentáveis áreas de reservas legais e outras matas mantidas preservadas, que tenha piaçaveiras ou possam ser enriquecidas com elas. Essa ressalva é feita para que os produtores não pensem que devem derrubar matas para plantar piaçava e trazer conseqüências negativas no futuro, tanto em termos econômicos como ambientais. COMERCIALIZAÇÃO A produção da fibra é uniforme durante todo o ano, mantendo regular o abastecimento do mercado. Além disso, a piaçava é um produto não pere341 cível, podendo ficar longos períodos na planta ou armazenados. Após a colheita separa-se a borra da fibra que geralmente é molhada para ganhar peso. Os ganhos obtidos pelas diferentes classes da cadeia comercial variam de acordo com os seis caminhos possíveis a serem seguidos até chegar ao consumidor. O pagamento do produto geralmente é feito na balança, ou seja, no ato da pesagem. LITERATURA CITADA BONDAR, G. A piaçaveira e outras palmeiras Attaleaineas na Bahia. Instituto Central de Fomento Econômico da Bahia (ICFEB), Salvador, Bol. n. 13, 73 p., 1942. MOREAU, M. S. Ocorrência, Manejo, Produtividade e Canais de Comercialização da Piaçaveira (Attalea funifera Mart.) em Ilhéus, Una e Canavieiras – Bahia. Dissertação de Mestrado, UFBA/Escola de Agronomia, Cruz das Almas (BA), 64p. 1997. MOURA, J. I. L., RESENDE, M. L. V. de, LIMA, M. F. et al. Táticas para o controle integrado de Rhynchoporus palmarum (L.). CEPLAC/CEPEC (Pub. Avulsa), Ilhéus, 16 p., 1991. NOBLICK, L. R. The indigenous palms of the State of Bahia, Brazil. Dissertação (Doutorado em Botânica). University of Illinois, Chicago, 523 p., 1991. SILVA, L. A. M. e VINHA, S. G. da. A Piaçaveira (Attalea funifera Mart.) e a vegetação associada no município de Ilhéus, Bahia. CEPLAC/CEPEC, Ilhéus, Boletim Técnico n. 101, 12 p., 1982. ______ e ______. Ocorrência da piaçaveira e a vegetação associada no município de Canavieiras, Bahia. CEPLAC/CEPEC, Ilhéus, Boletim Técnico n. 132, 19 p., 1985. VINHA, S. G. DA e SILVA, L. A. M. A Piaçaveira da Bahia. UESC, Ilhéus, Bahia, 48p. 1998. VOEKS, R. A. Preliminary observation on the reproductive ecology of the piassava palm (Attalea funifera). Anais. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, n. 57, p. 524-525, 1985. ______ e VINHA, S. G. da. Fire manegement of the piassava fiber palm (Attalea funifera) in Eastern Brazil. In Conference of Latin Americanist Geographers, Alburn, 1988. Proceedings: Depart. of Geog. & Anthropology, U. S. A., v. 14, p. 7-13, 1988. ZUGAIB, A. C. C. e COSTA, D. A. M. Comercialização da piaçava. CEPLAC/ DEADE (Public. Avulsa), Ilhéus, Bahia, 28 p. 1988. 342 QUALIDADE E BENEFICIAMENTO DO CACAU * Joseval Menezes Martins * Vanildo Bispo Silva Todos estes questionamentos que envolvem atualmente a colheita e a pós-colheita do cacau e a normatização de suas amêndoas, da mesma forma como também vem ocorrendo com outros produtos, abrem um debate enfocado em novas concepções e exigências de mercado, que determina e beneficia positivamente a qualidade de vida do consumidorcidadão, com direito e liberdade para aceitar ou rejeitar qualquer um produto. Provavelmente, pouca coisa contribui mais para um exemplo de insucesso de um produto, levando em conta os altos custos da sua implantação a partir do trabalho de melhoramento genético até o beneficiamento e armazenagem, do que o desinteresse por este produto, por parte de um mercado consumidor, acentuadamente exigente em qualidade. Sabemos das dificuldades que vem enfrentando determinados países produtores de cacau, e como exemplo o Equador, que se esforça para exportar para o Brasil, mas cuja importação está suspensa por barreiras sanitárias, devido ao seu produto está afetado pela doença monília, tão ou mais virulenta que a vassoura de bruxa. De outra forma também, a Indonésia se encontra desestimulada a produzir, pela dificuldade em encontrar mercado para seu cacau sem fermentação e baixo padrão de qualidade das amêndoas, com tendência a refluxo na produção, provocado pela a broca do cacau e pelos preços baixos devido à desqualificação do seu produto. O governo japonês, através de seu ministério da saúde, há algum tempo passado, rejeitou cacau da Venezuela, por se encontrar contaminado no nível de 0,82ppm (partes de milhão) do inseticida fosforoso “dichlorvos”, acima dos 0,5ppm permitidos e ordenou aos importadores a devolução da * Ag. de Ativ. Agropecuárias/Controle de Qualidade de Cacau/CEPLAC/CENEX/ILHEUS 343 carga a sua origem ou sua destruição, com o fim de assegurar que o cacau não chegasse ao mercado. Então, é quase obrigatório imaginar, que no momento presente, a qualidade de um produto pode até envolver interesses diversos como forma de barreira estratégica ou proteção de algum setor, com a finalidade de se apoderar de mais alguma vantagem; porem é bom ficar claro e não desconhecer o outro lado da moeda; e entender que muito mais coisas estão em jogo, assim como também não desconhecer a evolução que vem alcançando mundialmente o consumidor, que tem se deparado com muitas dificuldades no que diz respeito a doenças provocadas por intoxicações alimentares de diversas formas, e contra isto vem lutando no sentido de separar o bom e seguro alimento do perigoso e agressivo, respaldado naquilo que é do seu pleno direito, ter uma matéria prima de alta qualidade para um alimento saudável e seguro, comprovado pelo o poder publico e não um alimento que coloque a saúde publica numa crise, provocada principalmente por alimentos que levam a população à obesidade, a diabete, a arteriosclerose, ao câncer e tantas outras. Consequentemente, aos poucos se começa reconhecer a necessidade de grandes mudanças do individuo em relação com o meio ambiente e com os alimentos, e enfim com toda a natureza e com as coisas simples e naturais, contrapondo-se as coisas puramente artificiais. Em uma publicação sobre a “Alimentação do presente e do futuro”, o agrônomo Jocimar da Silva, colocou muito bem esta questão do futuro da seguinte forma: “Há algumas décadas atrás, quando se falava de alimentação do futuro, se imaginava aqueles alimentos processados, industrializados e em forma de cápsula, conforme se alimentam os astronautas ou se divulga nos filmes de ficção cientifica. Entretanto, o que não se imaginava é que a maior preocupação da sociedade nos dias de hoje fosse à qualidade dos alimentos in natura”. E é neste sentido, que é fundamental ter o máximo de cuidado na hora do beneficiamento do cacau, que tem como objetivo principal obter um produto de qualidade superior, com as amêndoas secas de no máximo 8% de umidade, livre de impurezas, ausência de cheiros estranhos, bem fermentadas e com boa apresentação externa. Este cacau deve ser bem elaborado a partir da primeira fase, com a colheita de frutos somente maduros, sem nenhuma mistura com os frutos sobremaduros, verdoengos, atacados por insetos ou outros animais e frutos doentes. 344 Para que haja uma boa fermentação, é necessário que a colheita seja bem conduzida e seletiva para não permitir uma mistura com frutos desqualificados (doentes), que quando aproveitados conferem um gosto estranho ao produto (chocolate). Frutos doentes que apresentam sementes atacadas devem ser aproveitados apenas para extração de manteiga de cacau. Os frutos sobre-maduros, além de terem um peso menor, quando germinados, estão diretamente mais expostos à contaminação por mofos ou a infestação por insetos. A colheita de frutos verdes, ou parcialmente maduros, também implica em queda de rendimento em peso e em uma fermentação retardada ou mesmo deficiente, devido ao baixo teor de acúcares presentes na polpa e as condições físicas em que ela se encontra. O intervalo entre a colheita e a quebra não deve ultrapassar cinco dias. Na fermentação inicia a formação de substâncias que contribuem para o processo de desenvolvimento das características peculiares de sabor, aroma e cor do chocolate, reveladas posteriormente na fase de industrialização do cacau. Para se obter uma boa fermentação, as etapas anteriores devem ser efetuadas corretamente. Além disso, a fermentação em si deve ser realizada de maneira adequada embora as instalações para fermentação sejam bastante simples, o processo exige alguns cuidados, como: cochos de madeiras com drenos no fundo de 6 a 7 mm de largura de diâmetro e espaçamento de 15 por 15 cm 15 cm entre drenos para escoamento do mel e a aeração da massa, com no mínimo 2 compartimentos de 1,2m de largura, 1,0 m de altura e 1.0 m de comprimento e capacidade para 900 kg de sementes frescas para cada um compartimento, com divisórias removíveis, com a finalidade de facilitar o revolvimento da massa em fermentação nas primeiras 48 horas; 72horas; 96 horas e 120 horas após a entrada da massa no cocho. O revolvimento tem a finalidade de promover a aeração e uniformização da massa de cacau. Durante o processo a massa deve ser mantida coberta com sacos de juta ou folhas de bananeira para reduzir perdas de calor e evitar o ressecamento excessivo das sementes da camada superficial. O uso de plástico deve ser descartado por permitir a condensação de água sobre a massa, dificultando a aeração e propiciando o desenvolvimento de fungos indesejáveis. A fermentação pode ser acompanhada pelas transformações que ocorrem no produto como mudanças de coloração, cheiro e temperatura no interior da massa de cacau. As sementes frescas têm coloração externa 345 branco-leitosa a rosada, passando gradativamente, durante a fermentação, para marrom-claro e marrom escuro. No inicio do processo, o cacau exala odores de álcool, passando a ter cheiro de vinagre após o terceiro ou quarto dia de fermentação. A temperatura da massa apresenta elevações que normalmente alcançam valores entre 47 e 50ºC. O cacau, ao atingir o grau de fermentação desejado, apresenta uma coloração externa marrom intensa e cheiro de vinagre. Internamente verifica-se a presença de liquido também de coloração marrom intensa que exuda facilmente quando as sementes são comprimidas. O produto oriundo de uma fermentação de cinco dias apresenta coloração violeta internamente, acidez elevada e produz um chocolate com fraco aroma e sabor amargo e ácido. Cacau não fermentado é classificado como ardósia e apresenta amêndoas compactas de coloração cinza-escura que produz chocolate de aspecto visual semelhante, sabor amargo e adstringente, sem aroma característico. A fermentação excessiva além dos sete dias, resulta em um cacau de coloração castanho-escura, com cheiro de amônia ou odor desagradável de material em putrefação. O chocolate obtido deste tipo de cacau, normalmente possui cheiro de peixes e sabores estranhos, não característicos do produto. A secagem é a fase do beneficiamento em que o excesso de água é retirado do cacau recém-fermentado, diminuindo a umidade inicial de 50 a 55% para 7 a 8%. Tem o objetivo de assegurar as condições propícias para o armazenamento, além de proporcionar a redução da acidez e continuidade da cura do cacau. O armazenamento do cacau recém-beneficiado visa dá-lhe proteção contra a chuva, excesso de temperatura e conservação de suas qualidades. É através deste processo que se pode garantir para a produção de chocolate e consequentemente para os consumidores, uma matéria prima de alta qualidade, resultante do beneficiamento, feito em cada uma das cinco fases bem definidas e diferenciadas, na seguinte ordem: Colheita - Quebra - Fermentação - Secagem - Armazenamento Fonte: Cultura do Cacaueiro no Estado do Espírito Santo/CEPLAC G. Enrique Smith Figueroa/CEPLAC Jornal A Tarde de 06.05.04 www. Todafruta.com. br 346 CONTROLE BIOLÓGICO DE DOENÇAS DO CACAUEIRO Givaldo Rocha Niella1 João de Cássia do Bonfim Costa2 José Luiz Bezera3 José Laureano M. Veloso4 Cleber Novais Bastos5 O controle biológico consiste no emprego de um organismo (predador, parasita ou patógeno) que ataca outro que esteja causando danos econômicos às lavouras. É baseado em uma idéia simples: controlar uma praga (inseto) ou doença, usando seus próprios inimigos naturais. As pesquisas, entretanto, exigem a integração de esforços entre profissionais de muitas áreas e também a mudança de hábitos do agricultor. É uma tarefa importante em um país que despeja, por ano, cerca de 260 mil toneladas de agroquímicos nas lavouras e onde o consumo de praguicidas cresceu 60% nos últimos quinze anos. Em 2002, a venda de agrotóxicos atingiu US$ 2,5 bilhões por ano. O uso do baculovírus Anticarsia gemmatalis nucleopolyhedrovirus (AgMNPV) contra a lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis) já é usado em mais de 1 milhão de hectares de soja no país e constitui uma alternativa real ao controle químico dessa praga. Um exemplo bem-sucedido de controle biológico, como parte de um programa de Manejo Integrado de Pragas - MIP, com a utilização de um vírus entomopatogênico, do grupo dos baculovírus. O controle biológico de doenças e pragas do cacaueiro ainda tem muito que avançar. O 1 Ceplac/Cepec. E-mail: [email protected]. 2 Ceplac/Cepec. E-mail: 3 [email protected]. Ceplac/Cepec. E-mail: [email protected] Ceplac/Cepec. E-mail: [email protected]. 5Ceplac/Supor/Erjoh. E-mail:[email protected]. 347 Tricovab, nome “comercial” do antagonista que controla o fungo da vassoura-de-bruxa do cacaueiro já é uma realidade no campo. Mas não se tem ainda nenhum controle biológico das inúmeras pragas (insetos) que atacam esta cultura. Já existem várias pesquisas com o controle biológico das podridões de raízes e frutos utilizando fungos do gênero Trichoderma sp . Um exemplo é o controle da podridão da raiz e dos frutos do mamoeiro, causados por Phytophthora sp, com a utilização de espécies de Trichoderma . Será que também não funcionaria no controle da podridão parda do cacaueiro? Cabe a pesquisa responder esta e outras indagações, demonstrando inclusive a relação custo X benefícios das práticas. Sabe-se que existem inúmeros fungos patógenos do solo que causam danos às raízes do cacaueiro e que podem ser controlados com o uso de agentes de biocontrole. Além das dificuldades técnicas para identificar, testar e avaliar a ação dos vários agentes de biocontrole, nos três ambientes físicos, ou seja, em laboratório, casa-de-vegetação e campo, tem-se também o registro e patente do produto final. Através de instrução normativa emitida recentemente, 17 de março de 2006, o governo diferencia os trâmites legais para registro de produtos biológicos, entretanto, ainda tem que tramitar nos ministérios da agricultura, saúde e meio ambiente, acarretando algum tempo até que se obtenha um registro definitivo e o produto seja disponibilizado para que a iniciativa privada o produza e comercialize em larga escala. O Tricovab já cumpriu todos os testes necessários e esta tramitando o pedido de registro definitivo do mesmo. Em pesquisas realizadas para se avaliar a toxicidade sobre mamíferos, todos os testes demonstraram baixo potencial de dano contra os mesmos. As unidades de demonstração em campo também comprovaram a eficiência deste agente de biocontrole ao longo de mais de cinco anos de pesquisas. Vale salientar, entretanto que a aplicação apenas do Tricovab, ou de qualquer outra ferramenta de controle da vassoura-de-bruxa do cacaueiro isoladamente não surtirá os efeitos desejados. O controle biológico de doenças do cacaueiro deverá esta associada a práticas de manejo da cultura, ou seja, associado a um manejo integrado da doença. Não se pode conceber que uma prática isoladamente irá resolver o problema. O agrossistema cacaueiro é muito 348 complexo e envolve outras espécies de plantas além do cacau e isto aumento o grau de complexidade do controle de doenças do mesmo. Considerando-se que no sul da Bahia existem mais de dez diferentes agrossistemas, com diferentes condições de solo e clima, é de se esperar variações nas respostas com o controle biológico. Outro aspecto que se deve levar em conta é que o Brasil é hoje um dos países que apresenta maior potencial para produtos biológicos para serem utilizados na agricultura. Isto devido ao simples fato de que temos a maior biodiversidade de espécies por hectare do planeta. O mal-do-facão também é outra doença que pode ser controlada com o manejo integrado utilizando-se agentes de biocontrole. Para que isto seja possível é necessário pesquisas para identificação dos possíveis inimigos naturais do fungo causador desta doença (Ceratocystis fimbriata). O controle biológico de doenças de plantas pode ser definido tradicionalmente como a redução da soma de inóculo ou das atividades determinantes da doença provocada por um patógeno, realizada por um ou através de um ou mais organismos que não o homem (Cook e Baker, 1983 citado por Bettiol e Ghini, 1995). O conhecimento dos mecanismos envolvidos no controle biológico é de fundamental importância para aumentar as vantagens competitivas no ambiente. Os principais mecanismos das interações antagonísticas entre microrganismos incluem: a) competição: interação entre dois ou mais organismos disputando o mesmo recurso que, no caso dos microrganismos ocorre principalmente quando, nutrientes, espaço ou oxigênio são limitantes; b) antibiose: interação entre organismos na qual um ou mais metabólitos produzidos por um organismo têm efeito danoso sobre o outro, causando, usualmente, inibição no crescimento e/ ou na germinação; c) micoparasitismo: fenômeno pelo qual um microrganismo parasita outro. Trichoderma é um dos hiperparasitas mais estudados recentemente (Melo, 1996; Tronsmo e Hjeljord, 1998). Os estudos do controle biológico clássico feitos pela introdução/aplicação de inimigos naturais vivos de C. perniciosa já identificaram fungos antagônicos na forma hiperparasítica que atacam basidiomas ou colonizam tecido morto doente em competição com C. perniciosa (Rudgard et al., 1993). Durante o processo de seleção de microrganismos para o controle biológico, 349 podem ser encontrados fungos, bactérias ou actinomicetos, que podem apresentar boas respostas sobre o patógeno alvo, mas os resultados mais positivos na região cacaueira até o momento, têm sido verificados com a aplicação de Trichoderma e Clonostachys , considerados como os micoparasitas que apresentam o maior número de vantagens e, portanto, têm sido os mais estudados no controle biológico de enfermidades (Melo, 1996). CONTROLE BIOLÓGICO DA VASSOURA-DE-BRUXA NA CEPLAC Com as pesquisas realizadas pela CEPLAC, órgão subordinado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o Brasil tornouse referência no combate à vassoura-de-bruxa. Desde o surgimento da doença na região cacaueira da Bahia, em 1989, esforços foram envidados no sentido de encontrar uma solução para o problema (Stadinik e Talamini, 2004). Especificamente no estudo do controle biológico da vassoura-debruxa do cacaueiro, os marcos históricos mais importantes das pesquisas conduzidas na CEPLAC foram os seguintes: 1978-Início dos trabalhos pioneiros na Amazônia (C.N. Bastos), CEPLAC/SUPOR; 1989 - Constatação da vassoura-de-bruxa do cacaueiro na Bahia (Pereira et al.), 1989), CEPLAC/CEPEC (Centro de Pesquisas do Cacau); 1991 - Isolamentos de antagonistas a C. perniciosa na Bahia (D.P. Oliveira), CEPLAC/CEPEC; 1992 - Início de