98 DEFICIÊNCIA AUDITIVA NA ESCOLA: entre a realidade e o preconizado por estudiosos da educação Vera Lúcia Macedo de Oliveira Teixeira Lívia de Oliveira Teixeira Dias Carvalho RESUMO Este artigo tem por objetivo analisar a eficácia da prática pedagógica do educador, de uma Escola Municipal de Aragarças- GO, ao ensinar uma criança surda. Busca-se perceber como se dá a aprendizagem deste aluno e como é sua interação com os colegas e com a professora. Para tanto, foram consultados teóricos que discutem a temática. Concomitantemente a estas teorias foi realizada uma pesquisa de campo, na qual utilizou-se a análise documental, a observação e as entrevistas, com a professora regente, a Diretora da Instituição e a aluna surda. A partir da realização da pesquisa, foi possível constatar lacunas e fragilidades no que se refere ao atendimento de crianças com surdez. PALAVRAS- CHAVE: Surdez. Educação. Práticas Pedagógicas. SUMMARY This article aims to analyze the effectiveness of teaching practice of educators in a Municipal School of Aragarças-GO, while teaching a deaf child. We seek to understand how learning takes place this student and how their interaction with peers and the teacher. To do so, they were asked to discuss the theoretical issues. Concurrent with these theories was conducted field research in which we used document analysis, observation and interviews with the classroom teacher, the Director of the Institution and the deaf student. From the research it was possible to see gaps and weaknesses in relation to the care of children with deafness Keywords: Deafness. Education. Pedagogical Practices. 1.0- INTRODUÇÃO Discutir a surdez em escolas regulares envolve uma série de fatores acerca da formação do professor e das práticas pedagógicas aplicadas. Sendo assim, a inclusão de crianças surdas no ambiente escolar é um desafio, tendo em vista que não é suficiente apenas inserir esta criança em sala de aula, sem que haja adequações nas práticas pedagógicas do educador para atender este aluno. Uma pessoa surda possui direito a ter acesso ao conhecimento, de modo a viabilizar seu desenvolvimento como sujeito crítico capaz de refletir sobre a realidade em que está inserido, pois, dessa maneira, o surdo poderá construir sua identidade e lutar por seus direitos. Inúmeras polêmicas têm se formado em torno da educação escolar para pessoas com surdez. A proposta de educação escolar inclusiva é um desafio, que para ser efetivada faz-se necessário considerar que os alunos com surdez têm direito de acesso ao conhecimento, à acessibilidade, bem como ao Atendimento Educacional Especializado. (DAMÁZIO, 2007 p. 15) Assim sendo, a proposta deste artigo é analisar a eficácia da prática pedagógica do educador de uma escola Municipal de Aragarças-GO, ao ensinar crianças com surdez. Para tanto, utilizou-se a pesquisa qualitativa, uma vez que, esta “tem o ambiente natural como sua fonte de dados e o pesquisador como seu On-line http://revista.univar.edu.br/ ISSN 1984-431X principal instrumento” ( LUDKE e ANDRE, 1986, p. 11). O trabalho foi fundamentado em fontes bibliográficas de autores que preconizam uma educação de qualidade para surdos. Para tanto, foi realizada uma pesquisa de campo, na qual se privilegiou a entrevista semi- estruturada, instrumento este que permitiu um contato direto com a Professora e a Diretora da escola, de modo a perceber o entendimento e as concepções acerca do trabalho pedagógico com uma Deficiente Auditiva – D.A. A análise documental viabilizou a aquisição de uma visão geral de como ocorre a inclusão da criança surda na escola e na sala de aula, e, por fim, a observação, a qual propiciou a interpretação da realidade da sala de aula, no contexto da prática pedagógica real, enriquecendo a pesquisa e respondendo aos questionamentos iniciais. Todos esses procedimentos foram decisivos no decorrer do trabalho, tendo em vista os objetivos