experimentos in vitro e in vivo na Bahia (Costa et al. 1994), CEPLAC/CEPEC; 1995 - Primeiro experimento de campo com T. stromaticum na Bahia (Costa et al., 1996), CEPLAC/CEPEC; 1997 - Início de parcerias institucionais e individuais (I.S. Melo; P. Hebbar; R.D. Lumesden; e G.J. Samuels), Embrapa, Universidades e USDA (United States Department of Agriculture); 1999 -Inauguração da Unidade de Biocontrole da CEPLAC (J.C.B. Costa et al.), CEPLAC/CEPEC; 350 2000 - Descrição de T. stromaticum (Samuels et al., 2000), USDA/ CEPLAC/CEPEC; 2000 -Início dos estudos morfológicos e avaliação de risco ecotoxicológico de T. stromaticum (I.S. Melo e V.L.S. Castro), Embrapa Meio Ambiente; 2000 -Produção de Tricovab® para o controle da vassoura-de-bruxa do cacaueiro (Bezerra et al., 2000), - controle biológico da vassoura-debruxa do cacaueiro na Bahia CEPLAC/CEPEC; 2002 -Teste de campo com nova formulação de T. stromaticum(J.C.B. Costa e J.L. Veloso), CEPLAC/CEPEC; 2003 -Descrição de Hypocrea stromatica (Bezerra et al., 2003), CEPLAC/CEPEC; 2003 -Organização da VIII Reunião de Controle Biológico de Fitopatógenos (J.L. Bezerra et al.), CEPLAC/CEPEC; 2004 -Continuação do aprimoramento da produção massal de T. stromaticum para o controle da vassoura-de-bruxa do cacaueiro (Niella, 2005), CEPLAC/CEPEC. CONTROLE COM Trichoderma sp. O potencial de uso de Trichoderma como agente controlador de doenças de plantas é resultado de inúmeros fatores, como a ação competitiva por fontes de energia, a produção de antibióticos ou outros metabólitos que inibem a atividade do patógeno e o efeito predatório ou micoparasitismo (Chet, 1987). O gênero Trichoderma consiste de um grupo de fungos saprófitos e micoparasitas encontrados principalmente no solo e madeira em decomposição. A capacidade antagonística do Trichoderma foi descrita em meados do século XX (Weindling, 1932), porém só recentemente, com o interesse voltado para o controle biológico e o desenvolvimento da biotecnologia em agricultura, é que produtos comerciais vêm sendo desenvolvidos, a exemplo de F-Stop®, Tricodex® e Supravit®, à base de T. harzianum, registrados para uso em Israel no controle de doenças causadas por Rhizoctonia sp., Pythium sp., Fusarium sp., Botrytis cinerea e Sclerotium rolfsii (Melo, 1998), e Tricovab®, desenvolvido e formulado no Brasil a partir de T. stromaticum, disponibilizado pelo CEPEC para o controle da vassoura-de-bruxa do cacaueiro (Oliveira e Luz, 2005). Espécies 351 de Trichoderma têm sido documentadas limitando o crescimento de muitos fungos fitopatogênicos em raízes e folhas e têm sido usados como agentes de biocontrole para proteção de várias culturas contra diferentes gêneros de fungos, como é o caso de T. koningii no controle de Sclerotium cepivorum, causador da podridão-branca da raiz de cebola (Metcalf et al., 2004), de T. harzianum no tratamento de sementes de milho reduzindo os sintomas de antracnose, causada por Colletotrichum graminicola (Harman et al., 2004), e T. virens no controle do tombamento em plântulas de algodão, causado por Rhizopus oryzae e Pythium (Howell, 2002), além de T. stromaticum no controle de C. perniciosa em cacaueiro (Bastos e Dias, 1992; Oliveira e Luz, 2005; Samuels et al., 2000). No Brasil, com relação à vassoura-de-bruxa do cacaueiro, Bastos (1986) constatou, a partir de experimentos realizados em condições controladas, que uma suspensão de conídios de “T. viride” aplicada em vassouras secas colonizadas por C. perniciosa provocou a paralisação na produção dos basidiomas. Em experimentos conduzidos no campo, utilizando vassouras colocadas no solo e na copa de cacaueiros, “T. viride” reduziu significativamente a produção de basidiomas (Bastos, 1988). O antagonista isolado de vassouras-debruxa do cacaueiro anteriormente classificados como T. viride (Bastos, 1988) e T. polysporum (Costa et al., 1996), foi reclassificado como uma nova espécie, denominada de T. stromaticum. (Samuels et al., 2000), sendo seu anomorfo descoberto e descrito em vassouras e frutos secos de cacaueiro e outras espécies de Theobroma, na Bahia, como Hypocrea stromatica Bezerra, Costa e Bastos (Bezerra et al., 2003). Na região cacaueira da Bahia, utilizando o isolado de T. stromaticum, verificou-se inibição expressiva da produção de basidiomas de C. perniciosa em “vassoureiro” (Costa et al., 1995); em Uruçuca (BA), no campo, foi observada redução de 99,7% no número de basidiomas nas vassouras deixadas na serrapilheira e de 56,6% nas vassouras penduradas na copa dos cacaueiros (Costa et al., 1998). Estudos realizados no campo em Marituba (PA) mostraram a ação do antagonista T. stromaticum reduzindo a infecção em ramos e almofadas florais e a formação de basidiomas nas vassouras deixadas tanto na copa quanto na serrapilheira dos cacaueiros (Bastos, 2000). Buscando ajustar o número de aplicações de T. stromaticum na redução da produção de basidiomas de C. perniciosa no campo na Bahia. 352 CONTROLE BIOLÓGICO DA VASSOURA-DE-BRUXA DO CACAUEIRO NA BAHIA Observou-se redução de 64% na produção de basidiomas em vassouras do tratamento que recebeu quatro aplicações de T. stromaticum durante o período chuvoso (a partir de junho), sendo as duas primeiras com intervalo de 15 dias e as duas seguintes com 30 dias, mais quatro remoções de vassourada- bruxa anuais, quando comparado com a testemunha que consistiu em quatro remoções a cada 90 dias (a partir de maio), sem aplicação de T. stromaticum e de óxido cuproso (Costa et al., 2000). Para investigar o mecanismo de ação antagonista de T. stromaticum sobre C. perniciosa foram retiradas amostras de ramos de cacaueiro hipertrofiados e secos (vassouras secas) encontradas na serrapilheira do cacaueiro. As amostras foram processadas pelo método convencional de microscopia eletrônica de varredura (MEV). Constatouse a presença de hifas de T. stromaticum interagindo parasitariamente com hifas de C. perniciosa no interior de vassouras secas de cacaueiros, além de clamidósporos e conídios do antagonista (Costa et al., 2001), que posteriormente também foram caracterizados morfologicamente através de MEV (Melo e Faull, 2004). Em vista da alta capacidade recombinatória de T. stromaticum, estudou-se a diversidade genética de isolados de Trichoderma sp. Coletados no Brasil, com base em marcadores moleculares RAPD, morfológicos e biométricos, para analisar a similaridade genética entre o T. stromaticum usado no biocontrole de C. perniciosa, seu anamorfo, H. stromatica e isolados mutantes de T. stromaticum resistentes ao benomil, TVC 5.15, (Melo et al., 2001). Verificou-se alta variabilidade genética entre os isolados de Trichoderma sp. de cacaueiro (1 a 85%). Não houve diferenciação genética entre os isolados do tipo selvagem e mutante (= 96%). As análises das características morfo-biométricas incluíram formas de conídios, tipos de fiálides, presença/ausência de clamidósporos, esporulação e tipos de coloração em meio de cultura. A característica tipo de fiálides foi a que mais contribuiu para a divergência dos isolados. Concluiu-se que o isolado do tipo mutante pode ser utilizado para estudos epidemiológicos por conservar as características genéticas da espécie e que marcadores moleculares têm potencial na indicação da capacidade antagonística de espécies de Trichoderma (Costa et al., 2003). 353 PRODUÇÃO ORGÂNICA DE LEITE NO SUL DA BAHIA Cláudia de Paula Rezende 1 O Brasil ocupa a sexta posição mundial na produção de leite e tem potencial para a atingir melhores posições, segundo Vilela (2004), pois cresce mais rapidamente que seus competidores. Segundo o autor, no que diz respeito ao Valor Bruto da Produção Agropecuária – VBPA, indicador da renda do setor rural, o leite está entre os seis produtos mais importantes, à frente até de produtos tradicionais exportados como café e suco de laranja. De cada dez reais produzidos na agropecuária, um real veio do leite, e entre os produtos pecuários, só ganha dele a carne bovina e a de frango. A expansão de novas áreas de produção tais como os Cerrados de Goiás e as Regiões do Triângulo e Alto Paranaíba, em Minas Gerais, favoreceu este aumento de produção. As novas fronteiras como Rondônia, Mato Grosso e o Sul do Pará, serão os futuros centros de crescimento da produção. No entanto, a expansão dessas áreas não foi o principal fator responsável pelo crescimento da produção leiteira brasileira, mais sim, o aumento da produtividade por unidade de área. Resultado da aplicação de práticas inovadoras, envolvendo os vários setores da atividade, como melhoria geral do rebanho através de cruzamentos, elevação dos índices zootécnicos, reconhecimento da importância da produção forrageira e manejo da pastagem, além da melhoria da sanidade animal. Não obstante, a atividade pecuária sempre foi relegada a áreas com topografia acidentada, solos erodidos, ou exauridos por queimadas freqüentes ou super-pastejo. Conseqüentemente com baixa disponibilidade 1 Pesquisadora da Ceplac/Cepec - Km 22 da Rodovia Ilhéus-Itabuna, Caixa Postal 07 – 45600-000 – Itabuna, Bahia. E-mail: [email protected]; [email protected]. Fones: (73) 3270-2264. 354 de forragem, apresentando grande incidência de plantas invasoras, algumas delas tóxicas aos animais. Uma atividade pecuária desenvolvida em tais condições estará fadada ao fracasso. A comunidade científica tem continuamente contribuído de forma efetiva no desenvolvendo e difusão de novas tecnologias, com resultados concretos e positivos no incremento da produtividade. Como exemplo, a seleção de novos materiais genéticos promissores sejam gramíneas ou leguminosas, aliadas às práticas adequadas de manejo de solo e da pastagem, podendo elevar os índices produtivos do rebanho nacional. Inegavelmente tornando o rebanho nacional mais competitivo no mercado internacional. Não se questiona, que é mais econômico produzir leite ou carne a pasto, e que o Brasil, reúne características que propiciam essa atividade, no entanto, é necessário ajustar práticas de manejo de pastagens, suplementação alimentar, manejo reprodutivo e sanitário dos rebanhos, entre outras, e adequá-las à relação custo-benefício da atividade. As propriedades envolvidas com a produção de leite apresentam de modo geral, uma superlotação animal nas pastagens e conseqüentemente uma baixa disponibilidade de forragem tanto em quantidade como qualidade. Sem alimentação ou alimentação deficiente os animais se tornam subnutridos e conseqüentemente terão baixos índices de eficiência reprodutiva e altas taxas de mortalidade, sem considerar a baixa produtividade, que é na verdade, a maior evidência da ineficiência da exploração em questão. O clima é entre as condições naturais, um dos mais importantes fatores limitantes de produção, e pode ser considerado como o regulador da produção animal ou seu limitador. O stress térmico causa diretamente redução do consumo de alimento e conseqüentemente a redução dos índices produtivos e reprodutivos do rebanho leiteiro, primordialmente os de origem européia. Na bovinocultura de leite, por se tratar de rebanhos muitas vezes com elevado grau de sangue europeu, as condições de clima podem a vir a ser limitantes, nesse aspecto, devesse considerar o cruzamento com animais de maior rusticidade, como é o caso do zebu. Logicamente por se tratar desse tipo de exploração alguns condicionantes deverão inserir-se no sistema, tais como: áreas de sombra para o rebanho, facilidades de acesso à água, pastejo rotacionado com forrageiras de melhor qualidade, consórcio de gramínea com leguminosa, suplementação alimentar, manejo sanitário mais criterioso, etc. 355 Outro aspecto importante a ressaltar seria a forma de favorecer adequados índices produtivos e reprodutivos com o uso mínimo de agentes químicos. A crescente conscientização da sociedade em respeito à preservação ambiental, acompanhada da preocupação com a segurança alimentar dos produtos consumidos, têm conduzido a uma transformação gradual dos sistemas de produção, processamento, comercialização e consumo de alimentos de origem animal. A produção agro-ecológica ou orgânica em pecuária, baseada principalmente nos princípios de sustentabilidade ambiental, econômica e social, apresenta-se, neste caso, como uma alternativa viável ao sistema convencional utilizado. No Brasil existe uma grande demanda em transformar os sistemas de produção pecuária convencional em sistemas orgânicos, tornado o país potencialmente líder no setor. Com relação à alimentação do rebanho em um sistema de produção orgânica, os consórcios de gramíneas e leguminosas nas pastagens são práticas recomendadas, garantindo a diversificação de espécies vegetais no ecossistema. Conseqüentemente a produção de leite poderá ser incrementada com introdução de leguminosas nas pastagens e estabelecimento de sistemas silvipastoris nas propriedades, evitando-se assim o uso de adubos químicos e preservando o meio ambiente. Na produção orgânica de leite a alimentação das vacas deve ser produzida, majoritariamente, sem agrotóxicos (é permitido incluir apenas 15% a 30% de produtos não orgânicos na composição das rações) e a medição dos animais tem que ser natural. A conversão dos sistemas de manejo convencional tradicional para o orgânico, segundo as literaturas revisadas tem que ser gradual, e no mínimo levaria dois anos. Nos procedimentos técnicos de produção orgânica animal (Tabela 1), se observa que algumas práticas embora não indicadas podem ser usadas nesse período, até o completo estabelecimento do sistema de produção orgânica. Na visão da exploração da pecuária leiteira para pequenos produtores, estudos já foram feitos por varias instituições, associando práticas para tornar a atividade competitivamente lucrativa. Segundo Camargo (2005) esta situação se concretizará se duas preocupações estiverem constantemente presentes no dia a dia: a busca pela redução de custo na produção de leite e o concomitante aumento de produtividade da terra. Ambos serão os passaportes para o amanhã. 356 Tabela 1: Procedimentos técnicos para produção orgânico animal. Procedimentos Atividades Recomendados Restritos Auto-suficiência alimentar orgânica; forragens frescas, silagem ou fenação produzidas na propriedade ou de fazendas orgânicas; Aquisição de alimentos não orgânicos, equivalente a até 20% do total da matéria seca para animais monogástricos e 15%para ruminantes; Aditivos naturais para ração e silagem (algas, plantas medicinais, aromáticas, soro de Nutrição e Tra- leite, leveduras, tamento veteri- cereais, outros nário farelos); Mineralização com sal marinho; Suplementos vitamínicos (óleo de fígado de peixe e levedura); Homeopatia, fitoterapia e acupuntura; Aditivos, óleos essenciais, suplementos vitamínicos, aminoácidos e sais minerais (de forma controlada); Agentes etiológicos dinamizados (nosódios ou bioterápicos); Amochamento e castração. São obrigatórias as vacinas estabelecidas por lei, e recomendadas as vacinações para as doenças mais comuns a cada região 357 Proibidos Uso de aditivos, estimulantes sintéticos; Promotores de crescimento; Uréia; Restos de abatedouros; Aminoácidos sintéticos; Transferência de embriões; Descorna e outras mutilações; Presença de animais geneticamente modificados. Continuação da Tabela 1 Procedimentos Atividades Manejo do rebanho e instalações Recomendados Restritos Proibidos Raças animais adaptadas à região, raças rústicas; Raças exóticas não adaptadas; Raças exóticas não adaptadas; Aquisição de matrizes de criadores orgânicos; Bezerros podem ser adquiridos de criadores convencionais até 30 dias; Estabulação permanente de animais; Animais de fora devem ficar em quarentena; Inseminação artificial sob controle; Instalações adequadas para o conforto e saúde dos animais, fácil acesso à água, alimentos e pastagens; Separação dos bezerros por barreiras Espaço adequado à movimentação; Número de animais por área não deve afetar os padrões de comportamento; Criações de preferência em regime extensivo ou semi-extensivo, com abrigos; Monta natural para Reprodução; Desmame natural 358 Confinamento e imobilização prolongados; Instalações fora dos padrões; Manejo inadequado que levem animais ao sofrimento, estresse e alterações de comportamento Continuação da Tabela 1 Procedimentos Atividades Recomendados Uso de técnicas de manejo e conservação de solo e água; Nutrição das pastagens de acordo com as recomendações; Manejo de Pastagens Controle de pragas, doenças e invasoras das pastagens de acordo com as normas; Restritos Fogo controlado para limpeza de pastagens; Pastoreio permanente sob condições satisfatórias; Estabelecimento de pastagem em solos encharcados, rasos ou pedregosos Pastagens mistas de gramíneas, leguminosas e outras plantas (diversificação); Pastoreio rotativo racional, com divisão de piquetes; Manter solo coberto, evitando pisoteio excessivo; Rodízio de animais de exigências e hábitos alimentares Fonte : Arenales, 2001; Darolt, 2002. 359 Proibidos Monocultura de forrageiras; Queimadas regulares; Superlotação de pastos; Uso de agrotóxicos e adubação mineral de alta solubilidade nas pastagens Nos custos de produção em uma propriedade leiteira o item de maior peso é a alimentação que varia de 50 a 60% no custo total (2/3 devido ao alimento concentrado e o restante é atribuído ao volumoso). Isto significa que para reduzir custos de produção de leite, será preciso diminuir os gastos principalmente nos alimentos concentrados. O que ocorrerá caso o volumoso principal tenha qualidade (teores mínimos de proteína de 10% e 60% de nutrientes digestíveis totais), e que apresente custo de produção mais barato possível. Na Tabela 2, estão relacionados os principais alimentos volumosos disponíveis para os produtores de leite no Brasil e seus respectivos custos de produção Tabela 2. Custo de produção dos principais alimentos volumosos Alimento volumoso Custo de produção (R$/tMS) - Pastagem rotacionado de gramínea forrageira tropical 40 a 60 - Cana de açúcar 80 a 100 120 a 150 - Silagem de milho 150 a 200 - Feno de gramínea forrageira tropical Fonte : Boletim do Leite, FEALQ, Piracicaba (SP), nº 78 e 79, 2000 A tabela acima dá respaldo à afirmativa que a melhor opção seria fornecer durante o ano todo, apenas pastagens de gramíneas forrageiras tropicais em sistema rotacionado. No caso da cana de açúcar, da silagem de milho e do feno, há de ser acrescentado o gasto com mão de obra, elevando ainda mais a despesa e conseqüentemente o custo da atividade. No entanto, o desafio maior dos produtores e do meio técnico-científico e criar condições para garantir maiores índices de produção de volumoso sem o uso sistemático de agrotóxicos, sejam como fertilizantes, vermífugos, herbicidas, etc. Em se tratando de fertilizantes, o uso de pastagens consorciadas é uma realidade, e tem sido bastante estudada e já é utilizada por vários produtores. Na produção de leite utilizando leguminosas consorciadas com gramíneas foram observados aumentos na ordem de 20% e 12% na produção de leite de vacas do rebanho comercial da estação da Ceplac, em Itabela-Ba, mantidas em pastejo rotacionado em pastagens de B. dictyoneura consorciada com a cv. Belmonte e em pastagens exclusivas de B. brizantha cv. Marandu e B. decumbens, respectivamente. Lascano 360 (1994) também apresenta resultados similares, onde a inclusão de A. pintoi em pastagens de gramíneas promoveu acréscimos de 17 a 20% na produção de leite. Esses resultados têm variado com o valor nutritivo da leguminosa utilizada no consórcio. Gonzalez et al. (1996), verificaram incremento de 1,3 kg de leite/vaca/dia quando utilizaram a consorciação de capim-estrela africana com A.pintoi em relação à pastagem exclusiva. Em um sistema silvipastoril a presença de leguminosas arbóreas é importante na retenção de água, ciclagem de nutrientes e na conservação do próprio solo. Bem como ser uma opção forrageira de alimentação para bovinos, principalmente na época de críticas do ano. Entre as leguminosas arbóreas e arbustivas que podem fazer parte da alimentação de ruminantes pode-se fazer menção da Cratylia argentea, Leucaena leucocephala e Gliricidia sepium. Estudos realizados na Embrapa Gado de Leite indicaram que a gliricidia e a amoreira foram às forrageiras de maior potencial, seguidas pela leucena e pelas espécies de estilosantes e cratylia (Tabela 3). As espécies avaliadas podem ser utilizadas em sistemas silvipastoris, contribuindo para o fornecimento de energia/proteína aos animais (Aroeira et al., 2003). Em Cuba Hernandez et al., (1998) mostram que a produção de leite de um sistema de produção a pasto aumentou em 3.557 L/ha/ano, quando se explorou, na propriedade, um sistema multiestratificado (Gráfico 1) Na Colômbia, Murgueitio (2000) observou que com o uso de sistema silvipastoril, incrementou na produção de leite de 10.585 para 12.702 L/ha/ ano. O teor de matéria orgânica no solo de 1,6% aumentou para 2,6%, simplesmente com a introdução de Prosopis juliflora e Leucaena leucocephala, numa pastagem de capim-estrela (Tabela 4). Tabela 3. Teores de matéria seca (MS), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), proteína (PB) e digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS), de diferentes espécies. Espécies S. guianensis G. sepium L. leucocephala C. argêntea M. alba MS FDN FDA Celulose Lignina DIVMS PB 33,3 24,8 24,3 45,5 43,6 54,9 44,8 42,6 59,0 45,3 38,4 27,9 28,3 36,6 29,6 27,0 16,1 16,2 18,1 20,5 10,8 12,2 12,7 16,7 6,4 52,5 60,5 56,2 48,3 60,0 11,8 19,6 28,9 21,4 14,8 Fonte: Aroeira et al. (2003). 361 Produção de leite (Kg/ha/ano) Pasto Pasto + banco de proteina Pasto + árvore Pasto + multiestrato Fonte: Hernandez et al. (1998). Gráfico 1. Incrementos na produção de leite com introdução de espécies. Tabela 4. Indicadores técnicos e ambientais de um sistema silvipastoril ( C. plectostachyus + L. leucocepha + Prosopis juliflora ) x pastagem de capimestrela. Indicadores Carga animal (vacas/ha) Produção de leite (kg/vaca/dia) Capim-estrela +Nitrogênio Sistema Silvipastoril 4,0 4,8 9,5 9,5 Produção de leite (kg/ha) 10.585 12.702 Adubação (uréia) (kg/ha) 400 0 16.000 12.000 ? 46 3 Água consumida (m /ha/ano Pássaros (nº de espécies) Matéria orgânica do solo (0 - 10 cm) (%)1,6 Fonte: Murgueitio (2000). 362 2,8 CONSIDERAÇÕES FINAIS O Brasil responde por 66% do volume total de leite produzido nos países que compõem o Mercosul. O consumo cresceu nos últimos anos,mais ainda está abaixo do mínimo recomendada por organismos oficiais (146 kg/habitante/ano) como a Organização Mundial de Saúde. É um produto de alta elasticidade-renda, significando que um aumento de 10% na renda pode incrementar o consumo de lácteos em 12%. A produção de leite tem perspectiva de continuar a crescer nos próximos anos, e o Brasil tornar-se exportador neste setor. Os produtores e suas entidades de classes têm uma participação decisiva para o alcance na conquista de mercados. O pecuarista melhorou o manejo, principalmente o relacionado com alimentação, qualidade das forrageiras, genética e a saúde animal. A sazonalidade da produção diminuiu nos últimos anos e tende a continuar caindo. Segundo a FAO (Food Agriculture Organization), órgão da ONU (Organização das Nações Unidas) defina-se como agricultura orgânica, a produção que abrange um sistema de manejo que promove e estimula a saúde do agrossistema, incluindo a biodiversidade, ciclos biológicos e a atividade biológica do solo. Os produtos obtidos a partir de uma exploração orgânica deverão ter um valor agregado mais elevado, permitindo a melhor remuneração das unidades produtoras e, conseqüentemente, eliminado a ameaça de má utilização dos recursos naturais existentes. Maximizar a produção sem causar num prejuízo ao ecossistema é um dos maiores desafios dos estudiosos das diversas áreas, incluindo na agropecuária. A utilização do consórcio entre leguminosas e gramíneas e a formação de sistemas silvipastoris são alternativas promissoras e que apresentam excelentes resultados No entanto é importante se atentar para a escolha das forrageiras e adequá-las a um manejo que propicie a persistência e auto-sustentabilidade dos sistemas adotados. É possível produzir leite a partir de um modelo economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto, fundamentado em tecnologias concretas, e que favoreçam a maior integração entre o homem e a natureza. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARENALES, M. C. Produção Orgânica de Carne Bovina. Ed. Centro de Produções Técnicas, 2001. 363 ARENALES, M. C. Produção Orgânica de Carne Bovina. Ed. Centro de Produções Técnicas, 2001. AROEIRA, L. J.M., CARNEIRO, E.C., PACIULLO, D.S.C., MAURICIO, R.M., ALVIM, M.J., XAVIER, D.F. Composição química, digestibilidade e fracionamento do nitrogênio e dos carboidratos de algumas espécies forrageiras. Pasturas tropicales, Cali, v.25,n.1, p.33-37, 2003. AROEIRA, L.J.M., PACIULLO, D.S.C. Produção de leite a pasto. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.25, n.22, pp.56-63, 2004. CAMARGO, A .C. Exploração Forrageira: visão econômica para pequenos produtores. In: EVANGELISTA, A .R. et al. (eds). FORRAGICULTURA E PASTAGENS TEMAS EMEVIDÊNCIA. Lavras, 2005, p.277-292. DAROLT, M.R. Pecuária Orgânica: procedimentos básicos para um bom manejo da criação. Planeta Orgânico, Seção Trabalhos Disponíveis em: <http:www.planetaorganico.com.Br/daroltpec.htm>. 2002. HERNANDEZ, D., CARBALLO, M., REYES, F., MENDONZA, C. Explotación de un sistema sivopastoril multiasociado para la producción de leche. In: TALLER SIVOPASTORIL LOS ÁRBORES Y ARBUSTOS EN LA GANDERIA, 3., 1998, Matanzas. MEMORIAS... Matanzas:EEPF “Hatuey”, 1998. p.214. GONZALEZ, M.S., NEURKVAN, L.M., ROMERO, F. et al. Producción de leche en pasturas de estrella africana (Cynodon nlemfuensis) solo y asociado con Arachis pintoi o Desmodium ovalifolium. Pasturas Tropicales, v.18, n.1, p.212, 1996. LASCANO, C.E. Nutritive value and animal production of forage Arachis. In: KERRIDGE, P.C.; HARDY, B., (eds). Biology and agronomy of forage Arachis. 1994 Cali, Colômbia: CIAT, 1994, p.109-121 MURGUEITIO, E. Sistemas agroforestales para la producción ganadera en Colombia. In: POMAREDA C., STEINFELD, H. Intensificación de la ganadería en Centro América – Beneficios económicos y ambientales. São José, Costa rica: CATIE/ FAO/SIDE. 2000. P. 219-242. VILELA, D. Cadeia produtiva de bovinos de leite e estratégias para a produção sustentável. In: REUNIÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 41, 2004, Campo Grande- MS. Palestra de Simpósio. 2004. v.41, p. 213-227. 364 FITOTERAPIA Josué Sarmento de Souza A fitoterapia (tratamento da saúde com ervas medicinais) é uma das modalidades da medicina holística. Todos os vegetais produzem uma série de substâncias químicas durante o seu metabolismo. Entre estas, encontram-se substâncias especiais que ajudam na adaptação das plantas ao meio em que vivem, atuando contra agentes agressores, protegendo a planta contra doenças e pragas. Essas substâncias, também chamadas de princípios ativos naturais, podem ser aproveitados na forma medicinal para tratar enfermidades e promover a saúde. As plantas são usadas pelo homem desde o início dos tempos para sua sobrevivência, saúde e bem estar. No início do século 19, quando foram descobertos os primeiros métodos de análise química, os cientistas aprenderam a extrair e modificar os ingredientes ativos das plantas. Mais tarde os químicos começaram a produzir suas próprias versões dos componentes das plantas, iniciando, assim, a transição de medicamentos naturais para sintéticos. Com o passar do tempo, o uso de ervas medicinais foi largamente substituído pelos medicamentos sintéticos. O objetivo da medicina convencional é localizar a fonte física da doença e, em seguida, removê-la. Por exemplo, se um paciente tem uma infecção provavelmente lhe será prescrito um antibiótico para matar a bactéria invasora. Já os praticantes da “medicina holística” acreditam que saúde e doença envolvem uma complexa interação entre fatores físicos, espirituais, mentais, emocionais, genéticos, ambientais e sociais. Para tratar uma doença ou promover a saúde à medicina holística procura “tratar a pessoa”, levando em consideração todos esses fatores. Por uma série de motivos científicos, culturais e políticos essa medicina passou a ser rotulada como “alternativa”. O mais correto seria denominá- Terapeuta Naturista 365 la de “complementar e alternativa”, como já ocorre nos Estados Unidos onde ela é conhecida como CAM (Complementary and Alternative Medicine), pois determinados procedimentos da “medicina convencional”, tais como certos exames e cirurgias, jamais poderão ser prescindidos. Já medicamentos naturais e outras práticas holísticas podem perfeitamente substituir medicamentos sintéticos e também complementares ou integrar o tratamento convencional. Atualmente verifica-se em todo o mundo uma volta às origens. A “medicina holística” vem, a cada dia, conquistando mais crédito junto aos usuários e as comunidades científicas. A fitoterapia é recomendada pela ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAUDE na prevenção e tratamento de doenças, porque alia eficácia a um custo mais acessível e provoca menos efeitos colaterais do que os medicamentos sintéticos. Tudo que Deus criou, por mais insignificante que seja, tem um significado especial e uma determinada finalidade. Portanto, não resta a menor dúvida de que Deus criou e fez crescer as plantas para o beneficio do homem; disto pode-se deduzir que enquanto existir o homem haverá plantas. É um fato comprovado que onde vivem seres humanos, crescem os vegetais alimentícios e as plantas curativas. Até pareceria que Deus tivesse confiado às plantas a missão de crescer junto às moradas dos homens para beneficiá-los. Apesar de serem ricas em todas as substâncias que o homem necessita para seu organismo, as plantas são muito humildes, parecendo-se a um mendigo que pede ao dono de casa que o deixe entrar. Geralmente, porém, o homem despreza as plantas curativas, deixandoas para comida dos animais ou destruindo-as ele mesmo. As plantas têm uma tríplice tarefa: purificar, reconstruir e curar. As plantas curam inclusive nos casos em que outros meios terapêuticos falham. Na maravilhosa farmácia da natureza, que se renova cada ano (principalmente, na primavera), encontramos uma variedade tão grande de plantas curativas, que se poderia envolver totalmente o homem, dos pés à cabeça, colocando cada planta no seu lugar correspondente para curar uma determinada enfermidade. Estes dados têm como objetivo informar sobre como podemos utilizar os recursos que a natureza nos disponibiliza para a nossa saúde e bem estar. Os dados aqui contidos não devem ser usados para diagnose ou tratamento nem para substituir a orientação médica apropriada. 366 SAIS MINERAIS QUE CONTÉM AS PLANTAS CURATIVAS As plantas contêm os sais minerais e as vitaminas que o corpo humano precisa para seu bom funcionamento, e inclusive facilitam o trabalho das glândulas na secreção de hormônios. Sabendo que os hormônios desempenham um papel sumamente valioso em todos os processos vitais, pois regularizam a atividade dos órgãos e agem como fieis guardiões do bom funcionamento do corpo. Os hormônios intervêm imediatamente quando no organismo falta alguma substância ou há excesso de outra. Deus colocou à nossa disposição as plantas curativas para manter em ordem o metabolismo (assimilação e desassimilação), desintoxicar o sangue e os tecidos orgânicos, expulsar as substâncias estranhas e morbosas e purificar e reconstruir o organismo. Para melhor compreensão do valor curativo das plantas, em continuação daremos algumas explicações sobre diversos sais minerais que elas contêm e seu benefício para o corpo humano. CÁLCIO A maior parte dos alimentos que o homem e geralmente consome são pobres em cálcio. As crianças são as mais afetadas pela falta de cálcio e posteriormente, quando se tornam adultas, sofrem uma série de perturbações orgânicas. Aquele que deseja prolongar sua vida e estar prevenido contra toda classe de enfermidades deve proporcionar a seu organismo os alimentos naturais que contêm cálcio em abundância. Os vegetais, as frutas e verduras, e de maneira especial às plantas curativas, possuem muito cálcio. FERRO O sangue necessita continuamente de ferro, pois ele tem a missão de transportar uma parte do oxigênio que os pulmões recebem mediante a respiração. Entre as muitas doenças ocasionadas pela falta de ferro na alimentação, podemos mencionar a anemia e a icterícia. O ferro tem um papel muito valioso no tratamento das enfermidades do sangue. SILICATO Muito importantes é o papel que o silicato desempenha tanto no reino vegetal e animal como no corpo humano. Sem o silicato, as árvores e as plantas não teriam firmeza e força, e se quebrariam ao serem mexidas pelo vento. 367 Sem o silicato, os animais não poderiam correr e os homens não poderiam caminhar, ver, ouvir, cheirar, ou falar. O silicato que se encontra nas plantas, ervas, verduras e frutas forma as fibras dos músculos, os tendões e todos os tecidos, os brônquios, o esmalte dos dentes, a suavidade e a resistência dos cabelos, a cartilagem do nariz e dos ouvidos, a pupila, os vasos sanguíneos, os tendões da musculatura abdominal e os que unem a coluna vertebral e os ossos, etc. É aconselhável tomar chás de ervas que contém silicato, a fim de combater com êxito as enfermidades da pele, dos rins e dos nervos, e auxiliar o organismo na formação do tecido conjuntivo. SÓDIO A falta de sódio no corpo provoca o aparecimento de diversas enfermidades e perturbações no metabolismo. Ademais, a falta de sódio produz o envenenamento do sangue e, finalmente, de todo o organismo. O sódio neutraliza os ácidos e regulariza o metabolismo, evitando assim que no corpo se acumulem substâncias estranhas, que são a causa do desequilíbrio no organismo. O sódio também regulariza o funcionamento das glândulas de secreção interna. As frutas, verduras e plantas que contêm sódio combatem com magníficos resultados o reumatismo, a gota, o artritismo, a diabete, a amidalite e as doenças da bexiga, dos rins e das glândulas. POTÁSSIO Para estimular e fortificar o organismo, para dar elasticidade e movimento ao corpo, Deus nos tem concedido plantas, frutas e verduras que contém potássio. Aquele que deseja conservar ou recuperar a saúde, e quer prolongar sua agilidade até a velhice, deve consumir alimentos ricos em potássio. ENXOFRE É de conhecimento geral que o enxofre é um grande purificador e desinfetante não só das habitações e do ambiente que rodeia o homem, mas também do organismo. A pele continuamente precisa de enxofre. MAGNÉSIO Da mesma forma que o teto protege o homem das inclemências do tempo, o magnésio lhe proporciona proteção contra as influências desfa368 voráveis do clima, contra contágios, etc. Para manter os pulmões livres da bronquite, da asma e de outras doenças, e para conservar fresca e sadia a pele, é necessário comer alimentos ricos em magnésio e tomar chás de plantas que tenham essa valiosa substância. O magnésio também protege e conserva em bom estado os ossos, os dentes, os cabelos, etc. MANGANÊS Está perfeitamente comprovado que o Manganês, junto com o ferro, produz sobre o sangue efeitos favoráveis para a saúde e o bem-estar geral do organismo. FÓSFORO A insônia, as dores de cabeça e os esgotamentos são causados pela falta de fósforo. O cérebro e os nervos continuamente necessitam receber fósforo para seu bom funcionamento. IODO Não estamos falando aqui da tintura de iodo vendido nas farmácias e que tem um efeito nocivo, mas do iodo natural das plantas que tem uma valiosa tarefa no corpo humano. O iodo é muito importante para as glândulas de secreção interna que não trabalha bem. Além disso, evita o rápido envelhecimento dos tecidos e constitui um poderoso auxiliar para que as mulheres passem a idade critica (menopausa) sem maiores perturbações. COMO RECOLHER, PREPARAR E APLICAR AS ERVAS CURATIVAS Para não diminuir o valor curativo das plantas medicinais, só se deve recolhê-las quando a parte superior delas não está úmida. Além disso, é necessário considerar que as ervas curativas silvestres têm um efeito curativo muito maior que aquelas que se cultivam no jardim ou na horta. Logicamente, devem recolher-se unicamente as ervas que não são venenosas; por isso, deve ter-se muito cuidado para não recolher alguma erva prejudicial. As ervas se devem secar a sombra, pois está comprovado que os fortes raios solares tiram das plantas uma parte das substâncias, 369 que se evaporam ao serem expostas ao sol durante algum tempo, quanto às raízes, deve-se lavá-las bem, antes de secá-las, parti-las e cortá-las em pedacinhos. Desta maneira secam-se mais depressa. Uma vez que as ervas estão bem secas, devem ser examinadas novamente antes de guardá-las, e separam-se as que não servem. Depois, guardam-se os galhos, flores e raízes numa caixa ou num lugar seco. De vez em quando é bom verificar se não estão úmidos, pois então seria necessário seca-las outra vez. Nunca se deve esquecer de anotar o nome das ervas sobre as caixas ou qualquer outro lugar onde elas estejam guardadas, para que possamos saber seu conteúdo a qualquer momento. Desejo ressaltar que as ervas e raízes que cheira a mofo, não servem para fins curativos. Se alguém não tem possibilidade de recolher as plantas medicinais, pode adquiri-las nos herbanários (casas de ervas). As maneiras mais conhecidas para preparar e aplicar as ervas curativas são: 1. SALADAS; 2. SUCOS; 3. BANHO; 4. PÓS; 5. CATAPLASMAS E COMPRESSAS; 6. GARGAREJOS; 7. INALAÇÕES; 8. LAVAGENS (ENAMAS OU CLISTERES); 9. EXTRATOS; 10. XAROPES; 11. ÓLEOS; 12. UNGUENTOS; 13. CHÁS: Que podem ser preparados das seguintes maneiras: a) b) c) d) Infusão; Tisana; Cozimento; Maceração 370 ECOTURISMO E O DIREITO AMBIENTAL: UM OLHAR DE ARTICULAÇÃO MUNICIPAL Roberto da Costa e Silva Mendonça INTRODUÇÃO O processo de desenvolvimento mundial sempre foi baseado em um modelo voltado essencialmente para a questão econômica (lucro) com o uso intensivo de energia, alto padrão de consumo, e aproveitamento temporal de recursos naturais na crença de que esses recursos seriam infinitos. Porém, esse processo histórico baseado na exaustão dos recursos naturais pelo homem, está nos limites determinados pela sobrevivência da espécie humana. Esse processo tem comprovado que o uso inadequado dos recursos naturais tem levado à destruição de habitats , extinção de espécies, desequilíbrio de ciclos vitais, poluição de recursos hídricos, exclusão de seres humanos ao processo de consumo, exaurindo de forma comprometedora os recursos naturais do planeta, independentemente de classificá-los como renováveis ou não, por uma razão muito simples: eles eram renováveis, mas não infinitos. Essa constatação conduz à mudança do paradigma homem-natureza deixando de ser manipulativa para ser de integridade. No período da ‘Revolução Verde’, expressão máxima do princípio utilitarista, a natureza sempre foi relegada a um segundo plano, e diversas Administrador de Empresas, Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente. Professor no Curso de Engenharia Ambiental – FTC Itabuna. 