específicos da pesquisa que eram verificar o conhecimento pedagógico do educador ao lidar com D.A.; avaliar como as metodologias e os recursos de ensino utilizados pelo professor contribuem para o desenvolvimento do aluno surdo; identificar se o professor domina a linguagem de sinais; observar como o docente trabalha com a interação e socialização do Deficiente Auditivo; perceber como o educador estimula o D.A. nos aspectos social, político e cultural; verificar se o professor conta com o auxílio de monitores especializados em sala de aula. Tais procedimentos, ainda, contribuíram para a obtenção da resposta ao problema inicial: em Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2011) nº. 6 p. 98 - 99 que medida o despreparo pedagógico do professor pode prejudicar a criança portadora de Deficiência Auditiva, no que se refere a sua inclusão na escola regular? Diante da necessidade da inclusão de crianças surdas em escola regulares, este artigo viabilizou uma reflexão acerca da realidade escolar de crianças com Deficiência Auditiva, já que ainda é um desafio aos professores superar as dificuldades que envolvem o ensino de crianças com surdez. 2.0- CONTRUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A SURDEZ: UMA BREVE DISCUSSÃO Desde a antiguidade, a surdez teve concepções negativas, sendo até mesmo explicada como se fosse castigo dos Deuses. Aristóteles (384-322 a.C.) defendia que a consciência estava ligada aos sentidos, dessa forma, os surdos, por não terem capacidade de ouvir e falar, eram vistos como seres incapazes de aprender. Tal interpretação permaneceu por séculos de modo inquestionável. Já os romanos tiravam dos deficientes auditivos (D.A.) os direitos legais, impedindo-os de fazer testamentos, receber herança e realizar negócios financeiros. A Igreja Católica, por sua vez, também retirava dessas pessoas os direitos religiosos, afirmando que, por elas serem incapazes de dizer os sacramentos, não poderiam participar da religião. A primeira proposta de instruir os surdos por meio dos sinais e da oralidade foi de Bartolo Della Marca D’Ancora1. A partir de então, vários avanços ocorreram na perspectiva de ensinar os surdos. Na Inglaterra, por volta de 1960, dois homens se interessaram pelas teorias da linguagem e da fala: os reverendos, William Holder e John Wallis. Ambos se aprofundaram na escrita e na fala de pessoas surdas, assim, Wallis tornou-se o pai do método escrito na educação de surdos. Apenas na segunda metade do século XVII, o escocês George Dalgarno constatou que os surdos tinham potencial para aprender e podiam alcançar os mesmos níveis que os ouvintes. Ele ainda descreveu o sistema primitivo do alfabeto manual, denominado datilogia. Após estas decorrências históricas, a educação de surdos foi mais defendida, o que também causou controvérsias, pois alguns estudiosos iam contra a linguagem com gestos. Vários educadores passaram, então, a criar metodologias para o ensino de surdos, sendo que, apenas em 1760, Charles Michel de L’ Epeé fundou em Paris a primeira escola para surdos, o Instituto Nacional para Surdos-Mudos de Paris. A partir de 1821, a escola para surdos se difundiu na América, que, por sua vez, passou a utilizar a American Sign Language (ASL)- Língua de Sinais 1 Foi advogado e escritor do século XIV, o qual fez a primeira alusão à possibilidade para que o surdo pudesse aprender por meio da Língua de Sinais ou Língua Oral. On-line http://revista.univar.edu.br/ ISSN 1984-431X Americana. Tal fato elevou o nível de escolaridade das pessoas surdas que passaram a ter mais espaço na sociedade. Com a morte de Laurent Clerc2, defensor dos surdos, muitos estudiosos passaram a ver a linguagem de sinais como algo prejudicial à aprendizagem, dando força a oralidade e, como consequência, desfazendo o avanço de um século. Um dos precursores do oralismo foi Alexander Graham Bell, inventor do telefone, que objetivava acabar