371 regiões no Brasil, sobreviveram apenas com sua economia baseada em um único cultivo e suas mazelas decorrentes da dependência cíclica desse modelo. O desenvolvimento regional do Sul da Bahia teve o seu apogeu com a implantação da cultura do cacau. Era tal a sua força econômica que chegou a financiar, em determinado período, o desenvolvimento do Estado da Bahia. Hoje, convive-se com um fator que ocorre sempre após um período de abundância: o processo de desaceleração. Tal reversão ocorre em períodos cíclicos, desde o mercantilismo. Os períodos de abundância não se perpetuam; os períodos de crise não são eternos. Porém, a reversão das tendências em curso na região, sugere uma intervenção global e profunda, que implica em mudanças no atual estilo de desenvolvimento. Não apenas nos aspectos conjunturais, mas, também, na mobilização e viabilização do potencial da Região. O ecoturismo, por usar os recursos naturais de forma que causem mínimos impactos, é tido como uma das atividades econômicas que melhor se adaptam ao nosso contexto regional. Mas onde está sendo implantado? de que forma ele está sendo implantado? Quais os atores sociais envolvidos? Quais as responsabilidades dos atores sociais. É dentro deste panorama que discutimos, neste artigo, o Ecoturismo e o Direito Ambiental: um olhar de articulação municipal. O CONTEXTO REGIONAL Muito se tem falado e escrito sobre a crise da Região Sul da Bahia1 uma região que sofreu pelo seu modelo de monocultora, ficando vulnerável aos baixos preços internacionais do cacau, fragilizada pela ocorrência de Crinipellis perniciosa (Vassoura-de-Bruxa)2 , e pela conseqüente descapitalização dos seus meios produtivos. O problema dessa crise é regional e as suas soluções, necessariamente, terão que ser regionais, buscando a complementaridade através da cooperação e não da competição de atividades outras. Torna-se 1 Segundo CAR – Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (1995, p.21), formado por 74 municípios, tendo como limite norte o município de Valença e no limite sul o município de Mucuri. 2 Doença que ataca os frutos, almofadas florais e gemas terminais do cacaueiro gerando grandes prejuízos. 372 imperativa a busca de atividades econômicas que, dentro de alto padrão de sustentabilidade, promovam a satisfação das necessidades e das aspirações da espécie humana. Qualidade de vida é a palavra chave. Quando se fala em mudanças de paradigmas e de sustentabilidade, Delgado (1997, p.8) entende, que “o futuro de cada região [grifo nosso] é produto do entusiasmo, da perseverança e do planejamento, aliado a uma alta dose de consciência política e social”. E questiona de forma incisiva (...) “que tipo de região [grifo nosso] se deseja construir? Que oportunidades desejam-se oferecer para nossos descendentes e, que valores e princípios terão que ser resguardados do insaciável progresso econômico?”. Estes questionamentos levam ao eterno dilema: como efetivar crescimento econômico com a proteção do meio ambiente. Esse dilema incide de forma contundente em diversos empreendimentos realizados ou em realização e sempre gerando conflitos sociais. Daí ser necessário e imperativo efetuar avaliações completas sobre os impactos ambientais de tais ações. Entende-se, porém ser necessário, antes de definir o que é impacto ambiental, assinalar os componentes que sofrem esse impacto no meio ambiente. O meio ambiente natural e o meio ambiente social. O meio ambiente natural é a inter-relação dos sistemas: atmosfera, hidrosfera, litosfera e biosfera. Já o meio ambiente social é formado pelo conjunto de infra-estruturas materiais constituído pelo homem e os sistemas sociais que este criou. Assim, pode-se entender o meio ambiente social, como a forma que as sociedades se organizam para satisfazer suas necessidades. Definindo-se então impacto ambiental, tem-se a compreensão de Bolea apud Schlittler (1998, p. 2), de que “existe um impacto ambiental quando uma ação ou atividade produz uma alteração no meio ou em algum de seus componentes”. Os critérios básicos e as diretrizes gerais para o Estudo de Impactos Ambientais - EIA e o Relatório de Impacto Ambiental - RIMA são definidos pela resolução no 001/86 do Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA. Para Schlittler (1998, p. 3), “os estudos de impacto ambiental devem avaliar as conseqüências de uma ação, com o intuito de prevenir a qualidade do ambiente que haverá no meio após a execução desta ação ou projeto”. Apresentando ainda os fatores objeto de análise ambiental. 373 Os principais fatores ambientais que devem integrar a análise ambiental de uma determinada área, ou ainda, que devem obrigatoriamente ser considerados na avaliação de um possível impacto ambiental, são os seguintes: poluição atmosférica e da água, uso e degradação dos solos, substâncias radioativas, ruído, alterações da biocenose (flora e fauna), uso do território e dos recursos naturais, mudanças no uso do território, expropriação do terreno e especulações imobiliárias, doenças, variação da população, taxas de emprego, incrementos econômicos (comércio, serviços, etc.), locais histórico-culturais que possam ser afetados, moradia, infraestrutura viária e sanitária, serviços comunitários e equipamentos urbanos. Esses fatores são particularmente importantes quando a atividade turística é implantada em uma determinada área. No mundo globalizado, as pessoas tendem cada vez mais, a ter um ritmo de vida muito acelerado o que pode levá-las, rapidamente ao stress , o que as tendem buscar alternativas diversas, que possam identificar como estado de felicidade. Essa busca pode ter os mais diferentes motivos dentre eles: “desejo ou necessidade de evasão, espírito de aventura, aquisição de status , necessidade de tranqüilidade, desejo ou necessidade cultural, desejo ou necessidade de compra”, segundo Andrade apud Santos & Nunes (2001, p. 64). Para satisfazer esses motivos, o homem se sujeita a percorrer longas distâncias e enfrentar certas dificuldades para poder desfrutar da natureza, de alguma obra de arte ou arquitetura histórica, para rememorar e conviver com costumes socioculturais de determinada região. Nesse momento, surge a atividade turística que se apropria dessas motivações, tornando-as bens comercializáveis (intangíveis). As regiões consideradas ru-urbanas detêm enormes vantagens comparativas em relação às regiões estritamente urbanas, quando as mesmas conservam seu potencial paisagístico e patrimonial, além de todo um espectro cultural de fazeres e saberes que singularizam seu modus vivendi, aí inserida a gastronomia regional e a produção caseira. Para o turista o que não está no seu dia a dia torna-se inusitado e atraente. Por outro lado, é imensamente conveniente que os tomadores por empréstimo, de todo esse arcabouço natural e cultural desenvolvam atitudes de conservação dos mesmos para que as futuras gerações, também, o possam desfrutar. Prega-se a atividade turística como uma das alternativas econômicas que possa florescer na Região Sul da Bahia. 374 Aqui, entende-se e concorda-se com a definição de atividade turística que Ruschmann (1995, p.3), apresenta: O produto turístico é composto de um conjunto de bens e serviços unidos por relações de interação e interdependência que o tornam extremamente complexo. Suas singularidades o distinguem dos bens industrializados e do comércio, como também dos demais tipos de serviços. Uma de suas características mais marcantes, é que se trata de um produto imaterial – intangível – cujo resíduo, após o uso é uma experiência vivencial. A heterogeneidade da demanda, outra de suas características, faz com que as expectativas, com relação aos serviços a prestar, sejam altamente diversificadas, tornando a sua apreciação sujeita às mais diversas interpretações. Por se tratar de um bem de consumo abstrato, não pode, ao contrário dos bens tangíveis, ser avaliado de acordo com seu tamanho, peso, formato ou cor. É representado aos consumidores potenciais por meio de descrições e fotos, e o que induz a sua compra são as promessas de satisfação. A maneira pela qual o produto é apresentado ou a sua promessa é retratada nas ações publicitárias e promocionais, é fundamental para a decisão de compra do turista. O que é atraente no ecoturismo é que o interesse econômico está aliado à proteção ambiental: se os recursos naturais forem destruídos, os ecoturistas desaparecerão. A conservação ambiental é a essência da atividade. Allievi (s.d., p.7), esclarece que “atividades ecoturísticas não se restringem às costumeiras caminhadas em meio à floresta” e identifica algumas práticas de uso do ecoturismo: Trekking (de viajar) – caminhada longa, com pernoite, onde o cliente leva na mochila parte dos equipamentos; Hikking (de passear) – caminhada curta, normalmente de um só dia, sem pernoite na trilha; Rafting (viajar de jangada/bote inflável) – descida de rios encachoeirados, a bordo de botes; Cannyoning (descer cannyons) – descida de cachoeiras e penhascos, com auxílio de cordas (rappel); Canoeing (de canoa) – navegar por rios ou lagos em canoas a remo; Mountain-Bikking (de bicicleta) – fazer trilhas em bicicletas especiais; Turismo Eqüestre ou Troperismo – andar a cavalo, à moda das tropas de mulas; Turismo Rural – vivência no ambiente rural, entre fazendas, gado, e tradições regionais; Turismo Esotérico – atividade ao ar livre, relacionado, ao místico, espiritual ou sobrenatural (ovnis); Alpinismo/ Montanhismo – prática de escaladas em rocha ou gelo, sem competição; Espeleologia – exploração de cavernas e/ou estudo dos ambientes subterrâneos; Astronomia – observação do céu noturno com ajuda de instrumentos; Observação de Pássaros / Observação de Orquídeas, de Fauna. O mesmo Allievi1 faz ainda a seguinte observação “Não foram incluídas nesta relação, as atividades feitas com ajuda de motores (moto-náutica, 375 motocicleta, veículos off-road etc) por entendê-las, às vezes incompatíveis entre si – por exemplo: observação de pássaros e jet-ski”. A identificação desses tipos é importante para as diversas regiões uma vez, que cada uma delas tem o seu perfil delineado, em função de suas aptidões, podendo até fazer-se um mix delas. Muitas são as regiões com potencial para essa atividade e que tem procurado adotar o turismo, e em alguns lugares, o ecoturismo como atividade econômica alternativa. Por ser uma atividade recente no Brasil o ecoturismo provocava, até recentemente, danos potenciais ao meio ambiente e às comunidades devido à inexistência de ordenamento uma vez que era impulsionado pela oportunidade mercadológica, deixando de gerar os benefícios sócioeconômicos e ambientais esperados. Essa situação foi analisada pela Associação de Silves para Preservação Ambiental e Cultural - ASPAC (1999, p.1), a qual alerta que devido à falta de adoção dos princípios de ecoturismo, a maioria dos empreendimentos nessa área limita-se à exploração do “turismo na natureza”, e para que o ecoturismo avance no sentido de se tornar instrumento de conservação e de desenvolvimento sustentável da natureza, é necessária e fundamental a participação da comunidade local na atividade e principalmente no seu planejamento. O primeiro passo para a profissionalização da atividade no país devese a EMBRATUR/IBAMA (1994 p.19)2 que editou as “Diretrizes para uma política nacional de ecoturismo” que conceituam “ecoturismo” da seguinte forma: Um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas. Entende-se que a matéria-prima para a formatação e implementação de atividades ecoturísticas em nossa região encontra-se localizada na unidade administrativa dos municípios e como tal a sua gestão passa necessariamente pela implantação e estruturação de uma Secretária Municipal de Meio Ambiente. 1 Ibidem No escopo deste trabalho adota-se a conceituação da EMBRATUR – Empresa Brasileira de Turismo / IBAMA – Instituto Brasileiro dos Recursos Naturais e Meio Ambiente. 2 376 UM OLHAR DE ARTICULAÇÃO MUNICIPAL Ao longo dos tempos a questão ambiental tem sido tratada, tanto pelos governos quanto pela sociedade, de forma genérica e até mesmo superficial. No contexto dos Municípios tem-se observado que há acúmulo de atividades que precisam ser cumpridas sem mais perda de tempo, sob o risco de gerar irreversivelmente o caos ambiental. O artigo 225 da Constituição de 1988 diz: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Com esse fato fica evidente que a Constituição Federal fortaleceu o papel federativo dos municípios e especificamente reforça o papel do poder local nas responsabilidades sobre as questões ambientais. Nessas questões últimas, cabe ao município não só legislar em matéria de interesse local, mas também suplementar a legislação estadual e federal quando a matéria tiver características locais. Por outro lado esse mesmo artigo constitucional estabelece que a responsabilidade pela proteção e preservação diz respeito aos vários setores que norteiam e executam as políticas públicas de cada município. Segundo Salles apud Philippi Jr. et al, 2004, a base institucional para a consecução da Política Nacional de Meio Ambiente foi estabelecida pela Lei Federal No 6.938/81, dispondo que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios são responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade de ambiental e constituem o Sistema Nacional de Meio Ambiente – SISNAMA. O SISNAMA é estruturado da seguinte forma: a) Órgão Superior – o Conselho de Governo; b) Órgão Consultivo e Deliberativo – o Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA; c) Órgão Central – o Ministério de Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal; d) Órgão Executor – o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis – IBAMA; e) Órgãos Setoriais – órgãos ou entidades da administração direta ou indireta; f) Órgãos Seccionais – órgãos ou entidades estaduais comprometidas com execução de programas e projetos e pelo controle e fiscalização de atividades que provoquem degradação ambiental; 377 g) Órgãos Locais – órgãos ou entidades municipais responsáveis pelo controle e fiscalização de atividades que provoquem degradação ambiental. Embora esta estrutura também seja aplicada, guardando as devidas proporções, nos Estados e nos Municípios através de estruturas próprias e adequadas para a resolução dos conflitos que ocorram, os municípios, principalmente, tem revelado uma condição de fragilidade pela reduzida capacidade de articulação interna e a falta de visão ampla da questão para o estabelecimento de estratégias de planejamento a curto, médio e longos prazos. Para a implementação da Lei em nível municipal devem ser desenvolvidos e utilizados os instrumentos propostos para o cumprimento de sua missão constitucional, a saber: a) padrões de qualidade ambiental; b) zoneamento ambiental; c) avaliação de impactos ambientais; d) licenciamento e revisão de atividades poluidoras; e) criação de reservas e estações ecológicas, áreas de proteção ambiental e de interesse ecológico, entre outros. O quadro abaixo sintetiza quais os instrumentos de gestão ambiental que os municípios tem ao seu dispor: Legais Normativos •6.938/81 (Sisnama) • Art. 225 (CF/88) • 9.605/98 (Crimes) • 9.795/99 (EA) • 10.257/01(Estatuto) • Lei Orgânica • Plano Diretor • Diretrizes Orçamentárias INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL Econômicos Controle Social Comando e Controle Gestão Participativa • Fundo Municipal de Meio Ambiente • Incentivos Tributários (IPTU) • Consórcio Municipal • EIA/RIMA • Ações MP • Conselho Municipal • Comitês de Bacias Hidrográficas • Sociedade Civil Institucionais Capacitação e Estruturação • Educação Ambiental • Agenda 21 • Conselho Municipal Fonte: Philippi Jr. et al, 2004 (adaptado) O censo do IBGE em 2005 indica que as gestões municipais no Brasil: a) 66% não dispõem de Conselhos Municipais; b) 82% não tem Fontes de Recursos Financeiros Específicos; c) 58% não tem Legislação Ambiental Específica e, d) que somente 8,1% dos municípios tem os três instrumentos simultaneamente. 378 E DAÍ TUDO ISSO? A política Nacional de Meio Ambiente exige que haja licenciamento prévio para toda e qualquer atividade utilizadora de recursos ambientais que, efetiva ou potencialmente, cause degradação ambiental. Como parte imprescindível do planejamento ecoturístico, deve-se atentar para a avaliação do impacto que a atividade venha causar ao meio sócioambiental. Para verificar a necessidade de licenciamento ambiental para o empreendimento o planejador deve dirigir-se: a) ao IBAMA para licenciamento federal, b) ao CRA para licenciamento estadual e, c) ao Órgão Municipal de Meio Ambiente para licenciamento em nível local. As perguntas que ficam são: 1) o estamos fazendo que precisamos parar de fazer? e, 2) o que não estamos fazendo que precisamos fazer? Então o grande desafio dos municípios passa a ser: a) implantar o Sistema Municipal de Meio Ambiente – SISMUMA (figura 01) e, b) fazer os Conselhos Municipais de Meio Ambiente funcionarem. Sistema Municipal de Meio Ambiente SISMUMA Instrumentos: Fundo Municipal de Meio Ambiente, Código Ambiental E Outros Estrutura Administrativa Desenvolvimento Sustentável Qualidade Ambiental Qualidade de Vida Figura 01: Sistema Municipal de Meio Ambiente – SISMUMA. Fonte: Salles, 2000. 379 Conselho Municipal de Meio Ambiente – Gestão Participativa Para Salles apud Philippi Jr. et al, 2004, o Conselho Municipal de Meio Ambiente é um Instrumento com poder Deliberativo e Participação de Representantes de Órgãos Públicos e de vários Setores da Sociedade Civil Organizada, com incumbência de propor políticas públicas, diretrizes e normas, acompanhar sua execução pelos diversos órgãos do município, e ainda manifestar-se sobre o Plano Diretor da Cidade. Este é o caminho da participação das comunidades no planejamento e controle social das questões ambientais. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ALLIEVI, João. Ecoturismo – um negócio natural. In: SOS Mata Atlântica – Imprensa e Ecoturismo. São Paulo: SOS Mata Atlântica. s.d., 20 p. ASPAC - ASSOCIAÇÃO DE SILVES PARA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL E CULTURAL. [on line]. 1999. Disponível: http://www.viverde.com.br/aldeia.html [capturado em 01 de maio de 1999]. CAR - COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO E AÇÃO REGIONAL. Sul da Bahia: perfil regional; Programa de Desenvolvimento Regional Sustentável. Salvador/ BA. Cadernos CAR, 7. 1995.140 p. CONSTITUIÇÃO: REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico. 1988. 292 p. DELGADO, Jesus M. Considerações especiais sobre administração do turismo ambiental ou ecoturismo. I encontro para conservação da natureza. Viçosa, MG. 1997. 9 p. Mimeografado. EMBRATUR/IBAMA. Diretrizes para uma política nacional de ecoturismo. Coordenação Silvio Magalhães de Barros II e Denise Hamú M. de La Penha. Brasília: EMBRATUR, 1994. 48 p. MENDONÇA, Roberto da C. e S. Associação Pataxó de Ecoturismo – Reserva da Jaqueira, Porto Seguro – Bahia: facilidades e restrições para sua sustentabilidade. Ilhéus, Ba: UESC/PRODEMA, 2002. 160 f.: il.; anexos. (Dissertação – Mestrado – Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC. Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente). MOURÃO, R. M. F. (1994). Ecoturismo e Turismo Participativo. In: Veracruz Florestal LTDA. Porto Seguro: VERACRUZ, Dez 1994. 50 p. PHILIPPI JR, Arlindo et al. Gestão Ambiental Municipal: subsídios para estruturação de sistema municipal de meio ambiente. Salvador: CRA. 2004. 128 p. RUSCHMANN, D. van de M. Marketing turístico: um enfoque promocional. 2 ed. Campinas: Papirus. 1995. 124 p (Coleção Turismo). SCHLITTLER, Flávio Henrique Mingante. Introdução à avaliação e análise de impactos ambientais. Rio Claro, 1198. 38 p. 380 ADMINISTRAÇÃO RURAL E OS TESTES DE COMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA Almir Martins dos Santos O objetivo principal da administração rural é orientar o fazendeiro a decidir racionalmente. O que a administração rural pretende é ajudar o produtor a administrar a sua fazenda de forma a obter maior lucro possível. Para atingir este objetivo, os estudiosos da administração têm recomendado aos empresários (agricultores) a execução das funções administrativas de planejamento, organização, direção e controle, em cada um dos setores básicos da empresa rural (fazenda) que são: produção, pessoal, finanças e mercado. Isto quer dizer que para obter sucesso em seu negócio, os fazendeiros devem, criteriosamente, planejar, organizar, dirigir e controlar a produção, como se ele fosse o diretor de produção da sua empresa. Em outro momento ele deverá, também, planejar, organizar, dirigir e controlar suas finanças, como se ele fosse o diretor financeiro desta mesma fazenda (empresa). Este mesmo critério ele deverá utilizar, para os setores de pessoal e mercado. Este cruzamento das funções com os setores constitui, de uma forma simplificada, a recomendação básica para se administrar com sucesso uma empresa rural, entretanto como o fazendeiro pode se certificar que sua administração está dando certa? A resposta a esta pergunta pode ser encontrada nos “indicadores de boa administração”, que também podem ser chamados de “testes de competência administrativa”. O objetivo deste artigo é apresentar e comentar estes testes de competência administrativa. Ceplac/Cepec/Sesoe 381 Este é o primeiro teste de competência administrativa que o fazendeiro ou outros administradores rurais precisam se submeter: o fazendeiro competente obtém boa produtividade e fazendeiro que produz com baixa produtividade não está administrando bem. O que é produtividade e como obtê-la? 1. PRODUTIVIDADE: Produtividade – na agricultura, produtividade é a produção por área ou por planta. Exemplo de produtividade: A Fazenda “A” obtém 100 arrobas por hectare ou a Fazenda “A” obtém 100 por 1000, ou seja, 100 arrobas por cada 1000 pés de cacau. Na pecuária a produtividade é entendida como a produção por área ou por animal. Exemplo Fazenda “Y” está obtendo 10 litros de leite por vaca, ou a Fazenda “Y” está criando 2 vacas por hectare. Observem que existe uma diferença entre Produção Total e produtividade. Por exemplo: o fazendeiro A tem 100 hectares de cacau e produz 4.000 arrobas. Esse fazendeiro tem uma produtividade de 40 arrobas por hectare. O fazendeiro “B” tem 10 hectares e produz 1000 arrobas. Ele tem uma produtividade de 100 arrobas por hectare. Observe que o fazendeiro “A” tem uma produção total maior que o “B”. 4000 arrobas do “A” contra 1000 do “B”, entretanto cada hectare do fazendeiro “B” produz 100 arrobas, um hectare do “A”, só obtém 40 arrobas. A produtividade do fazendeiro B é bem maior. LUCRO DEPENDE DA PRODUTIVIDADE DA PRODUÇÃO Abaixo estão citados alguns fatores que influenciam a produtividade: O que o fazendeiro precisa fazer para elevar a produtividade? Clima – o tempo é chuvoso ou estiado Solos – o terreno é bom ou ruim Planta – plantação é forte ou fraca Tecnologia – a técnica (trato) que é usada na fazenda Administração – ou seja, de quem comanda a fazenda. 382 Para se obter uma boa produtividade, o fazendeiro precisa dominar bem esses fatores. Sabe-se que, quando o clima é adverso, a produtividade reduz. Entretanto o clima não reduz a produtividade das fazendas individualmente. Quando ele é desfavorável, interfere na produtividade de toda uma região ou zona de produção. Assim o clima não explica porque um fazendeiro obtém 100 arrobas/ hectare e outro só obtém 40 arrobas/hectare, numa mesma região. Os outros fatores são possíveis de se controlar: o maior ou menor controle vai depender do administrador (fazendeiro). Existem inúmeros exemplos de fazendeiros que, mesmo em solos de baixa fertilidade, possuem uma produtividade maior que outros em solos férteis. Conhecemos também casos de fazendeiros que tinham plantações velhas e decadentes e fizeram renovação ou clonagem dos seus cacauais e hoje têm uma produtividade excelente. Isso prova como a boa administração é decisiva na obtenção da produtividade. É preciso lembrar que uma condição para se alcançar lucro alto é se obter uma boa produtividade. È por isso que se afirma que o primeiro teste de competência de um fazendeiro é o teste da produtividade. Normalmente as fazendas, principalmente as de cacau, são divididas em roças ou quadras. Infelizmente a maioria dos fazendeiros não sabe exatamente a área ocupada com os cultivos, nem a área das roças ou quadras. Ele tem uma estimativa (cálculo) da área e do número de pés, mas não sabe precisamente. Si se desejar perseguir uma alta produtividade, o primeiro passo é medir a área plantada e contar o número de plantas existentes e depois anotar a produção obtida por cada roça. Assim ficar-se-á sabendo qual a roça mais ou menos produtiva. É comum numa mesma fazenda se ter roças ou quadras com 30 arrobas/hectare e outras com 100 arrobas/hectare. Se o fazendeiro não estabelece um controle de produção por roça e não identifica as que necessitam de mais atenção, não percebe essa diferença. A medição pode ser feita com corda. 2. CUSTO PRODUÇÃO: Este é o segundo teste de competência do administrador rural, produzir a custo baixo. Para o fazendeiro obter lucro com a sua fazenda, ele precisa obter uma produtividade alta e um custo baixo. Normalmente os custos são classificados como fixos e variáveis ou 383 custos diretos e indiretos. Neste artigo, não se pretende analisar os custos sob esta concepção, para não tornar a análise excessivamente acadêmica. Para simplificar o assunto, podemos dizer que custo de produção significa as despesas ou gastos que o fazendeiro faz para obter a produção. Dessa definição, podemos tirar logo duas lições: Se o fazendeiro comprar algum material, adubo, por exemplo, e não usar, essa despesa não entra no cálculo do custo de produção, pois ela não contribui para produzir. A produção é uma face da moeda, e o custo é a outra. Para se produzir, tem que se ter custo e se tem custo para produzir. As duas coisas (custo e produção) são inseparáveis. Contudo deve ser perseguir a produtividade, com o menor custo possível. O custo é proveniente, basicamente, de 3 itens: a) Material b) Mão-de-obra c) Transporte Algumas práticas não usam materiais. Um exemplo é a roçagem manual. Outras gastam mais com a mão-de-obra, é o caso da aplicação de fungicida. Noutras práticas o gasto maior é com material. Adubação é um exemplo. Se o custo está alto e o produtor pretende reduzi-lo, deve buscar esta redução analisando, estes três itens (material mão-de-obra e transporte). Para se saber se o custo está alto ou baixo, o produtor precisa anotar quanto está gastando e depois comparar com o custo padrão estimado pela CEPLAC. As causas mais comuns dos custos altos são os gastos excessivos de material e rendimento baixo da mão-de-obra (operários utilizam mais tempo do que deveriam utilizar para realizar a prática). O Centro de Extensão da CEPLAC (CENEX) constatou recentemente que algumas fazendas estão gastando 10 vezes mais fungicidas do que o necessário, por falta de regulagem na vazão dos motores (saída de líquido) e os fazendeiros não estavam percebendo esse problema (falta de controle sobre as técnicas de produção). Constatou-se também que, nessa mesma prática, em algumas fazendas, os operários estavam gastando mais tempo do que o previsto. A prática já é cara e o descontrole a torna 384 ainda mais cara (falta de controle sobre rendimento da mão de obra). Outra constatação do CENEX é que, em algumas fazendas, os operários se deslocam 6 km (uma légua) até chegarem ao local de trabalho. Os fazendeiros estão pagando para os operários andarem. Isto pode ser resolvido com a localização melhor das casas. Outra constatação do CENEX é que a localização do secador, cocho e armazém provoca elevação de custo por obrigar os operários a fazerem movimentos desnecessários. O armazém distante do secador ou barcaça. Cocho está em baixo da barcaça. Operários coloca cacau mole no cocho, dias depois retira do cocho, sobe uma escada e o coloca na barcaça. Depois ensaca em cima da barcaça, desce a escada e anda alguns metros até o armazém. Uma mudança na posição do cocho e armazém (colocar calha) reduziria muitos movimentos desnecessários e conseqüentemente, os custos. Poucos fazendeiros sabem quantos dias são gastos para adubar um hectare, para aplicar fungicida e inseticida, alguns nem sabem em quantos dias se roça uma tarefa. Isto demonstra que não existe preocupação com o custo e nem se está seguindo a recomendação de cruzar as funções com os setores. A seguir, enumeramos alguns passos que os fazendeiros interessados em reduzir custos devem seguir: 1. Calcular quanto custará à realização da prática que ele pretende fazer. A Ceplac tem esse cálculo e pode fornecer aos interessados. 2. Dividir o custo da prática pelo preço do produto para saber que quantidade do produto será consumida na realização da prática. Por exemplo, a adubação de 1 ha de cacaueiros custa R$ 450, 00, e uma arroba de cacau R$ 50,00 (cinqüenta reais), ou seja, são necessárias 09 arrobas de cacau para se adubar um hectare. Se for feito este cálculo para todos hectares encontram-se quantas arrobas serão gastas com tratos que se pretende fazer em um hectare. 3. Compara-se o custo previsto transformado em arrobas, com a produção esperada no hectare e posteriormente verifica-se se compensa ou não adotar todas as práticas. 385 4. Anotam-se os gastos realmente feitos e se compara com o previsto. 5. Se estiver alto, verificar onde está o problema. O agrônomo local poderá ajudá-lo a encontrar e resolver o problema. O cálculo do custo real obtido deve ser feito assim que terminar o serviço na primeira roça, a fim de se ter oportunidade de corrigi-lo nas próximas roças. PARA SE SABER SE O CUSTO ESTÁ ALTO, É PRECISO ANOTÁLO. SE O PRODUTOR ANOTAR A PRODUÇÃO E OS CUSTOS POR ROÇA, ELE FICA SABENDO QUAL A ROÇA DA SUA FAZENDA QUE DÁ LUCRO E QUAL A QUE ESTÁ DANDO PREJUÍZO. FAZENDEIRO COMPETENTE PRODUZ COM BAIXO CUSTO. 3. INVESTIMENTOS Muitos fazendeiros têm uma boa produtividade e um custo baixo, contudo estão endividados. Como se explica isso? Alta produtividade, baixo custo e dívida, ao invés de lucro, isto é possível? Sim, se os fazendeiros não racionalizarem seus investimentos, o resultado da sua administração será o fracasso. Anteriormente definiu-se o custo de produção como as despesas que o fazendeiro realiza para obter a produção. Entretanto, não ficou esclarecido que existem umas despesas que tem efeito direto na produção e outras têm um efeito indireto. Os tratos culturais são exemplos de efeito direto. O adubo, por exemplo, ao ser aplicado, se incorpora a terra, muda de forma e começa a colaborar diretamente para aumentar a produção. Existem, contudo, outras despesas que agem indiretamente sobre a produção, ou seja, colaboram para aumentar a produção e não mudam de forma. Essas despesas são chamadas de investimentos. Custeio – são despesas feitas com produtos que colaboram diretamente para aumentar a produção e mudam de forma quando usados. Todos os tratos culturais são exemplos de custeio. Investimentos – são as despesas com bens que não mudam de forma e servem ao processo produtivo por mais de uma safra. Exemplo: casas 386 de operários, máquinas, instalações de beneficiamento, cerca, estradas, animais de serviços, plantio de cacau, clonagem de cacaueiros, etc. A decisão de investimento é normalmente mais cara que a de custeio. Uma decisão errada de investimento, além de dificuldade de corrigir, provoca um processo de corrosão financeira durante longo tempo. Por exemplo: um fazendeiro que só podia clonar 05 (cinco) hectares de cacau e clonou 20 hectares, enfrentará sérios problemas financeiros até corrigir essa decisão. 4. RETIRADA É preciso ainda lembrar que, para o fazendeiro não se endividar, além de controle sobre a produtividade, custo e investimento, ele precisa controlar as suas retiradas, ou seja, dinheiro que ele precisa para atender as suas necessidades e de família. A retirada é entendida como um salário que o fazendeiro cobra de sua fazenda para administrá-la. Se essa retirada é alta, significa que ele está cobrando um “salário” que a fazenda não pode pagar. Nesse caso, embora se tenha boa produtividade, custo baixo, investimento racionalizado, o fazendeiro pode se endividar e até “se quebrar”, ou seja, ser obrigado a vender sua fazenda. É preciso entender que o fazendeiro e sua fazenda (empresa), na maioria dos casos, se complementam: a fazenda requer “recursos” para produzir e o fazendeiro a oferece este recurso. Por outro lado o fazendeiro requer “renda” para sobreviver, que é retirada da fazenda. Esta é uma interelação essencial e se ela não for bem equacionada, o fazendeiro, é reprovado neste teste de competência. 5. LUCRO O teste mais decisivo pelo qual tem que passar um administrador rural, é o do lucro. É preciso criar lucro suficiente para cobrir todos os custos de sua atividade e ter clientes para o seu produto (mercado). Em uma atividade econômica viável, se alguém estiver produzindo com prejuízo, foi reprovado no principal teste de competência administrativa.. Através da figura 1, pode-se visualizar uma síntese dos principais 387 indicadores de uma boa administração (produtividade, preço, custeio, investimentos e retirada). Em uma administração racional, não se pode permitir que a soma das despesas com custeio, investimento e retirada ultrapasse a receita bruta, (produção vezes o preço). Fig. 1 Síntese dos testes de competência RECEITA = PRODUÇÃO X PREÇO $$$ $$$ $$$ $$$ $$$ $$$ CUSTEIO $$$ $$$ $$$ $$$ $$$ INVESTIMENTO Elaboração: O autor 388 $$$ $$$ $$$ $$$ $$$ $$$ RETIRADA MANEJO DO REBANHO BUBALINO PARA PRODUÇÃO DE LEITE Sérgio A. de A. Fernandes INTRODUÇÃO A bubalinocultura ocupa, em regiões como a Ásia, importante papel como produtor de alimento de alto valor biológico para o homem. Na Europa, especialmente na Itália, destaca-se como importante atividade econômica. No Brasil, a bubalinocultura tem apresentado grande crescimento em função, principalmente do desempenho apresentado pela espécie nos sistemas de produção, além da crescente demanda dos produtos lácteos. Este fato tem sido observado também na Bahia. Contudo, o manejo, em especial o nutricional ofertado aos rebanhos bubalinos necessita de ajustes, visto que esta espécie necessita ser melhor nutrida para que possa demonstrar seu potencial de produção. Igualmente necessária é a melhora no manejo de ordenha, visto que o grande paradigma atual no setor leiteiro brasileiro relaciona-se à obtenção de leite de qualidade, assim como, sua manutenção, sendo a discussão central neste texto. Zootecnista. Prof. D. Sc. UESB, Itapetinga. E-mail: [email protected] 389 REVISÃO DE LITERATURA A nutrição animal tem sido bastante observada ultimamente, em função da necessidade de se melhor nutrir os animais para a obtenção de melhores rendimentos econômicos na atividade pecuária. Os búfalos são mais eficientes que os bovinos na utilização de forragens de baixa qualidade, fato evidenciado pela melhor conversão alimentar (CA), principalmente em dietas fibrosas. Diversos autores afirmam haver indicações de que os bubalinos estariam mais ajustados por mecanismos anátomo-fisiológicos, ao aproveitamento e utilização das gramíneas forrageiras tropicais, nos dois aspectos de baixa digestibilidade de nutrientes e reduzido teor de proteína bruta (Franzolin, 1994; Vale, 1994). Contudo, não há uma única razão para esta maior eficiência e sim uma combinação de fatores, entre os quais estão: maior ingestão de matéria seca; maior retenção do alimento no trato digestivo; características ruminais mais favoráveis para a utilização do nitrogênio; menor depressão na digestão da celulose pelos carboidratos solúveis; superior habilidade para conviver com o estresse ambiental e amplo limite de preferência de pastejo. Por sua vez, a produção de leite está associada à nutrição animal. Em regiões tropicais, o nível médio de produção de leite observado é baixo. Este fato se deve a fatores como: material genético não adaptado ao meio ambiente, animais não selecionados, melhoramento animal, inadequado manejo de pastagens, além de inadequação das políticas públicas para o setor, observado há décadas. A composição do leite varia em função da dieta, espécie animal, raça, estágio de lactação e momento da ordenha (Durr et al, 2001). Os teores médios para os principais componentes do leite de búfalas obtidos em várias pesquisas podem ser observados na Tabela 1. Como se pode observar, em bubalinos, o teor de gordura no leite se mantém sempre acima de 5,5% (Tabela 1), sendo esta uma característica particular da espécie, independente das condições experimentais. Para o teor de proteína do leite, ocorre à mesma tendência de variação ao longo da lactação, com os teores variando entre 3,6 e 4,9%, acima do observado para bovino (3,4%). Apesar da maior possibilidade de alteração no teor de gordura do leite através da dieta, o teor protéico também pode sofrer alterações em função da dieta. 