com a linguagem de sinais, acabar com os casamentos entre surdos e ensinar a linguagem oral a eles. Em 1880, no Congresso Internacional de Milão, em Decorrência de uma votação, a linguagem de sinais ficou definitivamente proibida, excluindo também, os professores surdos das escolas. A educação de surdos, sempre nas mãos dos ouvintes, manteve quase que invariavelmente um sentido de ‘reabilitação’, de oferecer aos educandos a possibilidade de superar sua limitação auditiva, para agir como ouvintes e com ouvintes, e, dessa forma ‘integrar-se’ como ouvintes, na sociedade dos ouvintes. (SANCHES, apud GUARINELLO, 2007, p.29) O oralismo predominou por muito tempo, até que em 1970 devido à insatisfação com os resultados do método oral, foi deflagrado um movimentos ainda com minorias, nos quais buscavam mudanças no trabalho educacional com os surdos. Dessa forma, surge um novo modelo de ensino denominado Comunicação Total, “a qual propõe o uso de gestos naturais, da língua de sinais, do alfabeto digital, da expressão facial, da fala e dos aparelhos de amplificação sonoras para transmitir linguagem, vocabulário, conceitos e ideias” (GUARINELLO, 2007, p.31). Com esse método objetivava-se a utilização de todas as formas de comunicação, pensando no favorecimento da interação com a criança surda, o que também, não teve resultados satisfatórios. Ao final desta década, surgiu outra proposta denominada bilinguismo, a qual defendia o direito de aprender as duas línguas: a linguagem de sinais como principal e a língua majoritária como segunda língua. Esse não foi o fim da luta por melhorias na educação de surdos, pois esta ainda é um desafio para educadores e escolas. No Brasil, apenas em 1980, com 2 Foi um destacado professor e pedagogo francês. Quando tinha um ano de idade sofreu queimaduras que ocasionaram sua perda da audição e lhe deformaram a metade direita da cara. Aos doze anos ingressou à Escola Nacional de Surdos criada em Paris pelo Abad Michel de l´Epée. Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2011) nº. 6 p. 98 - 100 base nas pesquisas de Lucinda Ferreira Brito3, foram iniciados estudos que desencadearam a linguagem em Libras- Linguagem Brasileira de Sinais. Atualmente no Brasil, o oralismo, a comunicação total e o bilinguismo são utilizados tanto na educação, quanto por fonoaudiólogos que acompanham pessoas surdas. Verifica-se, assim, que o olhar voltado ao desenvolvimento dos surdos passou por inúmeras mudanças, todavia, ainda hoje existem dificuldades no atendimento a essas pessoas. 2.1 - SURDEZ NOS DIAS HODIERNOS Após tanto tempo de preconceitos e exclusão social sofridos pelo surdo é possível afirmar que eles vêm ganhando espaço e garantindo seus direitos. Entretanto, seria incorreto dizer que os deficientes auditivos não sofrem mais nenhum tipo de discriminação. Percebe-se que, atualmente, há estudos sobre os diversos aspectos referentes à surdez que conduzem à reflexões acerca da cidadania, dos direitos, da saúde, de trabalho e da educação para o surdo. O mundo atual é predominantemente ouvintista, que “trata-se de representação dos ouvintes, a partir do qual o surdo está obrigado a olhar-se e a narrar-se como se fossem ouvintes”, (SKLIAR, 2005, p.15). Dessa forma, as pessoas ainda não conseguem enxergar a surdez como uma simples diferença. Esta formação de grupos ocorre por consequência da afinidade na comunicação, ou seja, os surdos preferem conviver com os seus semelhantes, pois, a sociedade, de modo geral, ainda atribui estereótipos que impedem as pessoas com surdez de se construírem como pessoas inteiras. De acordo com Perlin apud Skliar, O estereótipo sobre o surdo jamais acolhe o ser surdo, pois imobiliza-o a uma representação contraditória, a uma representação que não conduz a uma política da identidade. O estereótipo faz com que as pessoas se oponham, às vezes disfarçadamente, e evitam construção da identidade surda