390 Tabela 1. Componentes do leite de búfalas Fonte Raças Componentes Água Gordura Proteína Lactose % Campanile et al. (1998) Tonhati (1999) Mesquita et al. (2001) Bovera et al. (2001) Faria et al. (2002) Fernandes et al. (2005a) Mediterrânea Diversas Jafarabadi Murrah Mediterrânea Diversas Diversas 6,9 83,3 6,3-10,4 82,9-84,5 5,6-6,6 6,6-8,4 81-84,2 5,5-8,3 82,7 6,9±0,04 N uréico mg/dL 14,5-17,9 3,9 3,8-4,1 5,5-5,7 3,6-4,0 5,3-5,6 4,3-4,9 13,7-16,5 4,2-4,5 4,2±0,06 5,0±0,13 15,9±2,47 Para bubalinos, poucas são as referências sobre a concentração de N uréico no leite, ferramenta importante no acompanhamento do manejo nutricional, guardando assim, relação direta com o manejo nutricional. De acordo com Jonker et al. (1998) o intervalo ideal em bovinos deve ser entre 10 e 16 mg/dL, assim, valores superiores ou inferiores a este intervalo indicam inadequação do manejo nutricional. Pode-se adotar como ideal também para bubalinos este intervalo Estas informações demonstram haver necessidade de que o manejo nutricional de animais leiteiros deva ser priorizado, pois alterações nos componentes do leite podem estar associadas à nutrição. Sobre a qualidade do leite in natura ou fluido incidem variáveis zootécnicas (manejo, nutrição, genética, etc.) e fatores relacionados com a higiene do leite. Em bubalinos, alguns trabalhos têm demonstrado haver diferença entre raças (variável zootécnica). Assim, Tonhati (1999) observou maior teor de gordura no leite da raça Murrah (7,1%) quando comparado com as raças Jafarabadi (6,8%), Mediterrânea (6,1%) e Mestiças (6,9%). Outro importante fator é o estresse ambiental, que pode alterar o consumo de alimentos, que por sua vez, poderá interferir na composição do leite. A cadeia produtiva do leite tem sido bastante discutida no Brasil, nos últimos anos, entre órgãos de governo e produtores, principalmente ao que se refere à obtenção e manutenção da qualidade do leite. Estas discussões culminaram com a aprovação da Instrução Normativa 51 (IN 51), que legisla sobre esta qualidade. Isto se deve ao fato de que não só é necessário produzir mais leite, mas produzi-lo e mantê-lo com a qualidade natural até seu consumo. Isto não é tarefa fácil, visto as dificuldades observadas entre os agentes envolvidos com a questão. 391 A IN 51 impõe prazos para adequações aos padrões de referência de acordo com a região geográfica do Brasil, assim, a região Sul e Sudeste devem a tender as exigências desde Julho de 2005, enquanto a região Norte e Nordeste devem se adequar até Julho de 2007 quando passam, então, a seguir esta legislação. Para isso, os agentes envolvidos com a produção de leite, em especial os produtores, devem se adequar a esta normativa. O leite de qualidade, de acordo com a IN 51, possui diversas características, destacando-se a contagem de células somáticas (CCS) e unidades formadoras de colônia (UFC), como fatores que interferem na qualidade do leite e seus subprodutos, por sua vez, existem fatores como a acidez, índice crioscópico, redutase, entre outros, que servem para se avaliar esta qualidade. Os requisitos destas características variam em função do tipo de leite (A, B ou C), observando que, cada tipo possui seu padrão próprio. Cabe ressaltar que os valores para a CCS no leite de búfalas são diferentes dos observados em bovinos. Assim, os requisitos exigidos pela IN 51, em relação a CCS no leite, são facilmente atingidos em bubalinos, visto que a média observada em diversos artigos científicos é diferente dos observados em bovinos. Ceron-Muñoz et al. (2002) observaram valor médio de 79.000 células/mL, Amaral et al. (2002) observaram 22.000 células/mL, enquanto Fernandes et al. (2005) observaram de 126.000 células/mL. A qualidade do leite está diretamente associada à sanidade do rebanho, à higiene da ordenha, assim como, aos cuidados pós-ordenha com o leite. Os aspectos sanitários estão diretamente associados com as mastites (causadas por agentes infecciosos como bactérias, fungos), que por sua vez, associam-se com alterações nos componentes do leite, como gordura, proteína, lactose, minerais. Também, pode diminuir a produção de leite entre 10 e 20%. Ao se acrescentar os gastos com descarte de leite, antibióticos e descarte de animais, as perdas podem chegar ao equivalente de 1.000 kg de leite por lactação. As mastites provocam alteração no teor protéico do leite, observandose queda no teor de caseína, e elevação no teor de imunoglobulinas, o que determina queda no rendimento industrial. Já o teor de gordura pode ou não cair, na verdade depende da queda da produção de leite. A higiene de ordenha ajuda a diminuir as contaminações do úbere. Assim, práticas como as de lavagem do teto com água corrente, secagem 392 em papel toalha descartáveis, descarte dos primeiros jatos em caneca de fundo preto, imersão dos tetos em solução sanitizante (iodo em geral) após a ordenha ajudam a controlar eficientemente as mastites. Outra prática que também ajuda a controlar as mastites é manutenção dos animais em pé para que o esfíncter do teto se feche. Para isso recomenda-se que se ofereça alimentação após a ordenha. Na Tabela 2, pode-se observar a qualidade do leite em função das práticas de higiene na ordenha. Ordenha higiênica não contamina o leite, enquanto higiene baixa na ordenha o contamina. Este fato é observado na avaliação do leite após 24 horas. O leite com baixa contaminação inicial continuou 24 horas após, com baixa carga microbiana, enquanto na ordenha considerado suja (4.138 células/mL.) observou-se elevação na carga microbiana, que passou para 538.775 células/mL. Tabela 2 – Multiplicação de bactérias a diferentes temperaturas de armazenamento e sistemas de manejo de vacas e utensílios de ordenha Temp. de Manejo armazenamento Número de bactérias por mL de leite Pós-ordenha Limpo Sujo 4,4ºC 15,0ºC 4,4ºC 15,0ºC 4.138 4.138 4.138 4.138 24 h 4.295 1.587.333 281.646 24.673.571 48 h 72 h 5.000 33.011.111 538.775 643.884.615 8.427 326.500.000 749.030 2.407.383.333 Fonte: adaptado de Krug et al. (1992). Outro fator relacionado com a qualidade do leite é a refrigeração. Observa-se na mesma Tabela 1, que a refrigeração atua positivamente sobre a manutenção da qualidade microbiológica do leite. Assim, leite refrigerado em temperatura elevada 15ºC, proporciona ambiente adequado para crescimento bacteriano, e associado ao leite obtido de forma não higiênica (sujo) cuja população microbiana inicial era de 4.138 células/mL, ao ser armazenado a 15ºC, esta mesma população passou para 24.673.571 de células/mL. Quanto maior a população microbiana no leite maior será a queda nos teores de proteína, gordura e lactose, o que vai determinar diminuição do rendimento industrial. Dessa forma, o leite deve estar resfriado a 4ºC no máximo em até 2 horas após a ordenha, lembrando que leite contaminado durante a ordenha, mesmo sob refrigeração adequada sua qualidade não melhora. 393 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com a finalidade de se melhorar as técnicas de produção e obtenção do leite, alguns passos são importantes, como: adequação do manejo zootécnico e nutricional dos animais, limpeza e desinfecção dos equipamentos de ordenha (baldes, coadores, ordenhadeira), assim como, das instalações, limpeza e desinfecção do úbere, água limpa e corrente, finalizando com a introdução dos resfriadores de leite nas propriedades ou em grupos. A mudança nas práticas de produção rural depende, em grande parte, de adequações dos sistemas de produção. Deve-se buscar auxílio profissional no sentido de se melhorar o rendimento econômico das fazendas. Assim, o acompanhamento de um técnico (Zootecnista, Veterinário ou Agrônomo) visa adequações do manejo da fazenda, melhorando-o. Como visto, a legislação sobre leite no Brasil, está em fase de implantação e para isso, não se deve esperar que as datas limites cheguem, deve-se sim se antecipar aos fatos, adaptando-se o mais depressa possível a esta. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMARAL, F. R; Carvalho, L. B. Silva, N., et al. Composição e contagem de células somáticas em leite bubalinos na região do Alto São Francisco, Minas Gerais, Brasil, Rev. do Inst. de Laticínio Cândido Tostes. V. 59, n. 339, p. 37-41. BOVERA, F.; CUTRIGNELLI, M. I.; CALABRÒ, S. et al. Influence of diet characteristics and productions levels on blood and milk urea concentrations in buffalo. In: WORLD BUFFALO CONGRESS, 6. Maracaibo, 2001. Proceedings. Maracaibo: Zulia University Tech Park, 2001. p. 506-511. 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V. 60, n. 347/347, p. 53-58. 2005. FERNANDES, S. A. A., MATTOS, W. R. S.; MATARAZZO, S. V.; et al. Componentes do leite de bubalinos ao longo da lactação no estado de São Paulo. Rev. do Inst. de Latic. Cândido Tostes. V. 60, n. 347/347, p. 71-78. 2005. FRANZOLIN, R. Buffalo Nutrition: the efficient utilization of the feeding. World Buffalo Congress, 4. 1994. São Paulo. Proceedings... São Paulo: ABCB/IBF/FAO/ FINEP, 1994, v. 2, p. 196-207. JONKER, J. S.; KOHN, R. A.; ERDMAN, R. A. Using urea nitrogen to predict nitrogen excretion and utilization efficiency in lactating dairy cows. Journal of Dairy Science, v.81, p. 2681-2692, 1998. KRUG, E. E. B; REDIN, O.; KODAMA, H. K.; et al. Manual da produção leiteira. Porto Alegre: Cooperativa Central Gaúcha de Leite, 1992. 730 p. KRUG, E. E. B; REDIN, O.; KODAMA, H. K.; et al. Manual da produção leiteira. Porto Alegre: Cooperativa Central Gaúcha de Leite, 1992. 730 p. MESQUITA, A. J. de; TANEZINI, C. A.; FONTES, I. F. et al. 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Assim, a horta educativa é sempre diversificada, cultivando-se diferentes espécies hortícolas ao mesmo tempo. Pode ser escolar, quando conduzida pelos estudantes de uma escola de qualquer natureza: Comunitária, quando conduzida em comum por associação ou grupo de pessoa, formal ou informalmente constituído e familiar também denominada caseira ou de “fundo de quintal”, quando conduzida pelo individuo e a sua família. Esta, localiza-se geralmente próxima à residência do proprietário. Técnico Agrícola e Professor da EMARC-UR 396 As ,hortas edúcativas geralmehte, ocupam pequenas áreas os produtos são destinados prioritariamente à alimentação das pessoas envolvidas. Entretanto, podem crescer e gerar excedentes para comercialização e até se transformarem em atividade com duplo objetivo, educacional e comercial. Também pelas características dos serviços nela envolvidos, normalmente leves podendo ser executados até por velhos e crianças sendo as principais práticas realizadas em horário de sol fraco, a condução de uma horta educativa torna-se freqüentemente em atividade de lazer, surgindo daí a motivadora de “Horta Recreativa”. 1.2 Horta Comercial É toda exploração hortícola cujo principal objetivo é a obtenção de rendimento econômico proveniente da comercialização de produtos. Pode ser diversificada ou especializada e com diferentes destinos para os produtos obtidos. A horta comercial diversificada é geralmente de pequeno porte e localiza-se normalmente na periferia dos centros urbanos, formandos “ Cinturões verdes” . Os produtores cultivam várias espécies hortícolas e vendem os produtos nas feiras livres ou a intermediários, varejistas ou não, que os comercializam nas feiras e mercados ou centros de abastecimentos. A horta comercial especializada é geralmente de médio e grande porte, exploradas poucas espécies e localiza-se geralmente afastada dos grandes centros urbanos, entretanto, a maior ou menor distância de centros urbanos é a função do destino da produção e das características dos produtos. Quando a produção se destina diretamente ao consumo e tratase de produto altamente perecível, a exemplo das folhosas a menor distância e o acesso aos grandes centros urbanos são fatores da maior importância, quando a produção se destina a industria os produtos suportam transporte à longa distância como alho, cebola, batata, etc. maior distância dos centros urbanos é irrelevante e até pode se transformar num fator de redução de custos, pelo menor preço das terras. Assim também, são grandes explorações olerícolas para a indústria de enlatados, como as de tomate, ervilha, aspargo e outras. 397 2. CLASSIFICAÇÃO DAS HORTALIÇAS 2.1 Segundo as partes utilizadas como alimento Na linguagem popular, e até utilizadas por alguns técnicos, as hortaliças são classificadas como legumes, verduras e condimentos. Denomina-se legume toda hortaliça cuja parte aproveitada como alimento é fruto, semente, bulbo, raiz ou tubérculo, como: tomate, ervilha, cebola, batata, etc.. Verduras, as hortaliças cujas partes aproveitadas são folhas, flores e hastes como: alface, couve-flor, brócolos, agrião, e etc. Os condimentos compreendem as hortaliças cuja finalidade é melhorar o sabor, o aroma, ou a aparência dos alimentos, como o coentro à cebolinha, a salsa pimenta, entre outros. 2.2 Segundo o parentesco botânico Por este critério, as hortaliças compreendem um grande número de família dentre as quais são encontradas uma ou mais espécies de interesse econômico. 3. IMPORTÂNCIA ALIMENTAR DAS HORTALIÇAS As Hortaliças são, por excelência, fontes de vitaminas e sais minerais substâncias essenciais ao bom funcionamento do organismo humano. Auxiliam a digestão e o funcionamento dos diversos órgãos sendo, por isso, consideradas alimentos protetoras da saúde. Como o organismo humano não tem a capacidade de armazenar vitaminas sais minerais, necessários à sua nutrição, aconselha-se a ingestão diária de nutrientes, especialmente provenientes de hortaliças pelos benefícios adicionais pela ingestão de fibras. Contudo, deve-se diversificar o consumo de hortaliças para equilibrar a nutrição vitamino-minerais, vez que a riqueza nutricional das espécies é bastante diferente. Uma hortaliça pode ser rica em um ou mais nutriente e pobre em outros (quadro 2). 4. FERRAMENTAS E EQUIPAMENTOS Em olericultura, normalmente são empregados vários instrumentos que muito auxiliam a execução das tarefas. Porém, para as pequenas hortas a 398 enxada e qualquer equipamento que permita regar as plantas são os únicos considerados indispensáveis, instrumentos como: enxadão, par, garfo, cavador reto, mão-de--onça, ancinho, sacho, pazinha de transplante, carro-de-mão, marcadores diversos, pulverizadores e outros improvisados pelo olericultor, são importantes porque facilita os trabalhos e proporcionam o melhor rendimento. A utilização de equipamentos como arados, grade, enxada rotativa, sulcador, conjunto de irrigação, etc., é mais freqüente em hortas maiores ou em pequenas hortas comerciais. 5. MATERIAIS DE PLANTIO As hortaliças podem, ser multiplicadas por sementes, mudas ou brotos, hastes, ramas ou estacas, frutos, tubérculos, bulbos e bulbilhos ou “dentes”. As sementes representam o material de multiplicação da maioria das espécies hortícolas. Em geral estas são pequenas e perdem rapidamente o poder germinativo na ausência de embalagens adequadas, especialmente se mantidas em temperaturas e umidade relativas elevadas. Latas e sacos de papel laminizados são as embalagens que melhor conservam o poder germinativo das sementes comercializadas. Por isso, estas devem ser adquiridas em quantidades necessárias para um curto período e em embalagens fechadas. O rotulo das embalagens indica a espécie, a cultivar, o poder germinativo e a validade do teste de germinação, que deverão ser observados na ocasião da compra. São multiplicadas por sementes as seguintes espécies: abóbora, abobrinha, agrião, alface, beterraba, berinjela, cebola, cebolinha, cenoura, coentro, couve, brócolos, couve-flor, feijão-vagem, jiló, melancia, melão, milho-doce, moranga, nabo, pepino, pimentão, pimenta, rabanete, salsa, quiabo e tomate. As mudas podem ser originadas de sementes, plantadas em canteiros especiais, ou de parte de vegetal (vegetativas) como as brotações laterais de couve e pedaços de cebolinha. Hastes, ramas, ou estacas são pedaços do caule de outras hortaliças, utilizados como material de plantio, a exemplo do agrião, a batata-doce e do hortelã. Para a batata-doce, ramas com 20 a 30 em de comprimento constitui o principal material de plantio. Frutos é o material de plantio do chuchu. Este, apesar de considerado o material vegetativo por autores, trata-se de material sexuados. 399 Tubérculo é o material vegetativo de multiplicação da batatinha, que deve ser plantado com 3 a 4 cm de tamanho. Bulbo é o material vegetativo da cebola ou a própria cebola, que pode ser utilizada para plantio. Neste caso, deve-se escolher ou produzir bulbos dos menores, também denominados bulbinhos. Bulbinho ou “dente” é o material utilizado para a multiplicação do alho. Para a produção própria de qualquer material de multiplicação de hortaliças deve-se escolher plantas mães produtivas, bem desenvolvidas e isentas de pragas e doenças. 6. DESENVOLVIMENTO DAS HORTALIÇAS 6.1 Considerações sobre o solo As plantas necessitam apenas Ter disponível no solo os componentes: nutrientes, água e oxigênio. O grau de exigência desses componentes varia principalmente em função da espécie de planta ou cultivar. As hortaliças, em geral, se caracterizam pela alta exigência nos três componentes citados. 6.2 Considerações sobre o clima . Dentre os fatores climáticos, a luz, a temperatura e a umidade são os de maior importância em olericultura. 7. ADUBAÇÃO A adubação de hortaliças deve ser feita visando suprir praticamente todas as necessidades nutricionais da planta, pelo menos em macronutrientes. 7.1 Adubação básica Em síntese, a regra de utilização de 150 a 250g da fórmula 4-14-8 ou 416-8 por m2 de área deve ser acrescida de relativa dos de bom senso. Devese considerar as exigências nutricionais das espécies, os grandes espaçamentos, a duração do clima, o nível de produtividade esperando e as indicações de real estado de fertilizante do solo. 400 7.2 Adubação Orgânica O adubo orgânico é da maior importância para o cultivo de hortaliças. Mesmo pelo fornecimento de nutrientes, vez que na maioria dos casos é pobre, mas, pela melhoria das condições físicas do solo que impõe. A matéria orgânica torna o solo muito solto mas ligados, conferindoIhes maior capacidade de retenção de água e nutrientes e os solos mais pesados, mais soltam, com maior poros idade e penetração do ar. O adubo orgânico melhora a vida macro biológica do solo favorecendo a sobrevivência de minhocas, fungos e bactérias benéficas. Fornece ainda micronutrientes às culturas e favorece a absorção de nutrientes provenientes de outras fontes. 8. OBTENÇÃO DE MUDAS As mudas da maioria das espécies hortícolas são obtidas a partir de sementes. A semeadura em sementeiras deve ser bastante uniforme, em pequenos sulcos paralelos, distanciados 10 cm e profundidade em torno de 1 cm. A cobertura das sementes deve ser feita com uma fina camada de terra ou esterco curtido, de preferência, peneirado sobre o leito. A cobertura do leito com folhas de dendezeiro, coqueiro ou assemelhado ajuda a conservar a umidade, evita compactação e super aquecimento do solo, favorecendo a germinação. 9. INSTRUÇÕES GERAIS 9. 1. Irrigação A irrigação é fundamental para complementar a grande necessidade de água, para a maioria. das espécies hortícolas, mesmo em períodos ou regiões onde ocorrem os melhores regimes de distribuição de chuvas. Em geral, a quantidade de água a aplicar por vez, deve ser o suficiente para molhar a terra at’;e a profundidade de 20 a 25 cm, onde se concentram a maioria das raízes. O excesso favorece a erosão e a lixiviação dos nutrientes. A falta prejudica o crescimento e a qualidade dos produtos podendo acelerar o processo de maturação. A irrigação pode ser feita por sulcos ou por aspersão. 