cuja representação é o estereótipo de sua composição distorcida e inadequada. O indivíduo surdo faz parte dos movimentos marginalizados [...] ( PERLIN apud SKLIAR, 2005, p. 55) Como se pode observar a preferência dos surdos em conviver com outros surdos, traz a ele segurança, pois, nestas comunidades é possível trocar experiências, discutir problemas e conquistas sem serem estereotipados e estigmatizados por sua surdez. Entretanto, não é somente para falar dos problemas que as comunidades existem, pois esses grupos discutem seus direitos, deveres, cultura, educação, trabalho e, ainda, fazem movimentos que lutam contra a ideologia Doutora em lingüística, Departamento de Lingüística e Filologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 3 On-line http://revista.univar.edu.br/ ISSN 1984-431X ouvinte. Existem também eventos que acontecem uma vez por ano, aberto a surdos e ouvintes, onde os D.A. manifestam sua arte e cultura. 2.2 - A EDUCAÇÃO DE SURDOS Partindo do pressuposto de que a educação é fundamental para elevação social, política e cultural de um indivíduo, é fundamental discutir como se dá a educação dos surdos, de modo a perceber as dificuldades e desafios enfrentados por eles. No dia 22 de dezembro de 2005, o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, por meio do decreto nº 5626, torna obrigatório a inclusão de Libras como disciplina nos currículos dos cursos de graduação para professores e ainda nos cursos de fonoaudiologia, em instituições públicas e privadas. No entanto, apesar de haver este decreto, percebe-se que tal lei não acontece na realidade das escolas regulares, como propõe Arantes, Tal decreto, por si só, solicita-nos profundas reflexões sobre conceitos que permeiam o ato educativo e as práticas escolares para surdos. Antes, porém, faz-se necessário adentrar uma discussão que, longe de estar superada, perece promover, cada vez mais, polemicas e divergências no campo da educação de surdos: a polarização e/ou tensão entre o domínio da língua oral e da língua de sinais. ( ARANTES, 2007, p.10) A partir dessa visão convém repensar a educação de surdos, pois, apenas decretar a obrigatoriedade de ensinar LIBRAS- Linguagem Brasileira de Sinais, aos profissionais que poderão trabalhar com surdos, não é garantia de que a inclusão na escola e na sociedade acontecerá de verdade. Muitos professores, mesmo tendo aulas de libras nos cursos de graduação, ainda não conseguem incluir o bilinguismo em sala de aula, o que desfavorece a aprendizagem da criança, transformando o ambiente escolar em um deserto de aprendizagem para a criança surda. Nesse sentido, é importante compreender que os surdos necessitam de condições especiais para aprender, considerando que o D.A. possui um déficit biológico, o qual afeta a adesão da linguagem oral e a relação com os entornos, como por exemplo, “o fenômeno da atenção dividida no tempo não poder atender ao mesmo tempo a dois estímulos que não estejam simultaneamente no mesmo campo visual- ou recepção de mensagens orais [...]” (ARANTES, 2007, p. 50). É direito da criança ter acesso ao conhecimento e construir sua identidade crítica para que possa participar ativamente de questões sociais de sua sociedade. Assim, a escola inclusiva precisa ser espaço de diversidade onde vigore emancipação de ideias, quebra de paradigmas e ainda que não haja estereótipos e preconceitos. Como defende Skliar, (2005, p.144) “a escola precisa se comprometer em realizar juntamente Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2011) nº. 6 p. 98 - 101 com os alunos seja eles surdos ou não, a crítica social. Deve ajudá-los a entender a dissonância dos ideais e as realidades sociais existentes.” De acordo com o senso oficial de 2000, o Brasil possuía 5,75 milhões de surdos, sendo que 7796.344 tinham menos de 24 anos, e destes, apenas, 15% eram conhecedores da língua portuguesa. Em 2003 um estudo realizado pelo