401 9.2. Capina A capina é a operação executada para retirar as ervas daninhas que infestam as culturas. Deve ser realizado o quanto antes e sempre que necessário, para evitar a concorrência por água, luz e nutrientes. 9.3. Controle de pragas e doenças As principais pragas que atacam as hortaliças podem ser agrupadas em insetos, ácaros e nematóides. O controle de insetos e ácaros deve ser feito por meio de catação manual ou eliminação das partes muito atacadas. 05 nematóides são melhor controlados por meio de práticas culturais como rotação de culturas, arações e radagens sucessivas em dias de solo, inundações temporárias e uso de cultivares resistentes. As doenças mais comuns nas hortaliças são causadas por fungos, bactérias e vírus. O controle das doenças deve ser feito eliminando-se as partes atacadas ou a planta toda. Num caso de virose deve se eliminar todas as plantas atacadas e combater os insetos vetores. Muitas vezes, no entanto, um mau desenvolvimento das plantas, amarelecimento das folhas, murchamento e morte das plantas podem ser causados por deficiência nutricional. Também, a falta ou excesso de água ou excesso de calor ou frio podem ser responsáveis por esses sintomas. 10. COLHEITA As hortaliças devem ser colhidas no ponto que as características de paladar e preferências de mercado forem satisfeitas. O ponto de colheita pode ser definido pela idade da planta, desenvolvimento das folhas, hastes, frutos, raízes ou outras partes utilizadas como alimento. 402 PRAGAS E DOENÇAS DA SERINGUEIRA Carlos R. R. Mattos 1. PRAGAS Algumas pragas podem causar sérios prejuízos para a seringueira, diminuindo o crescimento das plantas e a produção de borracha. Para identificar e combater essas pragas é necessário examinar o seringal com freqüência. Pode ocorrer ainda ataque de: formiga, vaquinha, mosca branca, cochonilha, cupin, paquinha, coleobroca, e percevejo, que são pragas mais facilmente controláveis. 1.3. Percevejo de Renda O percevejo de renda (Leptopharsa heveae), também conhecido como mosca de renda, tem causado grandes problemas nos seringais do Mato Grosso e São Paulo. Essa praga, tanto na forma adulta quanto na forma juvenil, ataca o seringal, sugando a seiva e provocando o desfolhamento das plantas. Os ataques mais severos podem causar uma redução de 27,7% no crescimento em altura e de 45% no diâmetro do colo das plantas em viveiro, bem como uma redução na produção de látex que chega a atingir 30 % do total. O inseto adulto mede, aproximadamente, 3 mm de comprimento, tem as pernas longas, e apresenta as asas de forma reticulada e alveolada, de cor esbranquiçada, com a presença de espinhos minúsculos. 403 A principal forma de controle dessa praga é através da aplicação do fungo Sporothrix insectorum, que, dependendo das condições climáticas, pode apresentar 95% de eficácia. Entretanto, a utilização desse fungo só deve ser realizada em períodos de alta umidade relativa do ar. Caso contrario, recomenda-se a utilização dos seguintes produtos químicos: Agrophós 400 (300 ml. ha-1); Decis 25 CE (300 ml.ha-1); Endosulfan 350 CE (1000 ml.ha-1); Karatê 50 CE (200 ml.ha-1); Lannate BR (300 ml.ha-1); Nuvacron 400 (300 ml.ha-1) e Sevin 400 SC (500 ml.ha-1). 1.3. Ácaro da Seringueira Embora existam outras espécies, o Calacarus heveae é o ácaro mais importante da seringueira. Essa praga tem causado grandes problemas nos seringais dos Estados de São Paulo e Mato Grosso, e já se encontra nos seringais da Bahia causando problemas em alguns clones. Os ataques ocorrem, principalmente, nas folhas maduras, e os sintomas, de modo geral, começam a aparecer 45 dias após o pico populacional do inseto. As folhas, inicialmente, perdem a coloração e o brilho, tornandose amareladas, posteriormente bronzeadas, e caem. O controle dessa praga pode ser feito através de pulverizações com os seguintes produtos químicos: Dicofol185 CE (300 ml/1 00 I H20), e Kumulus DE 500 SC (500 g/1 00 I H20). 1.3. Mandarová O mandarová (Erinnys ello) é uma praga muito importante da seringueira e o seu ataque ocorre, normalmente, no período de setembro a fevereiro, podendo, em poucos dias, desfolhar completamente as árvores. O controle dessa lagarta pode ser feito através de pulverizações com inseticidas químicos como o Dipterex 500 (1000 ml.100 I H20-1), o Sevin 85 PM (2 kg.100 I H20-1), e o Decis 25 CE (250 ml.100 I H20-1). Pode ser utilizado, também, o inseticida biológico Dipel (400 g.100 I H20-1). Entretanto, esse produto só é eficiente quando aplicado nos primeiros 2.DOENÇAS Entre as principais doenças de importância econômica para a seringueira no Brasil, destacam-se o mal-das-folhas, causado pelo fungo Microcyclus ulei, a requeima, a queda anormal, e o cancro estriado, causados pelo fungo Phytophthora sp, bem como a antracnose, causada pelo fungo Colletotrichum gloeosporioides. 404 2. DOENÇAS DAS FOLHAS 2.1. Mal-das-folhas da Seringueira . Considerado como um dos principais problemas da seringueira nas Americas do Sul e Central, essa doença, causada pelo fungo Microcyclus ulei, apresenta-se em todas as regiões heveícolas do Brasil. Nas regiões úmidas ocorre o ano inteiro nos viveiros, jardins clonais, e no plantio industrial podendo causar o desfolhamento total das plantas. Os sintomas dessa doença caracterizam-se pelo aparecimento de manchas circulares de formas irregulares, levemente, escurecidas e cobertas por uma esporulação de cor cinza na face inferior e /ou superior da folha. O controle do mal-das-folhas em viveiro e jardim clonal se faz através de aplicações semanais de uma mistura de Tilt (Propiconazole) com Manzate 800 ou Dithane PM (Mancozeb), ou Daconil BR, ou Bravonil 750 PM (Chlorothalonil), nas dosagens de 30 ml de Tilt e 300 g dos outros fungicidas / 100 L de água. Os fungicidas a base de Chlorothalonil podem ser utilizados isoladamente na dosagem de 2 kg / ha, enquanto o Tilt pode ser substituído por Amistar (Azoxystrobin) na dosagem de 10 ml / 100 L de água, ou outros fungicidas do mesmo grupo químico (Triazóis), na mesma dosagem (30 ml / 100 L de água), sempre em mistura com os fungicidas protetores para evitar o aparecimento de raças resistentes. Em seringais adultos, as aplicações desses fungicidas são realizadas no período de reenfolhamento das árvores até que as folhas atinjam a maturidade. Outra forma de controle é o emprego de clones de copa resistentes ao fungo, enxertados sobre o tronco de clones altamente produtivos. Infelizmente, essa técnica é muito cara e ainda não existe conhecimento suficiente para recomendar a sua utilização. Em algumas regiões do Brasil, a exemplo do Mato Grosso e do Planalto de São Paulo, a seringueira é plantada sob condições adversas à manifestação epidêmica do fungo, notadamente no período da troca de folhas. Essa estratégia de controle, tida como uma solução genético-ecológica, tem se mostrado eficaz. Entretanto, a forma de luta mais eficaz é o controle genético através do melhoramento genético da seringueira selecionando genes de resistência à doença e de produção em um mesmo indivíduo. Esse trabalho é uma realidade e está sendo desenvolvido pela MICHELIN em parceria com o CIRAD (organismo de pesquisa francês) desde 1990. Atualmente 13 clones estão sendo estudados em grande escala no Brasil e 3 desses clones são recomendados para plantio no Estado da Bahia. O projeto realiza a 405 cada ano 75.000 polinizações entre clones sul-americanos de alta resistência ao Microcyclus ulei e clones asiáticos de alta produção. 20.000 genótipos estão sendo estudados e 200 deles já foram selecionados com base na resistência e no potencial de produção, além de outros características agronômicas interessantes, e estão sendo estudados em Campos de Clones a Pequena Escala sob forte pressão de doença nas Plantações Michelin da Bahia. 2.2. Requeima Essa doença, causada pelo fungo Phytophthora sp, ocorre em períodos de chuvas prolongadas, principalmente, nos seringais adultos, nas plantas em reenfolhamento. Os sintomas se caracterizam pelo murchamento, seguido de queima dos folíolos jovens, dos pecíolos, das hastes e das inflorescências. Quando a infecção ocorre no penúltimo segmento dos folíolos, aparecem lesões com exsudação de látex que anelam o ramo, provocando a murcha terminal do mesmo. O controle da requeima nos seringais adultos, pode ser feito através de aplicações de Ridomil Gold MZ (Metalaxil + Mancozeb), no período do reenfolhamento, até a maturidade das folhas, na dosagem de 300 g / 100 L de água. Pode ser utilizado, também, o Venturol (Dodine) ou Forum (Dimetomorfe), na mesma dosagem. 2.3. Queda Anormal Essa doença é causada pelo fungo Phytophthora sp. A sua ocorrência verifica-se apenas em seringais adultos, e está relacionada aos períodos de chuvas prolongadas. Os sintomas se caracterizam pelo aparecimento de lesões escuras, com exsudação de látex nos pecíolos de folhas adultas, as quais caem, ainda verdes, juntamente com os pecíolos. Normalmente, não se recomenda o controle químico para essa doença. 2.4. Antracnose Causada pelo fungo Colletotrichum gloeosporioides, essa doença ocorre principalmente nos períodos chuvosos, sendo observada tanto nos viveiros e jardins clonais, como nos seringais adultos. Os sintomas se apresentam em forma de pequenas lesões escuras com as bordas cloróticas que, em condições mais favoráveis, se interligam atingindo grandes porções dos folíolos, os quais caem em seguida. 406 O controle da antracnose, nos viveiros e jardins clonais, deve ser feito logo que surgirem os primeiros sintomas através de aplicações semanais de uma mistura de Tilt (Propiconazole) com Manzate 800 ou Dithane PM (Mancozeb), ou Daconil BR, ou Bravonil 750 PM (Chlorothalonil), nas dosagens de 30 ml de Tilt e 300 g dos outros fungicidas / 100 L de água. Os fungicidas a base de Chlorothalonil podem ser utilizados isoladamente na dosagem de 700 g / 100 L de água, enquanto o Tilt pode ser substituído por Amistar (Azoxystrobin) na dosagem de 10 ml / 100 L de água, ou outros fungicidas do mesmo grupo químico (Triazóis), na mesma dosagem (30 ml / 100 L de água), sempre em mistura com os fungicidas protetores para evitar o aparecimento de raças resistentes. 1.5. Oídio Causada pelo fungo Oidium heveae, essa doença ocorre com muita freqüência em seringais do Planalto Paulista. Os sintomas se caracterizam pelo aparecimento de um micélio branco que se desenvolve nas duas faces do folíolo e chega a provocar o desfolhamento das plantas quando o ataque é severo. Para o controle do oídio, recomenda-se três a quatro aplicações semanais de fungicidas à base de enxofre, na dosagem de 5 kg / ha, em pulverização. 1.6. Mancha Concêntrica Essa doença, causada pelo fungo Periconia manihoticola, pode ocorrer em viveiros e jardins clonais sem danos importantes. Os sintomas manifestam-se inicialmente pelo aparecimento de lesões irregularmente circulares, passando mais tarde à cor palha e formando anéis concêntricos escurecidos no seu interior. Os fungicidas utilizados em rotina nos viveiros e Jardins clonais para o controle das principais doenças da seringueira, normalmente, não permitem a manifestação dessa doença. 1.7. Mancha de Alternaria É uma doença causada pelo fungo Alternaria sp e pode ocorrer em viveiros e jardins clonais, sem muita importância. Os sintomas nas folhas se apresentam em forma de pequenas manchas mais ou menos circulares, de cor palha no centro e halo verde amarelado. As lesões podem se 407 interligar atingindo uma grande porção dos folíolos e conseqüente desfolhamento. Normalmente, não é necessário um controle químico específico para essa doença. 2.8. Mancha de Corynespora Trata-se de uma doença sem muita importância no Brasil, causada pelo fungo Corynespora cassiicola, que pode ocorrer tanto em viveiros e jardins clonais quanto nos seringais adultos. Os sintomas da doença se manifestam inicialmente através de manchas escuras, irregularmente circulares e, mais tarde, apresentam a porção central mais clara, limitada por um halo de cor amarronzada. O controle da doença pode ser feito através de aplicações semanais de Benlate (Benomyl), na dosagem de 400 g / ha. 3. DOENÇAS DO CAULE 3.1. Cancro-estriado O cancro-estriado é uma doença causada pelo fungo Phytophthora sp, que ocorre nos painéis de sangria da seringueira em exploração. Os sintomas se caracterizam pelas lesões necróticas, levemente descoloridas e deprimidas na casca, podendo haver exsudação de látex. Retirando-se a casca necrosada, vê-se no lenho a presença de estrias negras, principalmente, no sentido longitudinal. O controle dessa doença deve ser feito de forma preventiva através do pincelamento no painel, até 2 cm abaixo e acima do corte de sangria, em intervalos de 15 dias no período de junho-novembro e 30 dias no período de dezembro-maio, com o Captan (Captan) na dosagem de 30 g / L de água ou o Venturol (Dodine) na dosagem de 10 g / L de água. Para o controle curativo, recomenda-se aplicar o Ridomil Gold MZ (Metalaxyl + Mancozeb) na dosagem de 20 g / L de água, ou Forum (Dimetomorfe) na dosagem de 10 g / L de água, 3 vezes em intervalos de quatro dias. 3.2. Cancro-do-tronco Essa doença, também causada por Phytophthora sp, ocorre com freqüência nos seringais das regiões úmidas do Brasil. Os sintomas se 408 caracterizam pelo intumescimento e trincamento da casca, no tronco, com exudação de látex. Para o controle químico, recomenda-se efetuar a retirada da casca na área afetada até o descobrimento por completo da lesão, e aplicar o Ridomil Gold MZ (Metalaxyl + Mancozeb) na dosagem de 20 g / L de água, 3 vezes em intervalos de quatro dias. 3.3. Antracnose do painel Trata-se de uma doença do painel de sangria da seringueira, causada pelo fungo Colletotrichum gloeosporioides, presente, principalmente, nos seringais dos Estados de São Paulo e Mato Grosso. Os sintomas se assemelham aos do cancro estriado. O controle deve ser feito de forma preventiva através de aplicações quinzenais, via pincelamento, até 2 cm abaixo e acima do corte de sangria, de fungicidas a base de Chlorothalonil (Daconil, Bravonil, etc.), ou Chlorothalonil + Tiofanato metílico (Cerconil), na dose de 10 g / L de água. 3.4. Cancro da haste Essa doença, causada por Phytophthora sp, pode ocorrer em viveiros e jardins clonais em períodos de chuvas prolongadas, com danos importantes. Os sintomas se apresentam, principalmente, próximo ao ápice da planta em forma de lesões marrom-escuras, deprimidas na casca, com exsudação de látex, e pode evoluir rapidamente para todo o caule. O controle da doença pode ser efetuado de forma preventiva nos períodos chuvosos, ou imediatamente após o aparecimento dos primeiros sintomas, com aplicações semanais de Ridomil Gold MZ (Metalaxyl + Mancozeb) ou Forum (Dimetomorfe), na dosagem de 300 g / 100 L de água. 3.5. Secamento do painel ou brown bast Essa é uma doença fisiológica de causa desconhecida, que ocorre em todas as regiões heveícolas do mundo, sobretudo quando o clone é mais suscetível e os métodos de exploração são intensivos. Os sintomas se caracterizam pela ausência da exsudação de látex no corte de sangria e, mais tarde, em todo o painel podendo haver necrose da casca. Nos casos mais severos, ocorrem rachaduras e descamações na área abaixo do corte. 409 Não há um método eficaz de controle curativo para essa doença. A prática utilizada normalmente é a paralisação da sangria por um período de, aproximadamente, um ano. No final desse período, algumas árvores voltam a produzir, podendo mais tarde vir a secar definitivamente. Métodos de explotação mais ajustados ao clone, às condições ambientais, bem como práticas de manejo mais eficazes reduzem a ocorrência desse distúrbio. 4. OUTRAS DOENÇAS O seringal pode também ser atacado por vírus, bactérias e nematóides. A intensidade dos danos depende das condições climáticas e culturais. 410 AGRONEGÓCIO DENDÊ - UMA POTENCIALIDADE PARA O BAIXO SUL Jonas de Souza As primeiras referências relatam que o dendezeiro chegou à América pela costa atlântica, no recôncavo baiano, região nordeste do Brasil, trazido pelos escravos africanos para utilização na alimentação durante o percurso das viagens marítimas, razão pela qual verifica-se, a partir dos pontos de desembarque no litoral da Bahia, a existência de grandes populações subespontâneas desta palmeira. Até o início da década de sessenta, a exploração comercial do dendê no Brasil se limitava, apenas, à exploração extrativista dos centenários dendezais subespontâneos existentes na Bahia, cuja produtividade era extremamente baixa, mas a oferta de matéria-prima supria a demanda restrita do mercado que era predominantemente local, cuja importância estava centrada na produção e comercialização para fins alimentares, principalmente como ingrediente na elaboração de vários pratos típicos da culinária local, prosseguindo com o uso do óleo e seus derivados na indústria siderúrgica e em vários outros segmentos da cadeia produtiva, além do emprego como matéria-prima na fabricação de mais de uma centena de produtos: gordura hidrogenada, gordura para panificação, sabões, detergentes, cosméticos e na oleoquímica. O Estado da Bahia é o segundo maior produtor de dendê do Brasil, respondendo por 22.500 t de óleo, das quais 12.000 toneladas são provenientes da extração artesanal do óleo de cachos produzidos em 30.000 ha de dendezeiros subespontâneos, nos municípios de Valença, Taperoá, Nilo Peçanha, Ituberá, Igrapiúna, Camamu. Jonas de Souza, Chefe do CEPEC/CEPLAC, <e.mail [email protected]> 411 Situação das áreas produtoras de dendê subespontâneos na MRH Tabuleiros de Valença. Área (ha) Município Total Nº de produtores Produção (t) Produtividade (t/ha) de cacho Assistida Total Assistidos Total Da área Média Média das assistida global áreas assistidas Valença 8.256 4.357 Taperoá 3.045 1.225 Nilo Peçanha 1.010 450 Ituberá 1.969 1.699 Camamú 5.647 2.280 Total 19.927 10.011 1.448 328 400 91 526 2.793 212 65 33 57 119 486 19.837 7.200 2.700 10.685 11.509 51.931 13.100 3.825 2.560 10.058 5.857 35.400 2,40 2,36 2,67 5,40 2,04 2,61 3,01 3,12 5,69 5,92 2,57 3,54 Fonte: Cenex O pólo agrícola Valença-Camamu (Costa do Dendê), tem perfil socioeconômico caracterizado pela predominância da pequena propriedade, com área média de 27 ha. Entretanto, quando se analisa a estratificação observa-se que propriedades de 0-10 ha representam 55% da área cultivada. Se se amplia o tamanho do módulo para a faixa de 0-50 ha, 86% da área cultivada esta constituída de propriedades desse tipo. Quando se analisa o aspecto ocupação da área por cultivos permanentes ou temporários, se observa que 24,85% é ocupada por cultivos permanentes (cacau, cravo, dendê, seringueira etc.), que se fosse exclusivamente dendê, teríamos no primeiro nível de estratificação 2,4 ha de área cultivada, que com base na produtividade média regional de 3 t de cachos/ ha nos dendezais subespontâneos, representaria uma produção de 7,2 t de cachos/ano, que comercializados ao preço de R$ 160,00/t, resultaria na renda de R$ 1.152,00/ano ou R$ 96,00/mês. Com o uso da tecnologia proposta é possível obter-se