IBGE identificou, apenas, 344 alunos surdos matriculados em universidades brasileiras e, ainda, 80% das crianças e adolescentes surdos não frequentavam a escola. Esses dados, portanto, comprovam a ineficácia da educação de surdos no país. 2.3- UM RELATO DA REALIDADE Partindo do que preconiza alguns autores que discutem a questão da surdez, realizou-se a pesquisa campo, em uma Escola Municipal da cidade de Aragarças-GO, na sala do terceiro ano do ensino fundamental, onde há uma aluna surda. Antes da observação foi realizada uma análise do Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola, por meio do qual foi possível constatar que a Instituição atende crianças de baixa renda, que residem nos bairros circunvizinhos. Ao analisar a filosofia da escola, bem como os objetivos e ações, foi possível perceber que a instituição não possui propostas para educação inclusiva, e nem mesmo cita a questão da diversidade e da educação especial. Um aspecto do documento que chamou atenção foi no tocante aos problemas detectados, em que fica explícito o atendimento de uma criança surda na instituição. No entanto, aponta que este problema está na educação infantil e não no ensino fundamental como se observou no PPP. Nesse sentido, percebe-se que a escola não oferece condições pedagógicas para que a criança surda possa realmente ser inserida no ensino regular, considerando que, para haver realmente a sua inclusão, é necessário que a escola discuta em seu Projeto Pedagógico estratégias para trabalhar com este aluno de modo amplo e significativo. É importante destacar que, para compreender como é feito o trabalho educacional com uma criança surda, além de analisar o PPP da escola, foi necessário verificar como a professora planeja suas aulas e se ela considera ou não a necessidade individual de cada aluno. Dessa forma, ao ter acesso ao plano anual e diário da educadora foi possível constatar que este é organizado por disciplinas, privilegiando conteúdos, objetivos e metodologias. Entretanto, não possui nenhum procedimento didático específico, ou seja, todas as aulas são programadas como se não houvesse em sala uma D.A. Foi possível verificar que a docente faz relatórios mensais sobre a turma e sobre alguns alunos, em particular. Todavia, inexistem relatórios referentes à aluna surda. Nesse sentido, fica claro que não ocorre, nesse caso, uma atenção individual a essa criança. On-line http://revista.univar.edu.br/ ISSN 1984-431X No período de cinco dias foi realizada uma observação, com o objetivo de analisar as metodologias utilizadas pela professora com a aluna surda. Verificouse que a aluna se senta na carteira da frente, usa aparelho auditivo e interage bem com os colegas. Ela é bem comportada e tímida, copia todas as atividades em seu caderno, no entanto, conforme relatou a professora, ela não está alfabetizada. Embora a educadora tenha demonstrado carinho pela aluna, não houve durante as aulas, uma atenção especial à menina, no que se refere às atividades, uma vez que as atividades propostas eram destinadas as demais crianças. A professora leu textos, discutiu questões de história, propôs questionários e mesmo enquanto os demais alunos realizavam as atividades, a docente não provocou nenhuma situação que pudesse viabilizar o aprendizado da aluna surda. Notou-se também, que a aluna recorre constantemente à professora, que, por sua vez, circula as respostas no livro para que ela possa copiar. Sobre este assunto, TEIXEIRA(2010) em seu artigo intitulado: “A Escola enquanto espaço para a construção de saberes”, preconiza a ideia da necessidade do docente em aproveitar estes momentos para a diversificação de práticas docentes que não sejam reproduzidas por repetições mecânicas, contrárias aos fins da educação do século XXI. Ao ser indagada a respeito das dificuldades encontradas ao trabalhar com uma criança surda, a professora foi enfática ao se referir à comunicação. Segundo ela, a menina não compreende o que ela fala e, ainda, não consegue ler nem escrever, o que dificulta a comunicação. Dessa forma, é notório e seria pertinente que fosse ensinado à aluna, a Linguagem Brasileira de Sinais, para que, assim, a docente pudesse ter um caminho para se comunicar com ela. Durante a observação ficou visível a dificuldade da professora, no que tange o tratamento didático pedagógico, já que, esta criança está no terceiro ano e, por ser surda, não está alfabetizada. Vale ressaltar que este caso somente foi descoberto, casualmente quando a fonoaudióloga que atende a criança informou que ela não sabia ler nem escrever, como explicou a Diretora da Escola. Para o ouvinte, compreender como se dá a aprendizagem dos surdos não é tarefa fácil, já que a linguagem do surdo é diferenciada, e sua compreensão acontece de outra forma. Assim, o professor deve buscar estratégias para que este aluno possa aprender a ler e a escrever, e posteriormente, expressar-se por meio da linguagem escrita. Como se afirmou anteriormente, a educadora encontra dificuldade ao ensinar uma criança surda, por não dominar a linguagem de libras e, consequentemente, não compreender como o surdo se comunica. É válido ressaltar que pessoas surdas não utilizam artigos, conjunções, acentos e outras, dificultando sua escrita, mas, é função do educador se especializar para esta prática. A professora durante a entrevista relatou: Eu realmente não sei como ensinar a J., trabalhar com uma criança assim dispõe tempo, e quem tem tempo? Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2011) nº. 6 p. 98 - 102 Enquanto professora me sinto de pés e mãos atadas, pois não tenho formação para trabalhar com crianças surdas, aliás em todo município de Aragarças-Go, ninguém tem formação. Pra mim isso é muito novo, entrei nessa sala praticamente agora, porque estou cobrindo licença maternidade da professora titular. (professora X, entrevista em 24- 09-2010). Até mesmo a diretora, quando entrevistada, demonstrou ter pouca informação sobre o trabalho com esta necessidade especial. Em uma conversa informal ela relatou que só ficou sabendo do caso dessa criança, um mês depois de ter assumido o cargo, pois a antiga diretora não passou à ela as devidas informações, e até mesmo a outra professora, que está de licença, não levou o caso a ela. Disse, ainda, ser contra ensinar LIBRAS para crianças surdas, pois, não é em todo lugar que as pessoas sabem se comunicar assim e, em uma faculdade, por exemplo, o surdo teria dificuldades. Todos estes relatos comprovam a falsa inclusão, e confirmam as hipóteses de que a carência na formação profissional do docente, no que se refere ao atendimento educacional à criança com surdez, torna ineficiente sua prática pedagógica e prejudica a aprendizagem da criança surda. Tal realidade traz como consequência a falta de estímulos cognitivos, afetivo e linguísticos, nos aspectos social, político e cultural, considerando que crianças surdas necessitam de professores preparados, bem como, ambientes estimulantes que desafiem o pensamento e explorem todas suas capacidades linguística e sensorial. Isto posto, percebe-se que há falhas, no que se refere ao apoio que a escola deveria receber para atender tais crianças. Sendo assim não se pode culpar a professora por não subsidiar metodologias eficazes para o ensino de uma criança surda, tendo em vista que, a educadora em questão, não tem em sala, o apoio de um monitor especializado para o trabalho com a aluna D.A., pois, é difícil para ela conciliar uma sala com trinta e duas crianças e, ainda, dar atenção especial a uma aluna deficiente. 