uma produtividade média de 20t de cachos/ ha na fase de máxima produtividade, representado 48t de cachos nos 2,4 ha que comercializadas ao mesmo preço proporcionaria uma renda bruta de R$ 7.680,00, deduzindo-se os custos dos insumos, orçados em R$ 1.140,00, resultaria numa renda líquida de R$ 6.540,00, representando um rendimento mensal de R$ 545,00 proporcionando um aumento de rendimento mensal superior a cinco vezes. Os cultivos temporários representam apenas 3,60%, demonstrando a vocação natural deste pólo para o 412 cultivo de lavouras permanentes. Vale ressaltar que de uma área de 43.964 ha apenas 28,45% está ocupada com cultivos havendo, portanto, disponibilidade de área para novos programas, sobretudo aqueles voltados para pequenos produtores. O aumento da produção nacional de óleo de dendê, atualmente ocupando a terceira posição entre os óleos vegetais com uma produção de 125.000 t, pode ser alcançada com a implantação de dendezais de cultivo em substituição aos dendezais subespontâneos, através do sistema de renovação gradual das áreas existentes, utilizando-se sistemas agroflorestais, como forma de garantir o aumento da produtividade, melhoria da qualidade, geração de emprego e renda pela modernização do processo produtivo, com reflexo no padrão de vida do agricultor familiar, permitindo ainda uma maior participação do óleo de dendê na matriz energética nacional. Para isso, nova visão deverá ser implantada em relação à produção de óleo para fins alimentares ou energéticos, com o aproveitamento integral dos seus subprodutos, envolvendo a participação direta da CEPLAC, com orientação e assistência técnicas e recomendação de material botânico de plantio, estabelecendo-se modelos de produção agro-industrial de dendê em áreas que concentrem tanto a agricultura familiar, notadamente em assentamentos agrários localizados em áreas zoneadas para o dendê, como em áreas tradicionais de exploração do cultivo, assegurando-se, via produção e transformação do óleo, auto-suficiência alimentar e energética dessas comunidades. Na atualidade, o agronegócio dendê se constitui na maior cultura perene do mundo, ocupando sete milhões de hectares de área cultivada e com maior rendimento, chegando a produzir mais de 4,5 t de óleo por hectare. Em 2001, a produção mundial atingiu 23.575.000 t de óleo de palma e 2.898.000 t de óleo de palmiste, representando 30% do consumo mundial de óleos vegetais (Corley 2003). Portanto, maior que o consumo mundial de óleo de soja, que representou no mesmo ano, 29% do consumo de óleos vegetais, constituindo-se num agronegócio de aproximadamente 7,6 bilhões de dólares no ano de 2001. O agronegócio brasileiro de dendê está representado por uma área plantada de apenas 45.000 ha, correspondendo tão somente a 0,06% da área disponível estimada em 74.870.000 ha na região amazônica (EMBRAPA, 1995) e em 832.000 ha dentro da faixa climática de aptidão plena no sudeste da Bahia (Almeida et al. 1984). 413 C O N S UM O M UN D IA L D E ÓLE O S V E G E T A IS E M 2 0 0 0 P a l mi s t e C o cOol i v a 3% 3% A l g o d ão4 % So j a % A m e n d o4i m 29% 5% Gi r assol 10% C ol z a D endê 15% 27% FON T E : U SD A Produção m undial de óleos vegetais em 2004 P al mi s t e 3% Soj a Dendê 27% 25% A l godão M i l ho 4% m A mendoi 2% Gi r as s ol 11% Coc o M amona 4% 1% 414 Col z a 14% A r r oz 5% Ol i v a 1% 3% Os dendezais subespontâneos estão distribuídos entre os paralelos 13 e 14o S onde Almeida et al. (1984) realizaram um zoneamento climático para o dendê (Figura 1), definindo-se como zona de aptidão plena aquela com precipitação pluvial acima de 1.800 mm, sem déficit hídrico, temperatura mínima absoluta superior a 15oC e temperatura média acima de 23oC, insolação maior que 6 h/dia, totalizando uma área de aptidão plena de 832.000 ha, com classificação climática Af de Koppen, ou seja, com clima de florestas tropicais, quente e úmido, sem estação seca durante o ano, podendo ser acrescida de 1.515.000 ha, classificados como área de aptidão moderada. O zoneamento edáfico do dendê no Sudeste da Bahia definiu uma área que foi estimada em 2.606.800 ha com condições para implantação desta cultura, sendo 17,5% equivalente a solos bons, escolhida com base na profundidade efetiva superior a 90 cm, textura franca a argilosa, permeabilidade moderada, úmido, relevo plano a suave ondulado, declividade de 0 a 8%, baixa concentração de ferro, alumínio e manganês (Leão, 1990). Assim, as interações resultantes do zoneamento edafo-climático indicaram a existência das classes I e II, respectivamente, com 198.035 ha – excelente e 747.000 ha – boa, totalizando 945.035 ha de áreas recomendáveis para a implantação de dendezais na faixa litorânea do sudeste baiano (Menezes et al., 1991). Desta forma, o litoral sul da Bahia que possui uma diversidade edafoclimático excepcional para o cultivo do dendezeiro, com disponibilidade de áreas litorâneas que se estendem desde o Recôncavo Baiano até os Tabuleiros Costeiros do Sul da Bahia, poderá atender uma demanda insatisfeita da ordem de 200 mil toneladas de óleo de dendê, frente às importações que se situam entre 100 e 150 mil toneladas, além dos aspectos ambiental-ecológico, possibilitando a recomposição do espaço florestal em processo adiantado de degradação, por “florestas de cultivo”; econômico-social, proporcionando aumento da renda regional e criação de novos empregos, e finalmente estratégico, buscando através da agricultura integrada a caminho do desenvolvimento harmônico dos recursos da terra com os valores humanos. 415 Figura 1 416 BAIXA PRODUTIVIDADE EM ÁREAS COM CACAUEIROS CLONADOS - CAUSAS- ALGUMAS RECOMENDAÇÕES PARA SOLUCIONAR O PROBLEMA Antonio Eduardo de Souza Magno Milton José da Conceição 1. USO DE MATERIAIS BOTÂNICOS AUTOINCOMPATÍVEIS PRIMEIRA GERAÇÃO 2. MANEJO INADEQUADO No inicio do programa de Recuperação da Lavoura Cacaueira a CEPLAC só dispunha de clones com resistência comprovada à Vassoura-de-bruxa autoincompatíveis, porém intercompativeis, que foram distribuídos aos produtores. Para que essas plantas pudessem expressar todo o seu potencial de produção, foi necessário estabelece-las em campo, obedecendo a um modelo de disposição para que a intercompatibilidade ou o cruzamento entre Engenheiro Agrônomo – CEPLAC/CENEX/SERAT Fone: (073) 3214-3326 E-mail: [email protected] e [email protected] 417 plantas funcionasse de forma satisfatória. Por outro lado, muitos produtores no afã de garantirem a viabilidade do sistema radicular dos cacaueiros acometidos pela enfermidade vassoura-de-bruxa, utilizaram seleções de plantas de sua propia fazenda, bem como de outras, que apesar de apresentarem resistência à doença, detinham também o caráter da autoincompatibilidade. A maioria das áreas comerciais formadas com os clones da primeira geração ou autoincompatíveis estão apresentando além de uma produtividade abaixo dos índices previstos, a produção está concentrada no período da safra (setembro a dezembro). Em virtude do exposto, muitas fazendas estão com áreas clonadas significativas, apresentando resultados insatisfatórios, que não atendem às expectativas esperadas, devidas principalmente: a) Materiais botânicos selecionados; b) Disposição inadequada na sua instalação; c) Falta no ajuste do sombreamento; d) Manejo incorreto dispensado às plantas. Para o equacionamento dos problemas expostos, estamos propondo alguns procedimentos, que já estão sendo utilizadas por alguns produtores com o acompanhamento técnico, respaldado nas recentes recomendações da pesquisa da CEPLAC. ASPECTOS TÉCNICOS Clones autocompatíveis No processo de aperfeiçoamento da clonagem do cacaueiro, a introdução dos materiais botânicos autocompatíveis irá solucionar os problemas da incompatibilidade sexual, quando distribuídos de forma criteriosa com os materiais botânicos autoincompatíveis. 418 MODELOS DE PADRÕES CLONAIS RECOMENDADOS MODELO I 50% DE AUTOCOMPATÍVEIS E 50% DE INTERCOMPATÍVEIS EM FILAS ALTERNADAS AUTOCOMPATÍVEIS INTERCOMPATÍVEIS X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X AUTOCOMPATÍVEIS INTERCOMPATÍVEIS X AUTOCOMPATÍVEIS INTERCOMPATÍVEIS X AUTOCOMPATÍVEIS INTERCOMPATÍVEIS X AUTOCOMPATÍVEIS INTERCOMPATÍVEIS X =AUTOCOMPATÍVEIS X = INTERCOMPATÍVEIS 419 MODELO II 75% DE AUTOCOMPATÍVEIS E 25% DE INTERCOMPATÍVEIS EM FILAS ALTERNADAS AUTOCOMPATÍVEIS AUTO E INTERCOMPATÍVEIS X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X AUTOCOMPATÍVEIS AUTO E INTERCOMPATÍVEIS AUTOCOMPATÍVEIS AUTO E INTERCOMPATÍVEIS AUTOCOMPATÍVEIS AUTO E INTERCOMPATÍVEIS AUTOCOMPATÍVEIS AUTO E INTERCOMPATÍVEIS = AUTOCOMPATÍVEIS X = INTERCOMPATÍVEIS 420 Sombreamento - O ajuste do sombreamento definitivo e provisório com a retirada de árvores auto-sombreadas e o plantio em áreas abertas de essências florestais que atendam aos aspectos agronômicos, ecológicos e econômicos proporcionam um ambiente com luminosidade adequada, que protege os cacaueiros e estabiliza as condições microambientais do cultivo, traduzindo numa maior possibilidade das plantas clonadas expressarem seu potencial de produção. Remoção de vassouras - A remoção das vassouras vegetativas nas áreas clonadas é uma prática por demais necessária e deve obedecer ao calendário agrícola (Jan/Fev; Abr/Mai; Jul/Ago e Out/Nov), que a depender das variações climáticas, poderá ser alterado. Controle de ervas daninhas - O controle eficiente das ervas daninhas deve ser realizado pelo menos duas vezes por ano, com o uso de herbicidas, verificando-se previamente o teste de vazão e conseqüentemente a dosagem recomendada. Poda – A poda deve ser realizada de dentro para fora das plantas, eliminando-se os ramos que se cruzam, porém sem deixar espaços que possam dar entrada de luz sobre o caule da planta e o terreno. Com isso, evita-se uma necrose do caule, pela incidência direta da luz solar e uma maior infestação de ervas daninhas na área. Quando a poda é realizada de forma excessiva, leva a eliminação de ramos produtivos o que causa um aumento e freqüência de lançamentos foliares, reduzindo conseqüentemente a produção de frutos. Porém quando a poda deixa de ser realizada, ocorre um excesso de folhas e surgimento de palmas d¢água ou chupadeiras, que proporcionam competição na planta e entre plantas deixando-as com altura acima do desejado, bem como fora do espaço delimitado. A atividade fotossintética é reduzida nas folhas do interior das copas, que por receberem pouca luz, começam a atuar como drenos e não como fonte de acúmulo de reservas necessárias para a produção de frutos. Novos métodos e materiais para enxertia – A cada dia estão ocorrendo uma evolução no aperfeiçoamento dos métodos de enxertia e na utilização de materiais, que estão aumentando o rendimento da mão de obra, do índice de pegamento/brotação e da redução dos custos. A exemplo do saco usado para o sorvete “geladinho” como câmara úmida, e 421 no amarrio das enxertias feitas principalmente em mudas, através do método da garfagem de topo e lateral. Decepa/Recepa - No processo de enxertia comercial deverá ser dado um manejo de podas na planta velha que proporcione uma entrada de luz adequada e necessária para o desenvolvimento do enxerto, desse modo haverá uma convivência das duas plantas (o conjunto) por um determinado período. Somente deve-se retirar/recepar a planta velha quando a produção do enxerto for igual ou superior ao conjunto quando da instalação do enxerto. Enxertia de copa – Recomendada para áreas onde os clones foram selecionados para produtividade, que estão com um índice relativamente alto de vassouras nas copas e que a autoincompatibilidade entre os clones, tem proporcionado uma baixa produção. Nesse caso recomendam-se enxertias com clones autocompatíveis e de baixo vigor, com o intuito de solucionar o cruzamento entre plantas. Enxertia para substituir clones indesejáveis – Recomendada para áreas que apresentam baixa produtividade devido à seleção inadequada do clone (plantas de altíssimo vigor, que apresentam vassouras de almofada floral, frutos de baixo rendimento e autoincompatíveis). Neste caso é recomendável utilizar a enxertia em broto basal, sendo que a substituição deverá ser paulatina e gradual até que a produção do novo clone supere a do clone indesejável. 422 VASSOURA-DE-BRUXA, EVOLUÇÃO DO FUNGO E NECESSIDADE DE REMOÇÃO DAS PARTES AFETADAS EM CLONES RESISTENTES Karina Perez Gramacho José Luis Pires Uilson Vanderlei Lopes José Luiz Bezerra A introdução da vassoura-de-bruxa no Sul da Bahia, principal área produtora do país, em 1989, conduziu, em associação com baixos preços internacionais do produto, câmbio desfavorável da moeda para o setor exportador e um período com clima desfavorável à cultura, ao desenvolvimento de um processo que levou a uma ampla redução da produção nacional de cacau. Afortunadamente, a estrutura de pesquisa já estabelecida e os conhecimentos sobre a resistência do clone Scavina 6 permitiram, em pouco tempo, o lançamento de variedades resistentes à vassoura mas todas elas com os principais fatores de resistência procedentes deste clone. Assim, a questão central para o melhoramento do cacaueiro na região passa a ser a necessidade de inclusão, nas áreas de cultivo, de fatores de resistência distintos dos até então utilizados e a associação de genes de resistência para ampliar sua durabilidade, dificultando a evolução do patógeno em respeito ao incremento de sua eficiência na produção de danos. Foram, então, identificadas novas fontes de resistência, analisadas as que poderiam oferecer genes diferentes, e conduzidos os processos necessários para a produção das novas gerações de variedades comerciais, com maior nível e durabilidade de resistência. CEPEC/CEPLAC/Segen/Sefit 423 O fungo, por sua vez, também, vem passando por processos evolutivos de adaptação, o que torna vital a necessidade de se controlar, com especial zelo, a produção de esporos a partir de infecções em materiais resistentes para cercear o ciclo evolutivo do fungo e dificultar o aumento da freqüência de tipos mais agressivos. Esta adaptação pode ser ilustrada pelo estudo das distâncias (diferenças) genéticas entre amostras do fungo causador da doença vassoura-de-bruxa. Em uma analogia com animais poderíamos dizer que foram conduzidas as etapas: verificação e medição de diversas características do animal – altura, peso, cor da pelagem, dos olhos, etc., só que no caso especifico, as medições foram feitas ao nível de DNA, verificando-se a existência ou não de segmentos específicos desta molécula; dimensionamento das diferenças entre cada par de amostras em todas as combinações possíveis (determinação numérica do quão parecido ou diferente eram os pares); e finalmente, a partir da matriz de diferenças, por procedimentos matemáticos apropriados, elaboração de uma figura que gerasse o mínimo possível de distorção em relação a esta matriz original. Assim, buscando analisar a possibilidade de ocorrência de diferenciação genética entre isolados de Crinipellis perniciosa que se desenvolvem sobre genótipos susceptíveis e resistentes, foram amostradas vassouras vegetativas e de almofadas florais em 7 acessos de cacaueiros selecionados de acordo com sua resposta à doença, origem, distâncias genéticas e marcas típicas da principal fonte de resistência à vassourade-bruxa, o Scavina. Foram, então, contemplados materiais com possibilidades de possuírem diferentes genes de resistência: CCN 10, MOQ 216, Playa Alta 4, TSH 565 , TSH 1188, e materiais suscetíveis (SIC 2 e EEG 8), todos provenientes do banco de germoplasma do Centro de Pesquisa do Cacau (CEPEC). Destes, 40 isolados de C. perniciosa foram obtidos a partir de vassouras vegetativas e de almofada florais, no mesmo período e local. O clone Playa Alta 4 é um material do tipo Criollo; o MOQ 216 parece proceder da variedade nacional do Equador; os TSHs descendem de Scavina e o CCN 10 tem a origem de sua resistência não adequadamente definida, podendo derivar de um material denominado Canelos, não preservado e, provavelmente, coletado no oriente do Equador, enquanto os dois materiais susceptíveis são representantes das variedades tradicionais da Bahia e Espírito Santo. 424 Foram verificados 54 segmentos específicos de DNA que ocorreram em algumas amostras e não ocorreram em outras para os 40 isolados testados, o que permitiu uma clara diferenciação entre aqueles procedentes dos representantes das variedades tradicionais e os procedentes de genótipos resistentes. Assim, observa-se uma clara tendência de agrupamento dos isolados originários dos clones suscetíveis e, considerando que a amostragem de vassouras em materiais susceptíveis, representantes das variedades locais, deve capturar os tipos mais freqüentes do patógeno, temos que estes tipos mais freqüentes mostramse ineficientes na infecção dos genótipos resistentes, visto que os isolados destes tendem a ser distintos. Analogamente, se a amostragem nos clones resistentes abarca, tão somente, elementos distintos dos tipos mais freqüentes do patógeno, há indicação de que, para uma maior eficiência de infecção nestes materiais, o patógeno necessita de alterações genéticas; e estas alterações estão sendo produzidas. Não há, ainda, indicativos claros de especialização e os conjuntos de isolados provenientes de cada genótipo não formam agrupamentos definidos. Ao contrario, mostram maior variação, como se estivessem capturando variabilidade do patógeno (também não houve agrupamento para o tipo de vassoura: vegetativa ou de almofada floral). No entanto, os isolados de CCN parecem ocupar uma faixa de dispersão diferente da preenchida pelos TSHs. Ainda, as seguintes ocorrências foram verificadas: o segmento de DNA 17-8 esteve presente em 10 dos 11 isolados de TSH e em apenas um dos 11 de SIC e EEG, o segmento C5-1, presente em todos os isolados de SIC e EEG, em todos os de MOQ e em oito dos 11 de TSH, só aparece em um dos seis isolados de Playa Alta e um dos quatro de CCN; a marca H12-4 ocorre em todos os isolados de SIC e EEG, de TSH, de MOQ e em cinco dos seis isolados de Playa Alta, mas em apenas um dos isolados de CCN, o que pode indicar que segmentos específicos são importantes para fontes específicas de resistência. Como conclusão temos, então, que é previsível que nas áreas cultivadas com os materiais resistentes de um dado tipo, exemplo descendentes de Scavina venha a ocorrer pressão de seleção para os tipos diferenciados do fungo, de maior eficiência na infecção destes materiais, que teriam sua freqüência aumentada e, conseqüentemente, produziriam danos cada vez maiores, caso estes tipos mais bem sucedidos não sejam impedidos de produzir descendentes. Daí a citada extrema necessidade de se efetuar um controle minucioso de vassouras nas áreas cultivadas com os materiais 425 resistentes, evitando que estas venham a esporular. Recomenda-se, então, o controle biológico através do fungo Trichoderma stromaticum (TRICOVAB), que impede a esporulação do C. perniciosa e sua sobrevivência nos restos culturais infectados, eliminação das vassouras secas e frutos infectados e, em casos excepcionais, com maiores níveis de infecção, a aplicação de fungicida sistêmico/erradicante (Folicur). 426