3.0 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Compreende-se que a educação de surdos sugere mudanças nas práticas pedagógicas, nos currículos escolares e, ainda, nos planejamentos dos educadores para trabalhar com tais crianças. A limitação da fala e audição não pode se transformar em uma barreira para a aprendizagem desta criança. Os profissionais da educação e a sociedade, em geral, precisam romper o paradigma de que a criança surda não consegue aprender e não poderá atingir os mesmos objetivos que os demais alunos, pois, esta criança, mesmo percorrendo caminhos diferentes, poderá alcançará os mesmos fins. Observa-se que a realidade atual é muito diferente do que é posto em teorias acerca desta temática. Existe um expressivo despreparo dos professores para lidar com crianças surdas e muitos educadores acabam excluindo tais alunos ou aplicando metodologias ineficazes e inadequadas. On-line http://revista.univar.edu.br/ ISSN 1984-431X É notório que as práticas pedagógicas para o surdo precisam ser repensadas, pois, “ensinar é de fato, uma tarefa complexa que exige dos professores conhecimentos novos que, muitos vezes, contradizem o que foi ensinado e o que utilizam em sala de aula”. (GAIO E MENEGUETHI, 2004, p.79) Destarte, é importante enfatizar que uma criança com surdez, precisa de atendimento especializado à sua deficiência. Para tanto, cabe ao educador criar metodologias que se apliquem a ela. Além disso, cabe à escola procurar apoio, no sentido de fazer valer os direitos legais, que garantem o auxílio de um profissional especializado, para trabalhar juntamente com o professor. Assim, torna-se possível o desenvolvimento do aluno surdo, de modo que ele enfrente menos dificuldade sendo, então, capaz de ler, de escrever e se desenvolver bem em diversas áreas do conhecimento. 4.0- REFERÊNCIAS ANDRÉ, Marli Eliza D. A Etnografia da Prática Escolar. 5. ed., Campinas: Papirus, 2000. ARANTES, Valéria Amorim (org). Educação de surdos: pontos e contrapontos. São Paulo: Summus, 2007. BOTELHO, Paula. Linguagem e letramento na educação dos surdos: Ideologias e práticas pedagógicas. São Paulo: Autêntica, 2007. BRASIL, Programa Nacional de Apoio aos Surdos. Ensino da Língua Portuguesa para surdos: caminhos para prática pedagógica. Brasília: Ministério da educação/Secretaria da educação especial, 2004. BRASIL. Decreto nº 5626, torna obrigatório a inclusão de Libras como disciplina nos currículos dos cursos de graduação 2005. DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Mecedo. Atendimento educacional especializado: pessoa com surdez. Brasília: SEED/SEESP/MEC, 2007. GAIO, Roberta, MENEGHETTI, Rosa G.PROB (org) Caminhos pedagógicos da educação especial. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2004. GÓES, Maria Cecília Rafael de. Linguagem, surdez e educação. 2 ed. Campinas: autores associados, 1999. GUARINELLO, Ana Cristina. O papel do outro na escrita de sujeitos surdos. São Paulo: Plexus, 2007. LOUREIRO, Maria Albanice Ramos; SANTOS, Maria Dorotéia de J. Mourão.Educação Especial: Inclusão do deficiente auditivo em turmas regulares. Disponível em: http://www.nead.unama.br/site/bibdigital/monografias/t cc_inclusao_do_deficiente.pdf . acesso em maio de 2010. LUDKE,Menga; ANDRÉ, Marli E.D.a. A pesquisa em educação: abordagem qualitativas. São Paulo: EPU, 1986 NOVAES, Edmarcius Carvalho. Surdos: educação, direito e cidadania. Rio de Janeiro: Wark ed, 2010. PEROTONI, Cleonice. O processo de ensino aprendizagem da criança surda/muda na educação infantil. 2009. Disponível em:http://www.webartigos.com/articles/25850/4/O- Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2011) nº. 6 p. 98 - 103 PROCESSO-DE-ENSINO-E-APRENDIZAGEM-DACRIANCA-SURDAMUDA-NA-.EDU CACAO INFANTIL/pagina4.html#ixzz121I0giNK. Acesso em out. 2010. SKLIAR, Carlos (org). A surdez. 3 ed. Porto Alegre: mediação. 2005. TEIXEIRA, Vera Lúcia Macedo de Oliveira Teixeira. A Escola enquanto espaço para a construção de saberes. Revista Eletrônica Interdisciplinar. Faculdades Unidas do Vale do Araguaia, 2010. On-line http://revista.univar.edu.br/ ISSN 1984-431X Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2011) nº. 6 p. 98 -